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Tracey Emin, Detalhe de Outside My Self (Monument Valley), 1994
Fotografia em vinil (122 x 183 cm)
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Programa de Pós-Graduação Interunidades
Em Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo
ARTE CONFESSIONAL DE TRACEY EMIN
German Goytia Carmona Júnior
São Paulo
2009
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Programa de Pós-Graduação Interunidades
Em Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo
ARTE CONFESSIONAL DE TRACEY EMIN
German Goytia Carmona Júnior
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação Interunidades em
Estética e História da Arte da Universidade de
São Paulo – PGEHA-USP, na Linha de Pesquisa
Teoria e Crítica da Arte, sob a orientação da
Profa. Dra. Elza Maria Ajzenberg.
PGEHA
São Paulo
2009
FOLHA DE APROVAÇÃO
Autor: German Goytia Carmona Júnior
Título: A Arte Confessional de Tracey Emin
Dissertação defendida e aprovada em: ____ /____ /_______ pela banca
examinadora:
______________________________________
______________________________________
______________________________________
Para
German e Olga Maria Goytia
Zélia e Caetano Franco
Lia e Ricardo Goitia
AGRADECIMENTOS
Profa. Elza Maria Ajzenberg
Alecssandra Matias de Oliveira
Neusa Brandão
Prof. Kabengele Munanga
Profa. Daisy Peccinini
Prof. Victor Aquino
Olga Maria Goytia
German Carmona
Zélia de Castro Franco
Nelma de Castro Franco
Zélia Fátima de Castro Franco
Fernando Giudice
Pablo Carmona
Marcos Ajzenberg
Laura Müller
Maria Angélica
RESUMO
Essa investigação discorre sobre o contexto da arte
contemporânea inglesa, examinando, de modo especial, a produção
de um dos nomes de maior destaque dos chamados Young Britsh
Artists, a artista plástica Tracey Emin.
Como uma contadora de histórias, cujo assunto a ser
recontado é a sua própria vida, Emin estabelece um diálogo
generoso entre o espectador e a obra explorando emoções
universais. Em suas propostas, sua autobiografia está sempre
presente, quase como uma “terapia”, revelando diversas
características da pós-modernidade, como a constante nostalgia;
dramatização de suas questões morais; individualismo exacerbado,
um constante uso da ironia e de táticas para provocar polêmicas.
Emin vive e alimenta-se de seu próprio trabalho e convive
com a celebridade que alcançou no contexto estético inglês
contemporâneo.
Dessa maneira, o objetivo dessa pesquisa concentra-se em
dispensar atenções sobre a poética de Emin, dona de uma trajetória
singular que reúne em sua produção artística elementos
paradigmáticos para a arte contemporânea. O que se pretende,
acima de tudo, é a compreensão da estética britânica a partir dos
anos de 1990 e seus desdobramentos na arte atual.
ABSTRACT
This research discusses the context of the contemporary
British art, specifically examining the work of one of the most
renowned names among the Young British Artists, Tracey Emin.
As a story teller, whose subject to be told is her own life,
Emin establishes a generous dialogue among audience and her
work, exploring universal feelings. Among her artistic proposals, her
autobiography is always presented, almost as a “ therapy”, revealing
various characteristics of post-modernity, such as the constant
melancholy; the dramatization of moral questions; exacerbated
individualism; constant use of irony e tactics to cause polemics.
Emin lives and feed herself from her own work, dealing with
the celebraty status she reached within the contemporary British
aesthetic context.
The purpose of the present research focuses on Emin´s
poetics, whose singular work combines many paradigmatic
elements for contemporary art. Above all, it soughts a
compreehension of the British aesthetics from the 1990s onwards
and its developments among the current art.
PALAVRAS-CHAVE
Arte Inglesa; Arte Contemporânea; Young British
Artists; Tracey Emin
KEY WORDS
English Art; Contemporary Art; Young British Artists;
Tracey Emin
SUMÁRIO
Introdução
12
Os Antecedentes e a Nova Geração Inglesa 18
Influência da Arte Pop 19
Young British Artists 28
Charles Saatchi e os Novos Britânicos 37
A Arte de Tracey Emin
43
Vida e Obra 44
Obras em Destaque
71
Exporation of the Soul 72
My Bed 78
Conclusão
83
Referências Bibliográficas
86
Anexos
93
Lista de obras 94
Exposições Individuais 99
Exposições Coletivas 103
Prêmios 113
“Acredite na sua própria memória”.
Tracey Emin
12
INTRODUÇÃO
Grandes transformações simbólicas ocorrem mundialmente a partir da
década de 1980, atingindo seu ápice nos anos de 1990. O colapso dos regimes
socialistas, a emergência do capital especulativo e o “encolhimento” das
distâncias através das tecnologias contribuem para a formação da
contemporaneidade como desenraizamento e deslocamento das relações
emocionais. O período também é marcado pela globalização, pela abertura dos
mercados e pelas economias internacionalizadas.
O campo artístico é tomado por uma sensação de descontinuidade,
desencaixe e fragmentação. A contemporaneidade gera um sentimento de
pouca “intimidade” com a realidade, ocasionando como contra-resposta o
crescente desejo de expressão e busca de sentido pessoal que permeia a
estética dos anos de 1990. O debate entre questões modernas e, agora, pós-
modernas que se inicia na década de 1980, toma maior força na década
posterior. Aspectos narrativos, autobiográficos e autorreferenciais, tais como as
relações que envolvem a memória, o corpo e a própria história de vida do
artista são incorporados às poéticas de forma decisiva.
Londres berço da Revolução Industrial e também de movimentos
contestatórios, como por exemplo, os punks (originários da década de 1970,
mas que renova sua proposta constantemente) torna-se palco efervescente
da atuação de jovens artistas que aquecem a cena cultural e aceitam a
mercantilização de suas obras em galerias especializadas. Os Young British
Artists (YBAs), do qual Tracey Emin é artista integrante, dão nova orientação
às artes plásticas britânicas e mostram ao restante do mundo valores entre o
moderno e o pós-moderno que estão impregnados na arte atual
1
.
1
STALLABRASS, Julian. High Art Lite: British Art in the 1990s. Londres: Verso, 2001, p. 32 e
seguintes.
13
Alguns membros da YBA redescobrem a necessidade do uso de
arquétipos universais e inevitáveis. Estes são utilizados de modo articulado e
transformados em arte representacional, ou ainda, o suprimidos, com o risco
de simplesmente dar uma nova roupagem às alegorias tradicionais
2
,
conferindo-lhes certo “ar contemporâneo” e falso, ao invés de propor novas
investigações sobre os temas do passado
3
. As narrativas não se prestam à
exaltação de eventos nem à grandiosidade de um homem envolvido em ações
nobres. Inexiste uma moral implícita, as alegorias, nem sempre identificáveis
tangenciam histórias difusas, possibilitando um labirinto de especulações
4
.
Essas narrativas, muitas vezes, são utilizadas sob o pretexto para o “retorno à
pintura” e ao “exercício do retrato de uma visão particular”
5
.
O corpo retorna ao cenário artístico e é, geralmente, dilacerado e
disforme. Apresenta um desequilíbrio perturbador, um aspecto de fragilidade e
cansaço
6
. Na representação pós-moderna, a figura humana está recortada e
fora do centro da composição. O homem deixa de ser o centro e a medida de
todas as coisas, resta-lhe somente observar atônito o cotidiano, na tentativa de
dar o seu próximo e indeciso passo, carregado de obscuridade e melancolia,
mas, paradoxalmente, com certa dose de ironia
7
.
A dúvida e o ceticismo pairam sobre qualquer tentativa de imposição
de “grandes verdades”, resta à autoconsciência perceber que a inocência se
perdeu e que se necessário ir além”, não se prendendo às teorias e às
descobertas científicas
8
. É necessária uma aceitação, sem restrições, às
diversas manifestações culturais advindas das várias camadas sociais. Essa
atitude torna-se contrária ao modernismo que propõe uma elite “avant gard”
versus uma cultura de massa, sem possibilidades de pontos de contato. Apesar
da melancolia constante, existe uma vontade de restabelecer certa paz social,
2
A alegoria pós-moderna é a sugestão implícita de uma história contemporânea, sob o disfarce
de uma narrativa histórica e moral. Idem.
3
Idem.
4
Idem.
5
Idem.
6
CANTON, Katia. “A Pulsação do Nosso Tempo a Arte Contemporânea Supera as Divisões
do Modernismo e Reflete o Espírito de Nossa Época, Ocupada em Lidar com a Identidade:
Corpo, Afeto e Memória”. In: AJZENBERG, Elza. América, Américas Arte e Memória. São
Paulo: MAC USP/PGEHA, 2007, p. 133.
7
MC ROBBIE, Angela (org.). Back To Reality? Social experience and cultural studies.
Manchester: Manchester University Press, 1997.
8
LYOTARD, Jean-François. A Condição Pós-Moderna. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.
14
incluindo grupos antes excluídos. Na arte, emergem “novos realismos” que
exaltam as diferenças e não as ignora.
Na tradição moderna, a busca pelo realismo sempre adquire um papel
paradoxal e um objetivo contraditório. Na medida em que o artista copia com
rigor o que via, seu trabalho perde sua unidade. Na contemporaneidade,
especialmente, com a ação dos YBAs, regras e convenções transformam-se
em formas híbridas e ideais voltadas aos “novos realismos”. Ernst Gombrich,
em seu livro Arte e Ilusão, afirma que existem diferentes realismos pictóricos
baseados em diversas convenções que dialogam entre si (“making and
matching” e “schema and correction”), ou, ainda, que são dependentes da
escola, da tradição do artista e da qualidade do objeto a ser capturado.
9
Charles Jencks, por sua vez, apresenta três tipos de realismos, desenvolvidos
a partir do passado, que dominaram o final dos anos de 1970 e início dos anos
de 1980
10
e que apresentam seus desdobramentos na geração de artistas
novos ingleses durante a década de 1990.
Realismo Psicológico: o corpo é apresentado como metáfora
da existência, em tempo melancólico e aturdido. Posicionado
fora do centro da tela como movimento acentuado, rotacionado,
cortado e transitório. As composições o apresentam
hierarquias entre seus elementos;
Realismo Abstrato ou Arquétipico: com vários seguidores
durante o desenvolvimento da Arte Pop. Aborda temas do
cotidiano em sua essência, sem tomar partido ou fazer
comentários de cunho social;
Realismo Urbano: existe uma neutralidade nas composições;
uma conjunção entre o efêmero e o permanente; transparência e
imagens passantes; monumentalidade em temas do cotidiano;
alienação e, humor.
9
GOMBRICH, Ernst H. Arte e Ilusão: Um Estudo da Psicologia da Representação Pictórica.
Martins Fontes: São Paulo, 1986, p. 83 e seguintes.
10
JENCKS, Charles. Post Modernism: the new classicism in art and architecture. London,
Academy, 1987, p. 46 e seguintes.
15
Na tentativa de encontrar elos entre a poética de Tracey Emin e outras
manifestações contemporâneas é possível associar a produção da artista ao
realismo psicológico e aos desdobramentos da Art Pop inglesa. Corpo, gênero,
sexo e memórias são temáticas complexas que motivam a artista. Suas obras
questionam as imagens tradicionais do corpo e da condição humana. O
ceticismo e a urbanidade também integram a poética da artista.
Próxima a Tracey Emin e à geração que a acompanha estão os efeitos
da Arte Pop, que na Inglaterra teve fértil ação, durante as décadas de 1950 e
1960. Na sociedade de classes inglesa, o pesado histórico mediatizado, a
cultura de massa e do consumo impulsionam atributos estéticos ligados à
fotografia como instrumental, à tecnologia, à inserção de textos e símbolos nos
objetos artísticos, à adoção de imagens multievocativas, à participação do
espaço e à ambientação aspectos que podem ser encontrados na produção
artística de Emin.
Autores como Charles Jencks e Ernst Gombrich ajudam a pensar as
propostas de Tracey Emin. Entretanto, o quadro de reflexões sobre a artista
ganha maior sentido se acrescido de pensamentos que remetem à visão do
conhecido teórico inglês Hebert Read que assinala:
“(...) a arte é eternamente importuna, permanentemente
revolucionária. Assim é porque o artista (...) sempre confronta o
desconhecido e o que traz de volta dessa confrontação é uma
novidade (...) uma nova visão de vida”.
11
Nessa perspectiva aberta por Read, inserem-se diversos fatores que
caracterizam a Arte Inglesa Moderna e Contemporânea, enfatizando também
as contribuições inovadoras de Tracey Emin. Outro fator que Read destaca
reside no fato do artista ser o “que os alemães chamam de ein rüttler’, um
perturbador da ordem vigente”
12
. Nesse sentido, pode-se indagar em relação à
artista Tracey Emin: por que a sua obra perturba? Confunde? Quais elementos
ela utiliza para as suas metáforas?
11
READ, Hebert. Arte e Alienação: o Papel do Artista na Sociedade. Rio de Janeiro: Zahar,
1968, p. 302 e seguintes.
12
Idem, p. 30.
16
Como questões centrais indagam-se: quais relações podem ser
estabelecidas entre a produção de Tracey e as questões da Arte Pop? Que
aspectos podem ser conectados entre a nova geração dos artistas ingleses e
Tracey? Como se manifesta a singularidade dessa artista frente aos Young
British Artists? Para encaminhar respostas a essas questões, autores como
Ernst Gombrich, Hebert Read, Charles Jencks e Lucy Lippard dão sustentação
ao presente estudo que tem como objetivo a análise da poética de Tracey Emin
e das transformações na produção simbólica ocasionadas pelos YBAs para a
contemporaneidade. Busca-se identificar as interações entre manifestações
estéticas e elementos, tais como o midiático e a memória na obra de Emin,
registrando discussões contemporâneas no campo artístico-cultural que
envolve pontos interdisciplinares.
A pesquisa, em primeira instância, realiza um levantamento
bibliográfico e uma leitura sistemática sobre os membros da YBA. A partir
desse foco, o trabalho concentra-se na organização do material em suas
diversas interfaces, especialmente, os documentos que expõe: as várias e
possíveis leituras dos elementos que compõem a poética desse grupo de
artistas britânicos.
Mencione-se, ainda, a necessidade de realização de uma investigação
específica sobre a poética da artista Tracey Emin que concebe obras-
referências e que demonstram a potencialidade da arte atual britânica. Os
contatos com fontes primárias têm prioridade no âmbito desse estudo. Fontes,
tais como documentos, obras de arte, registros fotográficos e fílmicos são
explorados para que se possa extrair o máximo de informações possível.
Destaquem-se visitas às Galerias Saatchi e White Cube que servem como
fonte para o entendimento da estética londrina contemporânea.
Na pesquisa, ora apresentada, procura-se organizar os aspectos
fundamentais das poéticas dos YBAs e, volta-se atenção para a trajetória de
Tracey Emin como tentativa de compreensão da arte atual. Desse modo, o
estudo articula sua argumentação através da seguinte estrutura:
17
Os Antecedentes e a Nova Geração Inglesa aborda-
se um perfil da “jovem arte inglesa”, assinalando suas principais
características, a partir da Arte Pop, e os desdobramentos que
podem ser sentidos na poética de Tracey Emin. Nessa parte do
trabalho, dedicam-se atenções para a formação, os objetivos do
Young British Artists e, particularmente, para a união entre os
artistas membros da YBA e do galerista Charles Saatchi. A
seleção do galerista, a mercantilização das obras de arte e a
divulgação desses artistas são fatores que agem direta e
indiretamente sobre suas produções artísticas.
Arte de Tracey Emin nessa parte, o levantamento de
dados biográficos torna-se essencial, uma vez que a artista
assumidamente transforma sua arte em espelho de sua vida, ou
seja, sua arte confessional está envolvida com sua esfera íntima
de modo inseparável. Vida e obra, em Tracey Emin, não são
somente um lugar comum ou força de expressão, mas algo
emblemático e complementar que desvenda a poética de arte.
