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As pessoas não levam a legendagem a sério, é um mercado ainda muito amador.
Como o nível da tradução para legendas no Brasil é baixo — já melhorou muito,
principalmente na parte técnica, mas ainda é baixo —, qualquer pessoa que saiba
um pouquinho mais de inglês pega erros de tradução [nas legendas]. Então, essa
pessoa, que fez dois anos de curso de inglês, acha que pode fazer melhor e se
inscreve num curso de legendagem. A gente sabe que esses cursos tratam da parte
técnica, ensinam a mexer nos softwares e ensinam a timear. A qualidade da
tradução como um todo não é avaliada. Então, essas pessoas chegam ao mercado
dizendo que sabem legendar, e até sabem, mas não sabem traduzir. Muitas vezes
não sabem nem português. Aliás, o nível geral de português é baixíssimo,
baixíssimo mesmo. É um problema até maior do que encontrar quem saiba
traduzir [...]. Também é muito comum recebermos currículos de pessoas que
querem trabalhar nas horas vagas para complementar o orçamento, porque têm as
tardes livres ou algo assim. São geralmente professores de inglês também sem
nenhuma experiência em tradução. É raro uma pessoa com esse perfil conseguir
trabalhar com legendagem, porque os nossos prazos são sempre curtos, e
precisamos de pessoas dedicadas e ágeis, que consigam trabalhar sob pressão,
com prazos apertados. Temos aqui vários casos de tradutores bons que desistiram
da legendagem porque não conseguiram se acostumar com os prazos.
De fato, na época do advento da TV por assinatura, em que a demanda por
legendadores aumentou muito, os cargos eram preenchidos por indicação, como
vimos na Introdução deste trabalho, e um curso superior de Letras, Tradução,
Comunicação ou áreas afins não era exigido dos candidatos. Hoje em dia, a
formação acadêmica, apesar de preferencial, continua não sendo uma exigência
das produtoras que contratam os serviços de legendadores. Sendo assim, pessoas
das mais diversas formações, de arquitetos a psicólogos, se aventuram no mundo
da legendagem sem ter nenhuma base teórica ou experiência em tradução e,
muitas vezes, com um conhecimento bastante deficitário do português. Nos cursos
de treinamento disponíveis, ter experiência tradutória comprovada não é uma
exigência, nem mesmo nos módulos de legendagem incluídos em programas de
pós-graduação lato sensu, pois pressupõe-se que os candidatos dominem as duas
línguas envolvidas na tradução e saibam identificar as diferenças entre os registros
oral e escrito, o que nem sempre acontece. O Professor A mencionou em sua
entrevista uma dificuldade que enfrenta devido à falta de experiência tradutória de
alguns de seus alunos.
A minha principal dificuldade é que eu acho que a pessoa tem que ter uma boa
dose de autonomia em tradução para depois fazer legendagem, e muitas vezes não
é o caso. Tem aluno que tem dúvidas básicas de tradução [...], mas isso acaba
tendo que ser contornado. [...] Quem não tem experiência não consegue, ao longo
das vinte ou quarenta horas, desenvolver muito a legendagem por problemas de
tradução. Tem gente que, no final, faz cinco minutos, legenda e sincroniza, mas a
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