
6
combinações que o autor realiza ao longo da obra que afirmam e possibilitam a
identificação de sua autoria, bem como permitem pensarmos em seu
significado: “O ‘autor’, no sentido moderno, é o criador de ‘obras’ únicas,
literárias ou artísticas, cuja originalidade lhe garante propriedade intelectual (...)
Esta noção individualista da autoria é uma invenção surpreendentemente
recente (...) a apresentação heróica dos poetas românticos. Na visão de poetas
de Herder e Goethe a Wordsworth e Coleridge, a autoria genuína é original no
sentido de que ela não resulta numa variação, imitação ou adaptação, e nem,
certamente, uma mera reprodução, mas sim numa obra única (...) que, por esta
razão, pode ser considerada de propriedade de seu criador.”
11
Assim, por meio
das seleções e escolhas de temas, personagens e episódios, que o autor
introduz a memória e o significado de suas mensagens para um público que a
recebe, cifra e veicula
12
.
Daí a importância de historicizarmos a obra e seu autor. A reflexão sobre
a temporalidade nos possibilita pensar essas questões, na medida em que
situa o historiador como aquele que transita entre o passado e o presente. No
entanto, como não é possível que ele apreenda o passado, como afirmava
Ranke, “tal como ele foi”, é por meio da interpretação que se torna possível
produzir conhecimento histórico.
Rastro e tempo estão vinculados. A leitura de Paul Ricoeur
13
permite-
nos pensar que é por meio dos rastros que podemos chegar às múltiplas
temporalidades e identificar as escolhas e significados atribuídos por Alfred
Tennyson em Idylls of the King. É por isso que entendemos aqui a linguagem e
a temporalidade como meio de acesso à significação. A primeira, expressa e
passa pela percepção que nosso autor possuía do mundo no século XIX. Ao
11
WOODMANSEE, Martha e JASZI, Peter. Para além da ‘autoria’. A propriedade intelectual na
perspectiva global. In: In: SÜSSEKIND, Flora e DIAS, Tânia. A historiografia literária e as técnicas de
escrita. Do manuscrito ao hipertexto. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa e Vieira e Lent, 2004, p.115.
12
A esse respeito, considera Yone de Carvalho. Oralidade e manuscritura. A perspectiva do narrador
como chave de leitura do Tristan de Béroul. In: ANDRADE FILHO, R. O. (org.). Relações de poder,
educação e cultura na Antiguidade e na Idade Média, estudos em homenagem ao Professor Daniel Valle
Ribeiro. São Paulo, Editora Solis, 2005, pp. 60-61: “A memória no texto funciona como forma de
intelecção, recurso literário e plano de consciência, via de conhecimento e revelação. (...) O narrador
“movimenta-se” no texto expressando as estratégias narrativas eleitas e realizadas pelo autor. (...) De tal
forma que não é possível penetrar na lógica do texto sem essa chave de leitura. E é justamente nesse
movimento do autor-narrador que a obra realiza suas dimensões históricas”.
13
RICOEUR, Paul. Tempo e Narrativa. Campinas: Papirus, 1997, v. 3.