Obras em Destaque Examinam-se da concepção à
produção de três obras paradigmáticas de Tracey Emin:
Exploration of the Soul (1994) e My Bed (1998). Posteriormente,
aprofunda-se a reflexão através da análise das obras dos
elementos que marcam a poética da artista: memória pessoal,
acidez, choque e controvérsia.
18
Os Antecedentes e a Nova Geração Inglesa
19
Influência da Arte Pop
Na Inglaterra, uma corrente preliminar na direção da Arte Pop
manifesta-se entre os anos de 1949 e 1951, quando Francis Bacon utiliza a
fotografia como elemento ativo em sua produção. Bacon criara uma série de
cabeças gritantes inspiradas, parcialmente, numa fotografia extraída do filme
Encouraçado Potemkin: a imagem da ama ferida na vista, e com a luneta
partida, na sequência das escadarias de Odessa
1
. Nessa obra, embora
mesclada a outros subsídios, a referência fotográfica está em evidência,
transformando-se em alvo de debates no cenário artístico da época. A partir
dessa experiência, outras fontes fotográficas o empregadas por Bacon,
especialmente os estudos de movimento de pessoas e animais realizados pós-
1890 por Edward Muybridge
2
.
A inovação nas citações de Bacon reside no reconhecimento da origem
fotográfica da imagem – essa evocaria uma realidade que boa parte do público
teria prévio conhecimento. De fato, a sua arte nesse período apresenta uma
tensão entre o estilo de pintura formal segundo modelos tradicionais e imagens
de movimento e de violência baseadas na atualidade
3
. Na cada de 1950,
essa condição coloca Bacon como sendo o único pintor inglês de uma geração
anterior respeitado por jovens artistas de Londres, tais como: Moore,
Nicholson, Pasmore, Surtherland (o equivalente na idade a De Kooning,
Newman, Pollock, Still)
4
. O uso de imagens fotográficas, bem como a sua
citação e transformação parcial, contribui certamente para o avanço das ideias
da Arte Pop inglesa, embora Bacon não seja um artista pop
5
.
1 ALLOWAY, Lawrence. “O Desenvolvimento da Arte Pop Britânica”. In: LIPPARD, Lucy R. A
Arte Pop. São Paulo: Verbo/EDUSP, 1976,p. 32 e seguintes.
2 Idem.
3 Idem.
4 Idem.
5 Idem.
20
No movimento pop inglês, a fotografia, como documento da realidade e
fonte de imagens fantásticas é tomada para além das experiências de Bacon.
Os artistas ingleses consideram que, por mais admirável que fosse a arte de
Bacon, o Encouraçado Potemkin não é um filme atual e Muybridge, embora
mágico, o passa de uma figura datada. É necessário discutir as questões
inerentes ao seu tempo: a cultura de massa, os meios de comunicação e a
invasão de imagens trazidas pelo consumo em larga escala. Desdobramentos
dessa nova percepção da arte serão sentidos nas propostas estéticas dos
Young British Artists (YBAs), particularmente, nas concepções de Tracey Emin
que trabalha com grandes referências fotográficas em suas obras.
Em 1953, numa exposição intitulada Paralelo da Vida e da Arte,
constituída por cem imagens patentes no Institute of Contemporary Arts de
Londres, a variedade da inspiração fotográfica é subitamente posta em
evidência. A exposição inclui um estudo de movimento (Marey ao invés de
Muybridge, um homem nu numa bicicleta), radiografias, documentos
antropológicos e desenhos infantis
6
. Esses trabalhos, em grandes dimensões,
são suspensos nas paredes da galeria e no teto, circundando o expectador,
numa profusão de imagens de toda a espécie, dispostas desordenadamente
sem qualquer conexão entre si. A exposição é organizada pelo artista Eduardo
Paolozzi, pelo fotógrafo Nigel Henderson, pelos arquitetos Alison e Peter
Smithson, todos subsequentemente relacionados com o estudo da cultura pop
na Inglaterra.
Catálogo e fotografia da exposição Parallel of Life and Art, 1953.
7
6 Idem.
7 http://www.independentgroup.org.uk/contributors/smithson/index.html Acesso em 22 de
novembro de 2009.
21
O Institute of Contemporary Arts é, durante os anos de 1950, um lugar
de encontro de jovens artistas, arquitetos e escritores que de outro modo não
tem onde trocar impressões. Deve-se mencionar que Londres não dispõe da
vida nos cafés, como Paris, nem lugares apropriados para exposições, como
Nova Iorque. Uma organização pequena e informal, o Grupo Independente
(GI), é criada dentro do Instituto com o objetivo de promoção e debate de
novas ideias. A primeira reunião desse grupo acontece sob a orientação de
Peter Reyner Banham, no Inverno de 1952-1953, tendo como tema de
discussão o emprego de novas técnicas. O Grupo Independente não tem
atividades no ano seguinte, voltando a reunir-se em 1954-1955, sob a
orientação de John McHale e Lawrence Alloway, para se ocupar do tema da
cultura popular.
Sobre a escolha do tema “cultura popular”, Lawrence Alloway traça
uma narrativa sobre os principais acontecimentos:
(...) Concordou-se neste tópico após uma conversa ocasional
em Londres em que participaram Paolozzi, os Smithsons,
Henderson, Reyner Banham, Hamilton, McHale e eu.
Descobrimos que tínhamos em comum uma cultura vernacular
que persistia para além de qualquer interesse ou competência
nossa em arte, arquitetura, decoração ou crítica de arte.
8
Os participantes do Grupo Independente encontram como ponto de
contato e interesse mútuo a questão da cultura urbana de produção em massa:
filmes, publicidade, ficção científica e música pop.
Não sentíamos desagrado pelos padrões da cultura comercial
como se verificava na maioria dos intelectuais: aceitávamo-los
como um fato, discutíamo-los em pormenor e esgotávamo-los
com entusiasmo. Um dos resultados das nossas conversas foi
retirarmos a cultura pop do domínio da “evasão”, da “pura
distração”, da “descontração”, e abordá-la com a seriedade
com que se discute a arte. Estes interesses colocaram-nos em
oposição tanto aos que apoiavam a arte popular do país como
os antiamericanistas
9
.
8 Idem, p. 34.
9 Idem, p. 35.
22
Para esse grupo de intelectuais, “Hollywood, Detroit e Madison Avenue
produzem a melhor cultura popular”
10
. O que se pretende é retirar a cultura de
massa da esfera do entretenimento e transferi-la para o campo do debate
emergente. A proposta desses artistas concentra-se na criação de uma arte
“consumível”, que se quer tão séria como a arte permanente. Nesse ponto,
percebe-se o desconforto do indivíduo na uniformidade da sociedade de
consumo. Ou ainda, o surgimento de uma estética de consumo que se opõe
radicalmente às teorias artísticas idealistas e absolutistas.
Os temas do GI, na temporada de 1954-1955, incluem: Banham sobre
modelos de automóveis (Detroit e simbolismo sexual); os Smithsons sobre os
sonhos reais dos anúncios versus ideais arquitetônicos; Richard Hamilton
sobre os bens de consumo e Frank Cordell sobre a música popular.
Gradativamente, essas discussões levam ao conceito de que a arte pop vende
o desejo e não o produto. De certa forma, a primeira fase da Arte Pop em
Londres (1953-1958) está relacionada intimamente às ações do Grupo
Independente, no qual Paolozzi torna-se uma figura central, assim como
William Turnbull, Theo Crosby e Toni del Renzio.
Para além das referências fotográficas e da cultura popular, a primeira
fase da Arte Pop inglesa apresenta-se fortemente ligada à tecnologia, em
detrimento de ideias pastoris e primitivistas do neo-romantismo inglês. Em
1955, Homem, Máquina, Movimento, outra exposição no Institute of
Contemporary Arts, desta vez de Richard Hamilton, prescuta a explosão visual
do século XX como fonte inesgotável de imagens.
Detalhe do convite para a exposição Man, Machine and Motion, 1995
11
10 Idem.
11 http://www.tate.org.uk/research/researchservices/archive/icaarchive/history/40s50s.shtm .
Acesso em 22 de novembro de 2009.
23
Segundo Lawrence Alloway, a “imagem” torna-se uma palavra
poderosa, no período. Transforma-se em vocábulo utilizado para descrever
material visual evocativo de qualquer origem, com ou sem status de arte
12
.
Como a Arte Pop é, essencialmente, urbana e a cidade está repleta de
imagens (uma torrente de figuras e sons que a música, particularmente, o
rock´n roll, a publicidade, o cinema, a televisão e os jornais produzem), atribui-
se sentido ambíguo nessas obras não se discernindo se são objetos,
lembranças ou desejos. Tornam-se, muitas vezes, um conjunto polissêmico, no
qual a relação homem-objeto é exacerbada.
Na sua exposição, Hamilton explora as interfaces entre homens e
máquinas, utilizando fotografias, não como provas documentais, mas
também como fantasia enraizada na realidade humana. Essa fantasia,
propiciada pela profusão de imagens, surgirá, anos mais tarde, na YBA,
quando esses evocam as divergentes interações homem-máquina também
como meio de expressar seu desconforto frente à sociedade atual. Contudo,
naquela época, apesar da crescente aceitação das imagens e da tecnologia
midiática, não uma exposição clara da sua função em relação à arte, mas
apenas uma convicção da sua conexidade.
Em 1955, sob as repercussões das exposições Paralelo da Vida e da
Arte e Homem, Máquina e Movimento, Reyner Banham propôs pela primeira
vez em público a audaciosa expressão “o novo brutalismo”, numa tentativa de
atribuir uma teoria geral que abrangesse a pintura de Magda Cordell, a
escultura de Paolozzi e a arquitetura dos Smithsons. A expressão agita os
debates sobre arte e arquitetura no ambiente britânico durante algum tempo,
mas não se populariza. Simultaneamente à busca por uma teoria, novas
experimentações são incorporadas ao repertório pop, entre elas a introdução
do texto e de símbolos. O uso desses recursos está presente nas produções de
Eduardo Paolozzi e Richard Hamilton, no período.
Nesse ponto, assinala-se que nas obras dos YBAs, a inserção de
textos e símbolos é um recurso recorrente. A arte confessional de Tracey Emin
evoca principalmente a escrita, além de objetos simbólicos que possam
remeter o espectador às suas memórias afetivas. A obra Everyone I Have Ever
12 Idem, p. 37.
24
Slept with 1963-1995 (1995) é um exemplo dessa prática. Na instalação,
Tracey Emin escreve os nomes de todos aqueles que dormem com a artista
desde sua infância até 1995. A escrita remete às memórias e à afetividade de
Emin, ao passo que, a barraca chama o espectador a entrar em sua intimidade.
A principal distinção entre a inserção do texto e do símbolo na arte pop e na
atual concentra-se na mensagem que esta vincula: na arte pop, os textos e
símbolos pertencem à cultura de massa e, na arte, atual a narrativa torna-se
pessoal.
Ao retornar ao universo pop inglês, é possível perceber que os
progressos nas técnicas de impressão verificados no imediato pós-guerra
propiciam o uso de reproduções coloridas em magazines de papel lustroso de
grande circulação, ocasionando uma vasta rie de cores, em oposição aos
sóbrios materiais anteriormente utilizados. Técnicas como a colagem e a
abundância de objetos dispostos em uma cena são outros elementos
transpostos à arte. Os objetos passam a possuir uma imagem multievocativa,
formando uma ambientação. Nesse aspecto, a exposição Isto é Amanhã, em
1956, consolida e divulga os interesses ambientais latentes dos artistas
expostos em Paralelo da Vida e da Arte e Homem, Máquina Movimento.
Cartaz da exposição This is Tomorrow, 1956.
13
13 http://www.independentgroup.org.uk/contributors/smithson/index.html . Acesso em 22 de
novembro de 2009.
25
Richard Hamilton. Just What Is It that Makes Today´s Homes So Different? So Appealing?
1956.
Colagem (26 x 25 cm)
Sob esse prisma, a participação no espaço proposto por Hamilton,
McHale e John Voelcker ao construírem um modelo de arquitetura de parque
de diversões com falsa perspectiva, pavimento liso e luz escura no interior; o
exterior, coberto de citações da cultura popular, incluindo Marilyn Monroe, uma
enorme garrafa de cerveja, um robot recortado de 5,18 m de altura com uma
26
garota do filme publicitário relativo ao Planeta Proibido, antecipa as instalações
propostas, décadas mais tarde, pelos artistas contemporâneos britânicos.
Os artistas da segunda fase (1957-1961) a maioria dos quais encara
amistosamente os seus predecessores imediatos voltam sua atenção para o
próprio meio ambiente, considerando como essencial que a percepção do
mundo se modifica devido ao bombardeamento dos sentidos pelos emblemas,
cores e luzes das mídias. Acreditavam que seria possível ativar a experiência
das cenas vividas e dos objetos que nelas figuravam, por meio de imagens
“localizadas” e não mais interpretativas.
em 1960, a Galeria New Vision alberga um grupo de quatro artistas
George Corral, James Mellor, Tim Wallis e Raymond Wilson sob a direção
de Robert Freeman. Aceitando o fato de que a arte abstrata é um recipiente
ambíguo para a cultura pop, a galeria expôs não os trabalhos dos artistas, mas
também todo um material de imagens e cartazes que costumam cobrir as
paredes de seus ateliers. Assim, o visitante é posto em contato com a
ambiência própria de cada artista, ao mesmo tempo, em que examina suas
obras. De certa forma, a instalação My Bed (1998) de Tracey Emin, carrega
consigo essa herança dos ambientes pop. A artista tem em sua cama todos os
objetos que evocam seu estado emocional em cinco dias de forte depressão.
Ao lado da criação de ambientes e da fotografia, as imagens
cinematográficas têm profunda influência na segunda fase da Arte Pop (1957-
1961). O impacto dos filmes em tela gigante (a partir de 1954), nas produções
dos jovens artistas de então, perpetua-se através da década de 1950 na
Inglaterra, apesar do pessimismo dos críticos cinematográficos.
A anexação de formas pertença às mídias mergulha o artista e o
espectador num mundo de experiências comuns. O contato pode ser
estabelecido a vários níveis
14
. Não é preciso uma visão iniciada da arte, como
nos movimentos estéticos anteriores, é necessário somente o conhecimento da
linguagem direta da cultura de massa. O uso do discurso direto, sem pré-
requisitos também é algo que ressurge anos mais tarde com a YBA.
14 Idem, p. 60.
27
Por fim, a arte pop inglesa busca o desempenho de um papel na vida
urbana (ao invés do protesto ou da procura de circunstâncias mais favoráveis).
Esse fator separa os artistas londrinos tanto dos preconceitos da classe
trabalhadora de Richard Hoggart como dos “jovens em fúria”. Porém, a verdade
é que os artistas pop aceitam a cultura industrial e assimilam aspectos dela na
sua arte. Nos YBAs a cultura industrial não é mais uma opção é a única. A vida
urbana mediada pela profusão de imagens (fotográficas ou cinematográficas),
pelas novas tecnologias e pelas mídias é o suporte para a arte contemporânea
inglesa.
28
Young British Artists
Inglaterra, início da década de 1990. A herança conservadora dos anos
pós-Thatcher ainda marcava o país que enfrentava um quadro social e político
conturbado. Mas, similaridades à parte com o cenário de nascimento do
movimento punk de 20 anos atrás, a ilha britânica vivia os primórdios de um
renascimento cultural.
