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No contexto da cultura arquitetônica contemporânea
A OBRA DE JOÃO FILGUEIRAS LIMA
Ana Gabriella Lima Guimarães
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Universidade de São Paulo
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ANA GABRIELLA LIMA GUIMARÃES
A Obra de João Filgueiras Lima
no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo para
obtenção do título de Doutor em Arquitetura e
Urbanismo.
Área de Concentração: História e Fundamentos
da Arquitetura e do Urbanismo
Orientador: Prof. Dr. Hugo Segawa
São Paulo
2010
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO,
POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E
PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Guimarães, Ana Gabriella Lima
G963o A obra de João Filgueiras Lima no contexto da cultura
arquitetônica contemporânea / Ana Gabriella Lima Guimarães. –
São Paulo, 2010.
143 p. : il.
Tese (Doutorado - Área de Concentração: História e
Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo) - FAUUSP.
Orientador: Hugo Segawa
1.Arquitetura moderna 2.Tecnologia 3.Processos de pré-
Fabricação 4.Energia – Eciência 5.Conforto ambiental
6.Sustentabilidade 7.Lima, João Filgueiras, 1932- I.Título
CDU 72.036
LIMA GUIMARÃES, Ana Gabriella
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo para
obtenção do título de Doutor em Arquitetura e
Urbanismo.
Aprovado em:
Banca Examinadora
Professor Dr:...........................................Instituição:.........................................................
Julgamento:............................................ Assinatura:........................................................
Professor Dr:...........................................Instituição:.........................................................
Julgamento:............................................ Assinatura:........................................................
Professor Dr:...........................................Instituição:.........................................................
Julgamento:............................................ Assinatura:........................................................
Professor Dr:...........................................Instituição:.........................................................
Julgamento:............................................ Assinatura:........................................................
Agradecimentos
Ao Professor Hugo Segawa, pessoa que me ensinou ser preciso ter os pés no chão
para dar grandes saltos.
À Maria Fernanda Derntl, uma amiga com o dom da palavra certa.
À Carina Hardy pelo apoio fundamental.
À Natalia Forcat pela montagem e diagramação da tese.
Às amigas Ceila Cardoso e Amanda Franco pelo apoio inestimável
À Ana Amélia Monteiro por facilitar o acesso aos projetos e imagens das obras de Lelé.
Ao Professor Murray Fraser da University of Westminster pelas horas despendidas na
supervisão do meu trabalho de pesquisa em Londres.
Aos arquitetos Ivan Harbour (Rogers Stirk Harbour + Partners) e Paul Kalkhoven
(Foster+Partners) por concederem entrevistas valiosas à construção da tese.
Muito obrigado a FAPESP pelo incentivo necessário à realização da pesquisa.
Resumo
A tese aborda o signicado da obra do arquiteto João Filgueiras Lima, Lelé, no contexto
da cultura arquitetônica contemporânea internacional, buscando estabelecer parale-
los e/ou vinculações com as produções de arquitetos como Norman Foster, Nicholas
Grimshaw, Michael Hopkins, Renzo Piano, dentre outros. A partir das experiências do
Centro de Tecnologia da Rede Sarah (CTRS), um núcleo de pesquisa inaugurado no
ano de 1992 como o suporte ao desenvolvimento e aprimoramento de sistemas cons-
trutivos pré-fabricados aplicados na construção de edifícios públicos implantados em
diversas capitais brasileiras, e a análise das obras realizadas a partir dos anos de 1990
no panorama europeu, sobretudo britânico, é possível perceber como as preocupações
ideológicas, os procedimentos metodológicos, as concepções programáticas, as ex-
pressões formais e as inovações tecnológicas no trabalho de Lelé apontam a atualida-
de de seu trabalho e indicam a abertura de um horizonte promissor para a arquitetura
contemporânea internacional.
Demonstrar a vinculação do seu trabalho com as realizações recentes de arquitetos
de renome, as grandes questões em debate na virada para o século 21 - como a alta
tecnologia em arquitetura, eciência energética, conforto ambiental, limites de recursos
naturais, economia dos meios, sustentabilidade -, são fundamentos para o entendimen-
to dos desígnios de uma arquitetura que se lança como expressão renovada por um
novo conceito de modernidade.
Abstract
This thesis expounds on the signicance of the work of architect João Filgueiras Lima,
popularly known as Lelé, in the context of contemporary international architectural cul-
ture, and aims to establish parallels and/or links between his work and that of architects
like Norman Foster, Nicholas Grimshaw, Michael Hopkins and Renzo Piano, among
others. By taking into account the experiences of the Sarah Network Technology Center
(CTRS), a research center inaugurated in 1992 to support the development and impro-
vement of pre-fabricated constructive systems implemented in the construction of public
buildings in several Brazilian state capitals, and an analysis of work carried out in the
European scene from the 1990s onwards (especially in Great Britain), it is possible to
view ideological concerns, methodological procedures, programmatic concepts, formal
expressions and technological innovation in Lelé’s work as proof of its modernity, thus
pointing towards a promising new horizon for contemporary international architecture.
Demonstrating the connection of his work to recent undertakings by renowned archi-
tects involving the great issues being debated at the turn of the 21st Century - such as
high-technology in architecture, energy efciency, environmental comfort, the limits of
natural resources, the economy of means and sustainability - are fundamental in the
understanding of the purposes of a form of architecture that is being heralded as the
renewed expression of a new concept of modernity.
Sumário
Resumo
Abstract
1. Introdução ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 1
2. Argumentação
2.1. Ideologias Possíveis: As Dimensões da Arquitetura de Lelé ------------------------------ 14
2.2. Projeto: Atividade Totalizadora que Sintetiza na Forma os Requisitos do Programa --------------- 31
2.2.1. Programa, lugar e forma ---------------------------------------------------------------------------- 34
2.2.2. Programa, tecnologia e forma --------------------------------------------------------------------- 43
2.2.3. Projeto: representação e funcionamento das formas --------------------------------------- 47
2.3. Detalhe Essencial: A Busca da Elegância e Precisão do Desenho ---------------------- 62
2.3.1. A importância do detalhe --------------------------------------------------------------------------- 62
2.3.2. O detalhe da construção e a construção do detalhe ---------------------------------------- 67
2.3.3. O detalhe como expressão do processo ------------------------------------------------------- 76
2.4. Tecnologia Construtiva, Eciência Enertica e Conforto Ambiental ----------------------- 83
2.4.1. Sustentabilidade: um novo ou um velho paradigma da arquitetura? ------------------- 83
2.4.2. Arquiteturas possíveis: um discurso sustentado na prática -------------------------------- 88
2.4.3. Referências cruzadas: meio ambiente, meio tecnológico e ambiente construído --------------112
3. Palavras Finais --------------------------------------------------------------------------------------------- 130
4. Referência Bibliográca -------------------------------------------------------------------------------- 134
1
1. Introdução
O arquiteto João Filgueiras Lima, Lelé, é um dos mais expressivos expoentes
da arquitetura em atividade neste início do século 21. quase cinco décadas ele
promove uma obra fundamentada na racionalidade construtiva, na funcionalidade es-
pacial, na economia dos meios, na preocupação com os recursos naturais, na eciência
energética e no conforto ambiental, na pesquisa, aprimoramento e inovação no campo
da industrialização da construção e à busca de uma dimensão humana e social em
suas realizações. É um arquiteto que traz em sua bagagem signicativas experiências
como a implantação da RENURB (Companhia de Renovação Urbana de Salvador),
a concepção pioneira das escolas transitórias de Abadiânia em Goiás, a Fábrica de
Equipamentos Comunitários de Salvador, a criação do CIACS e dos Hospitais da Rede
Sarah. Sua trajetória prossional como ele mesmo sublinha, foi marcada por “poucos
sucessos e muitos fracassos”, posto que certas idéias ainda que auspiciosas, foram
entrevistas com certa desconança e por m não seguiram adiante pelos mais contro-
versos motivos.
Retrato do Arquiteto
Nascido no Rio de Janeiro em 1932, formado pela Faculdade Nacional de Ar-
quitetura do Rio de Janeiro em 1955, aos 25 anos de idade Lelé deixa o Rio de Janeiro
para participar de uma das experiências urbanísticas mais importantes da História: a
construção de Brasília. Designado pelo IAPB (Instituto de Aposentadoria e Pensões
dos Bancários) como arquiteto-construtor dos primeiros blocos de apartamentos da su-
perquadra 108 Sul, ele operou de modo decisivo no gerenciamento das obras mediante
aplicação de procedimentos racionalizados que viabilizou a conclusão das obras para
a nova capital.
2
Em 1962 colaborou com Oscar Niemeyer como secretário executivo do CE-
PLAN (Centro de Planejamento da Universidade de Brasília), destinado a elaborar e
xar padrões para os edifícios da Universidade conforme as normas urbanísticas de
Lucio Costa, além de orientar e conduzir os cursos da recém-criada faculdade de arqui-
tetura. O CEPLAN introduziu um novo ritmo de trabalho em Brasília, baseado nos con-
ceitos de agilidade construtiva e economia de pré-fabricação, preocupação difundida
em diversas partes do mundo.
No ano seguinte Lelé visitou alguns países do leste europeu para estudar as-
pectos técnicos relativos aos sistemas de pré-fabricação empregados na Alemanha
Oriental, Tchecoslováquia e Polônia. Essa vivência foi importante para o desenvolvi-
mento de um sistema pensado de acordo com as nossas condões cio-culturais e cli-
máticas. A ntese desses conhecimentos foi de grande imporncia para os projetos do
Galpão de Servo Gerais e Apartamentos dos Professores (Colina), os quais ostentaram
pela primeira vez algumas preocupações de ordem cnica que mais tarde se apresentariam
de forma notável na arquitetura de Le - a exemplo da exibilidade de uso dos espaços e da
inseão de subsistemas construtivos - estruturais vedações e instalões - na edicação de
uma forma compavel e integrada entre si.
Com o profícuo aprendizado ao lado dos mestres Oscar Niemeyer e Lucio Costa,
Le foi esbando um caminho próprio, impulsionado pelas pesquisas de aprimoramento
de sistemas construtivos apoiados nas mais diversas tecnologias, principalmente as que
revelassem um maior nível de racionalidade, sem deixar de integrar, aspectos formais em
sua concepção de maneira gica e consequente.
Ao assumir o cargo de coordenador técnico da RENURB (Companhia de Reno-
vação Urbana de Salvador) em 1979, Le teve oportunidade de participar de um plano de
grande alcance social, promovendo um processo efetivo de requalicação urbana no sen-
tido de dotar áreas degradadas de infra-estrutura básica. Com assessoria do engenheiro
Frederico Schiel, ele realizou experimentos inovadores a partir da técnica da argamassa
armada, com a produção e aplicação de componentes industrializados leves tais como de
mobiliário urbano, elementos de contenção de encostas, escadarias drenantes, canais de
macro e microdrenagem, concebidos de acordo com as especicidades de ambientes ca-
rentes e precários, como as favelas nos vales e encostas soteropolitanos.
3
Os bons frutos da pesquisa anteriormente realizada em pré-fabricação levaram Le
em 1982 a colaborar com o líder comunitário Frei Matheus para projetar e produzir escolas
rurais no munipio de Abadnia (GO). O modelo pioneiro, baseado na tecnologia da arga-
massa armada, foi concebido como um sistema simples e evel para viabilizar a mobilida-
de total do edifício para diferentes localidades, visto que a instabilidade da potica agcola
e uso predario da terra moviam o domilio dos trabalhadores, incluindo as criaas, todos
sujeitos às vicissitudes do campo.
A FAEC (Fábrica de Equipamentos Comunitários) inaugurada em Salvador em
1985, descendente das experiências realizadas em Abadnia, é a materialização da antiga
idéia de Le em montar uma usina para produzir em larga escala componentes pré-fabrica-
dos para a constrão de escolas, creches, abrigos de ônibus, passarelas de pedestres, ca-
nais, muros de arrimo, sanirios blicos, dentre outros equipamentos blicos. Entre 1985
a 1989, a FAEC produziu centenas de equipamentos coletivos de forma racionalizada, com
soluções construtivas inovadoras, e correspondeu ao anseio do arquiteto em ofertar uma
parcela de esperaa às populações carentes que viviam nas áreas degradadas da cidade.
O CIAC (Centro de Integrão e Apoio à Criança) foi um programa idealizado pelo
governo federal em 1990, tendo como refencia a estrutura pedagógica e progratica
elaborada por Darcy Ribeiro e materializada inicialmente nos CIEPS projetados por Oscar
Niemeyer. Cada unidade escolar apresentava um programa fechado e complexo, constitu-
ído por creches, escolas, gisio esportivo, ambulario médico e pequenos abrigos para
menores carentes.
A construção de unidades mediante sistemas industrializados, utilizando o know-
how de Le para prodão seriada de componentes diversicados, leves e esbeltos em
argamassa armada, era o grande diferencial capaz de viabilizar a iniciativa em curto tempo
e em escala territorial nacional. Das 5.000 unidades previstas, apenas nove foram con-
cldas. Alterões do projeto inicial, o deciente controle de qualidade e, sobretudo, o
esquema de corrupção armado,zeram com que Le se desligasse do programa, deixan-
do para trás um pesadelo que cou conhecido como a marca de um Estado oportunista e
inoperante.
Em 1976 Lelé projetou o hospital Sarah Bralia, erguido no centro do Plano Piloto.
Representou uma proposta revolucionária na aplicação de métodos de tratamento com
uma dimica terapêutica inovadora, em conformidade aos novos pades desenvolvidos
4
pela medicina. As diretrizes desse hospital encontram-se diretamente concatenadas às
muitas experiências pessoais e prossionais vivenciadas pelo arquiteto a partir de 1967.
Trata-se de uma obra que sintetiza princípios técnico-construtivos e conceituais com ênfa-
se na promoção de espos arquitetônicos mais agradáveis e humanizados, contrariando
àquelas estruturas das arquiteturas hospitalares cerradas, mediocremente funcionalistas,
correntes até meados da década de 1960. Esse hospital foi a unidade pioneira do que mais
tarde se organizou como a Rede Sarah de hospitais, voltada aos problemas do aparelho lo-
comotor e, um centro de referência nacional e internacional na área com a implantão das
unidades de o Luis (1993), Salvador (1994), Belo Horizonte (1997), Fortaleza (2001),
Lago Norte/Brasília (2003), Maca (2005), Belém (2007) e Rio de Janeiro (2009). O Cen-
tro de Tecnologia da Rede Sarah (CTRS), concebido por Lelé, foi a estrutura que viabilizou
a materialização dos espaços desse extraordirio centro de pesquisa dica.
Justicativa
Trabalhei no Centro de Tecnologia de Rede Sarah junto a Lelé ao longo de três
anos. Além de um forte laço de amizade que nos uniu, descobri durante as nossas con-
versas de arquitetura e depois no acervo pessoal do arquiteto, um rico e importante ma-
terial que merecia ser objeto de uma pesquisa.
Em 2003 apresentei a dissertão Jo Filgueiras Lima: o último dos modernistas
1
,
ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de o Carlos da
Universidade de São Paulo. Seu objetivo foi examinar a participação de Le no quadro re-
cente da arquitetura no Brasil mediante resgate de sua trajetória prossional e uma aborda-
gem panorâmica de sua prodão. Os textos alternam-se entre a narrativa de experiências,
a descrão e balao ctico de projetos embleticos realizados pelo arquiteto no período
de 1960 a 1990 a partir de debates sobre o Movimento Moderno e rumos da prodão
arquitetônica nacional. Discutia-se a articulação de suas obras com os ideais modernistas,
seu comprometimento com os aspectos tecnológicos, construtivos e formais, bem como o
papel do arquiteto frente aos problemas políticos, econômicos e sociais no Brasil.
Considerando o resultado da pesquisa de mestrado e a experiência acumulada
como docente na cadeira de História da Arquitetura Contemporânea na Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (2004-2005) como etapas
1 GUIMARÃES, Ana Gabriella Lima. João Filgueiras Lima: O Último dos Modernistas. Dissertação (Mestrado em Arquitetura
e Urbanismo), Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2003.
5
determinantes para a reexão sobre questões e problematizações em torno da disci-
plina arquitetônica, resolvi dar continuidade a uma inquietação que, todavia, jamais
poderia conformar-se como um objeto de estudo acabado.
Ao me debruçar sobre as publicações e estudos dedicados a Lelé, veriquei
que, de modo geral, os trabalhos somente se dedicaram aos aspectos gerais ou pon-
tuais da sua produção, sempre circunscrito no plano nacional. Uma sucinta revisão
bibliográca permite apreciar essa característica.
1) O livro Escola Transitória: Modelo Rural
2
, publicado em 1984, surge como
resultado e circunscreve-se exclusivamente na experiência pioneira realizada por Lelé
nas escolas rurais em Abadiânia (GO). Tais modelos foram elaborados em função das
especicidades do lugar e a partir de um sistema simples de industrialização em arga-
massa armada, caracterizado por unidades construtivas totalmente desmontáveis e
extensíveis para que as comunidades dispusessem de espaços mais exíveis e com
possibilidade de remoção total do edifício para outras localidades. O livro é composto
por imagens, textos explicativos e ilustrações extraídas da cartilha informativa criada
pelo arquiteto no sentido de auxiliar o entrosamento da população com um tipo tecno-
logia inovadora, sem que para isso fosse necessário o requerimento de mão-de-obra
qualicada ou emprego de maquinários durante a etapa de montagem.
2) A dissertação de Elane Peixoto, Lelé: o arquiteto João Filgueiras Lima
3
, bus-
ca evidenciar e contextualizar a importância de Lelé no cenário da arquitetura brasileira
entre os anos de 1960 e 1990 através de uma pesquisa histórica, apoiada na literatura
existente, entrevistas e num exame de suas principais obras. A autora discorre sobre
questões relativas à poética do desenho, dos espaços, volumes, formas e cores que
caracterizam o trabalho do arquiteto, utilizando as referências teóricas empregadas
por Merleau-Ponty, Jorge Sainz, Giulio Argan, Renato de Fusco e Walter Benjamin
como instrumental necessário à compreensão dos processos de criação artística e da
arquitetura como um fenômeno cultural. Não obstante o referencial teórico sosticado e
internacional, a obra de Lelé não é cotejada com experiências internacionais.
2 LIMA, João Filgueiras. Escola Transitória: Modelo Rural: Brasília: CEDATE, 1984.
3 PEIXOTO, Elane Ribeiro. Lelé: o arquiteto João da Gama Filgueiras Lima. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo),
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996.
6
3) O mestrado apresentado por Maria Pronin, Elementos para Análise Compa-
rativa a partir de Três Experiências em Arquitetura
4
, se estrutura a partir da seleção
de três edifícios escolares da rede pública concebidos por Lelé em Salvador, Paulo
Mendes da Rocha em Carapicuíba (SP) e Siegbert Zanettini no bairro de Itaquera, São
Paulo.
Em posse de registros fotográcos, depoimentos concedidos pelos prossio-
nais estudados e sistematização de textos de teoria e crítica de arquitetura, a pesqui-
sadora analisa comparativamente os sistemas construtivos aplicados, a dinâmica do
canteiro, as etapas de execução e o resultado nal das distintas obras construídas a
partir das respectivas tecnologias racionalizadas: elementos em argamassa armada
produzidos de modo semi-artesanal, elementos pré-fabricados em concreto armado e
estruturas de aço industrializado.
4) A publicação João Filgueiras Lima, Lelé
5
apresenta inicialmente uma narrati-
va amparada em entrevistas e relatos do arquiteto, além de contar com apresentações
de Oscar Niemeyer e Lucio Costa. O único livro documental sobre Lelé de caráter pa-
norâmico é um trabalho sério, um levantamento sistemático e apresentação descritiva
de sua obra em ordem cronológica dos seus quarenta anos de prossão, até 1999. A
qualidade do livro é atestada por uma constelação riquíssima de imagens, desenhos,
memoriais descritivos e depoimentos apresentados a partir de um projeto gráco im-
pecável, o que faz desta compilação uma referência indispensável, mas sem nenhuma
apreciação de ordem analítica.
5) O livro CTRS: Centro de Tecnologia da Rede Sarah
6
de autoria de Lelé,
produzido inicialmente como catálogo de exposição de seus projetos para os hospitais
da Rede Sarah, é reeditado em 1999 numa versão ampliada a partir da inclusão de
outras obras públicas como os Tribunais de Contas da União e os Tribunais Regionais
Eleitorais. Esta publicação merece destaque por reunir um grande número de imagens,
desenhos, memoriais descritivos e textos explicativos sobre a origem e as diretrizes da
Rede Sarah, a implantação do núcleo de pesquisas tecnológicas em Salvador, os siste-
mas construtivos industrializados em argamassa armada e aço, bem como os métodos
de produção que determinam a qualidade e a poética evidenciada na fase recente de
4 PRONIN, Maria. Elementos para Análise Comparativa a partir de Três Experiências em Arquitetura: Estudo de projetos-ob-
ras de três arquitetos contemporâneos que utilizavam caminhos distintos para racionalização de processos construtivos. Disserta-
ção (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997.
5 LATORRACA, Giancarlo (org). João Filgueiras Lima, Lelé. Lisboa: Editorial Blau, São Paulo: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi,
1999.
6 LIMA, João Filgueiras. CTRS: Centro de Tecnologia da Rede Sarah. São Paulo: ProLivros, 1999.
7
sua arquitetura. A edição não tem uma abordagem histórica e não oferece reexões
teóricas; é um material de divulgação das obras e das soluções técnicas adotadas por
Lelé a partir de 1991.
6) O livro, João Filgueiras Lima: O que é ser arquiteto
7
, de Cynara Menezes é
um apanhado de histórias e memórias que mostram as conquistas, desaos, aventuras
e desventuras enfrentadas por Lelé ao longo da sua trajetória. Os textos, que mais pa-
recem um patchwork de entrevistas, é uma narrativa jornalística sobre o pensamento e
obra do arquiteto. A ausência de questionamentos e inquietações faz desta publicação
uma espécie de almanaque para orientar jovens leitores na difícil tarefa da escolha
prossional.
Não obstante as contribuições que esses estudos e publicações trouxeram,
observa-se a pouca atenção dada ao posicionamento de Lelé e sua obra enquanto
parte do debate internacional da arquitetura, sobretudo numa era dita de globaliza-
ção. Diante dessa constatação, a idéia norteadora da minha pesquisa direcionou-se na
discussão sobre os vínculos que a obra de Lelé pode estabelecer com as realizações
arquitetônicas internacionais e alguns dos grandes temas em debate na virada para o
século 21 - como a alta tecnologia, eciência energética, conforto ambiental, limites de
recursos naturais, economia dos meios e sustentabilidade. Em particular, discutir as
relações que ela estabelece com uma tendência da arquitetura contemporânea inter-
nacional que pode ser exemplicada em nomes como Norman Foster, Richard Rogers,
Nicholas Grimshaw, Michael Hopkins e Renzo Piano. A trajetória e produção de Lelé no
nal do século 20 e início do presente – estreitamente ligada à materialização da Rede
Sarah de hospitais e centros de reabilitação, e a consolidação do Centro Tecnológico
Rede Sarah (CTRS) coincide com a emergência das questões anteriormente levan-
tadas. Mas em que medida Lelé é uma consequência dessa discussão, ou é parte ins-
tauradora desse debate, posto que algumas das preocupações do arquiteto brasileiro
antecedem a temas atuais, como a dita sustentabilidade?
