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Arquitetura e domínio técnico:
a prática de Marcos Acayaba
Tatiana Midori Nakanishi
Dissertação apresentada à Escola de
Engenharia de São Carlos da Universidade
de São Paulo, como parte dos requisitos para
a obtenção do título de Mestre em
Arquitetura e Urbanismo
Orientador: Prof. Dr. Márcio Minto Fabrício
São Carlos
2007
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,
PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Ficha catalográfica preparada pela Seção de Tratamento
da Informação do Serviço de Biblioteca – EESC/USP
Nakanishi, Tatiana Midori
N163a Arquitetura e domínio técnico : a prática de Marcos
Acayaba / Tatiana Midori Nakanishi ; orientador Márcio
Minto Fabrício. –- São Carlos, 2007.
Dissertação (Mestrado-Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo. Área de Concentração:
Arquitetura, Urbanismo e Tecnologia) –- Escola de
Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo,
2007.
1. Arquitetura – técnicas. 2. Domínio técnico.
3. Soluções construtivas. 4. Prática profissional.
5. Marcos Acayaba. I. Título.
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Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Aos meus pais, por todo o amor que
sempre me deram e pela confiança
que depositaram em mim nesses
anos de muitas conquistas.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
AGRADECIMENTOS
Essa pesquisa é resultado de uma reflexão iniciada ainda no período de graduação e
que se estenderá por toda minha vida profissional, no intuito de manter em minha
atividade, a terna curiosidade de uma criança em descobrir o mundo em todas as
respostas que ele contém.
Muitas pessoas me ajudaram nesse caminho, por isso agradeço:
Ao meu orientador, Márcio Minto Fabrício, pela dedicação, paciência e
incentivo para transformar minhas angústias em pesquisa.
Aos professores, João Marcos de Ameida Lopes e José Mário Nogueira
Carvalho Jr., por compartilhar seus conhecimentos em minha banca de
qualificação, contribuindo muito para o desenvolvimento desse trabalho.
Ao arquiteto Marcos de Azevedo Acayaba, ao engenheiro Hélio Olga de
Souza Jr. e seu auxiliar, Marcus Vinicius Barreto Lima, por todo o material
cedido e pelo tempo dedicado em me atender em inúmeras visitas e
telefonemas.
Aos professores que me ajudaram a enxergar coisas que meus olhos não
estavam acostumados a ver: Prof. Dra. Akemi Ino, Prof. Dr. João Marcos de
Ameida Lopes, Prof. Dr. Miguel Antônio Buzzar, Prof. Dr. Mounir Kalil El Debs,
Prof. Dra. Rosana Maria Caran, entre outros.
À Elena Gonçalvez, pelo auxílio com as regras de informação e
documentação.
À Capes, pelo financiamento desta pesquisa.
Por fim, agradeço também a todos os meus amigos, cujos abraços e sorrisos
me fazem ter forças para seguir traçando meus caminhos na busca de
algumas respostas.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
RESUMO
A importância do domínio técnico na arquitetura vem sendo debatida desde
meados do século XVIII. Apesar disso, verifica-se na atuação de muitos
arquitetos contemporâneos uma deficiência no desenvolvimento e
detalhamento de soluções construtivas. A pesquisa objetiva estudar a relação
do arquiteto com a questão da técnica, desde o início do processo projetual
até a obra construída, a partir da experiência do arquiteto Marcos Acayaba,
que se destaca por desenvolver soluções conceituais e espaciais intimamente
atreladas a um rigoroso tratamento técnico, transitando por diversos materiais
e sistemas construtivos. O método de pesquisa abrange levantamentos
bibliográficos e documentais referentes à atuação do arquiteto e ao
desenvolvimento de oito projetos cujas soluções construtivas são descritas e
analisadas através de dados coletados em visitas às obras e entrevistas com
Acayaba e seus parceiros profissionais. Como resultado, aponta fatores
determinantes na formação e na atividade do arquiteto que, embasados
pelos estudos detalhados dos projetos e seus recursos construtivos,
demonstram que o domínio técnico pode ser um importante instrumento para
o pensar e o fazer arquitetônico.
Palavras-chave: Arquitetura; Domínio técnico; Soluções construtivas; Prática
profissional; Marcos Acayaba.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
ABSTRACT
The importance of the technical domain has been discussed since the middle
of the seventeenth century. Although, we can see some deficiency at the
development and at the construction solution's detailing on the performance
of several contemporary architects. This paper intends to study the architect's
relationship with the technique itself, since the beginning of the design process
until the constructed building, starting from the architect Marcos Acayaba's
experience, who outstand for developing conceptual and space solutions
strongly connected to a rigorous technical treatment, transiting among several
materials and building systems. The research's method includes bibliographical
and documental survey referring to the architect's performance and the
development of eight design projects which the construction's solutions are
described and analyzed through collected data that come from visits to
construction places and interviews with Marcos Acayaba himself and his
professional partners. As a result, this paper points determinant factors on the
professional formation and the architects' activities, that based on the last
studies detailed on the projects, their building resources show that the technical
domain might be an important instrument to the thinking and the caring
through of the architect.
Keywords: Architecture; Technical domain; Construction's solutions; Professional
practices; Marcos Acayaba.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
1. Introdução p. 9
1.1. Objetivos .................................................................................................... p. 10
1.2. Método de pesquisa ................................................................................ p. 10
1.3. Estrutura do trabalho ................................................................................ p. 13
2. Contexto p. 15
2.1. Arquitetura, técnica e tecnologia .......................................................... p. 15
2.2. Breve contexto da arquitetura no Brasil pós 60 .................................... p. 21
3. Marcos Acayaba p. 27
3.1. Formação, referências e parcerias ........................................................ p. 29
3.2. Formas de estudo e representação de projeto ................................... p. 30
4. Residência Milan (São Paulo - SP, 1972-1975) p. 41
4.1. O projeto .................................................................................................... p. 42
4.2. A solução construtiva: Casca em concreto armado .......................... p. 46
4.3. Considerações sobre o projeto .............................................................. p. 55
4.4. Ficha técnica ............................................................................................ p. 56
5. Fazenda Pindorama:
Casa-sede e Pavilhão (Cabreúva - SP, 1974 e 1984)
p. 57
5.1. O projeto – Casa-sede ............................................................................. p. 58
5.2. A solução construtiva: Abóbadas de blocos de concreto ................ p. 61
5.3. O projeto – Pavilhão ................................................................................. p. 67
5.4. A solução construtiva: Parede de tijolo e concreto ............................ p. 72
5.5. Considerações sobre os projetos ............................................................ p. 78
5.6. Ficha técnica – Casa-sede ...................................................................... p. 79
5.7. Ficha técnica – Pavilhão ..........................................................................
p. 80
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
6. Residência Hélio Olga (São Paulo - SP, 1987-1990) p. 81
6.1. O projeto .................................................................................................... p. 82
6.2. A solução construtiva: Estrutura em madeira pré-fabricada em
terreno de alta declividade ....................................................................
p. 91
6.3. Considerações sobre o projeto .............................................................. p. 102
6.4. Ficha técnica ............................................................................................ p. 103
7. Residência Baeta (Guarujá - SP, 1993-1994)
Residência Marcos Acayaba (Guarujá - SP, 1996-1997)
p. 105
7.1. O projeto - Residência Baeta .................................................................. p. 106
7.2. O projeto - Residência Marcos Acayaba .............................................. p. 114
7.3. A solução construtiva: Estrutura em madeira pré-fabricada com
base modular triangulada .......................................................................
p. 127
7.4. Considerações sobre osprojetos.............................................................. p. 132
7.5. Ficha técnica - Residência Baeta .......................................................... p. 133
7.6. Ficha técnica - Residência Marcos Acayaba ...................................... p. 134
8. Escola Estadual Jd. Bela Vista II (Mogi das Cruzes - SP, 2003-2005) p. 135
8.1. O projeto .................................................................................................. p. 136
8.2. A solução construtiva: Duas funções para elemento em concreto
pré-moldado .............................................................................................
p. 141
8.3. Considerações sobre o projeto ............................................................ p. 149
8.4. Ficha técnica ........................................................................................... p. 150
9. Vila Butantã (São Paulo - SP, 1998-2004) p. 151
9.1. O projeto .................................................................................................. p. 152
9.2. A solução construtiva: Laje nervurada em concreto e madeira .....
p. 160
9.3. Considerações sobre o projeto ............................................................ p. 167
9.4. Ficha técnica ........................................................................................... p. 168
10. Considerações finais p. 169
BIBLIOGRAFIA p. 172
ANEXO A – Texto escrito por Acayaba sobre sua metodologia de trabalho p. 178
ANEXO B – CD-ROM - Entrevistas com Marcos Acayaba e Hélio Olga
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 1
Introdução
9
CAPÍTULO 1:
INTRODUÇÃO
O distanciamento dos arquitetos das questões técnicas é um fenômeno que
alguns historiadores afirmam ter se iniciado ainda na Renascença. Foi alvo de
fortes críticas pelos arquitetos modernistas no início do século vinte, mas a
hoje continua contaminando imagem da profissão. No Brasil ainda é comum a
idéia de que cabe ao arquiteto somente as questões estéticas, e que as
questões da construção ficam a cargo do engenheiro, creditando àquele
uma função erroneamente supérflua e secundária.
O arquiteto é quem define as diretrizes, formas e materiais do edifício. Sua
atuação interfere diretamente nos índices de impacto ambiental, economia,
conforto, durabilidade e funcionalidade da construção. Ressalte-se portanto a
importância do conhecimento técnico que, além de tudo, pode consistir num
importante instrumento de criação, ampliando as possibilidades não do
fazer, mas principalmente do pensar arquitetônico.
Isso se na atuação do arquiteto Marcos de Azevedo Acayaba, em que o
diálogo entre as áreas técnicas específicas e seus profissionais (estruturas,
instalações, conforto ambiental, entre outros) costuma ser corrente ao longo
dos processos projetuais, além disso, seus projetos se destacam pela grande
variedade de materiais e técnicas construtivas, desde as tradicionais, como a
alvenaria estrutural, até as industrializadas, como as estruturas pré-fabricadas
em madeira e concreto.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 1
Introdução
10
1.1. Objetivos
A pesquisa tem como objetivo estudar a relação do arquiteto com a questão
da técnica, desde o início do processo projetual até a obra construída, por
meio do estudo da atuação do arquiteto Marcos Acayaba e de oito projetos
que se destacam por suas inovações construtivas e formais.
Visa-se produzir um estudo detalhado dos processos e das soluções projetuais
sob o ponto de vista técnico-construtivo dos edifícios, verificando as relações
entre as premissas projetuais de cada caso e as soluções técnicas adotadas,
contextualizando seu desenvolvimento e investigando a prática do arquiteto.
Por fim, através do caso particular da atuação de Marcos Acayaba, busca-se
demonstrar como o domínio técnico contribui, e não limita, a capacidade dos
arquitetos em desenvolver criativas soluções formais e espaciais.
1.2. Método de pesquisa
Primeiramente foi realizada uma revisão bibliográfica baseada em dois veios
de investigação. O primeiro, com um caráter mais histórico visava realizar um
breve panorama sobre o contexto em que se inserem a formação e a
atividade profissional de Acayaba. O segundo, com caráter mais tecnológico,
visava fornecer subsídios para as análises das técnicas e das tecnologias
empregadas nos projetos. A revisão foi realizada com consulta a livros,
periódicos, teses e publicações em geral.
Foram feitas, a partir daí, descrições de oito obras realizadas ao longo da
carreira do arquiteto, escolhidas em função de suas inovações, técnicas e
datas de projeto, possibilitando criar um panorama geral de sua prática
profissional. O levantamento dessas obras se deu ainda durante o processo de
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 1
Introdução
11
revisão bibliográfica. Dentre as oito obras, não por acaso, cinco são de
residências unifamiliares. Isso se deve ao fato de que, “[...] na procura de
novas linguagens, técnicas e materiais, Acayaba acredita que a arquitetura
de residências aparece como campo aberto à experimentação” (PEDREIRA,
1986, p.58), pensamento que reflete diretamente em sua produção
arquitetônica.
Desde o início da pesquisa, foram realizadas entrevistas com Acayaba e visitas
ao antigo escritório (fechado) e ao atual estúdio de criação, em sua
residência.
As entrevistas foram elaboradas com base na fundamentação teórica e nos
conhecimentos obtidos a partir dos estudos bibliográficos/ iconográficos e,
abordam questões referentes ao processo projetual, conhecimentos técnicos
e de construção.
Foram também realizadas visitas aos edifícios analisados na companhia do
arquiteto, dentre as quais: residência Milan (atual residência do arquiteto) e
conjunto residencial Vila Butantã, em São Paulo-SP; residência Baeta e
residência Marcos Acayaba, no Guarujá-SP.
Essas visitas foram de grande importância para a pesquisa, pois revelaram
detalhes e intenções, difíceis de obter apenas por meio de materiais
iconográficos.
No estúdio, foram coletados cópias de projetos, imagens e memoriais,
obtendo dados referentes a: programas de necessidades, estudos de
viabilidade e modos de desenvolvimento do projeto, diretrizes básicas,
técnicas construtivas, estrutura, projetos complementares, ferramentas de
estudo e desenvolvimento de projeto e interface projeto-obra.
Foi realizada também uma visita à residência e ao estúdio do engenheiro Hélio
Olga de Souza Júnior, parceiro de Acayaba em diversos projetos. Nessa
ocasião, realizou-se uma entrevista com o engenheiro, abordando assuntos
referentes à sua atividade profissional e às soluções construtivas adotadas nos
projetos.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 1
Introdução
12
Também foi realizada uma visita à Escola Jardim Bela Vista II, em Mogi das
Cruzes - SP, e consulta ao engenheiro Ruy Franco Bentes, responsável por seu
projeto estrutural.
O material obtido nas visitas e nas entrevistas permitiu a consolidação dos
estudos detalhados das soluções técnicas adotadas nos projetos. Para a
elaboração dessa etapa foram feitas investigações bibliográficas
especificamente relacionadas aos sistemas construtivos analisados e consultas
a especialistas em cada área: Prof. Dra. Akemi Ino, EESC-USP - Escola de
Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (sistemas construtivos
em madeira); Prof. Dr. Mounir Khalil El Debs, EESC-USP (concreto pré-moldado);
Prof. Dr. João Adriano Rossignolo, EESC-USP (concreto); Prof. Dra. Rosana Maria
Caran, EESC-USP (conforto térmico de edificações); Prof. Dr. João Marcos de
Almeida Lopes, EESC-USP (projeto e estruturas). E para o levantamento
bibliográfico relacionados às questões históricas também foram consultados:
Prof. Dr. Miguel Antônio Buzzar e Prof. Dr. Paulo Fujioka, ambos da EESC-USP.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 1
Introdução
13
1.3. Estrutura do trabalho
O trabalho se organiza em dez capítulos.
O primeiro introduz o conteúdo da pesquisa e apresenta seus objetivos e
método.
O segundo discorre sobre as questões da técnica e da tecnologia no campo
da arquitetura e contextualiza brevemente a arquitetura no Brasil a partir dos
anos de 1960, período de formação de Marcos Acayaba.
O terceiro aborda assuntos ligados à postura projetual do arquiteto, relatando
aspectos relevantes em sua formação, interesses e atividades profissionais.
O quarto apresenta a residência Milan, primeiro projeto de destaque de
Acayaba, realizado na cada de 70, que utiliza a tecnologia do concreto
armado na realização de uma cobertura curva.
O quinto capítulo expõe o projeto da Fazenda Pindorama, um conjunto de
edificações cuja casa-sede e o pavilhão de recreação utilizam linguagens e
recursos construtivos diferentes entre si: a casa-sede adota abóbadas feitas de
blocos de concreto como cobertura, e o pavilhão, associa concreto e tijolos
na constituição de suas paredes.
O sexto exibe o projeto da residência Hélio Olga, uma obra que se destaca
pelo desafio de vencer a implantação em um terreno com mais de 100% de
inclinação com uma estrutura pré-fabricada em madeira.
O sétimo apresenta os projetos das residências Baeta e Marcos Acayaba,
investigando o sistema construtivo em ambos empregado: a estrutura em
madeira pré-fabricada de base modular triangulada.
O oitavo expõe o projeto da Escola Estadual Jardim Bela Vista II, um projeto
realizado para o FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação), em
que se explora a solução do concreto pré-moldado, criando um elemento
que cumpre duas funções: a de proteção solar e a de travamento estrutural.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 1
Introdução
14
O nono apresenta o projeto da Vila Butanã, um conjunto de sobrados
construídos por Acayaba e pelo engenheiro Hélio Olga de Souza Júnior para
fins imobiliários, mas que foge dos padrões convencionais utilizados nesse tipo
de empreendimento, adotando uma solução construtiva diferenciada, a laje
nervurada de concreto e madeira.
O capítulo dez apresenta as considerações finais acerca do desenvolvimento
da pesquisa.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 2
Contexto
15
CAPÍTULO 2:
CONTEXTO
2.1. Arquitetura, técnica e tecnologia
Para falar sobre esses assuntos, faz-se necessário, mesmo que brevemente,
discorrer sobre os termos técnica e tecnologia.
Esses termos têm seus significados estudados e debatidos por diversos autores,
apresentando definições muitas vezes diferenciadas entre conhecimento
prático e estudo científico:
[Técnica:] conjunto de regras práticas para fazer coisas
determinadas, envolvendo a habilidade do executor, e
transmitidas, verbalmente, por exemplo, no uso das mãos, dos
instrumentos e ferramentas e das máquinas (BIROU apud GAMA,
1986, p. 30).
[Tecnologia:] estudo e conhecimento científico das operações
técnicas ou da técnica. Compreende o estudo sistemático dos
instrumentos, das ferramentas e das máquinas empregadas nos
diversos ramos da técnica, dos gestos e dos tempos de trabalho
e dos custos, dos materiais e da energia empregada (BIROU
apud GAMA, 1986, p. 30).
Vargas (1994) adota definições semelhantes, definindo a técnica como “[...]
uma habilidade humana de fabricar, construir e utilizar instrumentos” e
relacionando o termo tecnologia ao estabelecimento da ciência moderna.
Na arquitetura, esses termos muitas vezes se misturam. Carvalho Jr. (1994) os
situa como significado e função no contexto da profissão:
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 2
Contexto
16
No processo projetual, o arquiteto pode utilizar tanto
conhecimentos já sistematizados – tecnologia, como aqueles
que têm origem na própria execução da arquitetura,
normalmente denominado conhecimento construtivo não
necessariamente codificado segundo métodos científicos.
Essa pesquisa abrange questões referentes tanto à técnica quanto à
tecnologia, assumindo suas distintas caracterizações. Porém, para que haja
melhor fluência na leitura do texto, utilizam-se algumas vezes, como no título,
os termos conhecimento técnico e/ou domínio técnico, certo modo,
abrangendo também as questões científicas, isto é, de cunho tecnológico.
De qualquer forma, não é preciso bases bibliográficas para perceber que a
questão da técnica sempre esteve ligada à arquitetura. que desde o início
da humanidade, com a necessidade de se abrigar das intempéries da
natureza, o homem precisou utilizar-se da técnica para construir sua moradia.
O papel do arquiteto é definido por Alberti, no século XV, relacionando arte,
técnica e construção:
[arquiteto é]
Aquele que, com uma razão e uma regra
maravilhosa e precisa sabe, primeiramente, compreender as
coisas com seu espírito e sua inteligência, e secundariamente,
como organizar com precisão durante os trabalhos de
construção todos os materiais que envolvem essa produção, os
quais pelos movimentos de suas cargas, pela reunião e
justaposição de seus corpos possam servir com eficiência e
dignidade às necessidades do homem [...] (JAQUES apud
SEGNINI JR., 2002, p.06).
Alguns autores, como Benévolo e Munford, indicam que, grosso modo, no
período da Revolução Industrial da Europa, inicia-se uma ruptura entre a arte e
a técnica no campo da arquitetura. Os arquitetos não teriam acompanhado
as necessidades de desenvolvimento tecnológico exigido nas novas
construções como, por exemplo, as pontes, os galpões industriais etc.
A diferenciação entre projeto e execução começa na
Renascença, quando o projetista evoca para si todas as
decisões, deixando aos outros apenas a realização material do
edifício [...] o arquiteto reserva-se a parte artística e deixa para
os outros a parte de construção e técnica. Assim nasce o
dualismo de competências que ainda hoje é expresso pelas
duas figuras do arquiteto e do engenheiro (BENÉVOLO, 1989, p.
29-30).