Bandas como Blur
15
e Oasis
16
lançavam as sementes do que
posteriormente seria chamado e aclamado Brit Pop”; a cena das festas
rave
17
prevalecia entre os jovens ingleses ao som de acid house
18
; Ken
Loach filmava Riff Raff
19
, um retrato da Grã Bretanha moderna, cujo sabor
neorealista tanto prosperou ao longo da década
20
. No cenário das artes
plásticas, uma nova geração de artistas apresentava trabalhos com propostas
diversificadas, mas utilizando-se de “táticas chocantes”, uma ironia crua,
construções elaboradas e marcando uma forte abertura com relação aos
15 Blur é uma banda de rock britânica, formada por Damon Albarn (vocalista), Alex James
(baixista), Dave Rowntree (baterista) e, até 2002, Graham Coxon (guitarrista). A banda foi
montada em 1989 sob o nome “Seymour”, que ao assinar com a gravadora, em 1990, foi
induzida a mudar seu nome.
16 Oasis é uma banda de Manchester, Inglaterra, atualmente composta por: Noel Gallagher
(guitarra), Liam Gallagher (vocais), Gem Archer (guitarra) e Andy Bell (baixo). O grupo surgiu
no cenário mundial em 1994, como uma marca do tradicional rock britânico, que estava em
baixa graças ao surgimento de outras correntes musicais, como o grunge americano.
17 Rave ou festa rave é o termo utilizado nos anos de 1980 e 1990 para descrever festas
dançantes, normalmente que eventos que aconteciam por toda a noite, ao som de música
eletrônica e shows luminosos. Nestas festas DJs e outros artistas tocavam música eletrônica
da vertente “acid house” acompanhados por multidões de jovens. AS festas rave foram
constantemente proibidas pelos governos britânicos e americanos devido à alta utilização de
drogas químicas por seus participantes.
18 Vertente da música eletrônica muito em voga nas décadas de 1980 e 1990, principalmente
em Londres e Chicago.
19 Dirigido por Ken Loach e estrelado por Robert Carlyle e Ricky Tomlinson, Riff Raff é uma
comédia social, com forte mensagem anti-Thatcher, retratando a vida de trabalhadores da
construção civil no centro de Londres.
20 MC ROBBIE, Angela. In the Culture Society: Art, Fashion and Popular Music. Londres:
Routledge, 1999. p. 75
29
materiais e processos para feitura de suas obras, os chamados Young British
Artists (YBAs).
Bandas Blur e Oasis em 1990
Convites para as festas rave Haçienda e Raindance de 1990
21
Cartaz do filme Riff Raff, de Ken Loach
22
21 . www.raveflyers.co.uk . Acesso em 22 de novembro de 2009.
30
A origem deste grupo de artistas e suas intervenções é
convenientemente datada pela exposição Freeze, organizada em Londres em
1988, pelo artista, e então estudante, Damien Hirst, juntamente com outros 16
alunos
23
do Colégio Goldsmiths, da Universidade de Londres
24
. Como resposta
à redução dos fundos públicos direcionados às artes plásticas e ao pouco
interesse das galerias comerciais em apostar em novos talentos, tal grupo de
estudantes organizava suas próprias exposições em locais alternativos e
baratos, um equivalente interessante à cena “rave” (festas de música
eletrônica) tão em voga na Londres deste período.
25
A partir de então, outras exposições organizadas diretamente por estes
jovens artistas foram realizadas, agregando os trabalhos de outros artistas,
mas mantendo um caráter de faça você mesmo” e aos poucos atraindo a
atenção do público e colecionadores. Aos primeiros artistas como Damien
Hirst, os irmãos Jake e Dinos Chapman, Rachel Whiteread e Sarah Lucas,
somaram-se nomes como Tracey Emin, Gavin Turk, Douglas Gordon, Marc
Quinn entre tantos outros, fomentando assim um novo cenário das artes
plásticas britânicas.
22 http://www.imdb.com/title/tt0100491/ . Acesso em 21 de novembro de 2009.
23 Os 16 artistas que participaram da exposição Freeze são: Steven Adamson, Angela Bulloch,
Mat Collishaw, Ian Davenport, Angus Fairhurst , Anya Gallaccio, Damien Hirst, Gary Hume,
Michael Landy, Abigail Lane, Sarah Lucas, Lala Meredith-Vula, Richard Patterson, Simon
Patterson, Stephen Park, Fiona Era.
24 Neste período, sob direção de Michael Craig-Martin, o curso de belas artes aboliu a divisão
entre os diferentes suportes e meios (pintura, escultura, gravura, etc), encorajando os alunos a
fazerem diversas e específicas intervenções artísticas.
25 HAUSER, Kitty. Sensation: Young British Artists from the Saatchi Collection. Londres: New
Left Review, Vol. A 227, 1998, p. 154.
31
Damien Hirst, Did You No Wrong, 1990-91
Frascos de remédios em gabinete. (137.16 x 101.6 x 22.86 cm)
Jake e Dinos Chapman, Übermensch, 1995
Fibra de vidro, resina e tinta (366 x 183 x 183 cm)
32
Rachel Whiteread, Ghost, 1990
Gesso em moldura de aço (269 x 355.5 x 317.5 cm)
Sarah Lucas, Self Portrait with Fried Eggs. 1996
Fotografia em papel (76 x 56,5 cm)
33
Tracey Emin, Mad Tracey from Margate: Everyone´s Been There, 1997
Colcha com bordados ( 21,5 x 26,7 cm)
Gavin Turk, Pop, 1993
Cera e materiais diversos
34
Douglas Gordon, Confessions of a Justified Sinner 1995
Vídeo instalação em duas partes (300 x 400 cm cada)
Marc Quinn, Self, 2001
Sangue do artista, aço, perspex e equipamento de refrigeração (205 x 65 x 65 cm)
Não é possível dizer que existe um programa comum entre todos os
artistas desta geração: não manifestos, não estilo comum. Entretanto,
existem características que os agrupam. Primeiro, um “sabor abertamente
contemporâneo da arte”, segundo o historiador Julian Stallabrass
26
, que
aparentemente quebra com o “ar” provinciano de muito da arte inglesa anterior,
ou ao menos adicionando uma inflexão suficiente a esta característica, o que
26 STALLABRASS, Julian. High Art Lite: British Art in the 1990s. op cit., p. 4 e seguintes.
35
no final torna a arte dos YBAs com um apelo internacional. Em segundo lugar,
os artistas britânicos apresentam uma nova e distinta relação com a mass
media, além de freqüentemente utilizarem materiais da cultura de massa. E
por fim eles apresentam trabalhos conceituais de uma forma visualmente
acessível.
27
Todos estes elementos são apresentados pelos YBAs de forma muito
acessível, possibilitando ao público geral aproveitar o resultado final sem
necessariamente ter conhecimento prévio sobre a história da arte, ou dos
próprios artistas. Isto posto, Stallabrass afirma que:
Se a arte contemporânea britânica é o popular, isto é porque
ela é muito mais amigável ao público geral do que ela jamais
foi, e também porque ela fala menos sobre si própria, ou a faz
de forma mais aberta.
28
Esta mudança não foi causada apenas por uma decisão por parte dos
artistas em tornar suas obras mais populares. Esta geração floresce no
momento em que o mercado de arte está em um período de hibernação devido
à recessão econômica enfrentada pela Grã Bretanha, que iniciou-se em 1989.
Galerias eram fechadas ou diminuíam suas atividades, enquanto outras
afastavam-se de artistas renomados, e portanto caros, para trabalharem com
novos talentos.
Isto posto, entre 1989 e 1995 a nova geração de artistas britânicos viu-
se desamparada, quizá livre, tendo que contar apenas com seus próprios
recursos e força criativa para seguirem seus trabalhos. Utilizando materiais não
convencionais, criando e organizado suas próprias exposições, construindo
assim suas próprias características fundantes.
Somada à recessão, dois outros fatores são pivotais para a
compreensão do desenvolvimento da YBA. O primeiro, a mudança de foco nas
aquisições do publicitário e colecionador Charles Saatchi, que avidamente
investiu nas obras frescas desta nova geração, aportando recursos e
reconhecimento. E em segundo, uma mudança na orientação do renomado
27 Idem.
28 Idem.
36
prêmio Turner, organizado pela instituição Tate Gallery, que então volta-se ao
trabalho dos novos artistas, devido à falência de seu patrocinador.
29
Assim estava semeado o terreno fértil para a ascensão da nova arte
britânica, com uma força criativa destruidora e, como assinala Herbert Read,
perturbadora.
29 TOWNSEND, Cris. “New Art from London”, in: WALKER, John. The Art Book. Londres:
Blackwell Synergy, 2007, p 37 e seguintes.
37
Charles Saatchi e os Novos Britânicos
A união entre os artistas membros do Young British Artists (YBAs) e do
galerista Charles Saatchi é um importante fator, no âmbito desta pesquisa. A
seleção do galerista, a mercantilização das obras de arte e a divulgação
desses artistas tornam-se elementos que agem direta e indiretamente na
produção desses artistas. O espaço da galeria toma força e transforma-se em
espaço para as novas experimentações.
Charles Saatchi vê a produção artística atual do seguinte modo:
Às vezes o trabalho envolve novas descobertas e métodos, às
vezes é provocativo, mas não precisa ser nem um nem outro,
Se a arte faz você entrar no mundo da pessoa que fez isso e
convenceu-o da claridade da imaginação dos artistas, está
fazendo o suficiente.
30
A galeria londrina traz consigo e renova a questão: o que é arte?
Imersos nas diversas tentativas de respostas e nas novas indagações da arte
atual, a galeria aposta, através da produção dos YBAs, nos objetos banais
cotidianos e nos desdobramentos da antiarte. A Saatchi transforma artistas
desconhecidos em personalidades internacionais. Por essa razão, justifica-se o
estudo do local e das diretrizes da galeria perante a seleção das obras de seu
catálogo.
Através das ações da galeria, também, é possível acompanhar a
trajetória de cada um de seus artistas, inclusive ter uma cronologia precisa das
exposições das quais participaram os membros do grupo e, especialmente,
obter informações relevantes sobre a trajetória de Tracey Emin. Para a artista,
nota-se, ainda, que o material midiático, tais como jornais, revistas e
entrevistas em programas de TV (populares na Grã-Bretanha) apresentam-se
30 SAATCHI, Charles. Introduction. Catálogo Saatchi, 2004.
38
como privilegiado material para a pesquisa. A postura pública desses artistas,
particularmente, a atitude de Emin explicitam algumas posições estéticas
transparentes em sua produção.
Como mencionado anteriormente, é impossível não ressaltar a
importância da participação do publicitário e colecionador Charles Saatchi na
configuração deste cenário emergente. Famoso colecionador inglês de arte
contemporânea, Saatchi já apresentava publicamente sua coleção em sua
galeria ao norte de Londres, que contava com nomes como Andy Wharol, Alex
Katz, Richard Serra e Anselm Kiefer. Acompanhando as exposições
organizadas pelo grupo de jovens artistas londrinos, a atenção do publicitário
aos poucos volta-se para esse novo cenário artístico, tornando-se um de seus
maiores admiradores e compradores, adquirindo obras principalmente de
Damien Hirst e Gavin Turk
31
no primeiro momento.
Em suas palavras:
Não é que Freeze”, a exposição que Damien Hirst organizou
em 1988 com seus então colegas estudantes da Goldsmiths
College, fosse particularmente boa. Muitas das obras eram
mais ou menos (...). O que realmente se destacou foi a
esperança arrogante de tudo aquilo.
32
É interessante notar que a importância de Saatchi para o
reconhecimento artístico e midiático dos YBAs muito vem ao encontro do
histórico do mercado de arte inglês ao longo do século XX: é o patronato
33
individual, encabeçado por grandes industriais como Courtauld ou Burrell,
quem toma a primeira iniciativa no sentido de detectar, ou até mesmo arriscar-
se, no investimento em novos movimentos artísticos. E é somente depois
desses que as tradicionais instituições públicas britânicas iniciam suas
atividades
34
.
31 STALLABRASS, Julian. High Art Lite: British Art in the 1990s... op. cit.,34..
32 ELLIS, Patrícia. 100 the work that changed British Art. Londres, Jonathan Cape, Random
House, 2003, p. 10..
33 Patronato é o termo que mais se aproxima da tradução do francês “patronage”, que engloba
os significados de empresário, empreendedor.
34 JARDINE, Lisa. Modern Medicis: Art-Patronage in the Twentieth Century in Britain. In:
ROSENTHAL, Norman. Sensation: Young British Artists from the Saatchi Collection.
Londres:Thames & Hudson, 1998, p. 42
39
Vide a paixão e alto investimento do empresário Samuel Courtauld na
década de 1920 pelos Impressionistas e Novos Impressionistas franceses. Ou
as obras de Kandinsky compradas, em 1911, pelo reitor acadêmico Michael
Sadler. Ou também a história do casal Sainsbury, empresários da alta
sociedade inglesa que no início de 1950 compra obras de Francis Bacon por
modestas 300 e 400 libras esterlinas
35
. Não diferente é o papel do publicitário
Charles Saatchi no cenário das artes plásticas britânicas, que abre sua própria
galeria, a Saatchi Gallery, em 1985, na Bondary Road de Londres.
Como um furacão sacudindo as ilhas britânicas, a emergência dos
YBAs traz novos ares ao cenário das artes plásticas londrina. Sobre este
cenário Saatchi diz:
(...) O que sobre o ciclo de vida dos mosquitos, a cama
velha de alguém, o retrato de um assassino de crianças feito
com marcas de mãos de crianças, manequins com maçanetas,
que faz da arte Britânica tão diferente, tão instigante?
E continua:
Não uma linha simples, não escola, apenas uma energia
muito direta, quase infantil, que dá ao trabalho sua completude,
sua força a ser observada
36
.
A importância de Saatchi para o reconhecimento daYBA pode ser
compreendida pelo momento de colisão entre o colecionador, os novos artistas
e o mercado de artes britânico. Em um mercado recuperando-se de sua
recessão econômica, não apenas as instituições públicas culturais britânicas,
como também as galerias privadas e colecionadores tradicionais, não mais se
arriscam com a mercantilização do novo. Assim, a escala de compras de
Saatchi pelos trabalhos dos novos artistas ingleses tem um efeito considerável
em todo o mercado. Seu poder de compra e sua presença midiática, uma vez
considerado uma lenda da publicidade, eleva o status desses novos e
desconhecidos artistas, despertando o interesse de outros importantes
colecionadores.
35 Idem. p. 44
36 ELLIS, Patrícia. 100 – the work that changed British Art. Londres,…op.cit., p.11.
40
Assim, beneficiadas pelo patronato de Saatchi, o que despertou o
reconhecimento midiático dos artistas, importantes galerias comerciais de arte
contemporânea, como a White Cube, enxergam nesses jovens artistas uma
oportunidade para saírem da crise financeira enfrentada. Além disso, diversas
publicações reconhecidas como Art Monthly, Art Review e Contemporary Art
voltam a ser publicadas, e dirigem seu foco de atenção ao trabalho dessa nova
geração.
Com um contexto positivo para a emergência e reconhecimento da
YBA, sua consolidação definitiva acontece em 1997 quando a aclamada, mas
conservadora, Royal Academy of Art de Londres apresenta a exposição
Sensation. Exposta posteriormente em Berlim e em Nova York, Sensation
provoca discussões e controvérsias e, principalmente, obteve uma grande
cobertura mediática.
Contando com 110 trabalhos de 42 artistas diferentes, as obras
apresentadas na exposição pertencem à coleção particular de Charles Saatchi.
Dentre essas são apresentadas a vitrine com o tubarão suspenso em formol de
Damien Hirst (The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone
Living), o retrato da assassina Myra Hindley feito pelo artista Marcus Harvey
com as impressõoes das palmas das mãos de crianças (Myra), a série de
manequins infantis dos irmãos Jake e Dinos Chapman, nas os narizes dos
manequins são substituídos por pênis e suas bocas por anus, e também a
tenda intimista de Tracey Emin (Everyone I Have Ever Slept with 1963-1995)
37
.