Partimos da hipótese de que a obra de João Filgueiras Lima, Lelé, não apenas
responde às premências especícas do Brasil, mas pioneiramente estabelece posições
que antecedem ou são paralelas aos grandes temas ligados ao ambiente, recursos
naturais, habitabilidade, energia e arquitetura sustentável (em suas várias acepções),
sem se subjugar aos estreitos limites técnicos ou tecnocráticos dessas questões,
7 MENEZES, Cynara. João Filgueiras Lima: O que é ser arquiteto. Rio de Janeiro: Record, 2004.
8
e lança respostas arquitetônicas cujos princípios extrapolam o local para alcançar uma
dimensão universal.
Observando o alcance dos trabalhos acima mencionados, a minha pesquisa
preocupa-se com um novo olhar sobre a obra de Lelé ao discutir, as relações que
ela estabelece com uma tendência da arquitetura contemporânea internacional, que
pode ser exemplicada em nomes como Norman Foster, Richard Rogers, Nicholas
Grimshaw, Michael Hopkins e Renzo Piano.
A análise crítica das propostas de Lelé sob uma perspectiva comparada com di-
versas obras realizadas desses arquitetos a partir de 1990, torna-se fundamental para
entender como as preocupações ideológicas, os procedimentos metodológicos, as con-
cepções programáticas, as expressões formais, assim como as questões tecnológicas,
ambientais e sociais abordadas no seu trabalho apontam a atualidade, a importância e
os desígnios de uma arquitetura que se lança como expressão renovada por um novo
conceito de modernidade.
A possibilidade de confrontar o trabalho de Lelé com as realizações (sobretudo)
dos arquitetos britânicos surgiu a partir da identicação de certos aspectos comuns que
os caracterizam, e que não comparecem tão delimitados e/ou armativos nas produções
dos outros expoentes da arquitetura contemporânea internacional, a exemplo de Zaha
Hadid, Frank Gehry, Peter Eisenman, Álvaro Siza, Rafael Moneo ou Rem Koolhaas, men-
cionando apenas alguns. A pertinência da análise comparativa entre Lelé e o “star-system
high-tech” está no modo como determinadas questões são similarmente tratadas em
suas obras: a preocupação com os valores culturais, sociais e humanos; a concepção de
estruturas formais que sintetizam as necessidades programáticas e funcionais do projeto,
o diálogo com contexto e as potencialidades das tecnologias aplicadas; a busca da ele-
gância e precisão do desenho arquitetônico e de soluções tecno-construtivas coerentes
e limpas, o envolvimento com as práticas racionalizadas da construção, o compromisso
com a pesquisa e inovação tecnológica por uma construção energeticamente eciente e
ambientalmente confortável e, sobretudo, o entendimento maior da arquitetura enquanto
processo, não apenas no conceito de organização produtiva do objeto arquitetônico, mas
como um conjunto de conhecimentos acumulados e técnicas aprimoradas ao longo das
sucessivas experiências projetuais.
9
Metodologia
Ao cumprimento da proposta da tese, tornou-se fundamental estabelecer uma
metodologia de pesquisa que foi estruturada da seguinte maneira:
1. As tendências da arquitetura contemporânea
1.1. Pesquisa bibliográca
Levantamento e revisão de textos (periódicos, livros, teses, catálogos, jornais,
etc.) correlatos ao tema do doutorado. Essa etapa realizou-se mediante acesso a bi-
bliotecas e bases de dados como etapa necessária a análise e crítica dos aspectos e
elementos que norteiam as teorias e práticas da cultura arquitetônica atual:
Bibliotecas: consultas aos acervos da Universidade Federal da Bahia e Univer-
sidade de São Paulo.
Bases Digitais: consultas as Bases Nacionais e Internacionais de Dados como
forma de obter textos integrais publicados nas revistas cientícas relacionados à pro-
dução recente na área de arquitetura e urbanismo: SciELO, JSTOR, ERL-WebSPIRS,
RIBA, Habitare, Wilson Art Abs, Portal Vitruvius e Google Acadêmico.
Na fase de identicação das fontes secundárias sobre a arquitetura contem-
porânea internacional, percebeu-se a existência de uma rica e farta documentação
escrita. Grande parte do material atualizado, correspondente aos assuntos especícos
a serem contemplados na pesquisa, foi localizado nas bibliotecas digitais que dispo-
nibilizam inúmeras referências dos títulos indexados. Porém, grande parte dos textos
completos é obtida mediante pagamento. Ainda que reduzido o número de publicações
nas bibliotecas nacionais em comparação ao volume de títulos indexados nos bancos
de dados e bibliotecas internacionais, foi possível levantar informações relevantes so-
bre o tema em livros e teses pertencentes ao acervo da FAUUSP.
Através do acesso on-line aos acervos de bibliotecas, a exemplo da Architec-
tural Association School of Architecture, Westminister Reference, Goldsmiths College e
Warburg Institute, tornou-se possível fazer uma prévia identicação e relação da docu-
mentação consultada durante os quatro meses de estadia da pesquisadora em Londres
10
(ver item a seguir). Obteve-se ainda através de pesquisa na internet a cópia do vídeo
Norman Foster: architecture green partner talk technology computers design buildings,
gravado em 2008 pela TED - Partner Series, durante a realização da DLD Conference
em Munique, Alemanha.
No sentido de facilitar o acesso, a leitura e a análise do material levantado,
fez-se necessário relacionar as referências bibliográcas, bem como classicar os tí-
tulos por temas: Bibliograa sobre Lelé, Bibliograa sobre Tecnologia da Arquitetura,
Bibliograa sobre História da Arquitetura, Bibliograa sobre Monograas e Artigos de
Arquitetos, Bibliograa sobre Arquitetura Sustentável.
Devido à produção bibliográca sobre a arquitetura contemporânea internacio-
nal ser bastante intensa e regular, o processo de investigação a respeito da literatura
mais recente sobre os temas de interesse da pesquisa estendeu-se até a fase de reda-
ção da tese.
1.2. Pesquisa de campo: viagem à Europa:
Conhecer in loco as obras arquitetônicas, realizar levantamentos bibliográcos
e ter contato com escritórios de arquitetura dentro do âmbito dos temas de pesquisa
foram os objetivos que levaram a efetivar uma viagem de estudo para a Europa, tendo
como base Londres devido à facilidade de intercâmbio acadêmico. Visando o cum-
primento de etapa de pesquisa na Inglaterra, um plano de trabalho foi encaminhado ao
Professor Murray Fraser, coordenador do Programa de Pós-Graduação e Pesquisas do
Departamento de Arquitetura da Universidade de Westminster, que foi nosso supervisor
acadêmico e formalizou o vínculo da pesquisadora visitante com a referida instituição,
como também viabilizou o agendamento das entrevistas realizadas com Paul Kalkho-
ven, arquiteto senior do escritório Foster + Partners e Ivan Harbour, sócio do escritório
Rogers Stirk Harbour + Partners.
Obras emblemáticas de Norman Foster, Richard Rogers, Michael Hopkins e
Nicholas Grimshaw foram visitadas em Londres, Berlim, Amsterdam e Paris e foram
importantes para o entendimento da dinâmica e losoa aplicada nesses projetos.
11
1.3. Pesquisa documental:
Baseada em entrevistas concedidas pelos arquitetos britânicos e registros
fotográcos de suas obras. Durante o período de permanência da pesquisadora no
exterior, as bibliotecas da Architectural Association, Westminster University e RIBA fo-
ram visitadas para a consulta e reprodução da documentação escrita atualizada. Esse
processo de investigação foi essencial à construção de um quadro comparativo acerca
do caráter, das expectativas e das possibilidades tecnológicas aplicadas entre projetos
concebidos em contextos sócio-culturais distintos como no caso do Brasil e Europa e,
sobretudo, a vinculação do trabalho de Lelé com as produções dos arquitetos britânicos.
2. A produção arquitetônica de Lelé
2.1. Pesquisa bibliográca:
Levantamento completo da literatura existente sobre Lelé (artigos, livros, teses,
dissertações, etc.) mediante acesso aos acervos de bibliotecas e as bases de dados on-
line voltados às pesquisas acadêmicas.
2.2. Pesquisa documental:
Acesso aos arquivos da biblioteca da Rede Sarah, coleta de documentação
escrita inédita (memorial descritivo), obtenção de material iconográco (desenhos de
projeto e fotograas) e entrevista concedida por Lelé.
Na fase de investigação de fontes primárias, evidenciou-se a existência de uma
documentação rica e vasta que não foi aproveitada em toda sua potencialidade. Atra-
vés da consulta ao arquivo pessoal do arquiteto, acesso aos acervos do Centro de
Tecnologia da Rede Sarah (Biblioteca e Laboratório de Imagem), além das informações
registradas durante visitas monitoradas às obras produzidas pelo arquiteto, grande par-
te das fontes primárias necessárias à elaboração da tese foi coletada.
Reproduziu-se grande parte dos documentos grácos e uma pequena amos-
tragem dos memoriais descritivos correspondentes aos projetos dos Hospitais Sarah
Salvador, São Luis, Fortaleza, Belo Horizonte, Lago Norte e Rio de Janeiro. Realizou-
se também, uma entrevista com Lelé como um material importante na identicação do
12
seu posicionamento frente aos debates atuais sobre a produção arquitetônica contem-
porânea internacional.
2.3. Pesquisa de campo:
Visitas programadas ao Centro de Tecnologia da Rede Sarah e aos hospitais
de Salvador, Belo Horizonte, Lago Norte, Brasília e Rio de Janeiro para vericar de que
modo os aspectos de conforto ambiental, eciência energética, impacto ambiental, eco-
nomia dos meios, integração do edifício com o lugar, etc. são abordados na produção
recente de Lelé.
Estrutura da Tese
O conjunto de argumentações da tese foi estruturado em quatro capítulos que,
construídos a partir de uma constante dialética entre a obra de Lelé e as produções dos
arquitetos high-tech a partir dos anos de 1990, buscam apontar de que modo e quais
aspectos da arquitetura de Lelé respondem aos novos desaos e questões debatidas
na contemporaneidade.
1) Ideologias possíveis: as dimensões da arquitetura de Lelé.
Trata da discussão sobre o caráter ou perspectivas ideológicas manifestadas
na produção arquitetônica contemporânea, mostrando o nível de responsabilidade so-
cial assumida pelos arquitetos e seu papel mediador entre o mundo concreto e as atu-
ais necessidades humanas.
2) Projeto: atividade totalizadora que sintetiza na forma os requisitos do programa.
Nesse capítulo, discute-se a questão das formas arquitetônicas contemporâne-
as enquanto síntese das necessidades programáticas e funcionais do projeto, a ade-
quação da forma ao seu contexto sócio-cultural e os modos como elas são representa-
das e geradas a partir dos novos materiais e recursos tecnológicos disponíveis.
3) Detalhe essencial: a busca da elegância e precisão do desenho
Mostra a importância no detalhe no processo projetual e produtivo da arquitetu-
ra contemporânea e seu papel na denição da expressão e qualidade tecno-construtiva
da obra.
13
4) Tecnologia construtiva, eciência energética e conforto ambiental.
Busca discutir o conceito de sustentabilidade e sua relação com as práticas da
arquitetura atual, a partir das soluções projetuais apresentadas pelos arquitetos estuda-
dos e o seu compromisso com as questões ambientais da arquitetura.
Considerando o expressivo volume e constância das publicações sobre a pro-
dução arquitetônica contemporânea, vale ressaltar que o conjunto de argumentações
da pesquisa podia apresentar um recorte muito mais amplo. Diante da impossibilidade
de abarcar com maior profundidade e clareza todos os aspectos que o tema comporta,
a tese conforma-se como uma primeira tentativa de cotejar o trabalho de Lelé com as
experiências realizadas em outros horizontes. A partir da construção dessa dialética,
tentou-se demonstrar ao longo do texto: a sintonia do trabalho de Lelé com as preocu-
pações que norteiam a arquitetura contemporânea; o caráter e o alcance das soluções
projetuais de Lelé que, embora não pretendam e nem possam responder às carências
crônicas do Brasil, ainda assim se mantêm num patamar de igualdade com o que se re-
aliza de mais avançado do panorama internacional e, por m, comprovar que a obra de
Lelé possui um potencial estético, construtivo e tecnológico de aplicação internacional,
servindo de referência ao que se faz no mundo.
14
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
2 Argumentação
2.1. Ideologias possíveis: as dimensões da arquitetura de Lelé
Houve um tempo em que a arquitetura despontava no cerio das prodões hu-
manas no formato de manifesto público. As perspectivas revoluciorias de uma reforma
social institucionalizada e o discurso político engajado foram temas asduos da agenda dos
arquitetos-urbanistas, deste os utopistas do culo XIX como Charles Fourier, Robert Owen
e Ebenezer Howard até a gerão modernista da primeira metade do século passado.
As transformações sociais, econômicas e poticas, desencadeadas pela Revolão
Industrial e os efeitos da Primeira Guerra Mundial, conformaram-se como aspectos decisivos
à formulão das bases reformistas da arquitetura e urbanismo moderno. As vanguardas da
década de vinte e trinta acreditavam que, a partir de novas teorias arquitetônicas e modelos
de interveão urbana em grande escala, seria possível melhorar os modos de vida da po-
pulação, restabelecer um sentido de ordem urbana e a noção de uma sociedade mais justa,
fraterna e igualitária. A supremacia do pensamento modernista manteve-se por quase cinco
décadas, comando a ruir frente aos perversos interesses da especulação imobilria, as
novas demandas da sociedade capitalista e a promoção de uma nova tendência arquitetô-
nica atrelada a lógica do consumo.
Avaliando o caráter das manifestações sucedâneas aos anos marcados pela tradi-
ção do moderno, faz-se notar o paulatino distanciamento das questões sociais como cerne
das argumentações projetuais. O movimentos-moderno, assim denominado na cada
de 1960,o apenas criticou a ortodoxia funcionalista, o abstracionismo formal e o cater
elitista que a arquitetura moderna adquiriu com a globalização do capital, como também
condenou a demagogia impcita nos discursos sobre responsabilidade social do arquiteto,
celebrou om das grandes ideologias que, desgastadas no curso da história, deixaram um
rastro de descrença quanto qualquer plano de ão de escopo totalitário e excludente.
15
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Com o m da “tábula-rasa” do projeto moderno e a amplicação dos debates
sobre a condição da sociedade neoliberal
1
, os arquitetos pós-modernos passaram a
incorporar elementos do multifacetado cenário contemporâneo, colocando em pauta a
importância sobre os aspectos da vida cotidiana, do contextualismo histórico, da diver-
sidade cultural e representação simbólica no âmbito das produções arquitetônicas.
O palco de atuação dos arquitetos entre os anos de 1970 a 1980 era a cidade
plena em signicado semântico, um espaço conceitualmente fragmentado e antagô-
nico, o qual deveria ser administrado pedaço a pedaço e não mais por intermédio de
planos urbanos de larga escala, regulados pelos princípios de racionalidade e eciên-
cia. O fato é que se a abrangência da estratégia planicadora dos modernos admitia
o sujeito como uma massa homogênea, destituído de individualidades e aspirações.
A pós-modernidade tomou-o como peças de um complicado quebra-cabeça social - o
produto de uma sociedade ambígua, consumista e espetaculosa.
1 A espinha dorsal do neoliberalismo consiste no processo de desregulamentação do Estado, no tocante a sua não intervenção na
economia, bem como na desresponsabilização para com as políticas públicas, uma vez que estas são “acusadas”, pela ideologia
neoliberal, da crise do “Estado-de-Bem-Estar-Social” ou “Welfare State”. In: 5
o
Colóquio Marx e Engels, 2007, São Paulo - Campi-
nas. CISNE, Mirla. Institucionalização dos Movimentos Sociais: Uma Reexão sobre Luta de Classes na Contemporaneidade. São
Paulo - Campinas: 2007. CD-ROM, p. 2.
Charles Moore. Piazza d’Italia, Nova Orleans, Louisiana, 1977-79.
16
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Tanto a pluralidade icônica de Las Vegas ou Disneylândia como as imagens
da cultura pop que povoaram o pensamento pós-moderno, não foi suciente para criar
uma coerência entre teoria e práxis na determinação de uma perspectiva promissora,
visto que as condições futuras da sociedade estavam neutramente determinadas pela
própria evolução da sociedade capitalista: a aceitação do sistema social, na convicção
de uma possível neutralidade com relação a ele.
2
O que se cumpriu nesse período recebeu um tratamento quase alegórico, limi-
tando-se ao mergulho raso no mar das especicidades culturais e sociais que tanto se
pretendia explorar, conforme David Harvey:
“Verica-se, sobretudo, que os pós-modernistas se afastam de modo radical das
concepções modernistas sobre como considerar o espaço. Enquanto os moderni-
stas vêem o espaço como algo a ser moldado para pressupostos sociais e, por-
tanto sempre subserviente à construção de um projeto social, os pós-modernistas
o vêem como coisa independente e autônoma a ser moldada segundo objetivos e
princípios estéticos que não tem necessariamente nenhuma relação com algum
objetivo social abrangente, salvo, talvez, a consecução da intemporalidade e da
beleza “desinteressada” como ns em si mesmas.”
3
Robert Venturi: Western Plaza, Pennsylvania, 1980.
2 RAJA, Raffaele. Arquitetura pós-industrial. São Paulo: Editora Perspectiva, 1993, p. 77.
3 HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. 11 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002, p. 69.
17
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Encerrado o embate entre a ingenuidade das aspirações modernas e as propo-
sições ambíguas da pós-modernidade, abre-se a partir dos anos de 1990 uma enorme
lacuna quanto o signicado da arquitetura e o papel social do arquiteto, a qual talvez
demore a ser preenchida com alguma resposta tanto satisfatória aos majoritários inte-
resses da coletividade quanto possível ante os desdobramentos da nova política eco-
nômica mundial. É o que presume o arquiteto holandês Rem Koolhaas:
“Estamos todos operando em um momento em que existem dois fenômenos domi-
nantes: a integração da economia mundial e também o desaparecimento de to-
das as ideologias comuns e a aparente dominação de assuntos econômicos sobre
qualquer outro valor. um sem-número de palavras no ar, como aliança estraté-
gica, fusões, identidade corporativa e gerenciamento de marca. Até poucos anos
atrás eu ainda pensava que essas palavras que ouvíamos representavam um
mundo completamente diferente, ao qual eu estava pouco conectado e ao qual a
prossão da arquitetura estava pouco conectada. Mas tornou-se claro, em termos
de trabalho que estamos sendo pedidos para fazer, que o que vem ocorrendo é a
difusão ou o desaparecimento dos limites da arquitetura e de outros domínios, do
design à política.”
4
A partir da expansão e abertura de novos mercados consumidores, do aumento
do uxo de informações advindas do processo de globalização e o m da hegemonia
estadunidense frente à emergência de economias como as da China, Coréia, Índia e
Brasil; torna-se evidente que a utopia de transformar o mundo via arquitetura, além de
caduca, já é página virada. Ao que tudo indica. A maneira mais lúcida de sustentar nos
tempos atuais o caráter ideológico da arquitetura, especialmente o conjunto de con-
vicções sociais que recaem sobre a prática do projeto, seria fazer com que ele fosse
construído no sentido da conciliação, e não no da total subversão dos valores vigentes.
Numa rápida apreciação sobre os comentários referidos a alguns dos mais
notáveis edifícios da atualidade, construídos nas grandes metrópoles como Londres,
Paris ou São Paulo, poder-se-ia imaginar, num primeiro instante, que tais exemplares
assumem apenas uma função icônica e uma posição desconexa com o entorno próxi-
mo, reforçando, cada vez mais, a importância do não-lugar na vida cotidiana. De certo
a experiência da vida coletiva tem sido negligenciada; em alguns casos o que se apre-
senta é uma arquitetura fechada em si mesma, voltada à satisfação de seus usuários
diretos e que, de alguma maneira, reforça a primazia do espaço privado excludente e
hostil ao público geral.
4 KOOLHAAS, Rem. [email protected]+u. Architecture and Urbanism. Tókio, p.6, May, 2000. (Special issue).
18
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Ao mesmo tempo em que essas arquiteturas são criticadas pela sua vinculação
às atividades voltadas ao espetáculo
5
, construídas conforme as exigências do modelo
econômico vigente e a idéia de mercantilização a que estão condicionadas; elas tam-
bém mereciam um exame mais acurado pelo que não são imediatamente identicáveis
nas curvas hiperbólicas e espelhadas de suas superfícies, ou seja, as bases conceitu-
ais e os tipos de ideologia que orientaram sua gênese.
Seria, portanto, legítimo armar que o “valor” das novas arquiteturas está ape-
nas depositado na carga semântica que invocam, a exemplo do que comumente a
literatura especializada sublinha de maneira reducionista e, muitas vezes, equivocada
a respeito da complexidade implícita nas obras de Frank Gehry
6
ou sobre a expres-
são tecnológica dos edifícios concebidos por Norman Foster? Estaríamos corretos ao
considerar que a responsabilidade social da arquitetura tornou-se uma questão menor,
bem como o seu papel mediador entre o mundo concreto e as necessidades humanas?
Frank Gehry: Guggeinheim Museum, Bilbao, 1997
5 MAHFUZ, Edson. A arquitetura consumida na fogueira das vaidades (editorial). Portal Vitruvius, Arquitextos 012, publicado em maio
de 2001. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq012/arq012_00.asp>. Acessado em: 20 de agosto de 2009.
6 Ver o posicionamento crítico de Pedro Fiori Arantes sobre a produção de Frank Gehry In: ARANTES, Pedro Fiori. O grau zero
da arquitetura na era nanceira. Novos Estudos - CEBRAP, São Paulo, n. 80, mar. 2008.
19
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Norman Foster: City Hall, Londres, 1998 - 2002
Esse pensamento niilista e desolador são compartilhados por um grupo de ar-
quitetos e tantos outros praticantes do discurso teórico-crítico, comprometidos de corpo
e alma em rearmar o m da condição ideológica da arquitetura contemporânea.
Seja por meio de atitudes radicais, a exemplo de alguns projetos conceitual-
mente controvertidos e visualmente provocantes de Coop Himmelb(l)au
7
ou através
dos ensaios intencionalmente inquietantes de Manfredo Tafuri
8
. O que se torna explíci-
to é a mais absoluta descrença quanto à possibilidade de uma arquitetura verdadeira-
mente construível e culturalmente apropriada.
Apesar da situação contemporânea de complexidade, instabilidade e incerte-
za, vale ressaltar que a arquitetura sempre manteve o passo junto aos avanços de sua
7 Segundo Fredy Massad e Alicia Guerrero Yeste, os projetos de Coop Himmelb(l)au são contagiados por uma tensão e radicalidade
profundamente intensa. Agica subversiva das formas geradoras do espaço se revela como expressão concreta da energia expelida
pelo espírito do homem contemporâneo submerso num estado de inquietude e incertezas. In: MASSAD, Fredy e YESTE, Alicia Guer-
rero. Atmosfera de tensão. Coop Himmelb(l)au e a Academia d Belas Artes de Munique. Portal Vitruvius, Arquitextos 066, publicado
em novembro de 2005. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq066/arq066_02.asp>. Acessado em: 29 de janeiro de
2009.
8 O projeto histórico Tafuriano apresenta uma visão intensamente trágica da realidade, dentro da qual a aceitação e também a
análise profunda das contradições da sociedade não permite, contudo qualquer condição de superar-lhes, e consequentemente
isentar-se delas.
