
Alguns membros da YBA redescobrem a necessidade do uso de
arquétipos universais e inevitáveis. Estes são utilizados de modo articulado e
transformados em arte representacional, ou ainda, são suprimidos, com o risco
de simplesmente dar uma nova roupagem às alegorias tradicionais
2
,
conferindo-lhes certo “ar contemporâneo” e falso, ao invés de propor novas
investigações sobre os temas do passado
3
. As narrativas não se prestam à
exaltação de eventos nem à grandiosidade de um homem envolvido em ações
nobres. Inexiste uma moral implícita, as alegorias, nem sempre identificáveis
tangenciam histórias difusas, possibilitando um labirinto de especulações
4
.
Essas narrativas, muitas vezes, são utilizadas sob o pretexto para o “retorno à
pintura” e ao “exercício do retrato de uma visão particular”
5
.
O corpo retorna ao cenário artístico e é, geralmente, dilacerado e
disforme. Apresenta um desequilíbrio perturbador, um aspecto de fragilidade e
cansaço
6
. Na representação pós-moderna, a figura humana está recortada e
fora do centro da composição. O homem deixa de ser o centro e a medida de
todas as coisas, resta-lhe somente observar atônito o cotidiano, na tentativa de
dar o seu próximo e indeciso passo, carregado de obscuridade e melancolia,
mas, paradoxalmente, com certa dose de ironia
7
.
A dúvida e o ceticismo pairam sobre qualquer tentativa de imposição
de “grandes verdades”, resta à autoconsciência perceber que a inocência se
perdeu e que será necessário “ir além”, não se prendendo às teorias e às
descobertas científicas
8
. É necessária uma aceitação, sem restrições, às
diversas manifestações culturais advindas das várias camadas sociais. Essa
atitude torna-se contrária ao modernismo que propõe uma elite “avant gard”
versus uma cultura de massa, sem possibilidades de pontos de contato. Apesar
da melancolia constante, existe uma vontade de restabelecer certa paz social,
2
A alegoria pós-moderna é a sugestão implícita de uma história contemporânea, sob o disfarce
de uma narrativa histórica e moral. Idem.
3
Idem.
4
Idem.
5
Idem.
6
CANTON, Katia. “A Pulsação do Nosso Tempo – a Arte Contemporânea Supera as Divisões
do Modernismo e Reflete o Espírito de Nossa Época, Ocupada em Lidar com a Identidade:
Corpo, Afeto e Memória”. In: AJZENBERG, Elza. América, Américas – Arte e Memória. São
Paulo: MAC USP/PGEHA, 2007, p. 133.
7
MC ROBBIE, Angela (org.). Back To Reality? Social experience and cultural studies.
Manchester: Manchester University Press, 1997.
8
LYOTARD, Jean-François. A Condição Pós-Moderna. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.