
Cinderela
(Irmãos Grimm, 2000)
Era uma vez um homem, que, ficando viúvo e tendo uma filha para acabar de criar, decidiu
se casar de novo. Escolheu então uma mulher muito grosseira e convencida, mãe de duas meninas tão
rudes e arrogantes quanto ela.
Morando na casa do viúvo, a mãe e as filhas se dedicaram a atormentar a pobre menina.
Tratavam-na com maus modos. Não admitiam que vestisse outra coisa além de trapos velhos e a
obrigavam a trabalhar como uma escrava. E assim passaram-se os anos.
Um dia, o rei daquele país, precisando que o filho se casasse, organizou uma festa e convidou
todas as moças do reino para um baile.
As irmãs de Cinderela passaram horas experimentando roupas, sapatos, jóias, penteados... A
filha do viúvo atendia aos pedidos das irmãs sempre com gentileza, mas só recebia repreensões em vez
de agradecimentos. “Ai, está me machucando, sua estúpida!”, gritava a mais velha ao ser penteada.
“Ainda bem que você não foi convidada, sua caipira!”, dizia a mais nova.
Quando as duas irmãs finalmente conseguiram entrar em seus vestidos novos e apertados,
saíram para o baile. Cinderela foi para seu cantinho perto do fogão e chorou. De repente, ao erguer o
rosto para enxugar as lágrimas, deparou-se com uma velha senhora de sorriso bondoso que trazia uma
varinha na mão.
“Sou sua fada madrinha”, ela anunciou. “Por que está chorando?”
“Porque todo mundo foi à festa menos eu...”
“Ora, você também vai... traga-me uma abóbora, por favor...”
Cinderela foi até o quintal e colheu a maior abóbora que encontrou. A fada madrinha tocou-a
com sua varinha de condão e transformou-a numa linda carruagem dourada. Depois tocou os seis
ratinhos que estavam numa ratoeira e os transformou em elegantes cavalos.
“Pronto, você já pode ir à festa!”
“Como? Com esses trapos?”
“Ora, que cabeça a minha,” disse a fada-madrinha, tocando-a com a varinha. Seus trapos
foram, então, transformados num rico vestido de fios de ouro e prata, e seus chinelos em um reluzente
par de sapatinhos de cristal. A fada-madrinha a acompanhou até a carruagem, recomendando-lhe:
“Lembre-se de sair da festa antes da meia-noite, porque depois o encanto vai terminar!”
Assim, Cinderela foi para o palácio. Todos olhavam para ela, sem saberem quem era.
Cinderela dançou com o príncipe o tempo todo, distraindo-se a tal ponto que só ouviu o relógio da
torre quando soou a primeira badalada da meia-noite. Assustada, saiu correndo e o príncipe correu
atrás, mas encontrou apenas um sapatinho de cristal.
Apaixonado, o príncipe anunciou que se casaria com a jovem que conseguisse calçar o tal
sapatinho. E foi pessoalmente experimentá-lo em todas as moças do reino. Por fim, chegou à casa do
viúvo. As duas irmãs tentaram a todo o custo enfiar o pé no delicado sapato, mas não conseguiram.
“Mora mais alguma moça aqui?”, o príncipe perguntou, já meio desconfiado.
“Não, só aquela maltrapilha imprestável que vive lá no meio das cinzas do fogão...”
“Chamem-na, por favor!”
As duas irmãs obedeceram, muito a contragosto, e Cinderela calçou o sapatinho, que lhe
coube como uma luva.