qual se pode vampirizar à vontade, pela citação, pela retomada, pela paródia, pela sobrecarga
referencial” (ibid.).
Além disso, os avanços tecnológicos e a atmosfera contemporânea de liberdade
individual, interatividade e sensorialidade acima do sentido, propiciaram novas possibilidades
de articular as três dimensões do dispositivo cinematográfico – “arquitetônica (a sala escura),
tecnológica (sistema de captação e projeção da imagem) e discursiva (o modelo representativo
hegemônico)” (PARENTE, 2008, p.37). Parente chama a atenção para o fato de que uma série
de experimentações, na verdade, estarem resgatando e rediscutindo experiências do início do
cinema, que foram completamente recalcadas pela história, como o “cinema expandido” e o
“cinema de atrações”, com o acréscimo da prática do “cinema de museu” ou “cinema de
exposição”
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, que se iniciaram no final dos anos oitenta (ibid., p.37-38).
Na verdade, podemos ainda ampliar as possibilidades ao pensar no live cinema
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ou no
grandiloqüente projeto de Peter Greenaway, Tulse Luper Suitcases, que articula filmes,
vídeos, série para TV, websites, CD-ROM, livros e apresentação de VJing com o próprio
cineasta comandando o espetáculo.
Este cenário nos interessa particularmente por ser o locus da videodança, que também
pode ser vista dentro da lógica de cinema expandido (não é incomum ter acesso a videodanças
em eventos com performances, ocorrendo em locais não convencionais, por exemplo), ou de
cinema de atração (visto que privilegia a imagem, a dança, o sensorial, em detrimento do
fluxo narrativo) ou ainda de cinema de exposição (pois frequentemente tem os museus e os
centros culturais como locais de exibição), por isso retomaremos estas questões mais adiante.
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Cinema expandido – “um processo de radicalização do cinema experimental, sobretudo americano, por meio
da realização de happenings e performances utilizando projeções múltiplas ou em espaços outros que o da sala
de cinema, muitas vezes combinando a projeção com outras expressões artísticas, como dança, música,
arquitetura, fotografia etc. O cinema expandido é uma tentativa de criar um processo de participação do
espectador. Tudo se passa como se o espetáculo do cinema desse um movimento ao corpo do espectador,
liberando-o da cadeira”.
Cinema de atração – teorizado por muitos autores, grosso modo, privilegia a imagem em detrimento do fluxo
narrativo.
Cinema de exposição, cinema de museu ou cinema de artista - remete “a espacialização da imagem e a
interrupção do fluxo temporal, seja do filme, seja do espaço instalativo. As instalações são imagens organizadas
no espaço expositivo, quando na verdade no cinema, mesmo no cinema de atrações e no cinema expandido, as
imagens são organizadas no tempo (seja o tempo diegético, seja o tempo do espetáculo/happening). (...) A
seqüencialidade é contingente, ou dada pelo percurso singular de cada visitante/observador”.(PARENTE, 2008,
p.38)
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Ou live images, ou ainda VJing (termo derivado de VJ - video-jockey - versão visual do DJ), é uma prática
bastante diversificada de projeção de vídeo gerado, editado ou composto ao vivo. “Historicamente ligado aos
light shows e à color music, o VJing se popularizou como um acompanhamento para apresentações musicais em
boates. Foi nesses lugares em que estabeleceu um circuito, hoje praticamente autônomo. Projeções de VJing
costumam acontecer na própria pista de dança de clubs e raves, e utilizam a música ambiente como base para a
montagem. Segundo o VJ Alexis, provável pioneiro do ofício no Brasil, é como se fosse o ‘oposto’ do cinema
mudo: ‘nós produzimos as imagens em cima da música’.” (MENOTTI, 2007, s/p)