20
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
época e transformações de toda ordem, pressupondo, portanto uma proximidade com
as questões ideológicas - sejam elas de cunho político, social, losóco ou até tipológi-
co. Trocando em miúdos, “toda producción es ideológica, consecuencia de las fuerzas
dominantes en la estructura económica que se basa en la lucha de clases. El arte y la
arquitectura son exclusivamente su reejo superestructural.”
9
Alguns críticos, a exemplo de Fernández-Galiano, consideram que, mesmo
após o colapso da utopia moderna, nunca houve na história um período de comple-
ta ausência ideológica. Muito além dos vários signicados e congurações estéticas,
programáticas e espaciais assumidas pelos projetos recentes, é possível também iden-
ticar na virada do século XX, alterações expressivas quanto ao redimensionamento
da função social da arquitetura frente às novas demandas do mundo globalizado, bem
como as tantas noções que o termo ideologia possa representar:
“Acredito que isso não foi abandonado nem sequer no caso das arquiteturas que
podem nos parecer mais comerciais e mais exportadas, o que inclui as arquitetu-
ras no Golfo. Em Dubai ou em Abu Dhabi tem-se feito arquiteturas com empenho
utópico. As cidades que Rem Koolhaas e Norman Foster projetaram no Golfo, por
exemplo, aspiram a ser cidades ecologicamente sustentáveis, livres da emissão de
CO
2
. Essas são autênticas arquiteturas quase oníricas. Incorporam sonhos de mui-
tos. E estão sendo feitas muitas vezes em contextos degradados e mercantis.”
10
Norman Foster: Masdar Masterplan in Abu Dhabi, United Arab Emirates 2007-2013
9 SOLÀ-MORALES, Ignasi de. Diferencias: topografía de la arquitectura contemporánea. Barcelona: Gustavo Gili, 2003, p. 86.
10 FERNÁNDEZ-GALIANO, Luis: a crise e o futuro da arquitetura. AU - Arquitetura & Urbanismo. São Paulo, n. 181, p. 82, abr. 2009.
21
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Acrescenta Paul Kalkhoven:
“Penso que o arquiteto deva oferecer respostas viáveis aos problemas emergentes
da sociedade. Mas eu acho que nenhuma arquitetura é forte ou grande o suciente
para resolver todos os problemas do planeta, especialmente a questão da mobi-
lidade social. Esta é a última instância, pois isso depende das metas e iniciativas
políticas. No mundo existem milhares de pessoas vivendo em condições subuma-
nas: habitações degradadas, falta de água e comida. Nós precisamos constante-
mente trabalhar a partir de uma perspectiva particular do mundo. Talvez o trabalho
que desenvolvemos possa inuenciar outras pessoas.
Espero que outros arquitetos compreendam a nossa proposta e digam: eu quero
fazer algo semelhante. A questão da eciência energética e da inovação tecnológica
na arquitetura tem sido tratada em nosso escritório de modo a promover bons resul-
tados. Nesse aspecto, eu posso armar que parte dos problemas sociais está sendo
resolvido. É um dever nosso enfrentar problemas dessa natureza, mas é ingênuo
pensar que a arquitetura sozinha vai resolver todos os problemas do universo.”
11
Para não perder a perspectiva histórica, é preciso lembrar que “ontem” as con-
sequências da Segunda Guerra Mundial exigiram medidas urgentes no sentido de re-
estruturação das cidades européias como um todo - desde investimentos em grandes
obras públicas de construção, preservação e restauro de monumentos, até a adoção de
políticas assistencialistas como garantia do bem-estar social. “Hoje” o grande desao
da arquitetura está na emergência de soluções capazes de reverter ou amenizar os
efeitos da crise ambiental e energética, e cujos êxitos não dependem exclusivamente
das iniciativas primeiro-mundistas, mas de um elevado nível de consciência e mobi-
lização por parte de todas as nações perante a gravidade do problema de extensão
planetária.
A partir das diferenças identicadas nas relações de causa e efeito entre os
diversos fenômenos sociais dominantes e os resultados obtidos pelas arquiteturas pra-
ticadas entre os séculos XX e XXI, o que mais chama a atenção é o modo como alguns
princípios estruturais de uma determinada ideologia são mantidos, ao mesmo tempo
em que alterados o alcance de seus objetivos.
A questão da ideologia está intimamente ligada aos referenciais e emergências
de uma época. Portanto, seria arriscado dizer que toda arquitetura conante nos avan-
ços da tecnologia e nas possibilidades que ela inspira está condenada por que o
Projeto Moderno fracassou empunhando essa mesma bandeira.
11 Entrevista realizada pela autora com o arquiteto Paul Kalkhoven do escritório Foster+Partners, 27 de julho de 2009, Londres.
22
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Longe das interpretações negativas que o ideal tecnocrático do Movimento
Moderno sugere, as propostas lançadas por Renzo Piano, por exemplo, apresentam-
se em forma de soluções acabadas e não idealizadas. Nas palavras de Lampugnani,
Piano ve en la inteligente aplicación de la técnica altamente sosticada en la constru-
ción una oportunidad social y política; sus proyectos, realizados a través de estrechos
diálogos con los usuários, intentan corresponder a la visión metabolista del cambio
permanente.
12
Assim como alguns representantes do “star-system” contemporâneo trazem
uma visão mais otimista do mundo, também em círculos menores e contextos dife-
rentes, arquitetos que, a exemplo de Lelé, defendem o princípio de adequação entre
novas tecnologias e novas arquiteturas na tentativa de estabelecer, bem mais do que
formas inusitadas de viver ou trabalhar, imagens antecipatórias de futuros possíveis
para uma sociedade mais democrática e o fortalecimento dos valores humanos.
A paridade entre tais arquitetos está na natureza de trabalhos que, inspirados
num repertório cosmopolita, preservam os valores próprios de sua cultura, seja no em-
prego de materiais renados ou mesmo na proposição engenhosa de sistemas cons-
trutivos legitimados na arquitetura em forma de conhecimento acumulado. Pode-se di-
zer que temas como diversidade cultural, eciência energética, preservação e conforto
ambiental são preocupações conjugadas ao discurso desses personagens na busca da
verdadeira funcionalidade da arquitetura, por um funcionalismo corretamente ecológico
que critica a ortodoxia do racionalismo depredador e por tudo aquilo que em nome da
ética se tornam autênticos criadores de uma nova modernidade.
Há quem pense que a concepção ideológica baseada na valorização da tecno-
logia é um aspecto apenas compatível com uma realidade capaz de comportar projetos
de elevado orçamento, edifícios que exaltam seus predicados megaestruturais ou seus
mecanismos sosticados de funcionamento, voltados apenas para um público especia-
líssimo, sempre ávido por grandes novidades. Na maioria das vezes, as vinculações
entre arquitetura e tecnologia são confundidas com o termo tecnicismo que, nada mais
é, segundo o pesquisador Danilo Macedo, a ênfase do discurso técnico-construtivo
como ofício de eciência, durabilidade e inovação técnica sobre a necessidade de se
construir espaços solicitados por um indivíduo ou grupo de indivíduos.
12 LAMPUGNANI, Vittorio Magnago. Dibujos y textos de la arquitectura del siglo XX. Utopia y realidad. Barcelona: Gustavo
Gili, 1984, p.14.
23
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Lelé: Hospital do Aparelho Locomotor Sarah Salvador, 1991 - 1994
Imagens Referentes aos Diversos Espaços Internos e Externos do Hospital Sarah Salvador
24
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Neste caso, os meios se sobrepõem à nalidade: construir o meio-ambiente humano. O
que construir torna-se secundário em relação a como construir. O discurso técnico con-
verte-se em objeto, no sentido heideggeriano, em lugar da coisa construída: um objeto
distanciado da realidade.
13
Mas então o que se poderia dizer a respeito da arquitetura
de Lelé, senão o contrário da apreciação desfavorável levantada quanto à relação entre
a tecnologia e a arquitetura atual?
No ensaio “A Pertinência da Arquitetura Clássica”, Demetri Porphyrios arma
com absoluta descrença que:
“Os prédios high-tech da atualidade, ao contrário, não passam de simulações ctí-
cias da imagística high-tech. É nesse sentido que se pode dizer que o high-tech tem
hoje uma função de metalinguagem. O procedimento construtivo, isto é, o tecnolo-
gismo, evidencia aqui seu articialismo. Numa cultura em que as fronteiras da tec-
nologia deslocaram-se da construção para o espaço cósmico e a genética, a idéia
de um edifício high-tech pode ser mesmo uma doce ilusão ou um faz de conta.”
14
Embora seja sensível o grau de proximidade do trabalho de Lelé com as pro-
posta ideológicas e conceituais lançadas por arquitetos de prestígio internacional como
Norman Foster, Renzo Piano ou Richard Rogers - os representantes da vertente High
Tech -; de se notar também que, apesar dos valores que são a elas comuns, a arqui-
tetura de Lelé opera com uma realidade diametralmente antagônica em relação a que
se apresenta nas sociedades culturalmente e socialmente desenvolvidas.
Hoje o Brasil ocupa, conforme fontes do Fundo Monetário Internacional, po-
sição de destaque no ranking da economia global
15
e é também um dos países da
América do Sul que mais investe em programas e projetos sociais: bolsa-família, bol-
sa-escola, aposentadoria rural, renda-mínima, reforma agrária, dentre outros.
16
Apesar
das iniciativas e compromissos assumidos nos últimos anos pelo governo brasileiro
para garantir melhores condições de vida à população, a razão entre demanda social e
ações promovidas pelas instâncias públicas é ainda muito desproporcional.
13 MACEDO, Danilo Matoso. Espaços da arte e da arquitetura. Reexão acerca de sua relação. Portal Vitruvius, Arquitextos 027,
Texto Especial 142, publicado em agosto de 2002. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp142.asp>.
Acessado em: 10 de novembro de 2009.
14 PORPHYRIOS, D. A pertinência da arquitetura clássica (1989). Pós-modernismo: as respostas da arquitetura à crise do
modernismo. In: NESBITT, Kate (Org.) Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica (1965-1995). São Paulo: Cosac
Naify, 2006, p. 111
15 GARCEZ, Bruno. Brasil está entre maiores da economia mundial, diz FMI. BBC Brasil, publicado em 26 de abril de 2009. Dis-
ponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/26_fmibrasilbg.shtml>. Acessado em 18 de novembro de 2009.
16 BOCCHINI, Bruno. Brasil “exporta” projetos sociais para países da América do Sul. Agência Brasil: Empresa Brasil de Comunica-
ção. Última atualização: 24 de novembro de 2009. Disponível em:<http://www.agenciabrasil.gov.br/notícias/2009/11/24.0185052054/
view>. Acessado em: 07 de dezembro de 2009.
25
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
O Brasil, além de participar ativamente nas decisões políticas relativas à crise
global, ainda enfrenta o desao de superar problemas crônicos que não constam na
lista de preocupações dos países do primeiro mundo, como a distribuição de renda,
o baixo nível de escolaridade da população, as mazelas do sistema público de saúde e
o aumento do décit habitacional.
Se por um lado os adeptos da cultura High Tech demonstram em suas atitudes
projetuais a plena conança no poder da tecnologia enquanto instrumento indispensá-
vel à criação de soluções lógicas, racionais e ecologicamente corretas para o mundo
contemporâneo - assolado pela crise econômica e à beira de um colapso ecológico
-; eles também promovem arquiteturas coadunadas aos interesses de uma clientela
situada no topo da pirâmide: as megaempresas multinacionais, as companhias mono-
polistas ou instituições representativas do mais alto capitalismo.
Esse casamento bem sucedido entre arquitetura e megaestruturas empresa-
riais se pauta fundamentalmente numa engendrada estratégia de marketing criada à
luz da pós-modernidade: a materialização de um modelo arquitetônico que sintetiza na
“Forma e Conteúdo” uma imagem institucional adequada ao caráter simbólico entro-
nizado por seus edifícios-sede, ou seja, dotado de atributos estéticos e tecnológicos,
indispensáveis para assegurar sua sobrevivência e concorrência frente a um mercado
nanceiro extremamente competitivo.
Na contramão dessa tendência neoliberal, Lelé jamais colocou seus conheci-
mentos a serviço dos interesses escusos do setor privado, muito menos se rendeu aos
ditames imperativos da moda. Nos cinqüenta anos de atuação prossional, Lelé proje-
tou a partir da aplicação dos mais variados sistemas construtivos, centenas de obras
sociais nanciadas pelo setor público: escolas, creches, hospitais, edifícios administra-
tivos, auditórios, igrejas, mobiliários urbanos, assim como mobiliários, equipamentos e
sistemas de infra-estrutura.
Através de constantes pesquisas e dos resultados práticos obtidos no âmbito
da tecnologia das construções, Lelé tem demonstrado que é possível inovar sempre,
buscar uma identidade à arquitetura contemporânea brasileira que sintetize aspectos
de interesse global, a partir de um raciocínio projetual ancorado em suas próprias leis
e nas intrínsecas relações com o meio ambiente e a esfera social.
26
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Lelé: Creche construída com elementos pré-fabricados de argamassa armada
Favela de Bom Juá, Salvador, 1982.
Lelé: Passarela de Pedestres. Avenida Bonocô, Salvador, 2008
27
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Dimensão tecnológica e dimensão social não são termos inconciliáveis na ar-
quitetura de Lelé, posto que a existência de uma, cria subsídios para realização da
outra. No entanto, o que acontece aos olhos da sociedade é um “estranhamento inicial”
quanto à inserção de uma arquitetura tecnologicamente e espacialmente bem resolvida
em territórios completamente degradados e abandonados, tornando evidentes os con-
itos e diferenças sociais que alguns governantes, arquitetos e cidadãos ngem não
enxergar.
É bastante comum a construção de obras com signicativo potencial tecnológi-
co em zonas urbanas privilegiadas, como também não é estranho perceber que o vulto
dessas arquiteturas seja dimensionado a favor do processo de requalicação de espa-
ços, ocupação dos vazios urbanos, reutilização do patrimônio instalado, bem como a
intensicação e mistura dos usos, a exemplo do que comparece na proposta de Canary
Wharf, o empreendimento mais ousado das Docklands em Londres.
17
Salvo raras exceções, quase nunca são realizadas intervenções nas áreas de-
gradas ou obsoletas, sem que haja por trás do pacto rmado entre o poder público e
privado, a intenção de remodelar toda a paisagem urbana numa escala monumental,
criando um lugar com imagens e funções alteradas que sugere tanto novas formas de
apropriações do espaço como também o arrebanhamento de outro tipo de público.
Casos de intervenções menores e pontuais que garantam melhores condições
de vida às classes menos favorecidas, quase nunca são priorizadas, especialmente
nos modelos de requalicação urbana implantados nos países de primeiro mundo que
permite a gestão da cidade segundo uma lógica neoliberal, cuja prática urbanística
passa a ser fragmentada e dispersa, de acordo com as oportunidades, as vantagens
competitivas e as respostas de um mercado consumidor cada vez mais globalizado,
embora de expressões localizadas como, por exemplo, na instituição de espacialida-
des propícias para novos pólos nanceiros e imobiliários transnacionais, ou de intenso
turismo cultural-recreativo.
18
17 “Canary Wharf oferece o melhor exemplo do jogo da incorporação e suas conexões com o mundo arquitetônico. É a versão am-
pliada de um processo repetido em todo o mundo. As propostas inglesas para o local em 1984 exigiam a conversão das estruturas
existentes em moradias, lojas escritórios e cafés. Porém, em 1985 um incorporador norte-americano, G. Ware Travesltead, surgiu
com uma proposta inteiramente comercial que previa densidade e grandiosidade muito maiores na arquitetura e na organização
urbana”. In: GHIRARDO. Diane. Arquitetura Contemporânea: Uma História Concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 221.
18 del RIO, Vicente. Voltando às origens: A revitalização de áreas portuárias nos centros urbanos (1). Portal Vitruvius. Arquitex-
tos 015. Texto Especial 091. Agosto de 2001. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp091.asp>. Aces-
sado em: 25 de novembro de 2009.
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
É nesse aspecto que Lelé se diferencia dos demais arquitetos globais por acre-
ditar que o projeto de arquitetura deve articular todos os conitos e complexidades
apresentadas em um determinado contexto, sem exigir que o espaço - seja ele urbano,
rural, periférico ou central -, assuma uma identidade ou valores que não lhe são próprio.
Quando a partir da década de 1980, Lelé desenvolve projetos de escolas, cre-
ches, centros comunitários, infra-estrutura e saneamento para favelas de Salvador ou
Rio de Janeiro, ele pretendeu soluções para reestruturação de espaços marginalizados
que tanto atendessem as demandas básicas da população carente, como garantissem
sua articulação com a cidade formal e legalmente reconhecida, sem que para isso fos-
sem necessárias as práticas de remoção e reassentamento compulsório.
Local de implantação das escadarias drenantes. Salvador, Vale do Camurugipe (1979-1982)
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Croqui: esquema de montagem das escadarias drenantes (argamassa armada)
Montagem do sistema de drenagem do esgoto (argamassa armada)
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Croqui: Esquema de montagem do sistema de macrodrenagem
Esse efeito tensional provocado pelo trabalho de Lelé torna-se um bem ne-
cessário para nos livrar do profundo estado de letargia e assim possamos recobrar a
esperança perdida quanto à idéia de que uma boa arquitetura (esteticamente limpa, ra-
cionalmente construída, ambientalmente responsável e socialmente engajada) também
pode e deve ir onde o povo está.
31
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
2.2. Projeto: atividade totalizadora que sintetiza na forma os
requisitos do programa
As formas arquitetônicas podem ser apreendidas a partir de critérios interpre-
tativos e analógicos pautados na observância das regras e métodos que as regem,
assim como por meio das relações que elas estabelecem com o seu imediato contexto
social, cultural ou econômico. Alguns críticos de arte do século XX como Abel Salazar,
Paul Frankl e Henri Focillon debruçaram-se sobre as mais variadas teorias de caráter
dogmático, intelectualista, subjetivo e até mesmo ideológico, objetivando dimensionar
o valor das estruturas formais no mundo das artes.
1
No livro A vida das formas, Henri Focillon conclui que “a obra de arte é uma me-
dida de espaço, é forma, e é isso que interessa reter, antes do mais.”
2
Do mesmo modo
que para as artes plásticas, essa noção torna-se admissível ao entendimento da forma
como parte do processo metodológico arquitetural quando ela deixa de ser apenas a
derivação de convenções estéticas para assumir a condição de estrutura essencial e
interna necessária a construção do espaço e da matéria.
Embora habitual confundir o conceito de forma com o de imagem visual
3
(apa-
rência epidérmica ou representação iconográca), é preciso esclarecer que para além
das intenções plásticas e dos sistemas de signos que a forma possa comportar, ela é,
antes de tudo, a síntese geométrica de uma idéia, a expressão de um pensamento que
pressupõe soluções lógicas e criativas às mais variadas necessidades humanas quan-
to ao uso e apropriação do espaço.
1 CONSIGLIERI, Victor. A Morfologia da Arquitetura 1920-1970. 3.ed., Lisboa: Editorial Estampa, 1999, v.2, p. 13.
2 FOCILLON, Henri. A Vida das Formas. Lisboa: Edições 70, 2001. 136p.
3 Segundo Martine Joly, a analogia é o ponto comum entre as diferentes signicações da imagem. Uma imagem é tudo aquilo que
se assemelha com as pessoas e os objetos do mundo concreto. A imagem assume a condição representativa de uma realidade
simulada, sendo denida como signo analógico que tem na semelhança o seu mecanismo de funcionamento. JOLY, Martine. Intro-
dução à Análise da Imagem. 11. ed. Campinas: Papirus, 2007. p.39.
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
No sentido de eliminar os equívocos que pairam sobre a noção de forma e a
de imagem, Josep Maria Montaner dene que “o conceito de forma é completamente
diferente ao de imagem (que representa o objeto) e ao de signo. O signo expressa, e
a forma, ao contrário, se expressa. enquanto os signos se esgotam e desvanecem, as
estruturas formais permanecem e renovam seus signicados, e podem ser interpreta-
das de diversas maneiras.”
4
Os teóricos gestálticos, a exemplo de Henri Lefebvre, defende a idéia de que
as formas arquitetônicas não mantêm qualquer vinculação com os eventos do mundo
real, o que equivale dizer que tais estruturas são apenas o resultado prático da aplica-
ção de leis matemáticas, comportando-se como objetos totalmente independentes das
dimensões semânticas, funcionais e programáticas e sociais.
5
De modo semelhante, alguns arquitetos como Peter Eisenmann, baseando-se
nas novas visões do estruturalismo e da semiologia, admitem que os elementos formais
possam ser interpretados como entidades isoladas ou autônomas, o reexo de um pro-
cesso formativo e conceitual, onde a idéia prevalece sobre o objeto físico nal.
6
Nesse
sentido, a obra de arquitetura convertida em categoria abstrata, e cuja substância con-
siste em explicar os seus próprios mecanismos de ação, só será possível num espaço/
tempo ausente de história ou avesso a qualquer tipo de interferência do homem e do
seu meio.
4 MONTANER, Josep Maria. As Formas do Século XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2002, p.14.
5 CONSIGLIERI: 1999, p. 25.
6 MONTANER: 2002, p.78.
Peter Eisenmann: Diagrama da House XI
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
o arquiteto, matemático e crítico de arquitetura moderna, Christopher Ale-
xander, contradiz essa premissa ao denir a forma como sendo o objeto nal do projeto,
a solução para um problema exposto, isto é, quando o problema é estabelecido confor-
me certas necessidades humanas, a forma emerge como uma resposta funcional aos
desejos e prioridades determinadas pelos futuros usuários.
7
As formas arquitetônicas - sejam elas derivadas de um pensamento estrutu-
ralista, racional ou mesmo originárias por analogia do mundo natural e orgânico -, são
estruturas envolventes que se materializam a partir da dialética conciliatória entre os
conteúdos internos e externos do espaço, impondo os limites físicos sugeridos pelas
necessidades humanas de uso individual, coletivo, privado ou público.
A depender das bases teórico-conceituais, dos recursos tecnológicos disponí-
veis, das exigências programáticas funcionais e condições sócio-ambientais que jus-
ticam e alicerçam cada decisão projetual; as formas arquitetônicas podem assumir
7 ALEXANDER, Christopher. Notes on the Synthesis of Form. 9. ed. Cambridge: Harvard University Press, 1977, p. 1.
Peter Eisenmann: House VI
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
diferentes níveis de complexidade estrutural (conguração), de arranjos volumétricos
(composição) e sistemas de organização espacial (disposição). O que signica dizer
que a forma, considerada como parte de uma reexão crítica sobre o tempo, o espaço e
o ser, não está subjugada a uma fórmula fechada (tratados, normas e categorias estilís-
ticas), mas sim denida por uma matriz metodológica exível e aberta que permita a ela
moldar-se às realidades objetivas e subjetivas do mundo contemporâneo em constante
transformação.
2.2.1 Programa, Lugar e Forma
Para conseguir avançar na reformulação das teorias sobre as
formas, é necessário demonstrar que: a diversidade de formas
é agrupável em um repertório limitado de lógicas ou mundos for-
mais; em cada um destes mundos é possível detectar as raízes
e as leis que os regem; existem implicações entre as formas e
as éticas; existem teorias cientícas, losócas, estéticas e políti-
cas que, interligadas a tais repertórios de formas, os legitimam,
e denem distintas concepções do tempo e do sujeito; cada pos-
tura recorre a certas técnicas materiais e concepções da estrutura
construtiva, e cada mundo formal se comporta de determinada
maneira em relação ao lugar e ao contexto urbano; este repertório
tende a um tipo ou outro de formas em função da personalidade
de cada criador.