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 2
Contexto
17
A profissão de arquiteto passou então a sofrer uma segmentação, oscilando
entre a arte e a técnica. Fenômeno que até hoje influencia o ensino nas
escolas de arquitetura e na atuação dos profissionais, ainda que os preceitos
da arquitetura moderna, em função das necessidades criadas pelas guerras e
da crescente industrialização, tenha ditado uma postura mais funcionalista.
Arquitetos como Le Corbusier criticam o afastamento da arquitetura das
questões técnicas. Em seu livro, “Por uma Arquitetura”, tece elogios à
engenharia e ironiza sobre a postura puramente estética do arquiteto:
Os engenheiros são viris e saudáveis, úteis e ativos, morais e
alegres. Os arquitetos são desencantados e desocupados,
faladores ou lúgubres. É que em breve não terão mais nada a
fazer. Não teremos mais dinheiro para construir monumentos
históricos. Precisamos nos justificar. Os engenheiros pensam
nisso e construirão (CORBUSIER, 1994, p.06).
No Brasil, a arquitetura moderna procurava acompanhar a crescente
industrialização, buscando se adaptar às novas condições de produção que a
indústria trazia (ou deveria trazer) e ao mesmo tempo dialogar com os
movimentos artísticos que ocorriam no país.
O arquiteto moderno começa a ver na verdade técnica, na
sinceridade de relação entre engenharia, como colaboradora
do projeto, e o material uma crítica sobre a superficialidade
com que o ecletismo arquitetônico tratava suas idéias a serem
realizadas (ARTIGAS, 2004, p. 204).
No entanto, ainda hoje no Brasil a idéia do arquiteto como fachadista ou
decorador, funções totalmente desvinculadas da técnica construtiva, tem
interferido na formação e na prática de inúmeros novos profissionais e, por
conseqüência, a visão da sociedade frente à profissão. A maioria das imagens
demonstra um profissional inseguro quanto aos conhecimentos técnico e
tecnológico (CARVALHO JR., 1994).
O arquiteto, durante a etapa projetual, é quem define as diretrizes, formas e
materiais do edifício, interferindo diretamente nos índices de desperdício,
impacto ambiental, economia, conforto e funcionalidade. Os erros de projeto,
principalmente no que se refere às especificações de materiais e à falta de
detalhamento técnico, podem resultar em construções de baixa qualidade.
Além disso, como afirma o arquiteto Marcelo Accioly Fragelli, “O
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 2
Contexto
18
desconhecimento da técnica pode limitar a capacidade de expressão do
arquiteto, mas pior, pode fazer suas obras frágeis, vulneráveis ao
envelhecimento precoce e às intempéries, deteriorável” (METODOLOGIAS...,
1982, p. 60).
Contudo, “[...] o projeto arquitetônico não é ainda arquitetura” (GREGOTTI,
1975, p. 13).
A construção é uma das mais antigas práticas humanas que surge da
necessidade do homem de se abrigar das condições adversas da natureza.
Representa um importante fator de desenvolvimento e progresso das
civilizações e, mais do que espaço construído, é uma maneira do homem
expressar suas realizações, suas conquistas e suas crenças (FABRÍCIO, 1996).
Para Severiano Porto, “O arquiteto deve ter um profundo conhecimento da
obra propriamente dita, pois esta sim é a razão e a atividade-fim da nossa
profissão. O projeto é somente a etapa que antecede e fundamenta o seu
fazer” (PORTO, 2004, p.50).
No entanto, atualmente, é freqüente nas revistas internacionais, um tipo de
arquitetura em que, como diz Acayaba (2006), “[...] o arquiteto não tem a
menor preocupação com construção nem com técnica, ele faz um trabalho
quase que de cenografia; está entre cenografia e artes plásticas”.
O arquiteto Ciro Pirondi reconhece que “nos últimos 20 anos, nos afastamos
totalmente das obras, perdendo com isso não o mercado de trabalho, mas
também o controle sobre a qualidade do espaço edificado”. (NAS TRILHAS...,
p.80).
O domínio técnico e tecnológico, além de evitar problemas de execução e
manutenção, pode fornecer subsídios para a manutenção de uma postura
formal e para a realização da arquitetura como fator social, propiciando
maior liberdade de criação e ampliando suas possibilidades.
[...] hoje a cnica constitui um instrumento imprescindível para
pensar a arquitetura, e não exclusivamente para concretizar. [...]
A compreensão mais ampla da dimensão técnica da profissão
permite que a consideremos não apenas como um meio para a
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 2
Contexto
19
concretização de idéias, mas, principalmente, como um
poderoso e vital eixo de reflexão sobre arquitetura (TRUJILLO,
2006, p.11).
O conhecimento técnico também auxilia no diálogo entre os profissionais
envolvidos no projeto e na construção, tornando-o mais direto e preciso e
facilitando a interdisciplinaridade.
Atualmente a construção não depende somente do planejamento espacial,
ela envolve necessariamente diversas especialidades como estrutura,
fundações, hidráulica e elétrica, que influem e são influenciadas pela
arquitetura, exigindo uma interatividade entre os projetos e os profissionais
envolvidos no projeto e na obra.
Artigas, na primeira argüição de sua prova para titulação como professor da
FAU-USP, em 1984, fala sobre a separação entre arquitetura e engenharia, e
da necessidade de integração e de como ela pode ser feita, destacando a
questão da interdisciplinaridade:
[...] o arquiteto antigo não conheceu o engenheiro; não
conheceu a separação entre seu trabalho criador e o homem
que avalia as estruturas. [...] o arquiteto clássico era o homem
falo a você como especialista em fundações que mandava
abrir um buraco e dava uma olhada com os pés para ver se
dava dois quilos por centímetro quadrado ou se não dava
fundação nenhuma! [...] Com a Revolução Industrial a atividade
do arquiteto partiu-se; ele teve de bancar, não por causa do
progresso técnico-científico, tipos de conhecimentos que até
aquela época não imaginava que pudessem ser necessários.
[...] Hoje o conhecimento científico nos leva, por exemplo, a
andar praticando o que se chama interdisciplinaridade, uma
convivência com o que é a suplantação de um grande período
histórico, em que o arquiteto tem onde assumir a
responsabilidade artística e exprimir o pensamento de uma
determinada época, por intermédio de sua visão artística, mas
essa visão era também a própria construção que ele realizava
(ARTIGAS, 2004, p. 204-205).
Acayaba, em entrevista, admite que “Às vezes, é uma conversa com o
engenheiro, com o construtor, que define até essa questão da técnica a ser
usada” (ACAYABA, 2006).
Nesse trabalho, procura-se explorar soluções em que se fundem intenções de
arte e técnica, associando em uma resposta os ideais de engenharia e de
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 2
Contexto
20
arquitetura. Os recursos construtivos utilizados nos projetos são investigados
como solução técnica, mas para tanto:
Uma solução técnica não pode ser cabalmente entendida sem
que se conheça o contexto que motivou seu desenvolvimento;
por esse motivo, a compreensão do por que uma solução
efetivamente soluciona algo, deveria anteceder à sua pura
descrição (TRUJILLO, 2006, p.10).
O item a seguir discorre brevemente sobre o contexto da arquitetura brasileira
a partir da formação do arquiteto Marcos Acayaba para, no próximo capítulo,
demonstrar nuances de sua postura profissional e, em seguida, introduzir alguns
de seus projetos.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 2
Contexto
21
2.2. Breve panorama da arquitetura no Brasil pós 60
A arquitetura brasileira a partir das décadas de 1940 e 1950 passou por um
momento de grande prestígio e reconhecimento internacional, tendo como
auge a construção e inauguração de Brasília, no início da década de 1960.
Em 1964, com o golpe militar, houve uma reversão no quadro político e
econômico do país, culminando no fim da conciliação política-ideológica
consignada pela bandeira do nacional-desenvolvimentismo, que, grosso
modo, inaugurou um período de repressão às manifestações políticas e
intelectuais (BASTOS, 2003). Nesse período, o Brasil ainda vivia uma época de
grande anseio pelo desenvolvimento.
A produção intelectual no meio acadêmico, mesmo com a repressão do
regime militar, teve uma sobrevida e, na arquitetura, as atividades políticas
subsistiam em forma de posturas projetuais. Isso se fez presente na atuação de
arquitetos como Vilanova Artigas, que buscava desenvolver uma arquitetura
que, de certa forma, denunciasse o modelo político, contra o qual se
posicionava (BUZZAR, 1996). Essa arquitetura buscava manter uma postura
preocupada com questões sociais e políticas, tendo como mote a
industrialização da construção no Brasil.
Foi nessa época de grandes rupturas, agitações sociais e direcionamentos
políticos que Marcos Azevedo Acayaba (nascido em 1944) ingressou na
FAUUSP em 1964, formando-se arquiteto em 1969. Tendo conhecido o auge da
agitação política-cultural e o posterior endurecimento do regime, com a
cassação de diversos professores. Dentre os quais, Sérgio Ferro e Rodrigo
Lefèvre que, em oposição à postura de manter a atividade dos arquitetos
restrita ao campo da produção arquitetônica, iniciaram uma forte crítica,
como consta no trecho do texto Arquitetura Nova, escrito por Sérgio Ferro em
1967:
Os arquitetos bloqueados nas direções que deveriam tomar
experimentam vencer a limitação pintando os limites com as
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 2
Contexto
22
formas das direções. Alienados de sua função real por um
sistema caduco, reagem dentro da faixa que o sistema lhes
atribui, aprofundando, com isto, a ruptura entre sua obra e a
situação objetiva a ser combatida. Para enfrentar as forças
negativas que os diluem, aceitam a fragmentação da
particularidade, o que é outra forma de diluição. Adensando
seus projetos, revestindo-os de malabarismos expressivos para
agredir, afastam-se mais e mais do objeto da agressão:
complexos demais, já não são ouvidos (FERRO, 2006, p.50-51).
Suas aspirações e militâncias políticas, que extrapolavam o debate
arquitetônico, acabaram ocasionando em sua deportação, exilando-se na
França, onde se manteve ativo profissionalmente como professor da Escola de
Arquitetura de Grenoble e onde vive até hoje.
Somente com a publicação de seu livro “O Canteiro e o Desenho”
1
, em 1979,
suas idéias passaram a ser mais difundidas no país, fazendo crítica à
exploração das relações de produção e concepção da arquitetura posta em
prática pelo modernismo brasileiro, principalmente na construção de Brasília.
Ferro nesse livro levanta a idéia de que a arquitetura moderna, até então
praticada no Brasil e tão amplamente difundida com a fundação de Brasília,
alienava o trabalhador da construção civil, pois propunha um grau de
industrialização e desenvolvimento técnico que afastava a mão de obra do
processo de produção e criação do conjunto da obra.
Se para Artigas a elaboração de um projeto cultural autônomo
passava pela superação do subdesenvolvimento com a
adoção de um projeto de modernização técnica baseado nos
países ricos, para a Arquitetura Nova tal superação dependia
da elaboração de um modelo tecnológico baseado no
emprego intensivo de mão de obra e de menos investimentos
em mecanização da produção, ou seja, um processo a ser
realizado com os recursos possíveis e com os limites existentes no
contexto efetivo do país (KOURY, 2003, p.56).
Em entrevista concedida à Revista Caramelo, Acayaba fala sobre essa
polaridade conformada na FAU:
[...] em 67 teve o que se chamou de “racha do partido”. Duas
posições se separaram, inconciliáveis, e membros dos dois lados
existiam também dentro da escola, passando a ter posições
1
O texto foi primeiramente publicado em 1976, dividido em duas edições (2 e 3) da revista
Almanaque, sob os títulos: “A forma da arquitetura e o desenho da mercadoria” e “O desenho”.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 2
Contexto
23
opostas. Dando nome aos bois era o Artigas de um lado e o
Sérgio Ferro do outro. O que eram essas posições? Vocês sabem,
mas é o seguinte: o Sérgio Ferro representava o grupo que partiu
naquele momento para a luta armada. Antes de mudar o
regime e a sociedade, não interessava fazer arquitetura. Fazer
pra quê? Fazer arquitetura seria compactuar com o regime.
Enquanto o outro lado viu a coisa mais a médio e a longo prazo,
dizendo que não, que nós tínhamos que resguardar certas
conquistas e continuar trabalhando. Foi uma loucura total,
porque o pessoal partiu pra luta armada... uma luta perdida de
antemão. Com isso a gente perdeu muita gente importante, foi
uma tristeza, e acabou (ACAYABA, 1991, p. 10).
No entanto, o regime militar, com suas aspirações desenvolvimentistas, inicia
uma fase de expansão, ocasionando na realização de grandes investimentos
em áreas de infra-estrutura: centros cívicos e administrativos, hospitais,
estações, escolas (campi universitários), conjuntos habitacionais, centrais de
energia, aeroportos, rodoviárias, centrais de telefonia entre outros, fazendo do
Estado o principal cliente dos arquitetos. Era o chamado “milagre
econômico”.
[...] enquanto as artes de modo geral foram silenciadas, a
censura para nós veio com a concentração de riquezas [...] os
órgãos do governo concentravam as obras de infra-estrutura, as
chamadas obras faraônicas, no período Médici. Estava aberto
um certo espaço para o exagero, impondo o esquecimento de
toda evolução que caracterizava a arquitetura brasileira, com
os programas adequados à realidade nacional e ao contexto
político-social do momento (PRANCHETA, 1986, p. 57).
A intensa demanda arquitetônica ocasionada pelo grande mero de obras
públicas criou certa euforia por parte de muitos arquitetos, que geraram, em
muitos casos, uma produção acrítica, que adotava aleatoriamente elementos
“símbolos de uma arquitetura nacional”, como protetores solares (brises),
grandes vãos, rampas, concreto aparente etc. Existia muita produção e
pouco debate arquitetônico.
Não importava o programa de uso: da casa ao viaduto, da
agência bancária ao forno crematório, da escola, à torre de
garagem, do sofá ao edifício administrativo era a moda (ou
ditadura) das grandes estruturas de concreto, do concreto
aparente, dos pilares esculturais, das estruturas protendidas, do
exibicionismo estrutural, a competição por vãos livres maiores,
dos panos de vidro imitações esvaziadas dos conteúdos
elaborados por mestres como Niemeyer, Vilanova Artigas e
seguidores consistentes (SEGAWA, 1999, p. 191).
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 2
Contexto
24
Nos anos de 1980, com o fim do regime militar, inicia-se uma grave crise
econômica. Junto com a redemocratização, a retomada do debate
arquitetônico, que havia sido suspenso durante o período do governo militar.
Inicia-se nesse momento uma revisão crítica da arquitetura moderna e de
toda a produção realizada nas últimas décadas.
As mitológicas obras da arquitetura dos anos de 1950-1960, por
falta de manutenção e por obsolescência, transformaram-se em
ruínas da modernidade; Brasília, cidade elaborada no período
democrático, amadurecida durante o regime militar, confunde-
se com o caráter autoritário do período; as realizações dos anos
de 1970, pela suntuosidade e pelo monumentalismo,
transformando-se no símbolo da burocracia estatal e do
desperdício (SEGAWA, 1999, p. 197).
Em 1990, a Revista Projeto publicou um debate sobre a produção dos anos 80,
em que o arquiteto Antonio Carlos Sant’Anna Jr. dá um breve panorama entre
o período de sua formação e o que se sucede:
Eu me formei em 1974, pela FAU/USP. No meu tempo de escola,
a questão do prazer em arquitetura estava absolutamente
interditada. Foram exatamente os anos do governo Médici e
essa interdição foi colocada pelos próprios professores e
estudantes de arquitetura: necessário substituir o lápis por
instrumentos mais contundentes. Acredito que essa questão não
seja paulistana! No início dos anos 80, o processo de abertura
política que começa a se firmar no Brasil à sociedade civil
oportunidade de se manifestar de maneira mais aberta, mais
franca. A arquitetura começa a encontrar seu espaço, às vezes
até de maneira excessiva (EM DEBATE..., 1990, p. 144)
A produção moderna ainda exercia forte influência no debate e na prática
arquitetônica. Por outro lado, nesse momento, novos temas foram introduzidos
na arquitetura, trazendo questões como o maior diálogo do edifício com o sítio
onde se insere (urbano ou rural) e com as realidades locais, o reconhecimento
da história como referência projetual, o questionamento do mito do autor em
função de uma atividade projetual coletiva (arquitetos/ arquitetos, arquitetos/
usuários), entre outros.
Conceitos como o respeito pelo contexto, pela tradição e pelo o meio físico
em que se insere um edifício também surgem como uma crítica à política de
“tabula rasa” modernista
(BASTOS, 2003).
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 2
Contexto
25
A partir da crise energética iniciada nos anos de 1970, quando se passou a ter
consciência de que os recursos eram finitos, surgiram discussões relacionadas
ao meio ambiente, as quais passaram a influenciar a produção arquitetônica
das décadas seguintes, seguindo em debate até hoje.
O processo de conscientização ecológica fez com que os materiais
tradicionais tivessem seu uso re-valorizado. Obras realizadas ainda nas
décadas anteriores passaram a ganhar destaque, como é o caso da
experiência de cio Costa, com o projeto do Parque Hotel São Clemente
(BASTOS, 2003).
Com a revalorização, no anos de 1980, das técnicas tradicionais,
o Park Hotel São Clemente, em Nova Friburgo, tornou-se a obra
emblemática de Lúcio Costa, na busca de síntese entre a
tradição local e o espírito moderno (BASTOS, 2003, p. 141).
A produção arquitetônica brasileira passou então a assimilar novamente
materiais típicos da arquitetura tradicional, como é o caso da madeira e do
tijolo.
Um exemplo desse fenômeno é um projeto de 1982, o da residência dos
Padres Claretianos em Batatais, SP, de Affonso Risi Jr. e José Mário Nogueira de
Carvalho Jr., uma obra que propunha a utilização de um material tradicional,
o tijolo, mas associado a novas técnicas construtivas, priorizando a
humanização do canteiro e cultivando a criatividade da mão de obra.
Também se destaca nesse quadro o projeto do Centro de Proteção Ambiental
de Balbina, em Manaus, AM, de Severiano Mário Porto, iniciado em 1983, que
Fig. 2.1: Park Hotel São Clemente, Nova
Friburgo, 1944-1945. Lúcio Costa.
(fonte: OLIVEIRA, 1992)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 2
Contexto
26
utiliza a madeira como estrutura e cobertura, e paredes de alvenaria de tijolos
como vedação.
Fig. 2.2: Residência dos Padres Claretianos de
Batatais. Affonso Risi Jr. e José Mário Nogueira
Jr. 1982-1984. (fonte: LEMOS, 2005)
Fig. 2.3: Centro de Proteção Ambiental da
Usina Hidrelétrica de Balbina. Severiano Porto.
1983-1988. (fonte: LEMOS, 2005)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 3
Marcos Acayaba
27
CAPÍTULO 3:
MARCOS ACAYABA
Discípulo do mestre Vilanova Artigas, Acayaba trouxe para sua prática
profissional um forte interesse pelas questões técnicas, numa constante
investigação arquitetônica.
Transitando por entre os mais variados tipos de materiais e técnicas
construtivas, Acayaba experimenta as potencialidades de cada material na
formulação do espaço arquitetônico e nas contribuições às intenções formais
de cada projeto.
Fig. 3.2: Residência em Alphaville 1981-
1982: Estrutura em aço com elementos
de vedação em pedra e alvenaria de
tijolos.
(fonte: MARCOS ACAYABA
ARQUITETOS, 2007)
Fig. 3.1: Residência Milan 1972-1975:
Casca em concreto armado.
(fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 3
Marcos Acayaba
28
Fig. 3.3: Residência Hugo
Kovadloff 1986-1987. Estrutura em
concreto armado com vedação
em alvenaria de tijolos. (fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 3.5: Residência Marcos
Acayaba 1997. Estrutura pré-
fabricada em madeira.
(fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 3.4: Residência em Monte
Verde 1994-2000. Estrutura em
madeira com vedação em tijolos
e pedras. (fonte: MARCOS ACAYABA
ARQUITETOS, 2007)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 3
Marcos Acayaba
29
3.1. Formação, referências e parcerias
Acayaba ingressou na FAU USP em 1964. Não havia muitos anos que a
Faculdade de Arquitetura havia se desvinculado da Escola Politécnica.
Grande parte de seus professores vinha da Politécnica como, por exemplo,
seu grande mestre, formado engenheiro-arquiteto, Vilanova Artigas.
Havia na escola uma grande ênfase em questões técnicas.
Tínhamos muitos professores engenheiros e, mesmo entre os
arquitetos vários tinham formação politécnica. Nosso professor
mais importante, João Vilanova Artigas, era engenheiro-
arquiteto formado pela Escola Politécnica (ACAYABA, 2004, p.
21).
Naquele momento, a busca por uma tecnologia construtiva que sustentasse os
conceitos de industrialização acarretou na expansão do uso do concreto
armado, que através de suas diversas formas permitiu a criação de uma nova
linguagem e de novas relações espaciais.
