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diagramação, de interesse geral, que tivesse equilíbrio entre texto e ilustração. Patarra
revela que a revista Quatro Rodas foi um laboratório para a criação da Realidade:
“estávamos lá de passagem, à espera do lançamento. Na redação produzíamos matérias
que fariam parte da Realidade. Levei para Realidade todos os que tinha enfiado na
Quatro Rodas”.
(PATARRA, 2007) Durante a sua primeira fase, Realidade teve a cada
exemplar 12 reportagens sobre diferentes assuntos. Mylton Severiano revela a fórmula:
o “caleidoscópio” era a fórmula mensal num sistema de escaninhos.
Todo o número tinha de abarcar realidade em 12 facetas, tais como:
infância, política, esporte, mulher, doença, Brasil, internacional,
educação, tragédia, religião, sexo, depoimento, pesquisa, perfil,
documento, ensaio, problema, estudantes, espaço, saúde, esquerdas,
ciência, racismo, guerra, polícia, assim por diante. Na afinação,
procurava-se abarcar o maior numero possível de itens, ou seja, nunca
permitir que no mesmo mês houvesse duas matérias no mesmo
escaninho.
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Além disso, Realidade deveria ser considerada o cartão de visita da Editora
Abril, deixando em segundo plano as revistas Claudia e Quatro Rodas, também bem-
sucedidas editorialmente, embora com públicos específicos. Realidade
será a revista dos homens e mulheres inteligentes que desejam saber
mais a respeito de tudo. Pretendemos informar, divertir, estimular e
servir nossos leitores com seriedade, honestidade e entusiasmo.
Queremos comunicar com nossa fé inabalável no Brasil e no seu povo,
na liberdade do ser humano, no impulso renovador que hoje varre o
país e nas realizações da livre iniciativa. Assim é com humildade,
confiança e prazer que dedicamos Realidade a centenas de milhares de
brasileiros lúcidos, interessados em conhecer melhor o presente para
viver o futuro.
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Durante o tempo que permaneceu no mercado a revista ganhou sete vezes o
Prêmio Esso de Jornalismo. Os repórteres da revista romperam com o uso do texto
convencional, as matérias tinham narrativa autoral e era comum a presença do repórter
na matéria. Não só a narrativa utilizada na revista era diferente, mas o modo de
produção. A observação era intensa e detalhada: os gestos e expressões faciais, além dos
detalhes do cenário. Consumia-se tempo também com os diálogos. O subjetivo e o
emocional da personagem também eram contemplados na reportagem, assim como
acontecia no New Journalism. Para Faro, as reportagens da revista continham o
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SILVA, Mylton Severiano da. Uma revista que dividiu as águas na imprensa brasileira. In: Imprensa, ano XIII,
1999, nº 143, p. 83. Resenha sobre o livro de José Salvador Faro, Revista REALIDADE – 1966-1968 –Tempo da
reportagem na imprensa brasileira. Ulbra/AGE: Porto Alegre: 1999.
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Editorial da revista Realidade número 1, de abril de 1966, escrito por Victor Civita.