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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
CURSO DE MESTRADO
A INFLUÊNCIA DA RELIGIOSIDADE DO CLIENTE NO TRABALHO CLÍNICO,
NA PERSPECTIVA DOS PSICÓLOGOS
FLORIANÓPOLIS
2009
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MARTHA CAROLINE HENNING
A INFLUÊNCIA DA RELIGIOSIDADE DO CLIENTE NO TRABALHO CLÍNICO,
NA PERSPECTIVA DOS PSICÓLOGOS
Dissertação apresentada como requisito parcial à
obtenção do grau de Mestre em Psicologia,
Programa de Pós-Graduação em Psicologia,
Curso de Mestrado, Centro de Filosofia e
Ciências Humanas.
Orientadora: Prof. Dra. Carmen Leontina Ojeda
Ocampo Moré
FLORIANÓPOLIS
2009
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Aos profissionais que tomarem contato com este
trabalho, na expectativa de que façam bom uso
das informações aqui contidas. E aos clientes,
nossa razão de trabalhar.
AGRADECIMENTOS
Aos profissionais que participaram como sujeitos desta pesquisa, por aceitarem compartilhar
seus conhecimentos e práticas.
À minha orientadora, Prof. Dra. Carmen Leontina Ojeda Ocampo Moré, por todo o respeito,
companheirismo e profissionalismo que dedicou a mim e a esta pesquisa nesses anos que
estivemos juntas.
Ao meu marido, Tadeu David Geronasso, primeiramente por ser o meu marido! E também
por ultrapassar a função de marido, sendo o meu eterno companheiro! Agradeço ainda o
incentivo e o auxílio para este trabalho, bem como a dedicação ao cuidar de mim em todas as
viagens.
Aos meus pais Omar Antonio Henning e Joseli Carneiro Henning, por todo o amor e
cuidados a mim dedicados, fonte da sensibilidade, da garra, da idoneidade e da seriedade para
a vida e o trabalho. Certamente há um pedaço de cada um deles nesta obra!
À minha irmã Marina Claudia Henning, pelo companheirismo sendo sempre quem é, e por ter
aprendido o “psicologuês” e me acompanhado em diversas elucubrações.
Aos meus avós, pelas marcas que deixaram em minha espiritualidade, que os fazem sempre
presentes, mesmo que nem todos estejam neste momento.
Às minhas amigas Ana Claudia Wanderbrook e Fátima Minetto, pelo carinho, por cada
conversa, cada caminhada, cada viagem e pelos auxílios e incentivos.
À Universidade do Contestado Campus Mafra, local onde eu trabalho, representada
especialmente pelas pessoas de José Alceu Valério, Luis Antonio Machado e Ademir Flores,
meus agradecimentos por todo auxílio e incentivo para esta pesquisa e para a evolução do
conhecimento.
E principalmente a Deus e ao mundo espiritual, que com tanto amor e dedicação trabalham
para o nosso bem.
A todos vocês, eternamente, muito obrigada!
Nascer, crescer, viver, morrer, renascer ainda,
progredir sempre, tal é a Lei”. Hippolyte Léon
Denizard Rivail.
SUMÁRIO
RESEUMO ................................................................................................................................ ii
ABSTRACT .............................................................................................................................. iii
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................01
2 OBJETIVOS ..........................................................................................................................05
2.1 Objetivo Geral .....................................................................................................................05
2.2 Objetivos Específicos..........................................................................................................05
3 REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................................06
3.1 A Religiosidade: Conceitos Relacionados .........................................................................06
3.2 A Religiosidade e a Influência Cultural ..............................................................................08
3.3 A Religiosidade no Brasil ...................................................................................................18
3.4 Religiosidade & Saúde ........................................................................................................23
3.5 A Religiosidade na Psicologia e na Psicoterapia ................................................................28
4 MÉTODO ..............................................................................................................................39
4.1 Caracterização da Pesquisa .................................................................................................39
4.2 Caracterização do Local .....................................................................................................39
4.3 Participantes .......................................................................................................................40
4.4 Instrumento de Coleta de Dados .........................................................................................43
4.5 Procedimentos ....................................................................................................................44
4.5.1 Coleta de Dados
..............................................................................................................44
4.5.2 Análise dos Dados
............................................................................................................44
4.6 Aspectos Éticos ...................................................................................................................46
5 RESULTADOS......................................................................................................................47
5.1 Apresentação das Categorias, Subcategorias e Elementos de Análise das Entrevistas ......47
6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...............................................................55
1 Concepção sobre Religiosidade/Espiritualidade nos Profissionais.......................................56
1.1 Visualizando as Crenças Religiosas ...................................................................................56
1.2 Visualizando a Influência de sua própria Crença Religiosa/Espiritual na prática Clínica .61
1.3 Relação entre Religiosidade/Espiritualidade dos Clientes/Pacientes e a
Psicoterapia/Análise ..................................................................................................................62
1.4 Visualizando a Construção das Crenças Religiosas...........................................................66
1.5 Relação entre Religiosidade/Espiritualidade e a Personalidade .........................................69
2 A Temática da Religiosidade/Espiritualidade durante a Formação Profissional ..................71
2.1 Concepção da Religiosidade/Espiritualidade durante a Formação Profissional ................71
2.2 Necessidade de Incluir esta Temática na Formação dos Profissionais da Psicologia.........74
3 Aspectos da Religiosidade/Espiritualidade que Interferem no Processo
Terapêutico/Analítico ...............................................................................................................77
3.1 Aspectos Facilitadores do Processo Terapêutico/Analítico ...............................................78
3.2 Aspectos Dificultadores do Processo Terapêutico/Analítico ..............................................82
4 Ações Desenvolvidas pelo Profissional a partir da Presença da
Religiosidade/Espiritualidade no Contexto Terapêutico ..........................................................85
4.1 Utilizar Estratégias Terapêuticas para Trabalhar o Conteúdo Religioso/Espiritual que se
faça Necessário .........................................................................................................................85
4.2 Utilizar a Religiosidade/Espiritualidade do Cliente como Recurso Terapêutico ................90
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................95
8 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................101
9 ANEXO...............................................................................................................................115
10 APÊNDICE ........................................................................................................................118
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Tabela de Caracterização dos Participantes da Pesquisa ........................................42
Tabela 2 – Tabela Referente às Categorias, Subcategorias e Elementos de Análise ...............48
ii
HENNING, Martha Caroline. A influência da religiosidade do cliente no trabalho clínico,
na perspectiva dos psicólogos. Florianópolis, 2009. 120 p. Dissertação de Mestrado em
Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa
Catarina.
Orientadora: Prof. Dra. Carmen L. O. Ocampo Moré
Defesa: 03/04/2009
RESUMO
A pesquisa teve como objetivo caracterizar a influência da religiosidade dos clientes no
trabalho clínico, na perspectiva dos Psicólogos. O estudo de natureza exploratório-descritivo
se desenvolveu sob a perspectiva da metodologia qualitativa e realizou-se com 13 psicólogos
clínicos, sendo a coleta de dados efetuada através de entrevista semi-estruturada em seus
ambientes de trabalho. Utilizou-se o modelo de análise categorial temática de conteúdo,
proposta por Bardin (1977), e os critérios de homogeneidade, recorrência e exaustividade. Os
resultados da análise foram sistematizados em 04 categorias, as quais representam as
regularidades e aspectos diferenciais presentes nos dados, e que tentaram abarcar a dinâmica
e complexidade da prática profissional dos participantes, no que diz respeito à influência da
religiosidade de seus clientes nos processos de psicoterapia e análise. Constatou-se que
embora com informações escassas ou imprecisas obtidas em suas formações acadêmicas,
esses profissionais apresentam-se atualmente com concepções formadas sobre o tema,
ancoradas em suas práticas clínicas e amparadas por preceitos éticos. Observou-se que os
psicólogos em questão consideram a religiosidade/espiritualidade como um aspecto próprio
de cada indivíduo, que reflete suas crenças e valores, direcionando a maneira de pensar e de
se comportar, devendo por isso ser investigada dentro de um trabalho clínico. Foi possível
verificar que a forma como a religiosidade/espiritualidade é vivenciada depende do
desenvolvimento psicológico do cliente/paciente, o que possibilita que o tema esteja ligado
tanto a aspectos facilitadores do processo terapêutico/analítico, quanto a aspectos que o
dificultam. Percebeu-se ainda, que existem não apenas estratégias terapêuticas para lidar com
a temática em questão, mas também a possibilidade de utilizar a própria
religiosidade/espiritualidade dos clientes/pacientes como recursos que visam atingir objetivos
terapêuticos ligados a promoção de saúde.
Palavras-chave: psicologia clínica, psicoterapia, religião, espiritualidade.
iii
HENNING, Martha Caroline. The Influence of Religiosity’s Clients at the Clinic Practice,
on the Psychologist’s Perspective. Florianópolis, 2009. 120 p. Dissertation (Master in
Psychology) – Program of Post-Graduation in Psychology. Federal University of Santa
Catarina.
Person who orientates: Prof. Dra. Carmen L. O. Ocampo Moré
Defence: 03/04/2009.
ABSTRACT
This work aimed to characterize the influence of religiosity’s clients at the clinic practice, on
the psychologist’s perspective. It is a descriptive-exploratory study that has been analyzed
under a qualitative method and developed with 13 clinic psychologists, being made to collect
data through semi-structured interview in their work environments. It was used the model of
categorical thematic content analysis, proposed by Bardin (1977), and the rules of
homogeneity, recurrence and exhaustivety. The results were divided in 04 categories, which
represent regularities and differential aspects of data, trying to include the dynamics and
complexity of professional practice of participants regarding influence of its religiosity’s
clients in the process of psychotherapy and analysis. It was found that even with limited or
inaccurate information obtained in their academic training, currently, these professionals have
formed conceptions on the subject anchored in their clinical practice and supported by ethical
precepts. It was observed that psychologists consider the question on religiosity/spirituality as
an aspect to each individual, that reflects their beliefs and values, directing how to think and
to behave, should therefore be investigated in a clinical work. It was possible to verify how
the religiosity/spirituality is experienced depends on psychological development of
client/patient, which allows the issue is related to both aspects of the therapeutic/analysis
process facilitators, to issues that hinder it. It was noticed also that there are not only
therapeutic strategies for dealing with the topic in question but also the possibility of use their
own religiosity/spirituality of clients/patients and resources aimed at achieving therapeutic
goals related to health promotion.
Keywords: clinical psychology, psychotherapy, religion, spirituality.
1
1 INTRODUÇÃO
A religiosidade acompanha o homem desde seus primórdios. Através dos vestígios
das diferentes culturas, nos diferentes lugares do mundo obtêm-se provas concretas disso nas
construções de símbolos e registros escritos. Enquanto um componente da vida humana sua
influência não se restringe ao âmbito sociocultural, aparecendo também na constituição da
subjetividade do indivíduo, expressa em crenças, valores, emoções e comportamentos a ela
relacionados.
Entretanto, a Religião, como campo de convergência desta expressão ao longo dos
tempos, foi colocada em tela na época moderna, principalmente pela dificuldade
metodológica da “prova real” da existência em termos concretos da fé, frente a uma cultura
de conhecimentos em que as relações precisavam ser quantificadas. A própria Psicologia
sofreu efeitos deste paradigma científico, apesar de se constituir como uma ciência humana, o
que gerou uma tensão frente à possibilidade de se adotar a Religião como campo ou elemento
de estudo.
Para a compreensão desta situação, é interessante apontar que a Psicologia não foi
sempre uma ciência autônoma, pois seu esboço começou como parte do interesse da Filosofia
na Idade Antiga, tendo sido a Grécia o berço dos primeiros filósofos (Pitágoras, Heráclito,
Anaxágoras, Sócrates, Platão e Aristóteles) que pensaram sobre o tema, datados dos séculos
VI até IV a.C. Posteriormente, na Idade Média (entre os séculos V e XV d.C.), teólogos e
filósofos como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, apesar de contribuírem com
reflexões de temas relacionados à Psicologia, demonstravam uma ocupação em submeter
todo o saber à fé cristã, tal a característica da época (Freire, 2002).
2
Entretanto, no despontar da Idade Moderna (século XV), tanto o Iluminismo quanto
os trabalhos de estudiosos como Galileu e Descartes contribuíram para dissociar
progressivamente a Religião dos estudos científicos. Assim, o rigor dos mesmos passou a ser
aferido pelas medições feitas, pela redução da complexidade dos objetos de estudo, bem
como pela neutralidade e objetividade do pesquisador, culminando em um grande conflito
entre Ciência e Religião.
Gradativamente, as ciências humanas voltaram a ser vistas como ciências do espírito,
onde sua meta passou a ser a compreensão e comunicação, não a previsão e o controle
(Figueiredo, 1991). Com isso, a religiosidade pôde tornar-se efetivamente um objeto de
estudo da Psicologia, e a Religião pôde estabelecer uma relação com a mesma, sem
sobreposições entre essas diferentes áreas da existência humana. Neste caminho, a
religiosidade apareceu nos estudos de diferentes linhas de pensamento psicológico,
primeiramente associada a patologias psíquicas, e posteriormente adjunta também a
processos de promoção de saúde.
Assim, na historia da Psicologia observam-se leituras divergentes sobre o efeito das
crenças religiosas nos indivíduos, apesar de reconhecerem, de um modo geral, seu efeito
benéfico na saúde mental. Isto fica evidente no campo da teoria psicanalítica. Na perspectiva
dessa linha de estudo, por um lado, a crença religiosa passa ser compreendida como
“infantilismo psíquico” (no sentido da relação paternalista que se estabelece com a divindade
e que serve à pulsão de autoconservação); por outro lado, também um reconhecimento de
seu auxílio à saúde psíquica (Vergote, 2001). Por sua vez, encontram-se estudiosos como
Carl Jung, que conjugando as ideias psicanalíticas, faz uma leitura diferente da religiosidade,
ressaltando a influência dos valores religiosos nas metas da segunda metade da vida,
reconhecendo-a como essencial para a saúde psicológica. Indo ao encontro das ideias
junguianas, mas em outras perspectivas teóricas, encontram-se autores como Erich Fromm,
3
Viktor Frankl e Abraham Maslow, que de forma geral apontam a religião como uma
necessidade humana que ajuda a encontrar o sentido da vida (Socci, 2006).
cerca de trinta anos, evidencia-se um aumento da produção de estudos aonde se
vêm constatando que a crença religiosa tem grande influência na vida das pessoas,
principalmente em sua saúde física e psicológica. Além disso, como a religião é um aspecto
importante da vida humana que forma sistemas de valores, influenciando crenças e práticas,
se faz presente nos atendimentos clínicos de Psicologia. No entanto, Cambuy, Amatuzzi &
Antunes (2006) apontam para a dificuldade dos profissionais da área frente a questões ligadas
a esta temática, mostrando a necessidade de desenvolver estudos científicos para aprofundar
o conhecimento sobre o tema e sua relação com a prática clínica e a promoção de saúde
mental.
Tendo isso em vista, o objetivo desta pesquisa foi caracterizar a influência da
religiosidade dos clientes no trabalho clínico, na perspectiva dos psicólogos. Para tal, foram
analisadas as concepções dos entrevistados sobre o assunto, verificando os aspectos
facilitadores e dificultadores da presença do mesmo nos processos de intervenção terapêutica.
Também se identificou o conjunto de ações desenvolvidas pelos profissionais, em vista desta
temática no contexto terapêutico e a pertinência da inclusão da religiosidade dos clientes,
como um instrumento de observação e intervenção na prática clínica.
Buscando congregar as diversidades presentes na Psicologia, estabeleceu-se que os
sujeitos da pesquisa seriam psicólogos clínicos de correntes teóricas variadas. A intenção,
com isso, não foi analisar suas linhas de estudo, mas o processo de intervenção psicológica
em si, no tangente a influencia da religiosidade dos clientes.
Cabe mencionar ainda, que como os assuntos relativos à Psicologia da Religião são
complexos, é necessário um mapeamento conceitual para nortear o trabalho (Amatuzzi,
2001). Assim, o termo religiosidade é compreendido como um conjunto de práticas e
4
princípios que são adotados a partir da aceitação de uma seita ou instituição religiosa. a
espiritualidade diz respeito a vivências mais próprias da pessoa, como que individualizadas
por ela (Socci, 2006).
Ademais, entende-se que a aceitação da crença e a concretização de sua prática são
um processo complexo no qual convergem aspectos culturais, sociais e psíquicos. Com isso,
considera-se a possibilidade de utilizar os conhecimentos gerados com este estudo como
fonte de informação e reflexão para o trabalho clínico, tanto na formação, quanto na atuação
do psicólogo. Acredita-se que ao gerar bases de dados científicas, contribuir-se-á para a
ressignificação da temática da religiosidade na perspectiva do reconhecimento da mesma
como um instrumento possível de promoção de saúde.
Tendo em vista tais informações, perguntou-se: qual a influência da religiosidade do
cliente no trabalho clínico, na perspectiva dos Psicólogos?
5
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Caracterizar a influência da religiosidade dos clientes no trabalho clínico, na
perspectiva dos Psicólogos.
2.2 Objetivos Específicos
Analisar a concepção dos entrevistados sobre a temática da religiosidade no campo da
intervenção clínica.
Verificar, na perspectiva dos entrevistados, os aspectos facilitadores e dificultadores
da temática da religiosidade no processo de intervenção terapêutica.
Identificar o conjunto de ações desenvolvidas pelo profissional, a partir da presença
da temática da religiosidade no contexto terapêutico.
Identificar, na perspectiva dos entrevistados, a pertinência da inclusão da temática da
religiosidade dos clientes, como um instrumento de observação e intervenção na prática
clínica.
6
3 REVISÃO DA LITERATURA
Tanto a religião quanto a ciência são atividades exclusivas e peculiares do homem.
Entretanto, enquanto as religiões proporcionam uma interpretação do mundo conectada com
o sentido da vida, a ciência por sua vez, busca assimilar a realidade em todos os seus fatores,
na construção do conhecimento. É nesse sentido que a religiosa e a ciência podem confluir
em uma nova perspectiva de diálogo e colaboração mútua, desde que não se admita uma
conformidade total ou identificação de saberes; o pouco uma discordância tal que impeça o
diálogo entre essas áreas (Ortega, 2007; Martins, 2008).
É possível perceber que a dificuldade de inserção da espiritualidade no campo da
ciência não se restringe apenas à influência do paradigma positivista/cartesiano, mas também
à incongruência de estudiosos que, embora adeptos de práticas religiosas, insistem em negar
tal ocorrência em suas vidas (Angerami-Camon, 2002). Entretanto, a tendência pós-moderna
proporcionou que todas as formas de conhecimento humano fossem valorizadas, incluindo-se
o conhecimento e as crenças religiosas (Bruscagin, 2004; Savio & Bruscagin, 2008).
3.1 A Religiosidade: conceitos relacionados
Para Silva (2004, pg. 04), “a definição de religião mais aceita pelos estudiosos, para
efeitos de organização e análise, tem sido a seguinte: religião é um sistema comum de crenças
e práticas relativas a seres sobre-humanos dentro de universos históricos e culturais
específicos”.
Giovanetti (1999) destaca o lado institucional das religiões, através do qual elas
visam o monopólio de traçar o caminho certo para o contato com Deus. Assim, podem-se
considerar todas as religiões como “um conjunto estruturado de representações, experiências
7
afetivas, de comportamentos rituais e de leis morais” (Vergote, 2001 b). Neste sentido, todas
as religiões e seitas possuem dogmas, que são os fundamentos de qualquer sistema ou
doutrina (Angerami-Camon, 2001).
No que diz respeito à expressão seita, para Mather & Nichols (2000, pg. 408) é
descrita como “grupo religioso que se separa de uma religião estabelecida, devido ao
carismatismo e pregação de um ex-líder local, que geralmente alega ter revelações advindas
direto do céu”.
Tendo isto em vista, a religiosidade pode ser considerada como crenças associadas a
uma seita ou religião específica, caracterizada pela prática de rituais religiosos públicos que
são compartilhados com pessoas que possuem as mesmas ideias a este respeito (Socci, 2006).
Esta descrição vem de encontro ao conceito de adesão religiosa de Amatuzzi (2001), que
alude ao fato do indivíduo se considerar pertencente a uma determinada religião.
A espiritualidade, por sua vez, refere-se a atividades solitárias como preces e leituras
religiosas. Assim, o termo espiritualidade está mais ligado a vivências intrínsecas ao
indivíduo, enquanto que o termo religiosidade expressa vivências mais extrínsecas a ele
(Socci, 2006). Neste sentido, é comum que a espiritualidade coexista com a religiosidade,
embora às vezes isso não aconteça necessariamente. Percebe-se que muitas pessoas não
aderem mais a uma religião institucionalizada, mas a adaptam a um sentimento pessoal,
íntimo, não acompanhado pela participação em comunidades ou instituições religiosas,
contudo, sem deixar de rezar ou acreditar em Deus (Giovanetti, 2001; Antoniazzi, 2003).
Amatuzzi (2001) esclarece que a vivência religiosa é a experiência pessoal no campo
da religião. Ao tomar posicionamentos pessoais a este respeito, criam-se formas religiosas
que variam de pessoa para pessoa, pois mesmo dentro de uma forma religiosa igual, existem
variações que dependem do grau de enraizamento dessa tomada de posição.
8
Isso faz refletir sobre a , que para o mesmo autor se refere àquilo que para a
pessoa o sentido de viver, constituindo-se como uma confiança básica que se torna fé
religiosa apenas quando passa a ter um objeto transcendente. Existem dois tipos de fé, a
perceptiva e a dogmática. A primeira é aquela que faz com que o indivíduo acredite em sua
sensopercepção; a segunda, por sua vez, é aquela estruturada e que não depende de fatos
concretos para se tornar realidade (Angerami-Camon, 2001).
3.2 A Religiosidade e a Influência Cultural
Nas formas históricas de religião tudo se desenrola com muita clareza. Elas se vestem
de variados conceitos e rituais, mas designam e visam estados e percepções bem semelhantes.
No Oriente as religiões (Budismo, Hinduísmo, Taoísmo, Xintoísmo) tenderam a afastar-se da
noção de um "ser supremo" e passaram a atentar-se a um estado de bem-estar centrado em
uma forma de transcender o existir trivial. Este estado poderia ser alcançado através de
exercícios de meditação, que assumiriam formas e nomes variados, mas caminhariam todos
em direção a um destacar-se do habitual, do corpo e das preocupações mais imediatas da vida
(Valle, 2001).
Já no Ocidente e Oriente Médio, em suas três principais correntes religiosas (o
Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo) o ser superior é uma pessoa, o que dá para a religião
uma conotação específica de cunho relacional, que tem seu auge na reciprocidade assumida
através de um diálogo interpessoal. Entretanto, na essência, a experiência religiosa subjacente
ao proposto por todas estas religiões tem pontos evidentes de contato no tocante às suas
experiências, práticas, rituais e crenças essenciais (Valle, 2001).
Por outro lado, abordar a religiosidade como algo homogêneo e universal, torná-la
um fenômeno generalizável implicaria no risco de se perder sua originalidade, uma vez que
9
essa dimensão da experiência humana se distingue pelo seu caráter sociocultural e histórico
(Dalgalarrondo, 2006).
