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No caso particular de Arnaldo Antunes, por exemplo, fica claro que a “imprensa
de massa” teve um papel importantíssimo em sua formação:
Eu acho que o grande papel na minha formação, de divulgação da
poesia, e formador pra mim, foram as revistas dos anos 70 e 80, através das
quais eu conheci o trabalho de vários contemporâneos meus, como Paulo
Leminski, Wally Salomão, como o Duda Machado, e até mesmo Augusto,
Haroldo de Campos, Décio Pignatari. Muito da produção deles que chegava,
além dos livros, pelas revistas de poesia, que também eram muito criativas,
no sentido gráfico, no sentido de ter ali o uso da cor, da tipografia, das
variações que os recursos gráficos proporcionam. De ter uma exploração
criativa nisso, junto à poesia.
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E se nas décadas de 1960, 1970 e 1980 eram as revistas as principais
responsáveis pela ampliação do público de poesia, hoje, esse papel está sendo
preenchido, em escalas de alcance muito maiores, pela internet. Os muitos blogs e sites
dedicados à ciberpoesia oferecem uma gama considerável de poemas visuais, digitais e
interativos, além de oferecerem links para diversos outros sites também dedicados ao
mesmo tema. E uma das principais características desses sites e blogs é abrigar uma
nova forma de construção poética que só é possível graças à liberdade do suporte
multimídia, que liberta a palavra da fixidez da página, e a lança no universo livre, não-
linear e repleto de possibilidades do hipertexto.
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É o caso do clipoema “sem saída”
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,
de Augusto de Campos. Sob o ponto de vista estritamente verbal, o texto diz o
seguinte: “a estrada é muito comprida/ o caminho é sem saída/ curvas enganam o olhar/
não posso ir adiante/não posso voltar atrás/ levei toda a minha vida/ nunca saí do lugar”.
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Idem, ibidem.
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Acerca da utilização da palavra “Hipertexto”, sua idéia original surgiu em 1945, por Vannevar Bush,
em um artigo intitulado “As we mnay think”. No entanto, cabe uma reprodução das palavras de Pierre
Lévy sobre a natureza do termo: “No início dos anos sessenta, os primeiros sistemas militares de
teleinformática acabavam de ser instalados, e os computadores ainda não evocavam os bancos de dados e
muito menos o processamento de textos. Foi, contudo, nesta época que Theodore Nelson inventou o
termo hipertexto para exprimir a idéia de escrita/leitura não-linear em um sistema de informação. Desde
então,, Nelson persegue o sonho de uma imensa rede acessível em tempo real contendo todos os tesouros
literários e científicos do mundo, uma espécie de Biblioteca de Alexandria de nossos dias” (LEVY, 1993,
p. 29)
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Hospedado no endereço eletrônico www2.uol.com.br/augustodecampos/semsaida.htm.