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Eanes ultrapassou o Cabo Bojador, em 1434. Diminuir a equipe de remadores
significava diminuir o peso com o abastecimento de subsistência e as escalas em
terra para reabastecimento na ida, o que impossibilitava a navegação oceânica, e
aumentar o carregamento de porcelana, tecidos (seda), especiarias (cravo, canela e
pimenta), gemas (ouro, prata, pérola e pedras preciosas) e outros produtos de luxo
na volta da “carreira das Índias”.
“Na barca o pano era redondo. Outro mastro menor poderia
ser armado quando conveniente, entre o mastro direito, que passava
a ser o grande, e a proa, talvez servindo para içar o ‘batel’, um
pequeno barco a remos ou, para singraduras maiores, armando vela.
Uma grande vela como era a da barca exigia uma intervenção
quase permanente do leme, para manter o navio no caminho
determinado. Era, e é, o defeito clássico de uma só vela redonda.
Pequena mudança na direção do vento, pequeno golpe de mar, até o
simples balanço, obriga a necessária e freqüente intervenção do
leme. A utilização de duas velas dá ao navio um maior equilíbrio
face ao vento. Viajar a descobrir correspondia a qualquer coisa ao
contrário de como hoje se viaja. Hoje, leva-se uma carta, isto é, um
mapa onde está desenhado o contorno da costa. Em descobrimento,
começava por não haver carta alguma. Ninguém ainda a tinha feito,
nem por lá passado. O contorno da costa era totalmente ignorado.
Era agora que estava a começar a fazer-se. Uma verdadeira ratoeira
onde os navios se perdiam sem aviso. Um pequeno barco, de
remos, ou que armasse vela, de pouco andamento, que fosse
adiante, com a precaução freqüente, era ajuda que valia entre
escolher a vida ou a morte”.
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“Ao navegador, o ver mais longe possível correspondia a
conhecer algum perigo com maior antecedência, portanto,
segurança. Ora, ver mais longe era, e ainda é, ver mais alto. O
piloto deveria escolher a bordo o local melhor situado para ver de
mais alto, para além mesmo de ter ajuda de colocar num sítio bem
alto alguém com essa função específica, a de vigia. Para já, dispor
de um pequeno convés elevado na parte posterior do navio, o
chamado castelo à ré. Se o navio comportasse a montagem de um
cesto de vigia no topo do mastro, aí se colocaria um marinheiro
com experiência de mar e as funções de vigia de quarto. O
chamado cesto de gávea”.
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Mas a navegação em alto mar era impossível em embarcações de vela
quadrada - ou redonda, devido à forma redonda, ou rotunda, dos navios que as
utilizavam, navis rotunda, ou a forma em que se transformam quando infladas
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Raúl Souza MACHADO. Das Barcas aos Galeões. IN: Joaquim Romero de MAGALHÃES
(org.). Op. Cit. 1999. p. 103.
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Idem. Ibidem. 1999. p. 104.
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