Pessoas religiosas compreendem os eventos da vida dentro da estrutura de sua
crença. Tanto espiritualidade quanto religião são aspectos importantes da experiência
humana, pois os ensinamentos e atividades religiosas fazem parte da cultura e do sistema de
valores e são base de julgamentos, escolhas e comportamentos, sendo um fenômeno social e
cultural (Mahfoud, 2001; Stadtler, 2002; Valle, 2002; Bairrão, 2004; Brusgagin, 2004;
Dalgalarrondo, Soldera, Corrêa-Filho & Silva, 2004; Epelboim, 2006; Hefner, 2007; Paiva,
2007; Peres, Simão & Nasello, 2007; Gomes, 2008).
Neste percurso, surge diante do indivíduo um sistema de experiências acumuladas e
saberes cristalizados sob a forma de sistemas religiosos, os quais são apresentados na
configuração de respostas prontas que podem ser assimiladas ou não (Amatuzzi, 1999).
Então, as crenças religiosas acabam por gerar diretrizes para a vida, pois um conjunto
relativamente estável de valores e comportamentos esperados, que servem de referência para
cada ação e tomada de decisão (Gomes, 2008). Desta forma, a dimensão espiritual acaba
influenciando muitos aspectos da existência humana, como os biológicos, psíquicos e sociais
(Amatuzzi, 2008).
Valle (2002) explica que o religioso readquire uma função re-ordenadora da
percepção de si (auto-imagem, senso de identidade) e do mundo (sentido e opções de vida)
que havia sido perdida. O religioso exerce ainda, uma função de inserção e/ou reinserção do
indivíduo em um grupo, um meio sociocultural motivador e dotado de sentido. Além disso, a
atitude não é apenas um sentimento de autopercepção ou uma valorização do objeto religioso;
ela envolve a ação de afirmação ou de negação em relação a questões extremamente
concretas que chega a modificar a personalidade do sujeito, sendo dela inseparável.
10
Desta forma, Cambuy, et al (2006) afirmam que também existem interpretações
espirituais ou religiosas para problemas de percepção ou de comportamento. Além disso,
crenças pessoais ligadas à espiritualidade ou à religiosidade podem ao mesmo tempo
funcionar como uma estratégia para se conseguir resolver os problemas, uma vez que dão
significado ao comportamento humano e influenciam a qualidade de vida (Koenig, Larson &
Larson, 2001; Pinezi & Romanelli, 2003; Panzini & Bandeira, 2005; 2007; Dalgalarrondo,
2007; Fleck & Skevington, 2007).
Sabendo da influência da religiosidade no comportamento das pessoas, dada sua
infiltração em questões socioculturais, Vergote (2001 b) defende a ideia de que o psicólogo
estude as pessoas considerando-as em seu contexto cultural-religioso, tal como fazem os
antropólogos. A observação psicológica constituir-se-ia então, em escutar as expressões
religiosas e observar os comportamentos que a cultura designa como religiosos para
interpretá-los em sua relação, sem ajuizamentos a cerca da verdade de tais convicções.
Assim, Hefner (2007) igualmente discorre sobre a influência cultural exercida pela
religião nas crenças e valores dos indivíduos. Explica ainda que a religião expressa aquilo
que é importante na cultura, influenciando sobre o que deve e não deve ser feito, sobre o que
é certo e errado, sendo que isso vai do ritual à prática. Os mitos descrevem como as coisas
devem ser; os rituais são conjuntos de ações simbólicas que fazem certa mediação entre o
mito e a prática; e a prática, por sua vez, é a transformação das ações simbólicas em
comportamentos fora dos locais sagrados. Deste modo, este autor deixa clara a forma pela
qual a religião é incorporada nos sistemas de valores e passa a influenciar ideias e
comportamentos daqueles que a praticam.
Neste sentido, Burity (2001) inclui a relação entre religião e política, afirmando que a
mesma se torna indissociável, uma vez que a referência à moralidade religiosa também serve
para avançar preocupações morais, sociais ou políticas amplas. Em contrapartida, a
11
regulação das relações de pares e as normas de conduta sexual atreladas ao universo religioso
(vindas, sobretudo do cristianismo, desde o período colonial) asseguram que se mantenham
os costumes e a ordem social e política (Bidegain, 2005).
Pode-se perceber também, que os movimentos religiosos fornecem sentido e
racionalidade em momentos ou situações onde não há nada mais capaz de fornecer isso ao ser
humano. Albuquerque & Souza (2002) fazem alusão à crise das categorias explicativas que
acompanha os processos de racionalização da modernidade, que insuficientes para fornecer a
realização de metas sociais, fazem com que parte das populações urbanas produza uma
recuperação do sagrado. Essa contradição da negação de Deus pela ciência e modernidade,
acompanhada do ressurgimento da dimensão religiosa possibilita considerações sobre a
importância da religiosidade para e realização do homem (Giovanetti, 1999), uma vez que
mesmo que suas manifestações tenham mudado ao longo do tempo, a religião sempre esteve
presente na história do homem (Campos-Brustelo & Silva, 2003).
Neste sentido, Albuquerque (2001), ao estudar religiões orientais constatou a relação
da sua prática como uma forma de resgate de traços culturais pré-modernos, incluindo
comportamentos ligados à vida comunitária, à rusticidade, à aliança com a natureza, ao
contato direto com o sagrado, ao artesanato e à simplicidade, opondo-se assim ao
cientificismo e ao ateísmo e preservando ao mesmo tempo o patrimônio étnico e cultural.
Ao pesquisar sobre a presença de crenças religiosas na vida de estudantes
universitários, detectou-se que os motivos que os levam a procurar diferentes movimentos
religiosos envolvem: curiosidade, busca de algo superior, busca de conhecimento,
similaridade de ideias pessoais com a proposta do movimento, satisfação pessoal,
solidariedade, falta de amigos, problemas de saúde, resolução de conflitos, comportamento
reflexivo, busca de sentido para as situações da vida e necessidade de compreender melhor o
cotidiano (Barros & Santos, 1999). Além disso, fatores como a idade, a personalidade, os
12
conflitos vividos pelo sujeito e o tipo de experiências religiosas vividas também determinam
o desejo pela manifestação religiosa (Vergote, 2001 b).
Campos-Brustelo & Silva (2003) também observaram que para alguns jovens a
religião se constitui como uma das vozes que se fazem presentes no cotidiano dos mesmos,
ora entrando em conflito com suas práticas, ora levando-os a se posicionarem de maneira
diferenciada em virtude do credo. Os autores afirmam ainda que existem grupos de
adolescentes seguindo corretamente sua doutrina, vivendo a religiosidade intensamente. Em
ambos os casos, o significado atribuído pelos fiéis à participação religiosa se refere a
conseguir bênçãos de Deus, buscar a salvação e ajudar as pessoas.
No que diz respeito a conseguir bênçãos de Deus, verificou-se que esta proteção
abrange desde sentimentos de bem-estar ou harmonia com familiares, até coisas mais
concretas, como conseguir emprego. Quanto à busca pela salvação, esta está associada aos
questionamentos acerca do que existe depois da morte, ou o que acontece para além da vida.
sobre ajudar as pessoas, alguns fiéis significam suas participações religiosas como uma
forma de auxílio aos da mesma igreja, o que envolve: contribuir com Deus para melhorar o
mundo, exercitar a e operar mudanças com a oração, afastamento das coisas mundanas,
desenvolvimento da capacidade pessoal de tolerar, perdoar e socializar (Campos-Brustelo &
Silva, 2003).
Discutindo se a religiosidade é do campo do desejo ou da necessidade humana, Paiva
(2001) esclareceu que se o interesse pela religião resultar do desejo será variado de acordo
com a liberdade individual; no entanto, se resultar da necessidade, terá maior imperiosidade,
mas sem oscilações ou variações. Para ele, a necessidade do religioso pode ser derivada
também da cultura, que por meio da linguagem desperta e encaminha para algum tipo de
satisfação de necessidades (como movimentos religiosos que surgem de condições sociais
adversas), sem, contudo, tratar-se de uma necessidade instintiva. Mais adiante Paiva (2001
13
b) chega à conclusão que a adesão religiosa pode ser tanto uma necessidade, quanto uma
escolha.
Na mesma discussão, Giovanetti (2001) faz alusão à cultura do desejo na sociedade
ocidental atual, onde defende a ideia de que, devido à supervalorização do “eu” na pós-
modernidade, encontra-se a expressão de Deus em vivências pessoais, onde se observa tanto
uma individualização do religioso, quanto o desejo como centro da experiência religiosa.
A religião constitui um importante elemento da vida humana, uma vez que sua
influência não se restringe ao âmbito sociocultural, aparecendo também na constituição do
indivíduo. No que diz respeito à relação entre religiosidade e saúde mental, a experiência
religiosa está ligada à individuação, uma vez que quando a pessoa unifica sua personalidade
ela se aproxima da sua espiritualidade. Contudo, tal vivência pode também contribuir para
um decréscimo do autoconhecimento, caso o indivíduo utilize-se de suas crenças para afastar-
se de aspectos de sua própria sombra, projetando-os em virtude de credos religiosos que
presentificam figuras representativas da cisão entre o bem e o mal (Sengl, 2000).
Neste sentido, a vivência alienadora da religião também pode acontecer quando a
religião apresentada pela família ao indivíduo como resposta pronta difere de seu campo de
experiência e de seus sentimentos pessoais. Entretanto, caso a pessoa vivencie a religião que
lhe é apresentada como uma experiência pessoal promotora de sentido, a mesma estará ligada
ao crescimento, não à alienação (Amatuzzi, 1999).
No caso do pentecostalismo, por exemplo, um estudo mostrou que após a conversão
religiosa, as pessoas percebem a si mesmas como mudadas em pelo menos dois diferentes
aspectos: traços de personalidade (temperamento, por exemplo) e identidade social (incluindo
vínculos, sentimentos de pertinência, papéis, percepções do mundo, etc.). Além disso, essas
mudanças são consideradas positivamente tanto pelos seguidores, quanto pelos outros
(Stadtler, 2002).
14
Amatuzzi (2001), por exemplo, ao desenvolver uma pesquisa que visava descrever a
experiência religiosa das pessoas, constatou que os depoimentos colhidos mostravam
diferentes níveis de maturidade religiosa e construiu uma teoria do desenvolvimento
religioso. Desta forma, traçando um paralelo entre o desenvolvimento psicológico e o
religioso, o autor explica que quando se tem no primeiro ano de vida uma relação saudável
com seus cuidadores, desenvolve-se uma confiança básica que mais tarde servirá de base para
as formas posteriores de fé verdadeira.
Para o autor, na infância, de modo geral, a criança dedica-se a aprendizagens, sendo
que no âmbito religioso ela recebe a religião dos pais e tenta compreendê-la concretamente.
Na adolescência, com as tentativas de libertar-se e adquirir uma identidade, é comum que
haja um questionamento (ou até abandono) da prática religiosa da família, adotando a forma
de pensar do seu grupo social. No desenvolvimento do adulto jovem o desafio na formação
do eu está ligado com a experiência da intimidade, o que faz com que uma relação superficial
deixe de ser suficiente para sustentar um posicionamento religioso. Para o adulto de meia
idade (35/40 anos) o abrir-se à fecundidade da vida também tem implicações na vivência
religiosa, onde surge uma preocupação em trazer uma contribuição para a sociedade. O
adulto maduro, por sua vez, busca um novo sentido mais pessoal para tudo, fazendo com que,
no âmbito religioso, a fé e a relação com Deus tornem-se mais pessoais, onde os ritos
externos passam a ser apenas instrumentos de importância secundária. Chegando à terceira
idade, a experiência do desapego devido às muitas perdas vividas pode facilitar uma
experiência religiosa real, de entrega absoluta e incondicional.
Desta forma, para o autor, o religioso não é um elemento estranho acrescido ao
humano, mas sim algo que surge no seu desenvolvimento naturalmente. Assim, por estar
funcionalmente ligada à maturidade geral do indivíduo, depois da adolescência a
religiosidade autêntica é fundamentada pela experiência e assumida pessoalmente, sendo que
15
as formas religiosas da vida adulta que diferem disso são consideradas imaturas por não
corresponderem às necessidades existenciais de cada idade (Amatuzzi, 1999; 2001).
Após uma experiência religiosa marcante, o indivíduo re-significa sua confiança
básica nos termos da em questão, onde acaba passando novamente por todas as fases do
desenvolvimento religioso anteriormente descritas (Amatuzzi, 1999; 2001). Em concordância
com essas ideias Safra (1999) afirma que a vivência de sentido do sagrado apenas acontece
quando a pessoa consegue fazer da religião convencional uma experiência subjetiva.
Como se vê, existe hoje o reconhecimento da importância em se estudar a prática
religiosa justamente por ser ela uma das coisas que influencia a vida, o comportamento e a
formação da identidade das pessoas. Com essa linha de raciocínio, ao pesquisar o lazer
juvenil, Santos (2007) observou que alguns adolescentes apontaram como uma das atividades
mais importantes realizadas no final de semana a ida ao culto religioso. Tendo em vista este
dado, concluiu que era fundamental compreender como eles se preparam para garantir espaço
para tal atividade, no âmbito do lazer, a fim de conhecer os projetos que moldam o cotidiano
e a identidade desses jovens.
Os grupos religiosos podem ser uma opção atrativa, pois oferecem segurança, solidez
e um sentido para a vida dos adeptos. Por possuírem normas e crenças, servem também como
ponto de referência para escolhas e influenciam a afetividade dos fiéis. Assim, é possível
verificar a importância da religiosidade também na adolescência, uma vez que se trata de um
período de consolidação da identidade, pois a experiência religiosa constitui uma variável a
mais no processo de transição entre a infância e a idade adulta (Carvalho, 1999).
Sabe-se que a influencia cultural vinda da religião chega até a unidade temporal, uma
vez que inclusive os calendários adotados por cristãos, judeus e muçulmanos possuem
contagens diferentes. Desta maneira, emerge a importância de quebrar o preconceito em
16
relação às diferenças religiosas e tratá-las como manifestações culturais, que têm o seu
significado e importância dentro de suas culturas (Bassini, 2004).
Então, Silva (2004, pg. 10 e 11) sugere alguns cuidados a serem tomados no respeito
à diferença de crenças religiosas:
Em primeiro lugar, aceitar que os seguidores de diferentes religiões consideram suas
crenças como verdadeiras e, talvez, a única verdade que admitem. Em segundo lugar,
permitindo que os outros tenham crenças diferentes e que, livremente, sem coerção de
qualquer espécie (familiar, social, educacional, etc.) possam mudar de religião,
denominação ou crença. Em terceiro, trabalhar em prol da garantia de livre prática
religiosa, dentro dos limites da razão, cultura e sociedade. Um outro conjunto de
ações afirmativas significa recusar-se a discriminar emprego, alojamento, função
social, procurando respeitar e acomodar as necessidades religiosas que envolvam dias
festivos, datas sagradas, rituais significativos. Da mesma forma, devemos ser críticos
e ativos contra crenças que promovem formas variadas de abusos físicos,
psicológicos ou materiais sobre seus seguidores como prova de fé.
Além disso, os processos de construção ou aprofundamento da democratização
produziram um efeito no campo da religiosidade e da cultura que permite tanto o pluralismo
religioso, quanto a vivência individual da religiosidade. Houve também um aprofundamento
da experiência religiosa como algo pessoal, individual, íntimo (Burity, 2001).
Desta forma, a racionalidade crítica da modernidade possui uma responsabilidade na
eliminação da religiosidade como uma obrigação, o que constitui uma mudança na cultura e
na disposição religiosa das pessoas. Um sinal desta mudança pode ser observado na
17
diminuição da prática do culto e da penitência, onde discursos acerca do pecado chegam a
soar como vindos de outra realidade (Vergote, 2001 c).
Considerando o individualismo como “a pedra angular da sociedade contemporânea”,
Giovanetti (2001) reflete sobre o indivíduo como referência central na organização a
sociedade, o que provoca a valorização de tudo aquilo que traz bem estar ao sujeito e coloca
em segundo plano as referências das autoridades e dos antepassados. Com isso, o despertar
do desejo pelo religioso acontece fora das instituições, o que se configura na causa do
destacamento do lado subjetivo da vivência da religião, na opinião do autor. É neste sentido
que no final do século XX se pôde observar um ressurgimento do fenômeno religioso numa
sociedade já vista como “pós-cristã” (Giovanetti, 1999).
Em pesquisa com pessoas que se declararam “sem-religião”, constatou-se que
algumas são realmente atéias, mas outras possuem religiosidade e apenas estão afastadas de
instituições religiosas. Os motivos alegados para tal afastamento envolvem o excesso de
normas, manipulação, fanatismo, intolerância, hipocrisia, falsidade e incoerência de algumas
doutrinas (Rodrigues, 2007). Já para Ribeiro (2004), uma das razões desse fenômeno está no
distanciamento atual entre o ensinamento moral das igrejas e a cultura dos jovens (sobre
questões familiares e da vida privada, como a sexual), pois cada nova geração começa sua
vida religiosa num nível de prática inferior à da precedente.
Como se pôde observar, as religiões, presentes em suas diversas manifestações
culturais, participam fortemente do ambiente no qual os indivíduos se desenvolvem. Por isso,
o psicólogo precisa familiarizar-se com as tradições religiosas da sua cultura (Ancona-Lopez,
1999), o que remete à importância de contextualizar neste trabalho a religiosidade no Brasil e
estudos relacionados.
18
3.3 A Religiosidade no Brasil
Ao falar em religião contextualizando o Brasil hoje, o sincretismo religioso surge
como uma temática a ser discutida. Trata-se da junção de crenças e ritos de religiões
diferentes, provocada pela ameaça (cultural, política, social ou psíquica) à sobrevivência dos
aderentes a uma delas.
Desta forma, o sincretismo tem sido apontado como uma
característica negativa de grande parte das manifestações religiosas brasileiras. Contudo,
alguns estudiosos vêm propondo uma apreciação positiva do sincretismo religioso, ligando-
o, por exemplo, à capacidade criativa do homem (Paiva, 1999).
Santos (2005) afirma que em 1980 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) identificou nove alternativas para filiação religiosa; posteriormente, em 1991, já eram
cinquenta e uma. Sobre isso ele explica que a diversidade de religiões, a migração entre elas e
a individualização da vivência religiosa estão sedimentando um novo cenário religioso no
país. Segundo Peres, et al (2007) apenas 7,3% da população brasileira não têm religião, o que
mostra a importância de pesquisas relacionadas a esta temática.
Antoniazzi (2003) apresenta e discute os principais resultados relativos à questão
“religião” que emergiram do Censo de 2000, realizado no Brasil. Constatou-se uma
diminuição da porcentagem dos católicos, de 83,8% (1991) para 73,8% (2000), embora em
números absolutos tenham aumentado de 121,8 milhões (1991) para 125 milhões (2000).
Houve ainda um aumento da porcentagem dos evangélicos, de 9,05% (1991) para 15,45%
(2000) e em números absolutos de cerca de 13 milhões para 26 milhões. Além disso, chama a
atenção o crescimento do número dos que se declaram sem religião, que passam de 4,8% da
população (1991) para 7,3% (2000), ou de 7 milhões para 12,3 milhões. Contudo, para o
autor a declaração “sem religião” parece indicar mais uma desinstitucionalização da religião,
e não a ausência total de fé.
19
Sobre o crescimento das igrejas evangélicas e a diminuição em percentagem dos
católicos, Antoniazzi (2003) explica que as primeiras se mostram mais dinâmicas ou
agressivas na procura de novos fiéis, enquanto a organização da Igreja Católica parece estar
lenta diante das mudanças socioculturais. Além disso, frisa que a organização católica está
muito dependente do padre e da paróquia, o que torna a questão mais difícil, que o número
dos padres não tem crescido com o mesmo ritmo da população. Desta forma, as paróquias
católicas das grandes cidades geralmente têm um número exagerado de habitantes, aos quais
não se pode oferecer o cuidado pastoral desejável. O autor ainda ressalta que não se pode
esquecer que um bom número de brasileiros frequenta práticas religiosas de vários cultos
simultaneamente, sendo que o censo não considera esses fenômenos de mistura de várias
religiões.
Por si só, o universo evangélico no Brasil é bastante heterogêneo, sendo que fazem
parte dele três vertentes principais: o protestantismo histórico, com as igrejas Luterana,
Metodista, Presbiteriana, Batista e Congregacional; os pentecostais, com as igrejas
Assembléia de Deus, Congregação Cristã, Quadrangular, Brasil para Cristo e Deus é Amor; e
as neopentecostais, com as igrejas Universal do Reino de Deus, Renascer em Cristo e
Internacional da Graça de Deus. É justamente a esperança de uma vida melhor que se mostra
à questão catalisadora de tantos adeptos, onde desfrutar dos privilégios do paraíso ainda na
Terra é uma das características principais dos grupos neopentecostais (Pinezi & Romanelli,
2003).
Foi justamente defendendo a diversidade cultural que o estudo dos fenômenos
religiosos foi valorizado como patrimônio histórico e o ensino religioso foi incorporado às
escolas públicas do estado de São Paulo. A importância desta implantação diz respeito a
desenvolver nos estudantes empatia, compreensão e respeito pelo diferente (Bassini, 2004;
Silva, 2004).
20
Sabe-se que o sincretismo foi uma estratégia de sobrevivência dos negros vindos da
África que eram proibidos de praticar suas crenças e que necessitaram “desafricanizar” seus
rituais (substituindo orixás por santos católicos, por exemplo) tendo em vista a repressão à
cultura e às religiões africanas que continuou existindo até 1977, apesar da libertação dos
escravos em 1888 e da separação da Igreja e do Estado em 1890 (Jensen & Mecabô, 2001).
A atual “reafricanização” dessas religiões que buscam novamente suas raízes é
favorecida pela liberdade de escolha, uma vez que a cultura e as religiões afrobrasileiras têm
retomado novas formas de construção de identidade, haja vista a sociedade intercultural de
hoje (Jensen & Mecabô, 2001). Isso possibilita elucubrações sobre como não apenas essas
religiões influenciam as práticas dos indivíduos, mas também são influenciadas pelas práticas
e cultura dos mesmos.
Jardilino (1997) defende a ideia de que o homem se interessa pela religião como um
catalisador das suas necessidades, que sempre houve o interesse por uma ordem cósmica
que regulasse sua vida e o livrasse das catástrofes naturais. Para ele, toda crença e prática
religiosas se convertem em interesse desde que venham satisfazer as demandas políticas e
econômicas de certos grupos sociais. Desta forma, cita o protestantismo como exemplo,
explicando que este entrou na sociedade brasileira quando o fascínio das elites pelas ideias
liberais (sucessoras do iluminismo) e o desejo do progresso para sair de um estado colonial,
se compuseram como fatores determinantes para a admissão de uma nova proposta religiosa
no país.
Quanto aos estudos sobre saúde mental e religião, estes têm crescido nas duas últimas
décadas no Brasil. Tais trabalhos foram iniciados no final do século XIX, onde na época
muitos deles dedicavam-se a descrever formas coletivas de "loucura religiosa". A partir da
década de 1960 a religiosidade brasileira passa a ser apreendida como fenômeno
sociologicamente significativo, e não mais como algo arcaico ou sintoma de atraso. Por sua
21
vez, os trabalhos contemporâneos tratam de temas da associação da religião com o uso de
álcool e drogas e com uma variedade de condições clínicas, como esquizofrenia e suicídio
(Dalgalarrondo, 2007).
