
Tenho convivido há anos com diversas pessoas em situação de rua, nos
viadutos, nas praças, nos albergues, nos bares, nas cooperativas, nos Fóruns, nas
manifestações, etc. Mais aprendi do que ensinei, mais ignorei do que soube. Este meu
trabalho vai pra eles, se é que isso tem algum valor para a maioria deles.
Aprendi que a verdadeira orientação, paradoxalmente, desorienta, confunde,
contradiz, inquieta, emociona. Lá onde os caminhos tradicionais se desconstróem,
onde os títulos acadêmicos são colocados ao lado dos vasos sanitários (talvez aí
tenham alguma serventia!), onde a fria coerência racional não toma tento, é que se
envereda pelos (des)caminhos da produção dos (des)conhecimentos. É nesse hiato
que imperam os afetos, as revoltas, as amizades, as loucuras e o respeito. Aí há o ser
humano, demasiado humano, como aquele com quem compartilhei todo este trabalho,
e ele é nosso. À Ricardo Franklin Ferreira.
Conviver com um mestrando é um saco. Minha mãe se queixa que só fico no
computador e não dou mais atenção pra nada; meus amigos falam que só estudo e,
quando não, só falo nos estudos e, quando não, fico chato. Que possa compartilhar as
emoções não compartilhadas, tomar todas cervejas não tomadas, trocar todas idéias
não trocadas. Isso pra não falar das noites não dormidas, viagens não viajadas, férias
não gozadas. Acho que pra mim também foi um saco.
Nos momentos difíceis de sofrimento se conhece os verdadeiros amigos - é um
ditado velho, mas funciona. Descobri alguns irmãos: Reinaldo, Fê, Mingute, Bob,
Glorinha, Franklin, Marisa Fortes, meu velho pai.... Citar os nomes é sempre errado,
uma injustiça: algumas pessoas acabam ficando enciumadas e a gente sempre esquece
de alguém.
Mas, incorrerei no erro de novo. Poucos doutores conseguem descer do
pedestal, aqueles que conseguem merecem ser reverenciados. Este trabalho é também
dedicado a algumas pessoas: Heloani, Ciampa, Ari, Marisa Irene, Adriana.
Especialmente à Carmem - sempre me arrepio quando falo que é a maior psicóloga
social que conheci.
Não sei se era bem essa a ordem, mas queria agradecer muito a todas as
pessoas do Fórum de Debates sobre a População em Situação de Rua. Especialmente
à Cleisinha, grande lutadora.
Ah... me arrependo sempre de usar alguns espaços científicos para dedicações
de amor. Mas sou teimoso, não resisto. Houve uma mulher especial que mudou minha
vida... na verdade acho que só agora estou realmente vivo: choro, sinto, sou mais
visceral...é melhor parar por aqui. Sabem aquele Lobo da Estepe? Acho que foi isso
que ela despertou em mim. Ju, sei que vai ficar meio p... da vida quando ler, mas eu
ficaria muito mais p... se não escrevesse.
Tá ficando muito longo...
Quase me esqueci. Adoro ver em minha banca examinadora pessoas que
sempre respeitei lendo os seus livros. É uma sensação de estranhamento... acho que a
gente nunca imagina que conversaria tão francamente com pessoas que respeitávamos
demais a partir dos textos. José Justo e Ana Cristina Nasser contribuíram muito com
este trabalho. Não é puxasaquismo... saibam que a pesquisa foi outra depois da
qualificação.
À FAPESP, pelo apoio e financiamento.
Queria também desabafar. Aos pesquisadores mais convencionais que
reprovam essa forma de me colocar. Relevem, são os agradecimentos... uma espaço
mais informal, etc. Algumas coisas não se aprendem nos manuais. Poderia dizer que
não é nada pessoal, mas estaria mentindo.
Tenho certeza que esqueci de alguém. Deveria ter anotado metodicamente
durante a pesquisa. Estou sempre me culpando... dizendo o que deveria ter feito. Mas