8
JOSEP MARIA MONTANER
Frente aos vários motivos que imperam sobre a escolha e pertinência das for-
mas integradas ao trabalho de cada arquiteto, vale dizer que o repertório e a expressão
da arquitetura de Lelé advêm do mais puro domínio técnico da construção, dos sensí-
veis critérios de implantação do edifício e do cuidadoso cumprimento das necessidades
objetivas e subjetivas do programa. Muito embora as obras vinculadas a Rede Sarah
derivem de uma metodologia projetual e sistemas construtivos comuns, cada edifício
apresenta certa particularidade estética, seja pelo aspecto compositivo, disposição es-
pacial ou inserção de estruturas formais especícas em razão dos inúmeros vínculos
que o programa estabelece com a tradição cultural, a realidade socioeconômica, os
valores humanos, a disponibilidade de recursos e as condicionantes locais (clima, to-
pograa, vegetação, acessibilidade, dimensões do terreno).
8 MONTANER, Op.cit. p.12.
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
O ato projetual é um exercício ancorado no princípio das concessões, a arte de
equilibrar as tensões que operam no limite entre o ideal e o possível, diz Lelé:
“Por vezes, uma situação inesperada faz com que sigamos um caminho diferente
do que estávamos habituados. A meu ver, a forma é uma conseqüência daquilo que
o projeto solicita enquanto problema a ser resolvido de modo inteligente pelo arqui-
teto. Nem na vida, nem na arquitetura existe uma fórmula pronta para os problemas
que surgem.”
9
Ainda que Lelé considere a implantação horizontalizada como uma solução
mais ecaz à determinação dos acessos, uxos de circulação (equipamentos e pesso-
as), desempenho dos sistemas de ventilação e iluminação, bem como a setorização e
integração dos ambientes hospitalares - a exemplo do padrão morfológico adotado an-
teriormente nas unidades de Salvador (1991) e São Luís (1993) -, o projeto do Hospital
Sarah Fortaleza (2001) fugiu a regra, admitindo um partido misto horizontal-vertical mais
compacto no intuito de adaptar o conteúdo programático às especicidades do lugar.
Explica o arquiteto:
“Grande parte do terreno destinado à construção desse hospital era ocupada por
um bosque de árvores frutíferas. A deliberação de preservá-lo para o lazer dos pa-
cientes e terapias ao ar livre implicou em redução signicativa da área disponível
para a implantação das construções que, dessa forma, tornou-se insuciente para
a desejável adoção do mesmo partido horizontal do hospital de Salvador. Assim, foi
necessário verticalizar a internação em um bloco de sete pavimentos, localizado,
como convém, entre os setores de serviços gerais e os setores técnicos. Em cada
extremidade desse bloco foi projetada uma torre destinada à circulação vertical
(dois elevadores e escada) e a sanitários.”
10
9 Entrevista realizada pela autora com o arquiteto Lelé em 24 de Outubro de 2007, Salvador.
10 Trecho extraído do Memorial Descritivo do Projeto do Hospital Sarah Fortaleza. Fonte: Acervo do CTRS (Centro de Tecnologia
da Rede Sarah).
Lelé: Hospital Sarah Fortaleza, 2001. Partido Arquitetônico
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Lelé: Hospital Sarah Fortaleza, 2001. Partido Arquitetônico
Hospital Sarah Fortaleza, 2001 - Perspectiva da Ala das Enfermarias e Área de Fisioterapia
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Na busca de prover o máximo de luz, ar, natureza e saúde aos ambientes in-
ternos, Lelé produziu no gesto do arco que abriga o bloco vertical das enfermarias, a
síntese formal de uma ação integralizada, criando um espaço ajardinado com dimen-
sões generosas, voltado ao desenvolvimento de atividades terapêuticas, de lazer e
convivência.
A exemplo do que se realizou no Hospital Sarah Fortaleza, o edifício do Evelina
Children’s Hospital, desenhado em 2005 pelo arquiteto britânico Michael Hopkins como
parte da ampliação do St Thomas’ Hospital em Londres, possuí um enorme átrio, cujas
semelhanças formais, funcionais e técnico-construtivas em relação ao projeto propos-
to por Lelé, comparecem também como uma resposta mais apropriada às limitações
dimensionais da área disponível para sua implantação, bem como integrar a ala das
enfermarias ao solário, criado para promover o conforto ambiental do edifício e oportu-
nizar a socialização dos usuários.
O resultado formal adquirido pelo Evelina Children’s Hospital é uma resposta
criativa e hábil às condições de um terreno muito restrito, faceado por construções e
vias preexistentes. Um enorme átrio, abraçando a parte superior de três dos seis níveis,
forma o coração social do edifício e é a chave da concepção global, proporcionando
uma vista abrangente da cidade, permitindo também que a luz do dia inunde axialmente
todo o percurso que vai do átrio até o saguão previsto no piso térreo.
Corte do Hospital Sarah Fortaleza - Solários, Bloco Vertical de Enfermarias e Área de Hidroterapia,
Lazer e Convivência.
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
St Thomas’ Hospital - Planta de Localização
Michael Hopkins: Evelina Children’s Hospital, 2005. Vista Panorâmica
39
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Tipologicamente, este hospital é uma variante da forma átrio combinado a es-
tratégia de colocar três andares de enfermarias acima das três alas de tratamento e
diagnóstico. Cada um dos três níveis inferiores é composto por dois blocos paralelos de
cada lado do saguão (que formam a “base” do átrio), enquanto os três blocos do nível
superior ocidental são substituídos pelo solário que tem como efeito prolongar o átrio
até a borda do edifício.
Semelhante à proposta do Sarah Fortaleza, o átrio do Evelina Children’s Hos-
pital, equipado com uma escola e cafeteria, apresenta uma solução formal capaz de
fornecer um ponto de encontro aos pacientes e familiares, funcionando também como
uma área de eventos ocasionais. Ao admitir enormes quantidades de luz natural, o
solário oferece um ambiente terapêutico e de cura, respondendo às necessidades de
seus jovens pacientes que o identicam como “um ambiente não hospitalar” e que lhes
confere a sensação de estar ao ar livre quando nem sempre isso é possível, propician-
do, sobretudo, alívio da rotina hospitalar e do tratamento.
11
Para ambos os arquitetos a identidade formal da arquitetura conforma-se como
uma conseqüência direta das urgências e ações que estruturam o programa. A materia-
lização de uma obra a partir da articulação de formas consistentes é o que dá vida aos
espaços que, bem mais do que uma área compartimentada da construção, é o lugar
onde as atividades acontecem e as relações humanas são construídas.
11 HYETT, Paul and JENNER, John. Rebuilding Britain’s Health Service. In: PRASAD, Sunand (ed.). Changing Hospital Architec-
ture. London: RIBA Publishing, 2008, p. 143-144.
Evelina Children’s Hospital - Corte Transversal
Key
1- Shared Waiting
2- Academic Department
3- Medical Day Case Ward
4- Renal Outpatients Department
5- Recovery
6- Conservatory
7- Ward
40
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Evelina Children’s Hospital - Perspectiva Isométrica
41
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Evelina Children’s Hospital, 2005
Ala das enfermarias com vista para a área de convivência (escola infantil e cafeteria)
Hospital Sarah Fortaleza, 2001
Ala das enfermarias com vista para a área de hidroterapia, sioterapia, dança e convivência
42
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Hospital Sarah Fortaleza, 2001
Vista do átrio (Cobertura em arco metálico com sistema de brises móveis)
Evelina Children’s Hospital, 2005
Vista do átrio (Cobertura em arco metálico com brises móveis)
43
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
2.2.2 Programa, Tecnologia e Forma
Lelé entende que a arquitetura contemporânea deve ter como princípio a pos-
sibilidade de acompanhar as transformações do mundo, adaptando-se aos avanços
tecnológicos e aos novos modos de vida dos usuários, para que assim o seu caráter
utilitário e sua integridade formal sejam preservados. Ele observa:
“Eu acho que a arquitetura é uma coisa útil. A música, por mais bela que seja, ain-
da assim é inútil. Ela não produz para a humanidade serventia alguma, a não ser
agora quando usada por uma minoria como parte de uma estratégia de marketing
para vender discos, mas a rigor é uma arte inútil. A arquitetura tem a sua utilidade.
Evidentemente que o arquiteto deve criar uma arquitetura que seja utilizável pelas
pessoas. É por isso que no Centro de Tecnologia da Rede Sarah a gente luta pela
exibilidade e extensibilidade dos ambientes construídos. Nós propomos partidos e
formas arquitetônicas que possam se adaptar ou comportar novas funções a partir
da reconguração espacial, porque sabemos que os programas são efêmeros, eles
tornam-se obsoletos em pouco tempo. O que vai acontecer com essa innidade de
prédios espalhados pelas cidades que não se ajustam as novas tecnologias, pro-
gramas e funções?”
12
A arquitetura de Lelé nasce a partir de bases conceituais que permitem à forma
incorporar a funcionalidade sem dobrar-se a ela. A estreita vinculação do repertório for-
mal com o conteúdo programático e, ao mesmo tempo, a necessidade de transcendê-
lo, faz com que suas obras mantenham uma qualidade objetual intacta ainda quando o
programa é reformulado.
Na visão de alguns arquitetos contemporâneos, a tríade - ‘programa, tecno-
logia e forma’- constitui aspectos que se articulam mutuamente ao longo do processo
projetual. O repertório de estruturas formais não se manifesta deliberadamente por
uma questão de gosto pessoal do arquiteto, mas como a síntese daquilo que, a partir
do emprego de uma tecnologia apropriada (materiais, técnicas, sistemas e meios de
produção) e do conceito de programa aberto (exível quanto às possibilidades de uso),
seja capaz de denir os limites físicos da construção, o caráter representativo funcional
do objeto arquitetônico, a organização espacial e uma composição tectônica coerente
no que se refere ao potencial poético e a racionalidade tecno-construtiva da arquitetura.
Diz Richard Rogers:
12 Entrevista realizada pela autora com o arquiteto Lelé em 24 de Outubro de 2007, Salvador.
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
“Eu acredito no rico potencial da sociedade moderna industrial. Esteticamente se
pode fazer o que desejar com a tecnologia, pois ela é uma ferramenta, não um m
em si mesmo, mas nós ignoramos isto por nossa conta e risco. Para nossa prática
este funcionalismo naturalmente tem uma beleza intrínseca. (...) A forma do edifício,
planta, secção e elevação, deve ser capaz de responder às mudanças necessárias.
Esta livre e mutável representação torna-se parte da expressão arquitetônica do
edifício, da cidade e da rua. Programa, ideologia e forma devem desempenhar um
papel integrado e legível às mudanças, mas dentro de uma lógica ordenada. Quan-
to menores as restrições da construção para os usuários, maior o êxito, e quanto
melhor os resultados maiores serão as possibilidade de revisão e transformação e
então, a indeterminação programática tornar-se-á uma expressão da arquitetura.”
13
Do mesmo modo que o arquiteto britânico, Lelé sempre considerou a tecnolo-
gia como um recurso indispensável à proposição de sistemas e formas exíveis que
possam absorver as alterações exigidas pelo programa. No caso do projeto de am-
pliação da Sede do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (2008), o emprego do sistema
construtivo composto por elementos pré-fabricados em argamassa armada e estrutura
metálica, foi um dos aspectos determinantes à integração do pavilhão anexo com os
demais blocos propostos na primeira etapa da obra.
A unidade formal do complexo, localizado no Centro Administrativo da Bahia,
manteve-se completamente inalterada ao obedecer a um raciocínio projetual, ancorado
na idéia de que somente é possível garantir a legibilidade e o sentido de globalidade da
arquitetura quando os seus elementos e subelementos são harmonicamente e hierar-
quicamente organizados.
O conceito de modulação
14
intnseco aos processos construtivos racionalizados, a
exemplo do sistema pré-fabricado aplicado nos projetos da Rede Sarah, propicia tanto a e-
xibilidade de uso dos espos internos, como tamm favorece posteriores reformas, amplia-
ções, manuteões e adaptações em geral requeridas pelas necessidades de alteração do
programa. Signica dizer que os projetos podem comportar as mais arrojadas solões arqui-
tetônicas devido ao caráter independente e intercambiável dos subsistemas construtivos - (es-
trutural, vedão, cobertura e instalação) - que se inserem de maneira compatível e integrada
entre si, sendo que cada um deles cumpre um papel especo sem interferir no desempenho
funcional das demais ou mesmo comprometer o padrão estético e compositivo da edicação.
13 ROGERS. Richard. Observations on Architecture. In: JENCKS, Charles and KROPF, Karl. Theories and Manifestoes of Con-
temporary Architecture. London: Academy Edition, 1988, p. 252-253.
14 A coordenação modular consiste no uso de um módulo base para estabelecer os parâmetros dimensionais da arquitetura. Atra-
vés das quadrículas modulares, é possível compatibilizar os diversos projetos de uma mesma construção (arquitetônico, estrutural,
instalação e cobertura). A coordenação modular também favorece a comunicação entre projetistas, fabricantes e construtores
devido à denição de um sistema métrico pré-xado que norteia todas as etapas do processo, garantindo à obra um tratamento
formal e construtivo uniforme.
45
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
O estabelecimento do partido arquitetônico do Tribunal Regional Eleitoral da
Bahia foi orientado a partir das seguintes diretrizes: a) limitar a construção em dois ou
três níveis, de modo a permitir sua implantação por etapas ajustáveis ao plano de apli-
cação dos recursos do tribunal; b) criar total exibilidade na ocupação dos espaços in-
ternos, sobretudo os destinados a escritórios, visando seu fácil remanejamento futuro;
c) estabelecer plano de implantação e sequência de obras, de maneira que as etapas
subsequentes não prejudiquem o funcionamento das já concluídas.
1
2
3
4
5
6
1 - Estacionamento
2 - Bloco de Serviço
3 - Auditório
4 - Prédio Principal
5 - Cartórios
6 - Pavilhão Ampliado (Biblioteca, Salas de Treinamento e Escritórios)
Unidades concluídas (1998)
Projeto de ampliação (2008): conclusão da obra prevista para 2010
Maquete de Ampliação do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia
Pavilhão (Anexo) interligado ao Prédio Principal (Bloco Preexistente) por meio de passarelas
1
46
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Já quando se trata de um programa hospitalar, os desaos o ainda maiores, pois
o projeto deve prever espaços que possam crescer e se adaptar às novas dinâmicas da
rotina hospitalar e avanços no âmbito da medicina moderna referentes à inserção de novos
equipamentos e modalidades terapêuticas. Portanto, os conceitos de exibilidade e exten-
sibilidade, incorporados à maioria de seus projetos, constituem um modo de operar com a
imprevisibilidade de necessidades conituosas, faz parte de um processo de projetação que
aposta na possibilidade de alterações em fuão da incerteza quanto às expectativas de
usos futuros da arquitetura, sem causar prejuízo à expressão formal do conjunto edicado.
No depoimento de Lelé:
A industrialização exibilizada adotada no processo de fabricação dos hospitais e de-
mais edifícios projetados no Centro de Tecnologia da Rede Sarah só é posvel com a
tecnologia do o, pois o concreto torna a obra mais cara em função do grande mero
de peças diferentes que exigem moldes melicos caríssimos. o aço facilita mais. A
tecnologia da argamassa armada e do aço também apresenta algumas vantagens signi-
cativas em relão ao concreto armado quanto à leveza, economia e transportabilidade
dos componentes p-fabricados, além de permitir uma maiorexibilidade espacial.”
15
Prosseguindo no racionio de Lelé:
O o possui uma exibilidade enorme. É fantástico como se pode usá-lo de mil manei-
ras. As formas de prodão doo são relativamente baratas. As dobradeiras e soldas
evoluíram muito. Antigamente, o perlI” era produzido pela metalurgia de modo ao
oferecer muita exibilidade quanto ao seu uso. A prodão era limitada às bitolas for-
necidas. Hoje, atras do desenvolvimento da solda, é posvel produzir o perl “I, “T
ou U” que quiser. Houve um avanço incrível por causa dos problemas gerados pelas
estruturas das grandes constrões e, principalmente, por conta da instria automobi-
lística, que ims um desenvolvimento enorme para que as pas apresentassem maior
resistência à corroo.
16
15 Entrevista realizada pela autora com o arquiteto Lelé em 08 de abril de 2003, Salvador.
16 Entrevista realizada por Adriano Carneiro de Mendonça com o arquiteto Lelé em 18 de janeiro de 2007 - Centro de Tecnologia
da Rede Sarah, Salvador.
Maquete de Ampliação do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia
Pavilhão de Escritórios incorporado posteriormente ao complexo (posicionado no primeiro plano da imagem).
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Além das vantagens relacionadas à economia da produção, logística de trans-
porte e exibilidade de uso dos espaços construídos, a tecnologia do aço possibilita
a criação de formas mais ricas, complexas e ecientes. As curvaturas das marquises
ou as ondulações das coberturas dos Hospitais da Rede Sarah, garantida pelo caráter
maleável do aço, mais do que elementos contentores de grande expressividade plásti-
ca, são a tradução de uma gestualidade que nasce em concordância com os inúmeros
problemas técnicos do projeto, sobretudo, da capacidade que alguns arquitetos têm de
entender a forma como síntese de programa, construção e lugar.
2.2.3 Projeto: representação e funcionamento das formas
Grandes escritórios como Foster+Partners, Gehry+Partners, Morphosis Archi-
tects, NOX, Arup e Grimshaw-Architects empregam sosticados programas de compu-
tador a exemplo do “GenerativeComponents” para auxiliar o desenvolvimento, produ-
ção, gerenciamento, controle e execução da arquitetura. Esses programas baseiam-se
nos conceitos de desenho algoritmo, paramétrico e associativo aplicáveis às quatro
etapas do projeto arquitetônico: a fase de concepção e exploração tridimensional da
forma; o desenvolvimento de componentes inteligentes que se adaptam a diferentes
situações no edifício; o controle de produção dos componentes através de processos
automatizados (prototipagem rápida) e a extração dos desenhos convencionais (bidi-
mensionais) do modelo tridimensional para documentação da obra. Além das mídias
utilizadas na denição do projeto arquitetônico, outros programas auxiliares como o
“Computational Fluid Dynamics (CFD)” são usados para testar o efeito de diferentes
sistemas ambientais sobre a eciência energética do edifício.
Embora Lelé conceba seus projetos com base nos conceitos de representa-
ção geométrica euclidiana, ao contrário do que se observa, por exemplo, no método
aplicado por Norman Foster a partir das possibilidades tecnológicas da era digital, o
que interessa a ambos, independentemente dos caminhos percorridos, é chegar a um
resultado formal condizente com os parâmetros de desempenho predeterminados no
projeto.
Lelé acredita que os novos programas computacionais de simulação e modela-
gem empregados na geração de categorias inéditas de objetos com alto nível de com-
plexidade formal, nem sempre são garantia de eciência e coerência construtiva, visto
48
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
que muitas das experimentações realizadas em nome da “inovação” acabam esbarran-
do no mito da aparência e na subutilização dos recursos tecnológicos disponíveis:
“Acho que o computador é extremamente necessário, é um instrumento formidável,
mas não da maneira leviana que está sendo usado. A formação do arquiteto exige
a utilização de um instrumental diferente e muito mais amplo, ainda que possa se
apropriar dos recursos do computador. O computador, às vezes, destrói a escala do
desenho e a noção de composição da arquitetura. Por isso que têm certas coisas
ainda arcaicas, mas necessárias na nossa formação de arquiteto, por exemplo, o
desenho a mão como registro das primeiras idéias.”
“Cabe a cada um, saber até que ponto está perdendo alguma coisa indispensável
para criar em arquitetura através do uso do computador. Aqui no Centro de Tec-
nologia da Rede Sarah, por exemplo, nós usamos o AutoCAD para desenvolver
os desenhos de planicação das peças ou quando o projeto requer uma solução
gráca muito complexa. Nesse caso, o computador é usado como um instrumento
de apoio insubstituível.”
17
A substituição dos recursos tradicionais de desenvolvimento dos projetos de
arquitetura por recursos computacionais tem feito com que muitos arquitetos reduzam
a arquitetura a uma mera abstração, propondo estruturas, volumes e superfícies com-
plexas, muitas vezes ininteligíveis, e completamente descomprometidas com o conte-
údo programático e expectativas do homem contemporâneo quanto ao uso, conforto e
identicação com o espaço construído.
17 Entrevista realizada pela autora com o arquiteto Lelé em 08 de abril de 2003, Salvador.
NOX: Water Pavilion, Interactive Museum - Neeltje Jans Island, 1997
Os volumes, superfícies e revestimentos do edifício foram gerados parametricamente. A forma do proje-
to remete a imagem de uma baleia encalhada, muito embora, o desejo do arquiteto fosse apenas criar
sistemas contínuos e disformes sem vinculação analógica com quaisquer estruturas do mundo real. A
ruptura com as convenções tradicio-nais da arquitetura torna-se evidente no interior do edifício, onde os
pisos se transformam em paredes e as paredes em cobertura.
49
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
No entanto, o uso das ferramentas computacionais pode promover avanços
consideráveis quando a forma deixa de ser um objeto fechado em si mesmo para tor-
nar-se um produto gerado a partir da equalização de todos os dados e condicionantes
do projeto - questões ambientais, características do solo, programas e funções.
Chris Abel aponta como as mídias digitais podem ser utilizadas de modo cons-
ciente à obtenção de formas arquitetônicas condignas às questões de eciência ener-
gética e desempenho estrutural exigidas no projeto, sem que para isso seja preciso
lançar mão de soluções morfológicas extravagantes e incompreensíveis:
“As técnicas de modelagem desempenharam um papel importante na conguração
da torre de escritórios da Swiss Re, Londres, e da nova sede para a Greater Lon-
don Authority (GLA). Como exemplo do quanto as questões energéticas e ambien-
tais inuenciam a arquitetura de Foster, ambos os desenhos evoluíram a partir de
formas geométricas simples em algo muito mais complexo, exigindo inteiramente
novos métodos de produção arquitetônica. Começando como um cilindro puro, o
formato de bala que o edifício da Swiss Re apresenta atualmente foi gerado sob o
impacto progressivo de diferentes modelos de computadores, assim como resultou
da tentativa dos arquitetos e engenheiros de integrar todos os fatores principais do
projeto. Projetado para minimizar o efeito das forças do vento sobre a estrutura he-
licoidal, a forma aerodinâmica do edifício além de reduzir o peso da estrutura, reduz
qualquer uxo descendente, acabando com as conhecidas condições do vento em
torno da base dos arranha-céus onde normalmente os pedestres se aglomeram.
O ‘skycourts’ espiral - uma evolução das ‘skygardens’ desenvolvidas no projeto do
Commerzbank - além de garantir ao Swiss Re, o seu caráter social e espacial único,
também desempenham um papel importante no funcionamento do sistema de con-
trole climático do edifício: as diferenças de pressão criadas em torno da estrutura
auxiliam a ventilação natural através das ‘skycourts’ que forçam a entrada do ar no
sentido barlavento e empurra-o para fora na direção sotavento.”
18
Prosseguindo no tema sobre funcionamento e desempenho das formas, os hos-
pitais da Rede Sarah, especialmente aqueles implantados na região nordeste do país,
cujas temperaturas médias anuais variam de 20
o
a 25
o
C, integram o mesmo conceito
projetual, baseado na premissa de explorar a ventilação e iluminação natural como uma
estratégia necessária a criação de um microclima propício ao bem-estar dos usuários.
