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No que concernem às iniciativas para a solicitação do tombamento do perímetro urbano de
Cachoeira, não foi possível averiguar com precisão a origem das primeiras conjecturas por
conta da impossibilidade de acesso ao dossiê referente ao processo de tombamento da
cidade
41
. De acordo com o Sr. Rubens Rocha
42
, as iniciativas partiram da Prefeitura
Municipal, no período administrada por Ariston Mascarenhas, do Poder Legislativo
Municipal, da Loja Maçônica de Cachoeira e alguns membros da sociedade.
Já alguns agentes locais com significativo histórico de participação e engajamento nas causas
sociais em Cachoeira, a exemplo dos senhores Raimundo Cerqueira, Luiz Claudio
Nascimento
43
e Marcelino Gomes
44
, asseguram que as ações para o processo de tombamento
da cidade surgiram das inquietações e mobilização de alguns poucos representantes da
sociedade civil e refugiados políticos da Ditadura Militar que se encontravam em Cachoeira, e
apontam o antropólogo Roberto Costa Pinho
45
, na época diretor da Fundação Casa Paulo Dias
Adorno, como um dos grandes mentores desse projeto. De acordo com a versão apresentada
isoladamente pelos citados cachoeiranos, foi organizado um esboço do projeto de
tombamento e, com o apoio do Deputado Estadual Edvaldo Brandão Correia, a proposta foi
encaminhada para a Assembleia Legislativa para a condução dos tramites legais e
burocráticos.
Segundo Fonseca (2005), normalmente, as solicitações de tombamentos eram provenientes do
próprio IPHAN, porém entre as décadas de 1970 a 1980 houve uma relevante incidência de
solicitações de tombamento requeridas por prefeituras e assembleias legislativas, em
decorrência dos políticos compreenderem a preservação como um mecanismo para viabilizar
41
Após várias solicitações oficiais à Superintendência do IPHAN na Bahia e longa espera, por conta da
justificativa equivocada de que não poderia ter acesso imediato ao processo de tombamento porque estava sendo
utilizado para análise de questões judiciais e emissões de pareceres, descobri apenas em março de 2010, em
conversa informal com um dos arquitetos que compõe o quadro do IPHAN, que não existe uma cópia do
processo de tombamento de Cachoeira na Bahia e que o dossiê e documentos relativos ao tombamento
encontram-se depositados no Arquivo Central do Instituto no Rio de Janeiro. Diante da inviabilidade de
deslocamento para o Rio de Janeiro em virtude de estar em plena realização do trabalho de campo, não foi
possível o acesso ao processo de tombamento para sanar as dúvidas e obter informações adicionais.
42
Aposentado, licenciado em História e Chefe do Escritório Técnico do IPHAN em Cachoeira entre os anos de
1978 a 1994. Entrevista realizada em 22/05/2010.
43
Historiador e mestre em Estudos Étnicos e Africanos com ênfase em antropologia, desenvolve pesquisas sobre
a história e a cultura do Recôncavo Baiano. Entrevista realizada em 07/10/2009.
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Rubono da etnia Jêje-mahin, dirige um terreiro de candomblé, diretor da Fundação Casa Paulo Dias Adorno e
ex-funcionário do Escritório Regional do IPAC em Cachoeira. Entrevista realizada em 23/03/2010.
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Participou do processo de implantação da Universidade de Brasília em 1961, integrou a equipe de Aloísio
Magalhães, criou e coordenou projetos na Fundação Pró-Memória relacionados à integração entre educação e
cultura e foi assessor especial de Gilberto Gil durante o seu primeiro mandado à frente do Ministério da Cultura.