
106
como acessá-lo de forma consciente sem o auxílio de determinadas manifestações, e muitas
vezes ainda com a ajuda de especialistas na área da análise profunda. Dito de outra forma,
A imagem primordial, ou arquétipo, é uma figura – seja ela um demônio, um ser humano
ou um processo – que retorna constantemente no curso da história e aparece sempre que a
fantasia criativa se expressa livremente. Ela é, essencialmente, por isso, uma figura mito-
lógica […]. Em cada uma dessas imagens há uma pequena fração da psicologia humana e
do destino humano, um resto das alegrias e dos sofrimentos que têm sido repetidos incon-
táveis vezes em nossa história ancestral […]
213
.
É necessário reforçar a idéia de que os arquétipos são de natureza essencialmente cole-
tiva, embora a maneira como eles se manifestam seja pessoal. Mesmo assim, existem traços
que se repetem ad infinitum em quase todas as pessoas, e é por isso que se pode pressupor
uma vivência psíquica coletiva, ou uma psique coletiva:
Pois somente nos arquétipos e nos sentimentos encontra-se aquilo que une e interliga as
culturas e as religiões de todos os tempos e regiões, enquanto a linguagem, a ratio, as va-
lorações de cunho moral se evidenciam como sendo muito dependentes de cada época e
criadores de distanciamentos […]. Em todas as pessoas vive um conhecimento inconsci-
ente acerca de um absoluto que está presente em todas as pessoas e do qual emana tudo o
que é consciente, e só nesse nível do arquetípico é possível pensar uma ligação hermenêu-
tica para além da distância temporal de milênios. No nível dos arquétipos somente é que
se mostra, tal como numa lingua franca de todas as pessoas, a característica comum a to-
dos os sentimentos fortes de alegria e tristeza, as experiências de nascimento e morte, ju-
ventude e velhice, doença e cura, as sensações de pudor e nojo, amor e carinho, a tendên-
cia para conflitos de poder e defesa de território, a multiplicidade de reações preformadas
em situações de emergência etc.
214
.
213
“The primordial image, or archetype, is a figure – be it a daemon, a human being, or a process – that
constantly recurs in the course of history and appears wherever creative fantasy is freely expressed.
Essentially, therefore, it is a mythological figure… . In each of these images there is a little piece of human
psychology and human fate, a remnant of the joys and sorrows that have been repeated countless times in our
ancestral history… .” (“On the Relation of Analytical Psychology to Poetry” [_CW_ 15: 127]). Favourite
quotations..., op. cit.
214
„Denn nur in den Archetypen und in den Gefühlen liegt das Einende und Verbindende zwischen den Kulturen
und Religionen aller Zeiten und Zonen, während die Sprache, die ratio, die moralischen Wertsetzungen sich
als sehr zeitgebunden und voneinander trennend erweisen […]. In allen Menschen lebt ein unbewußtes Wis-
sen um ein Absolutes, das in allen Menschen gegenwärtig ist und aus dem alles Bewußte hervorgeht, und nur
auf dieser Ebene des Archetypischen ist eine hermeneutische Verbindung über die zeitliche Distanz von Jahr-
tausenden hinweg denkbar und möglich. Auf der Ebene der Archetypen allein zeigt sich, wie in einer lingua
franca aller Menschen, die Gemeinsamkeit aller starken Gefühle von Freude und Traurigkeit, die Erfahrung
von Geburt und Tod, Jugend und Alter, Krankheit und Heilung, die Empfindungen von Scham und Ekel, Lie-
be und Zärtlichkeit, die Tendenz zu Rangdemonstrationen und Revierverteidigung, die Vielfalt präformierter
Reaktionen in Notfallsituationen usw. “. E. DREWERMANN, op. cit., p. 70-71. – Grifo do autor. – Precisa-
mente acerca desta colocação sobre a relação entre psicologia profunda e exegese existe uma discussão entre
o autor citado e Gerhard Lohfink / Rudolf Pesch, os quais questionam as colocações anteriores. Nesta pesqui-
sa, uma vez que se optou por incluir a psicologia profunda como viés hermenêutico, essa discussão não pode
ser aprofundada. Vejam-se detalhes em Gerhard LOHFINK, Rudolf PESCH, Tiefenpsychologie und keine
Exegese. Eine Auseinandersetzung mit Eugen Drewermann, p. 27ss.