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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO DE HUMANIDADES
UNIDADE ACADÊMICA DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUAGEM E ENSINO
A POESIA DE MANUEL BANDEIRA EM LIVROS DIDÁTICOS
DE LITERATURA DO ENSINO MÉDIO
Evaldo da Mota Silveira
Campina Grande, julho de 2009
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Evaldo da Mota Silveira
A POESIA DE MANUEL BANDEIRA EM LIVROS
DIDÁTICOS DE LITERATURA DO ENSINO MÉDIO
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação
em Linguagem e Ensino
(Mestrado), no Centro de
Humanidades, da Universidade
Federal de Campina Grande,
como requisito para obtenção
do grau de Mestre em
Linguagem e Ensino.
Orientador: Prof. Dr. José
Hélder Pinheiro Alves
Campina Grande, julho de 2009.
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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFCG
S587p Silveira, Evaldo da Mota
A poesia de Manuel Bandeira em livros didáticos de literatura do
ensino médio / Evaldo da Mota Silveira Campina Grande, 2009.
103 f.
Dissertação (Mestrado em Linguagem e Ensino)- Universidade
Federal de Campina Grande, Centro de Humanidades.
Referências.
Orientador: Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves
1. Poesia 2. Manuel Bandeira 3. Livro Didático I. Título.
CDU 82.0(043)
4
FOLHA DE APROVAÇÃO
____________________________________________
Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves
(Orientador)
_____________________________________________
Profª Drª Francilda Araújo Inácio
(Examinadora -IFPB)
_____________________________________________
Profª Drª Márcia Tavares Silva
(Examinadora - UFCG)
5
Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito
vêm do alto, descendo do Pai das luzes,
em quem não há mudança, nem sombra
de variação.
S.Tiago 1: 17
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AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu único e supremo Deus por ter me capacitado. Só ele
poderia transformar minhas faltas em aprendizado e permitir a realização dos
meus sonhos.
Ao meu pai, Antonio, e minha mãe, Angelita, por me encorajarem e me
ensinarem o melhor caminho a seguir.
A minha esposa, Edneide, e filhos – Renally, Rejane e Matheus -, pelo
apoio dispensado em todos os momentos deste percurso. Foi de suma
importância tê-los na minha companhia como agentes participativos desse
nobre empreendimento.
A Nicácio, um amigo mais chegado que um irmão. Ao corpo docente da
área de Linguagens e Códigos e suas Tecnologias e a Reitoria do IFPB - João
Pessoa, por terem apoiado a minha liberação visando a minha capacitação
profissional.
A Capes, pela concessão da bolsa de estudos.
Aos professores do POSLE: Marta Nóbrega, Márcia Tavares, Williany
Miranda e Andrey de Oliveira.
A todos os colegas de Curso, especialmente, Andréia Bezerra, Fernanda
Chaves, Keith Glauk, Isaías, Janaina Lira, Caroline Mabel, Joyce Kelly, Zuleide
Santiago, Maria Elizabeth e Manassés Morais.
A Banca examinadora do exame de qualificação, composta pelas
professoras doutoras Francilda Araújo e Márcia Tavares, que de modo
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imparcial examinaram o meu texto no sentido de indicar caminhos que
subsidiaram a uma melhor organização do trabalho.
A Profª Drª Maria Marta Nóbrega, cujas sugestões ajudaram a
compreender melhor as diretrizes teóricas e analíticas propostas pelo meu
orientador.
Agradeço, em especial, ao meu orientador, Prof. Dr. José Hélder
Pinheiro Alves, pela compreensão, paciência, incentivo e disponibilidade nos
momentos difíceis. Apesar de sua titulação e experiência acadêmica, nunca se
envaideceu de sua posição. Sem o seu apoio moral, sobretudo, esta
dissertação não teria chegado ao fim. Aprendi, com ele, que a disciplina é uma
virtude primordial na vida de um pesquisador e que a arte de ouvir e pensar é
um caminho que pode resultar em reflexões mais amadurecidas. Espero que
consiga perpetuar esta lição! De coração, meu muito obrigado!!!
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Dedico este trabalho aos meus pais e aos
meus irmãos e amigos que nos momentos
difíceis de minha vida me deram força para
que não viesse a desistir. A minha esposa,
Edneide, minha companheira de lutas e de
vitórias; aos frutos do nosso amor, nossos
queridos filhos: Renally, Rejane e Matheus.
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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo a abordagem da Poesia de Manuel Bandeira
em livros didáticos de literatura do ensino médio. No primeiro capítulo, tratamos da
apresentação do livro didático como agente facilitador no processo ensino-
aprendizagem. No segundo capítulo percorremos com Manuel Bandeira os caminhos
da sua poesia, destacando a visão crítica de especialistas da sua obra e também da
sua vida artística. No terceiro e último capítulo, buscamos a partir da sustentabilidade
teórica apresentada no capítulo primeiro, pesquisar o enfoque da poesia bandeiriana
exposta pelos manuais de literatura do ensino médio. No percurso desta etapa
analisamos seis livros, enfocando as formas e dinâmicas escolhidas para abordagem
do texto literário, com vistas a perceber lacunas existentes. Destacamos, além dos
limites das abordagens teóricas, alguns ganhos significativos vistos em algumas
edições que trazem avanços, desde o número considerável de poemas completos
para estudo, até o projeto gráfico-editorial apresentado nos livros.
Palavras-chave: Manuel Bandeira, poesia, livro didático.
10
ABSTRACT
The present work has as goal the approach of Manuel Bandeira´s Poetry in literary
didactic books from high school teaching. In the first chapter, we dealt with the
presentation of the didactic book as an agent which eases the learning-teaching
process. In the second chapter, we studied Manuel Bandeira´s poetry tracks
highlighting the critical point of view of the specialists about his works as well as his
artistic life. In the third and last chapter, we tried, by means of a theoretical
sustainability presented in the first chapter, to research Bandeira´s poetry focus
exposed by the high school literary manuals. During such stage, we analyzed six books
which worked with Bandeira´s poetry, emphasizing the forms and dynamics chosen for
the literary textual approach, aiming to detect existing lacks. We detach, over there the
limits by the theoretician boarding, we perceive some the meaningful acquisitions seen
in some editions which offer advances, since the outstanding number of complete
poems for studies till the editorial graphical project presented in the books.
Key-words: Manuel Bandeira, poetry, didactic book.
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................
12
1. O LIVRO DIDÁTICO DE LITERATURA............................................................... 14
1.1. Apresentando o livro didático........................................................................... 14
1.2. O ensino de literatura e o livro didático............................................................ 23
1.3. Literatura como disciplina escolar.................................................................... 26
1.4. A literatura e a prática social............................................................................ 30
1.5. Contribuições das Orientações Curriculares Nacionais (OCN) para o ensino
de literatura no ensino médio....................................................................................
32
2. MANUEL BANDEIRA PELOS CAMINHOS DA SUA POESIA............................. 37
2.1. Uma temática multifacetada num jeito especial de fazer poesia...................... 43
2.2. Bandeira e a política da boa vizinhança com a indesejada das gentes............ 49
2.3. Amor, erotismo e infância na poesia de Manuel Bandeira...............................
54
3. A POESIA DE MANUEL BANDEIRA EM LIVROS DIDÁTICOS......................... 59
3.1. Análise do livro 1.............................................................................................. 59
3.2. Análise do livro 2.............................................................................................. 66
3.3. Análise do livro 3.............................................................................................. 70
3.4. Análise do livro 4.............................................................................................. 76
3.5. Análise do livro 5.............................................................................................. 84
3.6. Análise do livro 6..............................................................................................
87
CONCLUSÃO..........................................................................................................
97
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 101
12
INTRODUÇÃO
O interesse em estudar as formas de abordagem da poesia de Manuel
Bandeira nos livros didáticos de literatura do ensino médio foi motivado, dentre
outros fatores, pelo desejo de analisar as perspectivas metodológicas e as
maneiras como a obra do poeta pernambucano é trabalhada nos manuais.
Como professor do nível médio e leitor da poesia de Bandeira,
percebemos muitas vezes que havia lacunas no modo como o poeta era
apresentado nos Manuais. Neste sentido, a pesquisa nasceu de uma
necessidade de refletir sobre valores e problemas do Livro Didático (LD) de
literatura.
A dissertação está constituída de três capítulos. No primeiro, tratamos
da apresentação e da descrição do livro didático. Neste tópico, abordamos a
caracterização do ensino de literatura brasileira nas escolas de nível médio e
confrontamos as práticas e dinâmicas de aprendizado cotidianas com as
recomendações expressas nas Orientações Curriculares Nacionais para
abordagem do texto literário.
No segundo capítulo, apontamos os principais traços característicos da
vida e obra de Manuel Bandeira, destacando as visões críticas de estudiosos e
acerca do perfil estilístico do artista, a exemplo da substância temática do
prosaico, mediante a incorporação do cotidiano à tessitura poética, a
13
simplicidade no processo compositivo, a rememoração nostálgica e
reminiscente da infância, a morte, dentre outros.
O terceiro e último capítulo foi o ápice da investigação que
empreendemos. Nela, pesquisamos o enfoque da poesia de Bandeira pelos
livros didáticos de literatura do ensino médio, buscando captar as formas
metodológicas e utilizadas pelos autores. Nessa etapa, procedemos à análise
de seis manuais de literatura brasileira, atentando para o modo como a poesia
de Bandeira é apresentada ao jovem leitor.
Através desta pesquisa, entendemos que a necessidade de confrontar o
que os manuais trazem sobre os textos poéticos bandeirianos e a leitura da
obra do poeta, propriamente dita, pode permitir uma reflexão acerca de
procedimentos metodológicos aplicados em sala durante as aulas de literatura.
Esse empreendimento não objetiva apresentar soluções mágicas para a
resolução de eventuais problemas diagnosticados nos livros didáticos, todavia
é possível apresentar um novo olhar que permita o aprimoramento. Não se
quer, também, marginalizar ou depreciar o conteúdo desses manuais, haja
vista que pertence a eles a condição quase exclusiva de suporte através do
qual o aluno do ensino médio mantém contato com obras consagradas de
nossa literatura e a elas têm acesso.
Nessa condição, é fácil inferir o alcance da temática ora objeto de
abordagem no presente trabalho, uma vez que consideramos que o manual
tem o traço característico de se firmar como vitrine expositiva das obras de
nossa literatura e, por conseqüência, como veículo de sua difusão e
disseminação no meio estudantil.
14
1. O LIVRO DIDÁTICO DE LITERATURA
1.1 Apresentando o manual
O livro didático é um instrumento pedagógico bastante utilizado na sala
de aula. Esse instrumento de suporte pedagógico tem garantido a professores
e alunos o desenvolvimento salutar do processo ensino-aprendizagem, ainda
que resistindo às críticas e suspeitas das autoridades envolvidas nas
discussões sobre sua credibilidade e livre curso como um instrumento útil e
facilitador da aprendizagem no espaço escolar.
Muito mais útil ao professor do que ao próprio aluno e às aulas, podendo
subsidiar o professor no processo ensino-aprendizagem, facilitando a mediação
das aulas o manual agrega os valores absorvidos e transmitidos pelo professor.
Entende-se que o livro didático pode se tornar um aliado ou um vilão
dependendo da maneira como o é utilizado.
A sua presença no Ensino Médio, em especialidade na escola pública,
evita que o aluno perca bastante tempo da aula copiando do quadro-negro ou
transcrevendo aquilo o que o professor lhe dita. Na ausência desses manuais,
outras alternativas engendradas na apresentação dos conteúdos como as
fotocópias de textos selecionados, de conteúdos e exercícios se tornam
elementos substitutivos para que o processo de ensino - aprendizagem na
escola possa evoluir satisfatoriamente, no que diz respeito à prática de leitura.
15
Atualmente é possível afirmar que a qualidade desses manuais tenha
melhorado em seu projeto gráfico-editorial, tornando sua apresentação
bastante atrativa ao público consumidor e sobretudo enriquecida de farto
material didático com recursos visuais e encadernação adequada,
possibilitando ao aluno o acesso aos conteúdos de forma organizada.
É indiscutível esse ganho, mas considerar-se-á que os mesmos ainda
são passíveis de críticas de professores e estudiosos do assunto, que
debruçam olhares desconfiados desde a sua confecção, adoção nas escolas,
bem como o uso adequado ou inadequado desses manuais.
Outro aspecto importante a respeito do manual é que o mesmo se torna
um agente facilitador do professor, que não dispõe de tempo suficiente para
preparação das aulas e exercícios; sem esquecer que na luta pela
sobrevivência e estabilidade financeira acaba por agregar sobre si uma carga
horária excessiva, preenchendo o tempo para preparação de aulas mais
pensadas e criativas.
Sobrecarregado com intenso trabalho escolar, o professor enxerga no
livro didático uma muleta pedagógica que o auxilia na sala de aula dispensando
estudo, leitura prévia dos conteúdos e, porque não dizer, a sua missão a ser
desencadeada é simplesmente explicar o conteúdo, reproduzindo-o a sua
clientela de forma estanque. Sendo assim, o livro didático pode exigir pouco do
aluno e menos ainda do professor.
Ao avaliar a forma como o professor trabalha o texto literário em sala de
aula, a partir de livros didáticos, quase sempre o docente não tem um
posicionamento crítico sobre o poder facilitador deste suporte, Leite (2005,
16
p.96) considera o professor um simples intermediário do “saber alheio”.
Segundo a autora,
Independentemente, pois, de seu conteúdo, o fato de tratar-se de um
manual – o saber ao alcance da mão – faz do professor um repetidor
que não se interroga sobre aquilo que transmite, e do aluno, um
executante que não se interroga sobre aquilo que executa.
Diante do mal uso do manual, as críticas são mais freqüentes do que os
elogios e fica evidente a interrogação: Por que adotá-lo em sala de aula? Tudo
leva a crer que professores e alunos travam com o livro didático uma relação
de subserviência entre dominantes e dominados.
O livro tem superado os ataques da crítica e sua resistência e
permanência no espaço didático-pedagógico, que é a sala de aula, justifica-se
por sua utilidade ou praticidade, sem talvez desconsiderar sua qualidade.
Segundo Leite (2005,p.97), exaustivos debates teóricos a respeito da
utilização desses manuais em sala de aula são realizados pelos professores no
combate aos seus pontos negativos, porém o que verdadeiramente se percebe
é que o livro não é descartado, ao contrário, tornou-se mercadoria comprada
em larga escala pelo governo federal.
Mesmo assim é criterioso abordar com bastante cuidado as vantagens e
desvantagens da utilização desses manuais, debatendo sobre o conteúdo de
literatura presente nesses livros.
Tal preocupação se reveste de tamanha responsabilidade porque, como
em todas as áreas do conhecimento, a literatura dispõe de vários materiais
didáticos que podem interferir positiva ou negativamente em sua proposta de
estudo.
17
Observadas essas ponderações sobre o livro didático, é importante
saber que eles utilizam uma configuração metodológica, que, em determinadas
circunstâncias, pode comprometer a recepção do estudo de literatura, pois
aparece atrelada a certos padrões de uso esteriotipado, dificultando o
aprendizado do aluno com diretrizes rígidas no uso dos textos e prejuízos na
maneira lúcida de apreciá-los.
O modo como o livro didático lança mão da literatura pode macular o
que há de mais fantástico e lúdico na excelência desse estudo. É bem verdade
que não podemos desconhecer que haja uma diversidade de livros didáticos
sendo publicados recentemente, contudo convém atentar para o que afirmou
Pinheiro (2006, p.106): “Mas, se por um lado, há uma boa quantidade de livros
no mercado, por outro, o modo de apresentar a literatura e de conceber o seu
ensino não tem sofrido grandes alterações. “
Tal assertiva do crítico constata que, na maioria das vezes,
presenciamos em alguns manuais a obra do autor recortada, com temáticas
repetidas, fragmentos de textos, objetivando que o aluno extraia características
de estilos de época ou figuras de linguagens, somando-se a tudo isto, a obra
do autor em estudo apresenta-se atrelada à camisa de força do historicismo
literário. Dessa forma os limites estão postos à prova nesses manuais, razão
pela qual à leitura de textos completos redundaria num ganho mais significativo
para o leitor iniciante de leituras literárias.
Com respeito à história da literatura, os livros didáticos trazem consigo
uma preocupação exacerbada em apresentar poemas ou textos ficcionais para
caracterizar o estilo de época ou outros em estudo.
18
Sem querer obscurecer a importância dos diferentes momentos da
historiografia literária brasileira, é necessário cautela ao apresentar obra e
contexto histórico nas aulas de literatura do ensino médio.
Ponderando entre a priorização ao historicismo recorrente dos manuais
de literatura em detrimento da experiência da leitura do texto literário em sua
integralidade pelo aluno, Pinheiro (2006, p.112) afirma: “Não se trata de negar
a história da literatura, antes, diria, de valorizá-la, mas não privilegiando um
método que força a memorização e não a experiência real de leitura dos
textos”.
Sobre as questões voltadas para a recorrência da obra recortada dos
autores, contemplando por questões didáticas determinado estilo de época no
qual se encontra o autor inserido, assinala Pinheiro: (2006,p.113).
A questão que deve ser posta é: o modelo de estudo histórico da
literatura que os livros didáticos do ensino médio privilegiam é, de
fato, o mais adequado? Não haveria outras possibilidades de tratar a
literatura na escola? Essa discussão precisa com urgência, ser
enfrentada. Uma possível saída, que experimentamos em nossa
atuação como professores do ensino médio, seria inverter a ordem
dos conteúdos. Ou seja, iniciar os estudos literários no ensino médio
pela literatura contemporânea. Mas a mera mudança de ordem
também não garante um bom trabalho. Há ainda uma questão séria a
ser enfrentada: a formação metodológica do professor e suas
experiências de leitura do texto literário.
Sem querer negar que o livro didático de literatura na escola pública, na
sua grande maioria, é o meio mais acessível ao aluno para aproximação com o
texto literário, revelando assim o seu papel importante e sua contribuição no
processo de ensino-aprendizagem, é possível gerar novas possibilidades de
leituras literárias que fujam da visão pragmática do historicismo, muitas vezes
impostas pelos livros didáticos.
19
A escolha de um autor complementando os textos presentes no manual
com uma antologia adequada, daria oportunidade ao aluno de ler um número
mais significativo de poemas, resultando numa possível compreensão mais
globalizante do poeta em estudo.
A respeito dessas propostas inovadoras que visam conceder ao aluno a
diversidade de textos para apreciação no ambiente propício para a leitura e a
discussão, que é a sala de aula, assim pondera Pinheiro (2006,p.113)
Ler os poemas, analisar alguns, realizar debates sobre outros etc.
Para tanto, os professores precisariam estar mais bem preparados
intelectual e metodologicamente, precisariam buscar, inclusive,
fundamentação em inúmeros trabalhos de crítica literária à
disposição em livros, artigos, teses e dissertações.
