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“Os neuróticos (...) são os únicos até hoje que trouxeram a questão de
religiosidade, de uma crença maior inclusive de ajuda no seu problema. São
pacientes que têm um grau de dependência muito grande, então são pacientes que
também apresentam superego, que nós chamamos em Psicanálise, muito rígido e
exacerbado. (...) trazem muito essa coisa de uma força maior, do lado espiritual, de
uma busca inclusive é, complementar né, ao processo terapêutico de ir buscar força
na divindade, força no espírito, na alma. (...) Os psicóticos, nesse caso, a maioria
deles trazem nos seus delírios e alucinações a questão da religiosidade, eles trazem
né, mas trazem de uma maneira pejorativa, de uma maneira posso dizer assim de
destruição...” (E2).
Já outro entrevistado, em concordância com estas ideias, mas a partir de uma
perspectiva sistêmica, colocou:
“A religiosidade e a forma como o cliente lida com a religiosidade dele
depende do padrão de funcionamento que o cliente tem. Então, a forma como ele
lida com a religiosidade é a forma como ele lida com todas as outras questões de
vida, ou de uma forma mais flexível ou de uma forma mais rígida, ou depositando na
religião as suas dificuldades ou as suas saídas, ou as suas justificativas. Então, eu
faço um paralelo entre a forma como ele lida com a religião, com a forma como ele
lida com as questões vitais dele” (E10).
Como se vê, estas proposições, embora partidas de correntes diferentes do
pensamento psicológico, apresentam um consenso, indo também ao encontro de publicações
que mostram a influência da constituição psicológica sobre religiosidade/espiritualidade do
sujeito (Amatuzzi, 2001; Lima, 2001; Vergote, 2001 c; Angerami-Camon, 2002).
Diante do exposto, percebe-se que os entrevistados possuem concepções formadas a
cerca da religiosidade, retratando-a como um aspecto próprio de cada indivíduo que reflete
suas crenças e valores, influenciando comportamentos e promovendo sustentação em
momentos de crise. Por este motivo, a investigação deste âmbito da vida dos