A variedade de possibilidades plásticas que o material propiciava fez com que
se tornasse uma solução corrente entre os arquitetos. Ainda mais depois da
construção de Brasília, que estabeleceu uma nova linguagem na arquitetura
nacional.
Segundo Acayaba (2004), logo no início de sua carreira, quando teve a
oportunidade de realizar um projeto com maior liberdade, o da residência
Milan, acabou optando por realizar uma casca curva em concreto armado,
adotando uma postura mais formalista, numa referência à arquitetura de
Niemeyer, a que mais gostava, desde a infância.
Nesse mesmo período, outros arquitetos também realizavam experiências com
construção em abóbada, como é o caso de Sérgio Ferro que, por outro lado,
adotava uma postura mais ligada às questões sociais, preocupada com a
qualificação da o de obra e a utilização de materiais tradicionais
associados a técnicas construtivas diferenciadas.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 3
Marcos Acayaba
30
Nos anos de 1980, as preocupações ambientais trouxeram à tona arquiteturas
marcadas pelo uso de materiais tradicionais locais, como a madeira e os
tijolos, por exemplo.
Nesse período Acayaba fez o projeto da Residência Hugo Kovadloff, que
manteve uma postura bem mais modesta em termos construtivos, adotando
estrutura em concreto armado e vedação em tijolo aparente, fazendo
Fig. 3.6: Residência Milan, de Marcos Acayaba. (fonte: arquivo pessoal Marcos
Acayaba)
Fig. 3.8: Residência em Cotia, de Sérgio Ferro. (fonte: FERRO, 2006)
Fig. 3.7: Clube Diamantina, de Oscar Niemeyer. (fonte: arquivo pessoal
Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 3
Marcos Acayaba
31
referências às Maisons La Roche e Jaoul, de Le Corbusier, e às Usonian
Automatic Houses, de Frank Lloyd Wright.
No fim dos anos de 1980 e início dos anos de 1990, Acayaba passou a
trabalhar também com madeira. A primeira obra de destaque nesse
segmento foi a residência Hélio Olga, sobre a qual o arquiteto menciona
referências da arquitetura japonesa:
Para aprender a ‘falar uma nova língua’, a da estrutura
padronizada, aproveitei para realizar o antigo desejo de fazer
uma casa japonesa. Afinal, desde o século XII, se não antes, os
japoneses fazem uso de estruturas em madeira moduladas
padronizadas e produzidas em série (ACAYABA, 2004, p. 75).
Fig. 3.9: Residência Hugo Kovadloff. (fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 3.10: Residência Hélio Olga. (fonte: arquivo
pessoal Marcos Acayaba
)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 3
Marcos Acayaba
32
A arquitetura japonesa também foi referência constante nos trabalhos de
Frank Lloyd Wright, arquiteto admirado e referenciado por Acayaba em
diversas obras como, por exemplo, no projeto da Residência Calabi, de1989-
1991:
Ainda que essa casa tenha referências na arquitetura
tradicional japonesa, a vejo mais como resultado do meu
interesse crescente na arquitetura de Frank Lloyd Wright
(ACAYABA, 2003, v.1, p.81).
O pesquisador e professor Paulo Fujioka, em sua tese de doutorado, o explora
as inter-relações entre a obra de Wright e de Acayaba, suas referências à
arquitetura oriental e suas posturas organicistas. Analisa os projetos em
madeira de Acayaba executados no sistema de triangulação da estrutura.
Com a arquitetura das casas-árvore, Acayaba atinge
justamente os ideais wrightianos da destruição da caixa, de
dissolução dos limites entre interior e exterior, além do
rompimento do esquema pilar/viga/laje [...] todos os elementos
da estrutura não agem somente como esqueleto, mas servem
wrightianamente aos objetivos do programa (a noção
organicista das partes em relação ao todo) (FUJIOKA, 2003, p.
255).
Fig. 3.11: Residência Calabi 1989-1991, Guarujá-SP. (fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 3
Marcos Acayaba
33
Como demonstra Fujioka, uma estreita relação entre as posturas de Wright,
Artigas e Acayaba, num processo em que a preocupação com a solução
construtiva se vincula diretamente à estruturação rigorosa do programa, tendo
como resultado, a linguagem plástica do edifício, e não o contrário, como se
vê na postura de muitos arquitetos.
Em Artigas vemos também, além da preocupação genérica
com o partido e a expressão espacial rigorosa do programa, a
preocupação com a solução construtiva. Temos a presença
do método wrightiano, tão difícil de ser copiado ou mesmo
entendido, sobrepondo-se ao modelo corbusiano (FUJIOKA,
2003, p.248).
Acayaba também fala dessa relação:
Wright é engraçado, como ele nunca teve estilo, ele fez de
tudo, usou todo tipo de tecnologia, de material, de linguagem.
Wright não é um arquiteto de fazer modelos para serem
copiados. Ele tem um método [...] Têm raros exemplos de
wrightianos bem sucedidos. O Artigas é um ótimo exemplo,
porque tem aquela questão do método... (ACAYABA, 1991, p.10,
grifo nosso).
Artigas, como professor, sempre foi muito aberto. Estimulava,
provocava a criatividade dos alunos. Também não gostava que
o copiassem. “Esse cara não entendeu nada...”, era como
reagia, diante de certas obras, com elementos do seu
repertório, mal usados, ou mal colocados no discurso
arquitetônico. Ao invés de um estilo, tanto como professor,
quanto através de seus projetos, sempre didáticos, Artigas
Fig. 3.12: “Casas-árvore”. Residência Baeta 1993-1994 e Residência Marcos Acayba 1997. (fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 3
Marcos Acayaba
34
transmitia um método; a partir duma interseção, uma
organização semântica do programa, equacionada numa
espacialidade própria, através dum desenho rigoroso mas
também significativo da estrutura, da construção. Acho que tem
sido meu próprio método de trabalho. Entretanto, talvez por isso
mesmo, meus projetos muito raramente acabam parecidos com
os do Professor Artigas, formalmente (ACAYABA, 2003, p.236,
grifo nosso).
Nessas citações, Acayaba deixa claro que, como discípulo, sempre adotou os
ideais que seu mestre Artigas pregava.
A idéia de que o arquiteto deve adotar uma postura relacionada aos fatores
sociais, técnicos e econômicos atribuídos por cada situação, e não
simplesmente assimilar e aplicar um modelo, também se encontra presente no
discurso de Walter Gropius:
Quero que o jovem arquiteto seja capaz de encontrar seu
próprio caminho, quaisquer que sejam as circunstâncias, que ele
crie independentemente formas autênticas, a partir de
condições técnicas, econômicas e sociais a ele dadas, em vez
de impor uma fórmula aprendida a um ambiente que talvez
exija uma solução completamente dispersa. Não pretendo
ensinar um dogma acabado, mas, sim, uma atitude perante os
problemas de nossa geração, uma atitude despreconcebida,
original e maleável (GROPIUS, 1974, p. 25-26).
No geral, o trabalho de Acayaba reflete uma postura preocupada com os
métodos e os processos de projeto
1
. Isso acaba resultando na adoção de
diversas tecnologias construtivas, elegidas em função das particularidades de
cada projeto, como o relevo, o clima e o programa. Nos trabalhos em
madeira citados por Fujioka, ressalta-se também a parceria entre Marcos
Acayaba e o engenheiro Hélio Olga de Souza Júnior que, quando perguntado
sobre o conflito existente entre engenheiros e arquitetos, afirma:
Esse conflito, na maioria das vezes, existe entre maus
engenheiros e maus arquitetos. Cansei de participar de reuniões
nas quais o arquiteto sugere algo que faz sentido, mas o
engenheiro preguiçoso, que não quer pensar, diz que não é
possível e o arquiteto, sem conhecimento cnico, conforma-se
(SOUZA JR., 2002, p. 07).
1
Em alguns momentos, no entanto, isso parece ocorrer simplesmente pela influência da
produção arquitetônica da época, numa ânsia de experimentar as novas técnicas, formas e
soluções que iam surgindo, como é o caso da residência Milan. Essas questões serão mais
discutidas ao longo da pesquisa.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 3
Marcos Acayaba
35
Hélio, assim como Acayaba, vem cultivando ao longo de sua atividade
profissional um profundo interesse pela construção:
Quando eu era criança, meu pai e meu tio tinham uma
construtora, e eu convivia muito com obras. Sou mais construtor
do que engenheiro. Interesso-me mais por “como fazer” do que
pelo estudo de teoria, como faz um engenheiro calculista no
sentido clássico da palavra (SOUZA JR., 2002, p. 06).
Procuro, a partir da análise conjunta de todas as
condicionantes, deduzir qual a melhor estratégia para a
realização da obra. Assumo, então, a estratégia de obra, onde
o processo de produção é fundamental, como uma referência,
como uma bússola, para orientar a concepção e
desenvolvimento do projeto
2
(ACAYABA, 2004, v.1, p.22).
O interesse pelas obras e pelas técnicas construtivas acabou aproximado os
dois profissionais. Em 2002, após trabalharem juntos em cerca de quinze
projetos em madeira, os quais renderam inúmeras publicações e prêmios pelo
aprimoramento espacial e por suas inovações construtivas, Acayaba e Hélio se
associaram na realização de um empreendimento imobiliário, a Vila Butantã.
Um conjunto de casas na cidade de São Paulo que foge do padrão imobiliário
atual. Apresenta soluções diferenciadas tanto técnica quanto espacialmente,
tendo sido criada e patenteada uma nova solução de laje mista de madeira e
concreto, como mostra o capítulo 9.
2
Essa citação faz parte de um texto recentemente escrito, é uma postura de trabalho atual (ver
anexo A), resultado de uma experiência, como o próprio Acayaba afirma, de mais de trinta
anos de profissão, como projetista e professor. Em seus projetos as nuances desse discurso são
mais ou menos presentes ao longo de sua carreira.
Fig. 3.13: Vila Butantã 2002. (fonte:
MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 3
Marcos Acayaba
36
3.2. Formas de estudo e representação de projeto
O domínio das técnicas da construção propicia ao arquiteto maior liberdade
no desenvolvimento do projeto na medida em que oferece subsídios para a
utilização de recursos variados em termos de materiais e soluções construtivas.
Porém, outras formas de domínio técnico também podem influenciar na
elaboração de um projeto arquitetônico e na prática profissional de um
arquiteto, como o domínio das técnicas de estudo e de representação de
projeto, tais como o desenho, a fotografia e as maquetes físicas e eletrônicas.
Acayaba revela que, durante sua graduação, trabalhou como fotógrafo.
Também chegou a fazer perspectivas para arquitetos como Ruy Ohtake e
alguns professores da FAU-USP (informação verbal)
3
.
3
Informação dada por Acayaba em visita a sua residência no Guarujá.
Fig. 3.14: Perspectivas feitas à mão (grafite) por Acayaba para residência em Alphaville 1981-
1982
.
(fonte:
MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007
)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 3
Marcos Acayaba
37
Entre os arquitetos de sua geração, Acayaba foi um dos pioneiros dentre os
raros que decidiram se aventurar no mundo da informática. Desde o início dos
anos 90, utiliza o computador não como forma de representação, mas
também como forma de concepção e experimentação projetual.
O depoimento que se segue foi dado pelo arquiteto à revista Projeto, em 1993,
sobre o uso do, naquele momento, novo programa de desenho e modelagem
virtual, o ArchiCAD:
Tenho conversado com muitos colegas sobre a informática,
sobre esse programa, e noto que os mais velhos ou da minha
geração ficam surpresos e dizem que vão colocar seus
funcionários, seus estagiários, para aprender o novo recurso.
Fig. 3.16: Maquetes
eletrônicas produzidas em
ArchiCAD. (fonte: arquivo
pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 3.15: Perspectiva feita à mão
(grafite e aquarela) por Acayaba
para residência Baeta. (fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 3
Marcos Acayaba
38
Faço questão de dizer que isso é um grande engano. O
computador não é um simples instrumento para produzir
desenhos e projetos executivos. Ao contrário, é um instrumento
de projeto, de concepção. Quem deve operá-lo é o próprio
arquiteto, o criador da proposta (A MÁQUINA..., 1993. p. 60).
No início, o arquiteto usava o ArchiCAD apenas como forma de estudo e
representação em 3D. Somente a partir de 1996-97, passou a utilizá-lo também
para realização de projetos executivos (informação verbal)
4
.
Mesmo com o advento do computador, as “antigas” cnicas de estudo e
representação não foram deixadas de lado. O croqui não deixou de ser a
primeira materialização da idéia, a forma de estudo mais fácil e imediata.
4
Essa informação foi dada por Acayaba em visita ao seu estúdio, quando apresentou alguns
projetos executivos desenvolvidos à mão.
Fig. 3.17: Croquis para projeto da Residência Hélio Olga.
(fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 3.5: Croqui para projeto da Residência
Milan. (fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 3
Marcos Acayaba
39
Um dos mais premiados projetos de Acayaba foi o Pavilhão Pindorama, cujo
partido arquitetônico surgiu de uma experimentação com uma maquete de
cartolina pintada a guache feita pelo próprio arquiteto.
O sistema desenvolvido para a série de casas de estrutura pré-fabricada de
madeira foi estudado por meio de modelagem virtual em computador
(maquetes eletrônicas) e de protótipos construídos em várias escalas, em
parceria com o engenheiro Hélio Olga.
Os protótipos em madeira, construídos em várias escalas, inclusive 1:1,
permitiram estudar os esforços sobre a estrutura e principalmente os encaixes
entre as peças, ajudando a identificar os problemas e as dificuldades que
poderiam incidir na execução da obra.
Fig. 3.6: Maquete feita por Acayaba para estudo do
Pavilhão Pindorama.
(fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Fig. 3.20: Modelo em escala 1:1 da
malha triangular de piso.
(fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 3
Marcos Acayaba
40
A maquetes eletrônicas permitem a prévia visualização do edifício, auxiliando
o estudo da espacialidade, da volumetria e da implantação do edifício.
Acaba facilitando também a apreensão do projeto pelo cliente.
Outro ponto vantajoso, segundo Acayaba (2007), é que também podem ser
realizados estudos de insolação a partir da inserção da longitude e da latitude
do local de implantação, permitindo verificar com certa precisão a posição
do sol em relação ao edifício ao longo do dia e das estações do ano. Esses
estudos acabam sendo determinantes no projeto arquitetônico na medida em
que auxiliam em certas escolhas como, por exemplo, a utilização ou não de
elementos de proteção solar, seu desenho e suas dimensões, além do
tamanho das aberturas, dos peitoris e dos beirais. As simulações das sombras
também podem influenciar, por exemplo, na locação de uma piscina,
evitando que seja colocada em área de sombra constante provocada por
construções vizinhas ou pelo próprio edifício.
Fig. 3.21: Modelo em escala 1:15 e maquete eletrônica para estudo de estrutura em madeira
pré-fabricada. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 4
Residência Milan
41
CAPÍTULO 4:
RESIDÊNCIA MILAN (São Paulo - SP, 1972-1975)
Fig. 4.1: Residência Milan. Vista frontal a partir do pátio. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 4
Residência Milan
42
4.1. O projeto
O programa da Residência Milan previa uma casa de cerca de 450 m
2
, num
terreno de 2050,0 m
2
, o que permitia a criação de espaços internos integrados
e um grande jardim.
A idéia era valorizar a paisagem e ao mesmo tempo estabelecer um maior
contato entre o interior da casa e todo o terreno, seguindo os conceitos de
espaço nimo e integração dos espaços internos, com os quais trabalhavam
os arquitetos modernos nesse período.
A casa se articula em três meios níveis, com uma grande laje transversal à
cobertura, criando uma organização funcional do programa. Na área central,
no desnível, dois volumes de concreto abrigam os quatro banheiros e as duas
caixas d’água.
Fig. 4.2: Residência Milan. Vista aérea. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 4
Residência Milan
43
Fig. 4.3: Residência Milan. Implantação. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 4.4: Residência Milan. Corte transversal. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 4
Residência Milan
44
Fig. 4.5: Residência Milan. Planta pavimento térreo. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 4.6: Residência Milan. Planta pavimento superior. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 4
Residência Milan
45
Fig. 4.7: Vistas internas. Acima: sala de estar. Abaixo, à esquerda: entrada dos
dormitórios. À direita: sala de jantar. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 4
Residência Milan
46
4.2. A solução construtiva – Casca em concreto armado
Quando foi convidado para fazer o projeto dessa casa, para sua cunhada,
Acayaba ainda era um jovem arquiteto recém formado. Em conversa
informal, o arquiteto revelou que a admiração pelo arquiteto Oscar Niemeyer
desde a infância teve forte influência na escolha do partido a ser adotado
para a casa.
Acayaba (2004) aponta que uma de suas maiores inspirações foi o Clube
Diamantina, realizado nos anos de 1950, por Niemeyer. O projeto consistia
numa casca em arco apoiada em quatro pontos sobreposta a uma laje
alongada no seu sentido longitudinal.
Fig. 4.8: Construção residência Milan. Retirada do cimbramento. (fonte: arquivo pessoal
Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 4
Residência Milan
47
No período em que esse projeto foi desenvolvido, além de Niemeyer, outros
arquitetos também estavam fazendo experiências com coberturas em
abóbada. Como é o caso de Sérgio Ferro que, apesar de trabalhar com a
mesma linguagem, pregava a utilização de técnicas construtivas baseadas na
manufatura, com materiais baratos e tradicionais.
Acayaba acabou adotando a tecnologia do concreto armado. Naquele
momento, o concreto armado estava sendo utilizado em larga escala. Era
símbolo da arquitetura contemporânea e permitia uma forte expressividade.
Com a deferência de Oscar Niemeyer e sua apologia do
material como suporte ideal para suas elaborações plásticas, o
concreto armado tornou-se uma solução recorrente e imbatível
entre os arquitetos alinhados ao pensamento da “escola”. Enfim,
o concreto transformou-se na expressão contemporânea da
técnica construtiva brasileira (SEGAWA, 1999, p.149).
Fig. 4.9: Clube Diamantina, 1950. De
Oscar Niemeyer. Casca em
concreto armado. (fonte: BRUAND,
1999, p.159)
Fig. 4.10: Residência em Cotia, 1964.
Sérgio Ferro. “Uma abóbada
circular construída de vigas retas de
tijolo furado, com o auxílio de
cambotas simples de madeira”.
(fonte: LIMA, 2007, p. 44)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 4
Residência Milan
48
A cobertura curva foi executada em concreto armado fundido “in-loco”, com
espessura variável, abrangendo uma área em planta de 25,0 m x 17,0 m.
Com ângulos de arranque de 30º, apóia-se nas extremidades do terreno e é
atirantada nas sapatas de fundação.
O vão livre entre as sapatas é de 33,0 m. Seu desenho surgiu a partir de dois
arcos de círculo de raios diferentes com tangentes seguindo suas
extremidades, como mostra o croqui a seguir:
Foram utilizadas fôrmas de madeira, inclusive para a parte superior da casca. E
o concreto foi lançado por bombeamento. Sua execução foi complicada,
pois exigia fôrmas de madeira complexas e artesanais, com um cimbramento
1
muito denso e que depois foram descartadas, além da utilização de uma
técnica até então nova no Brasil, a do bombeamento e lançamento do
1
“O cimbramento é a estrutura provisória [...] que sustenta as fôrmas que vão receber e dar
forma ao concreto ainda mole (pastoso). Quando o concreto inicia a pega, ele adquire uma
determinada resistência que permite a retirada do cimbramento e das fômas” (BOTELHO, 1983,
p.286).
Fig. 4.11: Croqui feito por Acayaba e colorido digitalmente para indicar construção da curva a
partir de dois raios e ângulos de arranque de 30
o
. (fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 4
Residência Milan
49
concreto em altura, “uma sofisticação que eu não sei se caberia na obra de
uma residência” (ACAYABA, 2004, vol. 1, p.24).
A curva adotada não é uma catenária, portanto não trabalha somente à
compressão. Logo após a retirada do cimbramento foram detectadas fissuras
nos quatro apoios da casca.
A solução foi fazer reforços prismáticos em concreto nos quatro apoios e
atirantar as sapatas entre si, formando um quadrilátero de tirantes protendidos.
Fig. 4.12: Fissuras num dos pontos de apoio da casca. (fonte: autora)
Fig. 4.13: Reforço em concreto. Croqui de
Marcos Acayaba, editado pela autora.
(fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 4
Residência Milan
50
A curva catenária pode ser conformada através da “[...] forma adquirida por
um cabo de massa uniformemente distribuída, quando sujeito somente à ação
do seu peso” (SILVA, 2003, p. 31).