Com vistas a essas ponderações de Pinheiro há de se concordar que é
necessário levar o aluno a ler a obra de determinado autor, mediando essa
leitura, intercalando com discussão, pausas para debates e análises bem
pensadas. É ponto pacífico que essa metodologia, fundamental para uma
prática de leitura literária significativa, vai de encontro ao estilo recorrente que
segue o viés historicista para fins de caracterização de estilos de épocas
presentes nos livros didáticos.
Para que o professor possa empreender mudanças na maneira como
apresentar o ensino de literatura, deverá estar predisposto a reconhecer sua
necessidade emergencial de preparo intelectual e metodológico para
contemplar esse modelo de ensino eficaz.
Nessa empreitada rumo a um ensino eficaz de literatura, o professor terá
de lutar contra as condições sociais enfrentadas no dia-a-dia da profissão.
Várias são as dificuldades, a exemplo da escassez de tempo para a
20
preparação de aulas bem pensadas, que para obtê-las, precisaria superar os
limites impostos por uma agenda de trabalho concorrida a fim de se deter na
leitura e seleção de textos, poemas, contos, crônicas e romances. Sem
desconsiderar a importância do livro didático, Pinheiro (2006,p.116) faz alusão
ao uso adequado desses manuais, assim ponderando:
Se suportes como o livro didático de literatura são indispensáveis em
muitas situações, é preciso também compreender os seus limites,
lutar para que seus ganhos sejam preservados e apontar sugestões
para que seu desempenho melhore e ele cumpra seus objetivos –
sempre temporários, sempre carecendo de serem repensados. Ou
seja, mesmo conscientes de que os livros didáticos são mercadorias,
não esqueçamos que são mercadorias que podem formar milhões de
pessoas e que, portanto, não deveriam ser pautadas prioritariamente
por questões de mercado.
Sobre essas sugestões consistentes para uma proposta diversificadora e
enriquecedora dos manuais, Pinheiro (2006,p.103) tece considerações dignas
de uma reflexão mais apurada de sua prática pedagógica no uso diário do livro
didático de literatura.
A essas constatações vão se somando outras: a experiência de
trazer para a sala de aula antologia de poemas, de contos e crônicas
e discuti-las, encená-las suscitando um tipo de vibração,de alegria
bem mais significativa de ficar listando características de estilos de
época. Ou seja, passei a perceber que os livros didáticos, que foram
úteis para um jovem que não tinha condições de comprar livros,
poderiam ser bem mais completos se privilegiassem mais a leitura de
textos (poemas, crônicas, contos, fragmentos de romances e peças
teatrais) para ficar só com alguns gêneros do domínio literário.
Por essas razões apresentadas, Pinheiro (2006) não só aponta aspectos
negativos e conflituosos do livro didático de literatura, que são os seus limites,
mas estabelece, de forma clara, saídas promissoras, mesmo ciente de que
21
todas ou qualquer proposta inovadora em matéria de livro didático esbarrará
nos limites impossíveis de serem superados.
Leite (2005) considera que não há “fórmulas mágicas” para resolver
essa questão que envolve o manual em sua concepção “bancária” do ensino
aprendizagem, visto tratar-se de um saber dogmatizado, atrelado a uma
perspectiva isolada. Deste modo, é de extrema necessidade que sejam
confeccionados livros que explorem as diferenças temáticas e provoquem nos
alunos o estímulo à pesquisa, à produção do saber, com todos os obstáculos e
inquietações próprios aos leitores iniciantes do texto literário. Segundo a autora
(2005, p. 98)
Talvez seja possível a invenção de um antimanual, ou de um
plurimanual; de livros que não tragam o saber condensado,
congelado a partir de uma perspectiva unitária, mas incorporem a
diversidade e, caleidoscópicos, tornarem a questionar numa página o
que responderam na outra; livros que apresentem o Bilac erótico
como avesso do Bilac patriótico, a história dos vencidos como
contraponto à história dos vencedores, a norma culta ao lado dos
falares locais e regionais.
Tais conjecturas reforçam na prática que os manuais apresentem o autor
de forma a possibilitar ao aluno de literatura um olhar contemplador das
múltiplas faces do poeta em estudo, evitando os repetidos recortes tão
prejudiciais à compreensão e visão global do escritor e da sua obra.
Em relação ao perfil dos livros didáticos de literatura nos últimos quinze
anos, pode-se perceber mudanças inovadoras no plano do diálogo das artes
com a presença evocativa de imagens, quadros e pinturas, cenas de filmes
alusivas ao texto literário, possibilitando ao aluno um incentivo a mais para uma
comparação entre o texto literário e as expressões artísticas.
22
É ponto pacífico nas edições atuais confirmar-se esse ganho
significativo, todavia é oportuno lembrar que os manuais acabam por repetir o
mesmo cenário em que o número de poemas é inexpressivo reproduzindo o
mesmo modelo de outras edições.
Vale salientar que o diálogo das artes é um contributo à abordagem do
texto literário, contudo não dá para condescender com o excesso de todo esse
aprimoramento visual, em detrimento de uma proposta inovadora para a
abordagem do texto literário.
Com vistas aos avanços e resultados positivos bem como negativos do
perfil dos livros didáticos de literatura, afirma Pinheiro: (2006,p.110)
Os livros didáticos de literatura seguem a mesma linha da ampliação
das imagens, mas sem ampliação de outros textos literários,
resultado que parece apontar uma ênfase muito maior no projeto
gráfico-editorial do que na mudança do que seja ensinar literatura.
Considerando que o manual é um instrumento para exposição das aulas,
verdadeiro facilitador de professores e alunos e, suscetível à críticas, Leite
(2005,p.97) cita o texto de Celestine Freinet a fim de declarar que a guerra ao
livro didático é vital à sobrevivência do mesmo.
E, se é assim, a guerra aos manuais é verdadeiramente
necessária.Mas os manuais submetem também os professores. Eles
se habituam a distribuir uniformemente, e durante anos, a matéria aí
incluída, sem se preocupar se a criança pode assimilá-la. A nefasta
rotina toma conta do educador.
Em busca de soluções e não fórmulas mágicas para a confecção do
manual mais completo, crítico e deslocado da promoção da ideologia
dominante, Leite (2005) afirma que tem sido freqüente, nos últimos anos,
dentro e fora do Brasil, que os manuais escolares sejam submetidos ao crivo
23
da análise crítica, geralmente por parte de professores universitários, como
objetos de teses acadêmicas.
Essas análises oportunas vão de encontro à performance estrutural do
livro didático, enquanto instrumento simplificador e policiador de informações e
textos que porventura possam caracterizar valores da ideologia dominante a
fim de que nenhum entrave político-ideológico ao que já está tradicionalmente
montado venha comprometer o livre curso e lucro do promissor mercado
editorial escolar.
Com vistas a esses trabalhos sobre livros didáticos realizados por
professores e alunos e considerando a necessidade constante de
aprofundamento analítico-crítico, e disseminação das idéias inovadoras e
críticas sobre os manuais, Leite (2005,p.98) pondera a respeito de uma
apreciação mais consistente da crítica levantada sobre o livro didático quando
afirma: “Mas não basta apenas a divulgação. É necessário também pensar em
soluções alternativas ao que o material didático nos impõe.“
1.2. O Ensino de literatura e o Livro didático
O ensino de literatura tem sido objeto de reflexões por parte de
professores, estudiosos e especialistas dessa disciplina. Em importante obra
voltada para as questões sobre o ensino de literatura, Martins e Versiani (In:
PAIVA, Aparecida, et.al, 2005) levantam questões do tipo: Como lidar com a
leitura literária na escola? Serão os próprios ledores? Por quê? É importante
saber que, tradicionalmente, o texto literário tinha primazia; e considerado
24
texto por excelência a ser estudado na escola, todavia o uso do texto literário
servia de pretexto para resolver questões gramaticais, como classificar termos
da oração de versos de sintaxe complexa, como em Os Lusíadas.
Com essas distorções o ensino de literatura preocupava-se com o
pragmático, o informativo, anulando a possibilidade de o leitor do texto literário
realizar uma leitura de fruição, como afirma Soares (In: PAIVA, Aparecida,
et.al., 2005,p. 33).
É função e obrigação da escola dar amplo e irrestrito acesso ao mundo
da leitura, e isto inclui a leitura informativa, mas também a leitura
literária; a leitura para fins pragmáticos mas também a leitura de fruição;
a leitura que nos permita escapar por alguns momentos da vida real.
A partir dessas inquietações de pesquisadores dedicados ao ensino de
língua materna, buscam-se modos mais adequados de escolarização da
literatura, de acordo com os PCN; documento de grande alcance e importância
para a escola brasileira que reconhece a especificidade do texto literário e o
valor do mesmo como uma manifestação de aquisição do conhecimento.
Partindo dessa premissa as autoras expõem informações apresentadas
pela orientação dos PCN, que reconhecem especificidades da leitura literária,
razão que orienta sobre o que não deve ser feito na escola, ao tratamento que,
de forma equivocada, é dado à leitura literária conforme percebemos em Aracy
Martins e Zélia Versiani (apud, PAIVA, Aparecida, et.al., 2005, p.14).
[...] é possível afastar uma série de equívocos que costumam estar
presentes na escola em relação aos textos literários, ou seja, tratá-
los como expedientes para servir ao ensino de boas maneiras, dos
hábitos de higiene, dos deveres do cidadão, dos tópicos gramaticais,
das receitas desgastadas do “prazer do texto, etc.
Esses “equívocos” parecem avessos à formação para a sensibilidade
que a literatura permitiria com o ensino de literatura, direcionado apenas à
25
fixação de hábitos e condutas; outra para liberdade irrestrita na leitura
caracterizada como receitas desgastadas do “prazer do texto”, conduzindo o
leitor do texto literário a superinterpretação de quem tão bem falou o crítico
Umberto Eco (1993).
Considerando o quadro apresentado, convém questionar se a seleção
de textos oferecidos por manuais didáticos pode ou não contribuir para a
formação do aluno como leitor de leituras literárias, alargando suas
possibilidades de experienciação estética, desenvolvendo nele o prazer e o
gosto pela leitura e, mais que isso, ampliando o seu horizonte de expectativas
e emancipando esse sujeito leitor como está posto nos pressupostos da
estética da recepção, conforme Jauss (1979)
Importa ainda acrescentar que os livros didáticos, em sua grande
maioria, trazem o texto literário como pretexto para análise gramatical ou ainda
permite ao aluno criar uma confusão conceitual entre discernir sobre o que é
literatura como uma disciplina e o que é história literária, entendida como
inventário de nomes de obras e de autores, de características de época.
Reportando-se a essa questão problemática do livro didático como
modelo a ser seguido para estudar literatura, Pinheiro (2006,p.110) tece as
seguintes considerações
Estuda-se mais história da literatura e não as obras em particular. E
que história da literatura se estuda? Quase sempre os estilos de
época na sua ordem cronológica. Não cabe aqui discutir essa opção,
mas discutir como ela se realiza nos livros didáticos. Noutras
palavras, a opção por ensinar história da literatura, muitas vezes
presa a uma abordagem cronológica/evolucionista, priva o aluno de
um estudo mais detido de um poeta, de um ficcionista ou dramaturgo.
Por eleger uma formação de caráter enciclopédico, acaba-se por se
conhecer muito pouco cada obra, sobretudo no que ela tem de mais
singular. A poesia sai, quase sempre, prejudicada, porque as obras
26
não são estudadas em sua complexidade e sim como meros
exemplos de determinado estilo de época.
Logo, o livro didático não deve priorizar apenas o historicismo, mas
oferecer ao leitor em formação um contato com o texto literário completo e
apresentar sugestões de leitura que oportunizem ao aluno um diálogo com o
texto de forma que ele possa construir sentidos para o que está sendo lido.
1.3. Literatura como disciplina escolar
Segundo Mallard (1985, p.9) a literatura brasileira foi incluída no
currículo dos colégios na aurora da República, através da reforma educacional
de Benjamin Constant (1882). O ensino de literatura no Brasil surge no cenário
educacional brasileiro motivado a partir do instante em que a literatura francesa
se transforma em disciplina escolar na França, país que, desde a
independência política do Brasil, de 1822, já vinha influenciando nossa cultura.
O ensino era voltado ao modelo de literatura clássica direcionado de
forma enfática aos manuais de retórica. A abordagem aos textos primava pela
identificação de recursos formais e estilísticos, com destaque para as figuras
de linguagens. A respeito desse instante embrionário da história da literatura
como disciplina escolar, assim se expressou Mallard (1985, p.9):
Os textos eram avaliados por suas qualidades estilísticas e
analisados pelas chamadas figuras de retórica, tais como metáforas,
hipérboles, prosopopéias.”Eram destinados aos estudantes, para
memorização, pequenas biografias e listagem das obras dos
escritores, às vezes acompanhados de meia dúzias de linhas críticas.
27
As leituras exigidas pelo professor em classe eram pequenos textos,
constantes de uma antologia adotada como livro didático. Com um ensino de
literatura voltado para apreciação de figuras de retórica e fixação do aluno em
memorizar nomes de autores e obras, já na década de 1950, o agravante maior
é que esses alunos não liam as obras em sua completude.
Segundo Mallard,(1985,p.9) o ensino continuava, portanto, distanciado
da realidade, formalista, sem um contato direto com o seu objeto – a própria
literatura, o texto completo e concreto. Literatura concebida como “Belas –
letras”, a arte da palavra em si e para si, cujos autores eram tidos como gênios
inspirados, romancistas que viviam numa torre de marfim, “poetas em
constante viagem ao mundo da lua”.
Nesse percurso pelos caminhos que trilhou a nossa literatura nacional,
segundo Mallard,(1985) na maioria das faculdades de letras, predominavam os
estudos historiográficos, embora houvesse cobrança de leitura nos
denominados “trabalhos de estágios”, há mais erudição do que experiência de
leitor na execução desses exercícios.
Na modernidade evidenciada a partir dos anos sessenta, é possível
observar mudanças significativas no ensino de literatura, como, por exemplo, a
decoreba de biografias de autores e obras é substituída por análises de textos
à moda francesa. O texto mais utilizado é o poema, por ser curto e acessível a
uma análise profunda.
Malard (1985, p.10) afirma que dessas análises o professor
imaginariamente voava muito além do horizonte que os alunos enxergavam. Os
28
alunos destituídos dessa bagagem para decompor os poemas, assistiam às
aulas “desconfiados e descrentes”, pois o professor trazia as respostas prontas
ao seu bel-prazer, deixando os alunos cada vez mais convictos de que não
valia a pena estudar literatura porque o professor era o único habilitado ao jogo
interpretativo do texto literário na condição especial de ser aquele que tem a
palavra final.
Mallard (1985,p.10),embora esteja falando de mais de 20 anos de
problemas relacionados com o ensino de literatura, é contundente quando diz
que a situação se repete nas escolas atuais de 2º graus, pois “a literatura é
considerada como artefato textual, que esconde segredos a serem
desvendados pelos alunos, sob pena de reprovação”. Logo, há, ainda, bastante
atualidade na sua fala.
A Partir deste contexto, entendemos que ensinar literatura, como explica
Cosson (2006), é tornar a leitura de textos literários uma prática significativa de
interação entre texto e leitor, de modo que proporcione a apropriação não só da
escrita, mas de todas as práticas sociais que a leitura propicia. É através da
experiência literária que se pode vivenciar a experiência do outro, a sua época,
o modo de ver a realidade, independentemente de se compartilhar ou não da
mesma visão.
O ensino de literatura deve permitir ao aluno um momento de
transformação, seja pelo estranhamento ou pelo deslumbramento do que está
escrito no texto. Deste modo, o estudo de literatura em sala de aula deve ser
entendido como um exercício de linguagem em que o sujeito-leitor encontra
29
caminhos para construir e reconstruir sentidos para os textos que com ele
mantém alguma aproximação. Conforme Cosson (2006, p.17)
É por possuir essa função maior de tornar o mundo compreensível
transformando sua materialidade em palavras de cores, odores,
sabores e formas intensamente humanas que a literatura tem e
precisa manter um lugar especial nas escolas.
Segundo Campos (1999), existem três problemas que impedem que a
leitura literária seja uma experiência prazerosa. O primeiro deles diz respeito ao
trabalho dos textos literários obedecendo à cronologia que serve de paradigma
para determinar as obras, autores e estilos literários a serem estudados em
cada série, condicionando o ensino de literatura ao estudo de obras
pertencentes apenas ao cânone literário; o segundo problema está no que a
autora denomina “falta de estética de ensino”, ou seja, o aluno não é visto
como sujeito capaz de interagir com a obra literária, situando-a em seu
contexto; e o último aspecto é o fato de que a escola tem desconsiderado os
valores literários ao fazer uso de uma metodologia que desconsidera a
literatura como texto e seu ensino como espaço em que o aluno constrói seu
conhecimento numa percepção estética.
Com relação a este último aspecto, Campos (1999) defende que o
professor deve considerar que o processo de leitura abrange três momentos
hermenêuticos: a compreensão, a interpretação e a explicação. Ou seja, o
leitor apreende o texto na leitura, em seguida reconhece a forma de texto para
só a partir daí proceder a uma leitura reconstrutiva, desenvolvendo um sentido
ao texto.
30
Para que esse processo se concretize, faz-se necessário que o leitor leia
o texto diversas vezes, compartilhando sua leitura com outras, confirmando-a
ou alterando-a sempre que julgar necessário. Esse hábito gerado no constante
exercício de leitura faz valer a máxima de Candido (1984) “de que a regra de
ouro do bom analista é a leitura infatigável do texto”. Buscando nesse ritmo
apreender melhor o sentido do texto, o leitor fará descobertas significativas
para si que somente uma leitura realizada nesse estilo poderá proporcionar.
1. 4. A Literatura e a Prática social:
A literatura possui a uma função social que contribui para a formação
crítica acerca da realidade tanto para quem escreve como para quem lê.
Segundo Mallard, (1985, p.10) a literatura é
uma prática social no sentido de atividade humana com intenção
transformadora do mundo, que expressa o peculiar da relação
do homem com o mundo, os modos de ser do homem no
mundo.
Como exemplo que ilustra a prática social de literatura, Mallard (1985)
aponta a poesia condoreira de Castro Alves, poeta dos escravos, que
empreendeu com a sua arte poética um serviço humanitário à causa
abolicionista. A sua poesia influenciada por Victor Hugo, uma vez escrita e
declamada nas praças públicas, se tornou um verdadeiro grito de liberdade em
prol dos escravos sem perder em qualidade estética.
