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Kennedy costumava dizer que a TV era a sua melhor arma, (36) pois “o eleitor reage à
imagem e não ao homem”. (37) Voltemos aos nossos tumultuados trópicos. (38) Lula
atira com todas as armas, (39) mas o gogó é a principal. (40) Freqüenta a galáxia de
Marconi nas segundas-feiras, (41) ao dar recado às margens sociais, (42) abusando da
“telecracia” ao perorar para platéias sob os holofotes da televisão. (43) Aliás, a TV
comercial é que promove os maiores comícios eletrônicos do país. (44) São 21
emissoras abertas, convocadas para fazer chegar a 1.561 retransmissores, 2.911
municípios e 40 milhões de lares que contam com aparelhos de TV os gargarejos das
nossas autoridades. (45) Este ano, (46) 12 integrantes do primeiro escalão
governamental usaram a telinha comercial para a cerimônia de autoglorificação. (47)
Vale lembrar que a administração federal já dispõe da Rede Governo, (48) exclusiva
para enaltecer seus feitos.
(49) A nova proposta televisiva cairá como uma luva na forma lulista de
governar. (50) Sob o conceito de que será o “olhar dos brasileiros”, (51) expresso pelo
futuro presidente do Conselho Curador, economista Luiz GonzagaBelluzzo, defenderá
um ideário plural: (52) valores éticos e sociais da família, regionalização da produção
cultural, artística e jornalística e estímulo à produção independente. (53) Estará imune
às pressões do Executivo? (54) Não. (55) Os gestores nomeados pelo governo terão
coragem de criticá-lo? (56) O mais destacado exemplo mundial de TV pública, a BBC,
não escapa das pressões do governo inglês. (57) Mas resiste com bravura. (58) Lá, (59)
quem dá o tom são os contribuintes, (60) que garantem à rede uma receita anual
equivalente a R$ 12 bilhões. (61) A fragilidade do modelo brasileiro de TV Pública
começa na origem dos recursos. (62) Os “donos do poder” se acham no direito de, (63)
ao conceder as verbas, (64) declinar os verbos. (65) A programação focada na promoção
da cidadania passará pelos palácios, (66) razão pela qual a independência e a autonomia
só serão viáveis sob ordenamento jurídico adequado, participação efetiva da sociedade
no processo decisório, definição de custeio e conteúdo.
(67) É utopia imaginar que a TV Pública estará imune às pressões do governo.
(68) Não por acaso, dedica-se intenso esforço para estatizar meios e recursos voltados
para a meta de desenvolvimento de um projeto de poder de longa duração. (69) Essa
modelagem se assenta em alguns eixos, (70) a saber: consolidação da estabilidade
econômica, reforço à polítca social-distributivista de renda, ampliação do tamanho do
Estado, partidarização da administração e fortalecimento dos movimentos sociais. (71)
A comunicação pública é o fecho do circuito. (72) Ainda mais quando se tem no