Como exemplo, cita-se o estudo de Dalgalarrondo, et al (2004), que pesquisou se a
religiosidade influencia o uso frequente e/ou pesado de álcool e drogas em 2287 estudantes
de 1º e graus da cidade de Campinas - PR, onde constatou que o uso pesado de pelo menos
uma droga foi maior entre os estudantes que não tiveram educação religiosa na infância, ou
que não tinham religião. Já Dantas, Pavarin & Dalgalarrondo (1999) desenvolveram um
estudo que visava avaliar indícios psicopatológicos associados à presença e intensidade de
sintomas com conteúdos religiosos ou místicos, onde não foram encontradas relações
significativas entre presença dos mesmos e a filiação religiosa ou a intensidade da prática e o
diagnóstico psiquiátrico.
Além disso, outro gênero de pesquisa que tem sido publicada atualmente no Brasil
trata de relacionar consequências da aderência a religiões específicas na saúde mental ou em
aspectos psicológicos dos fiéis. Dentre essas pesquisas, algumas retratam o prejuízo trazido à
sexualidade que é vista como manifestação do demônio em religiões como o
neopentecostalismo (Bessa, 2006) ou o protestantismo (Gomes, 2006). No caso do
catolicismo, foi percebido que algumas mulheres apresentam um hiato entre a orientação da
igreja sobre sexualidade e suas condutas sexuais efetivas, sendo que estas orientações foram
questionadas e adaptadas às suas realidades, apesar de terem sido mantidas orientações
católicas acerca de outros valores morais e éticos (Rodrigues, 2003). Já quanto a Igreja
Universal do Reino de Deus, apesar de fazer referência às cobranças quanto à submissão da
mulher, vendo-a como porta de entrada do “mal”, Pimentel (2005) constatou os benefícios
trazidos para a saúde mental/psicológica pela prática do ritual do exorcismo.
22
Carvalho (1999), por sua vez, desenvolveu um estudo buscando investigar a
influencia religiosa no comportamento afetivo-sexual de adolescentes mineiros, onde
constatou que os jovens sem afiliação religiosa se envolvem mais nos relacionamentos do
tipo namoro, relação sexual e carícias avançadas. os religiosos alegaram que demoram
mais para envolver-se neste tipo de relacionamento por atribuírem uma alta significação a
isto.
Sobre questões ligadas a religiões espíritas e espiritualistas, como é o caso da
mediunidade, sabe-se que na história da Psicologia e da Psiquiatria fenômenos de transes
mediúnicos sempre foram associados a patologias mentais, dissociação e subconsciente
(Almeida, Oda & Dalgalarrondo, 2007; Alvarado, Machado, Zangari & Zigrone, 2007).
Apesar disso, Almeida (2005) desenvolveu um estudo cientifico para definir a saúde mental
em médiuns espíritas brasileiros, onde foi constatada a baixa prevalência de transtornos
psiquiátricos, a impossibilidade de tratar-se de dissociação, além de uma boa adequação
social dos mesmos. Assim, percebe-se que embora a classificação da mediunidade como
loucura tenha exercido influência sobre a população, não chegou a ponto de impedir a
disseminação da valorização da mediunidade no Brasil (Almeida, et al, 2007).
Para Carvalho (1999), existe ainda um destaque da autonomia dos adeptos da doutrina
Kardecista, pois a orientação espírita advoga o livre-arbítrio e a necessidade de refletir e
responsabilizar-se pela escolha de seus atos. Por sua vez, no que diz respeito à prática da
Umbanda no Brasil, um estudo permitiu concluir que a forma como esta constrói a imagem
da delinquência induz a exercícios de reparação (Bairrão, 2004).
É necessário observar também que os dados sobre religião podem ser comparados
com outros dados do Censo de 2000 realizado no Brasil (como por exemplo, a diminuição da
natalidade e o aumento dos casamentos consensuais sem legalização), os quais apontam uma
modernização dos hábitos da população e um crescimento do individualismo e subjetivismo
23
religioso (Antoniazzi, 2003; Rodrigues, 2007). Entretanto, as religiões ainda são importantes
na cultura contemporânea na medida em que continuam a produzir sentido, mesmo que
tenham perdido a hegemonia de outrora (Ribeiro, 2004).
3.4 Religiosidade & Saúde
Moreira-Almeida, et al (2006) desenvolveram uma pesquisa onde toda a evidência
científica disponível sobre a relação entre religião e saúde mental foi revisada utilizando-se
de várias bases de dados de boa qualidade. Foi percebido que a maioria dos estudos detectou
que maiores níveis de envolvimento religioso estão associados positivamente aos indicadores
de bem-estar psicológico e a menos depressão, pensamentos e comportamentos suicidas,
uso/abuso de álcool/drogas. Encontraram ainda evidências científicas de que o impacto
positivo do envolvimento religioso na saúde mental é mais intenso entre pessoas sob estresse,
como idosos e indivíduos com deficiências e doenças clínicas.
Para estes autores, de um modo geral, a religião influencia a saúde mental através da
promoção de um estilo de vida que incentiva comportamentos saudáveis e de gerar um
sistema de crenças que auxilia no enfrentamento de estresses, sofrimentos e problemas.
para Savio e Bruscagin (2008), as práticas religiosas além de incentivarem a participação em
rituais que favorecem a união familiar, oferecem ainda um lugar para encontros e atividades
grupais que se tornam uma valiosa rede de apoio e relacionamentos, permitindo a seus
adeptos inclusive uma integração a determinada comunidade que contribui para processos de
enraizamento (Gomes, 2008).
Independentemente do credo, a experiência religiosa marcante possui consequências
na forma como a pessoa vive, sendo constantemente associada à maior desapego das coisas, a
24
aquisição de um senso maior de fraternidade com empenho na solução dos problemas
humanos, além de um sentimento de alegria mais profundo (Amatuzzi, 1999).
Ao estudarem a experiência religiosa aliada ao crescimento pessoal de católicos,
Baungart & Amatuzzi (2007) afirmam que a experiência religiosa dos participantes
contribuiu para uma mudança subjetiva com consequente modificação de comportamentos,
tais como: maior tolerância nos relacionamentos interpessoais, inserção em grupos sociais,
autoconhecimento e empatia. Essas mudanças, segundo eles, podem ser entendidas como
uma faceta do crescimento psicológico, levando-os a afirmar que a vivência religiosa
proporcionou uma melhora na qualidade de vida dos entrevistados à medida que estes
modificaram seu olhar em relação ao mundo.
Para Rodrigues (2003), a identidade católica está ligada à identidade familiar e refere-
se com frequência a ideias de respeito, amor ao próximo e libertação humana. Neste mesmo
sentido, Pinezi & Romanelli (2003) também constataram que as práticas de um grupo da
Igreja Internacional da Graça de Deus são estratégias eficazes, mas no enfrentamento de
problemas socioeconômicos vividos por seus entrevistados. Assim, “a forma como alguém
vivencia sua experiência religiosa se saudável do ponto de vista psicológico quando
favorecer a integração e o dinamismo da pessoa” (Amatuzzi, 2008, p. 16).
Indo ao encontro destas ideias, Savioli (2008) afirma que o envolvimento religioso
atua contra o estresse crônico, auxiliando tanto na prevenção, quanto no combate de
patologias físicas, aumentando assim a expectativa de vida. Desta forma, associa o uso da
meditação com o relaxamento e a consequente diminuição da pressão arterial e da ansiedade.
Do mesmo modo, assegura que as orações provocam emoções que exercem efeitos benéficos
sobre o sistema imunológico. Por outro lado, considera que a também pode ser prejudicial
quando é responsável pela suspensão do tratamento.
25
A presença do religioso no modo de construir e vivenciar o sofrimento mental
também tem sido estudada e descrita. A busca por significação e alívio do sofrimento parece
ser algo marcadamente recorrente na experiência religiosa (Koenig et al, 2001; Albuquerque
& Souza, 2002; Bruscagin, 2004; Jaspard, 2004; Panzini & Bandeira, 2005; 2007;
Dalgalarrondo, 2006; 2007; Fleck & Skevington, 2007; Campos, 2008; Gomes, 2008).
Pacientes, profissionais da saúde e pessoas da comunidade em geral afirmam que a religião,
a espiritualidade e crenças pessoais formam um dos principais aspectos de sua qualidade de
vida (Fleck & Skevington, 2007).
É possível que um conjunto de fenômenos distintos aja concomitantemente para que
a religiosidade tenha uma influência positiva sobre a saúde mental: a socialização e apoio
dos grupos religiosos; a existência de sistemas de crenças que propiciam sentido à vida e ao
sofrimento; o incentivo a comportamentos saudáveis relacionados à alimentação, ao uso de
substâncias, ao comportamento sexual, à criação dos filhos, etc. (Dalgalarrondo, 2006).
Segundo Campos (2008), ao adoecer, ou quando se está de alguma forma em contato
com a morte, a pessoa se conta de seu desamparo e finitude. Neste momento, surgem os
sentimentos de que auxiliam no enfrentamento da situação. Neste sentido, a identidade
religiosa é capaz de fornecer suporte emocional capaz de minimizar também o mal estar que
surge frente a questões sem respostas, como por exemplo: a origem da vida, seu sentido ou o
que há após a morte. Já no que diz respeito a questões sociais, garante ao homem a adoção de
crenças, valores e ações que lhe permitem participar de grupos sociais específicos
(Epelboim, 2006).
Jaspard (2004) pesquisou o vínculo psicológico entre a experiência do sofrimento e a
posição de 80 enfermeiros cristãos em relação à religiosa. O estudo da amostra permitiu
compor alguns grupos e subgrupos de pessoas; dentre eles, encontra-se a divisão de grupo
segundo o grau de certeza na fé: os crentes convictos e os crentes duvidantes. Nos resultados
26
da pesquisa constatou-se que as emoções negativas relacionadas ao sofrimento parecem
despertar mais nas pessoas menos religiosas ou duvidantes. Assim, percebe-se que quando a
pessoa fica fisicamente doente, são realmente intensificadas as crenças e práticas religiosas
para aliviar o estresse e manter o senso de controle, bem como a esperança e o propósito da
vida (Koenig et al, 2001).
Tendo em vista a possibilidade de uma associação entre a religiosidade e a qualidade
de vida, grupos focais de adultos foram formados de acordo com suas crenças para estudar
esta questão. A avaliação qualitativa e quantitativa mostrou que demandas como a força da
fé, o sentido da vida e a paz interior foram considerados importantes em todos os grupos. A
partir desta pesquisa concluiu-se que a espiritualidade, a religiosidade e as crenças pessoais
estão relacionadas com a qualidade de vida e que por isso deveriam ser incluídas como forma
biológica, psicológica, social e espiritual de cuidados com a saúde (O'Connell & Skevington,
2005).
O processo conceituado como coping
1
é concebido como um conjunto de estratégias
cognitivas utilizadas pelos indivíduos com o objetivo de manejar situações estressantes. O
enfrentamento (coping) religioso/espiritual é o uso da religião, espiritualidade ou para
lidar com o estresse. A Escala de Coping Religioso/Espiritual (Escala CRE) é o instrumento
validado no Brasil que avalia o enfrentamento religioso/espiritual e que pode ajudar na
pesquisa e no planejamento de intervenções psicoespirituais enfocando o processo de
enfrentamento religioso/espiritual (Panzini & Bandeira, 2005; 2007).
Para Panzini & Bandeira (2005; 2007), estratégias de enfrentamento
religioso/espiritual podem ser classificadas como positivas ou negativas, conforme as
consequências que trazem para quem as utilizam, estando geralmente associadas a melhores
1
Palavra inglesa sem tradução literal em português, podendo significar "lidar com", manejar, enfrentar ou
adaptar-se.
27
ou piores resultados de saúde física/mental e qualidade de vida. Define-se o enfrentamento
religioso/espiritual positivo como aquele que abrange estratégias que proporcionam efeito
benéfico ao praticante (como procurar proteção de Deus ou maior conexão com forças
transcendentais; buscar ajuda ou conforto na literatura religiosa; tentar perdoar e ser
perdoado; orar pelo bem estar dos outros; resolverem problemas em colaboração com Deus;
redefinir o estressor como benéfico, etc.). Define-se o enfrentamento religioso/espiritual
negativo como aquele que envolve estratégias que geram efeitos maléficos ao indivíduo
(como questionar existência, amor ou atos de Deus; delegar exclusivamente a Deus a
resolução dos problemas; sentir insatisfação em relação a Deus; redefinir o estressor como
punição divina ou forças do mal, etc.).
Apesar da importância da religião para a população, até recentemente os profissionais
de saúde mental não recebiam treinamento curricular para trabalhar com a relação entre
espiritualidade e saúde mental (Bruscagin, 2004; Moreira-Almeida, et al, 2006). Contudo, nas
últimas duas décadas muitas pesquisas têm sido publicadas a respeito, e, no que se refere aos
Estados Unidos, 84 das 126 escolas de medicina estão oferecendo cursos sobre a influência
da espiritualidade na saúde (Moreira-Almeida, et al, 2006).
Fazendo referência à possibilidade de se ter o fenômeno religioso como uma forma de
desenvolvimento saudável e uma necessidade inerente ao humano, Cambuy, et al (2006)
destacam também os aspectos psicopatológicos da experiência religiosa como, por exemplo,
culpabilidade alimentada por doutrinas religiosas que traz vivências de sofrimento psíquico.
Para Vergote (2001 c) a consciência moral humana é o apoio necessário à formação e ao
sentido do pecado, que é caracterizado como um termo religioso que origina um mal-estar
psicológico. O sentimento de culpa originado pelo discurso sobre o pecado é mais difundido
nas culturas de predominância judaica e cristã. Entretanto, o autor esclarece que nem toda a
patologia da culpa possui um fundo religioso. Além disso, para ele, o racionalismo crítico da
28
modernidade possibilitou que se eliminasse das consciências das gerações mais jovens o
senso da obrigatoriedade religiosa, o que acabou por reduzir a prática da penitência.
Sobre isso, Lima (2001) adverte que a religiosidade em si não é patológica, pois
contém amostras culturais positivas como o altruísmo, a solidariedade e a cordialidade, além
de estimular a esperança dando sentido à vida. Assim, explica que as patologias podem
ocorrer em decorrência da falta de compreensão dos verdadeiros conceitos da religião,
distorções essas já advindas de sintomas patológicos da própria pessoa.
Indo ao encontro dessas ideias, Angerami-Camon (2002) esclarece que quando a
religiosidade assume um teor alienante, este é determinado pelo uso que o próprio homem faz
da religião. Contribuindo para esclarecer a articulação entre o humano e o divino, a
Psicologia mostra a influência das formações psicológicas sobre as ideias e práticas religiosas
(Vergote, 2001 c).
3.5 A Religiosidade na Psicologia e na Psicoterapia
No século passado, quando a Psicologia emergiu como uma ciência autônoma, ela se
interessou de imediato pelas relações entre religião e saúde mental. A partir de então foram
constituídas duas tendências distintas de pensamento sobre o assunto: o posicionamento no
qual a religião é nociva à saúde mental, que utiliza como argumentos os delírios religiosos, a
culpa pela sexualidade e o encorajamento de experiências duvidosas como visões e aparições;
e, em contrapartida, o posicionamento no qual a religião é necessária para a saúde mental,
que alega sua utilidade como uma estratégia psicológica para recuperar a saúde quando a
meditação, as crenças ou os ritos tornam-se úteis como uma assistência possível à pessoa
(Vergote, 2001). Sobre isso, Amatuzzi (2001) esclarece que a promoção ou a inibição da
29
saúde pela presença do religioso depende tanto da qualidade deste religioso, como da função
psicológica da pessoa com a qual ele está ligado.
Vergote (2001) também aborda que no posicionamento profissional que considera a
religião benéfica para a saúde, existem tanto argumentações religiosas, quanto psicológicas.
Entretanto, não será abordado aqui como objeto de estudo a construção teórica de psicólogos
que misturam as duas áreas do saber Psicologia e Religião produzindo rituais, valores e
práticas de uma religião específica nos seus consultórios e teorias. A interdisciplinaridade
aqui tratada vai ao encontro tanto do pensamento de Ortega (2007), quanto de Martins (2008)
que consideram que ciência e religião devem desenvolver diálogo e colaboração, desde que
não se admita uma identificação de saberes. Sobre isso, Vergote (2001 c) ainda esclarece que
a Psicologia não explica a religião, ela examina os fatores psicológicos que estão ativos na
religiosidade/espiritualidade e a influência dos mesmos no psiquismo humano, no sentido da
saúde psíquica ou da psicopatologia, justamente o objeto de estudo desta pesquisa.
Socci (2006) cita alguns autores da Psicologia que valorizaram o aspecto religioso no
desenvolvimento do ser humano. As questões a respeito da religião, por exemplo,
acompanharam toda a vida de Carl Gustav Jung deixando marcas em sua obra, sendo que se
pode entender sua visão de psique e a formulação sobre os arquétipos tanto no contexto
religioso, quanto no simbólico, bem como o processo de individuação como uma re-ligação
com o divino. Jung compreendeu muitos elementos do sagrado como expressões coletivas da
dinâmica da psique, e analisou evidências da existência de uma função religiosa no
inconsciente. Para este autor, a religião pode estar a serviço da saúde mental e social, e sua
atitude em relação aos credos religiosos dos pacientes não era apenas de tolerância, mas
também de incentivo (Sampaio, 1999).
Já para Peres, et al (2007) as primeiras discussões sobre religião no âmbito da
Psicologia foram trazidas por Sigmund Freud, que a considerou como remédio ilusório contra
30
o desamparo, embora Vergote (2001) relembre que apesar disso, houve por parte de Freud o
reconhecimento do seu efeito benéfico na saúde psíquica. Para Freud, a religião apenas
ameaça a ciência com seus dogmatismos e características ilusórias. A principal acusação
deste autor à religiosidade é sua irracionalidade, pois em seu ponto de vista, ela traz consigo o
risco de virar uma crença incorrigível (Gontijo, 1999).
Erich Fromm e William James afirmaram que buscar algo superior é uma
necessidade humana, sendo que James especificamente defendeu a ideia de que o desígnio do
homem é a união com este universo mais elevado. Com afirmações semelhantes, tanto Alfred
Adler quanto Viktor Frankl enfatizaram a importância para a saúde mental de se encontrar
um sentido para a vida, onde ambos acreditavam que este sentido estaria ligado à concepção
de um ser superior, à crença na imortalidade da alma, ou a crenças e valores pessoais (Socci,
2006).
Abraham Maslow, por sua vez, chegou a afirmar em 1970 que pessoas
psicologicamente sadias e autorrealizadas desenvolvem sistemas de valores baseados na
aceitação de si mesmas, do outro e da natureza, sendo que geralmente essas pessoas têm
resolvidas questões filosóficas e religiosas (Fadiman & Frager, 2004; Socci, 2006). Por outro
lado, Burrhus Frederic Skinner considerou que a religião teria cada vez menos importância na
vida da sociedade, pois para ele a fé religiosa perderia a função de ser quando não se
precisasse mais dela como sistema de controle de comportamentos (Vergote, 2001).
A importância da continuidade de produções teóricas sobre o assunto no campo da
Psicologia é ponderada por Cambuy, et al (2006), ao considerarem que cada vez mais a
religiosidade se faz presente nos atendimentos psicológicos, bem como a dificuldade dos
profissionais da área frente a questões ligadas a esta temática. Para os autores, a presença da
religiosidade nos atendimentos clínicos não é apenas eventual, podendo estar inclusive
vinculada ao problema psicológico que é trazido para o profissional. Com isso, ela pode ser
31
um recurso importante quando o psicólogo compreende esses aspectos da vida de seus
clientes, tornando-se um fator que dificulta a terapia quando este minimiza sua influência ou
não os reconhece (Bruscagin, 2008).
Segundo Ancona-Lopez (1999) em média 90% dos clientes de psicoterapia
identificam-se com uma religião, 86% acreditam em Deus, 49% frequentam alguma
instituição religiosa e 47% consideram a importante em suas vidas. Entretanto, nem todas
as abordagens encontraram um ajuste para aspectos relacionados à
religiosidade/espiritualidade de seus clientes em suas intervenções, o que dificulta essa
importante interface (Peres, et al, 2007).
Stadtler (2002) relembra que os psicólogos foram quase que proibidos de abordar os
clientes pela via da religiosidade apresentada pelos mesmos. Para a autora, esse tipo de
positivismo tem causado muitas incompreensões e problemas profissionais devido às
pressuposições assumidas sobre a vida mental dos clientes, ao adotar-se o mesmo tratamento
para diferentes situações: crença X doença mental, racionalidade X loucura, misticismo X
alucinação.
A despeito da influência da religião na saúde, nas ideias, valores e comportamento
das pessoas, alguns terapeutas de família veem o tema da religiosidade familiar como
irrelevante, ou até superficial. Para eles, este seria um assunto que os clientes deveriam
abordar apenas no espaço religioso. Contudo, o cliente é um ser total, que ao falar de seus
problemas, traz suas crenças, inclusive as religiosas (Giovanetti, 1999; Brusgagin, 2004;
Savio & Bruscagin, 2008). Sob este ponto de vista, percebe-se a necessidade dos terapeutas
estarem mais atentos ao papel das crenças e das práticas religiosas na vida dos seus clientes e
na terapia (Giovanetti, 1999; Lima, 2001; Angerami-Camon, 2002; Brusgagin, 2004; 2008;
Baungarte & Amatuzzi, 2007; Panzini & Bandeira, 2007; Peres, et al, 2007; Gomes, 2008;
Savio e Bruscagin, 2008).
32
Savio & Bruscagin (2008) afirmam que na prática clínica, muitos clientes procuram
determinados psicoterapeutas por saberem anteriormente que são religiosos, na busca de se
sentirem melhor compreendidos nessas questões, sem críticas às suas crenças. Assim, pode-se
entender como a Psicologia deve contextualizar aspectos significativos da realidade e da vida
das pessoas, tal como a religião.
Neste sentido, Peres, et al (2007 observaram, através de uma revisão de literatura, que
vários estudos internacionais contemplaram o tema da espiritualidade/religiosidade e
psicoterapia, demonstrando pertinência dessa interconexão com bons resultados terapêuticos.
Defendendo pontos de vista semelhantes, Williams & Sternthal (2007) verificaram
que os pacientes australianos desejam que suas clínicas incorporem aspectos referentes à
espiritualidade nos tratamentos. Razali, Hasanah & Aminah (1998), por sua vez, constataram
que ao ministrar um tratamento religioso adicional para pacientes depressivos e ansiosos
obtém-se uma resposta significativamente mais rápida do que quando isso não é feito. Apesar
desta diferença se tornar pouco significativa ao final de 6 meses, incorporar componentes
religiosos no programa de tratamento antecipa a melhora dos sintomas de ansiedade e
depressão, abreviando o sofrimento.
