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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
NEIVA TEREZINHA PELISSARI
ALFABETIZAR E QUALIFICAR O ORELHA-SECA E O MEIA-
COLHER: UM DESAFIO POLÍTICO PEDAGÓGICO PARA A CONSTRUÇÃO
CIVIL.(A experiência da Concremax com alfabetização e qualificação de jovens
trabalhadores em Cuiabá/MT)
Cuiabá
2006
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NEIVA TEREZINHA PELISSARI
ALFABETIZAR E QUALIFICAR O ORELHA-SECA E O MEIA-COLHER:
UM DESAFIO POLÍTICO PEDAGÓGICO PARA A CONSTRUÇÃO CIVIL. (A
experiência da Concremax com alfabetização e qualificação de jovens trabalhadores em
Cuiabá/MT)
Dissertação Mestrado do Programa
de Pós-Graduação em Educação, do Instituto
de Educação da Universidade Federal de Mato
Grosso. Área de concentração: Educação,
Cultura e Sociedade. Linha de Pesquisa:
Movimentos Sociais, Política e Educação
Popular. Como exigência parcial à obtenção
do título de mestre em educação.
Orientador Prof. Dr. Manoel Francisco de Vasconcelos Motta.
Cuiabá
2006
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DEDICATÓRIA
A Deus por confiar esta missão que tanto
me gratificou.
Aos meus familiares que sempre me
incentivaram.
Ao Profº Dr. Manoel Francisco de
Vasconcelos Motta por sua paciência e dedicação.
A empresa Concremax e a seus
funcionários que sem eles não seria possível à realização
deste trabalho.
A Ms. Cleonice Poloto por ocupar tantas
horas em me ajudar na finalização desta empreitada.
Aos colegas da linha de pesquisa pela
amizade e contribuição.
ANALFABETISMO E ALFABETIZAÇÃO
“Parte das nações do mundo moderno conseguiu
concretizar o projeto de alfabetização generalizada,
superando os limites das sociedades de tradição oral. Outras,
porém, parecem ter fracassado nos seus intentos; assim, à
pobreza, à fome, à doença e à marginalização social vem se
juntar o analfabetismo de grande parte da população dessas
nações. Fracasso escolar ou fracasso social? E a nova
situação criada pela diversidade de usos da escrita sugere
ainda uma outra questão: é preciso sonhar outros sonhos?”.
José Juvêncio Barbosa
SIGLÁRIO
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
CEAA – Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos
CODEFAT - Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador
CPC – Centro Popular de Cultura
E-9 – Grupo de países mais populosos do mundo
EJA – Educação de Jovens e Adultos
ETP – Ensino Técnico e Profissional
ISO - International Standartization Organization “
MCP - Movimento de Cultura Popular
MEB – Movimento de Educação de Base
MOBRAL - O Movimento Brasileiro de Alfabetização
MOC – Movimento de Organização Comunitária
NBR – Norma Brasileira
NR-4 – Norma Regulamentadora nº4
OIT – Organização Internacional do Trabalho
PBQP-H - O Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habitat
PNQ – Plano Nacional de Qualificação
QSP – Qualificação Social e Profissional
SINDUSCON/MT - Sindicato da Industria da Construção Civil de Mato Grosso
UNESCO – Agência das Nações Unidas Especializadas em Educação
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................8
CAPÍTULO I
A CONSTRUÇÃO CIVIL E A EDUCAÇÃO DOS TABALHADORES..........................11
1.1 Construção Civil no contexto do modo de produção capitalista e sua relação com a
educação....................................................................................................................................11
1.2 Educação dos trabalhadores e a educação dos trabalhadores da construção civil..............24
CAPÍTULO II
O ORELHA-SECA E O MEIA-COLHER: Jovens Trabalhadores da Construção
Civil..........................................................................................................................................45
CAPÍTULO III
DINÂMICA DE ALFABETIZCÃO CIVIL EM CUIABÁ: Da Empresa ........................60
CAPÍTULO IV
ALFABETIZAÇÃO DOS JOVENS TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO
CIVIL:......................................................................................................................................65
IV-i – Meia –colher...................................................................................................................66
IV-ii – Orelha-seca..................................................................................................................111
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................115
REFERÊNCIAS BILBLIOGRAFIA..................................................................................119
ANEXOS
RESUMO
A construção civil é conhecida como o setor da economia brasileira que emprega o
maior número de trabalhadores analfabetos ou semi-analfabetos e com pouca ou nenhuma
qualificação profissional. O presente estudo se com os jovens trabalhadores que
desempenham funções que não necessita de nenhuma qualificação. São os serventes e
ajudantes conhecidos dentro do ramo da construção civil, como orelha-seca e o meia-colher,
que participaram de programas de alfabetização e qualificação da empresa. O objetivo do
deste trabalho foi analisar como esses jovens trabalhadores da construção civil lidaram com os
programas de alfabetização e qualificação oferecidos pela empresa construtora. Um dos
objetivos declarado da empresa em investir educação e qualificação de seus funcionários é a
obtenção das cerificações ISO’s 9000 e PBPQ-h. De natureza qualitativa a pesquisa foi
desenvolvida a partir de um entendimento sobre a Educação de Jovens e Adultos, sua relação
com a Educação Popular e a preparação dos jovens para o mercado de trabalho da construção
civil. Foram utilizados questionários e entrevista semi-estruturada. O estudo demonstrou que
os jovens trabalhadores da construção civil habitualmente participam do processo de
qualificação na empresa. Na conclusão deste trabalho poderemos verificar a importância que
estes trabalhadores tem no processo produtivo da indústria da construção civil e que existe
contradições políticas e pedagógicas entre os interesses da empresa e dos trabalhadores.
