
Márcia Lagua de Oliveira
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Márcia: Minha infância foi completamente diferente. Porque não tinha tempo, nem
o pai nem a mãe, muito menos pra contar histórias né. Eu acho que sou uma das
mais velhas daqui. Então eu ouvia novelas de rádio, e aí é lógico né, criança não
da pra tapar o ouvido. Eu escutava aquelas novelas que a minha mãe ouvia no
rádio, era um drama, era um drama, muito mais que mexicano, era aquela coisa,
aquele choro. Então eu como criança, eu achava que dentro do rádio tinha
alguém, ou então ele deixou ela, e ela estava se derramando em prantos. Porque
você é criança, você vê um rádio daquele tamanho, você pensa que ta passando
dentro do rádio. Eu imaginava dentro do rádio toda aquela né... nem minha avó,
nem minha mãe não queriam contar história nunca, mas eu sempre li muito, então
eu tenho facilidade de contar histórias para as minhas crianças, e eles não
conseguem entender que ninguém me contava. As histórias pra eles eu vou
contando, vou relatando. Então quando entra o Lobo eu faço de uma maneira que
eles ficam com medo. Daí eu falo: deixa que o papai conta que eu estou cansada,
e eles: “ah não, conta você, papai não sabe contar direito”, e eu pergunto porque
e eles respondem:”ah porque o papai não conta direito, ele só relata.” Então eles
querem que eu conte, porque quando chega (...) eu falo “ai!”, sempre meio
exagerado. Aí eu falo conforme o personagem. Eu gosto de contar, mas não
gosto quando eles ficam: “conta de novo, conta de novo!” (...) não é a mesma
coisa pra quem tá ouvindo, a criança gosta de sentir aquele “ah!” realmente o
Lobo. Há tantos anos atrás eu ouvi o drama no rádio, na verdade o que mudou foi
só o drama, a ação dramática...
Verônica: A minha infância foi bem interessante né, porque foi no interior do
Ceará, um lugar completamente diferente daqui, então lá na minha família, o
pessoal morava pertinho e o pessoal gostava de ir a noite um na casa do outro aí
começava a contar história, tudo história fantasiosa né, a maioria das vezes era
tudo fantasiosa, era história de fantasma, era história de Rei e Rainha, tudo
quanto era tipo de história aparecia né. E o pessoal se empolgava né com a
história, aí vira e mexe também aparecia a história dos fantasmas, e tinha muito
aquela história de: ai, fulano tá vendo fantasma, então é muito interessante isso, o
pessoal começa a acreditar sabe, e começa tipo assim, se é num lugar que o
pessoal fala que tem fantasma ali, o pessoal começa a evitar. (...) Então, aí teve
um vez que foi super engraçado: no encontro de duas estradas tava aparecendo