No caso da unidade de Fortaleza (1991-2001), o conjunto de sheds da cobertura possui
uma geometria peculiar, projetada com dimensões e ângulos especícos para promover
a difusão homogênea da luz do sol, como também favorecer o conforto térmico dos am-
bientes por meio de dois princípios diferentes de ventilação natural que podem operam
simultaneamente: o sistema de convecção e o sistema de ventilação cruzada.
18 ABEL, Chris. Architecture, Technology and Process. Oxford: Architectural Press, 2004, p. 141 e 144.
50
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Norman Foster - Sede da Swiss Re
(1998-2002) Croqui do Edifício
Norman Foster - Sede da Swiss Re, Londres
(1998-2002) Vista do Edifício
Norman Foster - Sede da Swiss Re (1998-
2002) Modelo confeccionado por
prototipagem rápida
Norman Foster - Sede da Swiss Re (1998-2002)
Simulação computadorizada da força dos
ventos sobre o edifício
51
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
O resultado formal dos sheds é fundamental para assegurar o conforto am-
biental e a eciência energética das unidades hospitalares projetadas por Lelé. A forma
da cobertura do edifício é fruto de uma estratégia projetual inteligente que não está
condicionada apenas a valores de ordem estética, mas prioritariamente as condições
climáticas do local.
A qualidade objetual da arquitetura de Lelé advém da pertinência da forma aos
requisitos funcionais do programa e cuja eciência deve-se ao reajuste no desenho
das peças quando necessário corrigir algum problema técnico identicado nos projetos
anteriores, o qual não é resolvido a partir do emprego de sosticadas ferramentas com-
putacionais, mas pelo sensível raciocínio sintetizado nos traços feitos a mão.
Considera Lelé:
“Gostaria de trabalhar como um designer, mas estou muito aquém disso. Do ponto
de vista conceitual, meu trabalho seria isso: juntar partes. A indústria, de modo ge-
ral, assume a recorrência, a repetição para se aprimorar. Mas se eu tivesse repetido
o shed de Salvador em Fortaleza não teria aprimorado nada. Através das pesquisas
que z e da sua justa aplicação, hoje tenho uma consciência maior sobre como
funciona o shed. O princípio de cobertura em shed é recorrente, mas a desenho da
cobertura não é o mesmo. Tem sempre uma novidade, algum aperfeiçoamento.”
19
O pesquisador Jorge Isaac Perén ao analisar o funcionamento dos sistemas
de ventilação e iluminação naturais aplicados nos hospitais da Rede Sarah, identicou
uma considerável alteração na forma dos sheds da cobertura da unidade de Fortaleza
em relação à solução proposta para Salvador:
19 Entrevista realizada por Adriano Carneiro de Mendonça com o arquiteto Lelé em 18 de janeiro de 2007 - Centro de Tecnologia
da Rede Sarah, Salvador.
Hospital Sarah Fortaleza - Cobertura em shed
52
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
“No Sarah Salvador adaptou-se ao shed uma pestana (testeira) - peça de metal
acoplada ao shed que funciona como brise, protegendo os ambientes internos da
iluminação solar direta. Mas, essa proposta de shed teve alguns problemas: devido
ao calor, a pestana sofria dilatações que deformavam a peça e, quando chovia,
havia problemas de inltração.”
“A superfície côncava, próxima a boca da pestana teve que ser pintada de azul
para reduzir o calor reetido para dentro do ambiente (...). No hospital de Fortaleza
ocorre uma clara mudança no desenho dos sheds. Para impedir o ganho de calor
consequente da forma côncava do shed, inverteu-se a superfície frontal. Surge en-
tão uma superfície convexa, que evita a radiação de calor para dentro do shed.”
20
20 PERÉN, Jorge Isaac. Ventilação e Iluminação Naturais na Obra de João Filgueiras Lima, Lelé: Estudo dos Hospitais da Rede
Sarah Kubitschek Fortaleza e Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado, Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São
Paulo, 2006. p. 165.
Forma dos Sheds do Hospital Sarah Salvador (1991)
Forma dos Sheds do Hospital Sarah Fortaleza (1991)
53
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
A geometria dos sheds também é gerada em função da setorização do progra-
ma, organização espacial dos espaços internos e modulação dos componentes pré-
fabricados. No Caso do Centro de Apoio ao Grande Incapacitado Físico do Lago Norte
(2003), a cobertura na forma de uma imensa onda foi concebida a partir da junção de
duas treliças metálicas curvas, capazes de vencer um vão de trinta e oito metros com
poucos pontos de apoio. Esse raciocínio projetual não apenas determinou a expressão
formal e as condições de conforto térmico e luminoso do edifício, mas também a cria-
ção de um espaço generoso e contínuo, favorável ao desenvolvimento das atividades
esportivas e terapêuticas a que se destina: basquetebol, aulas de dança e hidroterapia.
Croqui da Cobertura do Ginásio do Centro de Apoio ao Grande Incapacitado Físico
Centro de Apoio ao Grande Incapacitado Físico do Lago Norte - Brasília, 2003
Corte Esquemático: Setorização do Programa
54
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Centro de Apoio ao Grande Incapacitado Físico do Lago Norte - Brasília, 2003
Interior do Ginásio de Esportes
Centro de Apoio ao Grande Incapacitado Físico do Lago Norte - Brasília, 2003
Cobertura em Shed do Ginásio e Cobertura em Arco do Cais
55
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Outro aspecto observado é que os códigos formais característicos da arquite-
tura de Lelé, muitas vezes, descendem dos princípios estruturais e artifícios mecânicos
estabelecidos ao adequado funcionamento do edifício. No caso do desenho da enorme
calota branca do auditório do Hospital Sarah Rio (2002-2009), coroada por uma semi-
esfera composta por reluzentes pétalas de alumínio móveis, carrega em essência um ar-
gumento que transcende a ingênua idéia de que a forma nasce do traço despretensioso
do arquiteto. Ao contrário, a forma é gerada por traços precisos - gestos que traduzem
todo o conhecimento e domínio técnico - necessário à resolução das contingências do
programa, viabilidade construtiva e legibilidade da obra.
Lelé: Vista Panorâmica do Hospital Sarah Rio (2002-2009)
Auditório de planta circular, concebido como unidade independente e destacada em relação aos
demais blocos (lado esquerdo da foto)
Croqui: Auditório do Hospital Sarah Rio
56
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
O volume desse edifício foi gerado pela translação de uma viga sinuosa ao
redor de um eixo inclinado, o qual foi determinado em função da abertura superior,
posicionada de modo a garantir a necessária incidência de luz natural sobre o palco.
Quando fechada, a superfície interna da cúpula funciona como um grande espelho
esférico que reete os raios de luz produzidos pelas luminárias instaladas no topo da
parte afunilada do corpo do edifício.
Auditório do Hospital Sarah Rio: Calota Fechada
Auditório do Hospital Sarah Rio: Calota Aberta
57
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
O sistema móvel da calota do auditório, desenvolvido como recurso técnico
fundamental à entrada de luz natural e consequente redução do consumo energético
do edifício, também representa uma conquista em termos formais. O movimento des-
crito pelas enormes pétalas metálicas, auxiliado por um mecanismo motorizado, conse-
gue transformar de maneira surpreendente o caráter imagético do edifício quando, ao
longo do dia, a cobertura se abre ou se fecha como uma or.
Esse mesmo sistema foi adotado por Santiago Calatrava na concepção do Flo-
ating Pavilion (1989). Embora esse projeto nunca tenha saído do papel ou do compu-
tador, como queira, o princípio de mobilidade continua sendo usado como base para
as criações do arquiteto espanhol que, assim como Lelé, vem explorando a idéia de
“kinetic architectural components” (componentes arquitetônicos móveis) a favor da am-
pliação das potencialidades funcionais e estéticas da arquitetura.
A estrutura auto-equilibrada do auditório é formada por um vigamento radial de
dupla curvatura. As vigas são engastadas por duas cintas de diâmetros diferentes. A cinta
metálica superior, localizada próximo do topo dos pilares, exerce um papel fundamental
na estabilidade do edifício ao absorver os esforços de compressão. o anel de con-
creto, executado ao nível do solo, absorve os esforços de tração, funcionando como um
tirante que permite apenas a transferência dos esforços verticais aos blocos de fundação.
Lelé: Detalhe dos Componentes Móveis
Cobertura do Auditório do Sarah Rio
Santiago Calatrava: Detalhe dos Componentes
Móveis. Cobertura do Floating Pavilion
58
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Devido à inclinação do edifício, os vigamentos metálicos treliçados, além de
apresentarem comprimentos diferenciados entre si, possuem secções com alturas que
variam de acordo com o valor das cargas distribuídas ao longo de cada trecho. Essa
postura adotada equivale a um pensamento projetual amparado no conceito de econo-
mia dos meios e na teoria de que a máxima expressão plástica do conteúdo pode ser
obtida com o mínimo de elementos, onde a esbelteza e organicidade são garantidas
através do justo dimensionamento estrutural e uso responsável dos materiais e siste-
mas construtivos.
Santiago Calatrava. Planta e Elevações do Floating Pavilion. Lake Lucerne, Suíça (1989)
59
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Montagem das Vigas Metálicas Curvas do Auditório do Hospital Sarah Rio
Exterior do Auditório do Hospital Sarah Rio
60
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
A simplicidade da geometria circular adotada adveio da necessidade de asse-
gurar um espectro de visão confortável, independente da posição que o usuário assu-
ma na arena em relação ao palco. O auditório também atende satisfatoriamente aos
critérios acústicos do projeto, idealizado como um espaço de palestras e não à execu-
ção de grandes concertos musicais ou apresentações teatrais, o que exigiria a eleição
de uma morfologia diferente, que a solução circular é indicada para ambientes que
não pretendam uma função acústica complexa.
A despeito das críticas ventiladas acerca da falibilidade do axioma “a forma segue a
fuão”, defendido até meados do culo passado pela vertente funcionalista da arquitetura
moderna, essa xima permanece o somente no pensamento de Le, mas também
no imaginário de muitos outros arquitetos contemponeos que acreditam na relação entre
forma e função como uma condição interna do problema projetual e que, necessariamente,
não constitui impeditivo algum à geração de arquiteturas autênticas e criativas.
Interior do Auditório do Hospital Sarah Rio
Capacidade: 400 lugares
Piso Circular: 36 m de diâmetro
Domus: 13 m de diâmetro
Altura: 18 m
61
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Segundo Paul Kalkhoven, arquiteto senior do escritório Foster+Partners, o pro-
grama arquitetônico exige sempre uma forma adequada ao cumprimento de sua função
e, muito embora, exista na contemporaneidade um número innito de possibilidades
formais facilitadas pelo uso das novas mídias e recursos computacionais ou determina-
das pelas convenções das novas teorias de arquitetura, nem sempre a complexidade
ou exuberância da forma se presta para aquilo que a arquitetura determina enquanto
aspecto essencial:
“Às vezes, uma nova forma pode ser a resposta certa, mas eu penso que a forma
segue a função, isso ainda é uma boa maneira de pensar a arquitetura. O arquiteto
deve saber o que está resolvendo. A forma não é a primeira coisa. Você tem que de-
senvolver uma idéia e uma solução. Há muitas formas possíveis, mas apenas uma
forma é certa e o que é certo a ser construído, talvez seja uma forma simples.”
21
21 Entrevista realizada pela autora com Paul Kalkhoven no dia 27 de julho de 2009, Londres.
62
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
2.3. Detalhe essencial: a busca da elegância e precisão do desenho
(...) Na discussão sobre o papel do detalhe como unidade mínima
no processo de signicação (isto é, na manipulação do signi-
cado), é importante rearmar que a arquitetura é tanto uma arte
como uma prossão, fato que se deduz do conhecimento gerado
pelo detalhe como junção. A arquitetura é uma arte porque se
ocupa não só da necessidade primordial do abrigo, mas também
da união de espaços e materiais de uma maneira signicativa.
E isso que se realiza por meio das junções formais e reais. É na
junção, isto é, no detalhe fértil, que têm lugar tanto a construção fí-
sica [constructing] como a construção do signicado [construing].
1
MARCO FRASCARI
2.3.1 A importância do detalhe
Pormenor, particularidade, minúcia, minudência e tantas outras palavras, ex-
traídas dos dicionários da língua portuguesa, como sinônimo do termo “detalhe”, ainda
revelam muito pouco ou quase nada quanto a sua real apropriação semântica, e porque
não dizer, da sua condição ambivalente no campo da disciplina arquitetônica.
A denição de detalhe, segundo o pesquisador Gilberto Belleza, é aceita na
cultura arquitetônica como a menor escala compreensível de um todo construído, a
especicação de um desenho que ilustra uma redução do projeto, o qual é executado
para melhor referenciar ou enfatizar os aspectos pretendidos pelos arquitetos.
2
1 FRASCARI, Marco. The Tell-The-Tale Detail (1984). In: NESBITT, Kate. Theorizing a New Agenda for Architecture: An Antho-
logy of Architectural Theory 1965-1995. New York: Princeton Architectural Press, 1996, p. 511-512.
2 BELLEZA, Gilberto Silva Domingues de Oliveira. O Detalhe como Arquitetura: uma pesquisa sobre um trabalho prático. Tese
de Doutorado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2003, p. 10.
63
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Ao longo da história da arquitetura, a palavra “detalhe” admitiu inúmeras inter-
pretações: ora subordinada à idéia de ornamento enquanto artifício e princípio denidor
da expressão artística da arquitetura, ora como um requisito técnico indispensável à
sua perfeita execução.
Na acepção do termo, o detalhe construtivo, detalhe técnico ou detalhe arqui-
tetônico, como se queira denominar, deve carregar em sua matriz conceitual, tanto o
interesse em revelar o caráter comunicativo da arquitetura (o detalhe como um sistema
de articulação na linguagem arquitetônica), quanto o tipo de metodologia construtiva
representada no projeto ao cumprimento dos objetivos operacionais da arquitetura (o
detalhe como fator da resolução técnica do objeto construído), conclui Marco Frascari:
“(...) Uma coluna é tanto um detalhe como um todo maior, e um templo
redondo clássico, uma totalidade, às vezes é um detalhe quando é uma lanterna
no topo de um domo. Na literatura arquitetônica, colunas e capitéis são detalhes
clássicos, mas também são os piani nobili, os pórticos e as pérgulas. O problema da
escala e da dimensão nessas classicações e a relação entre edículas e edifícios
tornam as denições de dicionários inúteis na arquitetura. Pode-se armar, porém,
que todo elemento arquitetônico denido como detalhe sempre é uma junção. Os
detalhes às vezes são “juntas materiais”, como no caso do capitel, que é a ligação
entre o fuste de uma coluna e a arquitrave, às vezes são “juntas formais”, como um
pórtico é a ligação entre um espaço interno e um externo. Assim, os detalhes são
um resultado direto da diversidade de funções que existe na arquitetura.”
3
3 FRASCARI, Marco. Op.cit. p. 501.
Templo Erectéion, Grécia - Atenas, 421 a.C - 405 a.C
64
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Isto signica dizer que o detalhe tem o papel de denir e revelar, indistintamente
e de modo indissociável, os valores estéticos e técnico-construtivos de uma edicação,
que ele não é apenas uma diretriz na qual o construtor se orienta para executar uma obra
com precisão e grandeza, mas presta-se também “a contar a história de sua feitura.”
4
Somente através da leitura dos detalhes representados no projeto torna-se possível iden-
ticar “porque”, “para que” e “como” uma determinada arquitetura foi concebida.
Embora saibamos a razão pela qual alguns monumentos e edifícios foram eri-
gidos pelas civilizações pré-medievais, ainda hoje, a comunidade cientíca especula
sobre como os povos egípcios ou gregos, por exemplo, executaram seus fabulosos
templos e pirâmides com tamanha destreza e precisão. Visto que só há fragmentos de
textos com informações não conclusivas - quanto aos métodos construtivos utilizados
na época ou mesmo registros de desenho detalhados que poderiam falar por si só - fa-
tos como esses constituem enigmas da arquitetura que talvez nunca sejam completa-
mente desvendados.
5
4 SCARPA, Carlo (1981) apud NESBITT, Kate. Theorizing a New Agenda for Architecture: An Anthology of Architectural Theory
1965-1995. New York: Princeton Architectural Press, 1996, p. 498.
5 O programa “NOVA” da rede de TV americana PBS, lançou-se em 1997 ao desao de reconstruir uma pirâmide valendo-se das
técnicas supostamente utilizadas na época pelos egípcios. O egiptólogo Mark Lehner encarregou-se da tarefa de erguer uma
pirâmide com apenas 189 blocos de pedra, a uma altura de menos de seis metros, utilizando-se de quatorze ajudantes egípcios
e com o prazo de três semanas para sua completa execução. No decorrer do processo, eles testariam na prática diversas teorias
comuns propostas para explicar a antiga construção, milhares de vezes maior. No entanto, a egiptologia foi posta à prova. Lehner
não conseguiu realizar essa façanha no prazo estimado, sendo que apenas duas faces da pirâmide foram feitas a certo contento,
porém à custa de muita improvisação. Muito a sério, os egiptólogos não sabem exatamente como as pirâmides foram construídas.
Há muitas teorias, mas mesmo as melhores foram sequer provadas como plenamente factíveis - o que evidentemente envolveria
testes práticos em grande escala. Como se construíram as pirâmides, ou melhor, como foram construídas as pirâmides - perma-
nece uma interrogação.
Templo Erectéion: Pórtico das Cariátides (detalhe)
65
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Pirâmide de Quéops, Egito
Parthenon, Grécia-Atenas
66
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Grande parte da documentação datada do período clássico resume-se a textos
que revelam a existência e a necessária utilidade dos detalhes para a arquitetura, mas
pouco informa sobre como eles foram desenvolvidos e empregados à perfeita execu-
ção da obra, acrescenta Mario Mendonça de Oliveira:
“Através dos textos antigos, igualmente, é que temos conhecimento de que os mo-
delos não se resumiam somente à volumetria do edifício, mas também aos detalhes
diversos, que envolviam diversas partes da construção. Estes detalhes iam desde
certos tipos de pedra de formas especiais, a serem utilizadas na fundação, até
protótipos de telhas de mármore para a cobertura, e os detalhes decorativos de
acabamento.”
6
Se as construções realizadas pelas culturas pré-medievais ainda guardam seus
mistérios, hoje, toda e qualquer arquitetura pode ser decifrada, a priori, sem maiores
complicações. Com o advento dos métodos modernos de representação gráca, o ar-
quiteto é capaz de informar no projeto como as partes da construção se articulam entre
si e comportam-se em relação ao conjunto da obra. Em outras palavras, “o exercício
do detalhamento é o que dá forma às decisões gerais do projeto, representando-as de
modo reconhecível e ordenado em várias partes.”
7
, considera Vittorio Gregotti.
Ao contrário do que se possa imaginar, a questão do detalhe não está vincula-
da apenas ao universo das convenções básicas de representação gráca, mas como,
a partir das especicações denidas no desenho, seja possível decodicar os procedi-
mentos matemáticos, as leis normativas, a solução geométrica, o comportamento me-
cânico dos materiais, assim como as potencialidades do sistema construtivo proposto
de acordo com as necessidades funcionais e estéticas da arquitetura.
Além do mais, o detalhe exerce um papel importante quanto às possibilidades de
inovação e invenção da arquitetura. Inovar e inventar signica encontrar respostas origi-
nais e efetivas a um problema exposto, seja a partir de sábias alternativas para resolver
um antigo ou um novo problema de arquitetura. O detalhe é um aspecto do projeto que
corrobora o avanço do estudo da arquitetura enquanto disciplina prática, pois é, sobretu-
do, pelas vias do detalhamento técnico que se torna posvel apreender como os arqui-
tetos desenvolvem, representam, aplicam, controlam e materializam suas novas idéias,
transformando desenhos ilustrados no papel em um objeto concreto e autêntico.
6 OLIVEIRA, Mario Mendonça de. Desenho de Arquitetura Pré-Renascentista. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Uni-
versidade Federal da Bahia, 1976.
7 GREGOTTI, Vittorio. The Exercise of Detailing (1983). In: NESBITT, Kate. Theorizing a New Agenda for Architecture: An An-
thology of Architectural Theory 1965-1995. New York: Princeton Architectural Press, 1996, p. 496.
67
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
2.3.2 O detalhe da construção e a construção do detalhe
A liberdade de criação reside na habilidade que o arquiteto possui de comuni-
car-se. Caso ele não consiga valer-se com devida propriedade da linguagem técnica
enquanto recurso mestre à estruturação e transmissão do pensamento arquitetônico,
fatalmente, o resultado nal da obra cará muito aquém das intenções estabelecidas
inicialmente no projeto.
Do mesmo modo que um músico busca na justa integração das notas a ob-
tenção da delidade sonora e melodia equilibrada, o caráter harmônico da arquitetura
de Lelé é, sobretudo, obtido pelo do alto padrão de detalhamento projetual, o qual se
conforma como condição fundamental para determinar a integridade construtiva e a
qualidade compositiva da obra executada.
Na visão de Lelé, o ato de projetar não constitui um processo de criação indivi-
dual e puramente intuitivo, o qual possa manter-se desarticulado com os vários níveis
de conhecimento e competência técnica demandada à exeqüibilidade do objeto arqui-
tetônico. Nesse sentido, a arquitetura enquanto linguagem e prossão prática exige que
o arquiteto, autor e detalhista do projeto, tenha uma compreensão geral do processo,
estando apto a conceber e controlar todos os detalhes da construção e a construção
de todos os detalhes.
Cada projeto implica na formulação de um raciocínio, um tipo de tratamento e
detalhes próprios ante a escala e complexidade concernentes ao problema de arquite-
tura. No caso do projeto do Hospital Sarah Fortaleza, a precisão dos detalhes constituiu
um aspecto crucial para garantir a operacionalidade do sistema de vedação lateral e
da cobertura arqueada que se prolonga até o nível do solo de um dos lados do edifício
e em toda a sua extensão, abrigando de modo integrado os espaços das enfermarias,
sioterapia e convivência.
O arquiteto desenvolveu alguns desenhos cnicos que exemplicam, de maneira
bastante didática, o processo de montagem do painel tipo colméia usado no fechamento
lateral da cobertura. A riqueza de informações vericadas nos detalhes do sistema de apoio
e xação do painel com as torres de circulão vertical e o arco estrutural da cobertura foi
um aspecto essencial para garantir a exeibilidade da obra, pois quanto maior o rigor na
elaborão e aplicação dos detalhes, menores serão as chances de erros na constrão.
68
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Hospital Sarah Fortaleza. Vista do Fechamento Lateral Tipo Colméia e do Arco Metálico da Cobertura
Detalhe 1: Fixação do Painel Tipo Colméia com a Torre de Circulação
69
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Detalhe 2: Fixação do Painel no Arco
Hospital Sarah Fortaleza (exterior)
Vista do trecho da cobertura arqueada do bloco de internação, revestida com chapa de aço corrugada.
70
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Na projeção do trecho ajardinado, a cobertura e o forro metálico foram substitu-
ídos por peças metálicas horizontais móveis que, de acordo com os detalhes ilustrados
no projeto, deveriam executar movimentos sincronizados em torno de seus respectivos
eixos centrais através de um motor controlado por relógio. Esses brises metálicos fo-
ram projetados para girar lentamente acompanhando o movimento descrito pelo sol,
favorecendo a ventilação dos ambientes e a proteção do jardim interno contra a inci-
dência direta dos raios solares.