O que caracteriza a poesia de Castro Alves como arte engajada, em tom
de denúncia social, sem ser um mero panfleto, é a engenhosidade artística do
31
poeta baiano em comunicar ou protestar contra aquela vergonha nacional, que
foi o tráfico negreiro, em linguagem poética, emprestando a sua poesia os
revestimentos lingüísticos, incrustando nas palavras da sua poética, ritmo,
imagem, símbolos, ponderando entre a denúncia social e o aparato técnico-
artístico para apreciação e o estranhamento do leitor.
O humano e o social descortinam ao leitor no seu contexto atual uma
oportunidade para o mesmo interagir, refletindo sobre qualquer jugo ou
opressão vivenciada em sua realidade social presente.
Compreender o vasto mundo da literatura e suas múltiplas funções é
reconhecer que a literatura se coloca no plano do simbólico, sendo, antes de
mais nada, uma realização de linguagem.
Admitir que a literatura não é uma radiografia do real, mas enxergá-la
representando o real é o nó da questão, segundo Mallard,(1985, p.11), que em
suas interrogativas questiona:
Como tornar o ensino de literatura uma prática social? Como
despertar o interesse do estudante para ela? Como aparelhá-la para
competir como o mundo audiovisual da imagem, e até mesmo da
informática entre os estudantes economicamente privilegiados?
(p.11)
Um caminho a seguir para aprender a literatura é a leitura não vinculada
excessivamente ao historicismo e modelos esteriotipados desse aprendizado já
vistos como decorar biografias de autores e obras.
Segundo Mallard (1985.p.11), o ideal na busca do aprendizado
satisfatório e produtivo das literaturas é: “Ler poemas, contos, romances,
crônicas, etc. antigos e atuais, de preferência inteiros.”
32
Logo, obter informações sobre escritores, resumos de livros, estudos
críticos das obras, adaptações para filmes e novelas de televisão - podem
auxiliar à prática de sala de aula – mas nada substitui a leitura do próprio texto
como matéria de “aprendizado escolar.” Entendemos assim que, esses
suportes, podem subsidiar no ensino de literatura, complementá-lo, mas não
devem tomar o lugar dele.
1.5 Contribuições das Orientações Curriculares Nacionais (OCN) para o
ensino de literatura no nível médio.
Levando em consideração que os PCN do ensino médio embora
contemplem no estudo de linguagem os conteúdos de literatura, muito ficou por
refletir sobre o que se tem debatido sobre essa disciplina negando-lhe,
sobretudo, sua autonomia e a especificidade que lhe são devidas.
Embora seja bastante debatido o fato de a literatura ser um modo
discursivo entre vários, (o jornalístico, o científico, o coloquial, etc.), o discurso
literário traz no seu bojo o diferencial que o distingue dos demais, pelo fato de o
seu modelo de construção ir muito além de elaborações lingüísticas usuais.
O discurso literário traz como distintivo à propensão para a transgressão;
liberdade essa concedida por ser o resultado de uma linguagem polissêmica e
plurisignificativa, gerando no leitor envolvido com o jogo literário o livre arbítrio
que o possibilita levar a limites extremos as possibilidades da língua.
E nisso reside sua função maior no quadro do ensino médio: pensada (a
literatura) dessa forma, ela pode ser um grande agenciador da sensibilidade do
33
aluno, proporcionando-lhe um convívio com o texto literário através do
exercício da liberdade. Daí, favorecer-lhe o desenvolvimento de um
comportamento mais crítico e menos preconceituoso diante do mundo.
(OSAKABE, Apud OCN, 2006).
Em busca de defender a especificidade da literatura, isto é, dada a sua
presença essencial no currículo do ensino médio, As Orientações Curriculares
para o Ensino de literatura no Ensino Médio – OCN, na parte “Conhecimentos
de Literatura” traçam um percurso expositivo na tentativa de elucidar o conceito
de arte. Esse documento inicia-se apresentando o depoimento de uma mãe de
aluno acerca da arte, esta vê de forma preconceituosa a literatura e, por isso,
acredita na exclusão da mesma do currículo escolar, por não preparar o aluno
para garantir o sustento material “porque aqui fora não vinga, ou seja, não logra
sucesso” (OCN, p.50).
Esse depoimento é próprio de quem é orientado por uma práxis utilitária
que leva a marcar a diferença gritante entre a arte e “a luta de todo o dia.”
Contrariamente posicionada contra a concepção de arte declarada pela mãe,
haja vista que a literatura é uma das manifestações mais privilegiadas da arte,
as Orientações Curriculares para o Ensino Médio, acerca dos conhecimentos
de literatura, assim se manifestam na pág. 51.
Viver para o trabalho sem que esse signifique fonte de qualquer
prazer; querer que a escola prepare apenas para enfrentar o
sofrimento do cotidiano, principalmente para os não privilegiados, é,
por um lado, resultado de uma poderosa e perversa máquina que
parece determinar os caminhos a serem percorridos e, por outro, o
determinante desses caminhos.
Nesse percurso catalogador dos fatos que justificam a presença da
literatura no currículo do ensino médio, não se pode excluir o seu status como
34
um dos pilares da formação burguesa humanista, dada a tradição de uma elite
que comandava os destinos da nação.
A literatura era tão valorizada que chegou mesmo a ser tomada como
sinal distintivo de cultura (logo de classe social) ter passado por
Camões, Eça de Queirós, Alencar, Castro Alves, Euclides da Cunha,
Rui Barbosa, Coelho Neto e outros era demonstração de
conhecimento, de cultura. (OCN, p.51)
Salienta-se que a literatura vista através de escritores clássicos e
nacionais caía no exagero de a mesma servir para apreciação da escrita bela,
lapidada no seu aparato técnico-lingüístico, gongoricamente reverenciada pela
exuberância retórica dos seus escritores ou apenas como suporte das análises
sintáticas e morfológicas.
Oportuno, também, é afirmar que num piscar de olhos as mudanças
surgiram, trazendo progresso tecnológico, a influência da mídia, enfim, uma
modernidade que valoriza a imagem e a pressa nas informações.
Em meio a toda essa cultura do mais rápido e sempre mais, segundo
Lipovetsky (Apud OCN 2006, p.52), é que surge o questionamento da
necessidade de se ter a literatura no currículo do ensino médio, quando os
efeitos do mundo moderno tripudiam as intenções motivacionais para o
aprendizado desta disciplina.
A respeito desta relação conflituosa ente literatura e modernidade as
OCN se posiciona da seguinte forma:
Imersos nesses tempos, mais do que nunca no currículo do ensino
médio se faz necessária a pergunta: por que ainda a literatura no
currículo do ensino médio se seu estudo não incide diretamente sobre
nenhum dos postulados desse mundo hipermoderno? (OCN, p.52).
35
Diante dessas considerações levantadas, muitas outras somam-se às
indagações nocivas e duvidosas sobre o que é escrito como sendo literatura e
literatura para quê?. Segundo Fisher (apud, OCN, p. 52).
O problema, entretanto, persiste: se a literatura é arte, a arte serve
para quê? Poderíamos partir do paradoxo de Jean Cocteau que inicia
o livro de Ernst Fischer: ‘a poesia é indispensável. Se ao menos
soubesse para quê...’
Outro documento, anterior as OCN, a LDBEN nº 9.349/96 significou um
grande avanço, como se pode ver nos objetivos a serem alcançados pelo
ensino médio. Dentre os três incisos que compõem o art. 35 da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LBEN, 1996), o terceiro inciso
(aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética
e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico.
(LDBEN, 1996), vem sustentar a necessidade do ensino de literatura no nível
médio, caracterizando a sua função humanizadora de que tão bem falou
Antonio Cândido
Entendo aqui por humanização [ ... ] o processo que confirma no
homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício
da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o
próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos
problemas da vida , o senso de beleza, a percepção da
complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura
desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos
torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o
semelhante (CÂNDIDO, 1995, p.249).
Logo o inciso III do art. 35 da (LDBN) engloba os dois anteriores, pois
contempla no seu bojo o objetivo da escola em constar do currículo do ensino
36
médio o estudo indispensável da literatura, reconhecendo o seu caráter
humanizador.
a escola deverá ter como meta o desenvolvimento do humanismo, da
autonomia intelectual e do pensamento crítico, não importando se o
educando continuará os estudos ou ingressará no mundo do
trabalho.” (OCN)
Para cumprir esses objetivos e tornar o ensino de literatura um ganho
significativo na vida dos alunos do ensino médio, as OCN trazem contribuições
teóricas e sugestões metodológicas que contrastam com as posições de os
PCN, que estimula os aspectos secundários do ensino de literatura: o
historicismo e a decoreba de listas de autores e obras, vistos que todos esses
incrementos são aspectos secundários no ensino de literatura no nível médio.
37
2. MANUEL BANDEIRA PELOS CAMINHOS DA SUA POESIA.
Percorrer os caminhos da poesia Bandeiriana é realizar uma excursão
que redundará no exercício de conhecer um pouco melhor do poeta e da sua
poética assimilando através da sua obra o valor literário daquele que soube
traduzir em versos o universo presente aos nossos olhos, matéria-prima da sua
poesia.
Poeta cuja incursão no mundo da poesia resulta da fatalidade da vida
atingida pela doença pulmonar que frustrou o sonho acalentado pelo seu pai de
vê-lo arquiteto. Em seu poema “Testamento”, uma das estrofes assinala o
desvio de rota das aspirações de Bandeira como o arquiteto abortado em face
da doença que brutalmente o atingiu contrariando todo o esforço paterno de
propiciar ao filho querido a cultura escolástica de que necessitava para se
tornar arquiteto.
Testamento”
.............................................
Criou-me desde eu menino,
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
..............................................
Acometido de hemoptise, aos dezoito anos buscou lugares de clima
adequado a fim de erradicar a doença pulmonar , começa aí a sua jornada de
peregrinação que culminou no sanatório de Clavadel, na Suíça, para um
38
tratamento mais intensivo e especializado, conforme relato de Garbuglio (1998)
na apresentação do perfil biográfico de Manuel Bandeira.
Exatamente entre outros companheiros de enfermaria para tratamento
de mal similar, o jovem Bandeira passa a conhecer Paul Éluard, e outros
intelectuais vanguardistas que já vivenciavam no mundo cultural europeu a
grande revolução artística ocorrida no mundo das artes. Garbúglio (1998, p.12)
Do amigo Éluard, Bandeira assimila o melhor do pensamento estético
modernista e, em meio às inquietações, dúvidas e sentimento de frustração
pelas adversidades da vida, no caos do abismo físico-emocional, a poesia
aflora em Bandeira de forma reveladora, o poeta que incipientemente acorda
para expressar em forma de poesia a sua experiência vivida, sem contudo,
reduzi-la ao biografismo.
Todo este desvio de rota que o destino causou em Bandeira redundou
no grande presente a nossa literatura brasileira, um poeta que soube traduzir
em versos um lirismo que pulsa carregado de sentidos e símbolos, uma poesia
de um poeta que se achava “o menor”.
Em “Epígrafe”, poema que abre o livro Cinza das Horas (1917), logo na
primeira estrofe, se vê nitidamente a ironia do destino, de forma predestinada,
fazendo dele “o que quis”, conforme pode-se ver nos versos abaixo:
Epígrafe
Sou bem-nascido. Menino,
Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.
39
Assim descortina-se a poesia de Bandeira, ora sendo assimilada pelos
caminhos da análise e da decomposição dos elementos poéticos esteticamente
acabados, ora se deixando embevecer através da sensibilidade o lirismo
gracioso que se revela na sua poética. Acerca dessas implicações e modos de
apreender a estética bandeiriana, Garbuglio (1998,p.31) pondera:
Existem, em princípio, dois modos, não excludentes de aproximação
da poesia: por via da análise, examinando, verrumando,
desmontando o poema, procurando entender seu mecanismo, sua
estrutura, até perceber sua beleza, seu significado; ou por via da
sensibilidade, deixando que o texto nos penetre e se revele.A maior
parte dos poemas de Manuel Bandeira é mais facilmente acessível
da segunda maneira. O universo de sua poesia chega até nós pelo
efeito da revelação. De repente, sentimos que as imagens de seus
poemas trazem elementos que provocam nossa emoção sem que
saibamos exatamente por quê. Falam de experiências e relações que
também são nossas e que, talvez por isso mesmo, acabam mexendo
com os nossos sentidos, ajudam a despertar realidades que estão
adormecidas em nosso interior. Imagens que brotam de escaninhos
profundos do ser, carregadas de significados que a poesia é capaz
de desentranhar do inconsciente, provocando revelações
insuspeitadas.
Manuel Bandeira nos apresenta em sua poesia um “alumbramento” que
nos faz identificados com sua simplicidade quando retrata o comum, o
cotidiano o amor e à natureza. Sem retórica, sem linguagem empolada, todavia
preservando o ritmo que embala os seus versos na forma mais simples e
sublime de se expressar como afirmou Arrigucci (1999).
Em seu comentário crítico sobre a maneira como Manuel Bandeira
escrevia seus poemas, Brayner afirma (1980, p.9) que Manuel Bandeira “é o
poeta que fala pela alma do seu povo, interpreta os sentimentos e aspirações
de sua tribo, exprime-se na língua de todos.” E, ainda, conforme afirmou João
Ribeiro (In: BRAYNER,1980, p. 188), “Os elementos de sua arte são simples
40
como as coisas eternas, céu, água e uma voz errante bastam aos seus
quadros.”
Manuel Bandeira introduziu o verso livre na poesia, expressão cunhada
pelo seu amigo Mário de Andrade ao fazer menção da sua versatilidade em
inovar na poesia considerando a maneira hábil como transitava no uso de
formas fixas e revolucionárias da construção do verso. Ainda a respeito,
acrescenta Brayner (1980,p.10) sobre a poética de Bandeira.
Grande artesão do verso e profundo conhecedor de todas as
técnicas e formas poéticas, lançou mão desde o versilibrismo ao
concretismo, de todos os esquemas rimáticos e métricos, num
virtuosismo que o fez sempre presente aos desdobramentos que a
poesia brasileira vinha tendo a partir de 1922.
Entre as inúmeras contribuições deixadas pela poesia bandeiriana, duas
se destacam: o seu papel decisivo na solidificação da poesia de orientação
modernista, com todas as suas implicações (verso livre, língua coloquial,
irreverência, liberdade criadora, etc.), e o alargamento da lírica nacional, pela
sua capacidade de extrair a poesia das coisas aparentemente banais do
cotidiano, todavia dando a sua poética um caráter universalizante.
Manuel Bandeira destaca-se como poeta pertencente a primeira fase do
Modernismo, período na literatura marcado pela liberdade formal na
composição da poesia, oficialmente cognominado por Mário de Andrade de “O
São João Batista do Modernismo brasileiro”, título que se justifica por seu
pioneirismo no verso livre e a sua ação desbravadora adubando o caminho
para os novos discípulos empreenderem em prol da estética inovadora.
41
O autor de O Ritmo Dissoluto (1924) se associa à Semana de Arte
Moderna de 1922, em São Paulo, rompendo com todas as convenções formais
e estéticas da poesia tradicional aproveitando de forma sistemática tudo quanto
até então passara por definitivamente antipoético; o prosaico, o plebeu, o
desarmonioso, como descreve Garbuglio (1998,p.38-39):
Quem conviveu com a poesia dos parnasianos, com os cultores de
Bilac, jamais poderia imaginar que a “poesia” pudesse descer das
alturas olímpicas a que a tinham guindado para as ruas sujas da
cidade; dos templos sagrados para o prosaico das relações diárias.
Sair da corte dos eleitos para o cotidiano desgracioso do universo em
que eles próprios
tinham de viver.
Holanda (In: BRAYNER,1980,p.149) assim afirmou a respeito da opção
de Bandeira por construir uma poética que prezava por liberdade e
objetividade:
Manuel Bandeira jamais se deixou seduzir pelos hermetismos e pelos
estetismos, que constituem formas aristocráticas de reclusão,
intoleráveis para quem aspira a vencer,s através da poesia, sua
própria reclusão e seu confinamento.
A poesia bandeiriana apresenta-se em estilo simples, em linguagem
coloquial, quase beirando ao prosaísmo, uma temática multifacetada,
caracterizada como literatura de evasão. Fazendo alusão ao aspecto evasivo
da poesia de Bandeira, Holanda (In: BRAYNER,1980,p.150) tece as seguintes
considerações ao analisar o seu famoso poema “Vou-me embora pra
Pásargada.”
A esse propósito, não me parecem, entretanto, especialmente felizes
certas tentativas de filiação do seu brilhante poema “Vou-me embora
pra Pasárgada. A idéia mais generalizada que se faz da chamada
literatura de evasão. É bem possível que nessa peça Manuel
Bandeira não tenha atingido um dos pontos mais altos de sua criação
lírica (conforme o pretendem alguns), e é verdade que toda a sua
poesia é essencialmente poesia de evasão, se a considerarmos de
outro ponto de vista. De evasão que anda intimamente associada à
42
sua maneira peculiar de exprimir-se e que, no caso, vale antes por
um ato de conquista e de superação, do que propriamente de
abdicação diante da vida.
Acerca dessas implicações da sua poesia, o crítico Holanda (In:
BRAYNER,1980.p.143) considera:
Nem é a simples procura de ritmos novos e revolucionários o que
marca suas afinidades com alguns daqueles autores, pois apesar de
ter sido ele quem, pela primeira vez entre nós, empregou o
verdadeiro verso livre, não se tornou necessário o abandono das
cadências tradicionais para que nos desse algumas das suas
criações mais audaciosas.
É ilusório aliás, julgar que as preocupações técnicas sejam
opressivas em sua obra. O lirismo de Manuel Bandeira não é produto
de laboratório, mas vem como toda verdadeira poesia, de fontes
íntimas, exigindo, para realizar-se, condições que não se podem
forjar arbitrariamente.
A solicitude e o recolhimento íntimo não constituem para Manuel
Bandeira uma condição estranha, mas um elemento natural desencadeador de
uma poética que reage contra a melancolia, a solidão, esperando de forma
tranqüila e irônica a “iniludível” que o encontraria pronto para recebê-la.
Arrigucci (1999,p.15), buscando encontrar um motivo maior para falar
sobre as implicações do fazer poético de Bandeira, bem como acerca da
marcada pelo sentimento de finitude presente em seus textos, assim se
expressou:
Tendo por objeto uma poesia “de circunstâncias e desabafos” como a
de Manuel Bandeira, o ensaio lida com as relações complexas e sutis
entre o mundo vivido e o meio lingüístico peculiar que é a linguagem
poética, pois seu foco de interesse é o enigma verbal em que se cifra
um destino vital e poético, a configuração estética de uma certa
ordem da experiência. Lírica e experiência, eis a questão, mas na
forma do poema.