Roehe (2004) elucida que sua pesquisa de mestrado em Psicologia versou sobre o
estudo do processo de recuperação de seis integrantes do Grupo de Autoajuda “Neuróticos
Anônimos”, onde informações de caráter religioso apareceram de modo substancial na
maioria das entrevistas. Assim, o percurso de cura relatado pelos participantes da pesquisa
demonstrou a interdependência entre recuperação e religiosidade. Todavia, o autor explica
que este grupo é marcado por fazer uma adaptação de princípios cristãos para a suposta
“doença emocional”, que se caracterizaria justamente pelo distanciamento de tais princípios,
donde a experiência religiosa acaba por se confundir com a recuperação emocional. Deste
modo, conclui que a entrega pessoal por meio da crença religiosa relatada pelos entrevistados
33
permite pensar que, sem ela, uma pessoa que se dirija aos Neuróticos Anônimos dificilmente
vivenciará os progressos relatados pelos participantes de sua pesquisa.
Para Schafranski e Mallony (1996, apud Ancona-Lopez, 1999), existem quatro
motivos para se considerar a religiosidade do sujeito na clínica psicológica: a proeminência
da religião na cultura, a incidência do fenômeno religioso nos processos de psicoterapia; as
relações existentes entre religiosidade e saúde mental e a consideração dos valores na prática
clínica.
Já Savio & Bruscagin (2008) avaliam esta questão enfatizando que investigar a
religiosidade dos clientes ajuda a conhecê-los melhor, onde, aprofundar o conhecimento
sobre as religiões e seus praticantes também vêm como um auxílio para a quebra de
preconceitos e o crescimento profissional. Com isso em vista, o psicólogo deve avaliar
clinicamente o uso que o paciente faz de sua fé, usando para isso as técnicas e recursos
teóricos da profissão (Campos, 2008).
Nesse sentido, é plausível postular que a religiosidade e a espiritualidade devem ser
consideradas pelos psicoterapeutas, onde estratégias que valorizem tais questões devem ser
formuladas e investigadas (Angerami-Camon, 2002; Brusgagin, 2004; Peres, et al, 2007).
Para Angerami-Camon (2002), ao trazê-las para os pressupostos da prática clínica em
Psicologia, possibilita-se a ampliação dos recursos pertinentes a este exercício profissional.
Conjugando as ideias de Wulff (1997), Ancona-Lopez (1999) explica a existência de
quatro atitudes básicas referentes à religiosidade. Na negação literal, os psicólogos tendem a
ignorar a religiosidade do cliente, enquanto que na afirmação literal, os mesmos tendem a
agir a partir das propostas de sua própria religião e da visão de homem nela contida. Já na
interpretação redutiva, os profissionais buscam perspectivas científicas para interpretar os
conteúdos religiosos que são por eles considerados ingênuos e ultrapassados. Na
interpretação restauradora, por sua vez, existe a afirmação da realidade da transcendência,
34
sem julgar as ideias ou objetos religiosos. Estes, por sua vez, não são reduzidos a termos
puramente cognitivos, pois cliente e psicólogo abrem-se aos mitos, rituais e ideias abordando
a religião por seus referenciais experienciais. Desta forma, para a autora, a interpretação
restauradora sobressai como a atitude que decorre de uma maior maturidade psicológica por
parte do próprio profissional.
Existem vários aspectos a serem considerados e até mesmo trabalhados ao se
considerar a presença da religião no contexto terapêutico. Primeiramente, é preciso saber que
apenas tomar conhecimento da religiosidade daquele que está em atendimento não é o
suficiente, é fundamental saber como se a sua espiritualidade. Desta forma, o ideal é que
se desenvolva uma abordagem colaborativa no trabalho clínico, onde o psicólogo sai da
posição de “especialista” em direção a uma parceria com seus clientes para que possa
aprender sobre suas crenças, familiarizando-se com a linguagem religiosa dos mesmos. Além
disso, o terapeuta deve ser capaz de entrar na conversa usando a linguagem do sistema que
está atendendo (Brusgagin, 2004).
A inclusão da religiosidade do cliente nos trabalhos clínicos de Psicologia exige
abertura para a metáfora, para os mbolos e para o desconhecido (Ancona-Lopez, 1999). Ao
mesmo tempo em que é importante que o psicólogo esteja familiarizado com as tradições
religiosas presentes em sua cultura, não pode haver generalização, pois cada religião é vivida
de maneira muito específica, sendo experimentada também individualmente. Assim, o
profissional necessita desligar-se de ideias preestabelecidas para compreender qual o modo
próprio de cada pessoa vivenciar sua religiosidade (Ancona-Lopez, 1999). Além disso,
Giovanetti (1999) ressalta a importância do questionamento profissional a cerca de quais
sentimentos que compõem a vivência religiosa.
O conhecimento e a valorização das crenças dos clientes colaboram com a aderência
dos mesmos à psicoterapia e promovem melhores resultados (Peres, et al, 2007). Deste modo,
35
a relação Deus–cliente pode tornar-se base para intervenções terapêuticas, de forma que suas
práticas religiosas podem ser utilizadas como recursos no trabalho clínico, na forma de
tarefas, rituais, ou indicação de leituras aceitas em sua e que ao mesmo tempo façam
sentido para o profissional que o atende, tirando daí um respaldo para suas ações (Brusgagin,
2004). Giovanetti (1999) chega a afirmar que ignorar a dimensão religiosa do cliente é deixar
de atentar-se a uma oportunidade de ajudar o mesmo a se compreender melhor.
Lima (2001) também afirma que o terapeuta deve escutar e acolher o material de
conteúdo religioso que surge na terapia, aludindo à possibilidade de desfazer confusões de
conceitos e prática de vida, ao aprofundar o conhecimento sobre o credo religioso do
paciente. Para ele, quando o conflito é de ordem religiosa, pode-se inclusive encaminhá-lo
para que tire suas dúvidas com um religioso responsável na instituição em que frequenta.
Desta forma, o profissional deve auxiliá-lo a avaliar se sua religiosidade está contribuindo
para a integração e crescimento pessoal (Amatuzzi, 2008).
Segundo Peres, et al (2007, pg. 138), a Associação Psiquiátrica Americana (APA)
recomenda alguns procedimentos a serem seguidos por psicoterapeutas ao abordarem os
temas espiritualidade e religiosidade:
Identificar se variáveis religiosas e espirituais são características clínicas relevantes às
queixas e aos sintomas apresentados; pesquisar o papel da religião e da
espiritualidade no sistema de crenças; identificar se idealizações religiosas e
representações de Deus são relevantes e abordar clinicamente essa idealização;
demonstrar o uso de recursos religiosos e espirituais no tratamento psicológico;
utilizar procedimento de entrevista para acessar o histórico e envolvimento com
religião e espiritualidade; treinar intervenções apropriadas a assuntos religiosos e
36
espirituais e atualizar a respeito da ética sobre temas religiosos e espirituais na prática
clínica.
Ao favorecer a emergência da espiritualidade do cliente no campo clínico, o
psicólogo pode ajudá-lo a refletir a cerca do emprego da experiência religiosa no lugar que é
chamada a ocupar por sua própria natureza, ou se fica na periferia do psiquismo como algo
irrelevante (Amatuzzi, 2008).
Assim, pode-se entender a psicoterapia como um meio para a escuta e resolução de
conflitos capaz de incorporar a exploração do aspecto espiritual/religioso mais facilmente,
proporcionando espaço para apoio, ressignificação e mudança (Lima, 2001; Panzini &
Bandeira, 2007). É fundamental que na prática terapêutica o interesse pela vida espiritual e
religiosa dos clientes seja parte do processo, explorando suas crenças e práticas para
compreender o que pode ajudá-lo a crescer, quais recursos estão disponíveis e que mudanças
podem ocorrer. Se o psicoterapeuta ignorar a religião do cliente, este pode não se sentir
compreendido ou passar a acreditar que parte do seu mundo não tem lugar na terapia
(Brusgagin, 2004; Baungarte & Amatuzzi, 2007).
Além disso, questionar o paciente sobre suas crenças e a forma como utiliza o
enfrentamento religioso na solução dos seus problemas por si só pode configurar um modo de
intervenção, pois faz com que ele volte-se a esse tema no enfrentamento da situação,
incrementando possíveis benefícios que possam advir disso (Panzini & Bandeira, 2007).
Então, Cambuy, et al (2006) sugerem que o psicólogo possa facilitar a emergência da
experiência religiosa em sua originalidade própria, levando o cliente a vivenciar plenamente
as questões que se fazem presentes. Para que a experiência religiosa deixe de ser alienadora e
passe a ser promotora de crescimento, esses autores sugerem que o psicólogo, com suas
37
atitudes e técnicas e dentro de seu referencial teórico, permita a religação do homem consigo
mesmo, uma vez que o “sagrado” é uma dimensão subjacente ao humano.
Entretanto, integrar a religiosidade e a espiritualidade dos clientes durante a
psicoterapia requer profissionalismo ético, conhecimento e habilidades para alinhar as
informações coletadas sobre as crenças e valores ao benefício do processo terapêutico (Peres,
et al, 2007; Martins, 2008). Neste contexto, o respeito pela posição religiosa dos clientes
torna-se um fator primordial, onde tentativas de trazê-los para alguma religião ou quaisquer
outras apologias do gênero são antiéticas e desrespeitosas (Savio & Bruscagin, 2008; Martins,
2008). Assim, a forma de o psicólogo lidar com as suas reações subjetivas frente às
manifestações de religiosidade dos pacientes dependem também de como se aborda as
questões de transferência e contratransferência (Ancona-Lopez, 2008).
Giglio (1993) revisou toda a literatura recente da época sobre os efeitos na
psicoterapia da orientação, crenças e valores religiosos de pacientes e terapeutas e concluiu
que muitos psicoterapeutas comunicam seus valores para os pacientes na psicoterapia.
Também constatou que terapeutas que possuem valores mundanos podem conflitar com
algum valor religioso do paciente. Com isso, afirma que para evitar a contratransferência os
profissionais devem ser sensíveis aos valores dos pacientes, bem como cientes de suas
próprias atitudes e crenças a respeito da religião.
Neste sentido, Ancona-Lopez (2008) afirma que a necessidade de manter a
neutralidade e agir com objetividade desembocou em proibições sobre a consideração da
religiosidade do terapeuta em seu trabalho. Entretanto, para a autora, recursos como terapia
pessoal e supervisões auxiliam a lidar com os efeitos da subjetividade do profissional nos
atendimentos realizados. Considera então, que quanto mais o psicólogo clínico estiver
confortável consigo mesmo, mais estará disponível para o outro.
38
Deste modo, opiniões e crenças religiosas particulares do psicoterapeuta entram no
diálogo com o cliente quando são compatíveis com o momento e a crença dele. Isso é feito
dentro do profissionalismo que norteia o trabalho, mantendo-se a postura em consenso com
os valores éticos (Savio & Bruscagin, 2008).
Tendo tudo isso em vista, percebe-se que as duas áreas (religiosidade e saúde mental)
necessitam de continuidade nos investimentos da comunidade científica para que seja
possível uma compreensão dos fatores mediadores desta associação e a posterior aplicação
deste conhecimento na prática clínica, devido à relação direta existente entre ambas (Razali,
et al, 1998; Cambuy, et al, 2006; Moreira-Almeida, et al, 2006; Panzini & Bandeira, 2007;
Peres, et al, 2007; Williams & Sternthal, 2007).
39
4 MÉTODO
4.1 Caracterização da Pesquisa
A presente pesquisa se orientou pelos pressupostos da metodologia qualitativa, a qual
se caracteriza pela investigação de sentidos e significados presentes nos discursos dos
entrevistados, buscando descrever a complexidade do fenômeno em questão. Com relação a
isto Biasoli-Alves (1998, p. 149) aponta:
(...) o método qualitativo se caracteriza por buscar apreensão de significados nas falas
ou em outros comportamentos observados dos sujeitos, interligados ao contexto em
que se inserem e delimitados pela abordagem conceitual do pesquisador, trazendo à
tona, na redação, uma sistematização baseada na qualidade sem a pretensão de atingir
o limiar de representatividade.
Além disso, esta pesquisa também pode ser caracterizada por ser exploratório-
descritiva, pois teve como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos
e ideias, assim como objetivou a descrição de aspectos de uma determinada população (Gil,
1991; 1987).
4.2 Caracterização do Local
O local de realização das entrevistas variou conforme o participante, uma vez que a
amostra foi por conveniência e que cada entrevistado teve a liberdade de escolher o lugar que
se sentiu melhor para a realização da mesma. Como em todas as marcações de entrevistas foi
40
explicitado o caráter confidencial das mesmas e a necessidade de um ambiente onde a
conversa pudesse ser realizada sem interferência e em particular, todos os entrevistados
optaram por seus próprios ambientes de trabalho, apesar de se ter colocado à disposição dos
mesmos, também, a possibilidade de ser realizada num local oferecido pela pesquisadora.
4.3 Participantes
Participaram desta pesquisa um total de treze (13) psicólogos clínicos, sendo que dois
(2) destes fizeram parte apenas do estudo piloto, e um (1) deixou de compor os participantes
devido a problemas de áudio com a entrevista, permanecendo o total de dez profissionais para
a composição do estudo. O número de sujeitos deu-se a partir da saturação dos dados, ou seja,
quando se observaram a repetição de regularidades nos discursos, sendo as mesmas
observadas a partir da entrevista número seis.
No que diz respeito a critérios de participação da pesquisa foram: a) que os sujeitos
tivessem prática clínica em Psicologia ininterrupta pelo menos dez anos em consultório,
ambiente hospitalar ou Sistema de Saúde, e b) registro no Conselho de Psicologia da sua
região.
A escolha de Psicólogos que tivessem prática superior a dez anos se deu com base no
conceito de expertise
2
de Matlin (2004), que é definido como “o desempenho superior em um
conjunto de tarefas numa determinada área da atuação, alcançado pelo treino deliberado em
um período de pelo menos dez anos” (p. 88).
Assim, a autora destaca a necessidade da prática
para alcançar a perícia na atuação profissional, tendo para isso a necessidade de cerca de dez
anos de atuação. Desta forma, buscaram-se sujeitos com este mínimo de tempo de serviço a
2
O termo significa “perícia” na sua tradução para o português.
41
fim de contatar profissionais qualificados e com experiência clínica suficiente para
compartilhar dados relevantes.
quanto ao registro no Conselho, esta exigência se deve à necessidade de trabalhar
com profissionais que cumpram as obrigações éticas estabelecidas pela classe, sendo estas
devidamente regulamentadas pelo órgão em questão.
Cabe apontar que a escolha dos sujeitos não foi por área de atuação investigando
profissionais de uma única corrente epistemológica, pois com a intenção de assinalar a
diversidade presente na Psicologia, analisou-se a temática da religião associada ao campo da
intervenção psicoterapêutica, independente da abordagem utilizada pelo clínico em questão.
Assim, para melhor visualização dos sujeitos desta pesquisa, foi construído uma
tabela de caracterização dos participantes, conforme pode ser visto a seguir.
Legenda:
1. Entrevistado
2. Ano de Graduação
3. Tempo de Prática em Psicologia Clínica
4. Local de Prática em Psicologia Clínica
5. Linha Epistemológica de Atuação
6. Cursos de Formação Complementar
7. Experiência com clientes/pacientes que falam de religiosidade
8. Pergunta se o cliente/paciente possui religião?
9. Religiões dos clientes/pacientes atendidos
10. Religião do Profissional
Tabela 1
Tabela de Caracterização dos Participantes da Pesquisa
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
E1 1983 25
anos
Consultório Gestalt Terapia
(há 23 anos)
Formação Kleiniana e em Gestalt Terapia;
Supervisão em Psicologia do Corpo; Mestrado em
Psicologia do Trabalho
Sim Sim Evangélicos, Espíritas,
Candomblé, Umbanda,
Quimbanda, Menonitas
Budistas, Luteranos
Católicos, Ateus.
Sem religião, mas
com espiritualidade
E2 1989 20
anos
Consultório
e
Institucional
Psicanálise (há
06 anos)
Formação em Psicologia Corporal, em Sistêmica,
em Psicanálise e em Ludoterapia; Pós-Graduação
em Deficiência Mental e Mestrado em Psicologia
Clínica.
Sim Não Não se atém a isto Católico (a)
E3 1976 31
anos
Consultório Psicologia do
Corpo
Formação em Psicologia Comportamental e em
Psicologia do Corpo
Sim Às
vezes
Católicos, Espíritas
Ateus, Wicca
Católico (a) com
crenças espiritualistas
E4 1981 26
anos
Consultório Psicologia do
Corpo
(há 22 anos)
Formação em Terapia Familiar Sistêmica, em
Biossíntese, Psicodrama e Mestrado em Educação.
Sim Sim Católicos, Evangélicos
Espíritas, Budistas
Católico (a) com
crenças espiritualistas
E5 1989 10
anos
Consultório Psicologia do
Corpo (há 2
anos)
Formação em Terapia Relacional Sistêmica e em
Psicologia do Corpo
Sim Sim Católicos
Evangélicos
Católico (a) não
praticante
E6 1980 28
anos
Consultório
Ambulatório
Psicologia
Sistêmica (há 5
anos)
Residência em Psicologia Clínica; Formação em
Psicologia Comportamental e em Terapia Familiar
Sistêmica; Estudos Psicanalíticos
Sim Não Espíritas
Católicos
Evangélicos
Sem religião, mas
com espiritualidade
E7 1978 30
anos
Consultório Psicologia
Sistêmica
Especialização em: Psicologia Clínica, Psicologia
Social, Psicologia Organizacional e Homeopatia;
Formação em Sistêmica e em Constelações
Familiares; Mestrado em Administração e
Organização de Empresas na Visão Sistêmica.
Sim Não Católicos
Protestantes
Fiéis da Igreja Universal
do Reino de Deus
Sem religião, mas
com espiritualidade
E8 1997 10
anos
Consultório Psicanálise
(há 10 anos)
Mestrado em Psicologia Clínica; cursos de
Ludoterapia.
Sim Não Católicos Católico (a)
E9 1997 10
anos
Consultório Psicanálise
(há 10 anos)
Formação em Psicanálise; Mestrado em
Psicologia da Educação; Cursos sobre Distúrbios
da Aprendizagem.
Sim Não Católicos, Protestantes
Judeus, Espiritualistas
Sem religião, mas com
espiritualidade.
“A Psicologia”
E
10
1975 33
anos
Consultório Psicologia
Sistêmica
(há 28 anos)
Formação em Psicodrama, Psicologia do Corpo e
em Terapia Familiar Sistêmica
Sim Sim Evangélicos, Católicos,
Menonitas, Fiéis da
Assembléia de Deus
Testemunhas de Jeo
Espíritas, Espiritualistas.
Crenças
espiritualistas.
A
43
4.4 Instrumento de Coleta de Dados
Para a realização da coleta de dados foi utilizada a entrevista semiestruturada
(apêndice 1), realizada individualmente com cada participante, bem como um gravador,
visando registrar com precisão todos os dados obtidos dos sujeitos. No que diz respeito à
entrevista semiestruturada, esta foi elaborada a partir dos estudos apresentados no referencial
teórico e os objetivos da pesquisa, sendo estes últimos os que nortearam todo o processo de
construção da mesma.
Para Ghiglione & Matalon (1993), utilizar o inquérito como recurso é necessário
sempre que existe necessidade de informações impossíveis de conseguir através da
observação direta. Estes autores complementam ainda, que os pesquisadores são muitas vezes
impelidos a recorrer a este método para compreender fenômenos como atitudes, opiniões,
preferências e representações.
Deste modo, a entrevista contemplou tópicos que abordaram dados gerais, a formação
profissional e tempo de atuação clínica, descrição de clientes religiosos do entrevistado,
relato da percepção que o profissional apresenta da influência desta religiosidade no processo
terapêutico dos mesmos e quais atitudes profissionais derivam desta percepção. Desta forma,
as questões tiveram flexibilidade de formulação, como em toda a entrevista semiestruturada,
para, assim, suscitar a verbalização dos entrevistados.
Cabe apontar aqui, que na busca de avaliar a sensibilidade dos itens presentes na
entrevista e visando seu aperfeiçoamento à luz dos objetivos propostos, foram feitos dois
estudos pilotos, antes da sua aplicação para os participantes que responderam o presente
estudo.
44
4.5 Procedimentos
4.5.1 Coleta de Dados
A pesquisadora utilizou os sites dos Conselhos Regionais de Psicologia do Paraná e
de Santa Catarina e sua rede de relacionamentos profissionais para confeccionar uma lista de
pessoas que atendessem os critérios de inclusão dos participantes.
O primeiro contato foi realizado via telefone, onde a pesquisadora se identificou,
explicitando os objetivos da pesquisa. Após a aceitação marcou-se data e local para a
realização da entrevista, conforme a disponibilidade dos mesmos.
Antes da realização da entrevista, foram solicitadas autorizações por meio do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo 1), que explicitou os objetivos da pesquisa, a
forma de participação, bem como forneceu a identificação da pesquisadora e o modo de
contato para qualquer dúvida. Assim, os sujeitos foram devidamente informados sobre os
procedimentos realizados pela pesquisadora, bem como da confidencialidade e dos aspectos
éticos referentes à garantia do sigilo, evitando qualquer possibilidade de identificação.
As entrevistas foram gravadas e transcritas, buscando manter a fidedignidade dos
relatos. Ao término da entrevista, foi agradecida a participação do profissional, bem como
fornecidas informações sobre a devolução dos resultados.
4.5.2 Análise dos Dados
A compreensão das entrevistas seguiu o modelo de análise temática categorial de
conteúdo, proposta por Bardin (1977), em que foram utilizados os critérios de
homogeneidade, recorrência e exaustividade. Tal metodologia de análise compreende três
45
etapas, sendo que a primeira é a leitura flutuante. Nela aconteceu um primeiro contato, que
correspondeu a pré-análise, no qual se fez a leitura das entrevistas buscando conhecer o
conteúdo e estabelecendo as primeiras impressões. Após, realizou-se a seleção do material a
ser utilizado.
A segunda fase consiste em uma transformação dos dados brutos do texto, por meio
de regras previamente estabelecidas, atingindo um conteúdo representativo do material
analisado (Bardin, 1977). Desta forma, ela foi composta pela exploração das informações,
enquadrando a operação de codificação das mesmas. Assim, a partir de leituras exaustivas
das transcrições dos discursos, determinaram-se como unidades de análise palavras, frases ou
parágrafos que representaram a temática em questão.
Por fim, a última etapa foi a de tratamento dos dados, na qual se realizou a síntese e
seleção dos resultados, através de inferências e interpretação do conteúdo selecionado. Deste
modo, durante a análise das entrevistas, foram estabelecidas categorias que melhor
evidenciaram as temáticas principais, com suas respectivas subcategorias e elementos de
análise.
Sobre isso, Ancona-Lopez (2001) esclarece que na análise dos resultados as
categorizações e sistematizações são necessárias, mesmo que não se objetivem padronizações
ou generalizações. Assim, conforme o pesquisador aproxime-se de uma compreensão mais
abrangente, os dados de análise reorganizam o tema de uma maneira diferente, tornando-o
mais compreensível. Desta forma, o caráter experiencial das pesquisas fenomenológicas
produz continuamente novas compreensões que se diferenciam entre si na medida em que a
subjetividade do pesquisador está sempre presente e é sempre única.
46
4.6 Aspectos Éticos
Após a qualificação do projeto, este foi submetido ao Comitê de Ética de Pesquisa
com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, obtendo aprovação
para a sua realização. Além disso, conforme mencionado anteriormente, após a aceitação dos
entrevistados, foi requerida a leitura e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (anexo 1).