Palavras-chave: Jovens trabalhadores; Educação de Jovens e Adultos; Construção
civil.
INTRODUÇÃO
A construção civil é conhecida como o setor da economia brasileira que emprega o
maior número de trabalhadores analfabetos ou semi-analfabetos e com pouca ou nenhuma
qualificação profissional.
O presente estudo se com os trabalhadores que desempenham funções que não
necessita de nenhuma qualificação. São os serventes e ajudantes conhecidos dentro do ramo
da construção civil, como orelha seca desempenha as funções de serviços gerais e ajuda os
pedreiros, carpinteiro, armador, azulejistas bem como em todo o trabalho braçal de transporte
de material, escavação, preparo de massa e limpeza da obra.
O meia-colher é um trabalhador da construção civil, que possui no seu registro de
trabalho a função de servente, mas dentro do canteiro passa a exercer algumas atividades
próprias dos oficiais (pedreiros, amadores, carpinteiros e/ou azulejistas). O mesmo recebe
orientação dos próprios colegas, caracterizando um treinamento informal no canteiro de obra,
porém muitas vezes sem a supervisão de encarregado que vem a ser chefe da equipe de
oficiais. Deixa de exercer apenas a função de orelha-seca e passa a condição de meia-colher.
Sua remuneração costuma ser acrescida por prestar serviços mais qualificados. Essa
remuneração quase sempre não consta no seu registro de trabalho, uma vez que, a função do
chamado meia-colher é considerada informal dentro da construção civil.
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As empresas têm exercido por conta da necessidade das certificações exigidas por
lei um papel no preparo profissional dos jovens trabalhadores. Existe uma tendência na
construção civil em organizar a formação destes trabalhadores sob os aspectos voltados para o
desempenho de uma função específica. As qualificações mais comuns são aquelas voltadas
para os serviços de rejunte de piso e azulejo, preparo de massa, assentamento de esquadrias,
regularização de contra piso e rebocos.
Para desenvolver este estudo, utilizamos a metodologia da investigação qualitativa.
Foram utilizadas as técnicas de entrevista semi-estruturada e questionário.
A entrevista semi-estruturada foi realizada com a profissional encarregada do
programa de alfabetização e qualificação da empresa. A entrevista foi dividida em três blocos
temáticos. O primeiro bloco temático tratou da identificação do entrevistado, o segundo bloco
tratou da participação da empresa no programa PBQP-H. O terceiro bloco temático tratou da
qualificação da mão-de-obra. A empresa onde foi realizada a pesquisa foi a Concremax. Ela
foi selecionada por sido a primeira empresa em Cuiabá a conseguir a certificação do
Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H).
Para os trabalhadores, utilizamos um questionário de múltiplas escolhas dividido
em seis blocos temático. O primeiro bloco temático tratou da identificação do entrevistado,
segundo, da Família, terceiro, trajetória escolar-grau de instrução, quarto, trabalho, quinto,
Experiência Educacional na Empresa. O sexto e ultimo bloco tratou dos Valores Sócios
Culturais.
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O primeiro capítulo está dividido em dois sub capítulos. No primeiro foi estudada a
dinâmica da organização de trabalho na construção civil. O segundo, foi feito um estudo sobre
a evolução da educação de jovens e adultos no Brasil através de um pequeno histórico, a partir
do início do século XX até os dias de hoje.
No segundo capítulo estaremos verificando a importância dos trabalhadores da
construção civil no processo produtivo das empresas e a realidade do setor em relação à
alfabetização e a qualificação, pois de acordo com a Organização Internacional do Trabalho,
cerca de 33% dos trabalhadores registrados da construção civil não sabem ler ou escrever e,
em geral, desempenham funções auxiliares com pouca ou nenhuma especialização.
No terceiro capitulo estudamos como uma empresa do setor da construção civil em
Cuiabá-MT, fez para receber a certificações das ISSO’s 9000 e PBQP-h que a capacita a
participar na execução de obras públicas. Para isso a obra deve ser executada com uma mão-
de-obra utilizada deve ser eficiente e bem preparada, tornando parte importante no processo
produtivo das construtoras.
No quarto e quinto capítulos, analisamos as respostas dos jovens trabalhadores no
questionário aplicado onde tratamos da sua formação escolar, seu interesse pelo processo de
qualificação e seus valores sócios culturais.
E nas considerações finais uma análise da educação dos jovens trabalhadores da
construção civil adquirida na empresa e sua relação com a atividade profissional por ele
exercida nos canteiros de obras.
10
Este trabalho foi desenvolvido dentro do grupo de pesquisa Educação, Jovens e
Democracia que faz parte da Linha de Pesquisa: Movimentos Sociais, Política e Educação
Popular.
11
CAPÍTULO I
A CONSTRUÇÃO CIVIL E A EDUCAÇÃO DOS TRABALHADORES
1.1 Construção civil no contexto do modo de produção capitalista e sua relação
com a educação.
