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habitantes da capitania, dentro de pouco tempo, independentes dos do reino,
pela diversidade de gêneros que em suas fábricas se trabalham. O governador
propõe a proibição das fábricas como solução. Quando o marquês do Lavradio
deixou o vice-reinado, informou ao seu sucessor que
“...a independência que os povos de Minas se tinham posto dos
gêneros da Europa, estabelecendo a maior parte dos
particulares, nas suas próprias fazendas, fabricas e teares,
com que se vestiam a si, e à sua família e escravatura, fazendo
panos e estopas, e diferentes outras drogas de linho e algodão,
e ainda de lã que uns povos compostos de tão más gentes, em
um país tão extenso, fazendo-se independentes, era muito
arriscado e podem algum dia dar trabalho de maior
conseqüência” (Lima, 1970: 56-57).
Não era somente o setor têxtil que havia se desenvolvido, a indústria
caseira fornecia ao mercado diversos outros produtos: os engenhos de açúcar,
rapadura e aguardente; os laticínios, como queijo, manteiga e requeijão; banha
de porco, lingüiça e chouriço; doce, sabão e azeite para iluminação; farinha de
mandioca, polvilho e fubá de moinho d’água. Martinho de Melo e Castro (1716-
1795), ministro dos Negócios Ultramarinos, substituto de Pombal, em resposta
ao relatório do marquês do Lavradio, remeteu instrução minuciosa e severa ao
visconde de Barbacena para que governasse a Capitania de Minas com punho
de ferro para que, mesmo sofrendo o povo, procurasse salvar os interesses da
Real Fazenda, com a proibição das culturas da amoreira, algodão e oliveira.
Em 1785 Melo e Castro envia instrução ao governador da capitania no sentido
de impedir a instalação de novos teares, apreender e destruir os existentes:
“... que se não cuidar eficazmente nos e modos de os coibir, a
conseqüência será que todas as utilidades e riquezas destas
importantíssimas colônias ficarão sendo patrimônio dos seus
habitantes e das nações estrangeiras, com quem eles as
repartem, e que Portugal não conseguirá mais que aparente,
estéril e inútil domínio nelas. Quanto às fábricas e manufaturas
é indubitavelmente certo que sendo o Estado do Brasil mais
fértil e abundante em frutos e produções da terra, e tendo os
seus habitantes vassalos desta coroa, por meio da lavoura e da
cultura, não só tudo quanto lhe é necessário para sustento da
vida, mas muitos artigos importantíssimos para fazerem, como
fazem, um extenso e lucrativo comércio e navegação; e se
estas incontestáveis vantagens ajuntarem às da indústria e das
artes para o vestuário, o luxo e outras comodidades precisas,
ou que o uso e costumes têm introduzido, ficarão os ditos
habitantes totalmente independentes da sua capital dominante:
é por conseqüente: indispensavelmente necessário abolir do