47
5 RESULTADOS
5.1 Apresentação das Categorias, Subcategorias e Elementos de Análise das
Entrevistas
Buscando evidenciar os dados coletados de forma a facilitar sua visualização e
compreensão, foram estabelecidas categorias temáticas a partir da análise do conteúdo das
respostas dos profissionais entrevistados, seguindo o modelo proposto por Bardin (1977),
anteriormente explicitado. Assim resultaram quatro categorias, que tentaram nomear e
agrupar núcleos de sentido e significado dos sujeitos. As categorias, por sua vez, dividem-se
em subcategorias, desdobramentos da categoria principal, e elementos de análise, que
contemplam a minuciosidade e a singularidade da produção de conhecimento nesta pesquisa
de índole qualitativa (González-Rey, 2002).
48
Tabela 2
Tabela Referente às Categorias, Subcategorias e Elementos de Análise
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS ELEMENTOS DE
ANÁLISE
1.
Concepção sobre
religiosidade/
espiritualidade nos
profissionais
O que os entrevistados
pensam sobre religião,
religiosidade e
espiritualidade.
Continuação Tabela
1.1.
Visualizando as
crenças religiosas
Perspectivas dos profissionais
sobre as crenças religiosas
1.1.1. Aspecto que
promove sustentação do
indivíduo em momentos de
crise
1.1.2. Escolha de crenças e
de valores que dirigem a
própria vida
1.1.3. Aspecto próprio de
cada indivíduo, necessário
de ser desenvolvido
1.2.
Visualizando a
influência de sua própria
crença religiosa/espiritual na
prática clínica
Perspectivas dos profissionais
sobre a influência de suas
próprias crenças religiosas e/ou
espirituais na prática
profissional
1.2.1. Valores da
religiosidade/espiritualidade
pessoal influenciam
positivamente a prática
clínica
49
CATEGORIAS
SUBCATEGORIAS ELEMENTOS
DE ANÁLISE
1.3.
Relação entre
religiosidade/ espiritualidade
dos clientes/pacientes e a
psicoterapia/análise
Avaliação dos profissionais a
respeito da influência da
religiosidade/espiritualidade
dos clientes/pacientes nos
processos de psicoterapia ou
análise
1.3.1. Saber da
religiosidade/espiritualidade
ajuda a contextualizar o tipo
de vida, os valores e a forma
de pensar do
cliente/paciente
1.3.2. Pessoas religiosas ou
espiritualizadas têm um
favorecimento para abrir-se
e entregar-se ao processo
terapêutico
1.3.3. O tipo da influência
exercida pela religiosidade/
espiritualidade no processo
terapêutico depende do
padrão de funcionamento,
estrutura de personalidade
ou dinamismo psíquico do
cliente/paciente
Continuação Tabela
50
CATEGORIAS
SUBCATEGORIAS ELEMENTOS
DE ANÁLISE
1.4.
Visualizando a
construção das crenças
religiosas
Perspectivas profissionais
sobre o processo de aquisição
das crenças religiosas e/ou
espirituais
1.4.1. Relacionada à
personalidade, padrão de
funcionamento ou
dinamismo psíquico.
1.4.2. Enquanto ciclo vital
individual.
1.4.3. Identificação com as
características de líderes
religiosos
Continuação Tabela
1.5.
Relação entre
religiosidade/espiritualidade
e a Personalidade
Considerações sobre a ligação
entre as características
emocionais e comportamentais
que caracterizam uma pessoa, e
sua religiosidade/
espiritualidade
1.5.1. Relação se dá no
nível de desenvolvimento
psicológico e no seu contato
com a realidade,
dependendo diretamente de
seu padrão de
funcionamento,
personalidade ou
dinamismo psíquico.
51
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS ELEMENTOS DE
ANÁLISE
2. A temática da
religiosidade/
espiritualidade durante a
formação profissional
Continuação Tabela
2.1. Concepção da
religiosidade/espiritualidade
durante a formação
profissional
Quais foram as informações
obtidas pelos profissionais
entrevistados sobre o tema em
questão, no nível de suas
formações acadêmicas
2.1.1. Estudada em
disciplinas específicas.
2.1.2. Não houve instrução.
2.1.3. Vista como
patologia.
2.1.4. Confronto entre
religião e ciência.
2.2.
Necessidade de
incluir esta temática na
formação dos profissionais
da Psicologia
O que os profissionais pensam
a respeito da possibilidade de
incluir a forma de trabalhar
com a
religiosidade/espiritualidade
dos clientes/pacientes como
temática abordada pelos
cursos de Psicologia
2.2.1. Presença dessas
questões em consultório
2.2.2. Ética e cuidados para
não ser tendencioso
2.2.3. Estudo vinculado às
Teorias de Personalidade
52
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS ELEMENTOS DE
ANÁLISE
3. Aspectos da
religiosidade/
espiritualidade que
interferem processo
terapêutico/analítico
Conjunto de elementos de
análise que interferem nos
processos de psicoterapia ou
análise
Continuação Tabela
3.1. Aspectos facilitadores
do processo
terapêutico/analítico
3.1.1. Auxílio nos
momentos de perdas e crises
3.1.2. Aquisição de
parâmetros de
comportamento
3.1.3. Utilização da
religiosidade/espiritualidade
na solução de questões
cotidianas
3.1.4. Favorecimento de
abertura e entrega do
indivíduo ao processo
terapêutico
3.1.5.
Presença de conteúdo
para ser trabalhado
3.2. Aspectos
dificultadores do processo
terapêutico/analítico
3.2.1. Utilização da
religiosidade/espiritualidade
como mecanismo de defesa
3.2.2. Associação com
aspectos de pecado e culpa
53
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS ELEMENTOS DE
ANÁLISE
4.
Ações
desenvolvidas pelo
profissional a partir da
presença da religiosidade/
espiritualidade no contexto
terapêutico
Que ações profissionais são
tomadas frente à presença
e/ou influência da
religiosidade/espiritualidade
do cliente/paciente no
processo psicoterapêutico ou
analítico
Continuação Tabela
4.1.
Utilizar estratégias
terapêuticas para trabalhar o
conteúdo religioso/espiritual
que se faça necessário
Quando o profissional utiliza
táticas para trabalhar a
religiosidade do cliente, sem
interferir na escolha do mesmo
4.1.1. Não confrontar as
crenças
4.1.2. Não deixar que os
valores religiosos do
psicoterapeuta/analista
interfiram na avaliação ou
na condução do
cliente/paciente
4.1.3. Busca de
flexibilização de crenças do
cliente/paciente
4.1.4. Desenvolver
conscientização no
cliente/paciente sobre o uso
que ele faz da sua
religiosidade/espiritualidade
4.1.5. Reforçar a busca
religiosa
54
CATEGORIAS
SUBCATEGORIAS ELEMENTOS DE
ANÁLISE
4.2.
Utilizar a
religiosidade/espiritualidade
do cliente como um recurso
terapêutico
Possibilidade de utilizar
recursos terapêuticos
ancorados nas crenças
religiosas dos clientes/paciente
4.2.1. Utilizar metáforas
religiosas/espirituais da
crença do cliente/paciente
4.2.2. Circular por assuntos
referentes à
religiosidade/espiritualidade
do cliente/paciente
4.2.3. Utilizar aquilo que é
dito pelo próprio
cliente/paciente em seu
discurso religioso como
ponto de apoio para
intervenções terapêuticas
4.2.4. Técnicas projetivas
sobre o tema
4.2.5. Usar as crenças deles
como ponto de apoio para
ampliar habilidades e
aprendizagens
4.2.6. Utilização de trechos
da Bíblia da crença do
cliente/paciente
55
6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Ao iniciar a discussão dos resultados cabe mencionar que a realização desta pesquisa
visou abarcar a inter-relação existente entre Psicologia e Religião. Como vários são os fatores
que convergem na compreensão deste contexto, Massini & Mahfound (1999) consideram
necessário entender a complexidade peculiar à experiência religiosa.
Deste modo, a construção do conjunto de categorias emergidas da análise dos dados
pretendeu tanto captar as singularidades dos entrevistados, quanto os aspectos em comum nos
mesmos, tentando traduzir a complexidade do fenômeno em questão, e por isso devendo ser
compreendidas uma em relação à outra. As categorias, além de explicitarem as compreensões
dos profissionais sobre religiosidade/espiritualidade, permitiram caracterizar aspectos das
mesmas que interferem nos processos terapêuticos/analíticos (facilitando-os ou dificultando),
ações desenvolvidas pelos profissionais a este respeito e acepções sobre a temática em
questão relacionadas à formação profissional.
Assim, ao buscar caracterizar a influência da religiosidade dos clientes no trabalho
clínico, houve a possibilidade de desvendar diferentes perspectivas sobre esta temática, não
apenas da religiosidade em si, mas da espiritualidade também. Desta forma, estes dois
âmbitos da experiência humana apareceram nas concepções dos entrevistados estreitamente
inter-relacionados.
Cabe destacar que embora os participantes desta pesquisa utilizem diferentes linhas
teóricas no trabalho clínico, o âmago da análise foi o processo de intervenção terapêutica em
si, independente da corrente teórica. Por este motivo, os binômios psicoterapia/análise e
clientes/pacientes foram utilizados preferencialmente juntos na discussão, buscando
congregar as diversidades presentes no discurso dos entrevistados.
56
Para que fosse possível conhecer as perspectivas destes profissionais, e melhor
compreender de que modo estes a concebiam e experimentaram em suas atividades
profissionais, buscou-se explicitar vivências e concepções aliadas aos estudos e prática de
cada um. Destarte, a primeira categoria de análise a ser discutida trata, justamente, das
concepções sobre religiosidade/espiritualidade neste contexto.
1 Concepção sobre Religiosidade/Espiritualidade nos Profissionais
Nesta categoria relacionou-se o conjunto de significados sobre a temática da
religiosidade e espiritualidade, tanto no que diz respeitos às crenças em si, como ao processo
de construção e sua relação com a personalidade. Fazendo parte da mesma, foi trazida à tona
a influência da religiosidade/espiritualidade dos clientes nos processos de
psicoterapia/análise, assim como a interferência da religiosidade/espiritualidade do próprio
profissional no trabalho clínico.
1.1 Visualizando as Crenças Religiosas
Esta subcategoria descreve as perspectivas que os entrevistados têm sobre as crenças
religiosas de um modo geral. Quanto a isso, foi de consenso entre os mesmos que a
religiosidade/espiritualidade promove a sustentação do indivíduo em momentos de crise,
como é o caso de doenças e lutos. Isto ficou evidente na explicitação dos profissionais
entrevistados:
“Dentro de uma elaboração, por exemplo, de uma perda, que um suporte
externo pra pessoa poder dar conta daquela crise. Muitas vezes as pessoas que não
57
têm onde se apegar nessa dimensão, elas têm um sofrimento maior ou uma
dificuldade maior na elaboração dessas situações específicas” (E1).
“... a maioria fala de suas crenças, de sua né, de quanto buscaram ou
que buscam na oração conforto, cura, é um respaldo melhor, mais saudável né, pra
resolver as coisas e tal, isso é extremamente comum... a gente percebe mais
facilidade pra lidar com o inexorável, aquilo que tinha mesmo acontecer (E6).
“... situações de ruptura né, uma pessoa que perde um filho, ou algum ente
querido, são situações de total desamparo que a pessoa se encontra e é claro que
tudo isso, ou a descoberta de uma doença grave, que começa né, a pessoa perde
completamente as suas referências e a questão da morte se torna uma questão
extremamente presente e nesses momentos as questões religiosas ou a, esses
sentimentos de conforto eles parecem que funcionam (E9).
Com essas constatações foi possível observar que a crença religiosa é compreendida
como uma dimensão que suporte para a elaboração de crises, como um facilitador para
lidar com o inexorável, ou sustentando a construção de sentimentos de conforto. Desta forma,
os dados acima evidenciaram dimensões possíveis de compreensão da
religiosidade/espiritualidade perpassadas nos discursos dos entrevistados no geral, confluindo
na ideia apontada pela literatura pesquisada, principalmente no que se refere à utilização da
experiência religiosa do indivíduo na busca por alívio do sofrimento para as situações
limítrofes da vida (Koenig et al, 2001; Albuquerque & Souza, 2002; Bruscagin, 2004;
Jaspard, 2004; Panzini & Bandeira, 2005; 2007; Dalgalarrondo, 2006; 2007; Fleck &
Skevington, 2007; Campos, 2008; Gomes, 2008).
Outro consenso entre os psicólogos participantes foi que a
religiosidade/espiritualidade é uma escolha de crenças e valores que dirigem a vida das
pessoas, afetando o funcionamento individual. As verbalizações clarearam percepções sobre a
forma como o indivíduo se utiliza dos preceitos religiosos/espirituais nos quais acredita para
58
escolher a ética a ser seguida, especificamente na questão dos valores priorizados e como se
comportam em relação a estes, tal qual pode ser observado nos seguintes discursos:
“a escolha religiosa talvez é uma escolha de como a pessoa é, e de como
quer dirigir a vida dela e as suas crenças” (E4).
“Bom eu acho assim que a religiosidade é um valor da pessoa (E7).
Pelos valores que eles trazem né, (...), que são transmitidos me parece que
por aí que a religião influencia (E8).
Vários são os autores que compartilham esta mesma concepção (Mahfoud, 2001;
Stadtler, 2002; Valle, 2002; Bairrão, 2004; Bruscagin, 2004; Dalgalarrondo, et al, 2004;
Epelboim, 2006; Hefner, 2007; Paiva, 2007; Peres, et al, 2007; Gomes, 2008), pois a
religiosidade e mesmo a espiritualidade para eles se constituem em aspectos importantes da
existência humana, uma vez que as crenças religiosas/espirituais estão inseridas na cultura, e,
ligadas aos valores pessoais, se tornam base de julgamentos, escolhas e comportamentos.
Neste mesmo sentido, a forma como esses valores religiosos podem facilitar a
educação dos filhos e o relacionamento familiar foi outro ponto de vista sobre a
religiosidade/espiritualidade que apareceu em algumas verbalizações dos psicólogos em
questão. Quanto à educação dos filhos, os comentários disseram respeito à maior facilidade
na colocação de limites, vindos dos valores adquiridos com a própria religião; já quanto ao
relacionamento familiar em si, as explanações disseram respeito à importância dada por
famílias que têm religiosidade/espiritualidade à união, empatia e aceitação do outro,
conforme pode ser exemplificado nos discursos abaixo:
“... eu tenho uma mãe que eu to trabalhando na filha de 14 anos, (...), e ta
tendo algumas dificuldades não no colégio assim em relação à religião, mas questões
59
práticas no dia-a-dia de limites, que poderiam (...) se eles tivessem alguma formação
religiosa (...), não que a religião ponha o limite, mas eu acredito que favorece um
pouco (E3).
“... se eu colocar a religiosidade como uma coisa que desenvolve
pertencimentos e valores morais ela ajuda muito, principalmente na família né, ta
certo. Porque daí os valores familiares são outros, são de união, são, enfim, são
mais perto da religiosidade moral né, então ajuda muito mesmo a organizar mais a
casa. (...) Eu acho que uma das coisas que faz com que se torne evidente isso é na
criação dos filhos, ta nos hábitos, nos valores né, na exigência que as mães ou os pais
que têm uma religiosidade que fazem parte de uma comunidade religiosa, que
acreditam numa coisa mais moral de ser, eles passam isso para os seus filhos com
mais amor, os filhos não ficam tão soltos(E7).
Indo ao encontro destas ideias, Savio & Bruscagin (2008) afirmam que a religião é
uma força que norteia os valores da família e da sociedade, ditando leis morais e regras de
comportamento. Percebe-se ainda, que esses valores morais e crenças direcionam o
comportamento também de crianças e adolescentes (Amatuzzi, 1999; Carvalho, 1999;
Campos-Brustelo & Silva, 2003; Bruscagin, 2004; Dalgalarrondo, 2006; Santos, 2007).
Houve profissionais que ainda consideraram tanto a possibilidade da
religiosidade/espiritualidade ser um aspecto próprio de cada indivíduo, quanto à necessidade
de seu desenvolvimento. Segundo os mesmos, a partir do momento em que se percebe uma
integração dos valores pessoais ancorados em uma crença que oferece sustentação para a
escolha de atitudes, adquire-se um fator integrador da personalidade. Com isso, encaram a
probabilidade de desenvolvimento pessoal aliada a esta questão, conforme explicaram:
“Eu vejo como maturidade religiosa você poder conhecer outras religiões e
ter um senso crítico de ver o que serve pra você de cada uma delas; não fazer uma
miscelânea, não sei se isso é correto ou não, mas não é por aí. Mas eu acho que é
você ter essa, esse discernimento de ver o que te serve de uma e de outra, dentro
60
daquilo que você precisa pra seguir a tua vida, como alguém religioso, como alguém
assim, do bem, que faz o bem que segue valores legais etc. e tal. Eu acho que a
religião é essencial na vida de cada um (E4).
Uma necessidade de transcendência que acaba sendo um fator integrador
em termos da sua própria personalidade (E1).
Em concordância com essas ideias, a literatura aponta a religiosidade/espiritualidade
aliada ao crescimento pessoal do indivíduo; tanto subjetivamente, em sua autopercepção,
autoconhecimento e sentimento de bem-estar, quanto objetivamente, em comportamentos de
empatia que melhoram a qualidade dos relacionamentos interpessoais (Amatuzzi, 1999;
Sengl, 2000; Rodrigues, 2003; Cambuy, et al, 2006; Dalgalarrondo, 2006; Epelboim, 2006;
Baungart & Amatuzzi, 2007).
Apesar disso, esses mesmos entrevistados mencionaram também que a despeito de
estar associada ao crescimento pessoal, para algumas pessoas a religiosidade/espiritualidade
acaba sendo utilizada como um aspecto que dificulta o processo de desenvolvimento. Para
eles, isso acontece quando o sujeito utiliza suas crenças como suporte de dificuldades
pessoais ligadas principalmente a obstáculos nos processos de promoção de saúde.
“... alguns dinamismos que a pessoa acaba apresentando muitas vezes ela vai
buscar apoio e faz a sua interpretação da própria religião no sentido de poder
cristalizar mais ainda certas dificuldades que ela possui, né! Enquanto outras
pessoas conseguem ter um trânsito com esse aspecto da religiosidade e da própria
espiritualidade de uma forma mais amena” (E1).
Tanto Cambuy, et al (2006), quanto Sengl (2000) defendem o mesmo ponto de vista
ao reconhecerem o fenômeno religioso como uma forma de desenvolvimento saudável e uma
necessidade intrínseca ao ser humano, apesar de apontarem a existência paralela de aspectos
psicopatológicos da experiência religiosa quando esta está ligada ao sofrimento psíquico.
61
1.2 Visualizando a Influência de sua própria Crença Religiosa/Espiritual na prática Clínica
Esta subcategoria mostra as perspectivas dos profissionais sobre a influência de suas
próprias crenças religiosas e/ou espirituais na prática da Psicologia Clínica. Nesta acepção,
foi de conformidade que os valores da religiosidade/espiritualidade pessoal influenciam
positivamente na prática clínica, a partir dos conceitos internalizados de aceitação do outro e
empatia que ajudam na socialização e na relação interpessoal de ajuda que está intrínseca
tanto no trabalho do psicólogo, quanto nos preceitos religiosos de forma geral. Assim,
enquanto a religiosidade/espiritualidade se desenvolve em cima de crenças de amor ao
semelhante, aceitação do outro, perdão e ausência de julgamento, auxilia no exercício
profissional quanto à necessidade do psicólogo aceitar os seus clientes sem aferir juízos de
valor, empatizando com os mesmos.
“... eu acho que tem tudo a ver, porque assim, até o fato de a gente escolher
psicologia é uma entrega. Uma relação de ajuda exatamente, então, ou seja, eu
acho que ta a forma que a gente enxerga assim dentro do, dentro da religião que a
gente segue... porque você também se coloca de uma maneira trazer isso, com
muito mais afeto, muito mais abertura...” (E3).
“... eu acho que influencia sim a minha consideração é..., dos meus aspectos
de consideração do outro, me parece que influencia sim, embora a gente tem que
isolar isto né, não significar exatamente, mas é difícil de se pensar em separar você
daquilo que você, foi feito né” (E8).
Neste sentido, Fontes (2008) fala da possibilidade de um melhor exercício do papel
de psicoterapeuta aliado às ideias de inclusão social e amor cristão. Também é perceptível a
semelhança de ideias entre os participantes e publicações que apontam a
62
religiosidade/espiritualidade associada ao desenvolvimento de sentimento de fraternidade e
empatia (Amatuzzi, 1999; Lima, 2001; Baungart & Amatuzzi, 2007).
1.3 Relação entre Religiosidade/Espiritualidade dos Clientes/Pacientes e a
Psicoterapia/Análise
Esta subcategoria explana a avaliação dos profissionais a respeito da influência da
religiosidade/espiritualidade dos clientes/pacientes nos processos de psicoterapia ou análise.
Quanto a isso, houve afirmações consensuais de que saber da religiosidade/espiritualidade
dos clientes/pacientes ajuda a contextualizar suas vidas, seus valores e formas de pensar, o
que induz alguns psicólogos a perguntarem para os mesmos se eles têm religião e no que
acreditam.
Isso confirma a concepção que os entrevistados apresentaram a respeito da temática
em questão, pois nas afirmações anteriores mostraram que percebem a
religiosidade/espiritualidade como uma escolha de valores que dirigem a vida pessoal e
influenciam a maneira de ser das pessoas. Então, para os que veem desta forma, torna-se
pertinente contextualizar a crença religiosa para conhecer seu cliente/paciente melhor e de
uma forma mais integrada, uma vez que percebem a maneira como se lida com a
religiosidade/espiritualidade análoga ao jeito do indivíduo viver e lidar também com outras
questões.
“Até para poder configurar o contexto de vida da pessoa eu acho que esse
aspecto das crenças mais cedo ou mais tarde aparece, ou realmente eu tenho
necessidade muitas vezes de perguntar no que a pessoa acredita, como que ela pensa
e assim por diante” (E1).
63
“... é extremamente importante, de talvez não entender a religiosidade como
um fato isolado da pessoa: como ela entende esta, e que valor ela dá, como ela se
relaciona com isto que ela chama de religiosidade, né. Acho que isso é extremamente
importante para o nosso trabalho nos diz muito da forma com que a pessoa lida na
sua vida (E9).
“Então, a forma como ele lida com a religiosidade é a forma como ele lida
com todas as outras questões de vida (E10).
Neste sentido, percebe-se a necessidade dos psicólogos estarem mais atentos à função
das crenças e das práticas religiosas na vida dos seus clientes e na terapia para contextualizar
a forma como eles vivem sendo também apontada na literatura (Giovanetti, 1999; Lima,
2001; Angerami-Camon, 2002; Brusgagin, 2004; 2008; Baungarte & Amatuzzi, 2007;
Panzini & Bandeira, 2007; Peres, et al, 2007; Savio e Bruscagin, 2008; Gomes, 2008).
Dos que defendem a ideia de que saber da religiosidade/espiritualidade dos
clientes/pacientes ajuda a conhecer e contextualizar a vida deles, alguns afirmaram inclusive
que as crenças religiosas/espirituais devem ser inquiridas e trabalhadas como quaisquer
outras crenças ou valores que o cliente tenha, não carecendo se configurar como um assunto
tabu, como pode ser exemplificado a seguir:
“... ela é um dos valores que deve ser trabalhado assim como qualquer outro,
qualquer outra crença né, que a pessoa tenha...” (E6).
