RESUMO
O bacurizeiro (Platonia insignis, Mart), árvore nativa da Amazônia é encontrada
de forma subespontânea e explorada de maneira extrativista nas regiões norte e nordeste
do Brasil. Seus frutos são utilizados na produção de polpas, néctares, refrescos,
sorvetes, sobremesas, doces, licores, balas e muitos outros produtos. O processo fabril
aproveita somente a polpa, que pode variar de 10 a 18% do fruto, sendo o restante,
constituído de cascas (64 – 70%) e sementes ou caroços (13 – 26%), gerando um grande
volume de lixo sem nenhum aproveitamento. Foi realizada uma caracterização físico –
química das cascas e sementes do Bacuri para apontar potenciais aplicações na indústria
química e de alimentos. Os resultados desse trabalho mostraram que as sementes ou
caroços dessa fruta contêm em média 31,88 ± 0,60% de lipídeos, o que o habilita para
sofrer processo de prensagem. Os teores de proteína de casca (2,78 ± 0,28) e semente
(3,43 ± 0,87) são elevados se comparados a outras frutas ou outros resíduos de frutas, já
pesquisados. A fibra insolúvel dos resíduos mostrou valores elevados se comparadas a
outras cascas e caroços com aproveitamento em estudo. Os resultados de pectina
encontrados foram bons se comparados a outros resíduos não cítricos e mostraram bom
potencial de exploração dessa importante fibra solúvel. Os resultados para minerais
foram heterogêneos, mas mostraram elevados teores de Mg
+2
, Mn
+2
, Na
+
, K
+
e Ca
+2
. Foi
utilizado processo de prensagem sob aquecimento brando para extrair o óleo,
constituído de duas porções, uma fração sólida e uma líquida. O perfil em ácidos graxos
dessas frações é formado por ácidos graxos saturados e insaturados em proporções
equivalentes, com destaque para os ácidos palmítico (40,6%), oléico (28%) e
palmitoléico (22,1%), com potencial aplicabilidade em alimentos e cosméticos. Esse
óleo prensado tem composição semelhante ao óleo tradicionalmente obtido por extração
com solvente, mas pode ser obtido com prensas de pequeno porte, o que torna viável
seu emprego pelas populações envolvidas no processo de coleta, sem maiores riscos
ambientais. O óleo de bacuri foi transesterificado e demonstrou capacidade de
conversão em biodiesel, confirmada por análise cromatográfica. As cascas foram
convertidas, por pirólise, em carvão vegetal apresentando boa capacidade de adsorção.
Os resíduos da exploração do Bacuri apresentaram resultados promissores para a sua
aplicação em diversos produtos e segmentos, e mostraram que a exploração direcionada
dos insumos provenientes desse fruto podem ser uma alternativa de ação sustentável,
gerando renda para as populações que hoje praticam o extrativismo do bacuri, e
agregando valor a um resíduo agrícola, com impacto direto na economia e no meio
ambiente da região produtiva.
Palavras Chave: Bacuri, aproveitamento de resíduos, exploração sustentável.