37 37 HAUSER, Kitty. Sensation: Young British Artists from the Saatchi Collection....op.cit.,
p.154.
41
Damien Hirst, The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living, 1991
Vidro, aço, silicone, tubarão e 5% de solução formol. (213.4 x 640.1 x 213.4 cm)
Marcus Harvey, Myra, 1995.
Acrílico sobre tela (270 x 340 cm)
Jake & Dinos Chapman, Zygotic Accelaration, Biogenetic Desublimated /libidinal Model, 1995
Materiais diversos
42
Tracey Emin, Everyone I Have Ever Slept with 1963-1995, 1995.
Barraca bordada, colcha, luz (122 x 245 x 215 cm)
Sensation marca a primeira grande oportunidade de apresentação do
trabalho de toda essa nova geração para o grande público, apresentando suas
características mais fortes como o choque, a controvérsia e a grande cobertura
mediática.
E o que fez da exposição Sensation tão importante? Por que essa
exposição tem tanta repercussão com o público, de forma como nunca se viu
na Inglaterra desde a chegada da geração Pop? A resposta está na nova e
radical atitude dessa geração de artistas britânicos perante a realidade, ou
perante a realidade e a vida real. Reforçando assim aspectos da s-
modernindade, explorando ao máximo o desejo de expressão de cada artista
por meio de suas auto-biografias, aspectos auto-referenciais.
Utilizando objetos e temáticas da arte pop, como cultura popular,
cinema e dos meios de comunicação em massa como fértil campo estético,
apropriando-se do realismo arquétipico de Jencks, criando assim, uma
cumplicidade com o público geral. Pode-se adizer que os YBAs diminuem,
até anulam, a tênue linha que divide a alta e a baixa cultura, transformando arte
em gosto popular.
43
A Arte de Tracey Emin
44
Vida e Obra
Entre os artistas da chamada geração Young British Art (YBA), um dos
nomes de maior destaque é a o da artista plástica inglesa Tracey Emin. Com
uma produção artística confessional altamente crua e pessoal, Emin é uma das
poucas mulheres que mais influenciou o cenário das artes plásticas
contemporânea da Grã Bretanha. E é uma das artistas que mais capta o
interesse do público em geral.
Para compreender a obra e a carreira artística de muitos artistas não é
necessário deter-se sobre suas histórias de infância, ou suas aventuras
sexuais. Entretanto, ao falar sobre Tracey Emin, é impossível não recorrer ao
seu passado, pois sua vida e obra são tão interligadas que não podem ser
separadas.
Suas experiências diárias são o combustível para seu trabalho, que
podem ser apresentados em forma de pintura, escultura, gravuras, instalações,
colchas bordadas, bordados, filmes, neons, cartas e diversos outros meios. Ela
abre-se ao escrutínio blico com uma franqueza sem medo. exibiu seus
diários de adolescente, nos quais revela suas aventuras sexuais, além de suas
memórias sobre seus dois abortos. Nada é por acaso, na realidade, quanto
mais traumática a memória, mais provável que será escancarada em sua obra.
Dor, sofrimento, confissão o territórios naturais e centro de gravidade de
muito de seu trabalho. Emin tornou a vida em um espetáculo público como
poucos artistas jamais fizeram.
Nascida em Londres em 03 de julho de 1963, Tracey Emin e seu irmão
gêmeo Paul tiveram uma infância difícil: filhos bastardos de um pai imigrante
turco cipriota e de uma mãe do leste de Londres (considerada ainda hoje como
uma região proletária), seus primeiros anos foram vividos entre a Turquia e a
Inglaterra, até fixarem residência na cidade litorânea de Margate, cidade na
costa do estado de Kent, Inglaterra. Entre 1966 e 1972 a família teve um hotel
45
nesta cidade, o Hotel Internacional, onde moraram, sempre com a ausência do
pai, que dividia-se entre suas duas famílias. Em 1972 seu pai entra em
falência. Sem o hotel e cada vez mais distantes do pai, Emin, seu irmão gêmeo
e sua mãe vão morar em uma cabana de funcionários atrás do hotel. Sua
infância foi moldada pela dificuldade financeira e pela falta de autoridade.
1
Em 31 de dezembro de 1976, aos 13 anos, Emin foi estuprada. Ou, nas
palavras dela, que tão bem representam sua personalidade grosseira e
chocante, a artista diz que “foi arrombada” (broken in).
2
Desde então, sua vida
torna-se cada vez mais conturbada. Raramente ia à escola, passava seus dias
pelos cafés de Margate, na praia ou bebendo cidra. Além disso, sua estrutura
familiar deteriorava-se cada vez mais ao longo de sua adolescência. Entre
seus 13 e 15 anos, sua mãe passava longos períodos em Londres, deixando
Emin sem a autoridade necessária para a vida adolescente. Segundo a artista,
estes foram seus “anos de sexo” (shagging years)
3
.
Esse capítulo de sua vida tornou-se tema de várias de suas gravuras,
muitas delas datadas de 1995. Realizando trabalhos temporários como
garçonete, seu sonho neste período era ser dançarina. Emin normalmente ia a
Londres nos finais de semana para dançar em discotecas durante todo o final
de semana até que em 1978 inscreveu-se em um concurso regional de dança.
Entretanto seu sonho foi covardemente finalizado, uma vez que ao subir ao
palco um grupo de homens da platéia começou a vaiá-la gritando “prostituta,
prostituta” (Slag! Slag!). Mais uma vez, suas tristes lembranças são expurgadas
em sua obra, como no vídeo Why I Never Became a Dancer, de 1995, sobre
este episódio.
1
ELLIOT, Patrick. Tracey Emin 20 Years. Edinburgo: National Galleries of Scotland, 2008. p.
15 e seguintes.
2
TOWNSEND, Chris. The Art of Tracey Emin.
op cit.
3
ELLIOT, Patrick. Tracey Emin 20 Years. pp cit.
46
Tracey Emin, Lighthouse, 1995
Impressão (58 x 75 cm)
Tracey Emin, Fucking Down na Ally, 1995
Impressão (58 x 75 cm)
Tracey Emin, Clocktower, 1995
Impressão (58 x 75 cm)
47
Tracey Emin, Why I Never Became a Dancer, 1995
Vídeo, filme Super 8 (6 minutos e 30 segundos)
Em 1980 Emin inscreveu-se para um curso de graduação em belas
artes no Medway College of Design na cidade de Rochester, na costa do
estado de Kent, entre Margate e Londres. A artista foi desqualificada para o
curso, devido ao seu baixo desempenho escolar, mas conseguiu uma vaga em
um curso profissionalizante de moda nesta mesma instituição. Seu
desempenho foi medíocre, mas a aprendizagem em corte de modelos foi
fundamental para o desenvolvimento de seu trabalho posterior em colchas
bordadas com letras de tecido cortadas.
Foi no início de 1982 que Emin conheceu seu parceiro Billy Childish,
poeta músico e também artista plástico. Esse período inicial de seu trabalho
artístico na primeira metade da cada de 1980 foi influenciado pelas pinturas
de Childish, e dos seus companheiros do movimento Stuck!
4
, como Douglas
Adams e Charles Thomson.
4
Stuckism é um movimento fundado em 1999 na Gra Bretanha por Billy Childish e Charles
Thomson para promover a pintura figurativa em oposição à arte conceitual.
48
Billy foi a primeira pessoa em minha vida que me mostrou que existia
uma forma diferente de fazer as coisas ... Ao invés de me sentir uma estranha,
ele me mostrou que existe um mundo estranho e que era chamada como ‘ser
artista’. Ele me encorajou a desenhar e a pintar
5
. Tanto o trabalho de Emin
quanto de Childish eram muito parecidos, uma vez que suas influências neste
momento foram Edvard Munch e Egon Schiele e os impressionistas alemães.
6
Interessada em formalmente estudar belas artes, mas sem a
qualificação necessária, Emin parte em setembro de 1982 para Londres para
seguir um curso básico em artes, na Sir John Cass School of Art. Muito do seu
interesse ao longo desta formação concentrou-se no estúdio de impressão,
realizando trabalhos cujo tema central era sempre sexo. Por sugestão dos
professores, Emin parte para o Madison Art College em 1984 para enfim cursar
artes plásticas. Especializando-se no estudo de gravuras, sexo e medo ainda
eram os temas dominantes de seus trabalhos. estes foram os três anos mais
felizes de minha vida
7
diz Emin sobre seus anos no Madison Art College.
Após uma temporada na Turquia e separada de Childish, em 1987
Emin inscreve-se para uma vaga de dois anos no programa de mestrado em
pintura na renomada Royal College of Art de Londres. Segundo diversos
depoimentos da artista, tal período foi uma experiência muito negativa.
Deixando de lado as temáticas sexualmente carregadas, esta nova
fase de seu trabalho baseou-se em pequenas colagens e desenhos com
textos, parcialmente inspirados nas pinturas que havia visto na Turquia. Com
um rudimentar conhecimento formal sobre história da arte, Emin estava em
depressão, achando-se uma péssima pintora, desistindo da carreira artística.
Entretanto, pouco se conhece das obras deste período, uma vez que,
em depressão seguida de um aborto, a artista destruiu todas as pinturas desse
período. Em uma entrevista concedida para a rede de televisão britânica BBC
Emin referiu-se a esse momento de sua vida como seu “suicídio emocional”.
5
ELLIOT, Patrick. Tracey Emin 20 Years, op. cit. p. 21 e seguintes.
6
TOWNSEND, Chris. The Art of Tracey Emin.
op cit.
7
ELLIOT, Patrick. Tracey Emin 20 Years, op cit. p. 21 e seguintes
49
Tracey Emin, My Abortion, 1990
5 itens de memória e textos manuscritos (dimensões variadas)
Afastada das artes plásticas, em 1991 Emin estudou filosofia no Morley
College, um centro educacional para adultos. Recuperando-se da depressão,
neste período a artista começou a trabalhar como tutora de artes para jovens
da região de Southwark em Londres. Mesmo sem pintar, Emin seguiu com
suas gravuras, sempre com textos. Em 1992 Emin faz seu segundo aborto.
Mas o ano de 1992 marca também um momento importante da vida da
artista, pois é neste ano que começa sua amizade com a artista plástica Sarah
Lucas, artista fundante dos YBAs.
Emin ainda era uma estranha no círculo dos YBAs, vinda de um outro
contexto, sem haver participado de exposições, sem confiança em seu trabalho
artístico (que ela havia cessado). Enquanto seus contemporâneos tinham
uma atitude “relaxada”, Emin era argumentativa, provocativa, bebendo e
fumando compulsivamente. Dentre a geração dos YBAs, Emin era conhecida
como a “amiga louca de Sarah Lucas”.
8
É neste momento também que Emin relaciona-se Carl Freedman,
amigo e colaborador do artista Damien Hirst, que naquele momento era um
8
BROWN, Neal; KENT, Sarah; COLLINGS, Matthew. Tracey Emin. Londres: Jay Jopling/ White
Cube, 1998. p. 44 e seguintes.
50
dos nomes mais marcantes da YBA que se concretizava com as exposições
Modern Medicine e Gambler.
9
No início de 1993 Lucas convida Emin para abrirem um estúdio / loja na
região de Bethanal Green. Era o início do reconhecimento artístico de Lucas,
que sob a patronato de Charles Saatchi, pode arcar com os custos iniciais.
Localizada na região de Hoxton e Spitafields em Londres, que vivia um
momento de popularidade entre os artistas, The Shop era um prédio de 4
andares onde Lucas e Emin confeccionavam e vendiam diversos objetos
estranhos como camisetas com slogans impublicáveis, cinzeiros com a foto de
Damien Hirst, brinquedos sexuais feitos de papel mache. Aos poucos, devido
ao círculo de relacionamento de suas proprietárias, The Shop tornou-se um
endereço conhecido na cidade, recebendo comentários na imprensa. Os
preços dos objetos vendidos variavam de acordo com as vendas: os itens
populares aumentavam de preço a medida que eram vendidos.
10
Tracey Emin e Sarah Lucas na The Shop.
Foto: Carl Freedman, 1994
11
9
Modern Medicine e Gambler foram exposições organizadas pelo artista Damien Hirst e pelos
curadores Carl Freedman e Billee Sellman em 1991 em um armazém localizado na zona oeste
de Londres, então uma área decadente.
10
DALY, Pauline e QUICK, Brendam. Crazy Emin, Sensible Lucas. 1993. Interview, 1993, p.
58-60
11
www.whitecube.co.uk
51
Detalhes de objetos vendidos na The Shop.
Foto: Carl Freedman, 1994
Tracey Emin e Sarah Lucas, The Last Night of the Shop 3.7.93, 1993
Tecido e broches de papel (151 x 135 cm)
É importante ressaltar que foi nesse período que Emin conheceu o
galerista Jay Jopling, proprietário da renomada galeria White Cube, que se
tornou seu agente marcando o início do reconhecimento e sucesso da artista.
Quando na The Shop, Emin imprimia formulários de adesão e convidava
pessoas a investir em seu potencial criativo. Por 10 libras, estas pessoas
52
receberiam quatro cartas, três duplicadas e uma personalizada. Em pouco
tempo, Emin teve 40 “investidores”, dentre eles Jopling.
12
Reconhecendo o potencial criativo de Emin, Jopling convidou-a para
um projeto em sua galeria. A resposta da artista foi: No futuro, gostaria muito
de fazer algum tipo de exposição com você – Minha Maior Retrospectiva
combina com minha sensibilidade e meu ego
13
. Assim dá-se a estréia de Emin
no círculo das artes plásticas londrina, com ironia para começar com uma
retrospectiva.
Em 19 de novembro de 1993 é aberta na galeria White Cube sua
exposição individual Tracey Emin: My Major Retrospective 1963-1993. Por
sugestão de Freedman, em grande parte a exposição continha peças que eram
extensões dos itens produzidos para a loja onde trabalhava, dando início ao
trabalho de bordado que logo seguiria, bem como objetos de cunho altamente
pessoal como fotografias da artista e um registro fotográfico das suas pinturas
antigas destruídas. Além disso, incluía também itens de grotesca curiosidade,
que normalmente não são considerados para a exibição pública, como maços
de cigarros que seu tio segurava quando foi decapitado em um acidente de
carro.
12
ELLIOT, Patrick. Tracey Emin 20 Years, op cit. p. 21 e seguintes.
13
I d e m .
53
Tracey Emin, My Major Retrospective 1982-92, 1993
Materiais diversos (dimensões variadas)
Tracey Emin, Uncle Colin, 1993
Materiais diversos (dimensões variadas)
54
Tracey Emin, May Dodge, My Nan, 1993
Materiais diversos (dimensões variadas)
Tracey Emin, Me and Paul 1963-93, 1993
Materiais diversos (dimensões variadas)
Isto posto, vê-se que sua primeira exibição apresenta fortemente as
características do trabalho de Emin, bem como seu desejo em mostrar detalhes
do que geralmente é considerado como sua vida privada, tocando os limites do
que é desconfortante tanto para o público quanto para o artista. Como que
transformando suas memórias em relíquias, mas não relíquias de uma santa, e
sim de uma pessoa ferida, perturbada.
Sobre sua primeira exposição, a crítica da revista Time Out escreveu:
55
Esta é a exposição que todo artista quer fazer, mas não tem
coragem ... é a exposição mais perturbadora da cidade, um
brilhante e simples idéia que um passo à frente na moda de
transpor a vida real para as galerias...
14
.
