TEMPLE, G. C. Alunos Copistas: Uma Análise do Processo de Escrita a partir da
Perspectiva Histórico-Cultural. 2007, 180 f. Dissertação (Mestrado) - Instituto de
Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
RESUMO
Esta pesquisa visa ampliar o conhecimento no campo da Psicologia Escolar e
Educacional a respeito do processo de escolarização das crianças das classes populares.
Para tanto, centra-se na constatação de um fenômeno presente no dia-a-dia do processo
de aquisição da escrita das crianças das séries iniciais das escolas públicas paulistas.
Trata-se do “aluno copista”, ou seja, aquele que somente copia atividades de escrita sem,
no entanto, compreender de fato o sentido do que está escrevendo. O objetivo dessa
pesquisa é analisar como esse fenômeno se constitui na vida escolar desses alunos e que
sentido a escrita adquire para este grupo de alunos copistas, a partir de uma perspectiva
histórico-cultural. Propusemo-nos a observar as práticas pedagógicas referentes às
solicitações de escrita no contexto escolar, bem como realizar a reconstrução do
percurso escolar dos alunos copistas. Utilizamos a abordagem etnográfica como
perspectiva teórico-metodológica no campo da psicologia da educação. Partimos de
concepções teóricas críticas no campo da Psicologia Escolar e Educacional para
entender a vida diária escolar desses alunos, o contexto escolar em que tais situações de
aprendizagem são produzidas, e analisamos esta produção à luz da concepção de Luria a
respeito da apropriação da escrita pela criança. Durante o ano letivo de 2005, realizamos
observações participantes na sala de aula e em outros espaços da escola, entrevistas com
os alunos, professoras e diretora, bem como análise dos cadernos que os alunos
utilizavam em sala de aula, acompanhando as atividades escolares de quatro alunos da
terceira série do Ensino Fundamental. Dentre os aspectos analisados, destacamos: a) a
organização das atividades pedagógicas, b) a presença de uma professora substituta, c)
os alunos convivendo com o adoecimento da professora, d) as solicitações de escrita, e)
as explicações sobre o processo de alfabetização, f) as práticas pedagógicas produzindo
alunos copistas e a identificação das marcas subjetivas e, g) o interesse dos alunos
copistas pelas atividades pedagógicas. Constatamos que o percurso escolar desses alunos
foi marcado pela exclusão em sala de aula, visto que pouco ou nada se lembravam dos
dois anos escolares precedentes. No contexto da sala de aula, a cópia ocupava espaço de
destaque dentre as atividades propostas, indo muito além de suas funções auxiliares no
processo de aquisição da escrita. Embora o contexto concreto do processo de
alfabetização tenha afastado essas crianças do significado do trabalho pedagógico,
principalmente pela ausência dos motivos que levam à escrita, havia um interesse visível
desses alunos para o aprendizado. Por fim, consideramos que a prática da cópia
esvaziada de significado não possibilita a apropriação da linguagem escrita e muito
menos a formação de sentido pessoal. Entendemos que para reverter esta realidade e
possibilitar que os alunos copistas aprendam a escrever, é preciso um comprometimento
político e uma prática intencional do professor alfabetizador com os estudos referentes à
apropriação da linguagem escrita, visando superar práticas pedagógicas inconsistentes e
empíricas, bem como a melhoria das condições de funcionamento e de estrutura do
espaço escolar e do trabalho de seus profissionais.
Palavras-chave: Psicologia Escolar, Educação Básica, Alfabetização, Psicologia
Histórico-Cultural, Etnografia.