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política e social como o atentado no Riocentro, a campanha para Diretas-Já, a eleição do
Presidente Collor, a inflação, os baixos salários, os pacotes econômicos, o Plano Cruzado, as
passeatas com os jovens nas ruas de caras pintadas, o impeachment, os avanços no campo da
eletrônica influenciando a noção do tempo e espaço, o crescimento da Aids, a impunidade, as
greves, a violência, as drogas... Esse era cenário do Brasil.
Desde o final dos anos 1970, via indústria fonográfica, a lambada apareceu na região
norte, criada no Pará. A Lambada é uma mistura do carimbó com influência e características
do merengue caribenho. No final dos anos 80, a lambada foi um fenônemo de consumo, numa
explosão de popularidade na aldeia global, tornou-se um sucesso internacional,
principalmente na música onde teve um enorme destaque na Europa a partir da França.
Tinhorão (1991, p. 279-288) nos explica que,
E afinal, por abrigar tradicionalmente-graças às circunstâncias históricas
locais - a reprodução de ritmos negro-caribenhos, como os de la bamba, la
cumbia, comanchera, mambo e merengue, permitiria explicar, muitos anos
depois, a criação da “novidade” da lambada, tornada internacionalmente. De
fato, criado dentro dos bailes de carimbó eletrificado da década de 70, já
contando com a classe média de Belém, o ritmo amerengado que permitia as
dançarinas viradas de corpo capazes de aplicar lambadas com a barra da saia
(de onde, talvez, o nome da dança, nunca definitivamente apurado)
despertou interesse dos músicos paraenses cultores do carimbó, que
procuravam comercializá-los através do disco.
A lambada, quanto à sua composição coreográfica, compõe-se de passos acrobáticos,
com giros e rodopios, nos quais os casais algumas vezes se mantêm separados para as
evoluções mais difíceis. Nesta dança acontece uma total aproximação do baixo corporal
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com a soltura e leveza da pélvis, os joelhos de ambos os pares se mantêm flexionados e os
calcanhares ficam fora do chão e em determinados passos os braços ficam acima da cabeça.
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Encontramos em Bakhtin (1987), que o princípio elementar do realismo grotesco é o rebaixamento, o da terra
e do corpo, de tudo o que é ideal, elevado e espiritual ao plano material e corporal. No universo da cultura
cômica popular, rebaixar consiste em aproximar da terra, conceber um princípio de absorção e, ao mesmo tempo,
de nascimento. O re-baixar, ou seja, trazer novamente para baixo, tem um sentido absolutamente topográfico, de
modo que o alto e o baixo - no aspecto cósmico, o céu e a terra - são respectivamente representados, no âmbito
corporal, pela cabeça e pelo ventre, incluindo os órgãos genitais e o traseiro.