
permanente para se interpenetrar. [...] como construção intelectual para
medir e caracterizar de modo sistemático conexões individuais.[...] a qual,
no domínio das manifestações culturais, o que é abstractamente típico seria
idêntico ao que é abstractamente próprio do gênero.
20
A apropriação, por parte de SBH, da categoria weberiana de tipo parece estar
evidente no capítulo 3, de Raízes do Brasil
21
quando SBH faz um paralelo entre a
colonização portuguesa no Brasil, no século XVII e XVIII, e os processos de
colonização da Antigüidade clássica, isto podemos registrar na seguinte passagem:
Não admira, assim, que fossem eles (os senhores de engenho)
praticamente os únicos verdadeiros “cidadãos” na colônia, e que nesta se
tenha criado uma situação característica talvez da Antigüidade clássica mas
que a Europa – e mesmo a Europa medieval – não conhecia. O cidadão
típico da Antigüidade clássica foi sempre, de início, um homem que
consumia os produtos de suas próprias terras, lavradas pelos seus
escravos. Apenas não residia por hábito nelas. Em alguns lugares da bacia
do Mediterrâneo, na Sicília, por exemplo – segundo informou Max Weber -,
não residiam os lavradores, em hipótese nenhuma, fora dos muros das
cidades, devido à insegurança e aos extraordinários perigos a que se
achavam expostos constantemente os domínios rurais. As próprias “vilas”
romanas eram, antes de mais nada, construções de luxo, e não serviam
para residência habitual dos proprietários, mas para vilegiatura.
22
O autor de Raízes do Brasil usa a informação e o conhecimento de Max Weber
sobre sociedade e a economia do mundo antigo para mostrar que o contexto
brasileiro na época da colonização teve características iguais à de algumas regiões
da Europa, na época da colonização romana. Assim, num processo semelhante aos
da Antigüidade clássica, as cidades brasileiras do Brasil colonial, segundo a
passagem citada, serviam mais para mostrar a pujança dos senhores da Casa
Grande e seus familiares. As casas, quase sempre luxuosas mantidas nas cidades
serviam mais para vilegiatura e ostentação e eram freqüentadas poucas vezes por
ano. Assim, como no início da colonização das terras na Antigüidade clássica, os
colonizadores brasileiros, de início, consumiam os produtos de suas próprias terras,
lavradas por seus escravos.
20
Ibidem, p. 644-649.
21
Aqui temos uma relação de intertextualidade explícita que tem origem na obra Wirtschaft und
Gesellschaft (Economia e Sociedade), II, Tübingen, 1925, de Max Weber, p. 520 ss.
22
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Edição Comemorativa 70 anos; organização
Ricardo Benzaquen de Araújo, Lilia Moritz Schwarcsz. Ed. Rev. São Paulo: Companhia das Letras,
2006, p. 90.
26