GAROFALO, N.A. Alterações hemodinâmicas e neuroendócrinas associadas ao uso da
metadona em cães conscientes e anestesiados com isoflurano. Botucatu, 2010. 111 p.
Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Campus
de Botucatu
RESUMO
Opióides podem causar alterações neuroendócrinas e hemodinâmicas
importantes, que podem ser influenciadas pela co-administração de anestésicos gerais.
Objetivou-se neste estudo comparar os efeitos hemodinâmicos e neuroendócrinos
(concentrações sanguíneas de vasopressina e catecolaminas) em resposta a administração
intravenosa de metadona em cães conscientes e anestesiados com isoflurano.
Seis cães sadios (28 ± 4 kg, média ± desvio padrão) foram submetidos a 3
procedimentos experimentais, com intervalo mínimo de 1 semana. No primeiro experimento,
os parâmetros hemodinâmicos, hemogasometria arterial, concentrações circulantes de
vasopressina, epinefrina e norepinefrina, foram avaliados antes (Basal) e durante 90
minutos após a administração da metadona (1 mg/kg, IV) em animais conscientes (grupo
MET). Nos 2 procedimentos experimentais subseqüentes, os efeitos da mesma dose de
metadona foram avaliados nos mesmos momentos durante a anestesia com isoflurano. Em
1 dos experimentos, os animais anestesiados com isoflurano receberam solução placebo 5
minutos antes da administração do opióide (grupo MET/ISO), enquanto no outro
experimento, o antagonista de vasopressina relcovaptan (0,1 mg/kg, IV) (grupo
MET/ISO/ANTAG) foi empregado no mesmo momento, em cães anestesiados com
isoflurano.
Quando administrada aos animais conscientes, a metadona causou reduções de
15-33% na freqüência cardíaca (FC), enquanto o índice cardíaco (IC) diminuiu 22% apenas
aos 90 minutos. Contrastando com a ausência de alterações respiratórias clinicamente
importantes em animais conscientes, a metadona induziu apnéia ao ser administrada
durante a anestesia, havendo necessidade de suporte ventilatório mecânico. Durante a
anestesia com isoflurano, o opióide causou reduções de maior magnitude na FC [% de
redução em relação aos valores basais: 51-58% (MET/ISO) e 50-53% (MET/ISO/ANTAG)] e
no IC [% de redução em relação aos valores basais: 55-60% (MET/ISO) e 45-47%
(MET/ISO/ANTAG)]. No entanto, durante a anestesia inalatória, a pressão arterial média não
apresentou redução em relação aos valores basais devido a elevação no índice de
resistência vascular sistêmica (IRVS) observada após a metadona (até 101% e 69% acima
dos valores basais nos grupos MET/ISO e MET/ISO/ANTAG, respectivamente). A
administração prévia do relcovaptan não inibiu completamente a elevação do IRVS
observada após a administração da metadona em cães anestesiados. O opióide induziu
elevação nas concentrações plasmáticas de catecolaminas apenas em cães conscientes,
com valores máximos observados aos 15 minutos da administração da metadona (medianas
de 1705 e 378 pg/mL para a epinefrina e norepinefrina, respectivamente). A concentração
de vasopressina sérica aumentou significativamente durante 30 minutos após a metadona,
tanto nos animais conscientes como nos anestesiados, com pico de elevação aos 5 minutos
(medianas: 19, 37 e 36 pg/mL nos grupos MET, MET/ISO e MET/ISO/ANTAG,
respectivamente).
Conclui-se que a administração da metadona durante a anestesia com isoflurano
resulta em depressão cardiovascular maior que a observada em animais conscientes. Em
animais conscientes, os efeitos hemodinâmicos da metadona são influenciados tanto pelo
aumento da atividade simpática adrenal como pela elevação da concentração de
vasopressina. Em cães anestesiados com isoflurano, o aumento da vasopressina aparenta
ser o principal efeito neuro-hormonal associado a vasoconstrição (aumento do IRVS)
induzida pela metadona.
Palavras-chave: cão, catecolaminas, hemodinâmica, metadona, vasopressina