Estes relatos apontam na direção que propõe Bruscagin (2004), quando ela afirma que
a religiosidade é tão importante quanto a visão de mundo do cliente, uma vez que o
atendimento psicológico o envolve em sua totalidade, sendo por esta razão imprudente que o
profissional trabalhe com aspectos segmentados das pessoas. Para ela, a tendência pós-
moderna abriu espaço para que todas as formas de conhecimento fossem valorizadas,
incluindo-se o conhecimento e as crenças religiosas.
64
Além disso, entre estes apontamentos, houve ressalvas, pois os psicólogos
assinalaram, de forma geral, que apesar da presença da religiosidade/espiritualidade poder
fazer parte do processo terapêutico do cliente/paciente e auxiliar na contextualização da vida
que ele leva, esta não pode ser confundida com a psicoterapia em si, pois são coisas
diferentes. Na visão dessas pessoas, não existe a necessidade de preconceitos ou da proibição
do assunto, desde que não se confunda o papel do psicólogo com o de religiosos.
“Eu percebo que são dois eixos paralelos na vida de uma pessoa, eu acho
que eles não devem se sobrepor, né! A psicoterapia é um autoconhecimento, é um
processo; a escolha religiosa talvez até faça parte desse processo ou não, né, mas é
uma escolha de como a pessoa é...” (E4).
Pode-se perceber uma intersecção com o pensamento de Amatuzzi (2008) quando ele
explica que o trabalho dos orientadores espirituais é diferente do trabalho específico do
psicólogo, pois para os primeiros o contexto de significado abarca o religioso e o espiritual,
enquanto que para o segundo tais significados compreendem o psiquismo. Isso também é
apontado por Ortega (2007) e Martins (2008), ao considerarem que ciência e religião devem
desenvolver diálogo e cooperação, desde que não se admita uma confusão ou mistura entre as
disciplinas.
Outra questão assinalada pelos entrevistados foi a entrega ao processo
terapêutico/analítico sendo favorecida pela religiosidade/espiritualidade dos
clientes/pacientes, uma vez que estes têm por hábito a e que esta ajuda tanto a vincular,
quanto a acreditar no terapeuta/analista e no processo. Explicam que a predispõe a
pensamentos positivos e crenças de que as questões da vida serão resolvidas, auxiliando deste
modo na predisposição interna de colaborar com os objetivos terapêuticos/analíticos,
confiando no profissional.
65
“Eu penso que alguns valores religiosos eles podem, eles estão relacionados
com confiança né, quando você fala de fé, de crença religiosa, você fala de
confiança né, então quando a pessoa confia, quando a pessoa desenvolve ao longo
da terapia um vínculo de gratidão em relação aquilo que ta recebendo, e isto ajuda”
(E6).
Sem fazer alusão à psicoterapia em si, mas em consenso com os profissionais,
Amatuzzi (1999) também reconhece a ligação entre a fé e questões como vinculação e
confiança. Desta forma, o autor explica que o desenvolvimento psicológico da fé está ligado à
experiência de uma confiança fundamental vivida na relação com os primeiros cuidadores
(pai, mãe ou substitutos) sendo base de todas as formas posteriores de acreditar
verdadeiramente e entregar-se, inclusive no âmbito religioso. Já Savioli (2008), considerando
a influência desses aspectos na clínica médica, chega a aludir a possibilidade de a auxiliar
os pacientes a tornarem-se mais complacentes e obedientes ao tratamento.
Além disso, foi consensual para os entrevistados que o tipo de influência exercida
pela religiosidade/espiritualidade depende da personalidade, do padrão de funcionamento
1
,
ou dinamismo psíquico
2
do cliente/paciente, conforme apontado pelos profissionais. Assim, a
religiosidade/espiritualidade pode tanto facilitar, quanto se manter indiferente, ou até
dificultar os processos de psicoterapia ou análise. Para eles, pessoas centradas e com um
desenvolvimento saudável em termos de personalidade podem utilizar as crenças
religiosas/espirituais como fonte de aprendizagem e crescimento, enquanto pessoas com um
padrão de funcionamento propenso à rigidez de princípios e de mecanismos de defesa às
empregam patológica ou prejudicialmente, conforme o fazem com outras questões. A religião
1
Segundo Rosset (2008), padrão de funcionamento é a forma específica e repetitiva do indivíduo ser e reagir
às situações, os mecanismos de que se utiliza para sobreviver, suas escolhas e formas de se relacionar.
2
Para Laplanche (1998) “dinâmico” é a qualificação de um ponto de vista que considera os fenômenos
psíquicos como resultantes da composição de forças de origem pulsional.
66
então é vista em si como neutra e a diferença reside no uso e nas interpretações que o
indivíduo faz da mesma, o que pode ser percebido nos seguintes discursos:
“Só acho que quanto mais centrada ela é mais fácil é ela integrar o processo
da religiosidade com o da terapia(E4).
“... depende muito mais do jeito, do padrão de funcionamento de cada
cliente. Para determinados clientes, independente da religião, a religiosidade ajuda,
porque abre um espaço de esperança, abre um espaço de responsabilidade, abre o
espaço. Outros clientes buscam a religião como uma coisa que fecha, como um
dogma, e daí acaba atrapalhando no processo terapêutico” (E10).
Isto também é apontado por Amatuzzi (2001), Lima (2001), Vergote (2001 c) e
Angerami-Camon (2002), que de alguma forma mostram a influência do desenvolvimento
psicológico do indivíduo sobre as ideias e práticas religiosas por ele adotadas, pois a
associação da religiosidade/espiritualidade com promoção de saúde ou de doença é
determinada pelo uso que o próprio homem faz da religião.
1.4 Visualizando a Construção das Crenças Religiosas
Esta subcategoria retrata as perspectivas dos profissionais sobre o processo de
aquisição das crenças religiosas e/ou espirituais, mostrando suas ideias a respeito de como se
dá a formação da religiosidade/espiritualidade na vida das pessoas.
Quanto a isso, a personalidade, o padrão de funcionamento ou os dinamismos
psíquicos do indivíduo também apareceram no discurso dos profissionais como um consenso
sobre algo que direciona ou influencia a construção das crenças religiosas, pois para eles as
pessoas buscam aquilo que combina com a maneira de ser e de pensar de cada uma. Então, o
encontro entre indivíduo e religião se ou pela identificação, ou pela complementaridade,
67
pois as pessoas têm a opção de assimilar apenas aquilo que concordam (segundo seu
funcionamento pessoal) ou de buscar algo que lhes falta, conforme fica explicitado nos
comentários selecionados abaixo:
eu acho que a pessoa busca o que tem a ver com o seu jeito de ser, o seu
jeito de pensar, (...), de acordo com o seu padrão, seu padrão de funcionamento
(E3).
“é muito claro isso, está diretamente relacionada e geralmente as pessoas
que buscam religiões mais incisivas, digamos assim mais diretivas, mais cheias de
regras e normas são pessoas que sentem ou têm uma personalidade muito mais
insegura eles precisam de um outro dizendo o que eles têm que fazer (E9).
Indo ao encontro a esta forma de pensar, Barros & Campos (1999) descobriram que a
similaridade de ideias pessoais com a proposta do movimento religioso é um dos principais
motivos que levam estudantes universitários a buscarem um credo. Da mesma forma, Vergote
(2001 b) também afirma que a personalidade do sujeito determina o tipo de desejo por
manifestação religiosa que ele apresenta.
Outra questão apontada pelos entrevistados foi que a construção das crenças
religiosas está associada ao ciclo vital individual, tendo uma relação com a idade e as fases
do desenvolvimento da pessoa. De forma geral, associaram a adolescência com a busca por
conhecer novos credos ou questionar os antigos, procurando uma forma de vida para eles; já a
maturidade foi relacionada com a formação definida da religiosidade/espiritualidade,
conforme se pode ver nos seguintes relatos:
“... um período bastante interessante que eu tive experiência é com
adolescentes, que normalmente, pela própria crise da adolescência procuram
conhecer diferentes religiões, e à medida que eles vão explorando e conhecendo isso,
eles vão largando e questionando até de repente encontrar aquele, aquele meio que
mais o satisfaz, que mais tem a ver com a forma de vida deles...” (E1).
68
“... então acredito que a questão da religiosidade, de você ter ou não ter e
tal, e você se definir também é uma questão de maturidade...” (E6).
Em consenso com tais apontamentos, Bruscagin (2004) aponta que o ciclo de vida
tem componentes religiosos. Já Amatuzzi (2001) chegou a constatar em seus estudos
diferentes níveis de maturidade religiosa e construiu uma teoria do desenvolvimento
religioso, traçando um paralelo entre este e o desenvolvimento psicológico.
Ainda no que diz respeito à construção das crenças, a identificação do indivíduo com
características de líderes religiosos foi apontada como algo que pode motivar o interesse e a
busca em questão. Como a religião tem um intermediário para repassar seus preceitos, os
ensinamentos e princípios perpassam pela gica e pela personalidade da pessoa que ensina
essa crença, abrindo espaço para tais identificações, como coloca o entrevistado 1, por
exemplo:
“E outro aspecto que eu acho que é significativo até pra pesquisa é como hoje
as pessoas confundem, por exemplo, um credo, uma crença, com... Como é que eu
posso te dizer? A pessoa que passa essa crença, como por exemplo, um pastor, um
médium, um padre, né! Então se confunde com aquela pessoa que transmite isso, né!
(E1).
Este contexto da confusão da crença com o pregador pode estar associado com o
surgimento de uma diversidade de crenças que tiram a hegemonia de uma única religião,
onde um dos fatores que conta é a assistência oferecida pelos líderes, como chama a atenção
a discussão de Antoniazzi (2003), que acaba por explicitar a importância de oferecer um
cuidado pastoral adequado.
69
1.5 Relação entre Religiosidade/Espiritualidade e a Personalidade
Esta subcategoria tratou de investigar a relação existente entre a
religiosidade/espiritualidade do indivíduo e sua personalidade, buscando observar, na opinião
dos entrevistados, se existe uma analogia possível entre as características psicológicas
(emocionais e comportamentais) de cada um, e sua opção religiosa. Neste sentido, como
personalidade, adotou-se o conceito de Kaplan & Sadock (1993), que a explica como o
conjunto relativamente estável de características emocionais e comportamentais que
individualizam uma pessoa. Outros termos que surgiram a partir das verbalizações dos
profissionais foram padrão de funcionamento e dinamismos psíquicos, ainda que tenham sido
utilizados com significados semelhantes ao conceito de personalidade proposto.
Quanto a isso, as entrevistas realizadas apontam um consenso em que a relação entre
religiosidade/espiritualidade e a personalidade se no nível de desenvolvimento
psicológico, pois está ligada à capacidade pessoal de integrar aspectos do dogma com a
realidade e o desenvolvimento individual.
Na perspectiva de um entrevistado de formação psicanalítica, as pessoas com
determinadas estruturas de personalidade que apresentam diferentes graus de neurose
conseguem utilizar a religiosidade/espiritualidade como suporte para resolução de suas
questões, caso não a coloquem ligada a funcionamentos mais rígidos onde ela sirva de apoio
para as dificuldades. Já os indivíduos que apresentam diferentes graus de psicose a trazem de
maneira aniquiladora, presente em sintomas como delírios e alucinações. Sendo assim, os
dados encontrados apontam que a forma como a pessoa vivencia sua
religiosidade/espiritualidade depende diretamente de sua personalidade, padrão de
funcionamento ou dinamismos psíquicos.
70
Os neuróticos (...) o os únicos até hoje que trouxeram a questão de
religiosidade, de uma crença maior inclusive de ajuda no seu problema. São
pacientes que m um grau de dependência muito grande, então são pacientes que
também apresentam superego, que nós chamamos em Psicanálise, muito rígido e
exacerbado. (...) trazem muito essa coisa de uma força maior, do lado espiritual, de
uma busca inclusive é, complementar né, ao processo terapêutico de ir buscar força
na divindade, força no espírito, na alma. (...) Os psicóticos, nesse caso, a maioria
deles trazem nos seus delírios e alucinações a questão da religiosidade, eles trazem
né, mas trazem de uma maneira pejorativa, de uma maneira posso dizer assim de
destruição...” (E2).
outro entrevistado, em concordância com estas ideias, mas a partir de uma
perspectiva sistêmica, colocou:
“A religiosidade e a forma como o cliente lida com a religiosidade dele
depende do padrão de funcionamento que o cliente tem. Então, a forma como ele
lida com a religiosidade é a forma como ele lida com todas as outras questões de
vida, ou de uma forma mais flexível ou de uma forma mais rígida, ou depositando na
religião as suas dificuldades ou as suas saídas, ou as suas justificativas. Então, eu
faço um paralelo entre a forma como ele lida com a religião, com a forma como ele
lida com as questões vitais dele (E10).
Como se vê, estas proposições, embora partidas de correntes diferentes do
pensamento psicológico, apresentam um consenso, indo também ao encontro de publicações
que mostram a influência da constituição psicológica sobre religiosidade/espiritualidade do
sujeito (Amatuzzi, 2001; Lima, 2001; Vergote, 2001 c; Angerami-Camon, 2002).
Diante do exposto, percebe-se que os entrevistados possuem concepções formadas a
cerca da religiosidade, retratando-a como um aspecto próprio de cada indivíduo que reflete
suas crenças e valores, influenciando comportamentos e promovendo sustentação em
momentos de crise. Por este motivo, a investigação deste âmbito da vida dos
71
clientes/pacientes foi por eles apontada como necessária de ser efetuada, uma vez que auxilia
na contextualização dos mesmos. Os valores religiosos por sua vez foram assinalados como
facilitadores nos relacionamentos interpessoais, incluindo-se as relações terapeuta-cliente,
pais-filhos e familiares. Entretanto, foi de consenso geral que a forma como a
religiosidade/espiritualidade é vivenciada depende tanto da fase do ciclo vital em que a
pessoa se encontra, quanto da personalidade, padrão de funcionamento ou dinamismos
psíquicos que apresenta. Neste contexto, se torna importante conhecer também as
compreensões passadas durante a formação profissional a respeito deste tema para os
entrevistados.
2 A temática da Religiosidade/Espiritualidade durante a Formação Profissional
A despeito das concepções apresentadas pelos psicólogos presentemente, esta
temática era vista e aprendida por alguns deles de forma diferente durante a formação
profissional. Desta forma, esta categoria explicita quais foram as informações obtidas pelos
profissionais entrevistados sobre o tema em questão, quando ainda estavam em
desenvolvimento universitário, bem como a necessidade de incluir o estudo da
religiosidade/espiritualidade e sua influência na prática clínica na formação dos profissionais
da contemporaneidade.
2.1. Concepção da Religiosidade/Espiritualidade Durante a Formação Profissional
Esta subcategoria traz à tona quais foram as informações obtidas pelos profissionais
entrevistados sobre o tema em questão, no nível de suas formações acadêmicas. Um dos
entrevistados mencionou ter aprendido a visão de espiritualidade de Alexander Lowen, da
72
Bioenergética, contudo, em um curso de formação em Psicologia Corporal. Na universidade,
por sua vez, alguns dos participantes afirmaram que o estudaram em disciplinas específicas,
porém sem profundidade.
Com isso, em matérias onde foram examinados autores clássicos da Psicologia, foram
apontadas as visões daqueles que discorreram sobre o tema, como Carl Gustav Jung e Viktor
Frankl. Outra questão relatada foi a ocorrência de discussões na cadeira de Filosofia, muito
embora os entrevistados tenham também alegado que as reflexões giravam em torno da
religião e da religiosidade em si, sem entrar no campo da prática clínica. Desta maneira,
dentre as disciplinas da grade curricular dos cursos universitários que mencionaram o tema,
está a Filosofia, a Logoterapia e a visão Junguiana, conforme pode ser exemplificado a
seguir:
“... nós tínhamos muitas aulas com filósofos, e estes falavam um pouco, mas
não desta forma que conversamos” (E3).
“Nós tivemos uma disciplina que apareceu que foi uma disciplina chamada
Logoterapia, então os vários pensadores né, os existencialistas e foi feito um paralelo
que eu lembro até em cima do Viktor Frankl, que trazia bastante sobre a questão de
religiosidade, que foi a única disciplina que realmente apareceu alguma coisa
né...” (E2).
Essas afirmações vão ao encontro das constatações de Socci (2006), que cita Carl
Jung e Viktor Frankl como alguns dos autores da Psicologia que valorizaram o aspecto
religioso no desenvolvimento do ser humano. quanto às discussões na disciplina de
Filosofia, Teles (1989) e Freire (2002) explicam que o estudo da própria Psicologia começou
como parte do interesse da primeira, dando-se ênfase a assuntos ligados à religião no período
teocêntrico da idade média.
73
Enquanto isso, outros participantes afirmaram que não tiveram instrução nenhuma a
este respeito. Segundo eles, nos cursos de Psicologia que frequentaram não havia matérias
nem professores que abordavam o tema em questão. Isso fica explícito no discurso abaixo:
“Puxa o tema da religiosidade, eu nem me lembro assim, não me lembro de
ter debatido isso na minha formação profissional, o humanismo ele trouxe ou traz
essa reflexão do humano, mas não da religiosidade em si” (E7).
Neste sentido, Bruscagin (2004) explica que durante muito tempo este ponto ficou
fora dos consultórios e dos cursos de formação e pós-graduação em Psicologia, pois para
alguns, este é um assunto particular dos clientes, ao mesmo tempo em que a preocupação
de que ao tratar do tema, o profissional possa impor sua crença aos clientes mais vulneráveis.
Outra questão que apareceu na formação dos profissionais foi à visão da
religiosidade/espiritualidade como uma patologia, algo nocivo para a saúde e para a pessoa.
No entanto, foi possível notar que todos os entrevistados que tiveram instruções semelhantes
durante a faculdade, não as mantinham no momento da entrevista, avaliando a
religiosidade/espiritualidade não apenas como algo que pode ligar-se à patologia, mas
também que pode estar associada à promoção de saúde. O caso é que na universidade o
estudo era feito considerando a religiosidade/espiritualidade em seu aspecto negativo, ligado
a patologias e sintomas, conforme o relato do entrevistado 1:
“... foi passado que a religiosidade seria em si patológica (E1).
A ligação com a patologia feita por alguns estudiosos e acadêmicos é explicada por
Vergote (2001) quando ele fala da construção de duas tendências distintas de pensamento
sobre o assunto na Psicologia: o posicionamento no qual a religião é nociva à saúde mental, e
o posicionamento no qual a religião é necessária.
74
o confronto existente entre religião e ciência foi vivenciado nas formações
profissionais de dois participantes, na época, retratando para eles a incompatibilidade entre a
Psicologia e a temática em questão em virtude de a considerarem como um empecilho para o
livre curso da ciência por opor-se ao controle e concretude necessários para o método
científico. Deste modo, sentiam inclusive que a religiosidade/espiritualidade deles mesmos
não era vista com bons olhos, conforme afirmam:
“... quando eu me formei e até um tempo atrás o psicólogo parece que não
podia ter religião né, era uma coisa assim meio contraditória a ciência e a religião e
não se levava em consideração que a pessoa tinha a sua formação e a sua religião, e
que também poderia aderir a uma ciência ser um profissional né, acho que agora
está melhor...” (E7).
Foi uma visão bem científica, aquela coisa de método científico, do
palpável, do controlável...” (E1).
Isso também é apontado por autores (Giovanetti, 1999; Vergote, 20001; Freire, 2002;
Bruscagin, 2004; Socci, 2006; Harrison, 2007) que explicitam que na passagem da idade
média (onde ciência e religião era praticamente uma coisa só) para a idade moderna (que
dissociou a religião das outras esferas que compõem a vida humana) emergiu um conflito
contínuo entre ciência e religião.
2.2. Necessidade de Incluir esta Temática na Formação dos Profissionais da Psicologia
Esta subcategoria retrata o que os profissionais pensavam a respeito da possibilidade
de incluir a forma de trabalhar com a religiosidade/espiritualidade dos clientes/pacientes
como temática abordada pelos cursos de Psicologia. Quanto a isso, foi de consenso entre os
participantes que os cursos universitários deveriam incluir informações a este respeito,
principalmente sobre formas de se abordar o tema no exercício clínico, uma vez que é algo
75
inerente a cultura e aos clientes/pacientes em suas vivências, constituições e motivações.
Tendo isso em vista, não consideram prudente ignorar o assunto, ou internalizá-lo como um
tabu, ou algo que não deve ser abordado.
Eu considero sim, é importante faz parte, não tem como dizer: “não eu não
quero saber disso”, porque isso te persegue, vai correr atrás de você né, o ser
humano é movido por várias crenças, por religiões, né! É da nossa cultura, então
quanto mais se ensina melhor, melhor é (E5).
Para justificar ou complementar suas respostas, alguns entrevistados enfatizaram a
importância da discussão sobre a presença dessas questões em consultório, explicitando
formas de abordar o cliente/paciente e de como trabalhar com isso, como por exemplo:
“Acho muito rica, acho muito pertinente ela é, (...), é um outro aspecto da
pessoa que deve ser trabalhado(E6).
O depoimento anterior reafirma as colocações de diversos autores (Razali, et al, 1998;
Ancona-Lopez, 1999; Giovanetti, 1999; Lima, 2001; Angerami-Camon, 2002; Bruscagin,
2004; Cambuy, et al, 2006; Moreira-Almeida, et al, 2006; Baungarte & Amatuzzi, 2007;
Panzini & Bandeira, 2007; Peres, et al, 2007; Williams & Sternthal, 2007) que consideram
que cada vez mais a religiosidade se faz presente nos atendimentos psicológicos e necessita
por isso ser estudada.
Outra justificativa dada para a necessidade de incluir a temática da
religiosidade/espiritualidade na grade curricular de cursos de Psicologia foram as obrigações
éticas que o profissional deve ter a este respeito. Para isso, explicitaram a necessidade do
psicólogo manter-se neutro na clínica, não deixando aflorar tendências para religiões
específicas que acabem por influenciar seus clientes/pacientes, conforme pode ser esclarecido
abaixo:
76
Fundamental. Eu acho que até pela própria questão ética, né! E pela
própria questão depois do exercício profissional, é fundamental, né! E com esse
cuidado de repente não pender, vamos dizer assim, pra algum lado, (...), uma vertente
isso e aquilo, até mesmo porque hoje muitas das instituições formadoras têm em sua
base grupos religiosos, então isso é só que não pode ser tendencioso (E1).
Peres, et al (2007) da mesma forma fazem estas colocações quando afirmam que
agregar a religiosidade e a espiritualidade dos clientes durante a psicoterapia requer
profissionalismo ético para trabalhar de fato em benefício do processo terapêutico.
Além disso, um profissional sugeriu que o estudo fosse feito associando a
religiosidade/espiritualidade às teorias da personalidade, novamente indo ao encontro do
pensamento de Amatuzzi (2001), Lima (2001), Vergote (2001 c) e Angerami-Camon (2002).
Para ele, é necessário que se estude a influência da personalidade na forma como se configura
a religiosidade/espiritualidade do indivíduo, tanto na possibilidade desta estar associada à
patologia, quanto à promoção de bem-estar.
