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RESUMO
A compulsão alimentar periódica (CAP) é o transtorno alimentar mais freqüente
e se associa à obesidade. Tanto a obesidade quanto a CAP são mais
freqüentes em mulheres. Avaliar fatores endócrinos associados ao controle da
fome e da saciedade pode ser um importante passo na compreensão da
fisiopatologia tanto da obesidade quanto da CAP, bem como apontar possíveis
abordagens terapêuticas. O presente trabalho avaliou, antes e após
alimentação, os níveis séricos de hormônios associados ao controle da fome e
saciedade, tais como o Peptídeo YY (PYY). Métodos: O estudo clínico foi
composto por 3 grupos: um grupo de 9 mulheres obesas com índice de massa
corporal (IMC) ≥30 kg/m
2
com CAP; um grupo de 7 mulheres obesas com IMC
≥30 kg/m
2
sem CAP; e um grupo de 9 mulheres eutróficas (IMC entre 22 a 24,5
kg/m
2
) que responderam a escala de compulsão alimentar periódica para o
diagnóstico da CAP. Foram oferecidas 2 refeições isocalóricas no desjejum e
almoço e coletadas amostras de sangue em jejum, aos 60 minutos antes da
refeição e aos 15, 60 e 90 minutos após a refeição. Foram avaliadas as
quantidades consumidas, o tempo de ingestão das refeições e as sensações
de fome/saciedade por meio de escalas analógicas visuais. A análise dos
dados foi feita através de modelos mistos de regressão linear das medidas
repetidas no tempo, utilizando o software SAS, versão 9.1. Resultados: Entre
as mulheres estudadas 52% eram brancas, 28% possuíam nível universitário,
36% cursaram o 2° grau, 76% eram casadas e a idade variou de 32 a 50 anos.
Não foi identificada diferença estatisticamente significativa na quantidade, em
gramas, de alimentos ingeridos durante as refeições, contudo, a média do
tempo de consumo das 200g de alimentos no desjejum foi menor nas mulheres
obesas com e sem CAP comparadas as eutróficas (Eutróficas: 19 minutos;
Obesas: 8 minutos; CAP: 9 minutos, p=0,01). Quando oferecido 500g de
alimentos durante o almoço não houve diferença no tempo de consumo
(Eutróficas: 35 minutos; Obesas: 31 minutos; CAP: 33 minutos; p=0,40). Os
níveis de PYY variaram ao longo do tempo (p=0,03) nos três grupos e houve
diferença também entre grupos, com valores máximos para as obesas,
intermediário para as eutróficas e menores para as com CAP (p=0,02). Após
análise, o PYY somente variou no grupo CAP, sendo significativamente menor
do que nos outros dois grupos. Quanto à insulinemia e leptinemia, foram
encontradas alterações significativas entre os grupos (p<0,01), contudo essas
diferenças entre grupos desaparecem após ajuste pelo IMC. A insulina, mas
não a leptina variou ao longo do tempo. Em relação às escalas de fome e
saciedade, verificou-se que ao deitar, o grupo CAP sentiu duas vezes mais
fome que o grupo de obesas sem CAP, sendo esta sensação também maior
em relação ao grupo de eutróficas (p=0,01). Conclusão: Os resultados indicam
que mulheres compulsivas sentem mais fome à noite e apresentam níveis mais
baixos de PYY. Essa variação hormonal pode explicar a maior sensação de
fome do grupo CAP em relação às mulheres obesas e eutróficas.