
de liberdade e igualdade tossem realmente acessíveis a todos os sujeitos.
As injustiças sociais, expressas pela tome, pelas péssimas condições de saúde
(aqui incluídas as questões de habitação, de saneamento, de acesso aos serviços de
saúde, por exemplo), pelos baixos índices de escolarização, pelo desemprego, pelo
aumento brutal da violência urbana, pela deterioração das cidades, se constituem
em quadro evidente de que estamos muito longe da sociedade idealizada pelos
elevados propósitos dos documentos nacionais e internacionais.
Até a década de 70, entretanto, considerava-se que, embora distantes de serem
alcançados, estes ideais eram possíveis e que estava-se construindo, a duras penas,
uma sociedade que, no seu próprio desenvolvimento, haveria de, gradativamente,
superar esses obstáculos. Tanto os princípios do chamado "estado do bem-estar-
social" como das chamadas "repúblicas populares socialistas" tinham como nú-
cleo de sua proposta política o alcance dessas condições.
Na década de 80, com a queda do Muro de Berlim e desmantelamento das
chamadas "repúblicas populares", por um lado, e pelos processos de globalização
da produção capitalista, de outro, parece que entramos numa nova era que, se
analisada de forma mais aprofundada, parece estar colocando em cheque as possi-
bilidades de se construir uma civilização mais justa e mais igualitária.
Isto é, parece que o ideal de ampliação da melhoria das condições de vida, para
todos os habitantes desse nosso planeta, não poderá jamais ser alcançado, como se
isso se constituísse em destino, em fatalidade, e não fosse apenas o resultado de
processos históricos construídos pelo próprio homem.
Quando nos referimos, por exemplo, ao período de escravidão, que se esten-
deu até o final do século passado em nosso país, consideramo-lo como uma etapa
cruel e desumana de nossa história, de opressão, humilhação e exploração de seres
humanos. Entretanto, convivemos, como se fosse parte de nosso destino, com o
trabalho escravo infantil que enriquece, ainda mais, poderosas corporações
multinacionais, convivemos com a fome dizimando populações africanas, convi-
vemos com a exploração do corpo de meninas de oito a dez anos no território
amazônico, convivemos com a disseminação de guetos urbanos de miséria e vio-
lência em que os pobres usufruem cada vez menos das benesses produzidas por
eles próprios, convivemos com milhões de desempregados que têm como única
opção, viver, dormir, comer e defecar nas ruas de nossas cidades.
Vamos, de tal forma, incorporando essas situações, que perdemos a nossa
capacidade de indignação, de revolta, de repúdio. Se perdemos a nossa capacidade
de indignação, é porque estamos incorporando que essas situações são naturais,
fazem parte do destino irreversível de uma massa enorme da população de nossos
países.
É neste momento que surge a bandeira da inclusão social, de emulação a todos
para que aceitem a diversidade, a diferença, o desigual, da construção de uma
sociedade inclusiva.
Mas quem são estes diferentes, diversos e desiguais?
O deslocamento do eixo da sociedade democrática para a sociedade inclusiva
pode estar significando, muito mais, a tentativa de obscurecer os processos de
produção dessa massa de excluídos do que um passo adiante para a construção de
uma sociedade mais justa, fraterna e democrática, na medida em que esconde o fato
de que toda essa situação provém, antes de mais nada, da produção da miséria
material e cultural, agora em escala mundial.
E o que podemos fazer diante desse quadro? Nada?
Ao contrário, entendo que, se acreditarmos que é o homem que constrói a sua
história, que não há destino irreversível ou fatalidade social, temos algo a fazer. As