A construção civil é uma atividade econômica que necessita de uma grande
quantidade de trabalhadores para execução de seus objetivos de produção. Esses trabalhadores
caracterizam-se por possuírem variados níveis de qualificação e com funções específicas na
dinâmica de efetivação do processo de trabalho.
A construção civil possui uma relação entre capital-trabalho muito próxima à
definição apresentada por Karl Marx em O Capital, em que as grandes construtoras detentoras
do capital, exercem sobre os trabalhadores uma relação de apropriação por meio da força de
trabalho coletivo que é a combinação de muitos trabalhadores parciais.
(...) uma vez que as diferentes funções do trabalhador coletivo podem ser
mais simples ou mais complexas, mais baixas ou mais elevadas, seus órgãos, as
forças de trabalho individuais, exigem diferentes graus de formação, possuindo por
isso valores muito diferentes. A manufatura desenvolve, portanto, uma hierarquia
das forças de trabalho, à qual corresponde uma escala de salários. Se, por um lado, o
trabalhador individual é apropriado e anexado por toda a vida a uma função
unilateral, então as diferentes operações daquela hierarquia são adaptadas às
habilidades naturais e adquiridas. Todo processo de produção exige, no entanto,
certos manejos simples que qualquer ser humano é sem mais capaz de realizar. Eles
também são destacados de sua conexão em fluxo com os momentos de mais
conteúdo da atividade e ossificados em funções exclusivas.
A manufatura cria, portanto, em todo ofício de que se apossa, uma classe
dos chamados trabalhadores não qualificados, os quais eram rigorosamente
excluídos pelo artesanato. Se ela desenvolve a especialidade inteiramente
unilateralizada, à custa da capacidade total do trabalho, até a virtuosidade, ela já
começa também a fazer da falta de todo desenvolvimento uma especialidade. Ao
12
lado da graduação hierárquica surge a simples separação dos trabalhadores em
qualificados e não qualificados. Para os últimos, os custos de aprendizagem
desaparecem por inteiro. Para os primeiros, esses custos se reduzem, em comparação
com o artesão, devido à função simplificada. Em ambos os casos caem o valor da
força de trabalho. A desvalorização relativa da força de trabalho, que decorre da
eliminação ou redução dos custos de aprendizagem, implica diretamente uma
valorização maior do capital, pois tudo que reduz o tempo de trabalho necessário
para reproduzir a força de trabalho amplia os domínios do mais-trabalho (MARX,
1983:276).
A Construção Civil possuí um sistema de hierarquização das funções exercidas pelos
trabalhadores num sistema de parcelamento do trabalho, em que ocorre uma especificidade
em cada função. Na obra, o engenheiro é que detém o conhecimento de todo o processo
produtivo. Quais os materiais empregados na obra, quanta mão-de-obra será necessária, qual a
função que cada trabalhador exercerá para alcançar o objetivo proposto, que no caso é a obra
pronta. O segundo posto na hierarquia da obra é ocupado pelo mestre, que detém parte do
conhecimento. Ele acompanha o processo construtivo da obra, fiscaliza o desempenho dos
funcionários e a utilização dos materiais de construção. O mestre de obra é sempre uma
pessoa de confiança do Engenheiro e detém conhecimento do processo e conhece a mão-de-
obra empregada em cada atividade. A obra é sub-dividida por setores: setor de instalações
hidro-sanitárias, setor de instalação elétrica, setor de pintura, setor de azulejista e setor de
pedreiro. Em cada setor da obra possui um encarregado com seus respectivos subordinados.
O pedreiro tem a função de executar diversas atividades como, assentar tijolos,
reboco, contra-piso e concretagem de estrutura e sob suas ordem está a figura do meia-colher
e do orelha seca, que respondem diretamente ao pedreiro, que reponde ao encarregado, que
responde ao mestre e por fim o mestre que responde ao Engenheiro, portanto, cada
trabalhador, em sua função é detentor de determinado conhecimento. Quanto mais baixa for a
posição do trabalhador dentro da empresa, menos conhecimento sobre o processo produtivo
ele tem.
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O mundo moderno, compreendido em função das implicações do comportamento
social, passa a ser vinculado ás funções profissionais que o homem desempenha. Se
atentarmos às palavras de Durkheim a respeito da direção da pedagogia, como emergindo do
conhecimento e do atendimento às necessidades sociais, pode-se observar que uma das
possibilidades da educação é voltar-se para o campo profissional, na preparação para o
desempenho de uma profissão ou de uma ocupação. Não que a função educacional esteja
exclusivamente empenhada na formação do trabalhador; a educação tem por função precípua
formar o homem através do desenvolvimento de todas as suas potencialidades, em adequação
ás transformações sociais típicas das sociedades modernas.
Para Teixeira (1997:49) as demandas industriais em mutação, querem oriundas do
setor de serviço, como por exemplo, a construção civil, ou de manufatura, são questões
centrais nos debates sobre educação e emprego. Ambos os sistemas indústria e educação
têm dinâmicas diferentes, em conseqüência de interesses basicamente diferentes. A indústria,
em uma sociedade fundada no modo de produção capitalista enfoca, em primeiro lugar, a
vantagem competitiva, a demanda do cliente e a permanência no mercado. A educação, por
outro lado, tem uma gama de responsabilidade perante a sociedade, como um todo, tais como
a preparação dos jovens para a vida e a oferta de uma vasta base de conhecimento a partir da
qual os jovens possam desenvolver-se.