Alguns meses depois, em maio de 1994, Jopling organizou a
participação da White Cube na feira de arte New York Gramercy International
Art Fair. Nesta feira cada galerista reservava um quarto no hotel Grammercy
Park para expor os trabalhos de seus artistas. No caso da White Cube, a obra
exibida era literalmente Emin deitada na cama do quarto coberta com a colcha-
obra Hotel International, além de diários e objetos de cunho pessoal.
Tracey Emin, Hotel International, 1993.
Colcha e bordados (260 x 240 cm)
Aproveitando a estadia nos Estados Unidos, Emin e Freedman
viajaram de São Francisco até Nova Iorque. Para arrecadar dinheiro para
continuarem a viagem, o casal fazia paradas durante as quais Emin fazia
leituras de seu livro autobiográfico Exploration of the Soul. Emin também fez
diversas fotografias nesta viagem, que foram posteriormente expostas em
diversas exposições.
14
LITTLEON, David.” Private View” em Time Out, Dezembro 1993, p. 1-8
56
Tracey Emin, Exploration of the Soul, 1994
Performance, textos manuscritos e fotos (30 x 21cm cada)
De volta à Inglaterra, Emin e Freedman viveram na costa de Whistable
em uma cabana de praia, que em 1999 Emin transformou em obra com o título
The Last Thing I said to you is don’t leave me here.
15
Tracey Emin, The Last Thing I said to you is don’t leave me here, 2000.
Cabana em Madeira (dimensões variadas)
15
Como informação essa obra foi destruída em 2004 em um incêndio no galpão da Saatchi
Gallery juntamente com outras obras da coleção, incluindo outros trabalhos da artista.
57
Tracey Emin Tracey Emin, The Last Thing I said to you is don’t leave me here I e II, 2000.
Fotos (I: 107 x 134 cm e II: 80 x 109 cm)
Como curador da mostra Mink Mank na Galeria South London em
1995, Freedman pediu a Emin que produzisse uma obra em grande dimensão,
uma vez que seu trabalho, normalmente com obras de pequenos tamanhos,
não condizia com a proposta da exposição.
O resultado foi o famoso e, talvez, o mais forte trabalho de Emin a
hoje, tenda Everyone I have Ever Slept With 1963-1995. Esta obra era uma
tenda de acampar azul onde, por dentro, foram bordados os nomes de 100
pessoas com as quais a artista havia dormido, o que incluía parceiros sexuais,
familiares, seu irmão gêmeo e, com um aspecto confessional doloroso, os
nomes dados às duas crianças que a artista havia abortado.
16
Tracey Emin, Everyone I Have Ever Slept with 1963-1995, 1995.
Barraca bordada, colcha, luz (122 x 245 x 215 cm)
16
FREEDMAN, Carl. Minky Manky, Londres: South London Gallery, 1995. p. 17
58
Apesar de seu controverso título, que a conotação de uma exibição
vergonhosa de suas conquistas sexuais, essa obra é uma peça de forte
intimidade e diversos níveis de leitura: um exercício voyeurístico, um convite
para entrar em um mundo de cores e design formal criativo, bem como uma
metáfora ao ato sexual, onde o público entra na intimidade mais privada da
artista.
Retomada a confiança em seu trabalho, mas com extrema dose de
auto-publicismo, em 11 de dezembro de 1995 Emin abriu o The Tracey Emin
Museum, na Waterloo Road na região sul de Londres. Para financiar as obras
de reforma do pequeno espaço, Emin mais uma vez convidou o público a
investir em seu trabalho, emitindo Emin bondsnos valores de 50 e 100 libras.
Nestas “ações” Emin escrevia: “Após um ano, estas ações podem ser trocadas
por obras de arte do museu, que neste momento estarão valendo o dobro de
seu valor facial”
17
. Assim, Emin assumiu o controle de todos os aspectos da
exposição de sua obra, dando um passo à frente da característica dos YABs no
“faça você mesmo”.
Os primeiros trabalhos apresentados incluíam gravuras com temas
sobre sua adolescência em Margate, bem como o filme Why I Never Became a
Dancer. Incluiu também seu primeiro trabalho com neon, um letreiro rosa com
os dizeres The Tracey Emin Museum”. O interessante sobre o Museu é que o
público podia não apenas estudar a intimidade e traumas da artista por meio de
suas fotos, vídeos e bordados, mas também conversar e debater com quem as
fez e , que por sinal, é o objeto temático destas. Esta oportunidade
particularmente direta e sem barreiras de experimentar a arte marcou Emin
como uma das vozes mais completas da arte britânica. O museu fechou em
1997 devido ao grande sucesso e popularidade, uma vez que o objetivo inicial
de Emin desvirtuou-se: ao invés de receber pessoas leigas em arte que
visitavam o espaço por curiosidade, o Museu tornou-se um ponto turístico da
cidade.
17
ELLIOT, Patrick. Tracey Emin 20 Years, op cit. p. 30 seguintes.
59
The Tracey Emin Museum, 1996
Mesmo com seu crescente sucesso, Emin nunca mais havia pintado.
Suas colchas, esculturas, gravuras e outros trabalhos alcançavam atenção
internacional, mas a artista seguia bloqueada em se tratando de pintura. Tal
bloqueio relacionava-se com seus abortos, seu senso de falha nos anos
anteriores. Entretanto a artista forçou-se a enfrentar este impasse ao aceitar a
participação em uma exposição na Galleri Andreas Brändström in Estocolmo
em fevereiro de 1996.
Sabendo que seria um projeto difícil, a artista aceitou pois imaginou
que um exposição realizada no inverno de Estocolmo não receberia a mesma
atenção e pressão que em Londres. Emin propôs-se a viver e dormir em um
estúdio construído dentro da galeria por três semanas, forçando-se a pintar. A
exposição seria mais uma performance, seguindo os passos da performance
quase xamanística de Joseph Beuys. Além disto, a artista estaria nua. O
trabalho tornou-se Exorcism of the Last Painting I Ever Made”. Ao longo da
exposição Emin ficou no estúdio apenas com latas de tinta, uma cama, uma
cafeteira e um telefone celular. Os visitantes podiam ver a performance por
uma das 16 lentes olho de peixe instaladas nas paredes do estúdio,
espionando enquanto trabalhava. Ela era ao mesmo tempo artista e modelo.
Emin demorou três dias para começar a pintar. O estúdio inteiro foi vendido
como uma obra única.
60
Tracey Emin, Exorcism Of The Last Painting I Ever Made, 1996
Performance e instalação incluindo pinturas, desenhos, tintas, baldes, pincéis, aquecedor,
cesto de frutas e escada (dimensões variadas)
Em 1997 Emin já era uma figura reconhecida no âmbito das artes
plásticas britânica. Em abril de 1997 a artista teve uma exposição individual no
museu South London Gallery e em setembro sua famosa tenda foi incluída na
exposição seminal Sensation, em 1997, no Royal Academy of Arts de
61
Londres
18
, exposição esta que catapultou os YBAs de fora dos jornais
especializados em artes para os jornais de circulação em massa.
Tracey Emin, Fantastic to Feel Beautiful Again, 1997
Neon (107 x 127 x 10 cm)
Entretanto a popularidade de Emin entre o público geral britânico foi
obtida de outra forma. Em 2 de dezembro de 1997 Emin foi convidada a
participar de um debate público no Channel 4, uma das redes de televisão
líderes de audiência da Inglaterra. Transmitido ao vivo logo após o anúncio do
vencedor do Prêmio Turner
19
daquele ano, o debate tinha como tema The
Death of the Paiting (a morte da pintura), sugerindo a completa ausência de
pinturas entre os nomeados para a premiação.
Ao lado de grandes nomes do mundo das artes britânicas como
Waldemar Januszczak, Matthew Collings, David Sylvester e Norman
Rosenthal, Emin foi convidada a participar devido ao seu potencial iconoclasta
e suas conexões com o emergente movimento artístico londrino. Entretanto a
artista compareceu ao estúdio, completamente alcoolizada, murmurando
palavras sem nexo e insultando todos os presentes no debate ao vivo. O
programa terminou com a artista declarando que ninguém assistia a tal
programa, que o debate não levava a nenhum lugar, e saiu dizendo que queria
estar com sua mãe e com seus amigos.
20
Instantaneamente Tracey Emin
18 HAUSER, Kitty. Sensation: Young British Artists from the Saatchi Collection ... op. cit., p.
154.
19 Considerado uma das mais prestigiadas premiações das artes visuais na Europa, o Prêmio
Turner é organizado anualmente pela instituição cultural Tate Britain .
20
CHAPMAN, Peter. Preview: Art An Evening with Tracey Emin. Londres, The Independent,
2001.
62
tornou-se uma celebridade nacional, pois afinal sua honestidade e
espontaneidade em admitir que um drink” com os amigos era mais convidativo
que um debate sobre a natureza da pintura, muito ia ao encontro com a opinião
popular.
Tracey Emin, Homage to Edvard Munch and All My Dead Children, 1998
Vídeo em filme Super 8 (duração 1 minuto)
Após dois anos, a própria artista foi selecionada como finalista para o
Prêmio Turner de 1999. Para a ocasião ela apresentou seu trabalho My Bed na
Tate Gallery, onde todos os trabalhos selecionados são expostos. Este é um
trabalho tão forte e provocador que, mesmo sem ter ganho o prêmio daquele
ano, é considerado na lembrança das pessoas como o vencedor.
63
Tracey Emin, My Bed, 1998
Colchão, lençol, travesseiros e materiais diversos (dimensões variadas)
My Bed é literalmente o que o nome sugere: a cama da Emin
transposta de seu local privado para o espaço expositivo. É uma cama desfeita,
cheia de objetos pessoais ou de consumo pessoal, refletindo uma sensação de
refúgio pessoal e autonegligência. A contradição entre revelação pública e o
oculto é forte.
O valor pago pelo colecionador inglês Charles Saatchi pela obra (150
mil libras)
21
, o que mais causou furor ao redor de My Bed, extrapolando as
discussões para além do circuito das artes plásticas britânicas e invadindo as
pautas dos jornais e programas de televisão locais. Esse fato elevou Emin ao
topo das artes plásticas inglesas juntamente com Damien Hirst e suas carcaças
seccionadas. Ambos trabalham com uma mistura de vergonha e desafio,
entretanto os sentimentos expostos no trabalho de Emin são pessoais e
autobiográficos, enquanto os de Hirst dizem muito da sociedade inglesa.
My Bed foi a primeira de uma grupo de esculturas de larga escala
produzida pela artista, normalmente concebidas para exibições específicas.
21
EMIN, Tracey.
http://www.tracey-emin.co.uk/tracey-emin-home.html . Acesso em 15 de
novembro de 2009.
64
Outras obras incluem The Perfect Place to Grow, de 2001; Sef Portrait, de
2001; Knowing my Enemy, de 2002; Salem, de 2005; e It´s Not the Way I Want
to Dye, de 2005. São todas obras autobriográficas por natureza, por exemplo
It´s Not the Way I Want to Dye retrata a criação frágil da infância da artista em
Margate. Esta montanha russa, com uma dinâmica subida e descida, pode ser
tomada como uma metáfora da vida, especificamente da natureza emocional e
da vida de Emin.
Tracey Emin, It´s Not the Way I Want to Die, 2005
Metal e Madeira de demolição (310 x 860 x 405 cm)
Em The Perfect Place to Grow a artista convida o público a subir uma
escada de madeira para uma espécie de casa de pássaros de madeira e
bisbilhotar por um buraco na porta. Tanto a porta quanto o buraco de
espionagem referem-se à obra Etants Donnés, de Marcel Duchamp, no qual o
espectador olha pela abertura e vê o que parece ser uma cena após um
estupro e um assassinato. Mas ao invés de uma experiência voyeurística, esta
é uma obra gentil, até sentimental. Segunda a artista, foi inspirada em um
comentário de seu pai, que dizia que o perfeito lar seria uma pequena cabana à
beira do mar e um jardim. Ao olhar pela abertura da porta, vê-se um vídeo do
pai de Emin de shorts e chapéu, caminhando por campos de milho no Chipre.
65
Tracey Emin, The Perfect Place to Grow, 2001
Materiais diversos incluindo casa de pássaros de madeira, monitor de TV, cavalete, plantas e
vídeo (261 x 82,5 x 162 cm e vídeo com duração de 1 minuto e 45 segundos)
Todas estas esculturas de madeira são feitas com madeiras de
demolição, com aplicação de um trabalho manual. Os materiais utilizados pela
artista são considerados “pobres”, não normalmente associados às artes
plásticas: lençóis, colchas, roupas velhas cortadas e costuradas juntas, cartas,
fragmentos de madeira e objetos encontrados.
Se sexo e aborto foram temas recorrentes no trabalho de Emin ao
longo dos anos 1990, os temas sobre gravidez e crianças, ou melhor, sua
ausência, tornaram-se dominantes nos anos 2000, como por exemplo Feeling
Pregnant II e Feeling Pregnant III, ou o filme Conversation with My Mum de
2001, que trata sobre a maternidade.
Tracey Emin, Feeling Pregnant II, 2002
Vitrine com sapatos de criança e textos (49,7 x 56,7 x 17 cm)
66
Tracey Emin, Feeling Pregnant III, 2005
Tecido, madeira e metal (dimensões variadas)
Tracey Emin, Conversation with My Mum, 2001
2 cadeiras de criança, mesa, monitor de TV e vídeo (dimensões variadas e duração 35
minutos)
Em suas obras e também em diversas entrevistas, Emin recorre à idéia
de que sua arte é sua vida e que se tivesse filhos, ela teria que abandonar sua
arte, e portanto sua vida. Sua batalha para enfrentar esta questão, travada de
forma publica em sua obra, toca alguns dos sentimentos mais profundos como
ansiedade, negação, egoísmo, culpa, compromisso, falha, arrependimento,
felicidade e preservação. Todos estes encontram-se e misturam-se em seu
trabalho, de uma forma não resolvida e sem solução.
67
Durante toda sua carreira, desde Hotel Internacional, Emin vem
trabalhando na construção de colchas. Muitas são bordadas, outras feitas com
apliques, utilizado materiais que são cortados e costurados sobre colchas,
lençóis e outros suportes no lugar da tela. Apesar de serem suas obras mais
populares, Emin produziu apenas 40 destes bordados. Os textos cortados e
costurados são cortados de roupas doadas por amigos, ou tecidos de origem
familiar, como tecidos florais. O aspecto social da costura e do bordado é parte
do apelo destas obras. Existe uma longa história que permeia obras de arte
bordadas, alimentando-se da arte feminista dos anos 1960 e 1970, mas estes
bordados perpassam outra tradição, a dos banners e estandartes feitos por
sindicatos e institutos que lutavam pelos direitos da mulher.
Estandarte de sindicato dos Padeiros Judeus de Londres, 1926.
Tecido bordado (110 x 90 cm)
As colchas de Emin apresentam uma mistura de trabalho manual
feminino com textos capciosos. Os textos variam de letras maiúsculas, que
passam um caráter de um grito bravo, a textos íntimos escritos à mão em
pequenos quadrados de algodão, como se fossem sussurros privados e
secretos.
68
Tracey Emin, Helter Fucking Skelter, 2001
Colcha bordada (253 x 220 cm)
Tracey Emin, Hate and Power Can Be a Terrible Thing, 2004
Colcha bordada (270 x 206 cm)
A partir de 2000 Emin tornou-se uma celebridade global. O cantor
David Bowie entrevistou-a, os cantores Elton John e George Michael
colecionam seus trabalhos, a estilista Vivienne Westwood não só a vestiu,
como também a convidou para estrelar sua campanha publicitária, e até
desenvolveu bolsas para a marca francesa Longchamp. Ela tornou-se em
constante entrevistada e panelista de programas de televisão e rádio, admirada
igualmente por sua apaixonada defesa da arte, sua rapidez indecorosa, sua
imprevisibilidade e visões de mundo. Em 2000 ela tornou-se crítica de hotéis da
revista inglesa GQ, cuja coluna tem o irônico título “As Camas de Tracey Emin”
(Tracey Emin´s Beds); além disto em 2007 passou a assinar também uma
coluna semanal no jornal britânico The Independent. Ainda neste ano
69
representou a Grã Bretanha na Bienal de Arte de Veneza. Hoje é membro do
Royal Academy of Arts, possui dois títulos de doutorado honorário, além de
diversos prêmios.
