sua história pessoal e o contexto de sua época possam ser conhecidos por um público mais amplo. O
filme vai se configurar como objeto de preservação da memória e da História do período. O
esquecimento é o avesso da consciência, a negação de nós mesmos, do nosso passado e um vácuo
no projeto de futuro. Pior, é uma porta aberta à repetição dos horrores da ditadura militar brasileira.
Em um tempo entre o passado e o futuro o cinema pode, por intermédio da poética, narrar e
documentar para a geração contemporânea e para futuras gerações, histórias que nos pertencem e
consolidam nossa identidade. A história de Iara fala sobre a juventude de uma época, cujos ideais
levaram jovens de vários países a lutarem por eles. Este trabalho também tem o objetivo de
colaborar no esclarecimento sobre as razões que levaram tantos jovens brasileiros a darem suas
vidas por um ideal político.
O filme não pretende transformar estes jovens em heróis ou fazer um elogio rasgado aos dogmas de
uma concepção de mundo socialista, o que seria tapar os olhos para a queda do muro de Berlim e
para a história de alguns países que se proclamam (ou se proclamavam) socialistas dentro da
concepção marxista-lenista como: Coréia do Norte, Cuba e Rússia. Outrossim, o trabalho visa a
orientar o olhar para este período histórico tentando humanizar seus personagens ao buscar
compreender a luta armada dentro de um período de repressão e cerceamento das liberdades,
produzidos pelo golpe de 64.
Este é um filme de personagem, que acompanha a trajetória de Iara sem querer dar explicações
didáticas sobre o momento político. Os fatos históricos são mostrados quando estes se relacionam
diretamente com o movimento dos personagens, como é o caso da montagem do cerco que
provocou a queda do aparelho de Iara. O longa vai se tornando cada vez mais claustrofóbico e mais
centrado nas oscilações emocionais de Iara, na medida em que o cerco vai se fechando, e ela e
Lamarca ficam cada vez mais procurados e isolados. E, sobretudo, é um filme de amor, dentro do
qual as cartas de Iara e Lamarca são fundamentais na estruturação do roteiro.
No roteiro, o personagem Iara é construído por intermédio da intersecção de múltiplas
representações, entre elas: contexto político e ideológico, perfil biográfico, vida familiar, relações
interpessoais e vida afetiva. Também foram utilizados: fotos de arquivo, trechos de filmes, jornais e
noticiários da época; e fragmentos do diário de Carlos Lamarca, com cartas escritas para Iara, pouco
tempo antes da morte do capitão.
As diferentes documentações sobre sua vida e atuação política compõem um roteiro que passa pela
adolescência, vida adulta e os dias de hoje, não necessariamente nesta ordem. Sua história pessoal
tem significados sociais muito amplos, pois ela lutou como mulher pela desconstrução de
preconceitos que limitavam a liberdade e, como militante, por uma sociedade mais justa. Portanto, o
interesse histórico, político e social do roteiro e sua futura transformação em Longa Metragem
parece substantivo, na medida em que se configuram como meios de recuperação da memória,
ressignificação do período histórico e de seus atores por intermédio de uma ótica contemporânea .
Iara
1
nasceu dia 7 de maio de 1944, seus pais eram judeus de famílias imigrantes radicados na
cidade de São Paulo no início dos anos 30. Em 1963, Iara ingressou no Instituto de Psicologia que
era, em sua origem, parte integrante da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de
São Paulo, na rua Maria Antônia. O segundo ano do curso de Iara começou tumultuado, direita e
esquerda alardeavam a iminência do socialismo, capitalizando o clima de incertezas de um governo
enfraquecido desde a renúncia de Jânio Quadros. Após o golpe de 64, Iara entrou para a POLOP
(Organização Revolucionária Marxista- Política Operária), dando o seu primeiro passo rumo a uma
vida na clandestinidade. Ela fugia do estereótipo da militante da época, era vaidosa, gostava de se
vestir bem, se cuidar. Teve muitos namorados porque era uma figura extremamente carismática,
bela e alegre. Por muitos , foi considerada musa do movimento estudantil. Era forte, porém muito
1 Iara Iavelberg é irmã de minha mãe . Eu não a conheci, pois nasci sete meses após sua morte.