É para este tipo de trabalho e de educação que o trabalhador precisa ser educado, em
que este trabalhador possa se desenvolver; esta educação ocorre no seio do processo produtivo
e no conjunto das relações sociais mais amplas; a vida, individual e coletiva, tem que se
organizar para o rendimento máximo do aparato produtivo, o que significa que as bases do
desenvolvimento intelectual e moral são os interesses do capitalismo.
14
Contudo, ao educar o operário para o trabalho parcelado, cada trabalhador exerce
apenas uma determinada função, onde não tem domínio sobre todo o processo de produção, e
heterogerido, necessariamente se reforça a dimensão do “coletivo”, categoria fundamental
para a superação do modo de produção capitalista. Percebendo-se como parte de uma
totalidade mais ampla, inserido nas teias de relação sociais e técnicas determinado pelo
processo produtivo, o trabalhador aprende a organizar-se e a trabalhar coletivamente, ao
mesmo tempo em que vai aprimorando o conteúdo do trabalho; ou seja, ele se educa para o
trabalho socializado (KUENZER, 1995:114).
Se voltarmos especificamente para o setor da Construção Civil, podemos considerar
as afirmações de Ferretti (1995) que faz uma análise para a indústria brasileira:
Dada à condição de pouco avanço tecnológico que caracterizou a
indústria, desde o seu início a bem pouco tempo, e também em função dos
parâmetros empregados, é provável que, na maior parte dos casos, as empresas
puderam satisfazer suas necessidades produtivas valendo-se, majoritariamente, de
mão-de-obra não qualificada, ou pouco qualificada, posteriormente “formada” no
próprio local de trabalho, ao sabor das necessidades emergentes. A produção
majoritariamente voltada para o mercado interno, pode assim organizar-se com um
mínimo de investimento em tecnologia. Por conseqüência pôde, com certa
tranqüilidade, produzir em um contexto de baixa competitividade, com o grosso da
mão-de-obra não preparada ou pouco preparada, mas apta à execução das tarefas
rotineiras e repetitivas demandadas pelo trabalho simplificado, valendo-se,
simultaneamente, de um contingente numericamente inferior, mas qualitativamente
superior, de trabalhadores tecnicamente qualificados, ainda que de forma restrita.
A negação do caráter ao mesmo tempo teórico e prático do trabalho justifica a
separação entre decisão e execução, trabalho intelectual e manual, a partir do que se justifica a
dominação do capital sobre o trabalho. Neste contexto a “pedagogia capitalista”, aqui
entendido por Keunzer, como a maneira que as empresas querem que os funcionários sejam
educados, educação essa voltada para suprir as necessidades da empresa, alienando o
trabalhador e produzindo desta forma, o sentido e a própria incompetência no operário, na
15
medida em que lhe é negado o acesso ao saber escolar e o seu saber, adquirido no exercício do
trabalho, é desvalorizado em função do seu caráter fragmentário, de reduzida sistematização e
baixo nível de elaboração conceitual.
Marx (1983) afirma que as relações burguesas de produção são as últimas formas
antagônicas do processo social de produção, proveniente das condições sociais de vida dos
indivíduos. As forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa brindam
ao mesmo tempo, as condições materiais para a solução deste antagonismo.
O homem não é só um animal social, mas um animal que se individualiza em
sociedade. O homem não produz de forma isolada, fora da sociedade, tal produção é fruto do
trabalho de uma sociedade, não sendo possível produção sem um instrumento de produção,
sem trabalho passado, acumulado, nem que seja a habilidade adquirida e concentrada na mão
do selvagem pelo exercício de produção. Portanto, o capital é também um instrumento de
produção, é também trabalho passado, materializado. A produção é sempre determinada pelo
corpo social, um sujeito social, que exerce sua atividade em uma maior ou menor totalidade,
mais ou menos rica de esfera de produção.
O trabalhador é um instrumento de produção e sendo este trabalhador
um trabalhador assalariado, despossuído dos meios de produção, vende sua força de
trabalho para garantir os meios necessários à sua sobrevivência. Ao capitalista que
compra essa força de trabalho, cabe faze-la produzir valor: assim, o processo de
consumo da força de trabalho é ao mesmo tempo processo de produção de
mercadoria e de valor excedente. Ao comprar essa força de trabalho e ao incorporá-
la aos meios de produção, o capitalista passa a ser seu proprietário, cabendo-lhe
utilizá-la de tal maneira a produzir o maior valor possível. Assim, o trabalhador se
caracteriza por não possuir mais sua força de trabalho, que passa a ser controlada
externamente a ele, ao mesmo tempo em que ele se aliena do produto na medida
que este, fruto do seu trabalho coletivo, se separa dele, escondendo seu caráter de
resultante de relações sociais entre pessoas que trabalham para aparecer como
resultante de relações sociais entre coisas. Desta forma, o trabalhador assalariado
não se percebe no produto de seu trabalho, que se constitui em mero fragmento de
um processo maior que ele não domina, não controla e que não lhe pertence
(KUENZER, 1995: ´76).
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Compreendido desta forma, o trabalho no modo de produção capitalista se apresenta
de forma diferente do trabalho do artesão. Enquanto este exigia o domínio completo do
processo de trabalho, adquirido durante anos de experiência, caracterizado pela unidade entre
concepção e ação, controlado pelo próprio trabalhador, mobilizador de capacidade intelectual
e criativa, o trabalho capitalista se desenvolve a partir da desqualificação. Quanto mais se
desenvolve a mecanização, mais ele se fragmenta e se automatiza, menos domínio do saber
sobre o trabalho total ele exige, menos energias intelectuais e criativas ele mobiliza.
