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ANAIS DO SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE AVALIAÇÃO EDUCACIONAL
quais deveriam desenvolver-se as atividades de obten-
ção de dados e de iniciativas de informação. Como foi
corretamente indicado pelo Sr. Orivel, em sua análise
dos primeiros três conjuntos de indicadores em edu-
cação da OCDE, os fatores que influem no desempe-
nho dos alunos são extremamente numerosos, e o seu
impacto varia, dependendo da presença ou não de ain-
da outros fatores. Ainda mais, alguns fatores são
maleáveis, ou seja, podem ser modificados através da
intervenção externa, enquanto que outros não podem
ser mudados, ou a própria sociedade se recusa a fazê-
lo. Por exemplo, o tamanho das turmas, ou a duração
do período de treinamento dos professores podem ser
mudados; as aptidões naturais, o ambiente familiar ou
geográfico, a aceitação dos pares não podem ser mo-
dificados. É virtualmente impossível medir todos aque-
les fatores que poderiam representar um impacto. Por
esse motivo, apesar da importância do trabalho de pes-
quisa em educação, não há consenso sobre que fato-
res exercem maior influência sobre o desempenho dos
alunos. São extremamente raros os resultados que
apresentam um alto grau de consistência. Assim sen-
do, quando se escolhem indicadores que tenham a
capacidade para rápida e corretamente informar aos
usuários dos sistemas de educação sobre os desem-
penhos em educação e alertá-los quanto ao estado da
educação, é preciso fazer algumas opções. Estas op-
ções não são nem simples, nem neutras.
A OCDE utiliza macrodados para a constru-
ção de seus indicadores em educação. A natureza dos
dados utilizados ajuda a executar uma primeira sele-
ção entre os distintos fatores a serem mantidos. Ainda
assim, os indicadores agregados da OCDE são, via de
regra, muito gerais para permitirem uma análise deta-
lhada das relações entre os recursos investidos e os
resultados obtidos. Entretanto, sua utilidade reside em
outro fato: eles ajudam a levantar certos aspectos rele-
vantes, no nível macroeconômico. Isso foi demonstra-
do pelo Sr. Orivel, ao examinar o caso de um dos indi-
cadores compostos mais bem conhecidos, os gastos
em educação comparados ao PIB. Desde 1975, vem-
se verificando uma certa convergência entre os res-
ponsáveis pelas decisões, no sentido de destinar, de
forma significativa, mais ou menos uma média seme-
lhante do PIB à educação – em torno de 6%. "A varia-
ção desse indicador pouco a pouco foi-se estreitando.
Os países que destinavam mais do que 6% do PIB
tenderam a estabilizar, ou a reduzir esse valor, enquanto
que aqueles que destinavam menos do que 4% do seu
PIB à educação passaram a tratar de chegar ao valor
médio de 5% ou 5,5%". O Sr. Orivel afirma que "essa
tendência, em direção a um certo nível de convergên-
cia, provavelmente não é nenhuma coincidência, ainda
que não haja declarações explícitas dos responsáveis
pelas decisões sobre esse ponto. Por outro lado,
sentimo-nos tentados a propor uma hipótese, quanto à
falta de critérios formais sólidos, sobre os quais as
autoridades públicas possam estabelecer um nível es-
pecífico de comprometimento para com a educação,
estimula os responsáveis pelas decisões a não desti-
narem significativamente mais ou menos do que a
média." E o Sr. Orivel prossegue, acrescentando que
"é esse o tipo de argumento freqüentemente utilizado
na tomada de decisões públicas sobre o financiamen-
to de pesquisa e desenvolvimento e em defesa nacio-
nal, com base na lógica de que, quando os parceiros
fazem mais, os países precisam acompanhá-los, para
não ficarem para trás, ou para reduzirem a probabilida-
de de virem a tomar o rumo errado".
O Sr. Orivel conclui, afirmando que "em várias
áreas da política educacional, os fatores sobre os quais
se baseiam as decisões em educação são mal defini-
dos ou contraditórios, e pode ser útil para que se deva
tomar as decisões e examinar o que outros países
comparáveis estão fazendo, quer seja porque a grande
maioria dos países tenha optado por uma determinada
solução, ou porque um país que tenha escolhido uma
abordagem original esteja aparentemente obtendo re-
sultados favoráveis". A competição internacional e a
comparação entre os países chamaram intensamente
a atenção para os indicadores, e assumiram importân-
cia capital para o desenvolvimento de um conjunto in-
ternacional de indicadores em educação.
Por esse motivo, a OCDE decidiu adotar, no
início do trabalho com os indicadores, uma estrutura
conceitual extremamente simples, que era uma varia-
ção relativamente esparsa de um modelo de entrada e
saída. Esse modelo foi, e é, muito adequado para a
geração de informações úteis para a platéia dos círcu-
los políticos. Virtualmente, todos os esforços para a
concepção de indicadores em educação utilizaram um
modelo de entrada/saída, ou processado. Para a pro-
dução de variáveis relevantes para a política, que pos-
sam ser resumidas de modo claro e sucinto, e ser apre-
sentadas e consideradas, não era preciso adotar um
modelo complexo e orientado para a pesquisa. Assim,
a OCDE recorreu a uma estrutura tripartite de organi-
zação dos indicadores, que gerava informações sobre
os resultados da educação, quanto às características
primárias dos sistemas escolares e às situações soci-
ais e econômicas de cada país, nas quais operam os
sistemas de educação.
Propositalmente, os indicadores não eram or-
ganizados de acordo com um "modelo". Um modelo
implicaria conexões sofisticadas e causais entre os
indicadores; não é razoável supor que as variáveis re-
presentadas por esses indicadores pudessem funcio-
nar dessas maneiras. Desde o início do trabalho do
INES, sempre houve firme consenso acerca do fato de
que a organização e a seleção dos dados não eram
compatíveis com um modelo causal. Esse conceito
era considerado como muito pouco produtivo, conside-
rando-se a falta de representatividade de relações ge-
ralmente aceitas na educação.
Mas, para que possa ser útil e prática, a es-
trutura de organização deve ser simples, global e