
Uma das ancoragens principais do trabalho do Rio Aberto se dá através da
consideração do aspecto sutil e energético
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que compõem nossos corpos e territórios
existenciais. Esta força (energia, élan) presente na matéria dos encontros corporais é, segundo
esta perspectiva, aquilo que os anima frente a certos mundos ou objetos. Assim, cada
encontros, por exemplo, move nosso corpo de uma maneira específica. Sabemos que uma
mesa não é uma cadeira não só porque temos delas definições diferentes, mas também porque
nosso corpo não é o mesmo diante de um e de outro. Desse modo, se o corpo senta é porque
aquilo virou cadeira para ele. Se o corpo apóia um prato, então, aquilo se tornou mesa. Ora,
isto pode ser entendido pelo que Varela chamou de microidentidades e micromundos. E,
portanto, é também uma espécie de cognição (consciência). A partir de uma abordagem no
plano energético não há julgamento possível, só relação. O Rio Aberto trabalha considerando
distintos centros corporais, que são centro cognitivos do próprio corpo
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. Eles estão
relacionados aos diversos mundos, objetos, situações, qualidades, etc., que estamos
envolvidos.
Ao lidar com o corpo, estamos procurando abordá-lo positivamente através dos seus
diferentes centros, conhecidos na tradição oriental por Chakras
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. Estes centros são chamados
também de corpos inteligentes. Parece-me que o termo inteligência, neste texto, deve ser
entendido como ter ciência, pois não se trata de resolver nenhum problema e sim de conectar
e reverberar segundo a textura das circunstâncias. Eles relacionam-se entre si e com o mundo.
Com a prática, buscamos o alinhamento dos centros conscientes para que eles possam atuar de
forma livre e integrada com as forças que os movem a cada momento, sem antecipar ações
futuras nem permanecer nos momentos passados. O trabalho com os centros energéticos
permite mobilizar o corpo atuando sobre as fixações egóicas que usualmente nos aprisionam
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Também chamado prana na tradição da Índia. Segundo Antonio Blay (1961), a força prânica é a energia
fluídica, vital do universo. Prana é a versão indiana para Chi (na China).
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Esta perspectiva faz ressonância com o caráter transdisciplinar do Rio Aberto apontado no capítulo um. Como
foi dito, este trabalho tem origens yoguis, em uma prática que, com Susana Milderman, tinha o nome de
Ginástica Rítmica Expressiva Yogui.
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O termo Chakra provém das práticas e da ciência milenar indiana, em sânscrito significa ‘roda’. “As doutrinas
do Yoga estabelecem exercícios para mobilizar, não diretamente as glândulas do corpo, mas, os centros de
energia fluídica, de prana, que segundo dizem, são os verdadeiros elementos ativos, os centros criadores e
sustentadores das repetidas glândulas. O sistema endócrino seria, portanto, o resultado, a manifestação física do
sistema de centros prânicos”
(BLAY, 1961: 46). Os principais centro conscientes (com seus nomes e suas
respectivas glândulas endócrinas, para situá-los fisicamente para o leitor) são:
1. Centro baixo (Muladhara – glândula suprarenal);
2. Centro motor ou sexual (Svadhistana – glândula sexual);
3. Centro vegetativo (Manipura – glândula pâncreas, plexo solar, nervoso, epigástrico);
4. Centro cardíaco (Anahata – glândula Timo);
5. Centro laríngeo (Vishuddha – glândula tireóide);
6. Centro frontal (Ajna – glândula hipófise);
7. Centro coronário (Sahasrara – glândula pineal).