As percepções, nas empresas, sobre educação e aprendizagem estão passando por
mudanças rápidas, segundo Kessels (1997:209). Os significados de conhecimento,
aprendizagem e trabalho vivenciaram uma revolução, que passou praticamente despercebida.
Contrariamente à convicção de que os seres humanos representam os mais importantes
recursos e capital de uma empresa, a realidade da reestruturação e da reengenharia do
processo, maneiras diferentes de executar determinado serviço, se concentra no aumento da
produtividade e na redução dos custos da mão-de-obra, mesmo sendo esta mão-de-obra
importante no processo produtivo, desenvolve-se um processo de segregação entre
trabalhadores altamente talentosos e informados e o pessoal da área de prestação de serviços.
Os trabalhadores serão vistos como recursos desde que contribuam para a competência
principal da empresa e sua produtividade de conhecimento, onde o conhecimento do
trabalhador em uma única tarefa contribui para o aumento de sua produtividade, ocorrida
devido à fragmentação do trabalho a especialização em uma única função. Esta perspectiva
tem impacto definitivo sobre a capacidade de aprender, bem como sobre o sistema
educacional e os novos desequilíbrios sociais.
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Segundo Hirata (1997:32) os trabalhadores são vistos pelas empresas como
colaboradores do sistema de produção, utilizando um novo conceito de produção levando a
uma nova maneira de pensar a divisão do trabalho e uma concepção renovada do lugar do
indivíduo na organização. Uma das soluções apresentadas por este autor para fazer face as
alteração do mercado de trabalho consiste na ênfase dada à formação como instrumento de
empregabilidade, que nada mais é do que a capacidade do indivíduo obter um emprego,
fazendo com que o trabalhador deixa de ser especializado em determinada tarefa e passa a ser
valorizado pela capacidade de adaptação as novas funções, estas adquiridas no decorrer da sua
vida profissional.
Para Minvielle (1997:180), a noção de empregabilidade encontra-se equipada com
uma virtude que poderia intitular-se liberdade. Porém uma liberdade limitada, liberdade
controlada, estritamente profissional nesta nossa abordagem, liberdade propriamente dita, pois
se trata de dar a cada indivíduo capacidade de se autogerenciar em diversos universos, de tal
modo que ele não tenha que vivenciar situações de assistência e de dependência que
contribuiriam para a sua marginalização e exclusão progressivas do funcionamento social
global.
Segundo este mesmo autor, a educação, em todos os seus componentes, é um dos
sistemas (pequeno ou grande) nos quais os homens estão aptos a produzir as construções
sociais, mas também a direcionar o futuro de suas funções sociais. Enquanto tais, a educação
e a formação profissional, em particular, podem ser pensadas e apreendidas como processo de
socialização reconstruído.
Para Teixeira (1997:48), o aprofundamento da globalização que afetou todos os
18
setores econômicos, trouxe o domínio do conhecimento para a condição de diferencial
competitivo.
A educação, antes tratada de forma desconectada da vida profissional, passou a ser
um dos fatores referenciais para planejar, acelerar ou reformular carreiras. As instituições
formais de ensino, as empresas de treinamento e as consultoras foram obrigadas a iniciar um
processo de revisão dos seus paradigmas, passando de autoridade no assunto para a condição
de fornecedores interessados em ouvir seus clientes.
Ainda hoje é válida a afirmação de DiRocco.
uma tendência para organizar a formação do homem sob um aspecto
interessado, voltado para o desempenho de uma função profissional. Não se trata de
fornecer, apenas, uma cultura geral, necessária, porém insuficiente se não for
complementada pelo preparo profissional, antes mesmo de se atingir o nível superior
de escolaridade (1979:34).
A Unesco empenha-se em destacar a importância da Educação de Adultos no
contexto da Educação Permanente, tanto quanto na Educação Formal. Entretanto, existe um
grande desequilíbrio entre as recomendações e a realidade, havendo uma grande defasagem
entre as conclusões apresentadas pelas Conferências Internacionais e as realidades
educacionais. A maioria dos países está longe da realização da Educação Permanente.
Observações apresentadas por Delors (2003), mostram que a educação para fins
econômicos não parou de crescer na maioria dos países. As comparações internacionais
realçam a importância do capital humano e, portanto, do investimento educativo para a
produtividade. A relação entre o ritmo do progresso técnico e a qualidade da intervenção
humana torna-se, então, cada vez mais evidente, assim como a necessidade de formar agentes
econômicos aptos a utilizar as novas tecnologias e que revelem um comportamento inovador.
19
Requerem-se novas aptidões e os sistemas educativos devem dar respostas a esta necessidade,
não assegurando os anos de escolarização ou de formação profissional estritamente
necessário, mas formando cientistas, inovadores e quadros técnicos de alto nível.
Para Delors (2003), o mundo do trabalho constitui, igualmente, um espaço
privilegiado de educação. Trata-se, antes de qualquer coisa, da aprendizagem de um conjunto
de habilidades e, a este respeito, importa que seja mais reconhecido na maior parte das
sociedades, o valor formativo do trabalho, em particular quando inserido no sistema
educativo.