Após a montagem da cobertura, Lelé concluiu que o conforto ambiental do blo-
co de internação poderia ser obtido sem a movimentação das lâminas metálicas, desde
que elas fossem xadas em uma posição estratégica, formando um ângulo variável
com o nível do piso em função de seu posicionamento ao longo da superfície circular
segundo a qual estão dispostas.
Hospital Sarah Fortaleza: Jardim Interno
Trecho composto por brises móveis
71
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
O caráter tecnológico da arquitetura de Lelé, baseada nos princípios de pré-fa-
bricação de componentes de argamassa armada e estruturas de aço, advém do conhe-
cimento apurado do arquiteto sobre aspectos relativos ao comportamento dos materiais
(coeciente de dilatação e resistência mecânica) e os detalhes de fabricação e mon-
tagem do edifício (tipos de junções, articulações, encaixes, cortes, dobras, rejuntes,
soldas e furos) que devem ser considerados à integração de todas as partes do sistema
de modo racional e eciente.
Hospital Sarah Fortaleza
Detalhe 3: Brises Móveis da Cobertura em Arco. Corte Vertical
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Segundo Lelé, o tratamento rigoroso quanto às especicações técnicas e re-
presentações grácas do projeto é fundamental para assegurar a racionalidade cons-
trutiva da obra, posto que a resolução do problema da construção industrializada ou
pré-fabricada está no nível do detalhe. Isto signica dizer que qualquer diferença míni-
ma de escala pode afetar consideravelmente os meios de realização e, consequente-
mente o desempenho do edifício, argumenta o arquiteto:
“A arquitetura continua sendo uma forma de integrar tecnologias, mas é preciso que
os sistemas construtivos sejam bem integrados. Você não está produzindo uma
grande arquitetura se você tem uma soma de tecnologias altamente sosticadas
não-integradas. Eu acho que a nossa tecnologia tupiniquim, repetindo aí o apelido
que você mencionou, ela propõe uma integração de técnicas que estão ao nosso
dispor para serem usadas corretamente. Aqui no Centro de Tecnologia da Rede
Sarah nós usamos a argamassa armada e o aço para executar nossos edifícios.
A gente tem que dominar as duas tecnologias e saber como uma se comporta em
relação à outra e vice-versa. A gente tem que saber fazer a coisa de modo que ela
funcione. A aplicação da tecnologia da chapa dobrada, por exemplo, pressupõe
um grau de detalhamento muito grande e um saber especíco sobre as formas de
produção e montagem dos componentes. Tudo tem que ser dimensionado com pre-
cisão para efeito de ajuste das peças, pois as estruturas metálicas, a rigor, aceitam
espaçamentos na ordem de dois a três milímetros. Se você não especica isso bem
no projeto vai dar com os burros n’água, pois nada vai encaixar.
8
A idéia defendida por Lelé de que a perfeição está nos detalhes é igualmente
compartilhada por outros arquitetos como Renzo Piano, Norman Foster, Nicholas Gri-
mshaw e Richard Rogers que, ao longo de suas trajetórias prossionais, jamais subes-
timaram o poder da representação do detalhe como aspecto decisivo à viabilidade do
projeto, especialmente no que diz respeito ao cumprimento das necessidades funcio-
nais e estruturais da arquitetura.
Tanto assim que essa profícua relação entre o detalhe construtivo e o status fun-
cional da arquitetura foi levada ao extremo por Norman Foster durante o processo proje-
tual da sede da Hongkong Shanghai Bank (1979-86). A determinação de expor as peças
da armação estrutural para o lado de fora do edifício signicou uma decisão audaciosa,
a qual exigiu soluções avançadas de detalhes que pudessem garantir a estanquidade e,
sobretudo, a estabilidade da construção frente às peculiares climáticas do local. Todas
as junções da estrutura pré-fabricada, formada por pilares compostos tipo Vierendeel,
interligados a vigas horizontais e suportes em cruz, foram projetadas para resistir à pe-
netração de água durante condições extremas geradas pelos tufões típicos da região.
8 Entrevista realizada pela autora com o arquiteto Lelé em 24 de Outubro de 2007, Salvador.
73
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Norman Foster: Detalhe das conexões da estrutura do edifício Hongkong Shanghai Bank.
Vista da Sede do Hongkong Shanghai Bank (HSBC)
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
O raciocínio desenvolvido no edifício Hongkong Shanghai Bank é semelhante
ao que foi aplicado por Lelé para a concepção dos detalhes necessários à execução
dos reservatórios de água dos hospitais da Rede Sarah. Muito embora, o nível de
complexidade e as condicionantes a que o projeto de Norman Foster estava submetido
fossem de natureza bastante diferente.
No caso do projeto dos reservatórios do hospital Sarah Lago Norte, o desenho
dos detalhes determinou as características dimensionais, a disposição e o modo como
os anéis de argamassa armada pré-moldada devem ser fabricados e montados para
suportar o volume e a pressão da água reservada, além de impedir possíveis vazamen-
tos por entre as junções das peças.
Sede do Hongkong Shanghai Bank (HSBC) - Elementos estruturais aparentes
75
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Centro de Apoio ao Grande Incapacitado Físico, Lago Norte. Corte do Reservatório de Água
Planta. Casa de Máquinas
76
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
2.3.3 O detalhe como expressão do processo
Se a arte do detalhamento está na união dos materiais, elementos, compo-
nentes e partes de uma construção num todo coerente, isso depende da habilidade do
arquiteto de eleger sistemas construtivos que se alinhem com as contingências estéti-
cas e funcionais do projeto, pois só assim é possível resolver em detalhes aquilo que a
tecnologia determina em razão de suas potencialidades e limitações.
Portanto, a junção de partes de uma construção consiste na tarefa de integrar
tecnologias com sensibilidade e elegância, buscando no detalhe do projeto o ajuste
equilibrado entre os materiais empregados, de modo que as características e expres-
sões próprias de cada um mantenham-se preservadas no conjunto da obra.
O Malet Place Engineering Building (2005), concebido por Nicholas Grimshaw,
e os projetos de Lelé para os Tribunais de Contas da União, ilustram a relevância do
detalhe na justa integração dos diversos sistemas construtivos, como também a valo-
rização da aparência verdadeira dos materiais em prol da qualidade compositiva da
arquitetura e da legibilidade do processo construtivo.
Planta. Casa de Máquinas
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Nicholas Grimshaw - UCL Malet Place Engineering Building, Londres, 2005
UCL Malet Place Engineering Building - Fachada Principal
União da viga metálica
com a alvenaria de tijolo
cerâmico.
Sistema de proteção da
fachada composto por es-
truturas metálicas e peças
laminadas de madeira.
78
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Detalhe 1
Detalhe 2
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Integração de materiais heterogêneos: tijolo cerâmico, vidro, aço.
Lelé: Sede do Tribunal de Contas da União de Minas Gerais (1997)
80
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
O tratamento elegante concedido aos diversos materiais e elementos constru-
tivos, constitui um fator importante à denição da coerência estética da arquitetura. O
interesse de ambos os arquitetos é revelar em todos os detalhes a honestidade dos
revestimentos e materiais aplicados, o modo como eles são admitidos na construção a
m de estabelecer um sentido de ordem quanto à hierarquia funcional dos subsistemas
e suas relações de contraste - cheios e vazios, transparência e opacidade, robustez e
leveza, claro e escuro.
Sede do Tribunal de Contas da União de Minas Gerais: Sistema Construtivo
81
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Detalhe 1: Conexão entre as vigas transversais e a treliça metálica
Interior da Sede do Tribunal de Contas da União de Minas Gerais
Sistema Construtivo Misto (argamassa armada e estruturas de aço)
82
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
A concisão construtiva e a identidade formal da obra de Lelé, assim como a de
outras arquiteturas concebidas a partir de uma lógica produtiva racional e seus modos
de representação, são alcançadas mediante o requinte do detalhe técnico, o desenho
de elementos ajustados às necessidades especícas do projeto, o rigor da montagem
dos componentes e utilização de uma linguagem tecnológica, a qual admite a máxima
valorização dos materiais e sistemas construtivos pelos seus verdadeiros atributos me-
cânicos, estéticos e simbólicos.
Hall do prédio do Tribunal de Contas da União de Minas Gerais
Honestidade no trato dos revestimentos, materiais e subsistemas construtivos (cobertura, vedação e
estrutura) no sentido de expor e valorizar suas qualidades estéticas e funcionais, bem como revelar di-
daticamente o processo construtivo do edifício.
83
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
2.4. Tecnologia construtiva, eciência energética e conforto ambiental
(…) en el desafío ecológico hay un elemento radical de crítica a
ciertos aspectos de la modernidad y de la civilización occidental:
señala un puento de inexión en el desarollo del hombre desde el
renacimiento. Constituye un aviso de que la transformación de la
naturaleza por parte del hombre y su tendencia a imponer criterios
desde de los centros culturales hacia las periferias, tiene unos lí-
mites. El grand reto es si la humanidad, con las herramientas de la
tecnología, será capaz de corregir los errores que amenazan las
condiciones naturales de la vida. La ecología también nos habla
de la búsqueda de una nueva modernidad en la que se transfor-
men los paradigmas, una modernidad superada en la que la ar-
quitectura y el urbanismo tienen una de las mayores responsabili-
dades para superar los elementos más destructores y de dominio
del racionalismo y de la propia modernidad.
1
JOSEP MARIA MONTANER
2.4.1 Sustentabilidade: um novo ou um velho paradigma da arquitetura?
A sustentabilidade é considerada um dos mais novos paradigmas do século 21
e, um assunto pertinente a todos, muito embora, seja para a maioria um termo confuso
em razão do seu caráter abrangente. Trata-se de um conceito sistêmico que está rela-
cionado com os mais diversos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da
sociedade humana. Essa “maleabilidade conceitual”, ou porque não dizer, a imprecisão
que o termo sugere, admite inumeráveis equívocos quanto à sua utilização ou quantos
equívocos possam ser admitidos a partir da sua subjetividade semântica e dos interes-
ses de quem dele se apodera.
1 MONTANER, Josep Maria. La modernidad superada: arquitectura, arte y pensamiento del siglo XX. Barcelona: Gustavo Gili,
1997, p. 221.
84
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Affonso Ramirez Ponce recorda que a idéia de sustentabilidade, mencionada
pela primeira vez em 1970, veio para substituir o conceito de ecologia e que, relaciona-
do com o meio e o desenvolvimento, apareceu em 1980 na publicação da UCN - Union
for the Conservation of Nature - intitulada “Estratégia para a conservação do mundo.”
2
No ano de 1987, a Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Na-
ções Unidas apresentou o documento “Nosso Futuro Comum”, anunciando o sentido
de desenvolvimento sustentável como sendo “os caminhos do progresso social, eco-
nômico e político que o satisfazem as necessidades do presente, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.
Ao longo dos anos, a palavra sustentabilidade tornou-se uma espécie de jar-
gão empregado extensivamente por arquitetos, políticos, economistas, sociólogos e
ambientalistas para denir um conjunto de intenções tão ambiciosas que, para serem
consolidadas, necessitariam, na mesma grandeza, de uma reformulação ética e orga-
nizacional das bases sob as quais estão estruturadas as sociedades globalizadas, ou
seja, uma mudança das políticas econômicas, do modelo de produção capitalista e do
estilo de vida que instituímos.
Vale à pena chamar a ateão sobre como o arquiteto e professor, JoTabacow,
posiciona-se diante da amplitude e indenição atribuída ao conceito de sustentabilidade:
“É opinião generalizada que o conceito de sustentabilidade perdeu sua clareza e
denição. Os diversos signicados atribuídos ao termo, por mais multidisciplinar que
se lhe pretenda o alcance, acabam constituindo um desao quando a proposta de
identicar os limites, atualmente exibilizados pelas variadas interpretações. Em con-
seqüência, qualquer análise de quaisquer problemas ambientais, ao fazer uso dos
sentidos nele contidos sem denir quais acepções são aceitas ou recusadas, conta-
mina-se com a carga de deformação que tal nebulosidade carrega.”
Continua Tabacow:
“Por outro lado, como tantos outros que, por uma razão ou outra, assumiram valo-
res carismáticos, o termo sustentabilidade - e sua derivação direta desenvolvimen-
to sustentável - passou a emprestar status àquilo que rotula, ainda que de forma
leviana, inadequada, equivocada ou mesmo mal-intencionada. Tal disgramatismo
decorre da aplicação política de um conceito que nasceu cientíco e vem tendo uso
espório cada vez mais freqüente, ao lado dos outros acima relacionados.
2 PONCE, Affonso Ramirez. Arquitetura regional e sustentável. Portal Vitruvius. Arquitextos 095. Texto Especial 466, publicado
em abril de 2008. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp466.asp>. Acessado em: 15 de setembro de
2008.
85
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Teixeira Coelho, oportuna e ironicamente, aponta a relação direta que existe entre
o comprimento das palavras e a pseudoqualidade que estas dão ao conceito do
discurso. Em suma, quanto maior a palavra, mais importante se sente a pessoa que
a usa. Para este propósito, sustentabilidade encaixa-se como uma luva!”.
3
Na versão simplicada apresentada no novo dicionário Aurélio
4
, -‘sustentabili-
dade’- é aquilo que agrega a qualidade de sustentável, signica sobrevivência, entendi-
da como a perenidade dos empreendimentos humanos e do planeta. Pode-se dizer que
este conceito, por sua natureza polivalente, se aplica indiscriminadamente a qualquer
setor relacionado às atividades humanas desenvolvidas no meio em que vivemos.
No senso comum, a sustentabilidade é prover o melhor para as pessoas e para
o ambiente, tanto no presente quanto para um futuro indenido. O que signica o me-
lhor para a humanidade e meio ambiente? O que nos faz pensar na possibilidade de um
futuro promissor quando, hoje, sequer conseguimos interromper o processo de degra-
dação do planeta ou produzir um modelo de sociedade mais justa? Esse certamente é
o grande desao da contemporaneidade quanto a um novo posicionamento em relação
ao duelo de forças aparentemente antagônicas: progresso e preservação ecológica,
economia capitalista e igualdade social.
Segundo Pedro Jacobi
5
, professor de ciências sociais da Universidade de São
Paulo, a sustentabilidade traz uma visão de desenvolvimento que busca superar o re-
ducionismo e estimula um pensar e fazer sobre o meio ambiente diretamente vinculado
ao diálogo entre saberes, à participação, aos valores éticos como valores fundamentais
para fortalecer a complexa interação entre sociedade e natureza.
Frente às possíveis interpretações acerca do termo sustentabilidade, tornou-se
freqüente associá-lo às questões ecológicas e econômicas enquanto denominadores
comuns à preservação da vida no planeta, e sob o qual estão subjugadas todas as
outras formas de sustentabilidade, a exemplo do que hoje se entende por política, agri-
cultura, cidade e arquitetura sustentável, conformadas como categorias derivadas do
mesmo tema.
3 TABACOW, José. Sustentabilidade, euforia utópica ou logorréia estéril? In: GUERRA, Abílio (org.). Iniciativa Solvin 2006: ar-
quitetura sustentável. São Paulo: Romano Guerra, 2006, p.12.
4 FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo dicionário Aurélio. Dicionário eletrônico. Positivo Informática, versão 2005.
5 JACOBI, Pedro. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118, p. 203-204, mar., 2003.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/n118/16834.pdf>. Acessado em: 02 de maio de 2007.
86
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Bem da verdade, a matriz altruísta que legitimava o conceito de sustentabili-
dade foi alterada, converteu-se em um artifício para seduzir as massas. Agora ele é
integrado aos discursos políticos e das mega-empresas, virou um bordão de qualquer
campanha publicitária, desde aquela criada para vender cosméticos até empreendi-
mentos imobiliários.
Se a sustentabilidade é mesmo um “novo” paradigma mundial e, igualmente
da arquitetura, então o que poderíamos dizer sobre as produções de Norman Foster,
Renzo Piano ou Lelé que sempre priorizaram as necessidades humanas e ambientais,
a despeito de tal modismo ou consciência tardia?
Por medida de esclarecimento, a arquitetura sustentável é denida por Brian
Edwards como “habitação que encontra as necessidades reais e percebidas do presen-
te numa forma de fonte eciente enquanto provê uma condição de vizinhança atrativa,
segura e ecologicamente rica.”
6
Parece incongruente falar de arquitetura sustentável com uma conotação de
novidade, quando é condição primeira da disciplina arquitetônica apresentar soluções
inteligentes para situações conitantes, garantir ao homem um sentimento de satisfa-
ção e harmonia com o seu meio. Assim sendo, as questões de eciência e conforto
ambiental não estão apenas implícitas, mas constitui requisitos essenciais à prática
da prossão, independente das injunções políticas, sociais ou históricas deagradas a
qualquer tempo e lugar.
Diz Lelé:
“As pessoas falam de sustentabilidade como se tivessem descoberto a pólvora. Os
índios já construíam suas ocas com as matérias-primas disponíveis, sem qualquer
caráter depredatório. Havia uma economia naquilo, uma lógica quanto ao aprovei-
tamento dos espaços e a intenção de criar ambientes ventilados. Então, nada disso
é novo, mas é claro que a tecnologia atual evoluiu muito e, os arquitetos deveriam
usar esse instrumental para fazer uma arquitetura bem melhor em relação às cons-
truções dos povos primitivos. A sustentabilidade é um discurso que não se sustenta,
porque é mentiroso.”
6 EDWARDS, Brian. Towards a denition of Sustainable housing. In: EDWARDS, Brian; TURRENT, David. (Ed.). Sustainable
Housing: Principles & Practice. London: Taylor & Francis, 2005, p. 20.
87
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Prosseguindo:
“Eu acredito no processo de educação, informação e discussão sobre como o ho-
mem pode ainda preservar o que restou do planeta, ele tem essa obrigação. Eu
não vejo nada sendo feito, só vejo um discurso vazio. Tudo isso requer uma prática,
isso não é uma norma, é um exercício que deve existir a partir de uma cultura de
sustentabilidade. Desde o primeiro dia que você veio trabalhar aqui no CTRS, havia
um anúncio no refeitório dizendo: não deixe comida sobrando na bandeja. Isso é
sustentabilidade, então sustentabilidade não é apenas economizar na iluminação,
sustentabilidade é uma questão de educação e cultura. Não adianta fazer um dis-
curso e continuar usando os processos destrutivos que provocam um desperdício
de 30% de energia. Tudo passa pela educação, iniciativa e determinação para mu-
dar as coisas.”
7
Aproveitando as observações de Lelé sobre o tema, vale reforçar que o setor
da construção civil é apontado estatisticamente como um dos maiores responsáveis
pelo consumo energético do planeta, uma vez que absorve: “50% dos recursos mun-
diais em materiais, 45% da energia gerada para aquecer, iluminar e ventilar os edifícios
e 5% para construí-los, 40% da água utilizada no mundo para abastecer as instalações
sanitárias e outros usos nos edifícios, 60% da terra cultivável e 70% dos produtos rela-
cionados à madeira para a construção de edifícios.”
8
Embora os dados sejam expres-
sivos, Norman Foster considera um exagero atribuir aos arquitetos a total responsabili-
dade sobre o dilema energético que abre a atual crise:
“Los temas ambientales tienen un efecto a todos los niveles. Los edicios con-
sumen la mitad de la energía que se usa en el mundo desarrollado, en tanto que
una cuarta parte adicional se emplea en el transporte. Los arquitectos no podemos
resolver todos los problemas ecológicos del mundo, pero podemos diseñar edi-
cios que funcionen con una fraccíon del consumo de energía habitual, y también
podemos tener un efecto en los sistemas de transporte, a través de la planteación
urbana. La ubicación y la función de un edicio; su exibilidad y tiempo de la vida
útil; su orientación, forma y estructura; sus sistemas de ventilación y calefacción;
los materiales usados; todo esto tiene un impacto en la cuantidad de energia usada
para construirlo; administrarlo y mantenerlo, así como para viajar desde y hacia él.”
“Sustentable es un término que se ha puesto de moda en la última década. Sin em-
bargo, no se trata de una cuestión de moda, sino de supervivencia. La arquitectura
sustentable puede ser denida, simplesmente como aquella que logra el máximo
posible con un mínimo de recursos. La máxima miesiana de ‘menos es más’ es en
términos ecológicos exactamente lo mismo que el precepto proverbial ‘no desper-
dicies, no quieras más’.”
9
7 Entrevista realizada pela autora com o arquiteto Lelé em 24 de outubro de 2007, Salvador.
8 EDWARDS, Brian. Guía básico de la sostentabilidad. Barcelona: Gustavo Gili, 2004.
9 FOSTER, Norman. SIR NORMAN FOSTER: Arquitectura Sustentable. CUBOmag: Revista Internacional de Arquitectura, México,
n. 1, p. 63, Julio de 2007.
88
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Ainda que a discussão sobre o tema esteja bem longe de chegar ao m, ou
mesmo a um consenso entre as partes interessadas, é possível concluir que as de-
cisões que serão tomadas para garantir o nosso futuro não dependem apenas de es-
forços individuais ou iniciativas polarizadas. Elas devem ser tratadas em um âmbito
macroeconômico, a partir de medidas governamentais direcionadas à regulamentação
do uso, obtenção e conservação de energias, matérias-primas e água, visando diluir
os conitos ou velar pela estabilidade do sistema. Desse modo, não cabe somente aos
arquitetos levantar uma bandeira, mas participar da luta com as armas que têm.
2.4.2 Arquiteturas possíveis: um discurso sustentado na prática
Quando me perguntam sobre sustentabilidade, eu simplesmente
digo: sustentabilidade é um estado de espírito. Ou votem ou o
tem. Sim, nós podemos resolver vários problemas ambientais, mas
isso depende de um saber, uma vontade e persistência.
10
LELÉ
um provérbio que diz: “andorinha não faz verão”, popularmente usado
em aluo à idéia de que, sob dadas circunstâncias, o indiduo sozinho não é capaz de
resolver uma questão. Considerando a dimensão e complexidade dos problemas enfren-
tados pela sociedade contemporânea, essa máxima parece fazer todo sentido. Contudo,
se a superação da atual crise econômica e ambiental depende das decisões e ações de
cunho coletivo, é preciso que, antes de tudo, alguém se disponha a dar o “exemplo”.
Observa Luis Fernández-Galiano:
En este contexto de carestía energética al que se ha sumado la constatación por los cien-
tícos del calentamiento del planeta – se abre paso una nueva conciencia ecológica, que
retorma los asuntos y autores sepultados por lascadas de prosperidad, y que para los
que hemos vivido la anterior etapa tiene el aroma narcótico del déja vu y el sabor agridulce
de las causas perdidas. Con más optimismo de la voluntad que pesimismo de la razón, la
agenda verde se presenta como renovada ética civil, pero a menudo deviene poco más
que un instrumento de la correccn política en las relaciones públicas de los gobiernos, las
instituiciones o las empresa. Ignorante del substrato político y económico de las decisiones
ambientales o quizá dócilmente resignado a la impotencia frente a las fuerzas titánicas que
modelan nuestro mundo, el etiquetado verde termina siendo un apéndice o una coartada
que otorga la tina de las buenas intenciones a la arquitectura y al urbanismo, dos activi-
dades dicilmente separables de la violencia que ejercen sobre la naturaleza.