43
Em Bandeira a presença do “humilde e do sublime” dão destaque a uma
diversidade temática garimpada no terreno do comum, do coloquial, que, para
a crítica, será o solo mais fértil de sua poesia, o chão do cotidiano, da infância
reprimida pela doença, do seu quarto solitário na rua do Curvelo, no Rio de
Janeiro, do contato com moradores simples do beco, a experiência de vida
extraída para obtenção de uma poesia em defesa do social.
2.1. Uma temática multifacetada num jeito especial de fazer poesia
A poesia de Manuel Bandeira, segundo Garbuglio, (1998) chega ao
público leitor como arte forjada no espírito interior de um homem lapidado pela
dor, pelo sofrimento. Dando provas de que alguns de seus mais significativos
poemas brotaram em instantes de tédio e descrença da vida, Garbuglio (1998,
p.35) revela-nos esses estados emocionais do poeta como terrenos férteis
onde a poesia aflorou.
Assim nasceram alguns de seus mais conhecidos poemas, como
“Vou-me embora pra Pasárgada” e “A última canção do beco”. É o
que diz o poeta: “Quando eu morava só na minha casa da rua do
Curvelo, num momento de fundo desânimo...saltou-me de súbito do
subconsciente esse grito estapafúrdio: Vou-me embora pra
Pasárgada! Senti na redondilha a primeira célula de um poema e
tentei realizá-la, mas fracassei. Já nesse tempo eu não forçava a
mão. Abandonei a ideia. Alguns anos depois, em idênticas condições
de desalento e tédio, me ocorreu o mesmo desabafo de evasão da
vida besta. Desta vez o poema saiu sem esforço, como se já
estivesse pronto dentro de mim.
Com vistas ao testemunho do poeta a respeito da maneira como alguns
dos seus mais significativos poemas vieram à tona , Garbuglio (1998,p.36) faz
44
questão de ressaltar que o poeta já havia sedimentado no seu interior as
condições que favoreceriam o intercâmbio da emoção que travestida em
versos exteriorizaria a verdadeira poesia.
A força da tradição impunha uma certa ordem literária a um modelo
paradigmático e cristalizado da nossa literatura. Os poetas dos anos 20 se
empenharam ao máximo tentando romper com essas estruturas envelhecidas
no intuito de fazer sobressair um fazer poético que contemplasse e desse conta
das novas necessidades.
O modelo em voga havia imposto conceitos à poesia que precisavam ser
revistos, pois o uso deles já não se sustentavam por si mesmos. Garbuglio
(1996, p.37) reflete sobre o que era ou não era permitido à poesia.
O uso havia imposto a ideia de que existiam temas poéticos e temas
não poéticos, palavras dignas e palavras destituídas de valor poético,
como se fosse possível dividir a poesia em elementos nobres,
poéticos, e elementos vulgares, não poéticos. A vida ficava do lado
de fora.
Como exemplo prático desse instante da poesia brasileira, situamos
Augusto dos Anjos, poeta paraibano que incorporou a sua poesia um
vocabulário incomum, impróprio para os Parnasianos que tinham a forma
modal de uma estética que rejeitava essas e outras inovações.
Alternando as suas inflexões lingüísticas com vocábulos científicos,
Augusto mescla o seu eruditismo de final de Séc. XIX com termos
considerados reles à poesia como: verme, escarro, podre, carnificina, etc.
elementos lingüísticos que não combinavam com o fazer poético da escola
tradicional.
45
Bandeira travou uma severa luta interior para soltar-se das amarras
estéticas que o prendia ao estilo tradicional de fazer versos. Garbuglio
(1998.p.37) confirma esse desprendimento a partir de Ritmo Dissoluto, instante
em que o poeta resolve “dissolver os ritmos” e sair à procura de fórmulas
diversas das usuais.
O poeta sentia que era preciso romper com os clichês existentes,
com os modelos automatizantes que haviam tomado conta da
poesia, para conseguir recuperar seu poder de acordar a emoção e a
sensibilidade, ambas amortecidas pela repetição de fórmulas que
não diziam mais nada.
As impressões de uma poética tradicional em Bandeira eram fortes para
que o poeta rompesse de imediato com um modelo que ele se encontrava
ligado ao longo do seu aprendizado poético. É necessário frisar que o autor,
antes dos seus poemas “demolidores”, “Os sapos” e “Poética”, já internalizava
em si um certo recato e temor dos exageros vivenciados pelos parnasianos,
contudo guardando as conquistas já consolidadas de um fazer poético
tradicional, sem extremismos.
Acerca da ruptura com o estilo passadista e da sua convivência
harmoniosa com o velho e o novo observa-se Manuel Bandeira transitando
com equilíbrio e priorizando uma postura estética inovadora nos moldes do
modernismo. Acerca dessa observação pondera Garbuglio (1998)
A ruptura era, na verdade, de postura diante do modo de elaboração
da poesia, a escolha vocabular, da gramatiquice estéril, de regras
debilitadoras e inúteis, da
tutela imposta por pactos inexpressivos, da
limitação de recursos – tolhedores da emoção e estioladores do
lirismo. O que se queria mudar era o enfoque, e isto foi feito. (p.37)
46
Com todo o respeito que o poeta nutria pelos seus mestres do passado
e as obras deixadas, nada pôde tolher a marcha de um modernismo que via
nesses poetas parnasianos, o símbolo do atraso, verdadeiro impedimento para
que a poesia brasileira da época avançasse.
A ação tratorista do Modernismo foi demolidora do estilo ainda em voga,
atropelando de forma revolucionária aquilo que havia ganhado estatuto de arte
e símbolo da inteligência nacional reinante.
A irreverência do momento para com a arte passadista evoluiria em
Bandeira para um momento de maturidade. Garbuglio (1998.p.38) traça um
perfil de Bandeira se movendo com parcimônia nos trilhos da dureza e da
serenidade com o seguinte balanço dos fatos:
Depois do avanço marcado pela irreverência veio a serenidade do
poeta adulto, senhor da situação e liberto das imposições para se
entregar à poesia metrificada ao lado do verso livre, em pacífica
convivência. Uma vez alcançada a expressão madura podia, sem
receio, tratar com equilíbrio e sabedoria a poesia, porque havia
adquirido a segurança dos grandes mestres. Se o verso livre foi uma
difícil mas extraordinária conquista, o retorno de certas formas
tradicionais mostra o ponto máximo de amadurecimento e a
conquista da harmonia. O poeta estava livre da tutela. (p.38)
Com maestria Bandeira consegue captar do universo a sua volta, do
cotidiano da rua do Curvelo, do beco, os elementos aparentemente comuns;
matéria prima absoluta da sua poesia. A vida de fora é incorporada a sua
poesia.
Fugia totalmente a essa proposta, os cultores da poesia Parnasiana
voltados para uma temática artificialista, exageradamente técnica e destituída
de um elemento gracioso, que é típico da poesia de Manuel Bandeira, a
sensibilidade.
47
Acerca desse modelo engessado do fazer poético Parnasiano,
totalmente alheio a dor dos que passam na rua, e de uma preocupação formal
no acabamento estético e métrico da poesia, Garbuglio, (1998,p.38-39) em
capítulo de que trata da incorporação do cotidiano na poesia bandeiriana,
assim declara:
Quem conviveu com a poesia dos parnasianos, com os cultores de
Bilac, jamais poderia imaginar que a “poesia” pudesse descer das
alturas olímpicas a que a tinham guindado para as ruas sujas da
cidade; dos templos sagrados para o prosaico das relações diárias.
Sair da corte dos eleitos para o cotidiano desgracioso do universo em
que eles próprios tinham de viver. E, no entanto, isto aconteceu no
Brasil. De forma agressiva durante as manifestações modernistas, de
modo natural, na poesia de Manuel Bandeira. (p.38-39).
As incursões bandeirianas redescobriram o mundo através de uma
poesia que absorve do comum ou do aparentemente simples, uma poesia que
aflora dos sentimentos, distancia-se abruptamente de uma arte poética, fria e
impassível, propagada pelos Parnasianos totalmente confinada a um ideal
elitista de compilação do verso.
A respeito desse instante de ruptura da poesia bandeiriana com o estilo
em voga, Garbuglio (1998) comenta de forma crítica:
A Poesia que se praticava entre nós tinha adquirido tal artificialismo
que, falando de realidades tão distantes, nos afastou de tudo e nos
tornou estrangeiros em nosso próprio terreno. O triste é que era
exatamente essa parafernália que havia adquirido estatuto de
“poesia” para as gerações do começo do século, adversárias de
quaisquer modificações. Estas vieram de forma abrupta e violenta
com os modernistas de primeira hora, que buscavam uma
adequação entre a realidade e a literatura, ou de forma sorrateira,
com naturalidade, na poesia de Bandeira. (p.39,40)
Esse processo deu-se em virtude da experiência de vida do poeta
gerada na intimidade com as pessoas e objetos a sua volta, cimentada com o
vínculo da solidariedade. Acerca dessa habilidade para extrair do comum a
48
poesia que também carece do mundo mágico da palavra para se manifestar,
Garbuglio (1998,p.39) pondera:
É que o poeta Já tinha incorporado o humilde cotidiano por força de
sua própria vida e, especialmente, por uma espécie de solidariedade
intrínseca que levava aproximar-se desse universo, que também era
seu. Antenas ligadas, sensibilidade pronta, o poeta participava do
espetáculo a sua volta e podia sentir os dramas dos atores,
transformando-os em objetos de poesia pela magia de sua palavra.
Estava realizado o impossível casamento.
As impressões do humilde e do cotidiano em Bandeira não são
reveladoras de nenhuma intenção modernista, é algo que brotou do olhar
acurado e atento de um poeta que soube compartilhar através da poesia o
espetáculo da vida que lhe saltava aos olhos, conforme Garbuglio(1998,p.39)
declara:
É que desde cedo o poeta veio participando deste espetáculo e por
isso mesmo soube vivê-lo e compreendê-lo, como se pode ver em
suas confissões: “Nunca brinquei com os moleques da rua, mas
impregnei-me a fundo do realismo da gente do povo. Jamais me
esqueci das palavras com que certo caixeiro de venda português deu
notícia de um companheiro que não era visto havia algum tempo: ‘o
seu Alberto está com os pulmões podres’
Sobre essas impressões captadas por Bandeira através do olhar , ainda
que em muitas circunstâncias confinado ao reduto isolado de um quarto de
dormir ou tolhido de brincar na sua infância com moleques de rua , não passou
desapercebido o seu olhar da matéria prima da sua poesia, o universo
sugestivo ao seu redor. Com palavras elucidativas que ratificam o gesto
experiencial da sabedoria para perceber com profundidade o espaço que o
cercava, Arrigucci (1990,p.23) afirma:
Mais uma vez o quarto surge, em Manuel, como reduto da
inferioridade do sujeito: espaço lírico por excelência, onde se
49
recolhem as impressões da realidade e se gera a poesia; lugar
principal da experiência, de onde o poeta olha o mundo e se debruça
sobre a vida. Desta vez, ali, se fixa o tempo, no instante iluminado de
uma cena prosaica, num momento de vida retida.
Na realidade, Bandeira fez do seu reservado aposento o observatório
caleidoscópico que visualizava a múltipla face de uma poesia espelhada nas
crianças que brincavam nas ruas, na voz do povo e das cantigas populares
embaladas por vozes de esperança que sinalizavam um tempo novo para a
poesia dentro do Modernismo brasileiro.
2.2 Bandeira e a política da boa vizinhança com a indesejada das gentes
As experiências decorrentes do sofrimento causado pela doença levou
Manuel Bandeira a um amadurecimento emocional satisfatório para aceitar um
viver diário marcado pelos limites impostos pela enfermidade aceitando com
naturalidade a idéia de que haveria de enfrentar a morte iminentemente.
Essa postura equilibrada diante daquela a que chamou de indesejada
das gentes, a iniludível, adjetivos que de certa forma bem selecionados
figuraram na sua poesia como elementos lingüísticos que garantiram também o
tom eufemístico dessa convivência forçosamente harmoniosa com uma
realidade tão dura para todos os mortais, que é a morte.
Ao lidar com temas como doença e morte convém destacar em Bandeira
outros olhares da sua obra, quando desloca-se com maturidade da cena
poética que traduz o sofrimento individual, para a dor de todos, universalizando
em sua poesia temáticas reveladoras da precariedade da vida humana.
50
Além do mais, a convivência com a sua hospitaleira amiga morte é uma
modalidade a mais vista na poesia de Bandeira. Sua convivência pacífica
revela o tom de tranqüilidade de quem aguarda não a adversária, mas a boa
companheira que livraria a sua natureza material e imaterial de um fado
inglório. Esse favor que a morte traria para o eu-lírico, é perceptível nos dois
últimos versos de “Momento num café”: “E saudava a matéria que passava/
Liberta para sempre da alma extinta.”
“Consoada” é a prova cabal da maturidade do poeta em harmonizar-se
com o trágico não aceitando o infortúnio herdado da doença, todavia sem
reclamar da roda da sorte, aceitando com naturalidade o instante maior da
chegada emancipatória de toda dor e de todo o sofrimento.
Garbuglio, (1998,p.71) revela essa modalidade variada da poética de
Manuel Bandeira, e a maneira como se portou no cotidiano com esse impasse,
nas seguintes palavras:
Com o convívio chegou também a tranqüilidade, a quase
familiaridade, de que conseguiu enfrentar as artimanhas do destino,
como Deus foi servido. A doce paz que exala do poema identifica um
espírito consciente da tarefa cumprida e o corpo preparado para o
adeus definitivo, sem traumas nem ranger de dentes, porque se “A
vida é um milagre.[...] __ bendita a morte, que é o fim de todos os
milagres” (preparação para a morte”) (p.71).
Explorando o universo temático de Manuel Bandeira acerca da morte
admite-se que em alguns poemas a preocupação do poeta inquirir sobre o
destino das pessoas que desapareceram do seu círculo famíliar, além de
amigos que tragados pela “indesejada das gentes” sumiram deixando um
vácuo, espaço vazio revivido pelo poeta através da poesia que assume uma
função compensadora dessas perdas materiais.
51
Essas considerações são tecidas por Garbuglio (1998,p.72).
Como evocação de figuras e quadros do passado (neste caso
identifica-se com os símbolos e mitos da infância), quer como
reflexão sobre a morte e o A interrogação sobre o destino das
pessoas aparece na obra de Bandeira quer desaparecimento de
pessoas de seu círculo de relações.
Toda essa dor de existir aflora na sua poética o sentimento claro da
precariedade da condição humana e a fragilidade das coisas terrenas, da
própria vida efêmera que não se sustenta apesar de esforços por vivenciá-la
abundantemente.
Em alguns momentos a poesia de Manuel Bandeira está intrinsicamente
relacionada a literatura religiosa quando tematiza a morte, todavia descartando
o tom moralizante e pedagógico da religião, sobretudo a cristã, que fomenta o
severo juízo sobre os poderosos, advertindo-os da ganância e da sede
insaciável do ser humano em angariar riquezas.
Sobre esse olhar da temática de Bandeira sem o tom moral e
pedagogizante da literatura religiosa, assim escreve Garbuglio (1998,p.72) .
De certo modo fica evidenciada a filiação de sua poesia às correntes
literárias de origem bíblica. Mas a tradição religiosa, pondo o acento
na vaidade humana e no acúmulo de bens materiais, tinha intenção
claramente moralizante e pedagógica. Ao insistir no aniquilamento
dos poderosos e na inutilidade dos bens, que se reduziam a pó,
procurava frear a cobiça e a ambição.
Em suma, o poeta resgata valores que se encontram vinculados à
memória das situações passadas, registrando perdas irreparáveis daqueles
ligados ao seu universo familiar, numa toada de dor vivida em sua poesia.
Garbuglio (1998,p.72) confirma o gesto complacente de Bandeira que não
admite juízo de valor ou qualquer sinal de tratamento diferenciado a nobres e
plebeus dessassistidos ou afortunados.
52
A poesia de Manuel Bandeira não se preocupa com a natureza
moralizante ou condenatória de bens ou indivíduos. Pelo contrário,
apanha o que há de positivo neste jogo, para lamentar o
desaparecimento das pessoas que compunham o círculo de suas
relações e conhecimentos, enquanto sua poesia reconstrói e eterniza
os traços afetivos que marcaram o comportamento e fisionomia dos
entes amados. Atitude que decorre, num primeiro lance, da
necessidade de reatar os fios rompidos de seu universo pessoal,
esvaziado das presenças que davam sentido ao seu próprio ser.
Nessas incursões rememorativas dos amigos o que se busca ,pois, é
alma das coisas, o sinal de vida que o poeta levou consigo para as
profundezas da morte. E para reviver as eternas lembranças dos amigos ora
distantes do plano material, Garbuglio (1998,p.73) pondera:
Creio que isto explique a busca serena e a mansa aflição que, sem
revolta, ajudam na criação da atmosfera lírica com que se vai
desvelando o passado e reconstituindo personagens e cenários. E se
, não é possível recuperar a realidade e sua dimensão de outrora,
com sua animação e significado, a poesia é bom consolo, embora
insuficiente, para permitir a circulação de um mundo ao outro.
Um poema que exemplifica a dor da saudade que separa os amigos de
Bandeira é “Profundamente”, poema que densifica o tema e lhe dá especial
dimensão permitindo outros olhares sobre a temática da morte,
Convém destacar a quarta estrofe do poema: “__ Estavam todos
dormindo/Estavam todos deitados/Dormindo/Profundamente.” No confronto da
poesia de Bandeira com a Bíblia, no tratamento dispensado a seres humanos,
a Escritura sagrada dispensa tratamento generoso para com as pessoas
injustas, mas imprime juízo de valor nas bases da severidade e justiça
implacável aos infratores da Lei divina.
Ademais o poeta deixa extravasar na sua poesia a ternura e um
tratamento igualitário e afetuoso para com todos os que já dormem o profundo
53
sono da morte. Garbuglio (1998,p.77) dá força a este pensamento para
exploração da temática nas seguintes declarações:
Diferentemente da colocação bíblica em que a justiça divina
comparece para resgatar os desprotegidos e punir os poderosos e os
pecadores, Bandeira imprime outra direção. Na interrogação religiosa
falta ternura, o que implica frieza e distanciamento. Em Bandeira
existe o pulsar humano, afeto e doçura. Se as pessoas estão
dormindo, ainda que profundamente, fica a idéia de sossego e
repouso, sem penas a resgatar nem crimes a expiar. Além disso, a
morte cria um vácuo para o poeta e para a vida, que deve ser visto
em correspondência com dois momentos diversos do poema. Ontem
quando o sono o afastou de modo efetivo o convívio com aquela
realidade.
Todas as interrogações do poeta sobre o destino dos amigos que se
foram desfigurando o cenário forjado na lembrança tão rica das experiências
materiais, repousam na sublimação oriunda de um resgate verbal na poesia
que renasce das palavras, uma compensação das perdas materiais,
revitalizada no consolo que a poesia oferece.