Como elemento integrador da Pedagogia, a educação dos adultos na função
Permanente conforme prescreve o Parecer nº11/00/CNE/CEB, a educação deve ser um
processo que englobaria os aspectos de formação e de transformação, sistematizando e
permitindo aberturas para que novas formas pudessem ser incorporadas ao sistema. A
educação não mais seria apresentada como uma multiplicidade de situações desconexas, mas
sim, como uma cadeia de atos, ações e conhecimento dando margem à diversificação, sem
comprometimento do todo. A educação permanente representaria esse elo, e responderia a
uma necessidade do mundo atual, a de constante atualização de comportamento, atitudes,
hábitos e habilidades dos trabalhadores. Mas as formações oferecidas pelas empresas aos
trabalhadores em serviços não formam profissionais prescritos na função permanente do
referido parecer. Ela forma um homem desvinculado da ação reflexão, isto é, da teoria e da
prática.
Nesta mesma linha de pensamento do parecer 11, Di Rocco (1979:98) afirma que:
20
Devemos entender a educação permanente como um processo educativo
sem interrupção para satisfazer as exigências profundas da personalidade humana
no seu desenvolvimento e para responder às interrogações cada vez mais freqüentes
de um mundo em transformação.
Para Kuenzer (1994:114), o homem também está inadaptado em face do reduzido
grau de consciência de sua situação de trabalhador e cidadão. Esta ausência de consciência
política é, também, um problema de educação, em um país onde a exclusão do sistema
educacional é a norma, praticamente inexistem alternativas pedagógicas para a classe
trabalhadora e a ação pedagógica dos sindicatos é tradição recente.
O trabalhador não nasce com uma consciência de classe, uma vez que, a
imediatibilidade está presente, não possuindo a consciência de classe que possa captar a
realidade que supere esta imediatibilidade.
Este paradoxo que resulta da condição de meia-cidadania do trabalhador, da qual a
precária formação de consciência política é resultado, é o que o trabalhador não consegue
ocupar, de modo eficiente, quer os espaços conquistados na luta sindical e movimentos
sociais, quer os espaços concedidos na empresa. Ou seja, aprofunda-se o descompasso entre
os avanços do capital na manutenção de sua hegemonia e a capacidade dos trabalhadores de
se articularem na constituição de seu próprio projeto. E isto é também, e não só, um problema
de consciência política. É mais do que hora de articularem-se todos os esforços na discussão
de alternativas teórico-metodológicas que orientem propostas de ação voltadas para a
formação da consciência política do trabalhador, quer da construção civil quer de qualquer
outra atividade profissional (KUENZER,1995: 77).
na década de 1960, Freire (2003:96), via uma sociedade em transformação que
sofria alterações tão profundas e às vezes até bruscas e em que as tendiam a ativar cada vez
21
mais o povo em emersão, necessitava de uma reforma urgente e total no seu processo
educativo. Reforma que atingisse a própria organização e o próprio trabalho educacional em
outras instituições ultrapassando os limites mesmos das estritamente pedagógicas.
Necessitava-se de uma educação para a decisão, para a responsabilidade social e política.
A educação terá de ser, acima de tudo, uma tentativa constante de mudança de
atitude dos educandos. De criação de disposições democráticas através da qual se substituísse
nos brasileiros, antigos e culturológicos hábitos de passividade, por novos hábitos de
participação e ingerência, de acordo com o novo clima da fase de transição (Freire, 2003:10).
Não seria, porém, com essa educação desvinculada da vida, centrada na palavra, em
que é altamente rica, mas na palavra “milagrosamente” esvaziada da realidade que deveria
representar, pobre de atividades com que o educando ganhe a experiência do fazer, que
desenvolveríamos no brasileiro a criticidade de sua consciência, indispensável à nossa
democratização.
Se uma educação que possibilitasse ao homem a discussão corajosa
de sua problemática. De sua inserção nesta problemática. Que o advertisse dos
perigos de seu tempo, para que, consciente deles, ganhasse a força e a coragem de
lutar, ao invés de ser levado e arrastado à perdição de seu próprio “eu”, submetido
às prescrições com o outro. Que o predispusesse as constantes revisões. A análise
crítica de seus “achados”. certa rebeldia, no sentido mais humano da expressão.
Que o identificasse com métodos e processos científicos (FREIRE,2003:97).
Cada vez mais nos convencemos que o homem brasileiro teria de ganhar a sua
responsabilidade social e política, exigindo essa responsabilidade. Participando. Ganhando
cada vez maior ingerência nos destinos da escola do seu filho. Nos destinos do seu sindicato.
De sua empresa, através de agremiações, de clubes, de conselhos. Ganhando ingerência na
22
vida do seu bairro, de sua igreja. Na vida de sua comunidade rural, pela participação atuante
em associações, em clubes, em sociedades beneficentes, Freire (2003:100).
Para Freire numa visão pedagógica, entende que, para o homem, o mundo é uma
realidade objetiva, independente dele, possível de ser conhecida. Ressalta, porém, que o
homem é um ser aberto à realidade, o que o faz ser o ente de relações que é, e não de
contatos. Com características distintas dos outros seres, o homem é dotado de uma pluralidade
de relações com o mundo quando, entre outros comportamentos, organiza-se, testa-se, age e
discerne. Em discernindo, o homem descobre sua temporalidade e, com a consciência desta,
descobre sua historicidade. Como conseqüência disso, o homem acaba sendo ativo e
eminentemente interferidor em sua própria realidade, sendo por isso capaz de modificá-la.