Lopes confirma essa afirmação e explica a utilização da catenária no Egito
pelos núbios: [...] os núbios construíam suas abóbadas seguindo uma
geometria decalcada sobre a catenária: uma corda suspensa desenvolve, em
si, uma curva catenária. Se uma corda se estabiliza comodamente aos
esforços de tração segundo essa geometria, os núbios aprenderam que o
mesmo deveria ocorrer ao contrário, quando utilizando materiais resistente à
compressão[...]” (LOPES, 2006, p. 166).
A figura a seguir demonstra a diferença entre a curva adotada e a curva
catenária (obtida através de uma corrente suspensa fixada pelas
extremidades).
Em azul, apontam-se as zonas de maior solicitação à flexão em corte e em
planta. Foi exatamente nesses pontos que a estrutura sofreu fissuras na retirada
do cimbramento.
Fig. 4.14: Sobreposição planta e corte da fundação e estrutura, com catenária, indica zonas de
maior solicitação à flexão. (fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 4
Residência Milan
51
Na parte central da casca, a curvatura comporta-se de maneira muito
próxima a uma catenária. Nessa região não houve fissuras.
De acordo com Acayaba (2007), na face externa da casca foram coladas
placas de poliuretano expandido de 2,0 cm de espessura e por sobre elas uma
camada de manta de de vidro. Por cima da manta aplicou-se poliuretano
líquido que, ao se fundir com as placas, formou uma camada única e sólida.
Esse recurso visava auxiliar no isolamento térmico da edificação, mas exigia
uma manutenção constante. A cada dois anos era necessário pintar a
cobertura, pois sua a camada superficial descascava, mas sem formação de
fissuras. Inicialmente era pintada com o próprio poliuretano mas, devido ao
seu alto custo, passou-se a utilizar tinta acrílica.
Por volta de 1999-2000, mesmo sem nunca ter havido infiltrações ou
vazamentos, Acayaba decidiu revestir a casca com uma manta termoplástica
de impermeabilização
2
, protegendo então o poliuretano e dispensando as
constantes pinturas. O acabamento resultou muito satisfatório e o problema
das manutenções muito freqüentes foi solucionado.
2
Conhecida comercialmente como Alwitra, essa manta termo-plática de impermeabilização
também foi utilizada nas lajes de cobertura da residência Marcos Acayaba (ver capítulo 7).
Fig. 4.15: Corrente em pêndulo indica a proximidade da parte central da curva com a catenária.
(fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 4
Residência Milan
52
Os caixilhos da residência são de aço galvanizado, estruturados por tubos
retangulares de chapa de aço dobrada. Os montantes verticais não
receberam nenhum tipo de pintura e, mesmo após mais duas décadas, não
apresentam nenhum sinal de deterioração.
Segundo Acayaba, devido às grandes dimensões do pano de vidro e à
necessidade de resistência à ação dos ventos, foram realizados diversos
ensaios com o serralheiro Roberto Venturolli antes da montagem (informação
verbal)
3
.
3
Informação dada por Acayaba em visita à residência Milan, sua moradia atual.
Fig. 4.16: Manta termo-plástica revestindo a cobertura.
(fonte: autora)
Fig. 4.17: Caixilhos em aço galvanizado e Marcos Acayaba. (fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 4
Residência Milan
53
Fig. 4.18: Detalhes da caixilharia. Planta. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba editada pela
autora)
Fig. 4.19: Detalhes da caixilharia. Corte. Na fixação do caixilho na casca de concreto é
prevista a movimentação vertical da estrutura através de perfis com encaixe flexível. (fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba – editada pela autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 4
Residência Milan
54
Fig. 4.20: Parede de elementos vazados, em concreto pré-moldado, no corredor de acesso da
garagem para a sala de jantar. A maioria dos elementos recebeu vidros fixos, mas alguns
receberam vidros basculantes associados a uma tela mosquiteiro em requadro de alumínio
removível, permitindo ventilação permanente. (fonte: autora)
Fig. 4.21: Porta basculante transforma-se numa
pequena marquise, marcando a saída para o
terraço. Feita em perfis galvanizados, e revestida
de chapa de aço galvanizado pintada, possui
acionamento manual simples e é fixada na
posição horizontal por meio de uma corrente
metálica que se prende ao montante lateral.
(fonte:
autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 4
Residência Milan
55
4.3. Considerações sobre o projeto
Acayaba realizou esse projeto em 1972. Tinha se formado apenas três anos.
Nesse período, as formas de Niemeyer, tão difundidas com a construção de
Brasília, cerca de uma década antes, ainda influenciavam fortemente a
produção arquitetônica nacional.
Como admirador de Niemeyer desde a infância, o é à toa que Acayaba
aproveitou sua primeira oportunidade de trabalhar com essa linguagem e
adotou o mesmo partido construtivo utilizado por ele e pelos tantos mestres
modernistas que estudou na faculdade.
Em entrevista cedida à autora, Acayaba (2006), quando questionado sobre a
tecnologia do concreto armado, admite que “o concreto armado realmente
é uma coisa muito sedutora como técnica porque qualquer forma que você
conceba, dá pra fazer com concreto”.
Porém, é preciso ressaltar, que a técnica construtiva utilizada nesse caso não
se justificaria num projeto de residência devido a seu alto grau de sofisticação
e custo
4
. Houve também um desperdício de um grande volume de madeira
utilizado nas fôrmas.
Como pôde se ver, a casa também requisitou uma manutenção muito
freqüente e de alto custo, pelo menos até a colocação da manta termo-
plástica.
No entanto, ainda em 1975, Acayaba realizou o projeto da casa sede de uma
fazenda, a Fazenda Pindorama. Nesse projeto também utilizou abóbadas
como cobertura, porém o sistema construtivo adotado foi outro (ver capítulo
5).
4
Autocrítica feita pelo arquiteto em sua tese de doutorado ACAYABA, 2004.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 4
Residência Milan
56
4.4. Ficha técnica – Residência Milan
Dados gerais
Local: Av. das Magnólias, 70 – Cidade Jardim – São Paulo-SP
Ano do Projeto: 1972
Período da Construção: 1972-1975
Equipe de Projeto
Arq. Marcos Acayaba
Arq. Marlene Milan Acayaba
Colaboradores
Projeto de Fundações: Engesolos
Calculo Estrutural: Eng. Ugo Tedeschi e Eng. Yukio Ogata
Projeto de Instalações: Eng. Antônio G. Marques e Olavo M. Campos
Projeto de Paisagismo: Marlene Milan Acayaba
Construção: Cenpla
Programa
Sala de estar 2 Sanitários
Sala de jantar Cozinha
Estúdio Lavanderia
Lavabo 3 Dormitórios de empregada
4 Dormitórios Garagem
Materiais
Estrutura: Concreto armado
Cobertura: Casca de concreto armado com isolamento de poliuretano expandido
Laje: Nervurada de concreto armado tipo “caixão perdido
Alvenaria: Concreto celular-pumex e concreto armado
Arrimo: Pedra
Escada: Concreto armado
Divisórias: Madeira
Caixilhos: Aço galvanizado
Acabamentos:
Concreto aparente, concreto aparente pintado com epóxi incolor (piscina), látex branco e
epóxi branco
Pisos: Paralelepípedo, ladrilho hidráulico (liso e gretado) vermelho, carpete e epóxi vermelho
Áreas
Área do Terreno: 2.150,00 m
2
Área Ocupada: 467,00 m
2
Área Construída:
791,49 m
2
Área Útil: 391,69 m
2
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
57
CAPÍTULO 5:
FAZENDA PINDORAMA: CASA-SEDE E PAVILHÃO
(Cabreúva - SP, 1974 e 1984)
Fig. 5.1: Croqui de Marcos Acayaba. Pavilhão, a baixo, e sede acima. (fonte: arquivo pessoal
Marcos Acayaba
)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
58
5.1. O projeto
Casa-sede
A Fazenda Pindorama, localizada em Cabreúva, interior de São Paulo, possui
um conjunto de três edificações. A primeira foi o haras, construído em 1969 por
Acayaba em parceria com os arquitetos Augusto Malzoni e Cristina Pisa. Em
1974 construiu-se a casa-sede, em parceria também com Malzoni. Por último,
foi feito o Pavilhão, que foi destinado a abrigar a área de lazer coletivo da
fazenda.
Para o projeto da casa-sede adotou-se uma implantação térrea, sobre um
terreno praticamente plano, totalizando uma área construída de 767,0 m
2
.
O programa distribui-se em torno de dois pátios internos que conformam áreas
descobertas, mas protegidas dos ventos fortes e constantes do local
(ACAYABA, 2004).
Fig. 5.2: Casa-sede da fazenda. (fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
59
Os quartos localizam-se voltados para a fachada leste, para receber o sol da
manhã. Ao redor dos pátios são conformadas áreas cobertas que protegem a
circulação entre os ambientes.
Num bloco separado, próximo à cozinha, localizam-se as dependências de
empregados, a lavanderia e o depósito.
Ao centro, as áreas de uso coletivo: sala de estar, sala de jantar e terraços.
Fig. 5.3: Planta. (fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Fig. 5.4: Corte. (fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
60
Segundo Acayaba (2004), a cobertura da casa, que combina uma seqüência
de abóbadas e pequenas lajes planas nas laterais, adquiriu sua forma
definitiva quando, no desenvolvimento do projeto, Malzoni mostrou a ele uma
revista que continha uma obra de Louis Kahn, o Kimbell Art Museum, no Texas.
A partir de então, o detalhamento construtivo da casa-sede começou a ser
feito. Adotou-se um sistema parecido com o que Sérgio Ferro vinha
desenvolvendo, mas que utiliza blocos de concreto ao invés de tijolos. Veja
análise desse sistema no item 5.3.
Fig. 5.5: Kimbell Art Museum, de Louis
Kahn, principal referência.
(fonte: KIMBELL, 2007)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
61
5.2. A solução construtiva
Abóbadas de blocos de concreto
No período de construção da casa-sede da fazenda Pindorama diversos
arquitetos brasileiros estavam trabalhando com coberturas em abóbada.
Alguns, como Niemeyer, utilizando o concreto armado como material de
construção, e outros, como Sérgio Ferro e Carlos Milan, o tijolo cerâmico.
Para o projeto desta casa, foram utilizados blocos de concreto, tanto nas
abóbadas de cobertura quanto nas vedações.
O processo de construção das abóbadas, cuja largura é de 3,0 m, inicia-se
com a colocação de cambotas de madeira, a cada 1,50 m e travadas duas a
duas, sobre guias horizontais. Após serem niveladas por cunhas, nelas são
pregadas ripas a cada 20,0 cm no sentido longitudinal das abóbadas.
Começa-se então o assentamento dos blocos, de 20,0 x 20,0 x 7,0 cm, em
fiadas alternadas com lajotas de 2,0 cm de espessura, formando ‘canaletas’,
nas quais se coloca a armadura: ferros de 3/16”. Em seguida, se faz o
Fig. 5.6: Casa-sede fazenda Pindorama. Pátio central. (fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
62
capeamento de 3,5 cm de concreto, preenchendo as canaletas e dando o
acabamento nas abóbadas. Após a cura do concreto, as cambotas e guias
são retiradas e reaproveitadas na construção de outros trechos. Segundo
Acayaba (2004), foram cerca de 100 m
2
de fôrma para 800 m
2
de cobertura.
Fig. 5.7: Montagem da fôrma de
madeira.
(fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS,
2007
)
Fig. 5.8: Início da colocação dos blocos. (fonte:
MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
63
Entre as abóbadas, blocos-verga em ‘U’ e lajotas de 3,0 cm de espessura
formam um conjunto rígido, que vence os de até 6,0 m ou balanços de até
2,0 m de comprimento.
Fig. 5.9: Início da colocação da armadura. (fonte:
MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Fig. 5.10: Detalhe entre
abóbadas.
(fonte: MARCOS ACAYABA
ARQUITETOS, 2007)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
64
Fig. 5.11: Abóbadas são construídas em etapas seqüenciais em função umas das
outras. (fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
65
A disposição das abóbadas, enfileiradas em série, teoricamente, faria com
que elas ‘segurem’ umas às outras no sentido horizontal, controlando as forças
resultantes do seu peso próprio, mas ao fim da seqüência, a força de tração
resultaria muito forte, por isso, foram colocados tirantes de aço que tracionam
a base de cada uma delas em seu sentido transversal.
Essas forças ocorrem porque, segundo Lopes (2006), “[...] o arco pleno,
derivado de uma semicircunferência, promove uma dissimetria entre esforços
de tração e compressão [...]”.
Lopes (2006) ainda explica que os romanos, na construção de arcos e
abóbadas, acrescentavam massa e consequentemente peso, ao seu redor,
na intenção de conter os esforços que poderiam levar ao colapso da
estrutura.
Fig. 5.12: Tirantes de aço tracionam as bases da abóbadas.
(fo fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007 – editada pela autora)
Fig. 5.13: Esquema de forças em arcos/abóbadas e solução de arco
romano. (fonte: LOPES, 2006, p. 166)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
66
Fig. 5.15: Em alguns pontos, a cobertura apóia-se em
pilares de aço de perfil I.
(fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Fig. 5.14: Esquema de forças. Tirante impede flexão das
peças de base, evitando colapso da estrutura.
(fonte: LOPES, 2006, p. 166 – editada pela autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
67
5.3. O projeto
Pavilhão Pindorama
O projeto do pavilhão iniciou-se dez anos após a casa, em 1984. Segundo
Acayaba (2004), a idéia era utilizar uma linguagem lúdica, de formas simples e
cores primárias, que abrigasse todas as funções de acordo com suas
especificidades.
No desenvolvimento do projeto, Acayaba realizou estudos com um modelo
físico em escala. Reproduziu os volumes em 1:100, com cartolina e os pintou
com guache.
Cada um deles corresponderia a uma função: o da sala de snooker, amarelo,
com planta em super-elipse de retângulo e pé-direito alto, para manuseio dos
tacos; o da sala de deo e som, vermelho, com planta em elipse e pé-direito
mais baixo; o das saunas, azul, com planta retangular; e o da sala de
carteado, de elementos vazados em concreto aparente com vidros e planta
em forma de parábola.
Fig. 5.16: Pavilhão Pindorama. (fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
68
Ao centro, configura-se um pátio coberto por uma laje plana, que abriga
mesa de ping-pong e cesta de basquete e é protegido dos ventos do sul pelo
volume das saunas.
Fig. 5.17: Maquete em cartolina feita pelo arquiteto
para estudo de projeto.
(fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Fig. 5.18: Vista geral; face norte. (fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
69
Fig. 5.19: Planta baixa. (fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Fig. 5.20: Cortes. (fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
70
Acayaba (2004) nesse projeto faz referência a Le Cobusier, mais precisamente,
ao projeto do Convento em La Tourette, na utilização de volumes de formas
puras pintados nas cores primárias e dos cannons de lumière para iluminação
dos espaços fechados.
No entanto, diferentemente do convento, que é construído em concreto
armado, o Pavilhão adota um sistema misto. As paredes possuem enchimento
de tijolos cerâmicos com uma capa de concreto nas faces interna e externa.
Veja análise desse sistema no item 5.4.
Foram utilizados elementos vazados em concreto como parede estrutural. A
cada duas fiadas de elementos vazados foram colocadas duas bitolas de aço
de 3/16″, tanto na horizontal quanto na vertical, conferindo à parede curva a
capacidade de suportar o peso da laje de cobertura. “Uma parede estrutural
Fig. 5.21: Pátio central. Sala de carteado. Sauna. Sala de snooker. (fonte: MARCOS ACAYABA
ARQUITETOS, 2007
)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
71
e luminosa, como nas Usonian Automatic de Frank Lloyd Wright...” (ACAYABA,
2004, v.1, p. 62).
Fig. 5.22: Convento de La Tourette.Le
Corbusier. 1953. (fonte: ROSLYN, 2007)
Fig. 5.23: Turkel House. Usonian
Automatic. Frank Lloyd Wright. (fonte:
MAZZEI, 2005)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
72
5.4. A solução construtiva
Parede de tijolo e concreto
O Pavilhão Pindorama adota um sistema misto, com o intuito de diminuir o uso
do concreto e melhorar o isolamento térmico: as paredes possuem
enchimento de tijolos cerâmicos de 10 cm de largura, com 5 cm de concreto
nas faces interna e externa, numa espessura total de 20 cm.
Fig. 5.25: Croqui. Parede em perspectiva. (fonte:
utora
)
Fig. 5.24: Pavilhão Pindorama, face sul. (fonte: MARCOS ACAYABA ARQUITETOS, 2007)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
73
A cada metro foi executado um pilarete de 20 cm x 20 cm e a cada 1,5 m de
altura, uma cinta de amarração. “Uma espécie de nervurada de caixão
perdido na horizontal” (ACAYABA, 2004, v.1, p. 61).
A execução da capa de concreto foi realizada em etapas, com
reaproveitamento das fôrmas. Cada faixa de concretagem, para evitar o
escorrimento, era arrematada com sarrafos trapezoidais, criando vincos
horizontais na fachada que mostram as etapas de execução.
Segundo o arquiteto, essa solução foi adotada em função principalmente do
desempenho térmico da edificação.
Uma parede inteira de concreto não teria desempenho térmico bom.
inserindo no meio uma camada de tijolos furados, devido ao colchão de ar
criado em seu interior, sua inércia térmica aumentaria, conferindo à
edificação maior conforto.
Para comparar as duas possíveis soluções: ‘parede de concreto’ e ‘parede de
concreto e tijolos’, aplicou-se, com indicação da Prof. Dra. Rosana Maria
Caran, a norma NBR 15220, da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT), de Desempenho térmico de edificações, verificando a condutibilidade
térmica das duas composições de parede e comparando seus resultados.
Fig. 5.26: Croqui. Esquema da moldagem da parede em corte. (fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
74
CASO 1: Parede de concreto com tijolos.
a) Resistência térmica da parede de concreto com tijolos:
Seção A (concreto + argamassa + concreto)
2
Aa=(0,01x0,32)+(0,01x0,22)=0,0054m
argamassa
2
concreto concreto
A
concreto argamassa concreto
e
e e
0,05 0,10 0,05
R = + + = + + = 0,1441(m k)/w
λ λ λ 1,75 1,15 1,75
Seção B (concreto + tijolo + concreto)
2
Ab = 0,01x0,32 = 0,0032m
2
concreto cerâmica concreto
concreto cerâmica cerâmica
e e e
0,05 0,10 0,05
Rb = + + = + + = 0,16825(m k)/w
λ λ λ 1,75 0,90 1,75
Fig. 5.27: Vista em perspectiva parede de concreto e tijolos. (fonte: ABNT, 2003 – editada pela autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
75
Seção C (concreto + tijolo + câmara de ar + tijolo + câmara de ar + tijolo +
concreto)
2
c
A = 0,035x0,32 = 0,0112m
concreto cerâmica cerâmica cerâmica concreto
c ar ar
concreto concreto cerâmica cerâmica concreto
e e e e e
R = + +R + +R + +
λ λ λ λ λ
2
c
0,05 0,015 0,015 0,015 0,05
R = + +0,16+ +0,16+ + = 0,4557(m k)/w
1,75 0,90 0,90 0,90 1,75
Resistência total da parede
a b c
a b c
a b c
A +4xA + 3xA
0,0054+4x0,0032+3x0,012
Rt = =
A 4xA 3xA 0,0054 4x0,0032 3x0,0112
+ +
+ +
0,1441 0,16825 0,4557
R R R
2
t
R = 0,2766(m k)/w
b) Resistência térmica total:
2
t si t sc
R = R +R +R = 0,2502+02766+0,04 = 0,5668(m k)/w
c) Transmitância térmica da parede:
2
t
1 1
U= = =1,7643w/(m k)
R 05668
Onde:
A – É a área de cada seção (m
2
).
R
a,b,c
- São as resistências térmicas de cada seção. Quociente da diferença de temperatura verificada
entre as superfícies de um elemento ou componente construtivo pela densidade de fluxo de calor, em
regime estacionário [(m
2
.K)/W].
R
si
- É a resistência superficial interna. Resistência da camada de ar adjacente à superfície interna de um
componente que transfere calor por radiação e/ou convecção [(m
2
.K)/W].
R
se
- É a resistência superficial externa. Resistência da camada de ar adjacente à superfície externa de
um componente que transfere calor por radiação e/ou convecção [(m
2
.K)/W].
R
t
- É a resistência térmica total do elemento (parede). Somatório do conjunto de resistências térmicas
correspondentes às camadas de um elemento ou componente, incluindo resistências superficiais
interna e externa [(m
2
.K)/W].
e - É a espessura de cada camada (m).