“... desta forma associando a religiosidade à teoria da personalidade, à
psicopatologia tudo também não né, aquilo que traz um bem estar, mas acho que sim,
isso essa uma discussão bastante interessante” (E9).
Entretanto, houve um profissional que acreditou não ser o meio acadêmico o indicado
para este tipo de informação ou discussão. Sua crença era de que o assunto merecia estudo
caso houvesse presença da questão em consultório. Assim, o espaço para buscar tal
conhecimento seria em formações complementares ou em publicações de outros meios de
comunicação, e não na universidade em si, que deveria abordar outras questões, segundo
pode ser observado em suas argumentações:
77
Eu não incluiria. (...) Porque existe uma condição que é do profissional de
buscar essa informação se ele precisar, umas N formas de mídia em que ele pode
obter isto ta, então me parece que essa formação, eu não incluiria” (E8).
Neste sentido, tanto Ancona-Lopes (2001), quanto Valle (2001), Stadtler (2002) e
Bruscagin (2004) associam estes posicionamentos que quase que proíbem o assunto da
religiosidade/espiritualidade na clínica à influência do positivismo na Psicologia.
Ante o que foi apontado nesta categoria, pode-se vislumbrar concretamente o
caminho que a temática da religiosidade segue na Psicologia, vindo de discussões tímidas em
virtude do conflito existente entre ciência e religião e da necessidade do profissional não ser
tendencioso, para o momento atual, onde os estudos sobre saúde mental e religião têm
crescido. Assim, deixa-se de focar exclusivamente as formas de patologia ligadas à religião,
para considerá-la como um fenômeno sociologicamente significativo e capaz de associar-se
também à promoção de saúde, conforme explicitaram Moreira-Almeida, et al (2006) e
Dalgalarrondo (2007).
Neste percurso, torna-se necessário explicitar os aspectos da
religiosidade/espiritualidade que interferem no processo terapêutico/analítico, conforme pode
ser observado na próxima categoria surgida da análise do discurso dos sujeitos.
3 Aspectos da Religiosidade/Espiritualidade que Interferem no Processo
Terapêutico/analítico
Esta categoria exprime um conjunto de elementos de análise que interferem nos
processos de psicoterapia ou psicanálise. Para tanto, as subcategorias foram divididas em
aspectos facilitadores do processo terapêutico/analítico e aspectos dificultadores do mesmo.
78
3.1 Aspectos Facilitadores do Processo Terapêutico/analítico
Como uma subcategoria, este item explana as situações onde a
religiosidade/espiritualidade acaba auxiliando a psicoterapia ou análise por estar associada à
promoção de saúde.
Neste ponto, foi consensual entre os psicólogos que a facilitação do trabalho clínico
pela religiosidade/espiritualidade do cliente/paciente se quando esta é utilizada para
auxílio nos momentos de perdas e crises, dando sentido e significado para tais experiências.
Outra coisa exposta foi o auxílio para a superação de lutos, uma vez que é no espaço religioso
que se definem questões relacionadas à morte, conforme pode ser observado nas seguintes
verbalizações:
“... no estabelecimento do sentido da vida que o indivíduo estabelece, no dar
sentido e significado às suas experiências, muitas vezes até mesmo em experiências
extremamente dolorosas né, onde eles se apóiam(E1).
consegue algumas vezes trabalhar alguns lutos através né da própria
religião (E2).
“Então, perder um filho numa situação terrível... eu vejo que o que deu força
pra ela foi assim a religião, quando ela conseguiu botar o no chão, foi a religião”
(E3).
Isto coincide mais uma vez com os dados encontrados na bibliografia pesquisada
(Koenig et al, 2001; Bruscagin, 2004; Albuquerque & Souza, 2002; Jaspard, 2004; Panzini &
Bandeira, 2005; 2007; Dalgalarrondo, 2006; 2007; Fleck & Skevington, 2007) que mostram a
religiosidade/espiritualidade como uma estratégia de enfrentamento para situações difíceis da
vida, como é o caso de doenças, crises, perdas e lutos.
79
A aquisição de parâmetros de comportamento emergiu também como algo que auxilia
a promoção de saúde visada na psicoterapia/análise. Segundo eles, a religiosidade acaba
inserindo o cliente/paciente em um meio com o qual se identifica e sente que pertence. Nele,
os valores morais preconizados pela experiência religiosa/espiritual acabam sendo guias que
orientam a respeito do certo e do errado, fornecendo um direcionamento que facilita as
relações interpessoais. Nesta acepção, fulgurou-se inclusive o funcionamento familiar
recebendo tais benefícios, como pode ser elucidado nos seguintes comentários:
“Olha, da experiência que eu tenho sempre facilita (...) Pacientes que às vezes
a gente nem conversa sobre a religião, mas que a gente que tem uma estrutura
familiar com a seja ela qual for, facilita, isso é uma coisa bem importante. Quer
dizer, é bem visível...” (E3).
“Bom assim oh, se eu colocar a religiosidade como uma coisa que
desenvolve pertencimentos e valores morais ela ajuda muito, principalmente na
família né, ta certo” (E7).
Em concordância com tais afirmações, muitas publicações (Mahfoud, 2001; Stadtler,
2002; Valle, 2002; Bairrão, 2004; Bruscagin, 2004; Dalgalarrondo, et al, 2004; Epelboim,
2006; Hefner, 2007; Paiva, 2007; Peres, et al, 2007) demonstram que as crenças
religiosas/espirituais estão ligadas a princípios éticos, fornecendo parâmetros para
julgamentos, escolhas e comportamentos.
Outra questão elucidada por alguns psicólogos foi que a religiosidade/espiritualidade
pode ser utilizada pelo cliente na solução de questões cotidianas, o que para eles acaba
auxiliando o processo terapêutico/analítico. Desta forma, conselhos obtidos através da
experiência religiosa/espiritual sobre responsabilidade, esperança, necessidade de crescer e
desenvolver-se se tornam disposições que podem estar ao alcance do fiel para serem
empregadas na solução de problemas do dia-a-dia.
80
“Nas questões até mais objetivas que ele traz da vida diária, do cotidiano, de
alguns problemas e quando ele coloca muito a sua religiosidade a serviço dele, para
resolver essas questões. É... Questões mais objetivas, que o façam pensar sobre”
(E5).
“... quando a forma como o cliente usa a religiosidade como questões ligadas
à responsabilidade, questões ligadas à esperança, questões ligadas à aprendizagem,
algumas religiões e alguns clientes usam a religiosidade pra isso, então nesses casos
ajuda o processo” (E10).
Sobre este aspecto, Amatuzzi (1999) e Moreira-Almeida, et al (2006) explicam que a
religião influencia a saúde mental através da promoção de um estilo de vida que incentiva
comportamentos saudáveis, gerando ainda um sistema de crenças que auxilia no
enfrentamento de estresses, sofrimentos e problemas cotidianos. Entretanto, ainda em
concordância com o que foi proposto pelos entrevistados, Lima (2001), Vergote (2001 c) e
Angerami-Camon (2002) atribuem a responsabilidade por isso ao uso que o próprio indivíduo
faz de suas crenças. Já Savio & Bruscagin (2008) colocam que, anteriormente ao
desenvolvimento da Psicologia Clínica, os religiosos já desenvolviam reflexões sobre a
natureza humana e como resolver os problemas da vida.
Conforme já mencionado anteriormente, houve também uma anuência de alguns
psicólogos no que diz respeito ao favorecimento de abertura e entrega ao processo terapêutico
para o indivíduo que tem religiosidade/espiritualidade desenvolvida, em virtude de a fé
auxiliar no estabelecimento de confiança e vinculação. Para eles, a mesma está associada a
pensamentos positivos de que os problemas serão resolvidos e as coisas darão certo, o que faz
com que a pessoa acredite mais na possibilidade de sucesso da psicoterapia/análise e
consequentemente, vincule melhor com o terapeuta/analista.
81
“... o vínculo fica mais forte e ela se entrega melhor eu acho que é isso, se
entrega mais à terapia, confiança ao terapeuta e geralmente ela fala também
da fé, de como que ela acredita. Mas mesmo não falando eu vejo assim que não fica
superficial, parece que o vínculo fica mais forte” (E3).
Com isso, segue-se novamente ao encontro do pensamento de Amatuzzi (1999), que
também reconhece a ligação entre a fé e questões como vinculação e confiança.
Houve ainda um entrevistado que, dentro do pensamento psicanalítico, apontou que o
aparecimento da religiosidade/espiritualidade do paciente em suas verbalizações traz consigo
um aspecto facilitador do processo, uma vez que origina conteúdos a serem trabalhados e
interpretados. Deste modo, a verbalização do analisando é o meio de acesso ao inconsciente,
sendo que o conteúdo religioso/espiritual que emerge é interpretado como outro qualquer, o
que assinala a presença de material de análise.
“Eu acredito que tudo que vem é linguagem do inconsciente ou a leitura que
ta por trás disso. Então é facilitadora, porque ali tem conteúdo que deve ser
trabalhado (E2).
Cabe apontar aqui o ponto de vista de Angerami-Camon (2002), que mesmo a partir
de outra perspectiva teórica, afirma que ao trazer a religiosidade/espiritualidade dos
pacientes para os pressupostos da prática clínica em Psicologia, possibilita-se a ampliação
dos recursos pertinentes a este exercício profissional. Neste sentido, diversos são os autores
(Giovanetti, 1999; Lima, 2001; Angerami-Camon, 2002; Brusgagin, 2004; Baungarte &
Amatuzzi, 2007; Panzini & Bandeira, 2007; Peres, et al, 2007) que percebem a necessidade
dos terapeutas estarem atentos ao papel das crenças e das práticas religiosas na vida dos seus
clientes e na terapia.
82
3.2 Aspectos Dificultadores do Processo Terapêutico/Analítico
Esta subcategoria ilustrou as situações onde a religiosidade/espiritualidade acabava
dificultando a psicoterapia ou análise por estar associada à patologia, ao sofrimento psíquico,
ou simplesmente por dificultar os processos de promoção de saúde.
Neste ponto, foi consensual entre os psicólogos que a religiosidade/espiritualidade do
cliente dificulta o trabalho clínico quando é utilizada por eles como um mecanismo de
defesa
3
. Desta forma, o uso da religião como um apoio dos sintomas em argumentações que
trazem à tona álibis para seguir com o mesmo funcionamento infantilizado ou patológico,
acabam sobrepondo-se ao tratamento em si, assim como defesas gidas que são erguidas em
nome da religiosidade/espiritualidade.
Outra questão exposta nesta mesma acepção foram as projeções que alguns
clientes/pacientes fazem de suas responsabilidades pessoais em divindades ou aspectos
ligados ao universo religioso, mantendo defesas edificadas justamente para impedir o sujeito
de responsabilizar-se por suas próprias questões, como pode ser visualizado abaixo:
“Dificulta, quando eles se utilizam da religião como apoio dos seus
sintomas...” (E9).
“... talvez quando houver defesas mais rígidas que se colocam em nome de
uma religião ou de um valor religioso, talvez isso dificulte...” (E8).
“... às vezes essa coisa de que o cliente coloca ‘se Deus quiser’, e ‘se Deus
quiser’, né! Coloca num terceiro a sua responsabilidade, isso daí é uma coisa que
pode dificultar se não for trabalhada com muito jeito né, aceitar essa projeção, essa
depositação...” (E7).
3
O termo refere-se ao conjunto de processos defensivos de determinada neurose realizados em diferentes tipos
de operações psíquicas (Laplanche, 1998).
83
Dentre essas utilizações da religiosidade/espiritualidade como mecanismos de defesa,
alguns profissionais destacaram a dificuldade quando se desenvolve uma resistência contra a
própria psicoterapia/analise em si, mantendo para isso argumentos religiosos, como coloca o
entrevistado a seguir:
“Quando tem um conflito muito fechado na religião e com uma certa
resistência para o processo terapêutico né, é como se vem obrigado para a
terapia...” (E5).
Sobre este assunto, Panzini & Bandeira (2005; 2007) explicam que delegar
exclusivamente a Deus a resolução dos problemas é uma faceta do enfretamento
religioso/espiritual negativo. ainda que ser elucidado que se pode compreender através
destes dados coletados que a religiosidade em si não é patológica, pois as patologias ocorrem
em decorrência de distorções advindas de sintomas e defesas da própria pessoa, o que
coincide com autores que também fazem esta afirmação (Amatuzzi, 2001; Lima, 2001;
Vergote, 2001 c; Angerami-Camon, 2002).
Outro apontamento colhido nas entrevistas foi que a religiosidade/espiritualidade dos
clientes/pacientes atrapalha a promoção de saúde e os processos terapêuticos/analíticos
quando está associada a questões como o pecado e a culpa. Quando isso acontece, a sensação
de ter cometido uma infração contra leis sagradas/divinas gera uma culpabilidade que
aprisiona o indivíduo em determinismos muitas vezes exagerados, segundo explicita a
seguinte entrevista:
“... é desvirtuada pra aspectos terríveis de muita culpa, de muito pecado,
de muito determinismo, sabe esse tipo de coisa exagerada...” (E6).
84
O depoimento anterior reafirma os dados encontrados na bibliografia consultada, pois
tanto para Vergote (2001 c), quanto para Cambuy, et al (2006), o sentimento de culpa aliado
ao discurso sobre o pecado pode ser alimentado por doutrinas religiosas.
Em presença do exposto, fica claro que o auxílio na superação de crises e lutos é o
principal benefício da prática religiosa, uma vez que sobre isso se obtiveram as maiores
ênfases e anuências. É possível observar ainda consensos sobre como os parâmetros de
comportamento vindos de valores morais atrelados ao universo religioso são considerados
pelos psicólogos como influências positivas tanto para os relacionamentos interpessoais,
quanto na solução de problemas cotidianos. Outra questão é ainda o auxílio da na abertura
do indivíduo para acreditar no processo terapêutico/analítico e vincular melhor com o
profissional.
Entretanto, também foi de conformidade entre os entrevistados que se pode utilizar a
religiosidade/espiritualidade como algo que dificulta a promoção de saúde, principalmente
quando a mesma é usada como um mecanismo de defesa para manter sintomas individuais,
ou para aprisionar-se em culpas indesejáveis e desnecessárias.
Além disso, pode-se abstrair desta categoria que em todas as entrevistas colhidas os
psicólogos de alguma forma expuseram que os aspectos da religiosidade/espiritualidade que
facilitam ou atrapalham a psicoterapia/análise estão diretamente ligados ao uso que o próprio
cliente/paciente faz dos mesmos. Hora implicitamente, hora explicitamente, percebe-se o
consenso existente quanto à neutralidade das religiões, sendo que a qualidade das mesmas na
vida e na saúde das pessoas fica dependente da forma como elas se apropriam e interpretam
essas questões.
Tendo isso em vista, acende a importância de se discutir diferentes possibilidades de
atuação profissional quando na presença destes elementos, o que é feito na próxima categoria.
85
4 Ações Desenvolvidas pelo Profissional a partir da Presença da
Religiosidade/Espiritualidade no Contexto Terapêutico
Esta categoria retrata as ações profissionais que foram adotadas frente à presença e/ou
influência de crenças religiosas/espirituais no processo psicoterapêutico ou analítico. Neste
percurso, surgiram duas subcategorias específicas: a possibilidade de utilizar estratégias
terapêuticas para trabalhar com a religiosidade/espiritualidade que surge do cliente/paciente e
a possibilidade de utilizar ela própria como mais um recurso dentro do trabalho clínico.
Assim, de forma geral, aqueles que utilizam estratégias, desenvolvem meios para
lidar com o tema, a partir de seu surgimento. Já os que as utilizam como recursos, chegam a
buscar propositalmente na religiosidade/espiritualidade dos clientes/pacientes meios de
atingir os objetivos terapêuticos pré-estabelecidos, como se pode ver a seguir.
4.1 Utilizar Estratégias Terapêuticas para Trabalhar o Conteúdo Religioso/Espiritual que se
faça Necessário
Esta subcategoria mostrou a possibilidade de utilização de estratégias para trabalhar a
religiosidade/espiritualidade do cliente/paciente, em vista da necessidade de promoção de
saúde e desenvolvimento psicológico inerente ao trabalho clínico. Foi possível perceber a
atuação dos profissionais neste sentido, contudo, sem interferirem nas escolhas do sujeito.
Nesta linha de atuação, foi consenso entre os psicólogos que independente da
estratégia utilizada para lidar com a religiosidade/espiritualidade que se faz presente, o
clínico não deve confrontá-la. A opção apontada pelos profissionais, neste caso, é a de
86
compreensão e aceitação do cliente/paciente tal como ele é, sem tentar demovê-lo de suas
crenças, nem convertê-lo para outras consideradas melhores.
“Na realidade eu acho que, por ser uma escolha do cliente, jamais
confrontar. Eu acho que não, a alteridade do cliente é o que manda no processo
né, na realidade é, por essa via eu procuro não entrar...” (E1).
“... o importante é tentar entender o discurso que a pessoa está trazendo e
não o retirá-la desse lugar né, convencê-la, por exemplo, a ser católica, que seria
uma religião uma mais adequada né, e sim tentar sempre entender a fala do sujeito
né, do paciente” (E2).
Isso vai ao encontro das afirmações de Bassini (2004), Silva (2004), Savio &
Bruscagin (2008) que também apontam a importância da compreensão e respeito pelas
crenças religiosas do outro.
Outra concordância percebida nos discursos coletados foi a respeito da necessidade de
não deixar que os valores religiosos do psicoterapeuta/analista interfiram na avaliação ou na
condução do cliente/paciente. Ficou explícita a obrigação de ter como base de avaliação e
trabalho crenças e teorias profissionais e não religiosas, bem como uma separação entre as
questões do psicólogo e as do cliente/paciente, conforme mostram os profissionais:
“... o que me direciona nessa avaliação são as minhas crenças profissionais
e não minhas crenças religiosas (E10).
“Daí eu acho que é perigoso, ta, daí eu acho que precisa tomar muito
cuidado, daí eu acho que não pra fazer isso, acho que tem que separar a
religião, a minha e a dele, a minha crença e a dele, né” (E4).
87
Tanto Giglio (1993), quanto Ancona-Lopez (2008) também explanam a cerca da
necessidade de trabalhar a contratransferência dos clínicos, onde estes devem aceitar os
valores dos pacientes, mantendo-se cientes de suas próprias atitudes e crenças a este respeito.
Seguindo a mesma ideia, Amatuzzi (2008) ressalta que o critério que o psicólogo deve usar
para ajudar uma pessoa nesses casos é baseado em discernimentos psicológicos, e não trazido
de tradições espirituais.
Mais uma estratégia utilizada pelos psicólogos para trabalhar com a
religiosidade/espiritualidade dos clientes/pacientes é a busca de flexibilização das crenças dos
mesmos. Para tanto, é necessário que a religiosidade/espiritualidade esteja interferindo
negativamente em suas histórias pessoais: ou mantendo sintomas, ou dificultando os
relacionamentos e a promoção de saúde.
É a partir disto que os profissionais tentam flexibilizar a forma como os
clientes/pacientes utilizam-se deste aspecto de suas vidas. Para tanto, mostram para o
cliente/paciente a relação disto com suas queixas, e se baseiam em questionamentos para
tornar tais crenças mais maleáveis de forma a não prejudicá-los, como por exemplo:
“... porque não trabalho se você não conseguir fazer essa intervenção,
então me parece que se a religião nesse caso serve pra a manutenção do sintoma
(...) é necessário que no processo de análise ele passe a questionar esses ritos que
ele está tendo...” (E9).
“... eu vou tentando mostrar o quanto isso ta dificultando...” (E6).
“Quer dizer, flexibilizando, trabalhando outras questões de repente até
altera esse tipo de perspectiva da pessoa, né!” (E1).
88
Estas atuações vão em direção às proposições de Lima (2001) e Panzini & Bandeira
(2007) quando afirmam que o terapeuta deve proporcionar espaço para apoio, ressignificação
e mudança, quando o conflito é de ordem religiosa.
Os profissionais também apontaram a necessidade de desenvolver conscientização no
cliente/paciente sobre o uso que ele faz da sua religiosidade/espiritualidade, como uma
estratégia para trabalhar com questões ligadas a mesma. Nesta acepção, todos partem da ideia
de que a religião é neutra e que é o próprio indivíduo quem está ou não a utilizando de
maneira saudável. Com isso, tentam expor ao cliente/paciente como ele funciona com relação
a sua religiosidade/espiritualidade, aumentando seu autoconhecimento.
É eu levanto com o cliente, eu vou avaliar com o cliente o quanto ele tem
consciência de que está usando a religiosidade como uma, como um aspecto que não
ajuda na psicoterapia. É você tentar mostrar pra ele como é que ele funciona com
relação à religiosidade, aí, em alguns casos isso acontece, o cliente enxerga e pode-
se fazer escolhas...” (E10).
“... eu acho que pra usar, pra conversar sobre a religião ver o que, que
ele aprendeu, o que, que ele ta vendo onde que isso bate na sua vida, onde que isso
bate no nosso processo terapêutico né, eu acho que dá, pra usar tranquilamente”
(E4).
“... eu acho que vai entrando de um jeito como conforme a pessoa também
me traz os dados pra eu poder ir mostrando o que tem...” (E3).
Os depoimentos se mostraram em conformidade com o que Peres, et al (2007)
apontam como recomendação da APA, quanto a pesquisar o papel da religião e da
espiritualidade no sistema de crenças do cliente e abordar clinicamente essa questão. Da
mesma forma, Cambuy, et al (2006) sugerem que o psicólogo possa facilitar a emergência da
experiência religiosa em sua originalidade própria, levando o cliente a conectar consigo
89
mesmo. Já Amatuzzi (2008) e Campos (2008) vão mais além ao afirmar que o profissional
deve ajudar a pessoa a ver se sua religiosidade está favorecendo ou não o seu crescimento
pessoal e integração.
Houve também estratégias terapêuticas citadas por alguns entrevistados a respeito de
reforçar a busca religiosa, no sentido de fortalecer este aspecto de suas vidas. Desta forma,
quando o cliente/paciente se apresenta confuso em relação às suas crenças e práticas, ou
mesmo quando as abandona, o profissional pode mostrar a importância do bem-estar ligado
ao desenvolvimento saudável deste aspecto da existência humana, acolhendo-o e buscando
pontos positivos ligados ao mesmo. Entretanto, expressou-se ainda que o assunto parte do
cliente e que o profissional fala da relevância da religiosidade/espiritualidade trazida e
manifestada pelo mesmo, sem entrar em méritos de qual seria a crença mais adequada.
“... quando eles trazem alguma questão né, assim, de que está confuso, ou
abandonou, ou que ta procurando alguma coisa, né! Eu espero ele falar, daí eu falo
(...). Eu espero a pessoa abrir. Isso é um gancho, é mais uma bengala, é mais um
gancho, é sei lá mais um auxílio sabe...” (E3).
“É, eu não sei se eu incentivo na medida em que eu acolho e trabalho junto
alguns aspectos e compreendo, enfim é uma acolhida assim né, é..., não é uma
acolhida totalmente sem medida, mas ela é uma acolhida que busca os pontos mais
positivos de cada né, eu acho que a religiosidade, a espiritualidade vamos dizer
assim, ela é uma das coisas que da bastante sustentação quando ela não é
desvirtuada...” (E4).