Para se integrar ao seu contexto, porém, para criá-lo e recriá-lo, é preciso haver uma crítica de
sua consciência que possibilite sua interação com o mundo.
Essa consciência crítica, segundo Freire (2003:113), deve ter como base o
conhecimento, ao mesmo tempo em que é despertada por ele. O conhecimento que considera
o ponto de partida individual, o mundo vivido de cada um, com toda a carga de experiência
que representa esta realidade. Nesse sentido, não existe transmissão como única de viabilizar
informações, mas elas são apreendidas na medida em que se estabelecem relações
dialógicas, apoiadas na responsabilidade social e política. A consciência crítica, formada
sobre os pilares da interação, da reciprocidade e da liberdade, é que permite ao homem
inserir-se no contexto social e criar nele sua realidade.
Segundo Souza apud Spinoza (2000) circunstâncias exteriores, como as políticas e
as sociais, podem obstruir a evolução do homem e o seu crescimento. Quando se podem
23
desenvolver livremente as possibilidades que lhes são inerentes, é que o ser humano pode
viver como uma pessoa livre.
A visão da liberdade tem na pedagogia, voltada para a participação livre e crítica dos
educandos, um dos pilares na formação do homem, pois a alfabetização e a conscientização
jamais se separam em que todo o aprendizado deve encontra-se intimamente associado à
tomada de consciência da situação real vivida pelo educando (FREIRE,2003:55).
Em Marx (1985), encontramos um aprofundamento da questão em relação a trabalho
e consciência: o modo como se trabalha marca a consciência, mas a consciência também
marca o modo como se trabalha. É uma interação entre “mãoe “cabeça”, entre corpo” e
“mente”. Dessa forma, o conhecimento humano está intimamente relacionado com o trabalho.
Segundo esse filósofo, o trabalho é um fator positivo e também é inerente à condição humana
e, fundamentalmente, seria positivo ser um trabalhador. O trabalho é o que define o modo
humano de existir. Mas, na visão capitalista, o trabalhador trabalha para os outros. Seu
trabalho é externo embrutecedor, constrangedor, fazendo a esse trabalhador se alienar em
relação a sua atividade e, em relação a si mesmo.
Cada trabalhador que assume um posto de trabalho traz consigo todos os seus papéis
sociais, memórias, histórias e sentimentos e, por isso, não devem ser encarados meramente
como um executor de um papel estritamente profissional ou cumpridor de uma mera tarefa. A
educação tem aí um papel fundamental.
A superação de posições reveladoras de descrença no educando. Descrença no seu
poder de fazer, de trabalhar, de discutir. Ora, a democracia e a educação democrática se
24
fundam ambas, precisamente, na crença do homem. Na crença em que ele não pode, mas
deve discutir os seus problemas. Os problemas do seu País, do seu continente, do seu mundo,
e os problemas do seu trabalho e os problemas da própria democracia. A educação é ato de
amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não
pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa (FREIRE, 2003:58).
Este autor afirma a necessidade de aproveitar a experiência que têm os alunos na
vivência do deu dia a dia, em que podemos considerar ambientes de trabalho tão complexos
para discutir questões de segurança e desempenho na sua área de atuação. O orelhas-seca e o
meia colher, como relacionar a sua profissão com algo essencial ao desempenho de toda a
construção civil. Para Freire (1996: 36),
(...) discutindo a sua realidade concreta a que se deva associar a
disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a
constante e a convivência das pessoas é muito maior com a morte do que com a
vida. Por que não estabelecer necessária intimidade entre os saberes curriculares
fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos.
A empresa, particularmente no ramo da construção civil, vem oferecendo programa
de formação para os trabalhadores. São cursos relacionados quase sempre com a segurança e
saúde do trabalhador e sua alfabetização. Esses programas de formação do trabalhador fazem
partem das exigências do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat e da
obtenção das ISO’s.
1.2 Educação dos trabalhadores e a educação dos trabalhadores da construção
civil.
A educação tem um papel fundamental nas relações trabalhistas. Para Freire, (2005),
a Educação de Adultos deve ser sempre Educação Popular em que ela é sobretudo o processo
permanente de refletir a militância; refletir, portanto, a sua capacidade de mobilizar-se em
25
direção a objetivos próprios:
Educação de Adultos viveu um processo de amadurecimento
transformando a compreensão que havia anos atrás. O conceito de Educação de
Adultos vai se movendo na direção de Educação Popular na medida em que a
realidade começa a fazer algumas exigências à sensibilidade e à competência
científica dos educadores e das educadoras (p. 15).
A partir desta afirmação nada mais importante que relembrar que a história da
Educação de Jovens e Adultos no Brasil, passa a considerar que este adulto principalmente o
jovem trabalhador. Houve um momento que considerava que essa formação deveria passar
pelo conhecimento dos diferentes níveis da escrita, segundo Di Rocco:
Os analfabetos propriamente ditos: sem nenhum conhecimento dos
rudimentos da comunicação escrita.
Os semi-analfabetos: que têm conhecimento parcial, descontínuo e
unilateral destes rudimentos (freqüentemente em conseqüência de regressão).