λ - São os valores de condutividade térmica de cada material. Propriedade física de um material
homogêneo e isótropo, no qual se verifica um fluxo de calor constante, com densidade de 1 W/m
2
,
quando submetido a um gradiente de temperatura uniforme de 1 Kelvin por metro [W/(m.K)].
U - É a transmitância térmica, definida pelo inverso da resistência térmica total [W/(m
2
.K)].
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
76
CASO 2: Parede de concreto.
a) Resistência térmica da parede de concreto com tijolos:
2
concreto
t
concreto
e
0,20
R = = = 0,1143(m k)/w
λ 1,75
b) Resistência térmica total:
2
t si t se
R =R +R +R = 0,131+0,1143+0,04 =,02843(m k)/w
c) Transmitância térmica da parede:
= = =
2
1 1
3,5174 /( )
0,2843
t
U w m k
R
Fig. 5.28: Vista em perspectiva parede de concreto. (fonte: ABNT, 2003 – editada pela autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
77
A resistência térmica total (R
T
) é a somatória do conjunto de resistências
térmicas correspondentes às camadas de um elemento ou componente,
incluindo as resistências superficiais interna e externa (ABNT, 2003).
A transmitância térmica ou coeficiente global de transferência de calor (U) é o
inverso da resistência térmica total e indica a facilidade de um material ou
uma composição de materiais transferir calor, isto é, quanto maior for o valor
da transmitância, mais calor o material ou a composição será capaz de
transmitir (ABNT, 2003).
De acordo com a norma, a cidade de Cabreúva, no interior do estado de São
Paulo, localiza-se na zona bioclimática número 3, indicando que a
transmitância térmica das vedações verticais deve ser U ≤ 3,60 W/m
2
.K.
Apesar de ambas as soluções estarem dentro das indicações da norma, a
parede sólida de concreto apresenta o dobro da transmitância térmica em
relação à com enchimento de tijolos, estando praticamente no limite (U = 3,52
W/m
2
.K) do valor que a norma recomenda.
A parede de concreto com enchimento em tijolos se apresenta mais
vantajosa, pois apresenta uma transmitância térmica muito menor (U = 1,76
W/m
2
.K), possuindo portanto melhor isolamento térmico e não ficando tão
vulnerável às mudanças de temperatura como calor ou frio intenso.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
78
5.5. Considerações sobre os projetos
Na época da construção da casa-sede, a Construtora Cenpla, responsável
pela obra, já vinha trabalhando com coberturas em abóbadas, utilizando
variadas técnicas construtivas. Essa mesma construtora também foi
responsável pela construção da residência Milan, de Acayaba, em concreto
armado, e pela residência em Cotia, de Sérgio Ferro, em tijolos furados, esta,
realizada com um sistema muito semelhante de fôrmas em cambotas
reutilizáveis.
O projeto da casa-sede veio num momento posterior à experiência da
residência Milan, cujo processo construtivo demandou bastante esforço e altos
custos, na medida em que se utilizou um sistema construtivo um tanto quanto
sofisticado. Acayaba, na casa-sede, adota sistemas cujas técnicas
construtivas dependem mais da mão de obra, utilizando materiais mais
acessíveis, mesmo que combinados com o concreto. Provavelmente isso
ocorreu por influência da produção e do discurso de Sérgio Ferro, que naquele
momento fazia fortes críticas às “explorações de concepção e produção”
advindas da tecnologia do concreto armado.
De qualquer forma, tanto no projeto da casa, quanto no do pavilhão, parece-
me que o estudo da forma é que determinou o partido arquitetônico, e que as
questões construtivas foram posteriormente definidas.
No entanto, são projetos que buscaram desenvolver soluções técnicas
diferenciadas, mesmo que com referências formais diretas, e tentaram
explorar as potencialidades dos materiais e das técnicas utilizadas, no sentido
de que se tornassem adequados às necessidades estabelecidas pelo
programa e pelo meio em que a obra se insere.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
79
5.6. Ficha técnica – Casa-sede
Dados gerais
Local: Bairro do Jacaré – Cabreúva - SP
Ano do Projeto: 1974
Período da Construção: 1975
Equipe de Projeto
Arq. Marcos Acayaba
Arq. Augusto Lívio Malzoni
Colaboradores
Projeto de Fundações: Engesolos
Calculo Estrutural: Eng. Ugo Tedeschi e Eng. Yukio Ogata
Projeto de Instalações: Eng. Eurico Freitas Marques
Projeto de Paisagismo: Plínio Toledo Piza
Construção: Cenpla
Programa
Sala de estar
Sala de jantar
6 Dormitórios
3 Sanitários
Cozinha
Lavanderia
3 Dormitórios de empregada
Depósito
Garagem
Terraço coberto
Piscina
Materiais
Estrutura: Alvenaria armada e pilares de aço
Cobertura: Abóbadas armadas de blocos de concreto e laje de concreto
Alvenaria: Blocos de concreto
Caixilhos: Ferro
Acabamentos: Bloco aparente, látex branco
Pisos: Ladrilho hidráulico (liso e gretado) vermelho, carpete e epóxi vermelho
Áreas
Área Construída:
767,00 m
2
Área Útil: 373,00 m
2
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 5
Fazenda Pindorama: Casa-sede e Pavilhão
80
5.7. Ficha técnica – Pavilhão Pindorama
Dados gerais
Local: Bairro do Jacaré – Cabreúva - SP
Ano do Projeto: 1984
Período da Construção: 1984 - 1985
Equipe de Projeto
Arq. Marcos Acayaba
Colaboradores
Calculo Estrutural: Eng. Antônio J. Martins / Aiello E. A. Neto
Projeto de Instalações: Consecta
Projeto de Paisagismo: Marlene Milan Acayaba
Construção: Nelson Vittorino
Programa
Sala de jogos / carteado
Sala de snooker
Sala de vídeo / som
Sauna seca
Sauna úmida
Vestiário / Sala de repouso
Pátio coberto
Materiais
Estrutura: Concreto armado
Cobertura: Laje de concreto armado impermeabilizada
Laje: Nervurada de concreto armado tipo “caixão perdido
Alvenaria: Concreto armado com enchimento de tijolos cerâmicos
Caixilhos: Ferro
Acabamentos: Pintura sobre concreto aparente
Pisos: Cimentado, carpete e epóxi
Áreas
Área Construída:
155,00 m
2
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
81
CAPÍTULO 6:
RESIDÊNCIA HÉLIO OLGA (São Paulo - SP, 1987-1990)
Fig. 6.1: Residência Hélio Olga. Vista da base do terreno. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
82
6.1. O projeto
Esse projeto iniciou-se com um desafio: o terreno tinha mais de 100% de
declividade, o que traria sério risco de erosões e impossibilitaria a implantação
de um canteiro de obras tradicional. Por isso, o engenheiro Hélio Olga de
Souza Júnior, proprietário do terreno e fabricante de estruturas em madeira,
previa a adoção de um sistema pré-fabricado em madeira, por permitir uma
boa agilidade durante a obra, além de gerar pouco entulho. Mas segundo
Hélio, ele não sabia como implantar e desenvolver o programa de uma casa
naquelas condições (informação verbal)
1
.
Foi então que decidiu procurar Acayaba, que desenvolveu um modo de
implantação perpendicular ao terreno, aproveitando a insolação leste / oeste,
que outro desafio era o fato do terreno ser voltado para o sul e receber a
intensa umidade que vem da represa de Guarapiranga.
1
Informação cedida por Hélio Olga em visita a sua residência.
Fig. 6.2: Vista lateral.
(fonte: arquivo
pessoal Marcos Acayaba
)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
83
Fig. 6.3: Implantação. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
84
Fig. 6.4: Planta do nível de entrada, sala e cozinha (quarto pavimento). (fonte: arquivo
pessoal Marcos Acayaba
)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
85
Fig. 6.5: Planta do nível dos quartos (terceiro pavimento). (fonte: arquivo pessoal Marcos
Acayaba
)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
86
Fig. 6.6: Plantas dos níveis inferiores (segundo e primeiro pavimento,
respectivamente
).
(fonte:
arquivo
pessoal Marcos Acayaba
)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
87
Adotou-se um sistema modular de 3,30 x 3,30 x 3,30 m, em que os módulos se
articulam em quatro pavimentos, invertendo a organização “padrão” da
maioria dos projetos de residência. No quarto piso, por onde se o acesso,
localizam-se a sala e a cozinha. No terceiro, três dormitórios, no segundo, um
dormitório de hóspedes e no primeiro, uma sala de brinquedos.
A casa é elevada e apóia-se em somente seis pontos, dispensando grandes
cortes, aterramentos e muros de arrimo. Intervém o mínimo possível no terreno,
cujo subsolo é cheio de entulho. Foram utilizados sistemas leves de
vedações e cobertura para minimizar o peso total da construção.
Todas as peças são medidas e cortadas ainda na serraria, onde se
concentram os maiores esforços de construção, já que toda a estrutura chega
à obra pré-montada. A montagem final em canteiro foi então realizada em
apenas 45 dias.
Fig. 6.7: Corte. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
88
O resultado é uma arquitetura inovadora, de forte expressão plástica.
Segundo Hugo Segawa, “[...] arquitetura da lógica e da beleza, onde nada
sobra e nada falta” (SEGAWA, 1996, p.28).
Esse projeto foi o primeiro de uma série de experiências em áreas de grande
declividade dando início ao desenvolvimento de diversos sistemas pré-
fabricadas em madeira, num processo de experimentação técnica e formal,
em parceria com o engenheiro Hélio Olga.
Fig. 6.8: Vista deck da piscina. (fonte: arquivo
pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 6.9: Vistas gerais. (fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
89
Fig. 6.10: Vistas internas. Sala. (fonte: autora)
Fig. 6.12: Sanitário. Acabamento em fiber-glass (plástico reforçado com fibra de
vidro). Shaft em madeira para passagem de instalações hidráulicas. (fonte: autora)
Fig. 6.11: Sala de brinquedos e cozinha. (fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
90
Fig. 6.13: Escada em madeira e
tirantes de aço. (fonte: autora)
Fig. 6.14: Deck de acesso à
residência. (fonte: autora)
Fig. 6.15: Guarda-corpo em vidro
e madeira. (fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
91
6.2. A solução construtiva:
Estrutura em madeira pré-fabricada em terreno de alta declividade
O primeiro contato de Acayaba com as estruturas em madeira se deu em
1986, no projeto da residência Oscar Teiman, no Guarujá. As soluções formais e
técnicas utilizadas partiram de uma referência à arquitetura japonesa.
Na ocasião, estabeleceu-se o primeiro contato entre Acayaba e o engenheiro
Hélio Olga que, no ano seguinte, procurou o arquiteto para realizar o projeto
de sua casa.
De acordo com Hélio Olga (SOUZA JR., 2007a), os encaixes e
dimensionamentos finais da estrutura ficaram a cargo dele, mas todo o arranjo
estrutural e o pré-dimensionamento foram definidos por Acayaba nos
primeiros desenhos.
Fig. 6.16: Residência Oscar Teiman. (fonte: arquivo
pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 6.17: Croquis de Marcos Acayaba. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
92
O desenvolvimento do partido estrutural ocorreu concomitantemente à
definição do programa e da implantação, seguindo uma concepção modular
de projeto, na qual o programa se distribui por 20 módulos cúbicos de 3,30m x
3,30m x 3,30m escalonados e agrupados dois a dois.
A medida base da modulação é de 1,10m, devido à largura das placas de
utilizadas como vedação (painel wall, ver p. 100), evitando cortes e
desperdício de material. Em cada módulo é previsto em pé-direito de 2,50m.
Na parte superior ficam 0,80m para passagem de instalações.
Fig. 6.18: Esquema estrutural desenhado por Acayaba. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 6.19: Croqui. Modulo básico. (fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
93
Fig. 6.20: Perspectivas do sistema estrutural. Residência e escritório. (fonte: arquivo pessoal Hélio
Olga)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
94
Seguindo a medida base de 1,10 m, pode-se trabalhar na composição de
módulos maiores, como no caso do escritório, que Hélio construiu
posteriormente ao lado de sua casa, seguindo modulação de 5,50 m x 5,50 m
x 3,30 m.
Fig. 6.21: Escritório. Mesmo sistema estrutural, mas seguindo modulação de 5,50m x 5,50m x
3,30m. (fonte: autora)
Fig. 6.22: Interior do edifício de
escritório. (fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
95
Os contraventamentos são compostos por vergalhões de aço galvanizado
fixados por tarugos, também em aço galvanizados, rosqueados à estrutura de
madeira. Eles impedem que o edifício sofra deformações nos sentidos
horizontal e vertical da estrutura, como mostra a figura a seguir.
Fig. 6.24: Contraventamento vertical na fachada e horizontal fixado ao estrutural abaixo do
piso. (fonte: autora)
Fig. 6.23: Movimento de deformação em corte e planta. (fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
96
Fig. 6.25: estrutural. Encontro: fundação, vigas e pilaretes de madeira e vergalhões de
contraventamento. Tarugos de aço resistem melhor às forças de compressão muito intensas
perpendiculares ao sentido das fibras. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba editada pela
autora)
Fig. 6.26: estrutural. Tarugos de aço fazem a transição entre a fundação e a estrutura de
madeira.
(fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba – editada pela autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
97
Fig. 6.27: Nó estrutural. Encontro de vigas, pilaretes e vergalhões em quina.
(fonte:
u
tora)
Fig. 6.28: estrutural. Vergalhões de contaventamento são fixados ao tarugo de aço. (fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba – editada pela autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
98
Fig. 6.29: Nó estrutural. Encontro de vigas, pilaretes e vergalhões. (fonte: autora)
Fig. 6.30: estrutural. Tarugo de aço resiste melhor às forças de compressão perpendiculares
ao sentido das fibras e às forças de tração dos vergalhões de contraventamento.
(fonte: arquivo
pessoal Marcos Acayaba – editada pela autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
99
A madeira utilizada na estrutura foi o Angelim Vermelho, uma madeira dura,
de cor castanha avermelhada clara. Essa madeira possui aspecto fibroso e se
apresenta resistente ao ataque de fungos e cupins (NOGUEIRA; NOGUEIRA,
2001).
O piso (assoalho de madeira sucupira sobre vigamento em angelim) funciona
também como travamento horizontal da estrutura, transferindo as cargas dos
pisos superiores para as vigas secundárias, evitando deformações de torção
no conjunto, associado a vergalhões de aço tracionados.
As vedações são feitas em painéis compostos por sarrafos entre lâminas de
madeira colados com resina fenólica, e chapas lisas cimentícias (cimento,
celulose e fio sintético) nas faces externas. Esses painéis são popularmente
Fig. 6.31: Vista da parte inferior do balanço. Assoalho e vergalhões de travamento do pavimento
dos dormitórios. Fechamento do shaft horizontal para passagem de instalações em ripas de
madeira permite ventilação entre piso e forro. (fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
100
conhecidos como painel wall e fixados através de perfis metálicos parafusados
na estrutura.
O tipo de tecnologia utilizada nesse projeto prevê o início da construção”
longe do local da obra. Todas as peças são cortadas na serraria da
construtora Ita, chegando ao local da obra prontas para serem montadas:
Quando baixam do escritório as fichas de serviço de um novo
projeto, e as peças de jatobá e caramuru são transportadas
para o galpão central, tem início a transformação. Primeiro, elas
passam pela inspeção do engenheiro responsável que designa
aos pilares, vigas e barrotes o papel preciso que cada um irá
desempenhar. Em seguida, principiam as operações de
aparelhamento (na desempenadeira e desengrossadeira), corte
(na destopadeira), marcação (que, combinando a mecânica
com o porrete e o formão, faz os furos e os rebaixos para o
encaixe perfeito das ferragens), coloração de ferragens e
proteção com seladora. Ao final dessas operações, que
conforme as dimensões do projeto podem levar alguns dias ou
várias semanas, cada peça de madeira está pronta para ser
numerada, transportada até o local da obra, montada e então
cumprir, de uma vez por todas, a sua exata função construtiva”
(MARTINS, 2005, p.15).
O dimensionamento das peças é pensado levando em consideração
transporte e montagem, por isso o arquiteto precisa ter muita atenção no
planejamento dos espaços e dimensionamento dos vãos. A preocupação
com as questões técnicas e tecnológicas deve, portanto, estar presente desde
o início da concepção do projeto arquitetônico.
Segundo
entrevista concedida por Hélio Olga (SOUZA JR., 2007a), os projetistas
de instalações e projetos complementares em geral entram desde o começo
Fig. 6.32:
Painel Wall
.
(fonte: PAINEL, 2007
editada pela autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
101
do desenvolvimento do projeto. Assim que a estrutura atende a arquitetura, o
projeto já é distribuído entre todos os outros projetistas, como de elétrica,
hidráulica, concreto (fundações), ar condicionado, paisagismo etc.
Todo projeto, tanto de arquitetura quanto de projetos
complementares, é amarrado no de estruturas de madeira, pelo
menos deveria ser, porque a estrutura um rigor muito grande
em termos de desenho [...] Quando você tiver uma modulação
a cada cinqüenta, na hora de você botar uma luminária,
alguma coisa, você vai estar sujeito a essa modulação (SOUZA
JR., 2007a).
A interdisciplinaridade mostra-se muito presente. Os projetos de arquitetura,
estrutura, elétrica e hidráulica têm que estar em diálogo constante entre si, e o
desenvolvimento de cada um é intrinsecamente atrelado aos outros, exigindo
dos profissionais um conhecimento básico dos fatores implicantes no seu
desenvolvimento como, por exemplo, a modulação.
A utilização racional da madeira e seus produtos derivados na
construção torna necessária a adoção de critérios dimensionais
que façam seu uso eficiente desde as etapas de extração e
transformação para, por fim, facilitar o projeto, a fabricação e a
construção. Isso se alcança com o Sistema de Coordenação
Modular que tem como objetivo relacionar as dimensões dos
ambientes arquitetônicos, reduzir o desperdício, aumentar o
rendimento da mão de obra e diminuir o tempo de construção
(JARA; MENDOZA, 1984, p.4-13, grifo nosso)
A coordenação modular exige do arquiteto uma atenção especial às
questões técnicas ligadas à obra. É uma “[...] técnica que permite definir e
racionalizar dimensões de materiais e componentes em projeto e obra, através
de medidas modulares organizadas por meio de um reticulado espacial de
referência” (LUCINI, 2001, p.23).
O sistema modular pré-fabricado possibilita uma produção seriada,
adequando o sistema a outras necessidades de implantação. Segundo Jara e
Mendoza (1984), esse sistema, quando utilizado em casas projetadas de forma
individual, não costuma ser econômico devido à grande quantidade de
detalhes necessários para especificar cortes e encaixes de peças e à
dificuldade para não confundir as peças antes e durante a montagem.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
102
Nesse caso, pelo fato de Hélio ser ao mesmo tempo proprietário, projetista e
construtor, além de resultar econômica, essa solução desenvolveu-se como
uma atividade de investigação e pesquisa.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
103
6.3. Considerações sobre o projeto
Segundo Olga, o terreno foi adquirido por um valor muito baixo, pois o
proprietário anterior havia começado a construir, utilizando um sistema
convencional, mas com todas as dificuldades ocorridas durante o canteiro, foi
desencorajado a seguir com a obra. Essa situação soou como um desafio, pois
ele, como construtor, intuía que o sistema pré-fabricado em madeira
poderia ser uma boa solução em relação à dinâmica de canteiro (informação
verbal)
2
.
A partir dessas premissas é que Acayaba passou a fazer parte do
desenvolvimento da solução. Era preciso criar um sistema que se adequasse
àquelas condições que o terreno impunha e que, ao mesmo, cumprisse com
as definições do programa e as condições de conforto térmico.
Em função dessas necessidades, o arquiteto demonstrou um bom domínio
técnico ao desenvolver todo o esquema espacial e estrutural da casa,
encontrando um consenso entre programa e estrutura, trazendo para Hélio,
questões de dimensionamento e montagem das peças.
Após a construção dessa casa, o sistema, que apresenta potencialidades
para a produção seriada, foi novamente utilizado até o momento, somente na
construção do escritório de Hélio (ao lado de sua casa), mas tem sido
referência para o desenvolvimento de novas soluções construtivas em
madeira desenvolvidas por Acayaba e Hélio, como as casas de estrutura em
madeira pré-fabricada, no sistema de base triangular, analisadas no capítulo
seguinte.