Essas considerações são avaliadas por Garbuglio (1998,p.78):
Hoje, quando a perspectiva do presente vê a morte como fato
consumado, responsável pela devastação daquele mundo, levando
para sempre as criaturas e assim justificando a interrogação final do
poeta sobre o destino que tomaram, donde o presente do verbo, “__
Estão todos dormindo” que intemporaliza a ação e eterniza o
acontecimento. Se passaram do sono para a morte, no plano
histórico ficaram para sempre retidas na memória as vozes de “Minha
avó,/Meu avô,/Totônio Rodrigues/Tomásia/Rosa...” assim como as
vozes que nos falam intimamente; e se resgatá-las fisicamente se
torna impossível, resta o consolo da poesia que as revive e perpetua
na magia da palavra.
O poeta soube perpetuar a lembrança de entes queridos através da
poesia que aflora também dos acontecimentos e histórias, pessoas e mitos que
marcaram sua vida.
54
2.3 Amor, erotismo e infância na poesia de Manuel Bandeira
É impossível estudar Manoel Bandeira sem contemplar a modalidade da
sua poesia sobre o amor e o erotismo. A proporção em que essa temática é
presente na sua obra revela a sensibilidade e o fino trato dispensado ao
envolvimento amoroso do poeta marcado por suas experiências vividas de
forma gradual.
O amor e o erotismo em Bandeira são vistos a partir dos rituais de
iniciação amorosa vivenciados na infância e adolescência, com cenas
flagrantes da curiosidade infantil afloradas pelo desejo e atração da
contemplação da imagem nua do sexo oposto, transitando para a descoberta
da experiência carnal e nitidamente sensual do encontro amoroso entre duas
pessoas.
Ainda reportando-se ao amor e as múltiplas formas de enxergá-lo bem
como o tratamento dado, na sua poesia, a mulher, força motriz do desejo e da
atração dos corpos, Garbuglio (1998,p.79) pondera:
Se a morte foi companheira constante do poeta, o amor e suas
múltiplas formas de manifestação, a mulher , sua beleza e atração, a
carne e o desejo, mesmo quando ganham marcas de transcendência
e cobrem as criaturas com certa aura de espiritualidade, imprimem
uma ar de incompletude e deixam um rastro de frustrações que
formam com certeza a marca mais dolorosa desse sentimento.
O desejo e a atração pela mulher despidos de quaisquer impedimentos
ou restrições no percurso amoroso distanciados da culpa, é traço marcante e
reinante na poesia bandeiriana visivelmente exemplificado no poema “Vou me
embora pra Pasárgada”. Acerca desse espaço considerável para exploração do
55
amor e suas várias manifestações, livre de qualquer camisa de força, considera
Garbuglio (1998,p.79)
Na verdade, o amor e suas várias formas de manifestação percorrem
toda a obra de Bandeira, ora de modo velado, ora de modo
ostensivo, multiplicando-se em imagens e figuras de linguagem que
lhe dão consistência e permitem descortinar as reações e posições
com as quais o poeta constrói sua visão de mulher e do sentimento
amoroso.
Existe na realidade um percurso gradual do sentimento erótico presente
na sua poesia com um perfil multifacetado que avança do erotismo
caracterizador da descoberta do sexo na idade infanto-adolescente aflorando
no desejo amadurecido vivenciado nas experiências amorosas da vida adulta.
Garbuglio (1998, p.81) faz um balanço desse percurso amoroso na obra
de Bandeira manifestando-se assim:
Em A cinza das horas já encontramos as primeiras referências eróticas, em
poemas como “pometo erótico”: “Teu corpo é a brasa do lume.../[...] Teu
corpo é chama e flameja”, passando por “Ternura” para deparar em
Carnaval com desenvolvimentos mais ousados como em “vulgívaga”, Pierrot
místico” , “alumbramento”, ainda assim sem sair de linhas comportadas,
como se fosse um adolescente a contemplar a nudez feminina recém-
descoberta, deixando-se alumbrado com a visão: “Vi carros triunfais...
troféus.../ Pérolas grandes como a lua.../ Eu vi os céus! [...]/ Eu vi-a nua...
toda nua!” ou ainda aquele “Espelho” que reflete a imagem também nua da
mulher espicaçar o desejo:
Ardo em desejo na tarde que arde!
Oh, como é belo dentro de mim
Teu corpo de ouro no fim da tarde.
Em Bandeira o erotismo é visto também na sua expressão mais carnal
possível, o sentimento amoroso atinge o ápice da descoberta amorosa no
extravasamento das satisfações dos sentidos que culminam no deleite sexual.
O sexo feminino apresenta-se despido de pudores ou de qualquer forma de
preconceito que possa tolher a sua livre manifestação.
56
A palavra desejo assume na sua poesia um ar de constância e
superioridade, pois na relação amorosa ela é definidora na consolidação da
comunicação dos corpos, embora na poesia de Bandeira esta fugacidade
esbarra num desejo irrealizável. Garbuglio (1998,p.85,86) pondera com a
seguinte consideração:
A forte inclinação que pede a satisfação do desejo, o impulso que
comanda a vontade para efetivação do ato amoroso permanece,
regra geral, como ato irrealizado. Deste modo, amor é desejo de algo
que se quer e não se tem, como se vê em Platão, ao buscar a
definição de amor. Amor é falta, carência, uma espécie de vazio
impossível de preencher. Seu atributo principal é, portanto, a busca,
condição básica para preenchimento daquela necessidade, de
antemão condenada ao fracasso. Se o sentido de incompletude que
caracteriza o sentimento amoroso é a idéia de renovação da busca,
como atitude permanente, que ao fim gera aquele sentimento de
frustração, a insatisfação constitui o elo mais visível e doloroso desta
busca sem fim e sem limites, que permeia toda poesia amorosa de
Manuel Bandeira.
O poeta é instigado a uma busca incessante da realização amorosa
cada vez mais motivada pela força do desejo que não se esgota, mas que o
atira contra os obstáculos do percurso amoroso causadores da sua insatisfação
amorosa.
Na poesia de Manuel Bandeira a infância é revisitada possibilitando ao
leitor da sua poesia uma incursão imaginária nos “verdes anos” daqueles que
dariam tudo para entrarem na roda do tempo e voltarem ao passado, ao mundo
de sonhos do universo infantil..
É possível enxergar essas possibilidades imaginativas e fugazes na
literatura bandeiriana e avaliarmos o antagonismo existente em sua obra,
confrontando as experiências de vida passada e presente. Acerca dessas
57
experiências vivenciadas na sua infância, comparadas à realidade do mundo
adulto, pondera Garbuglio (1998, p.96):
Em graus diversos o tema percorre toda a sua obra e avança por um
sistema de oposição entre a criança e o adulto, o passado e o
presente, tempo feliz e tempo de desconforto. De modo informe e
difuso, sem consciência mais clara do problema, insinua-se em A
cinza das horas (“Epígrafe”, “Cartas de meu avô”), em que aquela
atmosfera de vaga tristeza envolve o leitor, deixando já aí entrever a
velha oposição entre o outrora e o agora, sem alcançar, no entanto,
ressonância maior. Em O Ritmo Dissoluto, o tema ganha
adensamento e recortes mais nítidos (“Os balõezinhos”), “Meninos
carvoeiros”, “ Na rua do sabão”, “Balõezinhos”) e adquire maturidade
definitiva em Libertinagem (“Porquinho-da-índia”, “Evocação do
Recife”, “Profundamente”), reaparecendo depois em outros poemas.
Segundo Garbuglio (1998), o tema infância ganha contorno e traços que
remontam ao universo infantil, a partir dos diminutivos que vão aparecendo de
forma expressiva nos poemas, propiciando uma clima típico para evocação das
reminiscências decorrentes da vida pueril.
Trazendo à tona o poema “Infância,” é possível observar que a poesia
de Manuel Bandeira quando tematiza o mundo infantil recobra os ritos de
passagem da fase pueril à idade adulta,experiências vividas que só de forma
evasiva poderão ser compartilhadas no presente, graças ao milagre da poesia
que através da palavra estética e deleitosa é capaz de fazer ressurgir dentro
de nós, um passado de sonhos. Garbuglio (1998,p.100) assim se expressou
sobre essas experiências:
A partir de uma visão geral, pode-se dizer que é um poema articulado
em torno dos atos de iniciação, com aproveitamento dos ritos de
passagem próprios da idade: começa pela nutrição da primeira
infância, passa pelos sustos da descoberta do mistério, embutido nas
mágicas intempestivas, entra pela descoberta da rua com seus
brinquedos e pregões, passa pela experiência sexual e pelo
descortínio da morte e, assim, se ligam os dois pólos da vida.
58
A síntese desse processo de amadurecimento unindo as duas instâncias
da vida, passando pela trilha da vida livre e solta da paisagem infantil é
visualisado nos últimos versos do poema infância.
Depois meu avô... Descoberta da morte!
Com dez anos vim para o Rio.
Conhecia a vida em suas verdades essenciais.
Estava maduro para o sofrimento
E para poesia.
A realidade presencial de fatos da infância ganham significado especial
no espaço-poético podendo ser revividos com intensidade, recuperados na
memória que sacraliza o passado. Garbuglio (1998,p.101) faz alusão ao
instante mágico da poesia na preservação da memória cristalizada do poeta.
Assim chega-se a uma nova dimensão do mundo, assiste-se ao
surgimento de um novo homem, ciente daqueles valores, ansioso por
guardar e proteger aquela realidade que, congelada na poesia, torna-
se susceptível de repetição, pois possibilita a reatualização do gesto
e momento inicial.
É pertinente dizer que o poeta construiu o todo a partir da junção dos
pedaços de pessoas, coisas que impregnadas no espírito da criança
transcenderam à sua vida adulta atraída pela lembrança indissociável do
passado susceptível de recuperação.
Registros intemporalizados da ama-de-leite, a casa de São Paulo, a
praia de Santos, a chácara da Gávea, o primeiro cachorro, a casa do avô, a
descoberta da rua, são atos e fatos que nos levam diretamente à “Evocação do
Recife” outro poema que eterniza essas memórias do mundo infantil na mente
do adulto
.
59
3. A POESIA DE MANUEL BANDEIRA EM LIVROS DIDÁTICOS
Após estudos concentrados sobre a obra e vida de Manuel Bandeira
realizados no capítulo anterior, a partir deste capítulo abordaremos a poesia de
Manuel Bandeira em 06 (seis) Livros Didáticos de literatura do Ensino Médio,
devidamente escolhidos com o objetivo de descobrir nas abordagens
realizadas, os ganhos significativos de cada edição bem como avaliar
possibilidades de sugestões para um melhor aproveitamento da proposta em
estudo, a poesia de Manuel Bandeira em livros didáticos de literatura do ensino
médio. Será analisado se os manuais apresentam textos completos ou
fragmentos, além do modo como os autores se posicionam acerca dos
aspectos estilísticos, temáticos e críticos da obra bandeiriana.
3.1 Análise do livro didático 1
Analisando o livro 1, na secção que abre o estudo da poesia de Manuel
Bandeira, o primeiro olhar é direcionado aos poemas “Poemeto Erótico”,
“Peneumotórax”, “Poema tirado de uma notícia de jornal” e “Vou-me embora
pra Pasárgada”..
A ordem e disposição dos poemas completos de Manuel Bandeira é
precedida de informações de caráter biográfico e historicista do autor e do
momento estético da sua poesia.
O estudo de literatura não deve se pautar apenas a partir de valores
historicistas, ainda que essas informações bem fundamentadas possam ajudar
60
ao leitor de leituras literárias na compreensão do objeto de estudo que é o
próprio texto literário na sua integralidade. É conveniente, no entanto, registrar
que as informações a respeito da poesia de Bandeira, desde A cinza das horas
(1917), Carnaval (1919), O Ritmo dissoluto e Libertinagem (1930) apresentam
o instante de inserção de sua poética na estética modernista que assinala o
desprendimento artístico da obra bandeiriana do estilo passadista, ainda em
vigência.
Dentre os críticos, o manual destaca Sérgio Buarque de Holanda que de
forma mordaz atribui ao poema “Os sapos” o título de “Hino Nacional do
Modernismo”. O manual registra a histórica informação do crítico, mas comete
um equívoco quando sugere a leitura do poema logo mais abaixo e não traz o
texto escrito:
(...) o genial Carnaval, livro que daria um dos poemas-manifestos
da Semana de 22, “Os Sapos” (que o crítico Sérgio Buarque de
Holanda chamou de “Hino Nacional do Modernismo” e que você
pode ler abaixo) (p. 388)
Ainda com respeito às informações históricas dos livros que foram
periodicamente escritos por Bandeira e a temática explorada em alguns deles
é digno de nota os detalhes assinalados pelos autores do manual em estudo.
Em Ritmo dissoluto (1924), o perfil do poeta é destacado revelando
nesse intervalo de busca do salto de qualidade da poesia bandeiriana para
Libertinagem (1930), o instante de transição como se fosse um ritual de
passagem para aceitação normal do momento consagrador e libertário do
verso livre. Além desses detalhes formais insere-se no bojo dessa obra uma
61
temática social caracterizada pela presença de personagens humildes. O
manual expressa essas considerações históricas e sociais na (p.388), assim:
O Ritmo Dissoluto, livro que já incorpora, mas de forma muito
pessoal, a inovação dos versos livres. É o livro que prepara Bandeira
para o grande salto em sua obra que virá em 1930, com libertinagem.
Ainda em o Ritmo Dissoluto também aparecem os personagens
humildes, como os meninos carvoeiros, o filho da empregada, as
pessoas da feira livre. Muitos dos temas também passam pelo
cotidiano – como diria Carlos Drummond de Andrade, este livro trazia
“confissões, queixas, alumbramentos de um poeta doente, que
cuidava de pequenos assuntos, carvoeirozinhos, balõezinhos,
estatuazinhas de gesso coisas desdenhadas na véspera pelos
parnasianos, e em versos que, como o seu ritmo, pareciam
dissolutos, não obstante a sabedoria das distorções voluntárias e a
fábrica altamente engenhosa. (p.388)
Todas essas informações do percurso histórico da poética e temática de
Bandeira estão bem fundamentadas no livro didático. Observe as
considerações tecidas pelos autores sobre a linguagem empregada por
Bandeira, seu tom simples, quase beirando ao prosaísmo descrevendo de
forma fotográfica o cotidiano, o trágico, no seu recorrente “Poema Tirado de
uma Notícia de Jornal”, várias vezes apresentado em livros didáticos.
O poema é simples: Lê-se sem precisar abrir um dicionário, mas
é montado com engenho por Manuel Bandeira. Ele leva o leitor
pelas mãos, faz com que este veja, com poucas palavras, toda
uma cena, um retalho de vida que termina em morte. (p.389).
Os autores do livro didático reforçam essa versatilidade de Bandeira de
condensar uma situação e sentimentos através de poucos e precisos versos,
reportando-se ao que disse um dos críticos da sua poesia, Davi Arrigucci Jr
(Apud RODELA, 2005, p.389) “que o poeta desentranha o poema da matéria
do jornal, dando-lhe forma e condensando toda uma experiência humana, “em
constante desafio à interpretação do leitor”.
62
Embora fique comprovada a boa apresentação da biografia e da história
do percurso evolutivo e temático da sua poesia explorados nesse manual,
convém aqui revelar que nenhuma consideração foi dispensada aos poemas
postos para abordagem, do ponto de vista temático ou quaisquer orientações
metodológicas para uma aproximação produtiva do leitor de nível médio com a
poesia de Bandeira.
Esses limites mencionados acima são visíveis nos seguintes poemas:
Poemeto “Erótico” (p.388),“Pneumotórax”(p.388), “Vou-me Embora pra
Pasárgada”(p.389). Espera-se de todo observador atento aferir como esses
textos encontram-se postados no livro didático, espaço reservado no manual
para as leituras literárias de tudo o que de bom e melhor se produziu pelos
autores do artefato estético, sejam poesias, crônicas, contos, enfim , textos de
natureza literária.
No livro 1 constatou-se uma restrição do número de poemas para
abordagem no espaço destinado ao estudo da poesia de Bandeira, com a
ressalva de que o manual em estudo leva sobre si uma vantagem mais
expressiva do que os outros que, além de não contemplar um número ideal de
textos do poeta, ainda incorrem num agravante maior, os escassos textos
apresentam-se fragmentados.
Os poemas em destaque são os seguintes: “Poemeto Erótico”,
“Pneumotórax”, “Poema Tirado de uma Notícia de Jornal” e “Vou-me Embora
pra Pasárgada” , cuja fonte indicada no manual aponta para a obra Estrela da
Vida Inteira (1993).
63
Com relação ao tratamento que, na sua grande maioria, o livro didático
imprime ao gênero lírico furtando-lhe o espaço que contemplasse um número
mais acentuado de poemas, Pinheiro (2006,p.106) faz alusão a alguns desses
problemas herdados pelos livros didáticos. O autor pondera sobre o
racionamento do gênero lírico nas secções destinadas ao estudo do poema
com o expressivo argumento: “a quantidade de textos literários é sempre muito
pequena, sobretudo quando se trata do gênero lírico, que poderia ter uma
representatividade maior, uma vez que ocupa bem menos espaço”.
Além do mais, a poesia é talvez o mais complexo dos gêneros para fins
de estudo e aprendizado da literatura, necessitando portanto de que a sua
presença no livro didático seja mais valorizada. A redução quase que total do
número de poemas em alguns manuais sinaliza um gravíssimo problema que
reside no fato do comprometimento da visão mais apurada ou diversificada da
obra do autor.
Voltando-se para o estudo desse manual, os autores contemplaram
quatro poemas que caracterizam muito bem a poesia do poeta Manuel
Bandeira, com destaque para a poesia erótica, elipsada em quase todos os
manuais. O despertar dos autores inserindo “Poemeto Erótico” (p.388) é mais
uma opção de leitura para o leitor, nesse leque-temático diversificado da sua
poética, mas tão escamoteado pelos livros didáticos que costumam de forma
cristalizada insistir em outros temas já recorrentes.
“Pneumotórax”, “Poema Tirado de uma Notícia de Jornal” e “Vou-me
Embora pra Pasárgada” contemplam aspectos diversificados da sua poética,
caracterizada pela doença, pelo social e pela evasão.
64
O elemento “doença” em “Pneumotórax associa o leitor a fragilidade
física do poeta atestada por sua biografia, do herói, que luta contra a morte dia-
a-dia, mas que encontra o gosto saudável por viver.
Ademais, no poema proposto para leitura os autores do LD não
sinalizam nenhum detalhe, ou informação precedente que auxilie o aluno na
compreensão do poema.
Em Consoada, os últimos versos deste poema confirmam a sua
prontidão em descansar das suas obras espontaneamente e de forma
organizada. “(...)Alô iniludível meu dia foi bom, pode a noite descer./ (A noite
com os seus sortilégios.) Encontrará lavrado o campo, a casa limpa/ A mesa
posta, / Com cada coisa em seu lugar.”