Isso entra em concordância com as proposições de Amatuzzi (2008) sobre a
possibilidade de ajudar os clientes a “purificarem” suas experiências religiosas refletindo se
elas ocupam o lugar que são chamadas a ocupar. Assim, o profissional pode favorecer o
desenvolvimento da religiosidade/espiritualidade humana.
90
4.2 Utilizar a Religiosidade/Espiritualidade do Cliente como um Recurso Terapêutico
Esta subcategoria mostra a possibilidade de utilizar recursos terapêuticos ancorados
na religiosidade/espiritualidade dos clientes/pacientes. Quanto a isso, apareceu nos dados
coletados a utilização de metáforas religiosas da crença do cliente/paciente como uma saída
para algumas situações terapêuticas.
Assim, os entrevistados que se utilizaram deste expediente expuseram que as
metáforas devem ser relativas à religiosidade/espiritualidade do próprio cliente/paciente (não
do terapeuta/analista), e que devem estar conectadas com os significados atribuídos pelo
trabalho clínico às vivências do indivíduo. Desta maneira, tais parábolas se constituem em
recursos terapêuticos que acessam o cliente, sem ferir suas crenças e valores por se tratar de
uma visão diferenciada de algo por eles já conhecido e aceito.
“... utilizar um recurso que não fira, não chegue a ferir as crenças e valores
do cliente nessa dimensão (...). Eu acho que tem muito essa, essa perspectiva de você
poder facilitar, por exemplo, o próprio trabalho com metáforas...” (E1).
“Então eu me lembro de muitas parábolas, e a gente usa muita metáfora né,
principalmente nessa linha de terapia sistêmica. E aí, são coisas que eu sinto que
pra aproveitar, eu aproveito. Não é o tempo todo, são alguns momentos né...” (E6).
Este tipo de trabalho também é assinalado por Ancona-Lopez (1999) quando afirma
que inclusão da religiosidade do cliente nos trabalhos clínicos exige abertura para a metáfora
e para simbologias.
Outra possibilidade é circular por assuntos referentes à religiosidade/espiritualidade
do cliente, inclusive utilizando-se da interpretação da crença como recurso instrumental para
91
o trabalho com a subjetividade do cliente. Assim, os profissionais entram no assunto da
religiosidade/espiritualidade ampliando o conhecimento sobre a mesma e sobre o
cliente/paciente e devolvendo suas percepções a eles em forma de interpretações, conforme
expuseram os seguintes entrevistados:
“... o psicanalista tem que aproveitar isso e aproveitar é mostrar né, com
outras palavras, o que você ta tentando dizer...” (E2).
“Na verdade eu continuo entrando no assunto... vai entrando de um jeito
conforme a pessoa também me traz os dados pra eu poder mostrando o que tem
(E3).
Para Panzini & Bandeira (2007), questionar o paciente sobre suas crenças e a forma
como utiliza o enfrentamento religioso na solução dos seus problemas por si pode
configurar um modo de intervenção, pois que faz com que ele volte-se a esse tema no
enfrentamento da situação. Assim, pode-se entender a psicoterapia como um meio para a
escuta e resolução de conflitos capaz de incorporar a exploração do aspecto
espiritual/religioso, pois é essencial que o interesse pela vida espiritual e religiosa dos clientes
seja parte do processo (Lima, 2001; Panzini & Bandeira, 2007).
Neste caminho, pode-se utilizar aquilo que é dito pelo próprio cliente em seu discurso
religioso como ponto de apoio para intervenções terapêuticas. Isso acontece quando o clínico,
para fazer uma colocação necessária ao cliente/paciente, utiliza como argumentos e exemplos
situações ligadas à religiosidade/espiritualidade trazidas pelo indivíduo em questão, como se
pode observar, segundo os dados coletados abaixo:
“... eu às vezes vou investigando quando eu percebo que alguma coisa
que, que é forte na pessoa certo, mas utilizei bastante o aspecto religiosidade na
terapia... então tem muitas coisas assim que até o próprio cliente que traz, na
92
verdade é o cliente que te traz, mas eu aproveito, eu sou de uma linha mais assim
mais diretiva sabe, às vezes então, você acha umas intervenções assim (E6).
Quer dizer, de repente você utilizar-se de exemplos, ou de situações que
batam com a crença, com aquilo que é dito pelo próprio cliente, não com uma, uma
base vamos dizer assim, que você obtém de fora da religião, mas aquilo que é dito
por ele” (E1).
Isso também é assinalado por Bruscagin (2004) quando afirma que se deve
desenvolver uma abordagem colaborativa com o cliente, onde o psicólogo sai da posição de
“especialista” em direção a uma parceria com ele para que possa aprender sobre suas crenças,
familiarizando-se com a linguagem religiosa dos mesmos, para ser capaz de entrar na
conversa usando esta linguagem.
Um dos psicólogos vislumbrou a possibilidade de usar técnicas projetivas sobre a
religiosidade/espiritualidade dos clientes/pacientes. Assim, este tema seria porta de entrada
para o surgimento de substâncias passíveis de análise, como se explica melhor a seguir:
“... eu trabalho com o aqui e agora com o que a pessoa traz, os conteúdos que
realmente a pessoa traz, poderia de repente passar alguma técnica entrando por
esse, por esse tema, técnicas com adolescentes de colagens, argila, alguma coisa
assim que poderia, e com certeza iria surgir ai conteúdos né...” (E2).
Deste modo, torna-se evidente a afinidade desta proposta com a de Bruscagin (2004),
quando ela sugere que a relação Deus–cliente pode tornar-se base para intervenções
terapêuticas, de forma que suas práticas religiosas podem ser utilizadas como recursos no
trabalho clínico.
Usar as crenças religiosas/espirituais dos clientes/pacientes como ponto de apoio para
ampliar habilidades e aprendizagens surgiu no discurso de um dos profissionais como um
93
recurso terapêutico viável. Desta forma, parte-se de uma avaliação a respeito da
religiosidade/espiritualidade do cliente/paciente, para então se utilizar da mesma nas
aprendizagens ligadas ao desenvolvimento pessoal, tanto no que diz respeito à tomada de
consciência, quanto no que se refere a aprendizagens e mudanças vislumbradas dentro do
processo.
“Quando eu avalio qual é a religião, o padrão de religiosidade do cliente, eu
vou ficar atenta como que eu posso usar isso nas suas aprendizagens, nas
mudanças que ele precisa fazer, então de um modo geral eu estou atenta pra a
religiosidade do cliente pra poder incluí-la no seu processo de tomada consciência,
no seu processo de aprendizagem e mudança” (E10).
Assim, pode-se entender a psicoterapia como um meio para a escuta e resolução de
conflitos capaz de incorporar a exploração do aspecto espiritual/religioso, proporcionando
espaço também através dela para apoio, ressignificação e mudança (Lima, 2001; Bruscagin,
2004; Panzini & Bandeira, 2007).
Conforme proposto por alguns psicólogos, podem-se ainda utilizar trechos da Bíblia
da crença do cliente/paciente, para exemplificar diferentes ângulos de uma situação, ligados
às metas terapêuticas. Para isso, no entanto, frisaram que o cliente deve ser previamente
adepto de crenças que seguem a Bíblia, não sendo este um instrumento apresentado a ele pelo
terapeuta/analista, mas de conhecimento antecedente.
“... sabe eu sempre busco um apoio até dentro do conhecimento, de algum
conhecimento que eu tenho de trechos da Bíblia de alguma coisa eu busco, eu vou
indo é..., no sentido de mostrar que Deus está em todos nós e que cada um pode ser
tão importante instrumento de modificação, instrumento de ajuda né, então isso ajuda
bastante...” (E6).
94
Quanto a isso, Bruscagin (2004) já havia exposto a possibilidade de utilizar a
religiosidade/espiritualidade do próprio cliente como fonte de tarefas, rituais ou indicação de
leituras bíblicas e até orações aceitas em sua e que ao mesmo tempo façam sentido para o
profissional que o atende, tirando daí um respaldo para suas ações.
Em vista dos dados coletados, percebeu-se que existem não apenas estratégias
terapêuticas para lidar com a temática em questão, mas também a possibilidade de utilizar a
própria religiosidade/espiritualidade dos clientes/pacientes como recursos que visam atingir
objetivos terapêuticos ligados à promoção de saúde. Assim, isso se constitui em um
importante expediente passível de operar conscientizações e mudanças, uma vez que é algo
conhecido e aceito, não ferindo sistemas de crenças e valores pré-existentes.
Neste sentido, é importante mencionar que todos os profissionais entrevistados,
quando falaram destas possibilidades o fizeram focando a religiosidade/espiritualidade do
cliente/paciente, em nenhum momento misturando crenças do psicólogo nesta questão. Desta
forma, chegaram a explicitar cuidados éticos para que os profissionais da área não
influenciem no direito de escolha ou tempo de quem está recebendo seus cuidados.
95
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização desta pesquisa permitiu conhecer a riqueza dos dados coletados e sua
importância para a atuação do psicólogo. Talvez estes, por maiores esforços que sejam feitos,
ainda não estejam contemplados nas palavras escritas em sua totalidade. Mas o momento
pede que sejam feitas algumas considerações, assim, as colocações finais desta dissertação
retomam os objetivos da mesma, buscando caracterizar a influência da religiosidade dos
clientes no trabalho clínico, na perspectiva dos psicólogos.
Neste sentido, como primeira constatação, os dados em seu conjunto revelam a
presença da religiosidade/espiritualidade dos clientes/pacientes na clínica como uma questão
cotidiana do exercício profissional. Estes dois âmbitos da experiência humana
(religiosidade/espiritualidade) apareceram aliados nas concepções dos entrevistados, onde
embora exista uma diferença na conceituação teórica
4
, na prática estão estreitamente inter-
relacionados e interferem da mesma maneira nos processos de intervenção psicológica,
segundo os dados coletados.
Assim, não obstante às informações escassas ou imprecisas obtidas durante a
formação acadêmica, estes profissionais, com a prática clínica, foram construindo percepções
e formas de abordar o assunto, muito parecidas. Com tal verificação, outra questão que
chama a atenção é que, embora a escolha de sujeitos com linhas diferentes de atuação tenha
sido feita para enriquecer a pesquisa com compreensões variadas, estes não entraram em
contradições, evidenciando uma congruência de concepções mesmo em diferentes correntes
teóricas.
4
Lembrando que a espiritualidade está relacionada a vivências mais intrínsecas ao indivíduo, como crenças
pessoais, reflexões e preces; a religiosidade está associada a vivências extrínsecas, como filiação ou
participação de agrupamentos religiosos com práticas públicas compartilhadas com os demais fiéis.
96
Foi possível perceber que os entrevistados de forma geral retratam a
religiosidade/espiritualidade como um aspecto próprio de cada indivíduo, que reflete suas
crenças e valores, direcionando a maneira de pensar e de se comportar. Por este motivo, a
investigação deste setor da vida dos clientes/pacientes foi assinalada como necessária de ser
efetuada dentro de um trabalho clínico, uma vez que auxilia na contextualização do estilo de
vida e na avaliação da constituição psíquica dos mesmos.
Outro ponto marcante foi à compreensão dos valores morais atrelados ao universo
religioso como facilitadores dos relacionamentos interpessoais, por passarem ideias de
respeito ao outro, empatia, aceitação e perdão. Nesta acepção, foram incluídas as relações
terapeuta–cliente, pais–filhos e familiares. No que diz respeito às duas últimas, a ênfase à
união dentro do ambiente doméstico foi considerada como algo que ajuda a manter tais
relações. quanto à criação dos filhos, foi possível constatar que a
religiosidade/espiritualidade auxilia no acesso a parâmetros de comportamento que
promovem alguns dos limites necessários a educação dos mesmos.
Quanto à relação terapeuta–cliente (ou analista–paciente), o auxílio vindo da
religiosidade/espiritualidade se em duplo sentido. Do cliente para o terapeuta, existe uma
facilidade maior em acreditar no processo e vincular com o profissional quando o primeiro
possui fé. Do terapeuta para o cliente há mais disposição para aceitar a importância de
questões religiosas (seja da religião que for) na vida das pessoas, bem como uma
predisposição a querer ajudar o outro, empatizando e vinculando com ele, algo vital para a
profissão em questão.
Como se sabe, foi de consenso geral que a forma como a religiosidade/espiritualidade
é vivenciada depende do desenvolvimento psicológico do sujeito em termos da
personalidade, padrão de funcionamento ou dinamismos psíquicos que apresente. Esta é uma
constatação muito importante, pois remete a religião a um posicionamento neutro, mostrando
97
que a responsabilidade é do indivíduo em fazer bom uso dela, no sentido de abster-se de
utilizar os preceitos como álibis ou mecanismos de defesa que sustentam sintomas e
disfunções, usando-a como apoio para o enfrentamento e a resolução de problemas e fases
difíceis da vida.
Com isso, percebeu-se também um consenso no que se refere à possibilidade de
encontrar o tema ligado tanto a aspectos facilitadores do processo terapêutico/analítico,
quanto a aspectos que o dificultam.
Dentre as questões ligadas ao tema que auxiliam a promoção de saúde, a que se realça
é a ajuda obtida para a superação de crises e lutos, vista como o principal benefício da prática
religiosa, uma vez que sobre isso houve os maiores destaques e concordâncias. É possível
observar ainda consensos sobre como os parâmetros de comportamento vindos de valores
morais atrelados ao universo religioso são considerados pelos psicólogos como influências
positivas na resolução de problemas cotidianos.
Entretanto, também foi de consonância entre os profissionais a possibilidade da
religiosidade/espiritualidade ser utilizada pela pessoa como algo que dificulta a promoção de
saúde, principalmente quando a mesma é usada como um mecanismo de defesa para manter
sintomas individuais, ou para cultivar culpas indesejáveis e desnecessárias, aprisionando-os
com o emprego de discursos sobre o pecado.
Em presença do exposto, fica claro o papel do psicólogo no que diz respeito a avaliar
a utilização que está sendo feita deste âmbito da vida do sujeito e auxiliá-lo no
restabelecimento da saúde e qualidade de vida. Assim, percebeu-se que existem não apenas
estratégias terapêuticas para lidar com a temática em questão, mas também a possibilidade de
utilizar a própria religiosidade/espiritualidade dos clientes/pacientes como recursos que visam
atingir objetivos terapêuticos ligados a promoção de saúde.
98
Quanto às estratégias para lidar com a presença de religiosidade/espiritualidade no
ambiente terapêutico, destaca-se a neutralidade do profissional ao respeitar as escolhas de
quem o procura, sem influenciá-lo nisso. Ao mesmo tempo, apareceu a necessidade de buscar
uma conscientização junto aos clientes/pacientes do uso que eles fazem disso em suas vidas,
flexibilizando as compreensões daqueles para os quais a crença religiosa/espiritual se
constitui em um empecilho para o desenvolvimento pessoal.
Como este ângulo da existência humana se constitui em um importante recurso
passível de operar conscientizações e mudanças, uma vez que é algo conhecido e aceito, pode
ser usado como um expediente para atingir objetivos terapêuticos pré-estabelecidos, não
ferindo sistemas de crenças e valores anteriormente existentes. Os profissionais que o fazem
vão em busca de preceitos religiosos apresentados pelos clientes/pacientes para fundamentar
suas propostas terapêuticas, dando exemplos ou relevâncias para as questões que estiverem
sendo trabalhadas.
Desta forma, a utilização de metáforas e parábolas das crenças religiosas/espirituais
dos clientes pode ser feita para se trabalhar com significados importantes no momento de
vida da pessoa. Na sessão, ainda se pode fazer alusão a trechos bíblicos buscando
fundamentar argumentações do profissional com palavras e simbologias conhecidas e aceitas
por quem está sendo atendido, desde que o livro faça parte do dogma adotado pelo
cliente/paciente.
Outro recurso trazido pelos profissionais foi a possibilidade de circular por assuntos
ligados à religiosidade/espiritualidade do cliente/paciente, aprofundando seu
autoconhecimento ao compreender o uso que ele faz da mesma, inclusive quanto à
possibilidade de com isso surgirem ideias sobre utilizar-se dela na solução de seus problemas.
Desse modo, fica explícita a opção de empregar aquilo que é dito pelo próprio
cliente/paciente em seu discurso religioso como ponto de partida para intervenções
99
terapêuticas, utilizando as crenças deles como apoio para ampliar habilidades e aprendizagens
ligadas às metas estabelecidas para o processo.
Neste sentido, é importante mencionar que todos os profissionais entrevistados,
quando falaram destas possibilidades o fizeram focando a religiosidade/espiritualidade do
cliente/paciente, em nenhum momento misturando crenças do psicólogo nesta questão. Desta
forma, chegaram a explicitar cuidados éticos para que os profissionais da área não
influenciem no direito de escolha daquele que esrecebendo seus cuidados, nem misturem
seus próprios conhecimentos profissionais com questões religiosas pessoais.
Ante o que foi revelado, pode-se também vislumbrar concretamente o caminho que a
temática da religiosidade seguiu na Psicologia, pois os profissionais tinham em seus cursos de
formação discussões tímidas sobre o tema em virtude do mal estar gerado pelo conflito
existente entre ciência e religião. Já no momento atual, apresentam-se com concepções
formadas, ancoradas em suas práticas clínicas e aparadas por preceitos éticos.
Para concluir este estudo, é possível relembrar que nele se destacou a constatação de
que as religiões são vistas como objetos neutros utilizados pelos seres humanos, esses sim,
agentes ativos. Com isso, depende do próprio indivíduo em sua constituição e
desenvolvimento psicológico estar apto a usá-la como uma rede de apoio em sua vida, ou
como algo que contribui para seus sintomas e disfunções.
Neste percurso surge o psicólogo como um agente de mudanças em sua função de
promover a saúde. Cabe ao profissional, não apenas investigar este âmbito da experiência
humana, como trabalhar para melhorar a saúde e a qualidade de vida a ele ligada, dentro do
suporte teórico e técnico que lhe fornece a profissão. Assim, mesmo quando está associada à
patologia existem estratégias que estão sendo utilizadas pelos profissionais para otimizar o
uso que os clientes/pacientes fazem de suas crenças religiosas/espirituais. Além disso,
verificou-se que a religiosidade/espiritualidade dos clientes/pacientes pode e está sendo
100
seguramente aproveitada por psicoterapeutas e analistas como mais um recurso para os
trabalhos de Psicologia Clínica.
Finalizando, expõem-se as metáforas que foram transversais ao discurso dos
entrevistados, explicitando a utilização da religiosidade/espiritualidade como um aporte no
campo da intervenção psicológica:
“... é mais uma bengala, é mais um gancho, é sei lá, mais um auxílio sabe...”
(E3)
“... é uma âncora...” (E5)
101
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9
115
ANEXO
116
Anexo 1.
Universidade Federal de Santa Catarina
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Mestrado em Psicologia
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Vimos através deste convidá-lo (a) a participar da pesquisa intitulada “A influência da
religiosidade dos clientes no trabalho clínico, na perspectiva dos Psicólogos”, realizada pela
mestranda Martha Caroline Henning e pela orientadora Profª Dra. Carmen L. Ojeda Ocampo
Moré, do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC). Esta pesquisa tem como objetivo caracterizar a influência da religiosidade
dos clientes no trabalho clínico, na perspectiva dos Psicólogos. Os dados obtidos com esta
pesquisa serão relevantes, pois contribuirão para a utilização desses conhecimentos como
fonte de informação e reflexão para o trabalho clínico, tanto na formação, quanto na atuação
do Psicólogo. Acredita-se ainda, que ao gerar bases de dados científicas, contribuir-se-á para
a ressignificação da temática da religiosidade na perspectiva do reconhecimento da mesma
como um instrumento possível de promoção de saúde.
A entrevista será gravada em áudio, sendo que seu nome, ou qualquer dado que possa
identificá-lo (a), não será usado. A sua participação é absolutamente voluntária. Caso se
recuse a participar, isto não trará qualquer penalidade ou prejuízo para você. Mantém-se o
direito de desistir da participação a qualquer momento.
Após ler este Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e aceitar participar da
pesquisa, solicitamos a sua assinatura em duas vias, sendo que uma delas permanecerá em
seu poder.
Qualquer informação adicional ou esclarecimento acerca desta pesquisa poderá ser
obtido junto às pesquisadoras pelo telefone (48)3721-8579, do Laboratório de Psicologia da
Saúde da Família e Comunidade da UFSC, ou pelo telefone (47)3643-7522.
117
Eu, __________________________________________________________, abaixo
assinado, declaro por meio deste documento, meu consentimento e em participar da pesquisa
“A influência da religiosidade dos clientes no trabalho clínico, na perspectiva dos
Psicólogos”. Declaro ainda que estou ciente dos objetivos da mesma, consentindo que a
entrevista gravada em áudio seja realizada e utilizada para a coleta de dados, bem como de
meus direitos de anonimato e de desistir a qualquer momento.
Florianópolis, _____ de _____________________ de 2008.
______________________________________
Assinatura
118
10 APÊNDICE
119
Apêndice 1.
ENTREVISTA SEMI – ESTRUTURADA
1. Ano de Graduação:
2. Tempo de Prática em Psicologia Clínica:
3. Local da Prática em Psicologia Clínica:
4. Possui curso de formação em alguma abordagem específica da psicologia clínica?
Qual? Concluído há quanto tempo?
5. Além dessa abordagem, que outros cursos você realizou em termos de formação
complementar para auxiliar a sua prática clínica?
6. Você pergunta para os clientes se eles têm alguma religião? Quando?
7. Você atendeu ou atende clientes que falam de suas crenças religiosas no contexto
terapêutico?
8. Se a resposta for afirmativa, quantos?
9. De quais religiões eles eram?
10. Como você percebe a relação entre a religiosidade do cliente e a psicoterapia?
11. A religiosidade de algum cliente seu influenciou o processo de psicoterapia (no
sentido de facilitar ou dificultar o tratamento proposto)?
12. Na sua prática clínica, é mais comum que a religião/religiosidade do cliente facilite o
processo terapêutico, dificulte, ou nem interfira no mesmo?
13. Em sua opinião profissional, quando a religião/religiosidade do cliente auxilia o
processo terapêutico? Em que momento isso se torna mais evidente?
14. Em sua opinião profissional, quando a religião/religiosidade do cliente dificulta o
processo terapêutico? Em que momento isso se torna mais evidente?
120
15. O que você faz quando observa que a religião/religiosidade do cliente está
dificultando o processo terapêutico?
16. O que você faz quando observa que a religião/religiosidade do cliente está facilitando
o processo na psicoterapia?
17. Na tua prática clínica, você percebe uma co-relação entre a personalidade dos clientes
e a escolha da religião que eles praticam?
18. Você tem alguma religião ou filosofia espiritual? Qual é?
19. Você percebe no exercício profissional a relação entre os valores da tua religião e a
tua prática clínica?
20. Você acredita que a forma de você avaliar as situações que envolvem a religiosidade
do cliente tem influência da religião que você adota? Explique.
21. Este tema foi debatido na sua formação profissional?
22. Você considera pertinente incluir esta questão na formação acadêmica dos
profissionais da psicologia?
23. Seria possível pensar em estratégias terapêuticas que se ancorem nas crenças
religiosas do cliente (paciente) como elementos que possam promover o desenvolvimento do
processo terapêutico?
24. Sobre este assunto que nós conversamos, tem ainda alguma coisa que você deseja
falar ou explicar?
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