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modelo de masculinidade hegemônica-homofóbica
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, predominante na população que
atendemos na Pró-Mulher, não se restringe ao imaginário da população masculina, sendo
parte constitutiva também da população feminina. Marcadamente idealizado, torna-se, por
esta característica, impossível de ser atingido, exercendo, contudo, poder controlador sobre
homens e mulheres.
Uma definição de masculinidade hegemônica citada por Kimmel (1994), baseada no
sociólogo americano Erving Goffman, nos dá a dimensão não só do que se entende por
diferentes masculinidades, já que sua definição, uma vez que inclui uma série de prescrições
das quais os homens de nossa amostra estão excluídos, já os coloca, em relação àqueles, em
outra masculinidade. Esta, como se vê a seguir é uma definição bastante restritiva quanto às
possibilidades facultadas ao universo masculino daquilo que seria o desejável. São elas: ser
jovem, casado, branco, urbano, heterossexual, de classe dominante, com nível universitário,
de bom aspecto, peso e altura, com emprego de período integral e, ainda, um homem no
poder, com poder e de poder. A masculinidade hegemônica prescreve também aspectos tais
como: ser “forte, bem-sucedido, capaz, confiável e aparentar autocontrole. As próprias
definições de virilidade que desenvolvemos em nossa cultura, diz Kimmel, perpetuam o
poder que uns homens têm sobre outros e que os homens têm sobre as mulheres” (idem,
p.50-51). Evidencia-se, aqui, a impossibilidade de se caracterizarem todos os homens de
forma genérica, sem se considerarem as inúmeras variáveis e suas distintas inserções sociais,
culturais, raciais, étnicas, de escolaridade, de preferência sexual, o que implica uma vasta
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O padrão de masculinidade denominada hegemônica baseia-se fundamentalmente no modelo patriarcal. Tem
como valores: o poder do homem sobre a mulher e crianças e a complementar submissão da mulher a ele,
atribuindo lugares de superioridade e inferioridade a uns e outros. Associa virilidade e masculinidade à força
física, prontidão sexual, coragem. Este homem é ainda provedor e emocionalmente forte, uma vez que
fragilidade é algo associado ao universo feminino. Sendo assim, é necessário afastar-se de qualquer atributo
vinculado ao mundo das mulheres, o que os leva a um comportamento homofóbico. O risco de uma aproximação
de cunho mais afetivo com um outro homem pode levá-lo a ser mal-interpretado como alguém com pendores
homossexuais. Ele é regido por rígidos padrões quanto ao comportamento sexual, em que é imposta uma
atividade intensa do homem e um recato e timidez da mulher. Ao homem está reservada a esfera do mundo da
rua, do público, e à mulher, o mundo da casa, doméstico, privado. Desta forma, exige-se que o homem tenha
emprego (implicando, assim, entradas financeiras suficientes para o provimento da família) e que a mulher cuide
da casa, dos filhos, do marido.