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INTRODUÇÃO
Um assunto que tem rendido muitos livros, artigos e congressos nos últimos anos
no que diz respeito à religião (e de forma mais específica, o Cristianismo) é a secularização. É
certo que este assunto não é tão recente limitando-se somente à segunda metade do século
XX. Pode ser encontrado nos séculos anteriores com outras nomenclaturas, como por
exemplo, Friedrich Nietzsche
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que o chamou de niilismo
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ou de ateísmo niilista
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. O niilismo
de Nietzsche tinha o seu viés negativo e o positivo. Rossano Pecoraro comenta:
[...] é um fenômeno negativo, que indica a decadência do homem ocidental
cujas origens remontam ao racionalismo socrático, à oposição entre “mundo
das Idéias” (sic) (ou formas) e “mundo sensível”, com a consequente
depreciação desse último estabelecida por Platão; e ao cristianismo, definido
como “platonismo para o povo”, acusado de impor uma moral de renúncia e
da submissão e de desvalorizar e mortificar a vida e os seus valores em
nome, e na esperança, de um ideal transcendente, uma salvação, uma
redenção. Por outro lado, o niilismo é positivamente avaliado, reconhecido
como um “método genealógico” que o próprio Nietzsche utiliza para demolir
os ídolos da tradição, desmascarar as falsidades e imposturas dos valores e
das verdades tradicionais, e cujo movimento anuncia a separação do homem
do advento do “além-do-homem” [...] (PECORARO, 2007, p.18).
Os “ídolos” aos quais Nietzsche volta sua atenção como descreve sua obra
Crepúsculo dos ídolos, envolve “tudo o que até então era tido como verdade típica não só do
pensamento metafísico como também do pensamento moderno” (PENZO, 2002, p. 28).
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Em “A Gaia Ciência”, Nietzsche, narra a história do louco com sua lamparina em punhos saiu gritando
“Procuro Deus! Procuro Deus”. As mais diversas respostas zombeteiras foram dadas. E o louco então,
responde: “...vou lhes dizer! Nós o matamos, você e eu! Somos nós seus assassinos! Mas como fizemos isso?
Como conseguimos esvaziar o mar? Quem nos deu uma esponja para apagar o horizonte inteiro? *...+”
(NIETZSCHE, 2008, § 125). Essa narrativa de Nietzsche o coloca como um dos principais (senão o principal)
pensadores dos tempos modernos a fazerem uma afirmação em relação à religião e ao declínio,
especificamente à religião cristã. Os teólogos radicais (Movimento da Morte de Deus, na década de 1960)
buscaram em Nietzsche a base para suas argumentações, e por estes ele é considerado um “profeta”. Rubem
Alves embora não deva ser enquadrado com tal movimento, contudo, vê Nietzsche como um “profeta” (ALVES,
1975, p.49).
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Rossano Pecoraro afirma: “Não é nenhum exagero considerar Nietzsche o maior profeta e teórico do niilismo.
Com efeito é com ele que o niilismo se eleva histórica e conceitualmente a objeto e questão cardeais da
especulação filosófica, quase um ‘ponto de estrangulamento’ – a parte crítica de um problema cuja resolução
abriria caminho para a compreensão, a ‘solução’ do todo” (PECORARO, 2007, p.17).
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Urbano Zilles quando faz uma crítica à crítica de Nietzsche e afirma que ele “não fundou escola própria na
filosofia. Entretanto exerce influência profunda no século XX. Pode ser comparado a Marx e a Freud. Os três
têm em comum, embora por diferentes caminhos, a luta contra a ilusão religiosa, contra o cristianismo e os
valores morais e contra uma ordem de verdades eternas. Nietzsche influencia nos meios intelectuais, nos quais
sua atitude rebelde atrai” (ZILLES, 1991, 179).