Em “Poema Tirado de uma Notícia de Jornal” (p.389), Bandeira explora
uma temática voltada para o social dando prova inconteste de que a poesia
tem esse caráter humanizador, na defesa do grito de liberdade dos que sofrem
violenta opressão.
Sem nenhuma pretensão intencional de caráter ideológico-social, a
poesia bandeiriana revela nuanças dessa função engajada da literatura em
alguns poemas, além de “Poema Tirado de uma Notícia de Jornal”, “Meninos
Carvoeiros”, “Poema do Beco” e outros.
Como ressalva ao poema proposto para leitura no livro didático, os
autores silenciam sobre a temática social explorada por Bandeira na sua
poesia omitindo quaisquer detalhes que dêem pistas ao aluno sobre esse
aspecto importante da sua poética.
65
Esses poemas agregam em si uma carga temática reveladora de que
mesmo fragilizado pela doença, Bandeira pôde encontrar na sua arte engajada
o instante poético para dialogar com a dor dos que sofrem os danos da
exclusão social.
Em “Vou-me Embora pra Pasárgada” nenhuma informação circunda o
texto poético como batedores textuais que sinalizem ao leitor do texto literário o
que significa alguns vocábulos, nem as condições de produção do poema. A
evasão como temática é visível no texto, pois as declarações que remontam à
uma infância sublimada pelas limitações impostas pela doença são
precisamente devaneadas no imaginário do poeta que escapa para um paraíso
fictício que desprendido das amarras que a vida lhe impôs projeta-se na
infância, livre de limitações, avança na linha do sonho vivenciando paixões ou
desejos outrora reprimidos.
Não restam dúvidas de que o contato com o texto possibilitará mediante
o olhar mediador do professor o entendimento do aluno de que o poeta revisita
a infância, divertimentos da idade pueril, resgatando a cultura popular.
Necessário se faz dizer que o texto é recorrente na maioria dos livros didáticos,
porém cercado de pistas informativas que ajudam o leitor a interagir melhor
com a leitura do poema.
Concluindo essas observações a respeito da poesia de Bandeira no livro
1, é oportuno dizer que os poemas “Pneumotórax” e “Poema Tirado de uma
Notícia de Jornal” caracterizam quanto ao aspecto técnico-formal a estética
modernista com a presença maciça do verso livre, sem a preocupação com a
métrica ao estilo parnasianista. São visualizados, nesses poemas, versos
66
curtos e versos longos, prova inconteste da liberdade e do desprendimento
para escrever de Bandeira, indo além do estilo passadista que esteve sempre
agrilhoado a padrões de normas fixas do verso.
3.2 Análise do livro 2
A partir desse momento passaremos à abordagem da poesia de Manuel
Bandeira no livro 2. Os autores escolheram como texto introdutório ao estudo
da poesia bandeiriana o poema “Poética”(p.241).
Após um breve relato biográfico do poeta Manuel Bandeira culminando
com a apresentação das suas obras, os autores do livro didático introduzem o
estudo da poesia bandeiriana a partir do espaço denominado: “textos para
leitura e compreensão”. Antes do poema “poética” (p.241), há uma pausa para
uma pequena apresentação do livro Libertinagem com os seguintes termos:
“com o volume Libertinagem, publicado em 1930, Manuel Bandeira consolidou
a idéia de liberdade estética.”
Compõem a obra poemas quase prosaicos, com temática existencial e
grande exploração de cenas e imagens brasileiras. “Poética” funciona como um
verdadeiro manifesto da estética libertada.
O relato histórico limita-se a informações da participação indireta de
Manuel Bandeira na Semana de Arte Moderna, ocasião em que Ronald de
Carvalho declamou o poema “Os Sapos” em meio a grande vaia.
São informações lacônicas do instante embrionário da primeira fase do
modernismo Brasileiro. Fica evidente que os autores têm a preocupação de
67
situar o poeta como combatente em confronto direto com a estética
Parnasiana.
Outras afirmações são indicadores da vida artística e profissional de
Bandeira passando pelos postos ocupados em sua trajetória de homem
público, culminando com a sua posse em 1940, na Academia Brasileira de
Letras.
As informações biográficas e históricas a respeito do poeta são
destituídas de quaisquer comentários de críticos atentos à obra de Manuel
Bandeira.
Um detalhe à vista na confecção das informações da biografia do poeta
é o registro da sua produção intensa, mesmo nos momentos em que a
tuberculose o afligia; tema bastante recorrente na sua obra.
Analisando a maneira como o poema “Poética” encontra-se postado no
livro didático, observa-se que o mesmo vem precedido de informações sobre o
livro Libertinagem, publicado em 1930, caracterizado como um verdadeiro salto
de qualidade de Bandeira no exercício da construção do verso livre.
Em tom metalingüístico, o poema apresenta-se como um receituário de
uma estética inovadora que rompe com o estilo passadista ainda em voga na
primeira fase do modernismo brasileiro.
A essas informações somam-se outras que se reportam a temática do
livro Libertinagem (1930) que, bastante diferenciada, explora os instantes do
cotidiano em linguagem bem próxima do prosaísmo.
Analisando o poema intitulado “Poema tirado de uma notícia de jornal”
observa-se que os autores limitam-se simplesmente a informar, literalmente
68
que o aludido texto “exemplifica a libertação formal”. Justifica-se tal
preocupação pelo fato dos autores direcionarem a atenção do leitor para os
aspectos técnicos de uma poesia libertária que veste-se do verso livre em
contraposição à forma do fazer poético da escola anterior.
Haveria de se esperar do livro didático, que além de destacar essa
marca da poesia modernista que se opõe ao estilo parnasiano, consolidando o
verso livre, também considerar outro aspecto relevante da poesia bandeiriana
bastante vivenciado na sua obra, o engajamento social da sua poesia.
Nenhum suporte teórico ou crítico é presenciado no livro didático a
respeito das eventuais incursões de Bandeira pelo viés humanístico-social, já
que Bandeira em alguns poemas faz uso de uma arte engajada comprometida
com o social.
Ainda que não fosse um ausente a respeito desse outro lado da poesia,
Bandeira se movia nesse terreno com dificuldade, mas não deixou de
empreender esteticamente no intuito de compartilhar com a dor e o alijamento
do seu semelhante do processo social.
Averiguadas essas lacunas existentes no livro didático, um outro detalhe
preocupante no exemplar em estudo é o número reduzido de poemas para
abordagem da poesia bandeiriana, resultando num agravante maior, dificultar
para o aluno do nível médio uma assimilação mais contempladora e
contemplativa da obra do poeta.
Essas perdas poderiam ser equacionadas a partir de uma iniciativa do
professor de literatura, que lançando mão de antologias como suporte didático
69
selecionassem um maior número de poemas que contemplassem a temática
multifacetada do poeta.
Acerca das atividades propostas existentes no manual é dado o
fragmento do poema “Profissão de Fé” do autor Parnasiano Olavo Bilac com a
seguinte questão:
Em Poética, Manuel Bandeira assume um tom bastante agressivo em
face da poesia parnasiana, cujos padrões ainda eram vigentes à época
do primeiro Modernismo. Compare os versos de Poética, aos versos de
Profissão de fé de Olavo Bilac. Que versos de Bandeira estão
frontalmente opostos aos de Bilac (correspondência de contrários)? (p.
242)
Como se percebe, a proposta do exercício possui, pelo menos, duas
limitações. A primeira, ao considerar o tom do poema de Bandeira como
agressivo, acaba por restringir o olhar do aluno a situar o poeta apenas no
contexto da primeira fase do Modernismo, instante de ruptura e contraste com
o fazer poético dos autores Parnasianos, mas, ao mesmo tempo, propõe algo
significativo que é o exercício de comparação das duas estéticas. A segunda,
resultante da primeira, parece impossibilitar o leitor iniciante da poética
bandeiriana de enxergar outras nuanças do poema, a exemplo do estilo
metalingüístico,da reflexão acerca do social e da inserção dos excluídos como
um modelo diferente na arte de fazer poesia.
A outra questão em evidência na (p.243) é ordenada desta forma:
Como pode ser classificado o Poema tirado de
uma notícia de jornal, tendo-se em vista as
vanguardas européias? Por quê? (p.243)
70
O enfoque reducionista da obra do poeta em estudo é visto na proposta
que direciona o aluno para caracterizar o perfil ideológico e estético de uma
das vanguardas associada ao poema. Logo, as implicações que convergem
para a valorização da temática social do poema em estudo são esquecidas.
3.3 Análise do livro 3
A partir desse momento abordaremos a poesia de Manuel Bandeira no
livro didático 3. Os autores selecionaram poemas que tematizam a morte em
seu caráter universal.
O livro didático 3 escolhe, para abordagem da poesia de Manuel
Bandeira, apenas dois poemas: “Pneumotórax” e “Momento num café”; detalhe
preocupante que revela um déficit de texto bastante comprometedor para uma
visão mais abrangente da obra do poeta.
Laconicamente, o poeta é apresentado no LD, que evidenciando na
configuração metodológica do manual uma temática bastante recortada
restringida apenas à “doença” e à “morte”, temas excessivamente recorrentes
em outros manuais.
Essas lacunas existentes no manual em observação obscurecem no
aluno outras temáticas que poderiam ser contempladas como: O social, o
erotismo, a infância, a cultura popular, aspectos de uma poética multifacetada
que pode possibilitar ao aluno o contato com a diversidade de temas
explorados por Manuel Bandeira no complexo da sua Obra.
71
O Livro Didático em estudo na secção que aborda a poesia de Manuel
Bandeira [pág. 477], apresenta em tese um breve relato histórico-biográfico do
autor, num percurso que revela sucintamente sua origem pernambucana, o
acompanhamento em viagem com a família para uma permanência por quase
toda a sua vida no Rio de Janeiro.
Em acréscimo às informações biográficas, notifica-se o diagnóstico que
o médico lhe apresentou em Clavadel com franqueza, revelando uma
perspectiva bastante incerta. Esse diagnóstico, presente no livro didático,
apresenta-se fragmentado e foi extraído de sua autobiografia intitulada
Itinerário de Pasárgada. O fragmento apresenta-se assim:
O Sr. tem lesões teoricamente incompatíveis com a vida; no entanto
está sem bacilos, come bem, dorme bem , não apresenta, em suma,
nenhum sintoma alarmante. Pode viver cinco, dez, quinze anos...
Quem poderá dizer?...
Continuei esperando a morte para qualquer momento, vivendo
sempre como que provisioriamente. Nos primeiros anos da doença
me amargurava muito a idéia de morrer sem ter feito nada; depois a
forçada ociosidade. (...).
(p.477)
Nesse percurso histórico-biográfico do poeta, o livro didático restringe a
poesia de Bandeira a uma perspectiva forjada na doença, como elemento
motivador da sua poética que alude as temáticas da dor, da solidão e da morte.
O livro didático resumidamente informa, na parte O poeta da mais
simples ternura (p. 478), sobre outras incursões de Bandeira, quais sejam: a
abordagem de temas como “o amor, a paixão pela vida” a infância recuperada
com seus personagens rememorados, a lembrança viva do adulto que também
foi menino na rua do Curvelo; a escolha estilística dos versos livres na
composição dos poemas, conforme trecho a seguir:
72
Manuel Bandeira consolidou, com versos como estes [
referindo-se ao poema “Momento num café”], um novo
caminho a ser trilhado pela poesia brasileira. Foi, dentre
os autores da primeira geração modernista, o único que
conseguiu produzir uma poesia que, embora refletisse as
transformações estéticas do momento, transcendia seus
limites históricos e refletia sobre angústias e conflitos de
natureza universal, como o amor, a paixão pela vida, a
saudade de uma infância idealizada e o medo da morte.
(p. 478)
Nesse percurso historicista, notifica-se a afinidade de Manuel Bandeira
por temas do cotidiano fazendo ressaltar a sua engenhosidade artística em
garimpar no terreno do comum, do simples, mas não do simplório, o jeito de
poetar a partir do banal; contudo dando a esses elementos do cotidiano, o
caráter universalizante, que é próprio da poesia.
O manual esforça-se por delimitar as principais obras de Bandeira a
partir dos seguintes livros: Libertinagem (1930), Estrela da manhã, (1936),
Mafuá do Malungo (1948), Lira dos cinqüent’anos e Belo belo, Estrela da Tarde
(1958) e Estrela da Vida Inteira (1966).
Diante das principais obras expostas convém salientar que é bastante
perigoso assinalar determinadas obras em detrimento de outras que alguns
livros didáticos trazem como bastante significativas na trajetória do
amadurecimento do fazer poético do autor.
Como exemplo de uma obra importante que ficou fora desse percurso
histórico, destaca-se O Ritmo Dissoluto, uma espécie de ritual de passagem do
poeta, dissolvendo ritmo e forma que o faz desprender-se das amarras de um
poética tradicional.
73
Esse instante de transição na poesia bandeiriana é visto como um
divisor de águas na sua postura de experienciar a luta contra a sua resistência
em se equilibrar entre os trilhos da estética que caducava e seguir pelo “fio” do
modernismo revolucionador de uma arte que absorve o que de mais humano
se pode expressar livremente em poesia.
Tudo isto traduzido pela estética modernista forjada na utilização de
formas livres quanto à métrica e rimas totalmente dissociadas do estilo dos
Parnasianos. Somando-se a isto uma poética que emprega uma linguagem
simples, quase beirando ao prosaísmo.
Posto em observação o poema “Pneumotórax” apresentado pelo livro
didático na Pág.477, destaca-se com olhar miudente que o poema vem
precedido de informações biográficas, que reporta-se à tuberculose do poeta,
incorporada à poesia. Acerca da similitude da poesia com o relato
autobiográfico da consulta descrita por Bandeira no seu Itinerário de
Pasárgada, o livro didático fomenta ao aluno as informações sobre o estado
doentio do poeta e o poema, no encontro magistral da experiência de vida do
autor e o brotar de uma poesia que aflora da dor e de um sofrimento real.
Essas observações são vistas nas notas preliminares do livro didático
antes do poema, postadas assim: “ A tuberculose foi incorporada à poesia. No
Poema “Pneumotórax” vemos recriada uma consulta que, em tudo, lembra
aquela relatada no Itinerário de Pasárgada:”
Ao lidar com temas como doença e morte, relacionados ao poema
“Penumotórax”, convém destacar em Bandeira outros olhares da sua obra,
quando desloca-se com maturidade da cena poética que traduz a dor individual
74
dialogando com o sentimento de todos, universalizando, dessa forma, a sua
poesia.
O outro poema em destaque no livro didático é “Momento num café”,
verdadeira radiografia de uma cena comum do dia-a-dia das pessoas em suas
localidades.O livro didático preliminarmente salienta esta particularidade da
poesia bandeiriana, evocar na sua arte a precariedade da vida humana.
Aliada a essas informações, outras seguem declarando que embora a
poesia de Bandeira refletisse as transformações estéticas do momento,
transcendia seus limites históricos e refletia sobre angústias e conflitos de
natureza universal, como o amor, a paixão pela vida, a saudade de uma
infância idealizada e o medo da morte.
Acerca dos exercícios para a abordagem dos poemas elencados acima,
não há nenhum sequer. Há na página 487 questões do (ENEM) envolvendo os
poetas Bandeira e Haroldo de Campos. De Manuel Bandeira, o fragmento do
poema “Evocação do Recife”, de Haroldo de Campos, o comentário que
aparece no encarte do CD e no fragmento de “Circuladô de Fulô”, do mesmo
álbum enfocam a espontaneidade da “língua do povo” e aspectos da
inventividade presentes na arte popular.
75
(Vunesp/SP)
Manuel Bandeira escreve:
A vida não me chegava pelos jornais
nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada
do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português
do Brasil.
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusitana
Manuel Bandeira. “Evocação do Recife”
In Poesia completa e prosa
Haroldo de Campos escreve:
Defesa da inventividade popular (“o povo é o inventa–línguas”,
Maiakovski) contra os burocratas da sensibilidade, que querem impingir ao
povo,caritativamente, uma arte oficial, de “boa consciência”, ideologicamente
retificada, dirigida.
E acrescenta:
Mas o povo cria, mas o povo engenha, mas o povo cavila. O povo é o
inventa – línguas, na malícia da mestria, no matreiro da maravilha. O VISGO
do improviso, tateando a travessia, azeitava o eixo do sol...O povo é melhor
artífice.
Haroldo de Campos. “Circulado de Fulô”
In Isto não é um livro de viagem
Manuel Bandeira, no fragmento de “Evocação do Recife”, e Haroldo
de Campos, no comentário que aparece no encarte do CD e no fragmento de
“Circuladô de Fulô”, do mesmo disco, enfocam a espontaneidade da “língua
do povo” e aspectos da inventividade presentes na arte popular. Releia
ambos os textos e, a seguir:
a) Cite pelo menos um trecho de cada autor em que criticam e denunciam
nosso preconceito e desapreço às formas populares de expressão.
b) Cite um trecho de Manuel Bandeira que focaliza o aspecto de oralidade
na comunicação, tão característico da literatura popular. (p.487)
A proposta de exercício relativa ao poema de Bandeira, possibilita ao
aluno identificar, apenas, nos presentes textos, instantes em que os autores
76
criticam nosso preconceito lingüístico. Formulações de questões desse tipo,
pouco contribuem para uma experiência significativa de leitura literária, visto
que não permitem ao aluno ver na obra do autor sua experiência de vida
projetada.
3.4. Análise do Livro 4
Analisando o livro didático 4 observa-se que a unidade que aborda a
poesia de Manoel Bandeira é descortinada com o tradicional poema “Vou-me
embora pra Pasárgada”.
O poema aparece precedido de um instante revelador do sofrimento do
poeta em razão do agravamento da doença pulmonar. O registro desse
incidente é descrito com as seguintes palavras extraídas da sua autobiografia
Itinerário de Pasárgada cuja fonte é desconsiderada pelos autores do LD.
[...] Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa
da rua do Curvelo, num momento de profundo desânimo,[...] saltou-
me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: ´Vou-me
embora pra Pasárgada’!, Senti[...] a primeira célula de um poema”.
(P.333)
O poema em evidência serve de base para o aluno responder as
perguntas do estudo do texto que visam a compreensão do poema e a
assimilação de recortes da biografia de Bandeira, de personagens da sua
infância e a presença da tradição popular.
Quanto às questões propostas para o estudo do texto, temos seis:
77
1. Qual o significado de Pasárgada para o eu lírico?”
2. No poema ocorre a antítese entre aqui e ,. Identifique o
espaço aque se refere cada um desses advérbios.
3. A realidade de Pasárgada não obedece à lógica. Cite dois
fatos dessa realidade que permitem tal conclusão.