2
Informação dada por Olga em palestra ministrada em 2003, na Escola de Engenharia de São
Carlos da Universidade de São Paulo.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 6
Residência Hélio Olga
104
6.4. Ficha técnica – Residência Hélio Olga
Dados gerais
Local: Rua Pio IX – Jardim Vitória Régia – São Paulo-SP
Ano do Projeto: 1987
Período da Construção: 1987-1990
Equipe de Projeto
Arq. Marcos Acayaba
Arq. Mauro Halluli
Est. Edilson Hiroyama
Est. Tânia Shirakawa
Colaboradores
Projeto de Fundações: Zaclis Salvoni Engenheiros (concreto)
Calculo Estrutural: Zaclis Salvoni Engenheiros (concreto) / Eng. Hélio Olga de Souza Jr. (madeira)
Projeto de Instalações: Eng. Hélio Olga de Souza Jr.
Construção: Eng. Hélio Olga de Souza Jr.
Programa
Sala de estar Sala de jantar
Sala das crianças Lavabo
3 Dormitórios 2 Sanitários
Dormitório de Hóspedes Sanitário de hóspedes
Cozinha Lavanderia
Sanitário de empregada Oficina
Garagem Piscina
Materiais
Estrutura: Madeira - Angelim
Cobertura: Telhas trapezoidais de alumínio
Laje: Concreto, no piso da garagem
Escada: Madeira e tirantes de aço
Divisórias: Painel Wall
Caixilhos: Madeira
Acabamentos: Pintura acrílica
Pisos: Assoalhos de madeira
Áreas
Área do Terreno: 900,00 m
2
Área Ocupada: 171,94 m
2
Área Construída: 220,25 m
2
Área Útil: 200,50 m
2
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
105
CAPÍTULO 7:
RESIDÊNCIA BAETA (Guarujá - SP, 1993-1994)
RESIDÊNCIA MARCOS ACAYABA (Guarujá - SP, 1996-1997)
Nota: Nesse capítulo, alguns detalhes construtivos são específicos de cada residência. Para evitar
dificuldade de entendimento, eles são descritos no item específico “O projeto”, do qual fazem parte.
Fig. 7.1: Residência Baeta.
(fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 7.2: Residência Marcos Acayaba.
(fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
106
7.1. O projeto
Residência Baeta
No projeto da residência Baeta, realizado também em parceria com o
engenheiro lio Olga, Acayaba adota uma postura preocupada com
questões ambientais e ecológicas, recorrentes principalmente a partir da
década de 80. O respeito pelo contexto e pelo meio físico determina todo o
projeto da casa, desde o modo de implantação até a tecnologia utilizada.
Devido à localização em terreno acidentado e em meio à mata nativa, a
casa mantém-se elevada em relação ao solo, permitindo que a vegetação
local fosse preservada e que a água da chuva continuasse escoando
normalmente.
Fig. 7.3: Residência Baeta. Escada do fundo. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
107
Esse terreno, assim como na residência Hélio Olga, também não permitia um
canteiro de obras convencional, devido à sua declividade acentuada e à
mata, então se desenvolveu um sistema construtivo pré-fabricado em madeira
que permitiu que a casa fosse erguida em 40 dias, por apenas três homens.
As peças foram todas produzidas na serraria e montadas no canteiro e, por
serem todas de pequenas dimensões, o houve a necessidade de se utilizar
equipamentos pesados.
A estrutura modular obedece a princípios de triangulação, dispensando o uso
de travamentos horizontais e permitindo que todos os ambientes tenham vista
para o mar, além de facilitar a implantação em meio às arvores existentes
no local.
Os dois pavimentos da casa se apóiam nas mãos francesas que saem do total
de seis pilares de apoio, os quais transmitem as cargas à fundação de
tubulões.
Fig. 7.5: Mãos francesas.
(fonte:
utora)
Fig. 7.4: Vista da trilha de acesso à residência.
(fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
108
No centro da casa abre-se um pátio hexagonal, preservando duas árvores
existentes no terreno, facilitando a ventilação e a iluminação natural. Serve
também como travamento vertical do edifício, resistindo aos esforços
horizontais e à ação dos ventos (os seis planos verticais que compõem o pátio
são atirantados).
Fig. 7.6: Pátio central. Travamento vertical, ventilação e iluminação. (fonte: arquivo pessoal Marcos
Acayaba)
Fig. 7.7: Implantação. (fonte:
arquivo pessoal Marcos
Acayaba)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
109
Fig. 7.8: Planta nível inferior. Nível de
acesso. (fonte: arquivo pessoal Marcos
Acayaba)
Fig. 7.9: Planta nível superior. Nível dos
dormitórios. (fonte: arquivo pessoal Marcos
Acayaba)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
110
Para a vedação foram utilizados painéis industrializados, de 40 mm de
espessura, compostos por sarrafos entre lâminas de madeira e chapas
cimentícias, conhecidas como painéis wall (Ver capítulo 6, p. 100).
Na cobertura, foi empregada telha trapezoidal de alumínio que, assim como o
material utilizado nas vedações, é uma solução leve, que diminui o peso
próprio do edifício, aliviando a carga sobre a estrutura.
Nos sanitários, o piso é elevado e revestido por um tipo de plástico reforçado
com fibra de vidro (fiber-glass). Esse mesmo material também reveste as
paredes dos boxes, criando uma grossa camada de proteção contra a
umidade.
Fig. 7.10: Corte. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
111
No início da concepção do projeto, os caixilhos seriam feitos de maneira
convencional, com trilhos e folhas emolduradas em madeira, mas no
desenvolvimento do projeto, percebeu-se, segundo Acayaba (2004), que essa
solução aumentaria muito o custo da obra (superior a 25% do valor total da
estrutura), e sua execução seria trabalhosa e demorada.
Mesmo já estando com todos os desenhos de caixilharia prontos e detalhados,
o arquiteto decidiu adotar uma solução mais simples e econômica, que
facilitou a execução e também a manutenção do sistema de aberturas.
Fig. 7.11: Detalhe em corte do revestimento dos sanitários e foto do sanitário do casal, aberto
para o quarto. (fonte: à esquerda, arquivo pessoal Marcos Acayaba e à direita, autora)
Fig. 7.12: Detalhe caixilho. (fonte: autora)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
112
Algumas folhas são fixas, outras de correr, e constituem-se de lâminas de vidro
temperado que correm cruas (não são montadas em esquadrias), por entre
baguetes fixos ao peitoril de madeira, podendo, ou não, contar com telas de
proteção contra insetos.
Apesar de um pouco pesada para sua manipulação, essas soluções se
mostraram realmente eficazes como sistema de vedação.
Numa simplificação funcional do objeto ‘esquadria’, obteve-se o resultado
prático esperado. Mantiveram-se da mesma forma todas as suas funções de
vedação, ventilação e iluminação, além de ter seu custo reduzido.
Fig. 7.13: Detalhamento do caixilho em corte e planta. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba
editada pela autora)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
113
Nesse projeto, mostra-se determinante a experiência adquirida na residência
Hélio Olga, no âmbito do desenvolvimento do sistema construtivo. Uma das
premissas que o diferenciava do projeto de Hélio era a existência de muitas
árvores nativas no local de implantação. A idéia era não derrubar nenhuma
delas, o que exigia uma implantação mais flexível possível. Por isso, decidiu-se
adotar um sistema de triangulação, que não facilitava a implantação, mas
também se resolvia melhor na questão do travamento horizontal e do
esquadrejamento no momento da construção.
Essa nova solução estrutural conferiu ao edifício uma linguagem muito
particular. A partir de uma solução técnica, determinada pelas necessidades
físicas do local, criou-se uma linguagem arquitetônica diferenciada, que
define o edifício construtivamente e espacialmente, na medida em que o
insere ao meio natural, propiciando a configuração de espaços integrados à
natureza e com vistas para o mar, como desejavam os clientes.
Fig. 7.14: Pelo vão central cercado de vidro é possível ver o interior da casa como
um todo. A casa é cercada pela paisagem. (fonte: autora)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
114
7.2. O projeto
Residência Marcos Acayaba
Essa casa surgiu da experiência adquirida no desenvolvimento ao longo de
dez anos, de casas implantadas em terrenos de alta declividade, com
vegetação a ser preservada e umidade intensa. A primeira delas foi a
residência Hélio Olga, seguida de outras como, as residências Baeta e
Valentim, essa também em modulação triangular.
Trata-se de um projeto de grande liberdade formal e construtiva, pois nesse
caso o usuário é a própria família do arquiteto: o casal e duas filhas, na época,
uma de 18 e uma de 23 anos, além de eventuais convidados.
Fig. 7.15: Residência Marcos Acayaba. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
115
Segundo Acayaba (2004), a casa deveria ter manutenção simples, que
dispensasse empregados fixos e acompanhamento muito constante. Os
ambientes deveriam ser amplos e arejados, privilegiando ao máximo a vista
para o mar e a integração com a natureza.
Nessa obra, as figuras do usuário, do arquiteto e do cliente se fundem numa
pessoa. Quando se projeta algo para uso próprio, há maior liberdade no
planejamento do programa, nos prazos e na administração financeira. Isso
permite uma maior liberdade de experimentação no desenvolvimento do
projeto e das técnicas de construção.
Acayaba afirma que o programa de uma casa, pela sua simplicidade,
proporciona ao arquiteto certa liberdade ao ato de projetar. A familiaridade
com os ambientes e com as necessidades básicas do espaço de morar
propicia maior desenvoltura ao definir suas formas e dimensões (informação
verbal)
1
.
Para desenvolver esse projeto, um dos principais fatores determinantes foi o
local de implantação. O terreno localiza-se na Serra do Guararú, no Guarujá,
em meio a uma encosta com mata nativa a 150 metros do mar e a 80 metros
de altitude. O clima é quente e úmido, típico das regiões litorâneas brasileiras,
e caracteriza a vegetação, predominante de mata atlântica.
Os espaços distribuem-se em quatro pavimentos. O acesso se pelo terceiro,
através de uma passarela (posteriormente coberta) no nível da sala e da
cozinha, onde também três terraços em balanço. Abaixo é o vel das
suítes e a cima o terraço, que conta com uma área de churrasqueira e uma
bela vista do mar. O pavimento inferior, abaixo das suítes, abriga dormitório,
lavanderia e sanitário de empregada.
A escada caracol, que interliga os quatro pavimentos, é sustentada por um
pilar central de madeira e por cabos de aço, que servem ao mesmo tempo
como guarda corpo.
1
Informação dada por Acayaba em visita a seu estúdio de criação.
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
116
Fig. 7.16: Inserção em meio à vegetação nativa; cozinha acima e dormitório abaixo. Nova
passarela de acesso, coberta. (fonte: autora)
Fig. 7.17: Escada em madeira e cabos de aço e passarela coberta. (fonte: autora)
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Capítulo 7
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117
Fig. 7.18: Implantação. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
118
Fig. 7.20: Planta sala/cozinha. Pavimento de acesso à residência. (fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 7.19: Planta cobertura. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
119
Fig. 7.21: Planta dormitórios. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 7.22: Planta serviços. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
120
Fig. 7.24: Corte AA. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
121
Essa casa adota o mesmo sistema construtivo da Residência Baeta, o sistema
modular de base triangulada, mas é apoiada somente em três pontos, (A
Baeta apóia-se em seis). Foi erguida em 40 dias por quatro homens.
Fig. 7.25: Moldagem dos tubulões de concreto e início da montagem da
estrutura.
(fonte:
arquivo
pessoal Marcos Acayaba
)
Fig. 7.26: Montagem da estrutura. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 7.27: Colocação das placas pré-moldadas na laje do terraço. (fonte: arquivo
pessoal Marcos Acayaba)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
122
As vedações são compostas por vidro e painéis industrializados de madeira,
como nas residências Baeta e Hélio Olga, um material muito adequado a esse
tipo de sistema construtivo, por ser leve e não sobrecarregar a estrutura.
As instalações hidráulicas são praticamente todas aparentes. Somente fiações
elétricas correm entre piso e forro.
Assim como na Residência Baeta, a solução adotada para os caixilhos é muito
simples. Lâminas de vidros temperados correm entre baguetes de madeira
fixos ao peitoril. Telas de proteção contra insetos correm pelo lado externo.
Fig. 7.28: Instalações
hidráulicas aparentes
nos sanitários. (fonte:
autora)
Fig. 7.29: Instalações elétricas entre piso e forro, tomadas de chão. Tubulações de esgoto abaixo
do primeiro piso (serviços). (fonte: autora)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
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Fig. 7.30: Caixilho. Detalhe do peitoril e da guia superior. (fonte: autora)
Fig. 7.31: Detalhe parede em corte - ampliação. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba
editada pela autora)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
124
Outra solução empregada associadamente a esse sistema estrutural que se
destaca, é o tipo de laje utilizada como piso do terraço.
Entre pisos, utilizou-se a mesma dos outros projetos: argamassa e assoalho
sobre barrotes com forro de madeira, mas na laje de piso do terraço, adotou-
se uma laje composta por camadas: placas de concreto adicionado de
cinasita (argila expandida), argamassa adicionada de vermiculita, manta
termoplástica de impermeabilização e seixos rolados ou argila expandida
(seixos na laje de piso e argila expandida na de cobertura).
A cinasita, ou argila expandida, é um agregado leve que se apresenta em
forma de bolinhas de cerâmica leves e arredondadas, com uma estrutura
interna formada por uma espuma cerâmica com microporos e com uma
casca rígida, resistente e impermeável (VERMICULITA, 2007). É utilizada como
agregado do concreto, reduzindo seu peso e melhorando seu desempenho
no conforto térmico e acústico.
A vermiculita é
um mineral semelhante à mica, formado essencialmente por
silicatos hidratados de alumínio e magnésio. Quando submetida a um
aquecimento adequado, a água contida entre as suas milhares de lâminas se
transforma em vapor fazendo com que as partículas explodam e se
Fig. 7.32: Detalhe da laje do terraço de
cobertura da residência Marcos Acayaba.
Corte. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba
editada pela autora
)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
125
transformem em flocos sanfonados. Cada floco expandido aprisiona consigo
células de ar inerte, o que confere ao material excepcional capacidade de
isolação (VERMICULITA, 2007)
.
Agregada à argamassa, a vermiculita confere à
laje baixo peso, boa resistência mecânica e melhor isolamento térmico e
acústico.
Segundo Acayaba, a laje que adota as placas pré-moldadas de concreto foi
mais eficiente, pois apresenta melhor isolamento acústico e continua sendo
uma solução leve, que poderia ser utilizada em todos os pisos.
[as lajes de piso do terraço] Ficaram tão boas que depois me
arrependi de não as ter usado na casa toda. Os outros pisos
feitos sobre barrotes e forro de madeira, com argamassa isolante
de vermiculita, mais assoalho, acabaram se tornando a maior
fonte de críticas da casa, pelo ruído das pessoas andando. É
uma questão de massa. Os pisos em madeira são muito leves, e
estrutura fica flexível, ao contrário das lajes feitas com placas
pré-moldadas (ACAYABA, 2004, v.1, p. 109).
Na laje de piso do terraço, são utilizados seixos rolados por sobre a manta de
impermeabilização na região dos beirais. Esse recurso foi utilizado para
dispensar o uso de guarda-corpo no terraço, demarcando uma área de recuo
em relação à borda da laje.
Segundo Acayaba, a intenção era mais paisagística, que em termos de
isolamento térmico e peso, a argila expandida é mais vantajosa. A utilização
dos seixos não acarreta problemas de conforto, por estarem sobre a área do
beiral (informação verbal)
2
.
2
Informação dada por Acayaba em visita a sua casa no Guarujá.
Fig. 7.33: Terraço. Seixos criam área de segurança sobre o beiral. (fonte: autora)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
126
Na laje da área coberta do terraço, onde há necessidade de isolamento
térmico, foi empregada a argila expandida no lugar dos seixos.
Nesse caso, o tamanho das esferas de argila é maior do que quando utilizada
como agregado, girando em torno dos 1,5 cm de diâmetro.
Devido à pequena espessura e massa das lajes, o recurso da argila expandida
se torna muito interessante, na medida em que, além de não ser um material
caro, apresenta bom isolamento térmico e baixo peso específico, propiciando
melhores condições de conforto e evitando a sobrecarga na estrutura e nas
fundações.
O recurso da argila expandida sobre a laje de terraço também foi utilizado nas
casas da Vila Butantã, como mostra o capítulo 9.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
127
7.3. A solução construtiva:
Estrutura em madeira pré-fabricada com base modular triangulada
Os dois projetos apresentados nos itens anteriores ilustram bem o estudo
desenvolvido na aplicação do sistema adotado em uma série de casas de
condições semelhantes de implantação (terreno de forte inclinação).
Como dito, esse princípio construtivo consiste na criação de uma malha
triangular horizontal, auto-travada no sentido horizontal, e a partir da qual se
articula toda a estrutura, permitindo uma ocupação espacial mais dinâmica,
elevando a casa e liberando o solo.
Fig. 7.34: Vista da parte inferior da casa Baeta a partir do caminho de acesso.
(fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
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Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
128
Com três direções mais opções, são mais fáceis os acertos
com as árvores existentes e a topografia, do que com as duas
direções da trama ortogonal. Além disso, com o desenho
resultante em planta, praticamente todos os ambientes da casa
oferecem vista para o mar, o que, numa solução ortogonal,
ficaria restrito ao lado fronteiro. Com uma geometria triangular,
em princípio indeformável, a estrutura é naturalmente auto-
travada, nos planos horizontais. Não foi necessário
atirantamento abaixo dos pisos [contraventamentos horizontais],
como na residência Hélio Olga (ACAYABA, 2004, p. 233).
Todas as cargas do edifício concentram-se em poucos pontos de apoio
através do uso de mãos francesas, conferindo à estrutura um aspecto
semelhante ao de uma árvore.
Fig. 7.36: Esquema genérico de funcionamento de uma
mão francesa simples (triangular). As cargas de uma
área se concentram num só ponto.
(fonte: autora)
Fig. 7.35: Croqui. O triângulo é uma forma geometricamente indeformável. o quadrado é
deformável quando não utilizados travamentos nas diagonais internas. (fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
129
Fig. 7.37: Esquema de forças. Encontro entre mão-francesa e coluna de concreto da casa
Marcos Acayaba. Peça de aço concentra as forças fazendo a transição da estrutura em
madeira para a coluna de fundação. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba editada pela
autora)
Fig. 7.38: Três mãos-francesas, com seis braços cada,
sustentam a casa Marcos Acayaba. (fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
130
Convém ressaltar que a escolha da madeira a ser utilizada na estrutura
depende não somente de suas características específicas. Segundo Hélio
Olga (SOUZA JR., 2007a), dentre uma gama de opções com características
similares, é escolhida a madeira que estiver disponível no momento da
construção, o importante é que a densidade seja de 1000 kg/m
3
.
A madeira utilizada nas estruturas das duas residências foi o Jatobá. Segundo
Nogueira e Nogueira (2001), é uma madeira muito resistente a fungos e cupins,
que possui alto peso específico, baixa retratibilidade e alta resistência
mecânica.
O projeto da residência Baeta foi o primeiro a utilizar esse sistema construtivo e
foi todo detalhado a mão. Desde os primeiros esboços ao projeto executivo.
a residência Marcos Acayaba e os outros projetos que utilizam esse sistema
passaram por estudos realizados por meio de maquetes eletrônicas, e seus
projetos executivos foram feitos em ArchiCAD.
A partir da experiência adquirida no primeiro projeto que utilizava o sistema de
triangulação (residência Baeta), Acayaba elaborou um protótipo, com a
finalidade de verificar a viabilidade de uma aplicação mais generalizada. Ele
se aplica a uma casa de cerca de 170m
2
a ser implantada em terreno de
topografia acidentada.
Fig. 7.39: Prancha desenhada a mão.
Projeto executivo residência Baeta.
(fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
131
O protótipo foi desenvolvido eletronicamente. E a estrutura reproduzida
também em modelo físico em escala de 1:15. Os nós estruturais e um módulo
da grelha de piso foram reproduzidos em escala de 1:1.
O resultado de todo o estudo foi apresentado na Bienal Internacional de
Arquitetura em São Paulo, em 1993, e serviu de base para a construção da
residência Marcos Acayaba, em 1996. A partir de então o sistema vem se
consolidando e, em 2006, foi utilizado na construção de mais uma casa,
também no Guarujá.
Fig. 7.40: Protótipo. Maquete eletrônica. (fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 7.41: Exposição dos
modelos em escala 1:1
e 1:15 na Bienal de
Arquitetura, em 1993.
(fonte: arquivo pessoal
Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
132
7.4. Considerações sobre os projetos
Com a experiência adquirida com a residência Hélio Olga, Acayaba
consegue explorar, nesses projetos, ainda mais as potencialidades da
madeira.
Levando-se em conta a complexidade e as dificuldades de montagem
demandada pelos elementos de contratraventamento da casa de Hélio, e
percebendo que seria possível fazer encaixes em madeira com ângulos que
não necessariamente fossem retos, o arquiteto desenvolveu esse sistema
triangularmente modulado (informação verbal)
3
.
