
janeiro de 1860 (Almeida, 2004) e, em suas memórias, relatou o período em que conviveu com
Ferdinand Steiger-Münssingen.
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Quando os Steiger assumiram a propriedade, em 1857, esta já produzia madeira,
aguardente e café e possuía 120 escravizados. Na época da morte de Steiger, pouco tempo
depois da abolição, em 1888, ―seus herdeiros encontraram 20.000 cacaueiros na propriedade,
além de cana-de-açúcar e café‖ (Mahony, 2004:110). No entanto, nada disso seria possível sem
a exploração da mão-de-obra escravizada. De acordo com Mary Ann Mahony, em seu estudo
sobre a escravização na região, a rotina dos escravizados nas grandes propriedades em Ilhéus
lembrava a dos latifúndios açucareiros do Recôncavo e das plantações de café no Vale do
Paraíba. Como exemplo, cita a rotina da Fazenda Vitória, de propriedade dos Steiger-Sá:
Na Fazenda Vitória, os escravos se levantavam às 5 da manhã e eram recebidos
pelo feitor, portando o seu chicote. Ele os contava e distribuía as tarefas do dia, eles
recebiam rações na cozinha e iam para os campos, onde trabalhavam durante todo
o dia, com apenas uma pequena pausa. Retornando à sede da propriedade, eles
eram contados de novo, devendo, então, pedir e receber a benção de Steiger.
Depois da pequena cerimônia, ele os mandava para as cozinhas, para receber sua
ração vespertina de carne seca, farinha e um biscoito. Com suas cotas de alimento,
eles podiam, então, retirar-se para as senzalas. (Mahony, 2004:118)
Protestante, Steiger estimulou e realizou, pessoalmente, casamentos entre seus
escravizados que eram seguidos de banquetes (Mahony, 2004:122) e ofereceu prêmios às
escravizadas que possuíam mais de seis filhos, como forma de garantir a mão-de-obra de sua
propriedade (Mahony, 2004:108). Ao mesmo tempo, Steiger punia os problemas disciplinares
de forma rápida e severa, recorrendo à palmatória e aos açoites para controlar seus
escravizados. De acordo com Maximiliano, citando Steiger sobre a punição aos atos de
insubordinação e/ou revolta de seus escravizados: ―ou eu descobria o líder dos revoltosos, ou
ordenava aos homens, trementes e amedrontados à minha volta, que o indicassem, ou que o
amarrassem. Então, eu fazia dele um exemplo‖ (Mahony:2004:126).
O certo é que na época da abolição, em 1888, os Steiger-Sá, que antes já haviam
ensaiado iniciativas em torno da policultura, a exemplo de outras famílias influentes de Ilhéus,
substituíram a mão-de-obra escrava a partir do cultivo do cacau (que, ao contrário da cultura
da cana, predominante no Recôncavo, exigia um menor número de trabalhadores). Não temos
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Sobre o relato de Maximiliano acerca da estadia com Steiger em Ilhéus, ver: Maximiliano I, Imperador do
México, ―Mato Virgem‖, In.: Recollections of my life, 3 vols, nova edição com um prefácio. London, R. Betley, 1868.
III-358-359 (apud por Mahony, 2001).