Foto de Mat Collishaw para campanha de Vivienne Westwood em 2001
Projeto comercial de Tracey Emin para Longchamp, 2004
Atualmente Emin é uma das poucas artistas que é amplamente
conhecida e reconhecida por pessoas que não possuem interesse por arte.
Segundo Freedman
22
, a ascendência de Emin poderia não ter ocorrido se não
fosse o contexto cultural e social da metade da década de 1990: a política pró-
criatividade artística do governo liberal de Tony Blair; a morte da Princesa
Diana, que gerou no público uma aceitação emocional; meios de comunicação
22
FREEDMAN, Carl; FUCHS, Rudi e WINTERSON, Jeanette. Tracey Emin: Works 1963
2006. Londres: Rizzoli, 2006. Pag. 34 e seguintes.
70
de massa populares, como a revista Hello! Ou o programa de televisão
apresentado por Oprah Winfrey
23
encorajando artistas a confessarem seus
vícios e desordens alimentares; bem como quando programas reality show
tornaram pessoas comuns em celebridades. Isto posto, vê-se assim a
preparação do terreno pra chegada da obra crua e pessoal de Emin.
A honestidade pela qual expressa sua própria experiência de vida,
passando por sexo, sofrimento e sucesso, é o tema central de seu trabalho.
Seu corpo, sua vida, seus problemas, sua família e amigos, seu ego, suas
vitórias e fracassos. O processo de Emin é uma auto-alimentação para onde a
artista tira sua própria renovação. Sua vida é sua obra,sua obra é sua vida.
“Não posso continuar a viver com tanta coisa bloqueada dentro de
mim”.
24
Vê-se, portanto, o interesse da artista por diversas mídias, utilizando-se
de técnicas que vem do seu trabalho inicial como os bordados, mas também o
uso do néon, instalações, fotos, entre outros materiais. Suas mensagens são
petulantes e, às vezes profanas, mas cada vez mais imbuídas de humor e
auto-depreciação. Esse conjunto de elementos transforma a poética de Emin
em algo singular no contexto artístico atual. Contudo as propostas dos YBAs
permeadas pelo grotesco, pelas relações midiáticas, pelas leis do mercado de
obras de arte e pelas memórias de cada um dos artistas servem como
significativos subsídios para o entendimento da arte contemporânea.
A partir da análise das poéticas dos Young British Artists e,
especialmente da arte confessional de Tracey Emin é possível distinguir as
proposições que movem o homem contemporâneo, porém, acima disso, está a
reflexão sobre o papel da arte como território para as mais diversas
manifestações que possam espelhar e, simultaneamente, ser abrigo das
emoções humanas.
23
Oprah W infrey, apres entadora de famoso t alk show na televisão
americana.
24
GROSENICK, Uta e RIEMSCHNEIDER, Burkhard. Arte Oggi. Colônia: Taschen, 2001. P. 44
71
Obras em destaque
72
Exploration of the Soul
Tracey Emin, Exploration of the Soul, 1994
73
Tracey Emin, Monument Valley (Grand Scale), 1994
Fotografia em vinil (122 x 183 cm)
Tracey Emin, There’s A Lot Of Money In Chairs, 1994
Poltrona bordada (69 x 53,5 x 49,5 cm)
74
Tracey Emin, texto de Exploration of the Soul, 1994.
Textos manuscritos em 32 folhas de papel e fotografias em papel (textos: 29,5 x 21 cm cada;
fotografias: 30 x 21 cm cada)
Tracey Emin, texto de Exploration of the Soul, 1994.
Texto manuscrito (29,5 x 21 cm)
75
O ano de 1994 é um marco significativo para a carreira artística de
Tracey Emin. Após a realização de sua primeira exposição individual na
prestigiada galeria londrina White Cube, Emin vai aos Estados Unidos para
participar da feira de arte New York Grammercy International Art Fair.
Carregando no caráter “faça você mesmo” de sua geração, Emin aproveita esta
oportunidade para concretizar seu projeto Exploration of the Soul.
Palavras escritas são frequentemente empregadas na obra de Emin e
assumem uma importância definitiva para sua expressão artística: bordados
sentimentais e confessionais, tubos de néon “escritos à mão”, notas em
desenhos e pinturas, e agora em livros.
No início de 1994, durante um intenso período de 10 dias, Emin
escreveu uma autobiografia, relatando de forma franca sua conturbada história
pessoal desde sua concepção até a perda de sua virgindade aos 13 anos.
Entitulada Exploration of the Soul, a obra foi escrita em trinta e duas folhas de
papel A4 azuis, e também incluía duas fotos. A publicação deste livro foi feita
pela própria artista, em uma edição limitada de duzentos exemplares, que
foram vendidos por 50 libras antes da publicação e 100 libras após.
1
As vendas financiaram uma turnê de leitura que levou Emin e seu então
namorado, o curador Carl Freedman
2
, desde a costa leste à oeste dos Estados
Unidos no verão de 1994. Antes de embarcar, a artista contatou o jornal Art
Monthly e publicou um anúncio, onde dizia que precisava “de ajuda”: “O que ela
precisa é de um carro (‘que deve acomodar uma poltrona e que me cruze os
Estados Unidos’) e de locais de leitura galerias, casas privadas, livrarias,
escolas de arte, estações de rádio e televisão, até mesmo postos de gasolina’
(...)
3
.
A ironia de Emin despertou o interesse de diversas galerias que
aceitaram pagar pela presença da artista, possibilitando a viagem através da
América. Tais leituras ocorreram nas Galerias Rena Bransten em São
1
TOWNSEND, Cris. “New Art from London”, … op cit. p. 57 e seguintes
2
Parceiro e colaborador do artista Damien Hirst, Freedman foi um dos grandes pilares por trás
do reconhecimento e do crescimento dos YBAs”, tendo feito em 1990 a co-curadoria de duas
exposições seminais: “Modern Medicine” e “Gambler”.
3
Art Monthly, Junho de 1994. no. 177, p. 22
76
Francisco; Regen Projects em Los Angeles; Museu de Arte Contemporânea de
San Diego; Galeria David Klein em Detroit; Mattress Factory em Pittsburgh; e
nas galerias Sandra Gering e White Columns em Nova Iorque
4
.
Emin levou para a viagem uma poltrona antiga de sua avó, na qual
estavam bordados os nomes Plume Pudding”, apelidos que utilizavam para
se chamarem, além de bordados com s datas de nascimento de cada uma,
1901 e 1963. Emin realizava as leituras sentada na poltrona e, a medida que
terminava a performance, bordava o nome das cidades pelos tecidos da
poltrona.
A primeira frase, Just making Love to fuck. Insanely”, parece a
principio descrever a relação de Emin e um parceiro. Entretanto, pode-se aferir
que tal frase refere-se mais à universalidade do sexo para a procriação,
incluindo o encontro sexual dos pais da artista para retratar a concepção
espiritual e biológica de Emin e seu irmão gêmeo. Emin apresenta assim a
discussão entre a materialidade do sexo e sua ambigüidade mística,
envolvendo paixão e eternidade.
A narrativa do livro conclui-se com um dos episódios mais traumáticos
da vida de Emin, seu estupro aos 13 anos, em 31 de dezembro de 1976.
Ocorrido em uma viela, após a artista deixar uma discoteca, este estupro
marca o fim de uma infância já por demais conturbada.
Assim, como em uma jornada de auto-descoberta e análise, Emin atuou
como em um ritual de cura recontando suas memórias pessoais dolorosas.
Sentada, ou quizá protegida, sob uma antiga poltrona de sua avó, decorada – e
sendo decorada ao longo da viagem com bordados, “patchworks” e apliques
que contam anedotas pessoais, a artista expôs-se, expôs suas memórias e seu
passado ao público norte-americano ao longo de tais paradas.
O resultado de tal jornada? Condizente com sua proposta artística, esse
episódio de sua vida torna-se arte, abre-se a outras audiências e análises,
adquire outra proposta e oferenda. A poltrona deixa o solo norte-americano e é
4
EMIN, Tracey. Exploration of The Soul. Londres: Counter Gallery, 2003.
77
transposta ao espaço expositivo com o irônico título There’s A Lot Of Money In
Chairs, adquirindo a função de escultura. Registros fotográficos transgressivos
e engraçados da artista, sentada na poltrona bordada de sua avó, fazendo uma
leitura de seu livro no deserto de Arizona são expostos sob o nome Monument
Valley (Grand Scale). E o livro em si, Exploration Of The Soul, além de
disponível para venda juntamente com duas fotos originais da artista em sua
infância e bordados com as letras “T” e “E”, adquire a condição de “arte” como
uma, talvez, instalação, onde os textos estão escritos à mão em diversas
páginas de dimensões variadas, pertencendo atualmente à coleção da Tate
Gallery em Londres.
Isto é o que faz com que Emin esteja tão sincronizada com a cultura
contemporânea, fornecendo consistentemente uma narrativa pessoal,
relacionada aos eventos traumáticos de sua vida, de modo que seu trabalho
possa ser lido como uma resposta à trajetória emocional de sua vida.
78
My Bed
Tracey Emin, My Bed, 1998
Colchão, lençol, travesseiros e materiais diversos (dimensões variadas)
Cinco dias em profunda depressão. Cinco dias deitada em sua cama,
apenas bebendo, sem comer, mais magra do que jamais esteve. Ao finalmente
levantar-se e distanciar-se daquela cena, Tracey Emin transpôs o que viu para
sua mais famosa e controversa obra: My Bed (1998). Como uma metáfora de
toda sua carreira artística, vida e obra confundem-se: sua cama torna-se arte e,
mais uma vez, a artista expõe-se brutalmente em busca de liberdade.
“Quando eu acordei eu estava tão desidratada ... ao voltar da
cozinha para o quarto vi uma cena nojenta. Olhei para a cama
e pensei ‘Meu Deus, eu poderia ter morrido aqui’ e seria desta
forma que me encontrariam. Então, em um segundo parecendo
horrível, aquela cama tornou-se algo removido de mim, algo
fora de mim, algo belo.”
5
5
Citação de Tracey Emin em MERCK, Mandy e TOWNSEND, Chris (eds). The Art of Tracey
Emin , Londres: Thames & Hudsosn, 2002. p. 122
79
Em My Bed o uso provocativo de materiais pessoais e da exposição nua
e crua de um momento difícil da vida da artista, ao invés de uma interpretação
desta, é marcante e encapsula tanto a vida quanto a produção artística de
Emin. Tanto vida quanto obra, uma vez que é impossível dissociá-las, pois se
alimentam mutuamente, são interdependentes e até precisam uma da outra
para a sobrevivência.
My Bed é um convite para refletirmos as nossas próprias fragilidades,
inseguranças e imperfeições. Como característico no trabalho de Emin, a obra
consiste literalmente no que o nome propõe: a cama da artista. Transposta de
seu local privado para o espaço expositivo, é uma cama desfeita, desarrumada,
repleta de objetos pessoais ou de consumo pessoal, refletindo uma sensação
de refúgio pessoal e auto-negligência. A contradição entre revelação pública e
o oculto é forte.
Os objetos que estão na cama ou à sua volta, a princípio difíceis de
serem notados, evocam vários níveis de enjôo e curiosidade. Sobre lençóis
sujos com manchas de urina e suor encontram-se cinzeiros repletos de cinzas,
diversos maços de cigarros, garrafas vazias de vodka, lenços e preservativos
usados, roupas pessoais sujas, absorventes íntimos, chinelos, vidros de
remédios, um brinquedo de pelúcia. Detritos de sua intimidade que marcam um
momento e um espaço específico do passado da artista.
80
Detalhe: Tracey Emin, My Bed, 1998
Colchão, lençol, travesseiros e materiais diversos (dimensões variadas)
Como um palco para ocasiões e eventos, a cama de Emin discute abuso
e assédio sexual, terror e perigo físico, conflitos, medos e opressões. Apesar
de rodeada por histórias de amor, sexo, abortos e promiscuidade, a proposta
de My Bed é contraditória e múltipla. Fala tanto de Emin em si, quanto das
pessoas envolvidas em sua vida, e, por fim, fala da audiência que, no momento
em que visitam a obra deixam de ser observadores para tornarem-se
cúmplices.
Apresentada primeiramente em 1998 no espaço expositivo Sagacho, em
Tókio, e no ano seguinte durante a primeira exposição individual da artista nos
Estados Unidos na Galeria Lehmann Maupin, em Nova Iorque, o repertório de
materiais e entornos de My Bed não são fixos, uma vez que a artista adiciona e
altera as obras adjacentes que compõem a instalação.
6
Entretanto a fama da obra inicia-se após ser submetida ao aclamado
Prêmio Turner de 1999, oferecido anualmente pela Galeria Tate de Londres.
Apresentada como peça principal envolta por oito vídeos caseiros, quatro
aquarelas de pequenas dimensões, uma parede com desenhos feitos durante a
6
TOWNSEND, Cris. “New Art from London”, op cit. p. 97 e seguintes.
81
adolescência da artista, um trabalho em neon, e uma de suas famosas colchas
bordadas. Selecionada como uma das quatro finalistas, Emin não saiu
vitoriosa. Entretanto My Bed é até hoje a obra mais conhecida daquela edição
do prêmio tanto pelo choque causado quanto pela controversa ao redor da
proposta – e quizá alimentado pela polêmica imagem da artista.
Tracey Emin, Berlin The Last Week in April, 1998
Aquarela em papel (10,5 x 14,7 cm)
Tracey Emin, Every Part of Me´s Bleeding, 1999
Neon azul (100 x 200 cm)
Tracey Emin, No Chance, 1999
Colcha bordada (226 x 290 cm)
82
Algumas anedotas contribuem para a atenção mediática despertada pela
obra. Desde uma tentativa de limpeza dos objetos dispostos pelo chão como
parte da instalação, por serem confundidos com lixo; aa intervenção artística
de dois jovens chineses, Yuan Chai e Jian Jun Xi, que realizaram a
performance Two Naked Man Jump Into Tracey’s Bed sobre a cama durante 15
minutos sob aplausos dos visitantes até serem expulsos pelos seguranças da
Galeria Tate. Entretanto, foi o valor pago pelo colecionador inglês Charles
Saatchi pela obra (150 mil libras) o que mais causou furor ao redor de My Bed,
extrapolando as discussões para além do circuito das artes plásticas britânicas
e invadindo as pautas dos jornais e programas de televisão locais.
Yuan Chai e Jian Jun Xi, Two Naked Man Jump Into Tracey’s Bed, 1999
Performance
Como recorrente em sua produção artística, My Bed evidencia o caráter
autobiográfico e confessional da arte de Tracey Emin, para quem a arte é
necessária como um processo de cura e libertação, expurgando os demônios
de seu passado, e convidando os espectadores a juntos mergulharem em suas
fragilidades e inseguranças. Uma voz autobiográfica, que pulsa privacidade,
intimidade e vulnerabilidade, ouvida e testemunhada com chocante
intensidade.
