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experiências vivenciadas na sua infância, comparadas à realidade do mundo
adulto, pondera Garbuglio (1998, p.96):
Em graus diversos o tema percorre toda a sua obra e avança por um
sistema de oposição entre a criança e o adulto, o passado e o
presente, tempo feliz e tempo de desconforto. De modo informe e
difuso, sem consciência mais clara do problema, insinua-se em A
cinza das horas (“Epígrafe”, “Cartas de meu avô”), em que aquela
atmosfera de vaga tristeza envolve o leitor, deixando já aí entrever a
velha oposição entre o outrora e o agora, sem alcançar, no entanto,
ressonância maior. Em O Ritmo Dissoluto, o tema ganha
adensamento e recortes mais nítidos (“Os balõezinhos”), “Meninos
carvoeiros”, “ Na rua do sabão”, “Balõezinhos”) e adquire maturidade
definitiva em Libertinagem (“Porquinho-da-índia”, “Evocação do
Recife”, “Profundamente”), reaparecendo depois em outros poemas.
Segundo Garbuglio (1998), o tema infância ganha contorno e traços que
remontam ao universo infantil, a partir dos diminutivos que vão aparecendo de
forma expressiva nos poemas, propiciando uma clima típico para evocação das
reminiscências decorrentes da vida pueril.
Trazendo à tona o poema “Infância,” é possível observar que a poesia
de Manuel Bandeira quando tematiza o mundo infantil recobra os ritos de
passagem da fase pueril à idade adulta,experiências vividas que só de forma
evasiva poderão ser compartilhadas no presente, graças ao milagre da poesia
que através da palavra estética e deleitosa é capaz de fazer ressurgir dentro
de nós, um passado de sonhos. Garbuglio (1998,p.100) assim se expressou
sobre essas experiências:
A partir de uma visão geral, pode-se dizer que é um poema articulado
em torno dos atos de iniciação, com aproveitamento dos ritos de
passagem próprios da idade: começa pela nutrição da primeira
infância, passa pelos sustos da descoberta do mistério, embutido nas
mágicas intempestivas, entra pela descoberta da rua com seus
brinquedos e pregões, passa pela experiência sexual e pelo
descortínio da morte e, assim, se ligam os dois pólos da vida.