
os textos compostos por Joaquim Ribas, Ramalho, Furtado de Mendonça e outros.
27
Mas os alunos liam
também Perdigão Malheiro, Berrier, Bertauld, Sedillot e Mittermaier, autores da área jurídica, a literatura
romântica de Georg Sand, Schillei e Lopes de Mendonça, "os publicistas mais adiantados, adeptos da forma
de governo democrático" como Schut-zenberger, Pelletan, Tocqueville e Baudrillart, e também Heine, V.
Hugo, Lamartine, Vil-lemain, Cousin e Taine.
28
Esses autores são citados diretamente por Pestana e seus
companheiros nos textos que escreveram durante o período acadêmico, e apresentados como epígrafes em
suas publicações, anunciando, assim, a orientação do periódico, recurso aliás característico da pequena
imprensa local mais antiga.
29
A título de exemplo podemos referir os nomes de Esquiros, Pelletan, Lamartine e Lopes de Mendonça
em artigo da Revista da Associação Recreio Instrutivo; Lamartine e H. Heine em artigos do O Futuro; a
epígrafe dos Anais do Ensaio Acadêmico, de Vitor Cousin, "só pelo exercício do pensamento é que a
mocidade pode subir à altura do destino do século XIX" e aquela do O Futuro, já citada, Libertas quae ser
tamem. Rangel Pestana mostra particular simpatia por Alexandre Herculano nesses anos de jornalismo
acadêmico: recorre a ele como apoio de suas colocações quando escreve, por exemplo, "contra a imprensa
absolutista e seus aliados ultramontanos", e é uma frase sua que coloca como epígrafe do jornal A Época:
"No meio das provações, das afrontas, das calúnias, das maldições nós prosseguiremos avante nessa
cruzada santa de civilização e de liberdade".
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Em suma, são textos de autores de origem francesa - ou traduções francesas de autores ingleses e
alemães - representativos de todos os matizes do pensamento liberal, pré-românticos e românticos, teóricos
do progresso, tradicionalistas e ecléticos, fisiocratas e fourieristas, conservadores, radicais, cristãos e
democratas, que encontramos colocados, lado a lado, nas estantes da imaginária biblioteca dos acadêmicos
de Direito dos meados do século XIX. Estudiosos da atualidade têm apontado que nem sempre a aceitação
e o emprego dessas doutrinas eram feitos de modo crítico; antes, parece ser mais razoável acreditar que os
acadêmicos não tinham plena consciência das posições filosóficas e políticas dos autores estudados, pois,
às vezes, citavam lado a lado, Cousin, Jouffroy e Villemain, Hugo, Lamartine e Lamenais, como se não os
separassem os acontecimentos de 1830.
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Assim, podemos dizer que o universo intelectual da Academia era pautado por uma orientação liberal-
conservadora, por "um ideário acautelado das 'idéias democráticas que giram e triunfam na Europa'" - um
ambiente intelectual e político determinado e produzido pela modernização conservadora.
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A conciliação
da ordem com a liberdade seria o preceito básico desses liberais que se inspiravam em J. Baptiste Say e
Benjamim Constant.
27 VAMPRÉ, Spencer. Memórias..., 1977. v. 1, passim, em especial p. 235-6, e v. 2, p. 87.
28 Nomes retirados de PÓVOA, Pessanha. Anos acadêmicos..., 1870. p. 157, 264 e 288; CADERNETA
de apontamentos vários de Prudente de Morais Barros - 1861. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, caixa
5, pacote 1, AP-57, manuscrito; LEITE. Aureliano. Américo de Campos. Almanaque d'0 Estado de S.
Paulo, São Paulo: 275, 1940.
29 SODRE. Nelson Werneck. On. cit.. 1966. D. 187-8.
30 INTRODUÇÃO. Revista da Associação Recreio Instrutivo, São Paulo, jul., 1861; A DEMOCRACIA.
O Futuro, Sao Paulo, 16 ago. 1862; BOLETIM - duas palavras. O Futuro, São Paulo, 27 set. 1862;
EDITORIAL. O Futuro, São Paulo, 26 jul. 1862; AMARAL, A. B. do. Op. cit., 1977, passim;
TOLEDO, Lafayetede. Op. cit., 1897. p. 488.
31 Ver FARIA, Maria Alice de O. Fontes francesas da crítica acadêmica paulistana. Revista do Instituto de
Estudos Brasileiros, São Paulo (3): 67-77, 1968; NOGUEIRA, M. A. Monarquia, abolição, República -
Joaquim Nabuco e as desventuras do liberalismo no Brasil. São Paulo, FFLCH, USP, 1983. tese
(doutorado).
32 NOGUEIRA, M. A. Op. cit., 1983. p. 61.