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des influências. Nessa categoria, há de se louvar também o
investimento da Petrobrás no álbum Ouro Negro, tributo
ao maestro brasileiro Moacir Santos. Ele, que vive nos
Estados Unidos desde 1967, criou uma espécie de afo-
samba-jazz que tem deixado os americanos malucos. Ouro
Negro reuniu a nata da música instrumental brasileira
comandada pelo saxofonista Zé Nogueira e pelo violonis-
ta Mario Adnet.Juntos,eles traduziram e recriaram as par-
tituras originais de Moacir Santos num álbum duplo que
trouxe como convidados o pianista João Donato e os can-
tores Milton Nascimento, Joyce e Ed Motta. Ouro Negro
também foi incluído na lista do New York Times como um
dos grandes álbuns do ano passado e freqüenta a prateleira
do trompetista americano Wynton Marsalis – que, mara-
vilhado pela música de Moacir Santos, pensa até em
chamá-lo para uma parceria. O mesmo país caiu de joelhos
à frente de duas herdeiras da bossa nova. A primeira é
Bebel Gilberto. Seu álbum Tanto Tempo, lançado há dois
anos, é o disco brasileiro mais vendido no mercado ameri-
cano desde Getz/Gilberto, colaboração entre o saxofonis-
ta americano e João Gilberto na década de 60. Luciana
Souza é filha do cantor Walter Santos,conterrâneo de João
Gilberto (ambos nasceram na cidade baiana de Juazeiro) e
que na década de 80 criou o selo de música instrumental
Som da Gente.
As novas divas possuem trabalhos distintos. Bebel
Gilberto recria canções da bossa nova sob uma perspectiva
eletrônica – sua versão de Samba da Benção (clássico de
Baden Powell e Vinícius de Moraes) é magistral.Cai no gosto
do americano médio que adora ouvir uma canção relaxante
após o trabalho. Luciana Souza é mais ousada e bastante res-
peitada entre o circuito de jazz. Sim, Assis Valente, Tio Sam
ainda está querendo conhecer a nossa batucada. Mas tem se
impressionado com a máquina de ritmos e criatividade da
Música Popular Brasileira.
Sérgio Martins, 35 anos, é subeditor de Artes & Espetáculos da
revista Veja. Passou também pela redação da BIZZ, uma das principais
publicações musicais do Brasil, da revista Época e colaborou para os
matutinos Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde.
Ta m b é m e s c r e v e u u m a r t i go sobre Música Popular Brasileira para a edi-
ção americana da revista Time.
samba, ritmos eletrônicos, bossa nova e soul music que
encantaram os críticos americanos. Mais do que isso, Max
de Castro reassume algumas tradições que andavam em
falta na música brasileira. Como por exemplo, as melodias e
as harmonias. "Os movimentos musicais seguintes acaba-
ram por privilegiar a letra em detrimento do ritmo",atesta de
Castro. Isso não quer dizer que sua música seja "alienada"
(para usar um discurso batido de certas facções da música
brasileira). Max de Castro sabe falar de temas como discri-
minação racial e problemas sociais com uma delicadeza que
faz qualquer brutucu do cinema americano se debulhar em
lágrimas. Max de Castro pertence à Trama, gravadora inde-
pendente brasileira que tem mudado o conceito de se fazer
música no país.
Ao invés de optar pelos ritmos da moda, ela aposta em
novos talentos da composição. "Queremos descobrir nos
novos Chicos, Miltons e Caetanos", dispara João Marcello
Bôscoli, presidente da companhia. Ao lado do empresário
André Sjzaman, eles mostraram não apenas o talento de
Max de Castro como Simoninha, irmão de Max de Castro.
Simoninha tem um estilo diferente do irmão. Atua mais
como um crooner, em canções que emulam soul music e
baladas apaixonantes.O vocalista também atuou como dire-
tor artístico da companhia e lançou o último disco do violo-
nista Baden Powell. A Trama tem revelado artistas com
talento e sofisticação para ganhar o resto do mundo. São os
casos de Jairzinho Oliveira e Luciana Mello, rebentos do
cantor Jair Rodrigues. Mello inclusive transferiu-se para
major, a Universal. Outro talento da companhia é o cantor
Pedro Mariano, filho de Elis Regina e do pianista e arranja-
dor César Camargo Mariano, e uma das vozes mais doces
surgidas nos últimos anos no Brasil. Os artistas da Trama
têm despertado interesse internacional.
Os DJs Marky e Patife (ambos são do cast de música
eletrônica da companhia) são presença constante nas festas
mais badaladas da Inglaterra e a Trama ainda fechou con-
trato com o cantor e compositor Ed Motta.A Trama abriu
espaço para que o público brasileiro se deliciasse com
outros artistas d’antanho. Nos últimos dois anos foram
relançadas obras-primas de astros do samba-jazz (o saxo-
fonista J.T. Meirelles e o baterista Edison Machado), que a
toda hora são citados por Max de Castro como suas gran-