
busca por transmitir uma brasilidade calculada, talvez uma tentativa de definir suas origens e
destacar seu trabalho. Assim como percebe Carlos Zílio:
Existe, no entanto, uma ingenuidade deliberada da pintura de Tarsila, uma identificação
entre sua infância e o populismo do Modernismo, isto é, a canalização do vivido no mundo
da fazenda, com sua vegetação, a mitologia dos escravos, as cores das habitações
interioranas (ZÍLIO, 1982, p. 82).
Seus temas urbanos também parecem lidar com a sua infância na forma como são
desenvolvidos. Em A Gare ainda que se refira a um trem, o uso de cores primárias e as
formas estruturadas e estáticas, em tudo sugerem um trem de brinquedo. Temas urbanos
tratados de forma lúdica que parecem também buscar uma diferenciação cultural de maneira
a destacar a sua obra assim como comenta Rodrigo Naves: “as cores leves da infância
precisam dar corpo a seres ímpares que simbolizem a origem diferenciada de nossa cultura”
(NAVES, 2001, p. 13).
Partindo da premissa que essas obras possivelmente representariam uma versão do
Brasil moderno, tanto na cor como em sua estrutura formal, Guilherme de Almeida analisa:
“esse brasileirismo de Tarsila não é uma atitude: é um imperativo do seu sangue, uma função
natural do seu espírito e dos seus sentidos”
2
. O geometrismo de suas imagens, associadas ao
colorido ingênuo, parecia transportar o espectador para uma imagem utópica, de bucólicas
cidades de interior, de paisagens de fazenda, de animais e fantasias. Por esta razão, talvez,
seu trabalho quase sempre estaria ligado a certa brasilidade, nem sempre tão verdadeira em
sua essência, mas sem dúvida uma tentativa de mostrar a sua visão pessoal sobre suas
origens.
Em Paris, no início da década de 20, esta diferença cultural era muito bem aceita e, de
uma certa maneira, a artista buscava, nestes dados de brasilidade, o exotismo que poderia
destacar sua pintura em meio a tantas outras obras modernas:
Não pensem que esta tendência brasileira na arte é mal vista por aqui [Paris]. Pelo contrário.
O que se quer aqui é que cada um traga contribuição de seu próprio país. Assim se
explicam o sucesso dos bailados russos, das gravuras japonesas e da música negra. Paris
está farta de arte parisiense.
3
O escritor e amigo Mário de Andrade se referiria a essas características tropicais em um
artigo: “a claridade luminosa latino-brasileira que Tarsila atingiu! [...] acentuar a alegria de
Tarsila, pela cor e brasileirismo”
4
. O aspecto “latino-brasileiro” aparece fortemente em suas
2
ALMEIDA, Guilherme apud AMARAL, Aracy. Tarsila, sua obra e seu tempo. São Paulo: Editora 34; Edusp, 2003, p. 143.
3
AMARAL, Tarsila do. Idewm, Ibidem, p. 101\102
4
ANDRADE, Mário de. AMARAL, Aracy (org). Correspondência Mário de Andrade & Tarsila do Amaral. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 2001, p. 139.
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