11
10 Entrevista realizada pela autora com o arquiteto Lelé em 24 de outubro de 2007, Salvador.
11 FERNÁNDEZ-GALIANO, Luis. La economía, ecologista: La construcción sostenible ante la crisis del petróleo. Arquitectura
Viva, n. 105, p. 25, 2005.
89
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Muito antes da cultura ecológica se tornar um tema de “grande interesse na úl-
tima década do século 20”, alguns arquitetos vêm demonstrando ao longo de suas tra-
jetórias que, para além dos discursos repletos de boas intenções, é possível consolidar
uma teoria na prática, a partir da promoção de arquiteturas que sirvam de lição sobre
como lidar sensível e positivamente com as questões de sustentabilidade.
Embora certas propostas arquitetônicas possam servir de inspiração para o
trabalho futuro de outros arquitetos, o que deve ser levado em consideração não é ape-
nas o resultado em si, mas os princípios aplicados ao longo do processo para validar
a adequabilidade de uma determinada experiência. Sendo assim, Lelé considera que:
“Toda obra de qualidade pode servir positivamente como um referencial, mas a
gente não pode levar tudo a ferro e fogo. A arquitetura não é criada a partir de uma
fórmula mágica. Cada situação impõe uma solução nova, muito embora possa-
mos aplicar em diferentes projetos uma mesma losoa. A minha arquitetura está
baseada no conceito da racionalidade da construção, nos modos de economia da
produção em série, na prática de oferecer ambientes confortáveis para as pessoas.
Eu faço isso não para seguir uma norma ou um interesse de marketing. Eu não
trabalho para o mercado. Agora se as pessoas dizem que meus projetos são sus-
tentáveis, tudo bem, mas desde sempre eu faço as coisas assim porque é assim
que eu penso, não conheço outro jeito.”
E acrescenta:
“Mas é claro que um indivíduo pode aproveitar de outras arquiteturas os fundamentos
básicos que o arquiteto usou para chegar naquele resultado. Você pode interpretar
uma idéia, um conceito e adaptar às condições do seu projeto, mas não para fazer
uma cópia. As obras que o Renzo Piano faz são maravilhosas, ele é um arquiteto que
eu gosto, mas o que ele produz pertence ao contexto onde o edifício é construído, as
condições do clima, as tecnologias que ele dispõe. Então, eu acho que a gente pode
aproveitar um conhecimento.
12
A partir do depoimento de Lelé, deduz-se que o fomento ou realização das
práticas sustentáveis na arquitetura independem de critérios normativos, selos de qua-
lidade ou regras padrão que estimulem a institucionalização da burocracia do saber
no lugar do bom senso do saber-fazer. Existe uma diferença clara sobre aquilo que se
entende como “os princípios que orientam uma experiência” e “as regras rígidas que
determinam um modelo absoluto”.
12 Entrevista realizada pela autora com o arquiteto Lelé em 24 de outubro de 2007, Salvador.
90
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Trocando em miúdos, o arquiteto deve valer-se de princípios e conceitos para
construir uma metodologia ou raciocínio que, estabelecido a partir da análise das variá-
veis, torne-se aplicável à resolução do problema exposto, sendo que o resultado nal é
fruto de um processo, uma experiência que jamais deve assumir a condição de modelo
fechado, mas servir como um sistema referencial exível que comporte as novas situa-
ções demandadas pela arquitetura.
Nesse aspecto, o trabalho de Lelé possui “apenas” o compromisso com a evo-
lução do processo, pois ainda que os princípios e conceitos mantenham-se os mesmos
em todo o conjunto de sua obra, cada novo projeto exige do arquiteto um raciocínio
próprio, uma atitude projetual e produtiva que se desenvolve a partir da prática referen-
ciada na experiência, visando o aprimoramento das soluções adotadas anteriormente.
Ao confrontar alguns projetos hospitalares desenvolvidos para a Rede Sarah,
a exemplo da unidade de Brasília (1976-1980), Salvador (1987-1991) e Rio de Janei-
ro (2000-2009), é notável que ao curso dos anos, as estratégias implementadas pelo
arquiteto foram aos poucos se reestruturando em função das novas exigências progra-
máticas, mas também pela crescente sosticação dos sistemas construtivos emprega-
dos para garantir, dentre outros aspectos, melhores resultados quanto ao desempenho
ambiental e energético da edicação.
No caso do hospital de Brasília, a necessidade de verticalizar parte do edifício,
em virtude da localização e dimensão do terreno, constituiu um fator adverso, tendo em
vista que as tipologias horizontais apresentam maiores vantagens quanto à organiza-
ção espacial, custo de produção e eciência térmica e luminosa da edicação.
No entanto, a concepção do projeto, baseada no uso de vigas vierendeel de
concreto, conformou-se como uma alternativa viável para o ajuste da estrutura ao es-
quema verticalizado do bloco de internação e quanto à determinação do conforto am-
biental requerido pela arquitetura. Nesse sentido, as enfermarias foram integradas aos
terraços-jardins adjacentes, dispostos de modo alternado para proteger as fachadas,
regular a incidência do sol, além de garantir o funcionamento adequado das áreas de
terapia e convívio social.
91
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Hospital Sarah Brasília, 1976 -1980
Fachada do Bloco de Internação: Aberturas Sextavadas das Vigas Vierendeel
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
A viga vierendeel de concreto armado funciona como um guarda-corpo com grandes aberturas que per-
mitem a iluminação e ventilação natural das enfermarias.
Croqui do interior das enfermarias conjugadas aos terraços-jardim
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Vista do terraço-jardim das enfermarias
Interior das Enfermarias: A iluminação natural dos espaços internos é garantida pelos vazios das vigas
contínuas do tipo “Vierendeel”, desenvolvidas ao longo das fachadas voltadas para o nascente e poente.
Através da imagem é possível identicar no mesmo ambiente a presença de trechos com elevado nível
de luminosidade e faixas sombreadas.
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A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Devido à verticalização dos pavimentos e a rigidez do sistema estrutural do blo-
co de internação, os espaços das enfermarias, embora uidos, valeram-se apenas do
sistema passivo de ventilação cruzada para amenizar as temperaturas internas. Além
disso, a incidência lateral da luz solar por meio das aberturas das vigas não resultou sa-
tisfatória. A iluminação constitui um fator de extrema importância à eciência e conforto
da edicação. Condições lumínicas inadequadas (baixos ou elevados níveis de lux por
atividade) podem reduzir e dicultar o desenvolvimento das atividades, assim como
provocar transtornos e fadiga visual, ofuscamento, dores de cabeça, alterações com-
portamentais e, até mesmo, variações na produtividade. Vários trechos da enfermarias
apresentam diferentes níveis de luminosidade ao longo do dia, causando desconforto
visual e prejuízo ao desenvolvimento das atividades realizadas no local.
nos demais setores denidos a partir de uma ocupação horizontal, o arquite-
to propôs um sistema de cobertura pré-fabricada em ferro-cimento, composto por vigas
calha que admitem o acoplamento de nódulos tipo shed, posicionados de modo a cap-
tar os ventos predominantes e favorecer a iluminação zenital dos ambientes internos.
Sistema de ventilação e iluminação natural do hospital Sarah Brasília dos setores horizontalizados
95
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Embora o hospital Sarah Brasília ofereça padrões de conforto ambiental acei-
táveis, frente à peculiaridade das condicionantes impostas ao projeto, Lelé considera
as soluções empregadas ainda incipientes para equacionar toda a gama de questões
bioclimáticas que um programa de tal natureza solicita.
Arma o arquiteto:
“O hospital de Brasília, construído com pré-moldados de concreto armado e ferro-
cimento, não apresenta uma solução boa do ponto de vista do conforto. O edifício
está funcionando bem, porque o esquema de circulações é coerente, mas não acho
que ele sirva de referência para outros projetos da rede. Mas tudo mudou a partir do
hospital de Salvador, quando nós decidimos integrar componentes pré-fabricados
de argamassa armada e estruturas metálicas. Isso garantiu um maior rigor técnico
e exibilidade da construção, além de facilitar a introdução de um novo repertório de
formas e soluções mais adequadas para os problemas de arquitetura.”
13
13 Entrevista realizada pela autora com o arquiteto Lelé em 24 de outubro de 2007, Salvador.
Sala de espera: sistema de cobertura formada por sheds pré-fabricados (ferro-cimento)
96
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Diz mais:
“Na medida em que se pode fazer sheds curvos, dimensionados para acompanhar
a aerodinâmica dos ventos, assim como eliminar a abertura de janelas que impõem
certa diculdade de execução em se tratando da tecnologia da argamassa armada,
tudo isso é bastante positivo. Com a tecnologia do aço tudo se tornou possível.”
14
A partir da construção do Hospital Sarah Salvador, o primeiro de uma série de
edifícios baseados no emprego misto de elementos de argamassa armada e aço, Lelé
desenvolveu algumas estratégias de conforto térmico e luminoso que serviram de refe-
rência a outros projetos da rede, especialmente aqueles destinados às regiões de clima
quente e úmido, a exemplo das cidades litorâneas do nordeste brasileiro.
Localizado no topo de uma colina circundada por trechos remanescentes de
Mata Atlântica, o hospital de Salvador estruturado em duas plataformas principais,
apresenta um partido horizontal que se estende ao longo de um terreno generoso, es-
tabelecendo uma relação harmônica com a paisagem natural e as edicações vizinhas.
A solução horizontalizada do edifício permitiu a sua construção sobre grandes
galerias de instalações subterrâneas que também assumem uma função estrutural,
garantem a exibilidade e a ventilação dos ambientes.
14 Entrevista realizada pela autora com o arquiteto Lelé em 08 de abril de 2004, Salvador.
Maquete do Hospital Sarah Salvador
97
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
98
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Abertura das galerias tipo corneta
Interior das galerias
99
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Diferente do hospital Sarah Brasília, o conjunto de galerias e sheds de cober-
tura que agora integram o mecanismo de ventilação natural da unidade de Salvador,
apresentam melhores resultados em termos de conforto ambiental e eciência energé-
tica. Por meio da associação do efeito de convecção e sucção é possível estabelecer
um contínuo uxo vertical de ar no sentido de baixo para cima, evitando o recurso da
ventilação cruzada que representa uma das maiores causas da disseminação bacteria-
na. O sistema de ventilação instaurado funciona de acordo com dois princípios básicos:
1) ventilação por convecção: o ar frio, insuado pelas galerias até os ambien-
tes internos do hospital, sobe gradualmente na medida em que é aquecido. Ao atingir
os bolsões do shed, a massa de ar quente é expelida pelas aberturas controladas por
brises metálicos horizontais.
2) ventilação por sucção: a massa de ar concentrada nos bolsões dos sheds
são extraídos pela corrente de ar externa. A velocidade desse processo aumenta pela
insuação de ar impulsionado pela brisa que atravessa pequenos espaços dispostos na
superfície oposta a das aberturas dos brises horizontais.
Além de propiciarem a circulação e arrefecimento do ar em torno de quatro
graus Celsius, os sheds da cobertura permitem a entrada e a distribuição homogênea
da luz natural nos ambientes, assim como constitui um eciente recurso à desinfecção
das áreas internas. Essa medida representou uma redução considerável dos custos
Esquema do sistema de ventilação e iluminação natural
100
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
nais da obra, que o sistema articial de condicionamento de ar é apenas utilizado
nos ambientes fechados, cujas atividades e equipamentos não podem se sujeitar às
variações de temperatura.
Sistemas de ar-condicionado apresentam um elevado custo de instalação, ma-
nutenção e energia. Segundo Lelé, o consumo energético de um prédio climatizado
articialmente corresponde de 30% a 40% do custo total da obra.
Ressalta o arquiteto:
“No hospital de Salvador, a média mensal do consumo de energia é na ordem de
90 mil reais. Caso o edifício fosse totalmente climatizado articialmente, esse valor
subiria para aproximadamente 600 mil reais. Isso signica uma economia enorme.
O uso indiscriminado de equipamentos de ar condicionado produz uma despesa
altíssima e constante, além de causar um problema terrível para o hospital do ponto
de vista da higiene, que ambientes herméticos são lugares propícios ao cultivo,
proliferação e resistência das bactérias patogênicas.”
15
15 Entrevista realizada pela autora com o arquiteto Lelé em 08 de abril de 2004, Salvador.
Iluminação natural da área de sioterapia
101
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
A premissa de que a prática referenciada na experiência é o caminho para su-
peração dos problemas da arquitetura pode ser comprovada, através do último e mais
sosticado complexo hospitalar concebido por Lelé, a unidade de neuroreabilitação e
neurociências do Rio de Janeiro.
Em relação aos demais projetos, a exemplo do Hospital Sarah Fortaleza, o
Centro de Apoio ao Grande Incapacitado Físico do Lago Norte, o Posto Avançado de
Macapá e o Centro Ambulatorial de Belém, igualmente executados a partir do suporte
do Centro de Tecnologia da Rede Sarah
16
, a unidade do Rio de Janeiro apresenta um
raciocínio mais elaborado do ponto de vista da exibilidade do sistema construtivo, ui-
dez e organização espacial, reaproveitamento dos recursos naturais, integração com
o meio ambiente, como também no que se refere ao desempenho e operacionalidade
dos mecanismos de ventilação e iluminação adaptados às especicidades de uso do
edifício.
Argumenta Lelé:
“As respostas necessárias ao conforto ambiental do Hospital do Rio de Janeiro ti-
nham que ser diferentes, pois no verão as temperaturas chegam a 42 graus Celsius
e no inverno elas são bem mais baixas. As soluções aplicadas no Rio de Janeiro
não poderiam ser iguais as do hospital de Salvador. Precisávamos também consi-
derar a constante evolução tecnológica dos diversos tratamentos terapêuticos.
16 O Centro de Tecnologia da Rede Sarah (CTRS) é um grande núcleo de pesquisas tecnológicas implantado em Salvador no
ano de 1992. Essa unidade, composta por ocinas de pré-moldados, plásticos, carpintaria, marcenaria, metalurgia leve e pesada,
foi orientada inicialmente para o desenvolvimento de projetos, fabricação em larga escala de elementos construtivos e execução
de novos hospitais da rede e que, posteriormente, serviu de suporte para a construção de tantos outros edifícios e equipamentos
públicos baseados também na tecnologia do aço e da argamassa armada.
Implantação do Hospital Sarah Rio de Janeiro
102
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Assim o hospital incorporou outras linguagens que permitiram uma organização es-
pacial que os outros não tiveram. dois fatores importantes considerados no Hos-
pital do Rio de Janeiro. Primeiro: nós precisamos desenvolver um sistema adap-
tável aos avanços tecnológicos das terapias. A unidade do Sarah Rio representa
uma evolução das técnicas desenvolvidas e utilizadas nesse sentido. Segundo: o
prédio está sujeito a um clima completamente diferente em relação ao Nordeste,
por isso não aplicamos os procedimentos incorporados nas unidades de Salvador
e Fortaleza”.
Continua:
“O Centro de Reabilitação Infantil do Rio de Janeiro, por exemplo, é uma obra muito
pequena que não justicava um investimento muito grande em termos tecnológicos.
Agora, o Hospital de Neuroreabilitação do Rio de Janeiro teve um grande suporte,
uma obra absolutamente sosticada, desenvolvida com toda sensibilidade possível
para absorver as mudanças que a tecnologia exigirá nos próximos anos. Foi essa
a nossa intenção. Ele é super exível e resolve bem essas questões climáticas,
podendo sempre aproveitar a luz e a ventilação natural que são tônicas para um
bom tratamento médico. O hospital hermético é um equívoco, o mundo inteiro está
chegando a essa conclusão, esse antigo modelo estimula ou permite o crescimento
de bactérias patogênicas, aumenta a resistência dos pacientes aos antibióticos.
Por isso desenvolvemos uma tipologia mais aberta, onde o ar possa uir. Eu acho
que o aspecto primordial desse projeto é a questão da resposta ao clima do Rio
de Janeiro, até mais do que a quesito de modernização tecnológica do hospital.”
17
O complexo hospitalar, localizado nas proximidades da Lagoa de Jacarepaguá,
admitiu um partido horizontalizado visando a correta setorização do programa (serviços
técnicos, internação, serviços gerais, centro de estudos e centrais de infra-estrutura), a
distribuição estratégica das circulações que permitisse a interdependência do uxo de
pacientes, visitantes e funcionários, além de estabelecer a saudável integração dos blo-
cos de tratamento e internação com a lagoa articial e os espaços verdes circundantes.
17 Entrevista realizada pela autora com o arquiteto Lelé em 24 de outubro de 2007, Salvador.
Corte Longitudinal do Hospital Sarah Rio
103
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Solário do Bloco de Internação e Fisioterapia
Ligação entre o Bloco de Internação e Auditório
104
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Em razão da baixa resistência mecânica do terreno alagadiço, as pesadas galerias
de concreto pré-moldado, executadas anteriormente nos hospitais do nordeste, foram substi-
tuídas por um subsolo técnico que abrange toda a extensão do edifício, estruturado a partir de
uma trama leve de vigas e pilares metálicos. A construção do pavimento técnico representou
uma medida necessária para evitar gastos dispendiosos com o aterramento das áreas de
mangue, promover a independência dos diversos subsistemas construtivos, aximaexi-
bilidade de uso dos espaços, am da autonomia do sistema de cobertura, cuja disposição é
totalmente desvinculada da organização interna do hospital.
Piso técnico: sistema de vigas e pilares metálicos tipo “paliteiro” onde se apóiam os painéis de argamas-
sa armada que formam o piso do hospital.
Lelé apresentando o modo como o sistema estrutural e sistema de instalações são integrados no pavi-
mento técnico para garantir a total exibilidade do hospital.
105
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
O arquiteto considera que a exibilidade total da construção foi a chave mestra
para o aperfeiçoamento do sistema de ventilação do hospital, proposto a partir de três
princípios fundamentais:
1) ventilação natural: o ar fresco penetra nas áreas de convivência, sioterapia
e hidroterapia por meio do forro de painéis basculantes e do amplo sistema de abertura
do teto arqueado.
2) ventilação natural forçada: o ar captado pelas unidades fan-coil instaladas no
piso técnico é injetado nos ambientes internos através do sistema de dutos visitáveis.
O ar quente é extraído através da abertura parcial dos elementos basculantes do teto
plano.
3) ventilação articial: o ar refrigerado que passa através dos dutos de ventila-
ção é impulsionado pelas unidades fan-coil, onde é processada a circulação de água
gelada produzida pela central frigoríca alocada no pavimento técnico. Todas as aber-
turas dos tetos são fechadas por meio de um sistema motorizado acionado por inter-
ruptores ou controles remoto.
Todos os dutos das instalações são aparentes para facilitar a manutenção e alterações de acordo com
as necessidades do projeto.
106
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Reforça Lelé:
“Quando as temperaturas estão baixas, nós desativamos o sistema de ventilação
natural forçada, deixando somente os forros abertos para a renovação do ar no
ambiente. Se as temperaturas se elevam, a gente pode injetar o ar normalmente
pelos dutos de ventilação, impulsionado pelas unidades fan-coil motorizadas que se
encontra no piso técnico. Esse pavimento funciona como sistema estrutural, shaft
de instalações e pulverizador de ar que responde pela renovação do ar e controle
térmico. Se necessidade de usar ar-condicionado, todos os tetos da unidade são
fechados, criando assim um ambiente hermético.”
18
18 Trecho extraído do DVD do curso “Lelé na FAU: Tecnologia da Arquitetura”, realizado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo, 18 de agosto de 2006.
107
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
108
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Enfermaria: vista do forro plano composto por brises móveis.
109
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
110
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Croqui: área de convivência, jardim interno e ala de internação
Vista do forro arqueado composto por sistema motorizado de caixilhos de policarbonato deslizantes e
rampa de acesso aos apartamentos individuais localizados no segundo nível do hospital
111
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
No sentido de evitar qualquer risco de alagamento do edifício, implantado numa
cota mais baixa do que a exigida pelas normas da prefeitura, Lelé propôs um sistema
de drenagem a partir da construção de um lago articial, capaz de regular o nível de
água da Lagoa de Jacarepaguá quando sob o efeito das chuvas. Esse mesmo lago,
composto por pequenas ilhas de vegetação, apresenta um importante papel no estabe-
lecimento de um microclima mais agradável e ameno aos ambientes do hospital.
Garante o arquiteto:
“Esse grande lago articial tem uma função importante. Ele corre paralelamente ao
longo de toda a extensão dois blocos principais do hospital. Eu não z esse lago por
uma questão estética ou paisagística, mas é claro que isso pode ser contemplado,
mas a intenção foi, a partir da evaporação da água, criar uma cortina de névoa para
baixar a temperatura dos ventos que penetram nos dutos de ventilação, levando ar
fresco aos ambientes internos. Colocamos também esguichos de água espaçados
que favorecem esse processo. Com todas as medidas de conforto adotadas no
hospital do Rio de Janeiro, nós conseguimos abaixar a temperatura em seis graus.
Isso foi uma grande conquista. Então eu acho que é isso que importa para o ar-
quiteto, ele tem que evoluir e criar soluções que possam gerar resultados positivos,
pois car só no discurso não basta.”
19
19 Entrevista realizada pela autora com o arquiteto Lelé em 24 de outubro de 2007, Salvador.
Lagoa Articial Construída ao Longo do Hospital
112
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
2.4.3 Referências Cruzadas: meio ambiente, meio tecnológico e ambiente construído
Existe una variante posible y espléndida de la arquitectura enten-
dida como condensadora de energía, que propone síntesis que
se proyectan hacia el futuro: son los edicios conformados como
entorno, que se desmaterializam fusionándose realmente con la
vitalidad del espacio público y con la frondosidad del paisaje, que
interactuán con el medio social, que asumen de manera auténtica
la vitalidad de la naturaleza, que desarollan las formas translúci-
das y livianas potenciadas a las nuevas tecnologías y materiales,
que se basan en potenciar experiencias en el ambiente. Cada
conjunto arquitectónico plantea una atmosfera propia para el es-
pacio interior como entorno bien climatizado y pensado para la
existencia humana; y los espacios exteriores potencian relaciones
de simbiosis con el contexto. La voluntad nal sería la de construir
una especie de biosfera desde de la que gestionar con ecacia los
recursos energéticos; unas esferas para la vida.
20
JOSEP MARIA MONTANER
Frente à atual crise energética e a urgência por uma relação mais harmoniosa
entre o ambiente construído e a natureza, chega a ser estranho imaginar que um dia
alguém propôs resolver os problemas ambientais da arquitetura a partir do princípio da
exclusão. Um exemplo clássico corresponde àquela perturbadora imagem da geodési-
ca gigante de Buckminster Fuller que, idealizada para cobrir parte da cidade de Nova
Iorque, protegeria seus habitantes contra os efeitos do acelerado progresso do mundo
moderno - poluição, chuvas-ácidas e superaquecimento -, mas também os impediria do
livre contato com tudo que os cercam.
Embora fosse intenção de Fuller criar a partir da tecnologia uma atmosfera
“ideal” para a existência humana, a realização desse projeto visionário implicaria na
transformação radical do território urbano que, envolto por uma membrana protetora
construída com estruturas pneumáticas, consumar-se-ia apenas como um lugar total-
mente estéril e excludente.
Nas duas últimas décadas do século 20, os partidários da chamada arquitetura
high-tech nos têm apresentado uma visão mais otimista do mundo. Mais do que isso,
eles comparecem com soluções tecno-construtivas e espaciais que pretendem conci-
liar aquilo que parecia intangível: preservar o meio ambiente sem prejudicar o desen-
volvimento econômico das sociedades contemporâneas.