83
CONCLUSÃO
Herdeiros da linguagem direta e sem restrições da arte pop inglesa, os
artista vinculados à Young British Art (YBA), utilizam os meios midiáticos para
vincular suas narrativas íntimas e pessoais ao público. Nesse ponto, deve-se
levar em conta o apreço dos ingleses pela invasão de privacidade. A Inglaterra
é uma sociedade de classe que vive sob o pesado histórico midiatizado. Tem
sua família real como pilar de maior tradição, ao mesmo tempo, em que
também a transforma em objeto mediático e turístico Essa nova geração de
artistas nada mais faz do que abrir, através dos objetos, suas memórias
íntimas. Indagam sobre questões de seu tempo: violência, sexo, angústias,
avanços tecnológicos e científicos. Despertam a polêmica e subvertem os
valores tradicionais da sociedade inglesa.
É desse contexto que emerge a poética de Tracey Emin: mulher, filha
de imigrantes, de classe trabalhadora. No discurso social, uma representante
do feminismo, da cultura pop e de uma geração cética e desencantada. Uma
artista que trabalha com as questões corporais e com relatos pessoais, com a
habilidade de transmitir seu desencanto de forma direta ao público.
Muito associada ao realismo psicológico característico do pós-
modernismo apresentado por Jencks, corpo, gênero, sexo, memórias são as
temáticas complexas que motivam Tracey Emin, que produz uma arte física
que traz a tona questões sobre as tradicionais imagens do corpo e da condição
humana. Diversas características da pós-modernidade são fortemente
explicitadas na obra de Emin, sua constante nostalgia ao passado, uma
dramatização de suas questões morais, um individualismo exacerbado, e um
constante uso da ironia e táticas de choque.
A arte confessional, sob a atmosfera criada pelas intervenções de
Emin, ganha novos status, e em particular, sua exibição, o trabalho de Emin
84
revela tudo o que o público poderia querer saber sobre sua vida, sua infância,
seus amores, suas dores. É uma narrativa insistente sobre seu azar na vida, no
amor, nos relacionamentos, sua sobrevivência. Enfim, Emin é dramaticamente
honesta em seu trabalho. Uma artista que revela francamente seu
desenvolvimento pessoal um tanto quanto inusitado.
Vê-se que, em seu trabalho artístico, o passado é doloroso e o futuro
desconhecido. Emin trabalha internamente, como que se espantando e
liberando seus fantasmas. Daí sua famosa frase: Eu preciso de arte assim
como preciso de Deus”. Sua ambição como artista é a de inspirar os outros
com a sua maneira de pensar, mas não oferecendo uma receita. Ela quer fazer
arte que outras pessoas possam fazer caso queiram.
Pode-se dizer que Emin é a voz da mulher solteira urbana da Inglaterra:
direta, desinibida, inspirada pela cultura pop, forte com os homens. Tornou-se
uma heroína para a geração de desafetos dos anos 1990, com uma habilidade
de transmitir sua tristeza e desencanto pessoal de uma maneira direta e
lucrativa.
Aceita como para a maioria dos membros da YBA, a mercantilização de
sua obra integra o circuito das celebridades que tanto afeta a cultura pop.
Terreno rtil e ao mesmo tempo poderoso, a cultura de massa possibilita a
compreensão de sua obra pelo grande público. Assim, observa-se que
aspectos relevantes de sua obra remetem à leitura da arte Pop inglesa de
princípios da década de 1960: o uso de recursos como a fotografia, o texto, os
símbolos, a imagem multievocativa, a abundância de objetos nas
ambientações, o objeto como recordação dos sentimentos e o roteiro
cinematográfico de uma vida perturbada são os motivadores principais para
sua poética contemporânea.
O trabalho de Emin é uma tentativa para encontrar validação intelectual
e cultural para sua frágil existência. Toda obra é uma confissão. Ela o faz em
néon, bordados, desenhos, anotações, vídeos, instalações, fotografias. Junto
com seus trabalhos tridimensionais, ela acrescenta impressões, pinturas,
desenhos, seus diários, documentando seus pensamentos. Em Exploration of
the Soul a artista transforma sua jornada em happening de sua própria vida.
85
Em My Bed os objetos dispostos na instalação registram a melancolia dos
tempos atuais. Ao falar de sua vida a artista toca em problemas e questões que
são inerentes às mulheres e aos homens cercados pela contemporaneidade.
Sempre interessada em usar a arte como meio de resolver seus próprios
problemas, em expressar suas emoções, a artista despejou sua própria vida e
suas memórias em arte, e o fez compulsivamente, sem se preocupar com o
resultado futuro. Escavando suas próprias experiências pessoais em detalhes,
construindo exibições que têm associações psicológicas perturbadoras com o
seu estado passado e presente.
Sua arte é como um divã, onde o assunto a ser discutido é a sua própria
rica e atormentada vida, Emin estabelece um diálogo generoso entre o
espectador e a obra explorando emoções universais. Muito de sua produção
aborda aspectos de sua vida pessoal, com uma brutal honestidade para o
relato de suas dolorosas intimidades, e seu conteúdo caminha pelo humor, pelo
feminismo, pelo corpo (“self”), pelo choque e pela polêmica. Emin adquiriu
grande notoriedade pública como uma auto-publicista sem pudores e sem
vergonhas, apresentando um apetite especial para o comportamento grosseiro.
De qualquer forma, sua arte é original, prolífica, chocante e raivosa tanto na
intensidade da mensagem como na abrangência de idéias e mídias.
A partir da análise das poéticas dos Young British Artists e,
especialmente da arte confessional de Tracey Emin é possível distinguir as
proposições que movem o homem contemporâneo, porém, acima disso, está a
reflexão sobre o papel da arte como território para as mais diversas
manifestações que possam espelhar e, simultaneamente, ser abrigo das
emoções humanas.
86
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WHITE CUBE GALLERY. Tracey Emin. http://www.whitecube.com/artists/emin/
93
Anexos
94
Lista de Obras
Tracey Emin, Detalhe de Outside My Self (Monument Valley), 1994.
Fotografia em vinil (122 x 183 cm). Tate Modern, Londres. Capa
Catálogo e fotografia da exposição Parallel of Life and Art, 1953
20
Detalhe do convite para a exposição Man, Machine and Motion, 1995
22
Cartaz da exposição This is Tomorrow, 1956
24
Richard Hamilton. Just What Is It that Makes Today´s Homes So
Different? So Appealing? 1956. Colagem (26 x 25 cm). Kunsthalle
Tübingen, Tübingen. 25
Bandas Blur e Oasis em 1990
29
Convites para as festas rave Haçienda e Raindance de 1990
29
Cartaz do filme Riff Raff, de Ken Loach
29
Damien Hirst, Did You No Wrong, 1990-91. Frascos de remédios em
gabinete. (137.16 x 101.6 x 22.86 cm). Galeria White Cube, Londres. 31
Jake e Dinos Chapman, Übermensch, 1995. Fibra de vidro, resina e
tinta (366 x 183 x 183 cm). Galeria Saatchi, Londres 31
Rachel Whiteread, Ghost, 1990. Gesso em moldura de aço (269 x
355.5 x 317.5 cm). Tate Modern, Londres 32
Sarah Lucas, Self Portrait with Fried Eggs. 1996. Fotografia em papel
(76 x 56,5 cm) . Tate Modern, Londres. 32
Tracey Emin, Mad Tracey from Margate: Everyone´s Been There,
1997. Colcha com bordados ( 21,5 x 26,7 cm). Coleção w.
Januszczak. 33
Gavin Turk, Pop, 1993. Cera e materiais diversos . Galeria Saatchi,
Londres 33
Douglas Gordon, Confessions of a Justified Sinner 1995. Vídeo
instalação em duas partes (300 x 400 cm cada). Fondation Cartier
pour l´art contemporain, Paris. 34
95
Marc Quinn, Self, 2001. Sangue do artista, aço, perspex e
equipamento de refrigeração (205 x 65 x 65 cm). Galeria Saatchi,
Londres. 34
Damien Hirst, The Physical Impossibility of Death in the Mind of
Someone Living, 1991, Vidro, aço, silicone, tubarão e 5% de solução
formol (213.4 x 640.1 x 213.4 cm). Galeria Saatchi, Londres. 41
Marcus Harvey, Myra, 1995. Acrílico sobre tela (270 x 340 cm). Galeria
Saatchi, Londres. 41
Jake & Dinos Chapman, Fuck Face, 1994. Materiais diversos. Tate
Modern, Londres. 41
Tracey Emin, Everyone I Have Ever Slept with 1963-1995, 1995.
Barraca bordada, colcha, luz (122 x 245 x 215 cm). Galeria Saatchi,
Londres. 42
Tracey Emin, Lighthouse, 1995. Monoprint (58 x 75 cm). Coleção da
artista. 46
Tracey Emin, Fucking Down na Ally, 1995. Monoprint (58 x 75 cm).
Coleção da artista. 46
Tracey Emin, Clocktower, 1995. Monoprint (58 x 75 cm). Coleção da
artista. 46
Tracey Emin, Why I Never Became a Dancer, 1995. Vídeo, filme Super
8 (6 minutos e 30 segundos). Galeria White Cube, Londres. 47
Tracey Emin, My Abortion, 1990. 5 itens de memória e textos
manuscritos (dimensões variadas). Coleção Frank Gallipoli. 49
Tracey Emin e Sarah Lucas na The Shop. Foto: Carl Freedman, 1994.
50
Detalhes de objetos vendidos na The Shop. Foto: Carl Freedman,
1994. 51
Tracey Emin e Sarah Lucas, The Last Night of the Shop 3.7.93, 1993.
Tecido e broches de papel (151 x 135 cm). Tate Modern, Londres. 51
Tracey Emin, My Major Retrospective 1982-92, 1993. Materiais
diversos (dimensões variadas). Galeria White Cube, Londres. 53
Tracey Emin, Uncle Colin, 1993. Materiais diversos (dimensões
variadas). Coleção privada, Bélgica. 53
96
Tracey Emin, May Dodge, My Nan, 1993. Materiais diversos
(dimensões variadas). Tate Modern, Londres. 54
Tracey Emin, Me and Paul 1963-93, 1993. Materiais diversos
(dimensões variadas). Tate Modern, Londres.
54
Tracey Emin, Hotel International, 1993. Colcha e bordados (260 x 240
cm). Coleção Rachel e Jean-Pierre Lehmann, Nova Iorque. 55
Tracey Emin, Exploration of the Soul, 1994. Performance, textos
manuscritos e fotos (30 x 21cm cada). Tate Modern, Londres. 56
Tracey Emin, The Last Thing I said to you is don’t leave me here,
2000. Cabana em Madeira (dimensões variadas). Galeria White Cube,
Londres. 56
Tracey Emin Tracey Emin, The Last Thing I said to you is don’t leave
me here I e II, 2000. Fotos (I: 107 x 134 cm e II: 80 x 109 cm). Galeria
White Cube, Londres. 57
Tracey Emin, Everyone I Have Ever Slept with 1963-1995, 1995.
Barraca bordada, colcha, luz (122 x 245 x 215 cm). Galeria Saatchi,
Londres. 57
The Tracey Emin Museum, 1996. Fotografia. Coleção da artista,
Londres. 59
Tracey Emin, Exorcism Of The Last Painting I Ever Made, 1996.
Performance e instalação incluindo pinturas, desenhos, tintas, baldes,
pincéis, aquecedor, cesto de frutas e escada (dimensões variadas).
Galeria Saatchi, Londres. 60
Tracey Emin, Fantastic to Feel Beautiful Again, 1997. Neon (107 x 127
x 10 cm). Coleção privada. 61
Tracey Emin, Homage to Edvard Munch and All My Dead Children,
1998. Vídeo em filme Super 8 (duração 1 minuto). Galeria White Cube,
Londres. 62
Tracey Emin, My Bed, 1998. Colchão, lençol, travesseiros e materiais
diversos (dimensões variadas). Galeria Saatchi, Londres. 63
Tracey Emin, It´s Not the Way I Want to Die, 2005. Metal e Madeira de
demolição (310 x 860 x 405 cm). Galeria White Cube, Londres. 64
Tracey Emin, The Perfect Place to Grow, 2001. Materiais diversos
incluindo casa de pássaros de madeira, monitor de TV, cavalete, 65
97
plantas e vídeo (261 x 82,5 x 162 cm e vídeo com duração de 1 minuto
e 45 segundos). Tate Modern, Londres.
Tracey Emin, Feeling Pregnant II, 2002. Vitrine com sapatos de
criança e textos (49,7 x 56,7 x 17 cm). Coleção privada, Mônaco. 65
Tracey Emin, Feeling Pregnant III, 2005. Tecido, madeira e metal
(dimensões variadas). Coleção privada. 66
Tracey Emin, Conversation with My Mum, 2001. 2 cadeiras de criança,
mesa, monitor de TV e vídeo (dimensões variadas e duração 35
minutos). Galeria White Cube, Londres. 66
Estandarte de sindicato dos Padeiros Judeus de Londres, 1926.
Tecido bordado (110 x 90 cm). People´s History Museum, Manchester.
67
Tracey Emin, Helter Fucking Skelter, 2001. Colcha bordada (253 x 220
cm). Tate Modern, Londres. 68
Tracey Emin, Hate and Power Can Be a Terrible Thing, 2004. Colcha
bordada (270 x 206 cm). Tate Modern, Londres. 68
Foto de Mat Collishaw para campanha de Vivienne Westwood em
2001. 69
Projeto comercial de Tracey Emin para Longchamp, 2004. 69
Tracey Emin, Exploration of the Soul, 1994. Performance, textos
manuscritos e fotos (30 x 21cm cada). Tate Modern, Londres. 72
Tracey Emin, Monument Valley (Grand Scale), 1994. Fotografia em
vinil (122 x 183 cm). Tate Modern, Londres. 73
Tracey Emin, There’s A Lot Of Money In Chairs, 1994. Poltrona
bordada (69 x 53,5 x 49,5 cm). Coleção privada. 73
Tracey Emin, texto de Exploration of the Soul, 1994. Textos
manuscritos em 32 folhas de papel e fotografias em papel (textos:
29,5 x 21 cm cada; fotografias: 30 x 21 cm cada). Tate Modern,
Londres. 74
Tracey Emin, texto de Exploration of the Soul, 1994. Texto manuscrito
(29,5 x 21 cm). Tate Modern, Londres. 74
Tracey Emin, My Bed, 1998. Colchão, lençol, travesseiros e materiais
diversos (dimensões variadas). Galeria Saatchi, Londres. 78
Detalhe: Tracey Emin, My Bed, 1998. Colchão, lençol, travesseiros e
80
98
materiais diversos (dimensões variadas). Galeria Saatchi, Londres.
Tracey Emin, Berlin The Last Week in April, 1998. Aquarela em papel
(10,5 x 14,7 cm). Coleção Robert Diament. 81
Tracey Emin, Every Part of Me´s Bleeding, 1999. Neon azul (100 x 200
cm). Galeria Lehmann Maupin, Nova Iorque. 81
Tracey Emin, No Chance, 1999. Colcha bordada (226 x 290 cm).