4. Na biografia de Bandeira consta que lhe serviu de babá uma
mulata chamada Rosa, que é citada no poema. Quem, lá em
Pasárgada,exercerá o papel que Rosa exerceu aqui? Com
que finalidade?
5. A mãe-d´água é, grosso modo, uma versão da sereia,
personagem da mitologia européia. De que mágico poder era
dotada essa personagem? Identifique a semelhança entre
esse poder e o da mãe-d´água citada no poema.
6. Veja o quadro a seguir, inspirado no poema de Bandeira.
Comente-o livremente, relacionando-o ao poema. (p. 334)
Dessas questões, atentaremos, apenas para as de número 1 e 5, por
acreditarmos serem mais relevantes para análise, tendo em vista que buscam
motivar o aluno a uma apreciação interpretativa do texto. Na primeira questão
observa-se que a pergunta remete a uma necessidade de esforço bastante
concentrada do aluno para absorver o real sentido do termo “pasárgada”
presente no poema e as suas implicações para com o eu lírico.
É bem possível que também o termo em discussão possibilite a
oportunidade para despertar no aluno o senso investigativo para compreensão
do vocábulo que o motivará a prosseguir com a leitura do poema, dirimindo
outras dúvidas que porventura possam surgir.
Na questão de número 5, as implicações vistas para o entendimento
remete à tradição popular, histórias que a mãe d`água pode contar e o canto
sedutor da sereia, da literatura clássica, gera um grau de complexidade para
uma leitura satisfatória do leitor.
78
É bem possível que o grau de dificuldade se amplie em face dos autores
do livro didático não possibilitarem ao leitor um diálogo intertextual com o épico
Odisséia, razão pela qual o aluno possivelmente responderá a questão, mas
não fará uma relação direta com os textos clássicos mencionados.
O 2º poema postado no livro para análise é “Pneumotárax” (p.335). O
poema aparece proposto para a leitura precedido de informações biográficas
breves do tratamento para cura da doença na Suíça, bem como informes dos
contatos mantidos com importantes poetas do pós-simbolismo, sem citá-los.
No poema em estudo preserva-se o caráter biográfico do poeta em
estudo com revelações ligeiras do agravamento do seu quadro clínico
decorrente da doença pulmonar, marca distintiva para compreensão e
assimilação do poema em estudo,consoante os autores do LD registram: “ A
tuberculose marcaria, de fato, sua vida...” Além do mais o texto descortina para
o leitor detalhes a respeito de um fazer poético em verso livre, aspecto
marcante do estilo bandeiriano não apreciado pelos autores do livro didático.
O 3º poema “Os sapos” (P.336) apresenta-se de forma fragmentada
constando somente das 03 primeiras estrofes iniciais sendo suprimidas as
11(onze) restantes, prova inconteste do prejuízo que a mutilação do poema
acarreta para a compreensão e interpretação do aluno. Basta tomar como
exemplo de que a fragmentação compromete o entendimento do texto literário
a ausência da 9ª estrofe: “Brada em um assomo/O sapo tanoeiro:/__ A grande
arte é como/Lavor de joalheiro.” A estrofe elipsada do poema contribuiria
significativamente para que o aluno assimilasse através da leitura a temática
formal e tradicional do fazer poético da escola parnasiana, “A arte sobre a arte”,
79
já que o último verso compara o ato de fazer poesia ao lavor de joalheiro; ofício
que está atrelado a pormenores e detalhes.
O poema em estudo é antecipado de informações históricas sobre as
obras de Manuel Bandeira destacando a seguinte revelação a respeito do seu
fazer poético: “A principal característica formal da obra de Bandeira é o
emprego do verso livre.”
Sobre o poema, o leitor tomará conhecimento de que o mesmo foi lido
por Ronald de Carvalho provocando reações radicais na platéia da segunda
noite da Semana, prova evidente para o aluno perceber no poema em estudo a
disposição dos participantes da Semana de provocar uma ruptura com a
estética Parnasiana.
É visível a intenção dos autores do LD em situar Manuel Bandeira com a
sua poesia demolidora e como autor de uma primeira fase do Modernismo que
tripudia a estética passadista, revestindo a poesia moderna de ironia e humor,
elevando-a um patamar artístico, de poesia libertária e inovadora.
A respeito do 4º poema “Consoada” disposto para a leitura na (p.337) o
LD apresenta informações sucintas da temática recorrente em Bandeira, a
morte, puro reflexo da sua doença e, a quase certeza da morte iminente.
Em “Poética”, na página (337), o fragmento do poema é precedido de
uma nota lacônica afirmando que, de forma metalingüística, Bandeira sintetiza
sua proposta literária, caracterizada pela ruptura com a estética passadista,
sobretudo a Escola Parnasiana. A nota referencial trazida pelos autores sobre
o aspecto metalingüístico do poema se descreve assim: “Um poema
metalingüístico de Bandeira sintetiza sua proposta literária:” percebe-se na
80
epígrafe acima o desacompanhamento de qualquer comentário elucidativo do
termo que sirva de suporte semântico para que o aluno possa interagir melhor
com a proposta de leitura do poema.
Embora o poema apresente um certo nível de complexidade para a
leitura, compreensão e interpretação do texto pelo seu perfil fragmentado,
perde-se muito com a supressão de seis estrofes.
O Poema apresenta-se com a primeira estrofe e complementa-se
fragmentadamente com as duas últimas. É possível que essas lacunas
existentes comprometam o entendimento do leitor. Como exemplo que
autentica esse argumento, veja-se a falta que faz a 2ª e 3ª estrofes: “Abaixo os
puristas/ Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais/Todas as
construções sobretudo as sintaxes de exceção/Todos os ritmos sobretudo os
inumeráveis”. É bem possível que os versos suprimidos ajudariam na
compreensão do aluno de que o estilo parnasiano em voga era
tradicionalmente afeito ao preciocismo vocabular, excluindo da poesia, de
forma preconceituosa quaisquer termos impróprios ao seu elitismo lingüístico.
O poema serve apenas de suporte para o aluno responder perguntas
que exigem do leitor a compreensão do historicismo que sinaliza ser o mesmo
um poema que repudia o fazer poético do Parnasianismo em sua forma
tradicionalmente engessada.
Após a leitura de “Poética” os autores do livro didático apresentam um
exercício na (p.338) compreendendo as seguintes questões abertas:
81
01) Que estilo de época é repudiado no poema?
Justifique.
02) Quando o eu-lírico invoca o lirismo dos loucos,
dos bêbados e dos palhaços, de que época da
vanguarda européia se aproxima? Explique.
03) O emprego do verso livre é uma das
características da poesia de Bandeira. Identifique no
poema a ocorrência do verso livre. (p.338)
Espera-se do aluno, nas propostas do questionário, identificar no poema
características da poesia de Bandeira, com destaque para o verso livre.
Vejamos abaixo as perguntas elaboradas pelos autores do LD que ratificam a
observação feita.
Ainda em destaque na análise desta secção do livro didático que
apresenta a poesia bandeiriana, o LD traz a seguinte informação sobre o fazer
poético de Manuel Bandeira a partir de fatos do cotidiano como a “notícia de
jornal”, mas omite o texto poético ”Poema tirado de uma notícia de jornal” como
possibilidade de leitura e aferição da temática enunciada. Essas observações
são ratificadas a partir do suporte informativo trazido pelo LD na pág. (338)
“Outra característica marcante da poesia de Bandeira é a incorporação de fatos
do cotidiano bem como da notícia de jornal.”
Outra opção de exercício presente no livro encontra-se no espaço
destinado a “Questões de Vestibulares” (344). São questões para assinalar a
alternativa correta ou incorreta. Eis a questão:
82
Em Pasárgada tem tudo
[...]
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
O emprego de ter, nos contextos acima, é característico da
língua popular. Assinale a alternativa em que a substituição
desse verbo se faz de acordo com a língua culta.
a) Deve haver telefone automático/Existe prostitutas bonitas/
b) Há alcalóide à vontade/há prostitutas bonitas/
c)Existe telefone automático/Deve existir prostitutas bonitas.
d)Deve haver tudo/Devem haver prostitutas bonitas.
e)Existe alcalóide à vontade/existe prostitutas bonitas.
(p.344)
Diante das alternativas de múltipla escolha, espera-se que o aluno
assinale a alternativa “b” conforme assim definida. Percebe-se que o texto
literário é utilizado como um suporte para o aluno resolver dificuldades no uso
da língua em detrimento de uma proposta criteriosa que possa levá-lo a um
estranhamento na apreciação do estético quando da leitura do poema. Sem
explicações do conteúdo lingüístico, o aluno é conduzido a identificar o
emprego do verbo haver impessoal, indicando existir.
Uma outra questão objetiva propõe ao aluno saber se no poema de
Bandeira “Vou-me embora pra Pasárgada” o poeta modernista resgata a
temática da evasão, característica marcante do Romantismo Brasileiro. Eis a
Questão de nº 2, na página 344:
83
(Fatec-SP):
A respeito do poema “Vou-me embora pra
Pasárgada”, é correto afirmar que:
a. Assume a atitude vanguardista do movimento
antropofágico.
b. nega o irracionalismo modernista, imaginando Pasárgada
como reflexo do mundo real.
c. recupera valores românticos na linguagem, ao empregar
versos livres.
d. resgata o termo romântico da evasão, opondo um espaço
“lá” ao espaço “aqui”.
e. supera o ideal modernista de valorização do futuro, ao
mencionar produtos da tecnologia. (p. 344)
A alternativa esperada como correta para ser assinalada pelo aluno, por
parte dos autores do livro na versão do Manual do Professor, é a alternativa
(d). Acreditamos que na propositura “a” assume caráter historicista. No item “b”,
destaca-se o irracionalismo da estética modernista. Em “c”, há uma possível
comparação técnica entre Romantismo e Modernismo, acerca do verso livre.
Em “e”, mais uma vez o critério historicista ganha destaque.
Por fim, na alternativa “d”, os advérbios de lugar “aqui” e “lá” subsidiam o
leitor no entendimento de que os estilos de épocas não nascem puros e que
Bandeira como poeta pertencente a uma estética libertária agrega em sua
poesia uma temática similar a do Romantismo, posto que a evasão aparece na
poesia bandeiriana como recuperação temática da Escola anterior. Esse
objetivo proposto pelo exercício pode ser visto como um aspecto significativo
para o aluno, não só na interpretação do poema, mas, também, na assimilação
de que as ideologias estéticas apresentadas pela historiografia literária não
ficam confinadas a um limite temporal.
84
3.5. Análise do livro 5
Exemplificando o perfil pouco adequado da configuração didática e
metodológica dos manuais para abordagem da poesia de Manuel Bandeira
constatou-se problemas de diferentes ordens em análise detida do livro 5.
O livro apresenta no capítulo de abertura do estudo da poesia de
Bandeira os seguintes poemas: “A Estrela” (p.368): da obra Estrela da Vida
Inteira (1978) e um fragmento de “Poética” presente no livro Libertinagem
(1930).
O poema “A Estrela” abre a unidade que abordará a poesia bandeiriana,
sem nenhuma pista precedente sobre o poema. O autor do livro didático
conduz o aluno imediatamente ao questionário denominado “Margens do texto”
(p.369), que induz o mesmo a responder perguntas interpretativas para a
compreensão do poema:
1. Que elemento comum caracteriza o eu-lírico e a
estrela? Que versos das duas primeiras estrofes
justificam a resposta?
2. Que características do poema demonstram a
permanência de alguns elementos do romantismo
na poesia de Bandeira?
3. A beleza de um poema não depende da quantidade
de meios empregados: rimas ricas, vocabulário
erudito e pomposo, hipérbatos, raras figuras de
linguagem etc. Como Manuel Bandeira demonstra
isto em seu poema?
4. Que versos contêm um paradoxo e reforçam a
atmosfera melancólica do poema? Explique esse
paradoxo. (P.369)
Ainda nesta secção “margens do texto” (p.369), o aluno responderá a
uma questão que o faça perceber elementos do Romantismo na poesia de
85
Bandeira, tais como: O lirismo, o tom confessional, o subjetivismo, a
consciência da solidão, a melancolia temas recorrentes da poética do autor.
Deste modo, o autor propõe um estudo do texto a partir de uma visão dialógica
entre as duas estéticas. Acaba, assim, com o confinamento cronológico que,
geralmente, os livros didáticos trazem sob a influência do historicismo literário.
Em outro item, o aluno é levado a responder sobre a maneira como
Manuel Bandeira, pertencente a uma estética modernista, escreve sua poesia
sem o requinte vocabular típico dos Parnasianos.
Ademais, a questão como está proposta no item 3 da secção visando
dar ênfase à preocupação formal da escola parnasiana, tem a intenção, sem
dúvida, de colocar o aluno na posição de um leitor atento ao confronto
característico dos dois momentos da literatura brasileira, representados na
questão em pauta por dois segmentos literários, o Modernismo versus o
Parnasianismo.
Na página 370, o poema “Poética”, posto pelo autor do livro didático de
forma fragmentada, vem precedido de informações biográficas e históricas a
respeito da trajetória evolutiva da sua poesia, a partir de A cinza das horas,
(1917), passando por Carnaval (1919), livros que guardam resíduos da estética
parnasiana e simbolista.
Ainda segundo o autor, em Libertinagem (1930) o seu estilo, já é, sem
dúvida, Modernista. Essas considerações historiográficas postas pelo livro
didático, somadas às informações autobiográficas relacionadas a sua infância,
doença pulmonar, lugares onde morou, insatisfações emocionais da vida
86
presente, vão dando contornos ao instante preliminar da leitura do fragmento
de “Poética”, na página 370.
Embora haja todo esse arcabouço informativo contemplando a trajetória
histórica e auto-biográfica de Bandeira e os demais aspectos reveladores da
sua estética, percebe-se que o livro traz um número reduzido de poemas
(apenas dois: “A Estrela” e ”Poética” em fragmentos), não possibilitando um
contato do jovem leitor com outras poemas de diferentes temáticas do autor em
estudo.
As lacunas certamente trarão dificuldades para o aluno desenvolver uma
visão mais abrangente da poesia do autor, pois um número mínimo de poemas
e o fragmentarismo existente empobrece o diálogo entre o texto e o leitor.
Ainda com respeito à proposta de atividades para compreensão do
poema “Poética”, é exigido do aluno que, a partir da leitura do texto
fragmentado, esboce um comentário considerando:
a) a escola literária criticada pelo poeta;
b) o tipo de verso utilizado;
c) o tipo de lirismo proposto. (p.371)
Com vistas a essa atividade proposta, mais uma vez o livro didático
expõe sua fragilidade quando está focado no seu viés metodológico de
conduzir o leitor para produzir um texto a fim de caracterizar o confronto da
estética modernista com o estilo de época parnasiano.
Somando-se a todo esse confronto de estilos, há uma intenção didática
de aproximar o aluno como um observador atento da temática intertextual entre
87
os dois momentos na literatura brasileira, deixando evidente ao leitor que a
poesia de Bandeira guarda resíduos do Romantismo, embora fique entendido
que o poeta soube evitar com parcimônia o sentimentalismo piegas do estilo
em comparação, edificando uma obra depurada e de grande valor estético.
É bem possível que o aluno encontre bastante dificuldade para
desenvolver uma compreensão mais apurada da leitura de poesia quando lhe
falta o texto em sua completude para um diálogo mais produtivo entre texto e
leitor.
Visando contemplar as aspirações do aluno com vistas ao exame
vestibular, o livro didático traz (p.387) questões objetivas para marcar a
alternativa correta ou incorreta, falsa ou verdadeira. Enfim, ambas atentando
para a compreensão do aluno sobre a diferença de estilo e linguagem em torno
dos dois momentos literários na poesia, o Parnasianismo e o Modernismo.
Dessa forma os limites estão postos à prova nesse manual, razão pela
qual a leitura de textos completos redundaria num ganho mais significativo para
o leitor iniciante de leituras literárias.
3.6 Análise do livro didático 6
O livro 6 aborda a poesia de Manuel Bandeira trazendo uma proposta de
leitura do poema “Poética” (p.30) que resulta num questionário contendo 05
questões para compreensão do texto em estudo. As questões realçam o
antagonismo entre a liberdade de expressão da poesia modernista e a
perfeição formal do Parnasianismo.
88
A fim de justificar essa proposta de confronto dos aspectos
característicos que envolvem a estética modernista em contraposição ao
modelo parnasiano de poesia, destaca-se, na construção do questionário para
abordagem do poema, um exemplo típico que ilustra o esforço bem evidente
dos autores neste sentido.
1. Nesse poema, Manuel Bandeira, ao mesmo tempo que
propõe uma nova poética, critica a poesia tradicional,
ainda vigente. Identifique as estrofes do texto em que há
críticas e as que apresentam propostas?
2. Quanto às críticas:
a) O que o poeta critica nas duas primeiras estrofes?
b) Que movimento literário apresenta as características
criticadas por Bandeira?
[....]
5. Os modernistas defendiam o princípio das “palavras em
liberdade”. O poema em estudo pode ser tomado como
um exemplo de aplicação desse princípio? Por quê?
(p.30)
Como se percebe, as marcas do historicismo estão presentes nas
perguntas do questionário para o entendimento de “Poética”, cuja razão maior
é demolir o estilo vigente apresentando propostas inovadoras da estética
emergente, revelando um estilo mais libertário na forma da construção do
verso, representado através de uma linguagem mais acessível. Convém
destacar a nota explicativa que traz o livro didático antes da leitura do poema:
(p.30). “O poema que segue, de Manuel Bandeira, embora publicado apenas
em 1930 (portanto, oito anos após a Semana de Arte Moderna), é uma espécie
de plataforma teórica da poesia modernista brasileira”.O poema não está
89
fragmentado e as questões como se observa, conduz o aluno à leitura detida
do poema e ao retorno constante.
Após a leitura de “Poética”, os autores fazem um percurso sobre o
marco histórico do Modernismo no Brasil, cujo título é: “A Semana de Arte
Moderna”. É realizado um balanço histórico desse instante de revolução das
artes e do processo de ruptura com o estilo passadista. Na realidade o
comentário acerca desse instante revolucionário é consistente e situa bem o
contexto histórico.
Os detalhes de alguns fatos grotescos são descritos com fineza no livro
didático, informações que revelam ser um ganho significativo para o aluno
nesse capítulo que privilegia o historicismo.
Destaca-se a fala de Mário de Andrade vinte anos depois, reportando-se
a uma pequena palestra sobre artes plásticas proferida na escadaria do hall do
teatro no intervalo entre uma parte e outra do programa, sob intensas vaias e
ofensas. “Como pude fazer uma conferência sobre artes plásticas, na
escadaria do teatro, cercado de anônimos que me caçoavam e ofendiam a
valer?...”. (p.46)
Em seguida, ainda na pág. 46, os autores propõem a leitura de “Os
sapos”, poema que revela uma postura crítica e demolidora do Modernismo em
confronto com a estética tradicional ainda resistente do Parnasianismo. Notas
iniciais sinalizam informações históricas a respeito da maneira ironizante como
Ronald de Carvalho recitou o poema sob apulpos e vaias que formavam coro
gritando o refrão do poema de Manuel Bandeira, “foi, não foi!”.
