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que o paciente “quis esquecer, que recalcou intencionalmente de seu
pensamento consciente, inibiu e reprimiu” (1895/1993: 89). Atentemos
para “quis esquecer” e para “intencionalmente”, que indicam um
esquecimento intencional, o que muda radicalmente a visão que se tinha
dos pacientes, que apenas sofriam, padeciam, de seus sintomas, sendo,
portanto, passivos. Havendo uma intencionalidade, há uma escolha do
paciente, consciente ou inconsciente, frente ao que sofre.
Para recalcar um pensamento consciente, em Freud, tem que haver
uma divisão da consciência anterior, uma vez que o esquecido vai para
outro lugar, onde não incomode mais.
A divisão da consciência, nestes casos da histeria adquirida,
é, com isso, querida, intencionalmente, ao menos através
da introdução de um ato volitivo. No fundo acontece outra
coisa, quando o indivíduo tenciona, gostaria de suprimir
uma representação, como se ela nunca tivesse chegado, e o
que bem sucede para ele é isolá-la psiquicamente (1895/
1993: 182) (itálicos meus)
Ao suprimirmos uma representação, retiramos esta da cadeia de
pensamento consciente, e por este ato de volição há a divisão da
consciência. Esta hipótese de que há uma vontade do paciente, ou seja, uma
intencionalidade, um esquecimento voluntário, nunca foi abandonada pelo
psicanalista. Em “Hysterische Phantasien und ihre Beziehung zur Bissexualität”
(“Fantasias Histéricas e sua Relação com a Bissexualidade”) (1908), salienta:
As fantasias inconscientes ou eram inconscientes, foram
formadas no inconsciente, ou, o que é o caso mais
freqüente, foram uma vez fantasias conscientes, sonhos
diurnos e então esquecidos intencionalmente, mandados
pelo recalque ao inconsciente (1908/ 1982:190).
Em “Drei Abhandlungen zur Sexualtheorie” (“Três Ensaios sobre a
Teoria da Sexualidade”) (1905), Freud define o recalque como “um
processo psíquico em que a entrada para a experiência através da atividade