A modulação em triângulos não é inédita. Arquitetos como Frank Lloyd Wright
já trabalharam com esse desenho de módulo. No entanto, o que valoriza essas
obras é a constituição de uma solução construtiva que consegue, ao mesmo
tempo, resolver todas as necessidades espaciais relacionadas ao programa,
associadamente às determinadas pelas características do local de
implantação, pelos fluxos de materiais e mão de obra em canteiro, e pela
resolução estrutural em si, resultando numa linguagem plástica muito
expressiva que dialoga muito bem com a paisagem em que se insere.
Esses são projetos inéditos, tanto do ponto de vista construtivo quanto do
ponto de vista espacial. Diferentemente dos projetos realizados mais no início
de carreira de Acayaba, como os da residência Milan e da Fazenda
Pindorama, o partido formal nesses casos não veio antes ou depois do partido
construtivo. Partido formal e partido construtivo não se dividem. Há nesses
projetos um único partido. Um, e um só, partido arquitetônico.
A arquitetura acontece aqui como uma simbiose única: arte, espaço,
construção e abrigo.
3
Informação cedida por Acayaba em visita à residência Baeta, no Guarujá.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
133
7.5. Ficha técnica – Residência Baeta
Dados gerais
Local: Iporanga – Guarujá-SP
Ano do Projeto: 1991
Período da Construção: 1992-1994
Equipe de Projeto
Arq. Marcos Acayaba
Arq. Adriana Aun
Estag. Tânia Shirakawa
Estag. Fernanda Barbara
Colaboradores
Cálculo Estrutural: Eng. Hélio Olga de Souza Jr.
Projeto de Instalações: Sandretec
Construção: Eng. Ricardo Baeta
Estrutura de madeira: Ita Construtora
Programa
Sala de estar
Sala de jantar
Terraço
5 Dormitórios
3 Sanitários / 1 Lavabo
Cozinha
Lavanderia
Materiais
Estrutura: Madeira - Jatobá
Cobertura: Telhas trapezoidais de alumínio
Escada: Madeira e tirantes de aço
Divisórias: Painel Wall
Caixilhos: Madeira
Acabamentos: Pintura acrílica nos painéis e fiberglass nos sanitários
Pisos: Assoalho de madeira e fiberglass nos sanitários
Áreas
Área do Terreno: 1200,0 m
2
Área Ocupada: 140,5 m
2
Taxa de Ocupação: 11,70 %
Área Construída: 267,97 m
2
Área Útil: 188,00 m
2
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 7
Residência Baeta e Residência Marcos Acayaba
134
7.6. Ficha técnica – Residência Marcos Acayaba
Dados gerais
Local: Tijucopava - Guarujá-SP
Ano do Projeto: 1996
Período da Construção: 1996 - 1997
Equipe de Projeto
Arq. Marcos Acayaba
Arq. Sueli Mizobe
Arq. Fábio Valentim
Arq. Mauro Halluli
Colaboradores
Cálculo Estrutural: Eng. Hélio Olga de Souza Jr.
Projeto de Fundações: Eng. Luis F. Meirelles Carvalho
Projeto de Instalações: Sandretec
Construção: Ita Construtora
Programa
Sala de estar
Sala de jantar
3 Dormitórios
3 Sanitários
Cozinha
Lavanderia
Dormitório e Sanitário de empregada
Materiais
Estrutura: Madeira - Jatobá
Cobertura: Laje impermeabilizada e pré-moldado de concreto leve
Escada: Madeira e tirantes de aço
Divisórias: Painel Wall
Caixilhos: Madeira
Acabamentos: Pintura acrílica nos painéis e fiberglass nos sanitários
Pisos: Assoalho de madeira e fiberglass nos sanitários
Áreas
Área do Terreno: 1963,0 m
2
Área Ocupada: 133,0 m
2
Taxa de Ocupação: 6,0 %
Área Construída: 251,0 m
2
Área Útil: 194,0 m
2
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 8
Escola de Ensino Fundamental Jardim Bela Vista II
135
CAPÍTULO 8:
ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL JARDIM BELA VISTA II
(Mogi das Cruzes - SP, 2003-2005)
Fig. 8.1: Escola de Ensino Fundamental Jardim Bela Vista II. Entrada. (fonte: arquivo pessoal Marcos
Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 8
Escola de Ensino Fundamental Jardim Bela Vista II
136
8.1. O projeto
Junto ao espaço de lazer de um conjunto habitacional do CDHU (Companhia
de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), a Escola de Ensino Fundamental
Jardim Bela Vista II ocupa uma área de cerca de 3000 m
2
e foi desenvolvida
seguindo padrões estabelecidos pelo FDE (Fundação para o Desenvolvimento
da Educação).
Num terreno praticamente plano, o edifício tem uma implantação horizontal,
dividindo o programa em três blocos de dois pavimentos, estruturalmente
independentes, ligados pelos volumes das escadas e conformando uma
implantação em ‘U’, com um pátio central coberto e dois pátios descobertos.
Fig. 8.2: Pátio descoberto
frontal, ao lado do portão
principal de acesso. (fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 8.3: Pátio descoberto ao
fundo, voltado à área de lazer
coletiva da comunidade.
(fonte: arquivo pessoal Marcos
Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 8
Escola de Ensino Fundamental Jardim Bela Vista II
137
Ao centro, o pátio coberto abriga a quadra poliesportiva. Sua cobertura é em
telha de alumínio, sustentada por uma estrutura metálica composta por quatro
treliças arqueadas.
As treliças vencem um vão de 27,0 m e apóiam-se em pilares de concreto
desnivelados em 4,5 m, garantindo iluminação natural durante todo o dia.
A estrutura dos blocos é toda em concreto pré-moldado, modulada de
acordo com os padrões do FDE e dimensionada para edifícios de até quatro
andares permitindo ampliação vertical.
No térreo, um dos blocos abriga salas de recuperação e centro de leitura;
outro abriga cozinha, refeitório e grêmio; um terceiro, o maior, abriga áreas
administrativas num lado e sanitários e cantina no outro; e, nos pavimentos
superiores dos três blocos, localizam-se as salas de aula.
Fig. 8.4: Pátio central coberto e
quadra. (fonte: arquivo pessoal
Marcos Acayaba)
Fig. 8.5: Sala de aula, corredor de salas de aula e refeitório.
(fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 8
Escola de Ensino Fundamental Jardim Bela Vista II
138
Fig. 8.6: Implantação / Planta térreo. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
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Capítulo 8
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139
Fig. 8.7: Planta pavimento superior. (fonte: arquivo pessoal
Marcos Acayaba)
Fig. 8.8: Elevação. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
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Capítulo 8
Escola de Ensino Fundamental Jardim Bela Vista II
140
Fig. 8.9: Cortes. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 8
Escola de Ensino Fundamental Jardim Bela Vista II
141
8.2. A solução construtiva
Duas funções para elemento em concreto pré-moldado
Assim como no caso das estruturas pré-fabricadas em madeira, quando se
trabalha com o concreto pré-moldado é necessário que o arquiteto tenha um
bom conhecimento sobre as premissas projetuais que esse tipo de sistema
construtivo estabelece.
A pré-moldagem caracteriza-se como “[...] um processo de construção em
que a obra, ou parte dela, é moldada fora de seu local de utilização
definitivo” (EL DEBS, 2000, p. 5).
Numa estrutura pré-moldada, para que os processos sejam otimizados, é
necessária uma padronização dos componentes e, para isso, a modulação se
faz necessária. Ela interfere diretamente no projeto de arquitetura, no que se
refere ao dimensionamento e ao planejamento espacial do edifício.
Fig. 8.10: Obra. Montagem da estrutura pré-moldada. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 8
Escola de Ensino Fundamental Jardim Bela Vista II
142
Segundo El Debs (2000), diferente do concreto armado, o dimensionamento
do concreto pré-moldado deve levar em consideração não só a situação final
da estrutura, mas também possíveis solicitações na desmoldagem, transporte,
armazenamento e montagem das peças.
As ligações entre os elementos que compõem a estrutura pré-moldada
também são um diferencial em relação às estruturas moldadas no local. Elas
exigem uma análise mais detalhada, pois implicam diretamente no
comportamento estrutural do conjunto, podendo acarretar, por exemplo,
numa maior solicitação dos elementos à flexão. Isso porque, nas estruturas de
concreto pré-moldado, as ligações costumam (em edifícios de até cerca de
10,0m de altura) ser articuladas, diferente das em concreto armado (moldado
in loco) em que costumam ser rígidas.
Fig. 8.11: Momentos fletores em situação de viga contínua e em sucessão de tramos, como
costuma ocorrer em estruturas moldadas in loco’ e pré-moldadas, respectivamente.
(fonte:
autora)
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Capítulo 8
Escola de Ensino Fundamental Jardim Bela Vista II
143
Analisando as diferenças dos diagramas apresentados na figura 8.11, poderia
se pensar que o pré-moldado é desvantajoso por seu comportamento em
relação às cargas estruturais (sofre maior solicitação à flexão). Porém, segundo
El Debs (2000), outros fatores também determinantes no comportamento
estrutural das duas alternativas, como as resistências dos materiais e a forma
da seção transversal, por exemplo.
As ligações flexíveis também podem deixar a estrutura mais suscetível às forças
horizontais que incidem na edificação. Essas forças horizontais, normalmente
são originadas pela ação dos ventos e interferem somente no
dimensionamento dos pilares. Normalmente os pilares, engastados na
fundação, necessitam certa robustez para resistir a esses esforços, por isso sua
secção costuma ser maior do que a dos pilares de uma estrutura similar feita
em concreto armado, mesmo sendo o concreto utilizado nesse tipo de
estrutura mais resistente: concreto moldado in loco, cerca de 25 MPa;
concreto pré-moldado, por volta de 35 a 40 MPa, para esse padrão de
construção (informação verbal)
1
.
No entanto, numa estrutura, devem-se levar em conta tanto os aspectos
estruturais quanto os construtivos. Em determinadas situações, as vantagens
construtivas do sistema pré-fabricado se sobressaem. Ele se torna mais
vantajoso quando se considera a facilidade de montagem, o tempo de
1
I
nformação cedida pelo Professor Dr. Mounir Kalil El Debs em atendimento pessoal.
Fig. 8.12: Esquema estrutural. Ligações articuladas tendem a deixar a estrutura mais suscetível às
forças horizontais por isso pilares tendem a ter maior seção para garantir a rigidez do conjunto.
(fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 8
Escola de Ensino Fundamental Jardim Bela Vista II
144
execução, a limpeza da obra etc. É o caso das escolas produzidas pelo FDE,
realizadas em grande número no estado de São Paulo, que adotam um
sistema padronizado para o projeto e para a construção.
Numa construção em pré-moldado, praticamente se elimina a necessidade
de fôrmas e cimbramentos. O tempo de execução e a quantidade de
resíduos gerada também costumam ser bem menores, pelo fato das peças
chegarem prontas, sendo somente montadas no local da obra. As peças são
içadas por meio de guindastes, e/ou gruas, e encaixadas em seu devido lugar.
O arquiteto, ao projetar prevendo estrutura em concreto pré-moldado, deve
também levar em consideração que ela não pode receber revestimento,
portanto deverá sempre permanecer aparente. Nesse caso, ele pode ou não
tirar partido disso.
Nesse projeto, um elemento se destaca devido ao seu desenvolvimento,
ocorrido num diálogo entre arquiteto e engenheiro. Uma única peça em
concreto pré-moldado detém dupla função: a de brise e de travamento
horizontal da estrutura.
Fig. 8.13: Içamento das peças por guindaste. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 8
Escola de Ensino Fundamental Jardim Bela Vista II
145
Com um desenho diferenciado e um custo reduzido, essa solução evitou o uso
de elementos metálicos de proteção solar (o mais utilizado nas escolas do FDE
recentemente construídas), que deterioram com facilidade e exigem
manutenção freqüente.
Esse elemento nas fachadas contribuiu para uma linguagem marcada pela
horizontalidade, dando ao edifício um destaque em meio à paisagem
caracterizada pelos conjuntos do CDHU.
Fig. 8.14: Elemento em concreto
pré-moldado em face externa e
no interior do edifício. (fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 8.15: Localização em meio a conjuntos habitacionais do CDHU. (fonte: arquivo pessoal Marcos
Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 8
Escola de Ensino Fundamental Jardim Bela Vista II
146
Segundo Acayaba (2007), o processo de desenvolvimento dessa solução
ocorreu a partir de simulações de insolação realizadas em Archicad.
Uma peça padrão de concreto pré-moldado, a viga calha, foi adotada no
primeiro estudo. Após uma conversa com o engenheiro de estruturas, o
arquiteto decidiu adotar uma peça mais esbelta, considerando o vão, a
carga, o peso próprio da peça e o travamento de estrutura.
O estudo de insolação, segundo Acayaba (2007), foi realizado considerando
os horários de aula: das oito da manhã às cinco da tarde, dispensando o
período de férias de verão (dezembro e janeiro), o mais crítico, por apresentar
insolação numa angulação muito baixa.
Ao final, chegou-se a uma peça de 60,0 cm x 60,0 cm, com 12,0 cm de
espessura, como mostram as figuras a seguir.
Fig. 8.16: Detalhe em corte dos brises em concreto pré-moldado.
(fonte:
arquivo
Ruy Bentes Engenharia
de Estruturas
)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 8
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147
Fig. 8.17: Detalhe em planta dos brises em concreto pré-moldado. (fonte: arquivo Ruy Bentes
Engenharia de Estruturas)
Fig. 8.18: Console de apoio e fixação por cantoneira metálica. (fonte: arquivo pessoal
Marcos Acayaba – editada pela autora)
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Capítulo 8
Escola de Ensino Fundamental Jardim Bela Vista II
148
De acordo com o engenheiro Bentes (2007), da Ruy Bentes Engenharia de
Estruturas S/A, empresa responsável pelo projeto estrutural, a cantoneira
metálica chumbada à estrutura impede a rotação da peça.
Entre a peça e o console uma camada de elastômero (neoprene), um
material semelhante a uma ‘borracha’, que diminui o atrito entre os
componentes da estrutura, evitando o desgaste das peças.
Numa estrutura moldada in loco, dificilmente se utilizaria um perfil em L como o
dessa solução, pela dificuldade de montagem das fôrmas e desmoldagem.
No sistema em concreto pré-moldado cada peça é moldada isoladamente
umas das outras na fábrica, propiciando ao arquiteto maior liberdade no
desenho dos perfis estruturais, que possuem formatos e medidas padrão, mas
que, como ocorreu neste caso, podem sofrer modificações em função de
uma necessidade de projeto.
É possível se criar perfis com desenho diferenciado, contanto que haja uma
repetição dessa peça para que se compense os custos de fôrma.
Fig. 8.19: Esquema ilustra movimento de rotação que a peça poderia sofrer na ausência da peça
metálica. (fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 8
Escola de Ensino Fundamental Jardim Bela Vista II
149
8.3. Considerações sobre o projeto
Nesse projeto, assim como nos realizados em estrutura pré-fabricada em
madeira, a resolução das questões estruturais e de conforto e o diálogo com
outros profissionais, foram determinantes na linguagem final do edifício. Porém,
não foi preciso desenvolver novas técnicas construtivas para se resolver as
necessidades demandadas pelo terreno ou pelo programa, como naqueles
casos. Também porque, o sistema construtivo adotado pelo FDE é
padronizado. Ao ser contratado, o arquiteto recebe instruções de projeto e
deve seguir as normas pré-estabelecidas de: modulação e dimensionamento
de ambientes, programa de necessidades, sistema construtivo etc. Essas
normas são explicadas em manuais (ver FUNDAÇÃO PARA O
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO, 1994), os quais muitas vezes são criticados
por se dizer que limitam a capacidade de expressão do arquiteto.
No entanto, pode-se tirar partido disso. Cabe ao arquiteto criar soluções que
se justifiquem não somente pela estética, mas também pela funcionalidade,
como é o caso de Acayaba nesse projeto, que tira partido das possibilidades
do material, o concreto pré-moldado, e cria um elemento em que se fundem
funções relacionadas à estética, à estrutura e ao conforto térmico.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 8
Escola de Ensino Fundamental Jardim Bela Vista II
150
8.4. Ficha técnica – Escola de Ensino Fundamental Jd. Bela Vista II
Dados gerais
Local: Rua A com Rua B – Jardim Bela Vista - Mogi das Cruzes, SP
Ano do Projeto: 2004
Período da Construção: 2004 - 2005
Equipe de Projeto
Arq. Marcos Acayaba
Colaboradores
Coord. Projeto (FDE): Arq. Naide Correia (Proj. Básico), Arq. Sergio de Paula (Proj. Execut.)
Coord. Obra (FDE) - Fiscal: Eng. Affonso Coan
Calculo Estrutural: Ruy Bentes
Consultor de Estrutura: Kuurkdjian & Fruchtengarten
Projeto de Fundações: Zaclis & Salvoni
Projeto de Instalações: Sandretec
Construção: Construtora Lopes Kalil
Programa
10 Salas de Aula Cozinha
2 Salas Multiuso Despensa
Quadra Refeitório
Secretaria 2 Depósitos
Almoxarifado 2 Vestiários de Funcionários
Coordenação Grêmio
Diretoria 2 Sanitários / Vestiário de Alunos (Masc./Fem.)
Sala de Professores Cantina
Sala de Recuperação Pátio Coberto
Sala de Leitura 2 Pátios Descobertos
Materiais
Estrutura: Concreto pré-moldado
Cobertura: Telha metálica trapezoidal (quadra)
Escada: Concreto pré-moldado
Caixilhos: Ferro
Acabamentos: Pintura acrílica
Pisos: Cerâmico
Áreas
Área Construída: 3033,0 m
2
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 9
Vila Butantã
151
CAPÍTULO 9:
VILA BUTANTÃ (São Paulo - SP, 1998-2004)
Fig. 9.1: Vista geral. Vila Butantã. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 9
Vila Butantã
152
9.1. O projeto
Atualmente, o desenvolvimento de muitas técnicas e tecnologias no setor da
construção vem ocorrendo em função da redução de custos, sem considerar
as necessidades naturais humanas. O valor de mercado se sobrepõe ao valor
técnico e espacial (de uso) (MASCARÓ, L., 1990b).
Localizada no bairro do Butantã, na cidade de São Paulo, a Vila Butantã
constitui-se por um conjunto de dezesseis residências unifamiliares, projetadas
e construídas, com propósitos empreendedores, por Marcos Acayaba e Hélio
Olga de Souza Júnior.
Nesse projeto, a parceria entre o arquiteto e o engenheiro desde a
idealização do empreendimento conferiu ao projeto um caráter exploratório
das melhores soluções construtivas e espaciais em função das condições de
relevo, solo e insolação, numa proposta diferenciada em relação aos
empreendimentos imobiliários do setor.
Fig. 9.2: Localização no bairro do Butantã, São Paulo-SP. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 9
Vila Butantã
153
Acayaba revelou que ele e Hélio trabalharam juntos desde a escolha do
terreno, passando por todo desenvolvimento espacial e construtivo e
execução da obra (informação verbal)
1
.
Todas as casas foram implantadas de modo a favorecer o lazer coletivo e se
adaptar ao relevo do terreno, de cerca de 4500m
2
, grande declividade e
pequena cobertura vegetal (segundo o arquiteto, todas as árvores foram
preservadas).
1
Informação dada por Marcos Acayaba em visita à Vila Butantã.
Fig. 9.3: Rua interna de
acesso às casas.
(fonte: autora)
Fig. 9.4: Recorte no
beiral para evitar
remoção da árvore.
(fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 9
Vila Butantã
154
Duas a duas, as casas se espalham pelo terreno formando duas fileiras, uma
próximo ao nível da rua, de quatro casas, e uma mais a baixo, de 12 casas.
Na área mais baixa do terreno localiza-se a área de lazer, composta por um
campinho de futebol, uma piscina e um salão de festas.
As casas, de 174,0 m
2
, possuem três pavimentos, mais cobertura e possuem
pequenas variações resultando em quatro tipologias.
O acesso principal se pelo piso intermediário, onde se localizam garagem,
cozinha, sala de refeições e área de serviço. No piso inferior, situam-se sala,
escritório (em algumas tipologias) e terraço. E no superior, os quartos.
Na cobertura, a laje funciona como um terraço, que vista à área de lazer
coletivo e ao bairro do Butantã.
Fig. 9.5: Vista da piscina.
(fonte: arquivo pessoal Marcos
Acayaba)
Fig. 9.6: Vista a partir da
cobertura do salão de
festas, área de lazer
coletivo. (fonte: arquivo
pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 9
Vila Butantã
155
Fig. 9.8: Planta pavimento térreo. Tipologias 1 e 2. (fonte: arquivo
pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 9.7: Implantação. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 9
Vila Butantã
156
Fig. 9.9: Planta pavimento inferior. Tipologias 1 e 2. (fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 9.10: Planta pavimento superior. Tipologias 1 e 2.
(fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
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Capítulo 9
Vila Butantã
157
Fig. 9.11: Planta cobertura. Tipologias 1, 2, 3 e 4. (fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 9.12: Planta pavimento térreo. Tipologias 3 e 4. (fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba)
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Capítulo 9
Vila Butantã
158
Fig. 9.13: Planta pavimento inferior. Tipologias 3 e 4. (fonte:
arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 9.14: Planta pavimento superior. Tipologias 3 e 4.
(fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
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Capítulo 9
Vila Butantã
159
Fig. 9.15: Corte do terreno. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 9.16: Sala. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 9.17: Cozinha e sala de jantar. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
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Capítulo 9
Vila Butantã
160
9.2. A solução construtiva
Laje nervurada em concreto e madeira
O projeto das unidades da Vila Butantã previa duas empenas de blocos de
concreto dentre as quais se sustentariam as lajes.
Fugindo da solução convencional de laje em concreto, Acayaba e Hélio
Olga, decidiram propor uma solução até então nova no Brasil, um tipo de laje
nervurada, de madeira e concreto, que foi patenteada depois de ensaios e
estudos realizados pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
As lajes nervuradas, de acordo com a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS (2003), NBR 6118, são: “[...] lajes moldadas no local ou com nervuras
pré-moldadas, cuja zona de tração para momentos positivos está localizada
nas nervuras entre as quais pode ser colocado material inerte”.
Fig. 9.18: Laje nervurada de madeira e concreto sobre garagem. (fonte: arquivo pessoal Marcos
Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 9
Vila Butantã
161
Segundo Hélio Olga (SOUZA JR., 2007a), o desenvolvimento dessa solução
contou com a colaboração do professor Pedro Almeida da Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo que, vendo a solução composta por vigas de
madeira e laje de concreto adotada por Hélio e Marcos, sugeriu a utilização
de lajes colaborantes sobre o vigamento aparente.
Souza Jr. (2007b) afirma que, antes da sugestão do professor Pedro, ele o
utilizava a laje colaborante. Ela ficava “solta sobre os barrotes”.
Segundo El Debs, costuma-se chamar de colaborante, a laje que se funde à
viga trabalhando junto a ela as forças de compressão (informação verbal)
2
.
Pode-se unir a viga de apoio e a laje através de conectores presos à viga que,
na cura do concreto, solidarizam mecanicamente as duas partes. Essa solução
pode ser utilizada em estruturas metálicas, em cujas vigas são chumbados
conectores metálicos que se fundem ao concreto da laje.
No caso das casas da Vila Butantã, utilizou-se vigas de madeira e pregos
fizeram a função de conectores.
2
Informação transmitida pelo Prof. Dr. Mounir Kalil El Debs em atendimento pessoal.
Fig. 9.19: Esquema ilustrativo de comparação entre laje colaborante e laje simplesmente
apoiada.
(fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 9
Vila Butantã
162
As vigas são de jatobá, de 6,0 cm x 20,0 cm, colocadas a cada 50,0 cm, entre
duas empenas de alvenaria armada de blocos pigmentados, com um vão
total de 6,0 m.
Entre elas são parafusadas fôrmas em chapas de aço galvanizado, sobre as
quais é moldada a laje de concreto, de 4,0 cm de espessura, armada com
uma tela de malha de 10,0 cm x 10,0 cm e diâmetro de 4,2 mm.
As fôrmas são fixadas diretamente nas vigas e não necessidade de
cimbramentos. Após a cura do concreto, as chapas galvanizadas são
removidas e reutilizadas em outras unidades, evitando desperdício de material.
Fig. 9.20: Montagem da laje antes da concretagem. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba)
Fig. 9.21: Detalhe da construção da laje. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayaba – editada pela autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 9
Vila Butantã
163
Em projeto, os pregos que fazem a função de conectores presos às vigas
tiveram seu espaçamento planejado de acordo com a cortante: mais
próximos no apoio e afastados no meio do vão (SOUZA JR., 2007), como
mostra a figura a seguir.
No entanto, a partir da segunda série de casas, decidiu-se uniformizar o
espaçamento em 8,5 cm de distância entre os pregos, segundo Souza Jr.
(2007b), para “aumentar a rigidez do conjunto”.
Fig. 9.24: Corte transversal da
laje.
(fonte: arquivo pessoal
Marcos Acayaba – editada pela
autora)
Fig. 9.22: Marcação dos pregos ao longo da viga. (fonte: arquivo pessoal Marcos Acayabaeditada
pela autora)
Fig. 9.23: O espaçamento
uniformizado também facilita a
execução. (fonte: arquivo pessoal
Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 9
Vila Butantã
164
Segundo Acayaba, as lajes de cobertura inicialmente não iriam funcionar
como terraço. Foi durante a construção do primeiro bloco de casas (quatro
unidades na parte superior do terreno) que ele, ao subir na laje, percebeu a
bela vista que se tinha do bairro (informação verbal)
3
.
O arquiteto decidiu então, na fileira de casas seguinte, adotar uma solução
baseada na utilizada em sua residência no Guarujá. Impermeabilizou a laje,
lançou flocos de argila expandida por sobre ela e, em cima, apoiou placas de
concreto que serviram como piso.
Com essa solução, as casas ganharam um espaço de lazer e contemplação e
também tiveram seu desempenho térmico melhorado em relação à laje
simples impermeabilizada.
A laje nervurada em concreto e madeira é uma solução interessante do ponto
de vista construtivo e demanda um bom conhecimento técnico por parte do
arquiteto, pois o vigamento em madeira exige a ordenação e a modulação
espacial dos ambientes, adotando princípios de coordenação modular. É
necessária a existência de uma boa interdisciplinaridade entre os projetos de
arquitetura, estrutura, elétrica e hidráulica, seguindo os mesmos princípios de
3
Informação cedida por Acayaba em visita à Vila Butantã, em 2006.
Fig. 9.25: Terraços.
(fonte: arquivo pessoal
Marcos Acayaba)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 9
Vila Butantã
165
modulação. A posição das vigas, por exemplo, influencia em todos os projetos.
A foto a seguir foi tirada da laje do lavabo. Demonstra que a posição e o
dimensionamento desse ambiente foram pensados levando em consideração
a posição das vigas, mantendo uma simetria e permitindo a locação das
luminárias no eixo do ambiente.
As áreas molhadas são posicionadas de modo que as instalações hidráulicas
corram por shafts horizontais visitáveis
4
, embutidos entre as vigas de madeira.
Entre os blocos foi previsto um shaft técnico vertical para descida de águas
pluviais e esgoto e para abrigo do aquecedor e do gás de cozinha.
4
A idéia de shaft costuma estar relacionada a dutos verticais que transpassam os pavimentos
de uma construção com o intuito de concentrar as prumadas de instalações hidráulicas ou
elétricas, facilitando a execução e a manutenção do edifício. No caso da Vila Butantã, além do
espaço lateral entre as casas que, apesar de aberto, chamei de shaft vertical, por concentrar
prumadas hidráulicas, também se utiliza o vão conformado entre as vigas de madeira para a
passagem de tubulações de esgoto, por isso o termo shaft horizontal. O termo visitável se dá
pela possibilidade de remoção da placa de fechamento.
Fig. 9.26: Lavabo. Simetria na posição das vigas e
luminária demonstra o diálogo entre os projetos de
arquitetura, estrutura e elétrica. (fonte: autora)
Fig. 9.27: Shafts horizontais. À esquerda, na garagem, e à direita, na área de serviço. (fonte: autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 9
Vila Butantã
166
Outro diferencial desse projeto em relação aos demais empreendimentos do
setor foi a solução adotada para evitar conter os barrancos resultantes dos
cortes no terreno e para evitar infiltrações rente aos muros de divisa. Ao invés
de se utilizar muros de arrimo convencionais, que envolvem altos custos, foram
utilizados arrimos de solo-cimento.
Segundo Ferreira (2007), o solo-cimento é “[...] um material obtido através da
mistura homogênea de solo, cimento e água [...] que, após compactação e
cura úmida, resulta num produto com características de durabilidade e
resistências mecânicas”.
O arrimo em solo-cimento é um material barato, de fácil uso e manutenção e
boa durabilidade. Além disso, permite ser coberto pela vegetação, adquirindo
um caráter paisagístico.
Fig. 9.28: Espaço entre os
blocos funciona como
shaft, concentrando
instalações de água e
gás. (fonte: autora)
Fig. 9.29: Arrimo de solo
cimento. (fonte: à esquerda,
arquivo pessoal Marcos
Acayaba; à direita, autora)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 9
Vila Butantã
167
9.3. Considerações sobre o projeto
Apesar de, como nas casas no Guarujá, o terreno possuir uma forte inclinação,
o sistema construtivo adotado nesse caso foi outro.
Em virtude do tipo de empreendimento, da localização (em meio à
metrópole) e do programa (conjunto de casas para fins imobiliários), adotou-
se na construção das unidades habitacionais, a alvenaria armada em blocos
de concreto. Nesse caso, o sistema se adapta bem às condições do local,
devido ao desenho desalinhado dos blocos.
Algo que chama atenção nesse projeto é a coordenação entre os diversos
sistemas que compõem a construção, mesmo que tenham sido utilizados
materiais mais tradicionais. Diferente das casas em madeira, em que os
projetos de instalações se conformam praticamente em função da estrutura,
nesse projeto, a coordenação modular articula as especialidades de maneira
mais homogênea. A medida dos blocos interfere na modulação dos caixilhos
e na estrutura. A estrutura interfere nas instalações elétricas e hidráulicas, que
interferem na conformação dos espaços e assim por diante. Ao entrar no
lavabo da casa, e ver que as vigas de madeira estavam posicionadas
simetricamente e entre elas ficava a luminária, percebi que ali, havia um
trabalho coordenado entre estrutura, arquitetura, elétrica e hidráulica. O que
não acontece na maioria dos empreendimentos do setor, em que se costuma
usar forro falso para esconder as instalações e revestimentos para esconder a
estrutura.
Ao arquiteto nesse caso foi fundamental uma atenção constante às
necessidades das outras áreas específicas, a interdisciplinaridade acaba se
manifestando na plástica do edifício, trazendo beleza na articulação
harmônica de suas funções.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 9
Vila Butantã
168
9.4. Ficha técnica – Vila Butantã
Dados gerais
Local: Vila Pirajussara - São Paulo, SP
Ano do Projeto: 1998
Período da Construção: 2004
Equipe de Projeto
Arq. Marcos Acayaba
Arq. Sueli Mizobe
Colaboradores
Construção: Ita Construtora
Fotos: Nelson Kon
Proj. Estr. Laje Nervurada
Concreto e Madeira:
Helio Olga de Souza Jr., Prof. Dr. Pedro Afonso Oliveira Almeida, Prof. Dr. Péricles
Brasiliense Fusco
Projeto de Instalações: Sandretec
Projeto de Luminotécnica: Arq. Claudio Furtado
Projeto Paisagístico: Arq. Benedito Abbud
Projeto Estrutural Alvenaria
Armada/ Fundações:
Engº. Luis F. Meirelles Carvalho
Programa
16 unidades unifamiliares (população estimada em 64 pessoas, densidade líquida 144hab/ha)
Casas geminadas duas a duas (2 renques de 4 e 12 casas)
Programa de lazer: gramado multiuso (futebol, etc.), salão, bar, depósito, vestiários e piscina
Garagens individuais: 2 vagas cobertas e 1 vaga descoberta por casa
Portaria Geral / Sala para Medidores
Materiais
Alvenaria: Bloco de concreto
Caixilhos: Madeira
Acabamentos: Pintura acrílica
Pisos: Interno: Madeira / Externo: Ardósia, concreto desempenado, paralelepípedo
Áreas
Área do Terreno: 4439,0 m
2
Área Ocupada: 1140,0 m
2
Taxa de Ocupação: 25,7%
Área Útil Casa Tipo: 173,69 m
2
Área Privativa: 2244,0 m
2
(28% da área total)
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 10
Considerações Finais
169
CAPÍTULO 10:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conflito entre técnica e arte prevalece ainda hoje [...] A
consciência humana, com seu lado sensível e seu lado racional,
não tem sido convenientemente interpretada como um inteiro,
mas como a soma de duas metades (ARTIGAS, 2004, p. 117).
Artigas (2004) afirma que somente quando “[...] a arte for reconhecida como
linguagem dos desígnios do homem”, o conflito entre arte e técnica cessará.
Marcos Acayaba, como discípulo, tenta quebrar esse paradigma, utilizando
seu domínio técnico como instrumento de uma constante investigação
plástica e espacial.
Em sua atividade, ficam claras as marcas de sua formação, notoriamente mais
como conceito do que como linguagem, na medida em que suas posturas
projetuais representam antes um método do que um modelo. Por isso, cada
um dos projetos apresenta uma linguagem diferenciada, muito particular.
A produção mais recente de Acayaba, de maneira geral, obedece a
princípios em comum, como a adequação do sistema construtivo ao
programa e ao meio físico em que se insere, a constante atenção às
peculiaridades dos diversos materiais utilizados, o cuidado com a obra e suas
características de fluxos, mão de obra, montagem e manutenção e o
detalhamento exaustivo do projeto.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 10
Considerações Finais
170
Nos primeiros projetos, as nuances dessa postura são menos notadas. Neles, a
influência da produção arquitetônica do período acaba sendo
preponderante. Tanto em termos formais, quanto em termos construtivos. No
projeto da residência Milan, realizado bem no início de sua carreira, Acayaba
adota uma linguagem muito utilizada na época, a da cobertura em
abóbada, fazendo uso da tecnologia do concreto armado, também
amplamente difundida no contexto nacional. Alguns anos depois, realizou-se o
projeto da casa-sede da Fazenda Pindorama, que também adotava uma
linguagem de abóbadas como cobertura, mas utilizava técnicas
construtivas mais “adequadas a um projeto de residência”
1
, num sistema de
moldagem com cambotas, muito próximo ao que Sérgio Ferro e outros
arquitetos desenvolviam, diferenciando-se pelo uso do bloco de concreto ao
invés do tijolo de barro. Dez anos depois, houve a experiência do pavilhão de
lazer da mesma fazenda, um projeto que, para se manter a linguagem
plástica idealizada pelo arquiteto, sem prejudicar o conforto térmico do
edifício, criou-se uma nova solução construtiva, a parede de tijolos e concreto.
Depois de cerca de vinte anos em atividade, surgem as residências em
madeira, projetos que talvez, junto com a Vila Butantã, melhor exemplifiquem
o que essa pesquisa pretende demonstrar. Com o desenvolver da prática
profissional, o conhecimento técnico e tecnológico adquirido possibilitou ao
arquiteto desenvolver, em parceria com o engenheiro Hélio Olga, com quem
mantém uma fluida interdisciplinaridade, uma nova solução construtiva que,
por si, gerava ao também uma linguagem inovadora. Nesses projetos, toda a
investigação formal manteve-se constantemente atrelada ao
desenvolvimento do partido estrutural, as soluções técnicas correspondem às
intenções formais, numa arquitetura da “[...] estética da lógica, onde as
soluções devem escolher os materiais mais convenientes, as técnicas mais
justas, evidenciando a racionalidade e o ajuste programático também como
expressão plástica, intenção plástica” (SEGAWA, 1996, p. 36).
1
Acayaba (2004), faz uma auto-crítica quando fala sobre a escolha do sistema construtivo
adotado na residência Milan: “Para fazer a concretagem em um só dia, foi usada uma técnica,
naquele momento nova n Brasil, a do bombeamento e lançamento de concreto em altura
(uma sofisticação que eu não sei se caberia na obra de uma residência)” .
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Capítulo 10
Considerações Finais
171
A partir desses estudos, ressalta-se a importância, não do conhecimento
técnico por si, mas do seu uso e desenvolvimento atrelado às questões da
arquitetura enquanto arte e espaço num trabalho conjunto, em que as
soluções construtivas se fundem às intenções formais, soando em uníssono. Traz
a reflexão sobre a postura dos arquitetos, buscando demonstrar que o domínio
técnico (e tecnológico) pode não ser a única resposta para as grandes
pendências da arquitetura, mas, sem dúvida, constitui-se numa extraordinária
ferramenta na árdua tarefa de se construir e aproximar o pensar e o fazer
arquitetônico.
Possibilidades de trabalhos futuros:
Ao fim da pesquisa, é possível pensar que ela até poderia ter um outro nome,
algo como: O domínio técnico como um instrumento de criação
arquitetônica. Porém, fica a idéia para as próximas investigações, as quais
poderiam reunir estudos de obras variadas, de diversos arquitetos
contemporâneos, que, assim como Acayaba, utilizam-se do domínio técnico e
tecnológico para conceber “arquiteturas da lógica e da beleza, onde nada
sobra e nada falta”
2
.
2
Parte do título de um artigo de Hugo Segawa para a revista ProjetoDesign: “As vertentes da
invenção arquitetônica: arquiteturas da lógica e da beleza, onde nada sobra e nada falta”, da
edição número 198, de julho de 1996, em que se apresenta uma série de projetos de Marcos
Acayaba.
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Referências
172
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Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Anexo A
178
ANEXO A
Transcreve-se a baixo um texto escrito pelo arquiteto sobre sua metodologia
de trabalho e sua postura projetual, que foi apresentado na Bienal
Internacional do Chile, em Santiago, em 1997 e é parte de sua tese de
doutoramento, “Projeto, Pesquisa, Construção”, de 2004:
Estudei na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo entre 1964-1969. A Escola era então
relativamente nova: fazia apenas quatorze anos que tinha se
desmembrado da Escola Politécnica. Até então, em São Paulo,
o que havia era um curso que formava Engenheiros-Arquitetos
na Escola Politécnica. Em 1948, a Faculdade de Arquitetura
começou a funcionar separada da Escola Politécnica.
Evidentemente, nos primeiros anos a escola estava ainda muito
impregnada de um espírito politécnico. A maioria dos
professores vinha da Escola Politécnica e alguns da Escola de
Filosofia. Havia na escola uma grande ênfase em questões
técnicas. nhamos muitos professores engenheiros e, mesmo
entre os arquitetos, rios tinham formação politécnica. Nosso
professor mais importante, João Vilanova Artigas, era
engenheiro-arquiteto formado pela Escola Politécnica.
As questões técnicas, de estrutura, dos processos de produção e
da industrialização da construção eram muito importantes e
frequentemente orientavam nossos projetos no atelier. A
proposta da Faculdade era de formar profissionais que se
integrassem no processo de produção.
Minha experiência, com a formação que recebi na escola, com
trinta anos de prática profissional, fez com que eu viesse a
pensar o arquiteto como o primeiro operário que participa do
Arquitetura e domínio técnico: a prática de Marcos Acayaba
Anexo A
179
processo da obra. A sociedade identifica a necessidade de
uma edificação qualquer, elabora um programa e o
encaminha ao primeiro operário, o arquiteto. Ao arquiteto cabe
a tarefa inicial, a concepção do projeto, instrumento necessário
para a realização da obra. Como o primeiro operário, nas suas
operações, na prancheta u no computador, o arquiteto deve
considerar cuidadosamente as operações que seus
companheiros, os outros operários, vão realizar depois. Da
mesma forma, além de considerar todas as tarefas a realizar na
obra, deve avaliar criteriosamente todo material que não seja
absoltamente indispensável para a realização da obra. Todo
material deve trabalhar na plenitude de suas características.
Nos meus projetos, em paralelo à interpretação da encomenda
do cliente, transcrita no programa de necessidades, procuro
inicialmente identificar e analisar as características locais, a
acessibilidade, o entorno, a paisagem, o clima, enfim todas as
condicionantes geográficas; e também as condicionantes
tecnológicas como a disponibilidade de fornecimento de
materiais e a qualidade da o de obra. Procuro, a partir da
análise conjunta de todas as condicionantes, deduzir qual a
melhor estratégia para a realização da obra. Assumo, então, a
estratégia de obra, onde o processo de produção é
fundamental, como uma referência, como uma bússola, para
orientar a concepção e desenvolvimento do projeto.
Dentro dessa filosofia de trabalho, tenho desenvolvido projetos
onde a preocupação com a construção e seus processos de
produção são determinantes. Tenho procurado aproveitar as
oportunidades profissionais para realizar ensaios, para
desenvolver novas técnicas e novos conceitos. São projetos com
caráter de pesquisa.
Pra mim, projeto sempre implica em pesquisa, complementada
e aferida na construção (ACAYABA, 2004, v.1, p. 21-22).
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