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É justamente isso que explica, ao que parece, a insistência do
esquizofrênico em reiterar esse passo. Em vão, já que, para ele,
todo simbólico é real. E bem diferente, nisso, do paranóico, de
quem mostramos em nossa tese as estruturas imaginárias
preponderantes, isto é, a retro-ação(...) e que só depois de uma
organização discursiva longa e penosa conseguem estabelecer,
constituir, esse universo sempre parcial a que se chama um
delírio(LACAN, 1954,p.394).
O significante paterno(NP), ao não se inscrever no simbólico, não esvazia o real de
gozo e não barra o desejo da mãe primordial. E, por estar foracluido no simbólico, é que,
na psicose, aparece no real. A mãe, objeto que inicialmente existe no real, como diz Lacan,
torna-se simbólica, na neurose, por sua ausência, que é simbolizada. Dessa forma, o fort-da
freudiano- aí introduz um vazio no real. Como esclarece Colette Soler:
É a partir daí que Lacan caracteriza a posição do esquizofrênico:
na esquizofrenia, essa operação não acontece.Nesse caso, o
simbólico é real, ou seja, o efeito da linguagem no real não
acontece.Podemos, dessa forma, situar o esquizofrênico na tese de
Lacan sobre a metáfora paterna, e escrevendo-a a partir do
primeiro vazio, o desejo da mãe, que é a simbolização da presença-
ausência”(Soler, 2001, p. 239).
Na neurose, o NP vem para barrar o DM, e na paranóia há um enigma que não se
concretiza no DM, pois NP está zerado. Ao enigma, X, do DM, a paranóia responde com o
significante da ordem do delírio.Na esquizofrenia, o DM estaria zerado,ou seja, não se sabe
sobre ele, e portanto, a impossibilidade de uma interpretação significante, ou seja, o
simbólico é real. Se na paranóia há um significante que retorna pela via do delírio, no real,
na esquizofrenia o significante é real.
Em O seminário, livro 3, Lacan(1955-1956, p.60) ilustra essa diferença, quando
traz o caso da mulher que alucina “porca”, na resposta que já estava antes da pergunta: “Eu
venho do salsicheiro”. Como afirma Lacan: “(...) estamos certos de que os neuróticos se
puseram uma questão. O psicótico não é tão certo. A resposta talvez tenha vindo antes da
questão - é uma hipótese. Ou então a questão se pôs sozinha - não é impensável”.(LACAN,
1955-1956, p.227). No caso, o significante “porca” representa o sujeito para outro
significante e possibilita todo o desencadeamento de uma construção delirante. Na
esquizofrenia, não há um significante que vise o sujeito, pois não há X para DM, DM está
zerado. Há uma cadeia rompida entre S1 e S2. Denominamos S1: o fundador do