90
O poema “Os Sapos” (p.47) vem acompanhado de um questionário na
composto de apenas três questões dando destaque ao instante inovador e
revolucionário da Semana de 1922, colocando o aluno a par desse
acontecimento histórico que reflete a nova concepção de arte posta em
confronto.
É possível observar no questionário para leitura e compreensão do
poema, o item 03, que traz a seguinte questão:
Faça uma pesquisa, no dicionário ou com o professor de Biologia,
sobre os quatro tipos de sapo mencionados no poema: sapo-boi,
sapo-tanoeiro (ou ferreiro), sapo-cururu e sapo-pipa. Depois
responda:
a) de que modo o poeta sugere o som característico dos sapos?
b) Na hierarquia dos sapos, pelo critério da raridade, qual dos sapos
mencionados é o mais simples e comum em nosso país?
c) Nesse poema, os sapos são metáforas de tendências estéticas da
literatura brasileira. Considerando-se a condição precária (“sem
glória, sem fé”) do sapo-cururu, o que ele pode representar no
cenário cultural brasileiro?
Como se observa, a proposta de exercício contempla a transversalidade
das disciplinas, Literatura e Biologia, num diálogo que faz o aluno assimilar
com mais desenvoltura o conteúdo de Literatura, recebendo através desse
intercâmbio das disciplinas as informações culturais sobre os tipos de sapos e
as relações simbólicas ou interpretativas no poema.
Após a leitura de “Os Sapos”, os autores (p.85), de forma motivacional
convidam os leitores a caminharem num percurso biográfico de Manuel
Bandeira registrando acontecimentos que marcaram a adolescência do poeta;
informações observadas também nos outros manuais estudados.
91
O instante biográfico para destacar a maneira como Manuel Bandeira
aderiu ao emprego do verso livre na sua poesia, o livro didático traz à tona o
poema intitulado “Poema do Beco” (p.86), lateralmente ilustrado pela fotografia
que exibe o poeta elegantemente vestido, caminhando pelo Beco dos
Carmelitas, no Rio de Janeiro, lugar onde ele morou em 1950, fonte de
inspiração para o poema.
Os autores do livro didático abordam em linhas gerais a perfeita relação
entre forma e conteúdo, revelando ao leitor atento, detalhes do novo
incremento na poesia, o verso livre na poesia. A seguinte abordagem está
disposta criteriosamente assim:
Observe a perfeita relação entre forma e conteúdo: no lº verso, a
visão aberta para o mar para o horizonte coincidem com o verso
longo, que se espraia na verticalidade. Já o 2º verso, curto, breve
coincide com o estreitamento da visão: O que se vê é apenas o beco.
(p.86
)
Informações que seguem são extremamente reveladoras da maneira
inteligente como Manuel Bandeira descobriu o universo sublime e fantástico da
poesia , a partir das seguintes considerações presentes no livro didático:
Inicialmente interessado por música e arquitetura, o próprio Bandeira
confessa ter descoberto a poesia (não como leitor, mas como poeta)
por acaso, na condição de doente em repouso, distante da vida
prática e cheia de aventuras dos outros adolescentes. (p.86)
Outras informações revelam o viés temático que Bandeira ricamente
explorou como se percebe no conjunto da sua obra:
Os temas mais comuns de sua obra, marcada pela experiência da
doença e do isolamento advindo dela, são, entre outros, a paixão
pela vida, a morte, o amor e o erotismo, a solidão, a angústia
existencial, o cotidiano e a infância. (p.86)
92
Entre as inúmeras contribuições deixadas pela poesia de Manuel
Bandeira dando prova inconteste que sua poesia possuía orientação
modernista (verso livre, língua coloquial, irreverência, liberdade criadora,etc.), e
o alargamento da lírica nacional pela sua capacidade de extrair poesia das
coisas aparentemente banais do cotidiano, Bandeira também agregou a sua
poesia o enfoque social refletindo a precariedade da vida humana.
Em “Poema tirado de uma notícia de jornal” (p.87) os autores
apresentam ligeiras informações preliminares com suporte teórico que
descortina ao aluno chances de uma leitura proficiente do poema quanto à
linguagem informal e o compromisso social de Manuel Bandeira, bem como
sua liberdade na criação do verso livre. O comentário dos autores se restringe
a:
Veja, por exemplo, nos versos a seguir, como ele concilia a crítica
social e a reflexão filosófica acerca da condição humana com
oposições formais e coloquialidade lingüística. (p.87).
Outro aspecto da poesia bandeiriana com destaque para a simplicidade
como o poeta retrata as questões existenciais e a solidão do ser humano são
vistos em “Poema só para Jaime Ovalle” (p.87). Na ocasião é possível ao aluno
perceber através das informações cedidas pelo suporte teórico no livro como
Bandeira mantém alguns pontos de contato com o Romantismo, mas preserva
o seu referencial modernista, fugindo a todo estereótipo dos ultra-românticos,
pois o poeta mostra-se no percurso da sua obra uma grande paixão pela vida.
Embora esteja postado no livro didático de forma fragmentada, o poema
“Madrigal Melancólico” (p.88) da obra Estrela da Vida Inteira (1978), não exige
tanto esforço do aluno para perceber no texto a paixão do poeta pela vida, isto
93
em razão das notas precedentes ao poema conforme o comentário crítico dos
autores deste livro:
A solidão, que levava os poetas ultra-românticos a buscar na morte
a saída para os problemas da existência, em Manuel Bandeira toma
outra direção – a da paixão pela vida: (p.88)
.....................................................
O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti _ lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.
(p.90.)
O manual contempla ainda a temática “infância” e cultura popular
revisitadas nos poemas “Vou-me embora pra Pasárgada” (Fragmento, p.88) e
“Evocação do Recife” (p.89), esse último trazendo uma proposta de leitura
orientada através de um questionário (p.91) que conduzirá o leitor seguramente
pelos caminhos vivenciados por Bandeira em sua infância revisitada.
1. Na lª estrofe do poema, o eu lírico delimita o Recife que
evoca. Não é o Recife histórico nem o recife turístico ou
cultural.
a) Qual é o Recife que ele evoca? Destaque um verso
que justifique sua resposta.
b) O retrato do Recife evocado é feito, portanto, de
modo objetivo ou subjetivo?
2. Observe estes versos do poema:
“Uma pessoa grande dizia: /Fogo em Santo Antonio!”
“(Tenho medo que hoje se chame do Dr. Fulano de Tal)”
Com base nesses versos, responda: O eu lírico, ao evocar o
passado, coloca-se no texto como adulto ou como criança?
Justifique.
3. Procurando dessacralizar a poesia, os modernistas
aproximam-na das coisas simples como o cotidiano e a
cultura popular. Identifique no texto o aproveitamento desses
94
elementos.
4. Manuel Bandeira nunca aderiu às novidades modernistas
como modismo. Ao contrário, empregava-as com critério,
sabendo extrair efeitos delas. Observe a irregularidade
métrica e a pontuação destes versos:
“Os homens punham o chapéu saíam fumando”
“Cheia! As cheias! Barro boi morto árvore destroços
redemoinho sumiu”
Buscando estabelecer relações entre a forma e o conteúdo,
responda:
a. Por que a ausência de pontuação torna o sentido
desses dois versos mais preciso?
b. Observe o tamanho do segundo desses versos.
Relacionando-o com o conteúdo do verso (as cheias),
o que justificaria esse tamanho?
5. Assim como Mário e Oswald de Andrade, Bandeira
também se preocupou com a necessidade de criar uma nova
língua literária. De acordo com o texto:
a) Qual é a “língua certa do povo”?
b) A quem possivelmente se refere o pronome nós dos
versos “Ao passo que nós/ O que fazemos”?
c) É possível afirmar que Bandeira pôs em prática no poema
essa concepção de língua? Justifique com palavras ou
expressões do texto.
6. Releia no texto capítulo o comentário de Bandeira feito em
Itinerário de Pasárgada e também os últimos versos do
poema. A seguir, responda:
a) Por que o eu lírico afirma “Meu Avô morto/
Recife morto [...]”?
b) Que tipo de sentimento revela o eu lírico em
relação ao Recife de sua infância?
(p.91)
A proposta de leitura convincente do livro didático através do
questionário contendo seis questões nas (pp.90,91) é um convite ao leitor de
poesia para caminhar com Bandeira pelos caminhos do imaginário infantil, do
folclore da cultura popular, dos tipos humanos que marcaram o seu mundo
infantil no grande Recife. O poema apresenta-se como uma espécie de vôo
para o passado de um menino que embora tolhido na tenra infância de
vivenciar emoções comum à idade pueril, não desiste de sonhar e de reviver
95
experiências reprimidas da infância doentia, mas possivelmente realizadas no
mergulho evasivo proporcionado pela poesia.
O livro didático oferece uma proposta de leitura para o estudo da poesia
de Manuel Bandeira que alcança a necessidade do aluno, pois além de postar
um número significativo de poemas traz, sobretudo, outros incrementos ao
estudo da obra do autor não contemplados por outros manuais como: O
projeto gráfico-editorial do livro bem ilustrado, diálogo das artes, com destaque
para a pintura de Tarsila do Amaral na (p.47).
Além disso, há a sugestão para uma leitura auditiva de Bandeira em CD (p.89),
oportunidade rara para ouvir os poemas declamados na voz do próprio autor.
Os avanços da proposta didático-pedagógica oferecida pelos autores do
LD confirmam que é possível colocar no mercado-editorial livros que motivem
os alunos à leitura literária fluente e produtiva.
Ainda com respeito à atividade para leitura e compreensão do poema
“Evocação do Recife”, percebemos que a abordagem de Cereja e Cochar
contempla aspectos relevantes da temática bandeiriana como a infância e a
96
cultura revitalizadas, a exemplo da questão 1 e 2, seguida da questão 3,
respectivamente, conforme a atividade transcrita anteriormente nas páginas 93
e 94 deste trabalho.
Nesse sentido, afirmamos que estes autores ampliam a abordagem da
temática da poesia de Bandeira, a partir das propostas de atividades para os
alunos, pois o enfoque não está centrado na temática da morte, nem tão pouco
na visão esteriotipada de um Bandeira visto, apenas, como um poeta da 1ª
fase do Modernismo em confronto direto com a estética Parnasiana.
97
Conclusão
A realização dessa pesquisa cujo objetivo foi analisar a abordagem da
poesia de Manuel Bandeira em livros didáticos de literatura do ensino médio
nos ajudou a compreender a importância que tem o manual no contexto
escolar, sobretudo em virtude de ser o meio quase que exclusivo para o aluno
da escola pública ter acesso ao texto literário.
De um modo geral, o uso do manual em sala de aula é um ganho
significativo para o aluno, pois esse instrumento se propõe a apresentar, em
sua organização editorial, aspectos relevantes a serem considerados, como:
organização dos conteúdos, proposta de leitura e atividades que estimulem o
aluno a assimilar os saberes, com vistas a gerar competências que favoreçam
uma formação mais crítica e cidadã. Por outro lado, considerando que os
conteúdos dos componentes curriculares, indispensáveis à formação do aluno,
estão acondicionados em um único suporte, é preciso ponderar sobre as
implicações didático-metodológicas que podem limitar o aprendizado do
discente.
No caso específico do manual didático de literatura, geralmente, as
configurações metodológicas, trazem, em seu bojo, historicismo e biografismo
em excesso, textos fragmentados, textos com o pretexto para resolver
questões de uso da língua, classificação das figuras de linguagens, bem como
todas essas e outras implicações que comprometem a abordagem do texto
literário.
98
Na pesquisa empreendida, com relação à poesia de Manuel Bandeira,
dentre essas limitações observadas nos livros didáticos foi possível visualizar
que quatro, entre os seis manuais estudados, canalizam para uma imagem
estereotipada do autor, confinando-o a 1ª fase do Modernismo, instante em que
o poeta, em alguns poemas, lança mão de um estilo mordaz que tripudia a
estética Parnasiana. Como exemplo desses limites impostos para uma leitura
mais ampla do “poeta menor”, os poemas “Os Sapos” e “Poética” se encontram
metodologicamente dispostos com esse fim. Entendemos que essas perdas
poderiam ser equacionadas a partir de uma iniciativa do professor de literatura,
lançando mão de uma antologia que contemplasse um maior número de
poemas do autor, de modo que o aluno pudesse ter uma visão mais ampliada
da obra bandeiriana. Neste esforço para ampliar a visão sobre o poeta,
caberiam poemas de caráter lírico-amoroso, erótico, a lírica social, a temática
da infância, dentre tantas outras faces do poeta não contempladas na maioria
dos livros didáticos analisados.
De um modo geral, os livros didáticos estudados trazem, em sua grande
maioria, um número reduzido de poemas para abordagem da poesia
bandeiriana. Como exemplo disso, o destaque recai sobre o Livro 2 quando os
autores apresentam apenas dois textos: “Poética” (p. 242) “Poema tirado de
uma notícia de jornal” (p.243). As informações precedentes situam os poemas
como característicos da proposta libertária da estética modernista, em especial,
o emprego do verso livre. Contudo, essa abordagem poderá impossibilitar que
o aluno enxergue no texto bandeiriano outras vertentes temáticas de sua obra,
99
como o compromisso para com o social (presente no segundo texto), além do
aspecto metalinguístico, confirmado em “Poética”.
Confirmando avanços em algumas edições no que diz respeito à
ampliação do leque temático explorado por Bandeira em sua poesia,
destacamos o livro 1 em que os autores postaram para leitura “Poemeto
Erótico”, oportunizando ao leitor o ganho de conhecer esse lado da poesia
bandeiriana.
Com referência ao livro didático 6, há um número considerável de
poemas completos, contemplando a temática multifacetada de Manuel
Bandeira, sem restringi-lo ao rol de poeta da lª fase do Modernismo. O manual
apresenta, também, comentários teóricos consistentes de críticos renomados,
notas preliminares que auxiliam o aluno no diálogo com o texto literário,
sugestão para ouvir a leitura de alguns poemas declamados por Bandeira em
CD, (passando por mais um avanço em matéria de livro didático), o diálogo das
artes com o projeto-gráfico editorial, ilustrativamente enriquecido a partir da tela
“Os Sapos” pintada por Tarsila do Amaral. Esses procedimentos possibilitam o
leitor do nível médio uma experiência de leitura mais ampla, haja vista que
esses pequenos avanços somam forças para que as aulas não sejam apenas
monológicas em detrimento de seu aspecto dialógico.
A pesquisa fomentou-nos o interesse em conhecer com mais amplitude
a poética de Manuel Bandeira, a sua diversidade temática, a fortuna crítica de
um poeta estudado por vários especialistas, que fizeram valer ainda mais com
os seus consistentes comentários críticos o lugar de destaque que merece a
poesia bandeiriana.
100
Com esse empreendimento aflora-se um aprendizado de que em
matéria de livro didático de literatura, nossa meta não foi a de apresentar
fórmulas mágicas para a resolução de eventuais problemas diagnosticados
nesses livros, mas apresentar um olhar que possibilite o aprimoramento,
fugindo a qualquer iniciativa de marginalizar seus conteúdos, pois é ponto
pacífico entre os estudiosos do assunto de que esses manuais, guardadas as
devidas proporções, são o meio quase único para que o aluno do nível médio
de escolas públicas tenha acesso as leituras literárias.
Portanto, não desprezando o constante olhar crítico que deverá ser
posto sobre esses manuais, ficou entendido que o livro didático é um suporte
pedagógico importante no aprendizado de literatura, quando o mesmo possui
uma proposta metodológica que, bem direcionada, venha contemplar o
horizonte de expectativa do aluno no estudo da poesia, gênero que
acreditamos ser talvez o mais complexo.
Cabe, ainda, ressaltar que, a partir do olhar que realizamos no modo
como a poesia de Bandeira é abordada no livro didático, em se tratando de
aulas de literatura, o acesso do aluno ao texto literário não deve ser apenas
pela via do manual. É preciso que, no espaço escolar, o texto seja levado em
sua completude, de modo que favoreça uma interação entre ele e o aluno, com
vistas a possibilitar uma construção de sentido para o texto a partir de várias
leituras, as dos alunos e a do professor. Com essas prerrogativas será
possível preencher muitas das lacunas existentes nos manuais, tendo em vista
ser impossível em um único suporte didático-pedagógico contemplar tanto a
produção literária brasileira quanto as especificidades dos textos de cada autor.
101
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ABAURRE, Maria Luiza. [et.al]. Português Língua e Literatura. São Paulo:
Moderna:2000.
CAMPEDELLY, Samira Youssef & SOUZA, Jésus Barbosa. Português, Literatura,
Produção de Textos & Gramática. São Paulo: Saraiva, 2001 (Vol.único)
CEREJA, William Roberto & MAGALHÃES. Thereza Cochar. Português: Linguagens.
São Paulo: Atual: 2005
FARACO & MOURA, Português, Série Novo Ensino Médio. São Paulo: Ática, 2002.
MAIA, João Domingues.Português,Série Novo Ensino Médio. São Paulo: Ática,
2003.(Vol.único)
RODELLA,Gabriela & FERNANDES, Isabel. [et.al]. Português A sua Língua: São
Paulo, editora nova geração,2005. (Vol. único)
2. SOBRE MANUEL BANDEIRA:
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Companhia das Letras, São Paulo, 1999
BANDEIRA, Manuel. Estrela da Vida Inteira – Poesia Reunidas - Rio de Janeiro: José
Olympio, 1978.
_______ Itinerário de Pasárgada, de poetas e poesia.Livraria São José,Rio de Janeiro-
1957.
102
HOLANDA, Sergio Buarque. Trajetória de uma poesia. In: BRAYNER, Sônia. Manuel
Bandeira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. Coleção Fortuna Crítica.
BRAYNER, Sônia. Nota preliminar. In: _________ Manuel Bandeira.. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1980. Coleção Fortuna Crítica.
GARBUGLIO, José Carlos. Roteiro de Leitura: Poesia de Manuel Bandeira. São
Paulo:1998.
RIBEIRO, João. A cinza das horas. In: BRAYNER, Sônia. Manuel Bandeira.. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. Coleção Fortuna Crítica.
2. REFERÊNCIA TEÓRICA
BENDER, Eliane Andréa. O livro didático de literatura para o ensino médio. Porto
Alegre: PUCRS, 2006 – Dissertação de Mestrado.
BRASIL – SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Orientações Curriculares
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BRASIL – SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares
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