
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 2
Contexto
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opostas. Dando nome aos bois era o Artigas de um lado e o
Sérgio Ferro do outro. O que eram essas posições? Vocês sabem,
mas é o seguinte: o Sérgio Ferro representava o grupo que partiu
naquele momento para a luta armada. Antes de mudar o
regime e a sociedade, não interessava fazer arquitetura. Fazer
pra quê? Fazer arquitetura seria compactuar com o regime.
Enquanto o outro lado viu a coisa mais a médio e a longo prazo,
dizendo que não, que nós tínhamos que resguardar certas
conquistas e continuar trabalhando. Foi uma loucura total,
porque o pessoal partiu pra luta armada... uma luta perdida de
antemão. Com isso a gente perdeu muita gente importante, foi
uma tristeza, e acabou (ACAYABA, 1991, p. 10).
No entanto, o regime militar, com suas aspirações desenvolvimentistas, inicia
uma fase de expansão, ocasionando na realização de grandes investimentos
em áreas de infra-estrutura: centros cívicos e administrativos, hospitais,
estações, escolas (campi universitários), conjuntos habitacionais, centrais de
energia, aeroportos, rodoviárias, centrais de telefonia entre outros, fazendo do
Estado o principal cliente dos arquitetos. Era o chamado “milagre
econômico”.
[...] enquanto as artes de modo geral foram silenciadas, a
censura para nós veio com a concentração de riquezas [...] os
órgãos do governo concentravam as obras de infra-estrutura, as
chamadas obras faraônicas, no período Médici. Estava aberto
um certo espaço para o exagero, impondo o esquecimento de
toda evolução que caracterizava a arquitetura brasileira, com
os programas adequados à realidade nacional e ao contexto
político-social do momento (PRANCHETA, 1986, p. 57).
A intensa demanda arquitetônica ocasionada pelo grande número de obras
públicas criou certa euforia por parte de muitos arquitetos, que geraram, em
muitos casos, uma produção acrítica, que adotava aleatoriamente elementos
“símbolos de uma arquitetura nacional”, como protetores solares (brises),
grandes vãos, rampas, concreto aparente etc. Existia muita produção e
pouco debate arquitetônico.
Não importava o programa de uso: da casa ao viaduto, da
agência bancária ao forno crematório, da escola, à torre de
garagem, do sofá ao edifício administrativo – era a moda (ou
ditadura) das grandes estruturas de concreto, do concreto
aparente, dos pilares esculturais, das estruturas protendidas, do
exibicionismo estrutural, a competição por vãos livres maiores,
dos panos de vidro – imitações esvaziadas dos conteúdos
elaborados por mestres como Niemeyer, Vilanova Artigas e
seguidores consistentes (SEGAWA, 1999, p. 191).