20 MONTANER, Josep Maria. Sistemas Arquitectónicos Contemporáneos. Barcelona: Gustavo Gili, 2008, p. 204.
113
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
O que assistimos agora não se resume a um mero arremedo estético ou um
ingênuo revivalismo das utopias lançadas pela vanguarda progressista do movimento
moderno. Ainda que grandes expoentes da arquitetura atual, a exemplo de Norman
Foster, Richard Rogers e Nicholas Grimshaw, tenham admitido as propostas experi-
mentalistas de Buckminster Fuller, Yona Friedman e Archigram como fonte de inspira-
ção, eles deixaram de lado o radicalismo e o ccional, aproveitando apenas os concei-
tos essenciais à legitimação de suas arquiteturas que, a partir de respostas sensíveis
às questões ecológicas, possam participar da experiência urbana sem representarem
uma ameaça ao meio ambiente ou sentirem-se ameaçadas por ele.
Reforça Solà-Morales:
“La misión que la arquitectura llamada high-tech parece haberse propuesto es jus-
tamente la de responder positivamente, com el otimismo de los profetas, a la nece-
sidad de una renovada relación entre nueva tecnologia y nueva arquitectura pero
también, en ciertos casos, a la posibilidad de recoger las críticas de situacionistas
o ecologistas proponiendo arquitecturas limpias, energéticamente controladas y, en
denitiva, portadoras de confort y felicidad para sus usuarios.”
“Sorprende encontrar, en repetidas ocasiones, que los comentarios que hacen
Richard Rogers, Norman Foster o Jean Nouvel, por citar nombres bien conocidos,
están mucho más interesados en mostrar los valores ecológicos y comunicativos de
sus obras que no en hacer la apología de la tecnología como adaptación al espírito
del tiempo presente.”
21
21 SOLÀ-MORALES, Ignasi de. Diferencias: topograa de la arquitectura contemporánea. Barcelona: Gustavo Gili, 2003, p. 142
Buckminster Fuller: Cúpula Geodésica para Manhattan, 1962
114
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Se o grande desao da arquitetura contemporânea consiste na proposição de
soluções formais e construtivas culturalmente aceitas, espaços confortáveis, humanos
e socialmente justos, capazes de regular as “energias” que oscilam entre o mundo
construído e o mundo natural. Muitas dessas pretensões, algum tempo, compa-
recem nas obras de renomados arquitetos e de outros nomes menos conhecidos no
circuito da arquitetura internacional.
Interessado na franca integração entre a arquitetura e o entorno, Norman Fos-
ter desenvolveu para o projeto de reconstrução do parlamento alemão (1992-1998),
o Reichstag, uma grande cúpula de vidro, onde uma rampa helicoidal desenvolve-se
continuamente até chegar à plataforma de observação. Ao longo do trajeto de circula-
ção, o público pode contemplar, a partir de uma visão privilegiada, toda a opulência e
complexidade da cidade em suas várias perspectivas. No nível do pavimento de acesso
da cúpula, as pessoas podem olhar um conjunto de fotograas referentes à concepção
original do edifício e aproveitar esse espaço como um prazeroso ponto de encontro.
Norman Foster: Cúpula do Parlamento Alemão – Reichstag (1992-1998)
115
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Plataforma de Observação
Vista da Cidade através da Plataforma de Ob-
servação
Vista Externa da Cúpula
116
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Segundo Norman Foster:
“A transformação do Reichstag está enraizada em quatro questões: a importância
do Bundestag como fórum democrático, um compromisso com a acessibilidade do
público, uma sensibilidade histórica e uma agenda ambiental rigorosa. Realçando
os valores de clareza e transparência, a cúpula de vidro é um novo marco de Ber-
lim, e um símbolo do vigoroso progresso democrático alemão.”
22
Algumas estratégias simples foram adotadas para garantir a eciência ener-
gética, o conforto térmico e luminoso do edifício. A substituição do combustível fóssil
por energia renovável à base de óleo vegetal renado, usada para gerar eletricidade,
representou 94% de redução nas emissões de dióxido de carbono na atmosfera. Todo o
excedente de calor, armazenado na forma de água quente em um tanque subterrâneo,
é usado para aquecer o edifício nos períodos frios. Nas estações mais quentes, essa
mesma água é bombeada para uma unidade de refrigeração, responsável pelo arrefe-
cimento da temperatura e a umidicação do ar.
22 Texto extraído do site ocial do escritório Foster+Partners. Disponível em: <http://www.fosterandpartners.com>. Acessado em:
17 de Junho de 2009.
Interior da Cúpula - Rampa Helicoidal
117
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
No centro da cúpula existe uma instalação de vidro espelhado com aparência
de furacão que, além de apresentar interessante apelo estético, funciona como um
grande reetor que joga a luz incidente para dentro da câmera, localizada no nível
inferior. O arquiteto também desenvolveu um grande brise que se move ao redor da
fachada para proteger o ambiente interno contra a luminosidade excessiva e os ganhos
de calor.
Reetor de Luz
Brise Móvel
118
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Dentre as muitas arquiteturas de Norman Foster, consagradas pela reputação
de manter uma íntima e profícua relação com a paisagem natural, merecem destaque
os projetos para Petronas University of Technology na Malásia (1998-2004) e McLaren
Technology Centre no Reino Unido (1998-2004). Essas obras reetem “a congruência
de um mundo no qual a tecnologia serve para melhorar a qualidade de vida e não para
limitar o homem num espaço fechado”
23
, permitindo que o ar e o sol inundem os am-
bientes, convidando o verde e as águas a participarem intensa e amigavelmente da
experiência arquitetônica.
“Localizada dentro da bela e dramática paisagem do Seri Iskandar, 300 quilô-metros
ao norte de Kuala Lumpur, o sítio de 450 hectares caracteriza-se por íngremes coli-
nas e lagos formados pela inundação de minas de estanho desa-tivadas. Esse pro-
jeto responde a típica paisagem local e ao clima particular desta parte do mundo.”
24
23 ANGUIANO, Rubén. The cutting edge of the global architecture. In: Cubo Mag - International Architecture Magazine. Sir Norman
Foster: Architecture and Sustainability. n. 1, p. 44, July 2007.
24 Texto extraído do site ocial do escritório Foster+Partners. Disponível em: <http://www.fosterandpartners.com>. Acessado em:
22 de Novembro de 2009.
Petronas University of Technology - Seri Iskandar, Malásia (1998-2004)
119
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
A integração com o entorno que aqui se vê não se estabelece equilibrada ape-
nas pela simples operação de emoldurar o objeto construído dentro da paisagem, mas
sim quando ele assume em suas formas, o compromisso de incorporar o sentido de
organicidade e diversidade que a própria natureza evoca.
Vista Geral: Petronas University of Technology
Vista Geral: McLaren Technology Centre - Woking, Reino Unido (1998-2004)
120
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Os acessos, a localização, as características dimensionais, topográcas e cli-
máticas são condicionantes que determinam: a composição volumétrica e o partido do
edifício; a estruturação e articulação entre os espaços; os métodos construtivos e equi-
pamentos aplicáveis; a relação que o prédio estabelece com o entorno e, sobretudo, as
decisões projetuais a serem instituídas para a plena satisfação e conforto dos usuários.
No caso da nova biblioteca da Free University em Berlim (1997-2005) de Nor-
man Foster, o modo de implantação do edifício acarretou um grave problema para o
projeto, inserido em uma área totalmente cercada por um conjunto de construções
preexistentes
25
. Devido às limitações espaciais do terreno, durante o verão, as massas
de ar quente depositam-se ao redor do claustro, provocando uma sensação térmica
desagradável e a impossibilidade de seu aproveitamento como um local de convivência
e descanso.
O edifício de quatro andares possui espaços internos orgânicos e generosos que
despertam nos usrios um sentimento de liberdade, integração e bem-estar. Os paiis
de vidro deslizantes, dispostos ao longo de toda a superfície curva da fachada, deixam
a luz penetrar suave e homogeneamente, pom conformam-se como um mecanismo
de ventilão natural inecaz para garantir um nível de conforto desevel nos dias mais
quentes, transformando a grande bolha enclausurada em uma verdadeira estufa humana.
25 O conjunto de prédios modernistas da década de 1960 foi concebido pelos arquitetos Georges Candillis, Alexis Josic, Shadrach
Woods, Manfred Schiedhelm e Jean Prouvé.
Implantação da Biblioteca da Faculdade de Filologia, Free University, Berlim (1997-2005)
121
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Prédios Modernistas Revestidos em Aço Corten (Primeiro Plano) e A Nova Biblioteca da Free University
(Segundo Plano)
Interior da Biblioteca
122
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Balcões Curvos usados como Área de Estudo
Sistema de Iluminação e Ventilação Natural
Balcões Curvos usados como Área de Estudo
Painéis Deslizantes de Alumínio e Vidro
Perspectiva da Biblioteca
123
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Embora Norman Foster tenha lançado mão de algumas estratégias para regu-
lar as temperaturas internas, a exemplo do emprego de vidros especiais, fachada com
pele dupla que funcionam como um colchão de ar, além de um mecanismo eletrônico
de abertura e fechamento de painéis de isolamento térmico deslizantes, ca claro que
nem sempre o grau de sosticação tecnológica de uma obra é garantia de perfeição.
Alguns arquitetos compartilham a idéia de que a autenticidade da arquitetura
está na sutileza do raciocínio projetual adotado para resolver a complexidade dos pro-
blemas expostos, especialmente àqueles ligados aos valores humanos e ecológicos.
Segundo Ivan Harbour, a expressão da arquitetura vai além dos predicados estéticos
ou dos apelos tecnocráticos que ela possa comportar, mas esbarra na condição primei-
ra e maior de manter-se em sintonia com o seu meio físico e o seu meio social.
“Eu desacredito completamente na noção de arquitetura icônica. A estética, muitas
vezes, é um aspecto menor a ser considerado no processo. É claro que ela tem
o seu valor, mas isso não é tudo. Nós arquitetos temos o compromisso de fazer
uma arquitetura responsável, ecologicamente e socialmente sustentável. Os nos-
sos projetos são desenvolvidos para que, de alguma forma, as pessoas possam
reaprender alguns ensinamentos perdidos no passado, começar a pensar sobre
como a estrutura de um edifício pode contribuir de uma forma passiva para melho-
rar o ambiente.”
“Independente do tamanho do projeto, as características do lugar são sempre rele-
vantes. É ele que determina a razão de ser de cada arquitetura. Nós, por exemplo,
começamos a fazer o planejamento geral da capital da Nigéria. Foi uma aventu-
ra para nós trabalhar com parâmetros contextuais tão diferentes dos nossos. Nós
sabemos tudo a respeito desse lugar, nós tivemos que aprender sobre isso. Nós
trabalhamos junto com a comunidade para saber a sua lógica de funcionamento,
o que as pessoas desejam. Nós somos apenas facilitadores, pois na verdade não
somos especialistas em nada. Nossa habilidade está no modo sensível como tenta-
mos interpretar no projeto as necessidades e preocupações da sociedade.”
26
Uma das obras representativas dessa aptidão e vontade do arquiteto é o
Maggie’s Center em Londres (2001-2008)
27
, uma pequena unidade de apoio às pesso-
as com câncer, vinculada ao Charing Cross Hospital. Nesse projeto, as necessidades
humanas são contempladas a partir dos espaços exíveis e aconchegantes que esti-
mulam um sentido de socialização, a interação das pessoas com um jardim interno e
terraços descobertos por onde se descortinam interessantes perspectivas da cidade. O
edifício de 370 m
2
, estruturado em dois pavimentos, é coberto por um telhado metálico
26 Entrevista realizada pela autora com o arquiteto Ivan Harbour do escritório Rogers Stirk Harbour + Partners, no dia 28 de agosto
de 2009, Londres.
27 O Maggie’s Center foi o projeto vencedor do RIBA Stirling Prize de 2009.
124
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
plano e utuante, formado por um conjunto de aberturas que garantem o controle da
incidência da luz natural e dos ventos através de um sistema automatizado de brises
móveis.
Maggie’s Center (2001-2008)
Maggie’s Center Planta mostrando a conexão entre os espaços internos e externos com os pátios
ajardinados
125
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Diz Ivan Harbour:
“Esse projeto foi idealizado trinta anos. A única coisa que nós introduzimos re-
centemente foi um sistema mais eciente de ventilação e iluminação para que haja
a redução dos gastos de energia. Um dos principais objetivos ambientais foi con-
seguir equilibrar essas variações muito grandes de temperatura para que a arquite-
tura não se transforme em um pesadelo - ora muito frio, ora quente demais. Em
dias quentes com hoje, as pessoas que frequentam o centro sentem-se muito con-
fortáveis. Mas ele foi concebido num momento em que a questão energética não
era uma prioridade. A construção da cobertura a partir de componentes metálicos
pré-fabricados leves e a exibilidade dos espaços ajudaram bastante nesse sen-
tido. Uma arquitetura exível tem mais chance com o passar dos anos de manter-se
sustentável, porque ela admite alterações. Desde que eu comecei a trabalhar aqui
vinte e cinco anos, a maioria dos projetos são pré-fabricados e essa conduta é
muito importante para que possamos ter um controle sobre a obra e os seus resul-
tados.”
28
A intenção do arquiteto britânico foi criar ambientes integrados, onde não hou-
vesse lugar para a tecnologia perpetuar-se como um m em si mesmo, mas como um
meio de deixar a vida acontecer. Desse mesmo modo, as propostas dos hospitais da
Rede Sarah assumem um forte compromisso com os valores humanos e sociais, onde
a tecnologia é um instrumento que viabiliza o harmonioso casamento entre a arquitetura
e contexto, especialmente quando a natureza circundante clama por um tratamento mais
cuidadoso e quando ela própria torna-se parte do tratamento de cura dos pacientes.
28 Idem.
Maggie’s Center - Corte Esquemático
126
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Maggie’s Center – Terraço e Cobertura do Edifício
Maggie’s Center - Área de trabalho
127
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
A preocupação ambiental do trabalho de Lelé é percebida nas estratégias de
implantação do edifício para captar os ventos e a luz do sol, na exploração das poten-
cialidades visuais da paisagem, na comunicação que as áreas internas e externas es-
tabelecem a partir das grandes aberturas, dos painéis vazados, translúcidos ou trans-
parentes que os delimitam, assim como no elevado rigor técnico das construções que,
embora advenham de uma lógica produtiva industrial, resultam em formas esbeltas, si-
nuosas e leves que obedecem a uma lógica de semelhança e um total respeito ao meio.
Hospital Sarah Salvador – Integração entre os Ambientes Internos e Externos
Posto Avançado de Belém (2007)
128
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Posto Avançado de Belém - Piscina de Hidroterapia
Posto Avançado do Amapá (2005) - Paisagismo
129
A Obra de João Filgueiras Lima no Contexto da Cultura Arquitetônica Contemporânea
Hospital Sarah Fortaleza – Áreas Ajardinadas e Piscina de Hidroterapia
Posto Avançado de Belém – Área de Fisioterapia Posto Avançado do Ama- Ambulatório (corredor)
130
3 Palavras Finais
Compreender alguns signicados da obra de Lelé no contexto da arquitetura
contemporânea demanda um esforço de identicar os vínculos que seu trabalho esta-
belece com os principais temas e tendências correntes internacionalmente, sobretudo
no cotejamento de sua produção com as experiências realizadas pelos arquitetos do
star-system high-tech, que foi nosso recorte para a análise desenvolvida.
Pudemos constatar que a dimensão ideológica, presente nas obras de Lelé
e nos projetos dos arquitetos britânicos, supera a ingênua noção reformista e tecno-
crática do Movimento Moderno. A tecnologia é admitida como recurso necessário à
materialização de espaços mais humanos e democráticos. Tanto para Lelé como para
os arquitetos high-tech a forma arquitetônica é considerada parte de uma reexão crí-
tica sobre o tempo, o espaço e o ser, não estando necessariamente subjugada a uma
fórmula fechada (tratados, normas, categorias estilísticas, tipologias), mas sim denida
por uma matriz metodológica exível e aberta que permita a ela moldar-se às realida-
des objetivas e subjetivas do mundo contemporâneo, em constante transformação, e
acenando por uma linguagem própria dessa contemporaneidade. A identidade formal
da arquitetura conforma-se como uma conseqüência direta das urgências e ações que
estruturam o programa. A materialização de uma obra a partir da articulação de formas
consistentes é o que vida aos espaços que, bem mais do que uma área comparti-
mentada da construção, é o lugar onde as atividades acontecem e as relações huma-
nas são construídas.
Do mesmo modo que não parâmetros rígidos para a consecução da forma,
como se pode constatar a partir do depoimento de Lelé, deduz-se que o fomento ou
realização das práticas sustentáveis na arquitetura também independem de critérios nor-
mativos, selos de qualidade ou regras padrão que estimulem a institucionalização da
burocracia do saber no lugar do bom senso do saber-fazer. Existe uma diferença clara
131
sobre aquilo que se entende como “os princípios que orientam uma experiênciae “as
regras rígidas que determinam um modelo absoluto”. Trocando em miúdos, o arquiteto
deve valer-se de princípios e conceitos para construir uma metodologia ou raciocínio
que, estabelecido a partir da análise das variáveis, torne-se aplicável à resolução do
problema exposto, sendo que o resultado nal é fruto de um processo, uma experiência
que jamais deve assumir a condição de modelo fechado, mas servir como um siste-
ma referencial exível que comporte as novas situações demandadas pela arquitetura.
Nesse aspecto, o trabalho de Lelé possui “apenas” o compromisso com a evolução
do processo, como se observa também na prática das realizações dos arquitetos bri-
tânicos ou na obra de Renzo Piano. Ainda que os princípios e conceitos mantenham-
se os mesmos em todo o conjunto de sua obra, cada novo projeto exige do arquiteto
um raciocínio próprio, uma atitude projetual e produtiva que se desenvolve a partir da
prática referenciada na experiência, visando o aprimoramento das soluções adotadas
anteriormente.
Lelé entende que a arquitetura contemporânea deve ter como princípio a pos-
sibilidade de acompanhar as transformações do mundo, adaptando-se aos avanços
tecnológicos e aos novos modos de vida dos usuários, para que assim o seu caráter
utilitário e sua integridade formal sejam preservados. Sua arquitetura nasce a partir de
bases conceituais que permitem à forma incorporar a funcionalidade sem dobrar-se a
ela. A estreita vinculação do repertório formal com o conteúdo programático e, ao mes-
mo tempo, a necessidade de transcendê-lo, faz com que suas obras mantenham uma
qualidade objetual intacta ainda quando o programa é reformulado. Na visão de alguns
arquitetos contemporâneos, a tríade programa, tecnologia e forma constitui aspectos
que se articulam mutuamente ao longo do processo projetual. O repertório de estrutu-
ras formais não se manifesta deliberadamente por uma questão de gosto pessoal do ar-
quiteto, mas como a síntese daquilo que, a partir do emprego de uma tecnologia apro-
priada (materiais, técnicas, sistemas e meios de produção) e do conceito de programa
aberto (exível quanto às possibilidades de uso), seja capaz de denir os limites físicos
da construção, o caráter representativo funcional do objeto arquitetônico, a organização
espacial e uma composição tectônica coerente no que se refere ao potencial poético e
a racionalidade tecno-construtiva da arquitetura.
132
A idéia de que a perfeição está nos detalhes é um aspecto central na obra de
Lelé e igualmente compartilhada por outros arquitetos como Renzo Piano, Norman
Foster, Nicholas Grimshaw e Richard Rogers que, ao longo de suas trajetórias pro-
ssionais, jamais subestimaram o poder da representação do detalhe como aspecto
decisivo à viabilidade do projeto, especialmente no que diz respeito ao cumprimento
das necessidades funcionais e estruturais da arquitetura. Se a arte do detalhamento
está na união dos materiais, elementos, componentes e partes de uma construção num
todo coerente, isso depende da habilidade do arquiteto de eleger sistemas construtivos
que se alinhem com as contingências estéticas e funcionais do projeto, pois assim
é possível resolver em detalhes aquilo que a tecnologia determina em razão de suas
potencialidades e limitações. A junção de partes de uma construção consiste na tarefa
de integrar tecnologias com sensibilidade e elegância, buscando no detalhe do projeto
o ajuste equilibrado entre os materiais empregados, de modo que as características e
expressões próprias de cada um mantenham-se preservadas no conjunto da obra. A
frase atribuída a Mies van der Rohe, “Deus está nos detalhes”, ainda faz sentido entre
os arquitetos de certa linhagem, como Lelé.
Alguns arquitetos compartilham a idéia de que a autenticidade da arquitetura
está na sutileza do raciocínio projetual adotado para resolver a complexidade dos pro-
blemas expostos, especialmente àqueles ligados aos valores humanos e ecológicos.
Segundo Ivan Harbour, a expressão da arquitetura vai além dos predicados estéticos
ou dos apelos tecnocráticos que ela possa comportar, mas esbarra na condição pri-
meira e maior de manter-se em sintonia com o seu meio físico e o seu meio social. As
propostas dos hospitais da Rede Sarah assumem um forte compromisso com os valo-
res humanos e sociais, onde a tecnologia é um instrumento que viabiliza o harmonioso
casamento entre a arquitetura e contexto, especialmente quando a natureza circun-
dante clama por um tratamento mais cuidadoso e quando ela própria torna-se parte do
tratamento de cura dos pacientes. A preocupação ambiental do trabalho de Lelé é per-
cebida nas estratégias de implantação do edifício para captar os ventos e a luz do sol,
na exploração das potencialidades visuais da paisagem, na comunicação que as áreas
internas e externas estabelecem a partir das grandes aberturas, dos painéis vazados,
translúcidos ou transparentes que os delimitam, assim como no elevado rigor técnico
das construções que, embora advenham de uma lógica produtiva industrial, resultam
em formas esbeltas, sinuosas e leves que obedecem a uma lógica de semelhança e um
total respeito ao meio. Pudemos constatar que a criação do Centro de Tecnologia da
Rede Sarah trouxe uma vigorosa e radical transformação na arquitetura de Lelé quanto
133
ao caráter formal, o rigor tecno-construtivo, a ênfase nos processos industrializados, a
funcionalidade espacial e eciência das soluções arquitetônicas empregadas. Nesse
momento, a sua obra atinge um nível de maturidade projetual à altura dos padrões das
arquiteturas internacionais, sobretudo, aos da alta tecnologia, respondendo positiva-
mente aos problemas intrínsecos à construção, e sensíveis aos valores ambientais,
sociais e humanos que sempre foram a razão primeira da arquitetura de Lelé.
Retomando um mote expresso na introdução do presente trabalho, a amplidão
da arquitetura contemporânea cria horizontes nos quais os recortes se tornam tarefas
improváveis. As possibilidades de abordagens, relacionamentos, comparações, enfren-
tamentos e alinhamentos não têm limites previsíveis. Como dito, a tese conforma-
se como uma primeira tentativa de cotejar o trabalho de Lelé com as experiências
realizadas nesses outros horizontes. A partir da construção dessa dialética, tentou-se
demonstrar a sintonia de seu trabalho com algumas das questões que permeiam a ar-
quitetura global. O caráter e o alcance das soluções projetuais de Lelé que, embora não
pretendam e nem possam responder às carências do Brasil e muito menos do mundo,
ainda assim têm algo a dizer como processos e raciocínios que podem inspirar e servir
de referência ao que se faz no mundo.
134
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