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compadrio (fidelidade) com pessoas influentes, a fim de obter proveitos pessoais.
2
Arthur Ferreira Filho em sua obra Revoluções e Caudilhos, afirmava que,
etimologicamente, caudilho quer dizer chefe. Caudilho relacionava-se com cabeça, capitão,
cabo.
Para Rui Barbosa
3
, quer dizer chefe do partido ou cabeça de facção, especialmente o
que se assinala pela exageração de sua autoridade ou pela autocracia de seu mando.
Aurélio Porto
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define caudilho como guerreiro ou político cujas ideologias refletem
somente seus pendores pessoais.
A lei suprema é o fio da espada. E projeta-se na História cercada pelas marés
crescentes de sangue.
Para Lucas Ayarragaray
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o caudilho é a bandeira, o princípio, o programa e o fim do
seu partido.
Já Moysés Velhinho negava a existência de verdadeiros caudilhos na História do Rio
Grande do Sul. Para ele, o caudilho rio-grandense era um respeitador da lei e de certas
convenções sociais que têm força de lei.
Tinha as seguintes características: a) homem de campo; b) homem a cavalo; c) político
2
CREMONESE, 2009; COLUSSI, 2009.
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Esquecida ou abolida essa noção elementar, os governos consagrados por suas Cartas à forma republicana, mas,
realmente assentados na intolerância, derivam aceleradamente para esse estado singular de cronicidade na
epilepsia, cujos fenômenos o senhor Lucas Ayarragaray descreveu, com lampejos de Tácito, em seu livro sobre
A Anarquia Argentina e o Caudilhismo, e um dos vossos maiores historiadores, o senhor Vicente López,
caracterizou em termos penetrantes, quando trata, em sua grande História da República Argentina, do ―descenso
fatal do organismo político no rumo da tirania absoluta‖. A dominação espanhola não aparelhara os povos, como
a colonização britânica da América do Norte, para o regímen da liberdade. Da sujeição absoluta às formas
embrionárias da obediência passiva, não se havia de chegar sem transições dolorosas à autonomia no governo do
povo pelo povo. A semente cultivada pelo truculento despotismo dos reis absolutos germinou logicamente no
brutal despotismo dos caudilhos. Daí esse ―poema bárbaro‖ de servidão e desordem, essa ―subversão ciclópia‖, a
―gauchocracia‖, que agravam a anarquia até a demência, exaltam a crueldade até o delírio, produzem a mazorca
e o caudilho, tingem de sangue a história dos pampas e, com a superstição de um militarismo selvagem, com os
costumes de um partidismo atroz, dividem a sociedade em verdugos e proscritos, classificam os cidadãos em
patriotas e traidores, entronizam no poder os mandões sanguissedentos e despovoam de espíritos cultos o país,
povoando com eles o desterro, onde rutilam, em constelações deslumbrantes, vossas estrelas de primeira
magnitude: os Sarmientos, os Alberdis, os Rivadavias, os Tejedores, os López, os Mitres, os Varelas, os Canés,
os Echeverrías, os Lavalles, os Gutiérrez, os Indartes, os Irigoyens e tantos e tantos outros, onde se concentram e
de onde se desparzem os raios mais luminosos da inteligência argentina. Todos os que se não alistam nessa
demagogia de crueza e pilhagens estão ―fora da proteção das leis‖, são ―execrados criminosos‖, nutrem
―sentimentos infames‖, passam pelos ―entes mais vis da sociedade‖. Formam a categoria dos ―imundos e
selvagens‖. Na literatura virulenta que emana desses paroxismos sinistros, a pletora do ódio fratricida introduz
esse vocabulário monstruoso, onde cada ultraje reflete as paixões mais tenebrosas da vesânia da força, armada
com as ―faculdades onímodas‖, as ditaduras tumultuárias, os plebiscitos grotescos, nos quais a unanimidade dos
votos recolhidos pelo Terror coroa os ―restauradores das leis‖, e os decretos de traição, que fulminam os mais
nobres representantes da cultura jurídica, ainda nascente, então, porém já viva, exuberante e radiosa. Vão já bem
longe, para a Argentina, esses dias malditos, de inenarrável negror. (Barbosa, 2009).
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PÔRTO, Aurélio. Citado por: FERREIRA FILHO, Arthur, 1986:15.
5
AYARRAGARAY, Lucas. La anarquía argentina y el caudillismo: estudio psicológico de los orígenes
nacionales, hasta el año 29. Buenos Aires: ediciones Félix Lajouane, 1904. Citado por: FERREIRA FILHO,
Arthur, 1986:15.