
Assim como a tiragem, a distribuição do impresso foi outra questão que não se
pôde precisar, apenas acredita-se que para que essa fosse efetivada, teriam variado, ao
longo dos tempos, as formas de cobrança. Nesse sentido, relatos orais das ex-alunas
jacobinenses, já referidas, conduziram a diferentes versões relacionadas à aquisição do
Traço de União. Algumas disseram que o valor da assinatura era descontado na
mensalidade do colégio e vendido para as ex-alunas. Outras, contrariamente,
defenderam que nunca foi cobrado valor algum para que as alunas obtivessem os
exemplares. Marietta Luiza Lacombe
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, responsável pelo periódico durante vinte e três
anos, na última conversa telefônica que tivemos, afirmou que a revista era distribuída
gratuitamente entre as alunas, sendo somente cobrado um valor a pessoas externas à
instituição que viessem a se interessar pela publicação. O dinheiro arrecadado com a
venda ia para a CELPI que assistia a população carente. Disso tudo, a única coisa que se
pôde perceber com maior clareza foi que junto ao expediente apareciam valores em
cruzeiros para aquisição de um exemplar do periódico ou para sua assinatura anual.
Pode-se dizer, assim, que todas as dificuldades encontradas para obtenção de
outras fontes para essa pesquisa acabaram aguçando ainda mais o desejo de penetrar
nesse mundo, predominantemente traçado por mulheres.
Pautei-me nos estudos de historiadores da área de educação que atualmente têm partilhado da análise de novas fontes, buscando
perceber as representações sociais apreendidas pelo discurso dentro de uma dada instituição e/ou grupo, e as diferentes
apropriações que os sujeitos fazem a partir desse discurso. Trata-se, portanto, de buscar compreender as práticas, os valores, as
normas de conduta que se tecem no cotidiano dos diferentes agentes escolares e deixam seus rastros em documentos
institucionais como, por exemplo, os periódicos, fornecendo inúmeras possibilidades de leitura das dimensões da vida escolar
principalmente no que consiste ao universo feminino.
No conjunto dos estudos sobre imprensa pedagógica, os estudos sobre imprensa periódica escolar, como os de Sousa (1997),
Santos (2004) e Cunha (2002) apontam para fato de que outros jornais de instituições educacionais católicas existiam há tempos
com a finalidade de veicular determinados discursos. Publicações como Auxílium, do colégio paulista Santa Inês; Patrocínio,
órgão das alunas do Colégio Nossa Senhora do Patrocínio de Itu; e Pétalas, revista escolar da instituição catarinense Coração de
Jesus surgiram nas décadas de 20 e 30 do século XX, com o intuito de veicular valores durante o processo de formação das
educandas. Tais periódicos, como acontecia com o Traço de União, foram guiados principalmente por preceitos católicos.
O estudo de Sousa (op. cit.), defende que a partir da imprensa periódica educacional e do ensino é possível fazer o mapeamento
da cultura escolar brasileira
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. Analisando os textos da Revista Auxilium, publicada por 30 anos, desde junho de 1930, em uma
instituição católica de ensino, essa autora se propõe a compreender a formação/educação, intra e extramuros escolares, dada às
alunas e destacar as práticas, prescrições e representações de leitura.
A análise de o Patrocínio, objeto de estudo de Santos (op. cit.), permitiu
compreender o ciclo de vida do periódico, a relação deste com sua instituição
fundadora e as representações e práticas que emergem do cotidiano escolar em
textos e imagens nele publicadas. Procurando entender como as permanências e
mudanças se expressam pelos discursos, a autora conclui que na primeira fase
da revista esses discursos acabavam girando em torno do sagrado, enquanto
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Marietta Luiza Lacombe, apesar de mostrar grande cordialidade, já se encontrava com a saúde bastante
debilitada no período que teve início esse estudo. Muito poucas foram as oportunidades de um diálogo
mais extenso e frutífero para a aquisição de dados que viessem a contribuir para essa pesquisa. Ao falecer
no fim de 2004, a educadora que era, até então, a última Responsável pelo periódico que ainda
permanecia viva, deixou uma lacuna no que consiste ao entendimento mais aprofundado de algumas
questões relativas à edição e ao funcionamento do Traço de União.
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Sousa, 1997, p. 93.