
tampouco Nestor, o sábio, Deus meu! Representou-o ardiloso e de disposição mutável,
porém, simples para com Agamêmnon e com todos sem exceção, e pronto a manifestar,
não a esconder, seus bons conselhos ao exército. E Aquiles estava longe de acolher em si
atitude de tal natureza que estimava odiosa como a morte.
‘Aquele que uma coisa esconde no peito e outra diz’
507
Como solução realmente, disse Antístenes: Que pois? Talvez se deva acreditar que fosse
Odisseu um perverso porque é chamado polítropo? Assim mesmo o poeta o chamou
enquanto o considerava sábio. De fato, modo indica tanto a disposição como o uso do
discurso. Diz-se de bons modos o homem cuja disposição se dirige para o bem, modos
de falar diz-se das figuras de estilo; também se usa modo em relação à voz e à variedade
de melodias, como o caso do rouxinol.
“que gorjeando sem parar emite modulados cantos”
508
Se pois os sábios são terríveis na dialética e sabem exprimir o mesmo pensamento de
muitos modos, podem muito bem esses que sabem muitos modos de expressão em torno
da mesma coisa chamar-se polítropos. Se os sábios são bons e voltados para os outros
homens, Homero disse de Odisseu que era um ser sábio e polítropo, porque sabia
conversar com os homens de muitos modos
509
. [Assim se narra que também Pitágoras,
convidado a dialogar com jovens, compôs discursos juvenis, e para as mulheres
adaptados às mulheres, e para os arcontes arcônticos e para os adolescentes discursos
adolescentes; porque achar o modo da sabedoria conveniente a cada um é sabedoria. Ao
contrário, é sinal de ignorância adotar um único modo de discurso para aqueles que não
são semelhantes. É o que se dá com a medicina, em que a arte seja bem executada, a
terapia do doente deve ser polítropa através da variedade de predisposições do paciente.
Modo é pois o que muda na disposição, o que é mutável e instável. A politropia do
discurso é o uso do discurso variado que gera nos variados ouvidos um modo único. Pois
é próprio para cada um. Pelo qual o adaptar-se a cada um reduz a variedade do discurso
à unidade: levada a cada um igualmente. Ao contrário, por ser uniforme, inadaptado para
ouvidos diferentes produz o polítropo rejeitado por muitos como discurso rejeitado por
eles].
510
507
Ilíada, IX, 313.
508
Odisséia, XIX, 521.
509
Essa é uma passagem difícil, não só em termos filológicos, que vamos tentar desenvolver mais tarde, mas também
pela ambigüidade nela do termo tro/poj, que aí pode querer indicar tanto a variedade de discurso como de
disposição de Odisseu. Goulet Cazé (1992, p. 17), opta por traduzir o termo por “comportamento”, o que se entende
por disposição de caráter.
510
Porfir. schol. ad Od. I, 1. AF 51. ou)k e)paineiÍn fhsin ¹Antisqe/nhj àOmhron to\n ¹Odusse/a ma=llon hÄ
ye/gein le/gonta au)to\n polu/tropon. ou)k ouÅn to\n ¹Agame/mnona kaiì to\n Aiãanta polutro/pouj
pepoihke/nai, a)ll' a(plou=j kaiì genna/daj, ou)de\ to\n Ne/stora, to\n sofo/n, ou) ma\ Di¿a do/lion kaiì
pali¿mbolon to\ hÅqoj, a)ll' a(plw½j t%½ ¹Agame/mnoni suno/nta kaiì toiÍj aÃlloij aÀpasi kaiì ei¹j to\
strato/pedon, eiã ti a)gaqo\n eiåxe, sumbouleu/onta kaiì ou)k a)pokrupto/menon. kaiì tosou=ton a)peiÍxe
tou= to\n toiou=ton tro/pon a)pode/xesqai o( ¹Axilleu/j, w¨j e)xqro\n h(geiÍsqai o(moi¿wj t%½ qana/t%
e)keiÍnon, "oÀj x' eÀteron me\n keu/qv e)niì fresi¿n, aÃllo de\ eiãpv". lu/wn ouÅn o( ¹Antisqe/nhj fhsi¿: ti¿ ouÅn;
aÅra ge ponhro\j o( ¹Odusseu/j, oÀti polu/tropoj e)rre/qh, kaiì mh/, dio/ti sofo/j, ouÀtwj au)to\n
prosei¿rhke; mh/pote ouÅn tro/poj to\ me/n ti shmai¿nei to\ hÅqoj, to\ de/ ti shmai¿nei th\n tou= lo/gou
xrh=sin; euÃtropoj ga\r a)nh\r o( to\ hÅqoj eÃxwn ei¹j to\ euÅ tetramme/non, tro/poi de\ lo/gou ai¸ poiaiì
pla/seij: kaiì xrh=tai t%½ tro/p% kaiì e)piì fwnh=j kaiì e)piì melw½n e)callagh=j, w¨j e)piì th=j a)hdo/noj: "hÀ
te qama\ trwpw½sa xe/ei poluhxe/a fwnh/n". ei¹ de\ oi¸ sofoiì deinoi¿ ei¹si diale/gesqai, kaiì
e)pi¿stantai to\ au)to\ no/hma kata\ pollou\j tro/pouj le/gein: e)pista/menoi de\ pollou\j tro/pouj
lo/gwn periì tou= au)tou= polu/tropoi aÄn eiåen. ei¹ de\ oi¸ sofoiì kaiì <a)nqrw¯poij suneiÍnai> a)gaqoi¿ ei¹si,
dia\ tou=to/ fhsi to\n ¹Odusse/a àOmhroj sofo\n oÃnta polu/tropon eiånai, oÀti dh\ toiÍj a)nqrw¯poij
h)pi¿stato polloiÍj tro/poij suneiÍnai. ouÀtw kaiì Puqago/raj le/getai pro\j paiÍdaj a)ciwqeiìj
poih/sasqai lo/gouj diaqeiÍnai pro\j au)tou\j lo/gouj paidikou/j, kaiì pro\j gunaiÍkaj gunaiciìn