Coleção privada. 81
Yuan Chai e Jian Jun Xi, Two Naked Man Jump Into Tracey’s Bed,
1999. Performance. Registro fotográfico dos artistas, Londres. 82
99
Exposições Individuais
2009
Only God Knows I´m Good, Lehmann Maupin, Nova Iorque
Those Who Suffer Love, White Cube, Londres
The Making of Art, Schrin Kunsthalle, Frankfurt
With You I Want to Live, Museum of Art, Fort Lauderdale
2008
Tracey Emin 20 Years, Scottish National Gallery of Modern Art, Edinburgo
Tracey Emin 20 Years, Kunstmuseum, Berna
Tracey Emin 20 Years, Centro de Arte Contemporáneo de Málaga , Málaga
2007
Tracey Emin: You Left Me Breathing, Gagosian Gallery, Los Angeles
Tracey Emin: Borrowed Light, Pavilhão Britânico, Veneza
2006
More Flow: Galleria Lorcan O´neill, Roma
100
2005
I Can Feel Your Smile, Lehmann Maupin, Nova Iorque
When I Think About Sex…, White Cube, Londres
Death Mask, National Portrait Gallery, Londres
2004
Tracey Emin. Monoprints, Museo de Bellas Artes, Santiago
Tracey Istanbulda, Platform Garanti Contemporary Art Center, Istambul
Tracey Emin, BP British Art Displays, Tate Britain, Londres
I’ll Meet You In Heaven, Galleria Lorcan O’Neill, Roma
Can’t See Past My Own Eyes, SkeFear, War And The Scream, Roslyn Oxley,
Sydney, City Gallery, Wellington
2003
Menphis, Counter Gallery, Londres
Tracey Emin, Art Gallery of New South Wales, Sydney
2002
This is Another Place, Modern Art Oxford, Oxford
Ten Years. Tracey Emin, Stedelijk Museum, Amsterdã
I Think it’s in my head, Lehmann Maupin Gallery, Nova Iorque
Tracey Emin Showreel, The Genesis Cinema, Londres
Tracey Emin, Haus der Kunst, Munique
101
2001
Tracey Emin. You forgot to kiss my soul, White Cube, Londres
2000
Love is a Strange Thing, Fig.1, Londres
What Do You Know About Love, Galerie Gebauer, Berlim
1999
Tracey Emin Every Part of Me’s Bleeding, Lehmann Maupin, Nova Iorque
1998
Sobasex (My Cunt is Wet with Fear), Sagacho Exhibition Space, Tokio
Cunt Vernacular, Galerie Gebauer, Berlim
I Need Art Like I Need God, Gesellschaft für Aktuelle Kunst, Bremen
Tracey Emin, Galerie Phiippe Rizzo, Paris
1997
Solo Exhibition, Moo Gallery, Helsinki
I Need Art Like I Need God, South London Gallery, Londres
Istanbul Biennial, Pera Palace Hotel, Istambul
102
1996
It’s not me that’s crying, it’s my soul, Galerie Mot & Van den Boogaard,
Bruxelas
The Aggression of Beauty, Galerie Arndt & Partner, Berlim
Exorcism of the Last Painting I Ever Made, Galleri Andreas Brändström,
Estocolmo
Tracey Emin, Habitat, Tottenham Court Road, Londres
1995
Tracey Emin Museum, 221 Waterloo Road, Londres
1994
Art Cologne, Artista patrocinado, Jay Jopling / White Cube, Colonia
Exploration of the Soul - Journey Across America, Leituras nas galerias: Rena
Bransten, São Francisco; Regen Projects, Los Angeles; Museum of
Contemporary Art, San Diego; David Klein Gallery, Detroite; Mattress Factory,
Pittsburgh; Sandra Gering Gallery, Nova Iorque; White Columns, Nova Iorque
1993
My Major Retrospective, White Cube, Londres
From Army to Armani, Analix Gallery, Geneva
The Shop, 103 Bethnal Green Road, Londres
103
Exposições Coletivas
2009
Pop Life: Art in a Material World, Tate Modern, Londres
2008
Summer Exhibition 2008, Royal Academy of Arts, Londres
2005
Sketch in Motion: A Group Exhibition of Artists’ Animation, Sketch, Londres
Super!: First Triennial for Contemporary Art, Fashion and Design, Hasselt
Realit;)t. Von Olaf Breuning bis Sam Taylor-Wood. 30 Videoarbeiten aus der
Sammlung Goetz in München, Seedamm Kulturzentrum, Munique
Munch Revisited, Henie Onstad Kunstcenter, Oslo
On Love, Museum Het Domein, Sittard
Summer Exhibition, Stedelijk Museum, Amsterdã
Summer Exhibition 2005, Royal Academy, Londres
London Calling. Y[oung] B[ritish] A[rtists] Criss-Crossed, Galleri Kaare
Berntsen, Oslo
Body: New Art from the UK, Vancouver Art Gallery, Vancouver
Kiss the Frog! The Art of Transformation, National Museum of Art, Oslo
104
Identity and Nomadism, Palazzo delle Papesse, Siena
25. Twenty-five Years of the Deutsche Bank Collection, Deutsche Guggenheim,
Berlim
Viviseccion. Dibujo Contemporaneo, Museo de Arte Carrillo Gil, Cidade do
México
Mé-tissages, MIAT, Museum voor Industriële Archeologie en Textiel, Gent
Women’s Film Festival, ICA, Londres
Berlin Film Festival
Critic’s Choice, FACT, Liverpool
2004
The Christmas Exhibition 2004, Edinburgh Printmakers, Edinburgo
Fonetography, AOP Gallery, Londres
1st International Biennial of Contemporary Art of Sevilla, Monastry of the
Cartuja of Sanat Maria de las Cuevas, Seville
Seven Sins, Museo d’Arte Moderna e Contemporanea, Bolzano
Einleuchten, Museum der Moderne, Salzburg
Printers Inc.: Recent British Prints, Manchester Art Gallery, Manchester /
Brewhouse
Theatre and Arts Centre, Taunton / Park Gallery, Falkirk
Summer Exhibition, Royal Academy, Londres
The Other Flower Show, Victoria & Albert Museum, Londres
Stranger Than Fiction, Leeds Art Gallery, Leeds / Tulie House, Carlisle / Ferens
Art Gallery, Hull / Nottingham Castle / Brighton Museum and Art Gallery,
Brighton
105
La Collection D’Art Contemporain DAgnes B, Les Abattoirs, Toulouse
Why I Never Became A Dancer, Frans Hals Museum, Haarlem
See It…Read It, Draíocht, Dublin
Secrets of the ‘90s, Museum voor Moderne Kunst Arnhem, Arnhem
Social Strategies. Redefining Social Realism, Schick Art Gallery, Skidmore
College, Nova Iorque
Flexible 4: Identities, Nederlands Textielmuseum, Tilburg / Kunsthalle Brandts
Klaedefabrik, Odense
2003
Social Strategies. Redefining Social Realism, DePauw University, Greencastle
Flexible 4: Identities, Whitworth Art Gallery, Manchester
Happiness: A Survival Guide for Art and Life, Mori Art Museum, Tokio
Fast Forward – Media Art, ZKM, Karlsruhe
FRESH: Contemporary British Artists in Print, Edinburgh Printmakers,
Edinburgo
Just Love Me; Post-Feministic Art of the 1990’s, Bergen Art Museum, Bergen
A Bigger Splash: British Art from Tate 1960-2003, OCA & ITO, São Paulo
Game Over, Grimm Rosenfeld, Munique
Independence, South London Gallery, Londres
The Happy Couple, Cartwright Hall Art Gallery, Bradford
Il racconto del filo, Museo di Arte Moderna, Trento
Europe Exists, Macedonian Museum of Contemporary Art, Thessaloniki
Let’s See the Nature in You, Pepperton Gallery, Londres
106
Tactics of the Ego, Stiftung Wilhelm Lehmbruck Museum, Duisburg
Micro/macro, The Budepest Kunsthalle, Budapeste
Words from the Arts Council Collection, The Harris Museum and Art Gallery,
Preston
The Map Is Not The Territory III, James Hockey Gallery, The Surrey Institute of
Art & Design, Surrey
En Route, De Hallen, Haarlem
Social Strategies, Redefining Social Realism, University Art Museum, Santa
Barbara
2002
Face Off, Kettle’s Yard, Cambridge
Rapture: Art’s Seduction by Fashion Since 1970, Barbican Gallery, Londres
The Ink Jetty, Neon Gallery, Londres
Shine, St Pancras Chambers, Londres
The Glory of God: New Religiuos Art. St. Peter’s Church, Liverpool
Disturb. 1st Public School of Hydra, Hydra, Grécia
Die Wohltat der Kunst: Post\Feministische Positionen der neunziger Jahre aus
der Sammlung
Fusion Cuisine. Deste Foundation, Centre for Contemporary Art, Atenas
Public Affairs. Von Beuys bis Zittel: Das Offentliche in der Kunst, Kunsthaus
Zurique
Landscape, Saatchi Gallery, Londres
107
The Rowan Collection. Contemporary British & Irish Art, Irish Museum of
Modern Art, Dublin
2001
Trans Sexual Express, Palacio Municipal de Exposiciones, Barcelona
Coruńa; Mucsarnok Budapest
For the Love of Dog, Pump House Gallery, Londres
Printers Inc., The Gallery, Stratford-upon-Avon
Read-Only Memory, Mead Gallery, Warwick Arts Centre, University of Warwick,
Coventry
Televisions, Kunsthalle Wien, Viena
Video Project Space, Anthony Wilkinson Gallery, Londres
In Formation, Percy Miller Gallery, Londres
For the love of dog, Pump House Gallery, Londres
At Sea, Tate Liverpool, Liverpool
Tattoo Show, Modern Art, Londres
Summer Exhibition 2001, Royal Academy of Arts, Londres
Freestyle. Werke Aus der Sammlung Boros, Museum Morsbroich, Leverkusen
Century City, Tate Modern, Londres
Insider Trading: profit without honour, Mandeville Hotel, Londres
2000
Peter Blake: About Collage, Tate Gallery, Londres
108
Nurture and Desire, Hayward Gallery, Londres
Sex and the British: Slap & Tickle A perspective on the sexual content of
British Art since the 1960s, Gallerie Thaddaeus Ropac, Salzburg; Gallerie
Thaddaeus Ropac, Paris
Gut Aufgelegt, Kunsthaus, Hamburgo
Drawings, Sommer Contemporary Art, Tel-Aviv
Drawings, Taché-Lévy Gallery, Bruxelas
Potent Present. Selections from the Vicki and Kent Logan Collection, Logan
Galleries, California College of Arts and Crafts, San Francisco
ManMoMa. A Thick Bloke Kicking a Dog to Death, The International 3 Summer
Fête, Fairfield, Manchester
From Face to Face. Mimics Gestures Emotions, Stästisches Museum
Leverkusen, Leverkusen
Out There, White Cube, Hoxton Square, Londres
Art in Sacred Spaces, St. Mary’s Church, Islington, Londres
The British Art Show 5, The Scottish National gallery of Modern Art, Edinburgo
Diary, Cornerhouse, Manchester
1999
Hundstage, Gesellschaft für Aktuelle Kunst, Bremen
Imagen em Movimento. Moving Image, Chiva [S]ynergies Art, São Paulo
Art Lovers, The Liverpool Biennial of Contemporary Art, Compton House,
Liverpool
Turner Prize, Tate Gallery, Londres
109
Now It’s My Turn to Scream. Works by Contemporary British Artists from the
Logan Collection, Haines Gallery, São Francisco
Self Evident, Vaknin Schwartz, Atlanta
Temple of Diana, The Blue Gallery, Londres
Sweetie, The British School at Rome, Roma
Video Festival, Riccione TTV, Palazzo del Turismo, Riccione
1998
10 SupaStore Supastars, SupaStore at Tomato, Londres
Made in London. An exhibition of works by London based artists made in
the1990s, Museu de Electricidade, Lisboa
Pandaemonium, London Electronic Arts Gallery, Londres
UK Maximum Diversity, Galerie Krinzinger, Benger Fabrik Bregenz, Bregenz
The Colony Room 50th Anniversary Art Exhibition, A22 Projects, Londres
Hidden Desires And Images, Art Dynamics, Tayayo Lida, Tokio
Emotion. Young British and American Art from the Goetz Collection,
Deichtorhallen, Hamburgo
Personal Effects, Spacex Gallery, Exeter; Angel Row Gallery, Nottingham
Dream Catchers, Montreal Biennial, Canada
Loose Threads, Serpentine Gallery, London
Life is a Bitch, De Appel, Amsterdã
La Biennale de Montreal, Centre International D'Art Contemporain de Montreal,
Montreal
110
Sam Taylor-Wood, Tracey Emin, Gillian Wearing, Marc Quinn, Galerija Dante
Marino Cettina, Croatia
Live and Let Die Apex Art C.P., Nova Iorque
Beach Life, Upper Street, Londres
Real Life, Galleria S.A.L.E.S., Roma
The Human Factor, Achenbach Kunsthandel, Düsseldorf
English Rose in Japan, Ginza Art Museum, Shisedo, Tokio
Art from the UK: Angela Bulloch, Willie Doherty, Tracey Emin, Sarah Lucas,
Sam Taylor-Wood, Sammlung Goetz, Munique
1997
Ca-Ca Poo-Poo, Kölnischer Kunstverein, Colonia
History. Image-based work in Britain in the late 20th Century, The Ferens Art
Gallery
Craft, Richard Salmon, Londres
Real Art for Real Women. Oil of Ulay, ICA, Londres
Absolute Secret, Royal College of Art, Londres
Private Face. Urban Space, Old Gasworks, Atenas
Kunst..Arbeit, 1st Presentation of the Banks Collection, Südwest LB, Stuttgart
Tales from the City, Stills Gallery, Edinburgo
Sensation, Royal Academy of Arts, London; Hamburger Bahnhof, Berlim
Between the devil and the deep (blue) sea, MUU Gallery, Helsinki
Package Holiday, Hydra Workshops, Hydra,
Time Out, Kunsthalle Nurnberg, Nurenbergue
111
Summer Love, Fotouhi Cramer Gallery, Nova Iorque
Urban Legends, Baden Baden
Dissolution, Laurent Delaye Gallery, Londres
Such is Life, (Video programme), Serpentine Gallery Bookshop, Londres
Hyperenmsiac Fabulations, The Power Plant, Toronto
Slight, Norwich Gallery, Norwich; Collective Gallery, Edinburgo
1996
Full House, Kunstmuseum Wolfsburg, Wolfsburg
Sad, Gasworks, Londres
Life / Live, Musee d’Art Moderne de la Ville de Paris; Centro de Exposições do
Centro Cultural de Belém, Lisboa
The Aggression of Beauty, Galerie Arndt & Partner, Berlim
Yerself is Steam, 85 Charlotte St. , Londres
A Grapefruit in the World Park, Transmission Gallery, Glasgow
Other Mens Flowers, Aurel Scheibler, Colonia; The British School at Rome,
Roma
Faustrecht der Freiheit (Volkmann Collection), Kunstsammlung Gera, Berlin;
Neues Museum Weserburg, Bremen
Co-operators, Southampton City Art Gallery, Southampton
Loosy, Galerie Philippe Rizzo, Paris
112
1995
Brilliant: New Art from London, Walker Art Centre, Minneapolis; Contemporary
Arts Museum, Houston
Brill: Works on Paper by Brilliant Artists, Montgomery Glasgow Fine Art,
Minneapolis
Mysterium Alltag, Kampnagel, Hamburgo
Minky Manky, South London Gallery, Londres; Arnolfini, Bristol
Art for Aids, Gallerie Nicoli Walner, Copenhagen
I Confess, Nikolaj Contemporary Art Centre, Copenhagen
Whistling Women, Chelsea Room, Royal Festival Hall, Londres
The Friendly Village, Milwaukee Institute of Art and Design, Milwaukee
Other Men’s Flowers, IceBox, Atenas
1994
Gramercy Park Hotel, Art Fair, New York
Karaoke & Football, Portikus, Frankfurt
Other Men’s Flowers, Joshua Compston/London Portfolio, Londres
1993
Hotel Carlton Palace Chambre 763, Hotel Carlton Palace, Paris
1992
The Phone Box, Diversos locais, Londres e Liverpool
113
Prêmios
2007
Royal Academician, Royal Academy of Art, Londres
Honorary Doctorate, Royal College of Art, Londres
Doctor of Letters, Univeristy of Kent, Kent
Doctor of Philosophy, Metropolitan University, Londres
2001
The Jury Prize, Cairo Biennale Awards, Cairo
1997
International Award for Video Art, Baden Baden
Video Art Prize, Südwest Bank, Stuttgart
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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