ENCONTRANDO
O FIO DA MEADA
Eu nasci e fui criada numa cidade com características rurais, no interior de Minas Gerais,
Triângulo Mineiro. Sou a segunda filha mais nova de uma família numerosa (nove pessoas). Meus
pais foram criados no meio rural. O sistema era patriarcal: o progenitor era o chefe da família e
responsável pelo seu sustento. Havia uma divisão de trabalho: as mulheres eram responsáveis pelo
serviço da casa (vestuário, alimentação, faxina, criação de galinhas e porcos, plantação de
hortaliças), enquanto os homens realizavam o “serviço mais pesado” (o trabalho na roça) e a
venda e troca de mercadorias produzidas pela família. Aqueles que não tinham terra própria
trabalhavam em outra (empregado) e recebiam dinheiro ou parte da colheita para a sua própria
negociação. Na roça se plantava arroz, milho, feijão e algodão. E as atividades realizadas dentro
de casa? Ah! Essas eram tão diversificadas! Normalmente realizadas pelas mulheres e crianças
mais novas (os filhos, homens, mais velhos, trabalhavam com o pai). Era tirar leite (de cabra,
comumente); fazer queijo, manteiga, doces (de frutas – manga, goiaba, banana, mamão – ou de
leite), quitandas várias (pão de queijo, rosca, biscoito, bolacha, bolo), sabão e as roupas para
vestir a família e a casa. Mais do que a roupa! Fazer o tecido para costurar a roupa. E assim
foram criados meus pais. Pouca escolarização, muitos saberes aprendidos oralmente pelos
ensinamentos dos pais, avós e tios
Hábitos, costumes, crenças... E todos eles também foram ensinados a nós. Geração para geração.
Tradição
Ainda criança muito pequena, via minha mãe, meu pai e meus irmãos colhendo sacos de goiaba
para fazer doce. Depois, selecioná-las (os pequenos faziam isto também. E comiam muita goiaba.).
Cortá-las ao meio e colocar em um tacho de cobre para ferventar. O tacho? Ah! Tinha que limpar
antes, tirar aquela camada escura. Passar limão (limão? Por que limão?). As goiabas, após o
cozimento no tacho, eram passadas na peneira, depois de esfriar, para obter a massa separada da
semente. A mão ficava roxinha! Embaixo da peneira, na gamela, ficava aquela massa fina, que era
colocada no tacho com açúcar para alguém mexer (tinha que ser com colher de pau) até que o
doce soltasse do fundo do tacho e pudesse ser colocado em vasilhas. Se fosse doce de compota, o
trabalho era maior: tinha que selecionar a goiaba muito bem, descascá-la e retirar o miolo, que
poderia ser usado para o doce de massa. Doce de leite era mais fácil. De banana também. Ah!
Depois que a bananeira produzisse cacho, tinha que ser cortada, porque o pé só dava cacho de
banana uma vez! (Que esquisito! Por que isso?). O leite que chegava da fazenda era coado, fervido