inocência, a liberdade das coisas e da arte de bem usar delas, a superioridade do
espírito, a paz, numa palavra: o Evangelho.
São, portanto, essenciais, ao nosso universo, a verticalidade, isto é, a orientação de todo
o nosso ser para Deus e a horizontalidade, isto é, a vida fraterna plena, uma vida em
comunidade, a chamada vida cenobítica.
Essa nossa vida cenobítica reproduz, de certo modo, a vida familiar: os seus membros
mantêm entre si, laços de uma verdadeira fraternidade e todos se relacionam
verticalmente, num relacionamento filial, com um de seus membros, chamado a ocupar o
lugar de “mãe”, isto é, de foco de amor, de centro de coordenação dos esforços comuns,
de fonte de estímulo e de elemento de direção e autoridade.
São Bento, que programou o gênero de vida de família monástica, estabeleceu dois pólos
em torno do qual gravita a “ação”, a atividade dessa sociedade humano-sobrenatural: a
oração e o trabalho – Ora et Labora.
A igreja abacial é, por isso, o coração do mosteiro. A comunidade ai realiza a sua
função, específica, diante de Deus e dos homens: a da oração. Sua oração brota do
silencio vivificado pelo contato com Deus. Seus gestos brotam de sua interioridade. E o
povo presente na igreja durante as celebrações deverá ser “sensibilizado” para a oração,
para o encontro com Deus, por essa nota pacificante, de interioridade, de comunidade
que reza, como também (e isto cabe ao arquiteto!) pela “interioridade” do espaço
sagrado que o abriga. Simplicidade, harmonia, luminosidade difusa (não ofuscante),
despojamento, recolhimento, em suma: beleza, que é “esplendor da ordem”, deve
impregnar a arquitetura desse lugar sagrado.
Brotando dessa visão sobrenatural, o trabalho manual das monjas enxerta-se na obra
redentora do Cristo e os trabalhos confeccionados no mosteiro, por meio dos quais as
monjas ganham a sua subsistência, são sempre marcados por um toque de “beleza”, de
“acabamento”, de perfeição, sempre desejosos de sugerir uma beleza que transcende, e
que procuram refletir. Através desses trabalhos, intelectuais ou de artesanato, as monjas
deixam transbordar sobre a sociedade dos homens a Beleza que as fascina, a harmonia
de sua vida e a paz que procuram construir.
Além desses trabalhos, as monjas entregam-se também aos mesmos ofícios comuns das
pessoas do mundo, na sua faina diária: cuidam da casa, lavam, costuram, cozinham,
entregam-se à jardinagem, etc... Seu trabalho, porém, tem sempre uma dimensão de
amor que o eleva à “lei fundamental da perfeição humana, portanto, da transformação
do mundo”. Pois como diz ainda o Concílio, “aos que acreditam na caridade, Cristo (...)
admoesta que esta caridade deve ser exercida não só nas ações retumbantes, mas em
especial nas circunstancias ordinárias da vida”.
Entre todas as atividades assumidas pelo mosteiro, há uma que o tem sido, de modo
quase ininterrupto por nossa Ordem, no correr dos séculos, a hospitalidade. Paulo VI
exorta-nos a exercer essa hospitalidade beneditina em nossas hospedarias, que “nós”,
diz ele, “tanto apreciamos como centros incomparáveis de irradiação”. E ainda “Hoje
não é a carência do convívio social que impele o homem ao mosteiro, mas a exuberância.
A excitação, o ambiente tumultuoso e febricitante, a exterioridade, a multidão ameaçam
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