Analfabetos funcionais: que têm um conhecimento suficiente para a
situação na qual eles vivem atualmente, mas insuficiente para uma eventual
adaptação a uma nova situação.
Os letrados: que dominam ambas as formas da comunicação: escrita e
leitura (1979:12)
Outros conceitos de educação voltados para a formação do trabalhador são utilizados
muitas vezes como sinônimos ainda que não sejam. Os diferentes conceitos que tem origem
em decorrência do método pedagógico utilizado, de quem promove e a quem se destina esta
educação são muitas vezes confundidos. Educação de adultos, educação popular, educação
não-formal e educação comunitária são usados às vezes de forma indistintas para explicar o
processo de formação do trabalhador. É necessário, entretanto fazer algumas distinções.
Educação não-formal que quase sempre, está vinculada a organizações não-
governamentais, partidos políticos, sindicatos e igrejas. A educação não-formal normalmente
está associada a atividades profissionalizantes e exercida a projetos de educação comunitária,
26
onde se procura formar os cidadãos para uma atividade afim.
Outros conceitos, muito utilizados, para explicar a formação dos trabalhadores estão
em Casali (1997:16), que considera a educação um processo de desenvolvimento do
trabalhador, em que essa formação seria realizada em três modos distintos. A primeira é a
idéia que identifica essa educação:
(...) como o início do processo do desenvolvimento do indivíduo;
quando ocorrem os primeiros níveis de ensino. É a chamada educação básica,
constituída pelo primeiro e o segundo grau que, somando o curso universitário
integram a preparação do engenheiro, médico, e outros profissionais.
A segunda considera a educação do trabalhador como sendo centralmente Formação
Profissional, que é o complemento da educação básica. É a adaptação do profissional à
evolução de sua profissão, da tecnologia ou das novas formas de gestão. E por ultimo a
educação do trabalhador como Treinamento em que ele “é entendido: preparação do
profissional para exercer corretamente uma função ou tarefa dentro da organização. É o
treinamento no posto de trabalho ou voltado a ele. É uma função prioritária da empresa”
(CASALI, 1997:16).
A alfabetização surge, pois, como possibilidade de desenvolvimento individual, no
sentido de eliminar a marginalização, pois marginal seria aquele que não tem condições de se
integrar no seu meio Di Rocco (1979). Para ela não só a simples alfabetização, mas a
educação na sua forma mais abrangente representaria elementos essenciais de
desenvolvimento social.
Segundo Di Rocco o interesse, como mola mestra da aprendizagem, foi demonstrado
27
como indispensável por inúmeros estudiosos. As crianças são atendidas quanto a esse aspecto
no seu mundo escolar; e, atualmente, está havendo uma concordância também quanto à
instrução dos adultos. “A maioria dos educadores concorda que o currículo e os métodos vêm
relacionar-se tanto com as metas da educação como com as necessidades do estudante” (DI
ROCCO apud KIDD, 1979:19).
Nesta mesma linha, Di Rosso apoiando-se no que diz Kempfer em relação à
diferença entre a alfabetização do adulto e a da criança, considera:
O fato de o adulto ir a busca de escolaridade, respondendo às pressões
de ordem social e econômica para adquirir um diploma, já demonstra por si que
o seu processo de aprendizagem deve ser diferenciado em relação ao da criança.
A educação de adultos, nesse entendimento, deve ser um processo diferenciado da
educação infantil, com professores, ambiente e programa apropriados para atender as
peculiaridades típicas deste processo de aprendizagem:
A diferença se faz necessária, em primeiro lugar, à vista das formas de
desenvolvimento, experiência e porque a atividade escolar do adulto deve
responder, de forma perfeita continuidade entre a vida profissional e familiar e a
vida escolar. Atendendo a esses elementos, o trabalho do adulto na escola, mais do
que as atividades das crianças devem responder as necessidades imediatas da
clientela, dando assim um sentido diferente á escolaridade entre adultos e crianças.
Essa é uma distinção necessária ainda que as razões conceituais sejam distintas.
Nesse sentido, a educação do jovem trabalhador é pensada em outras bases teóricas, em que, a
centralidade é posta não só na distinção adulto e criança, mas no vinculo entre educação e
trabalho.
Paulo Freire (1987:20), nessa perspectiva a educação passa por uma alfabetização
28
em que ela deixa de ser um simples jogo de palavras, porque é através dela que o trabalhador
abre novos caminhos numa reconstrução crítica do mundo. A alfabetização, portanto é toda
pedagogia: aprender a ler á aprender a dizer a sua palavra. Em que a palavra humana imita a
palavra divina: É criadora.
De acordo com Kuenzer (1994:114), pode-se definir a educação para os
trabalhadores em seu conceito mais amplo, superando a idéia de escolaridade para adotar a
compreensão de que ela ocorre no interior das relações sociais, reconhecendo a dimensão
pedagógica do conjunto dos processos que se desenvolvem em todos os aspectos da vida
social e produtiva. Este conceito mais amplo de educação incorpora o conceito de trabalho,
reconhecendo a sua dimensão pedagógica e a necessidade da educação escolar vincular-se ao
mundo do trabalho e à prática social, uma vez que o fim da educação é preparar o cidadão
para constituir-se como humanidade participando da vida política e produtiva.
As necessidades básicas, como saúde, segurança, educação sanitária, cultivo da
terra, locomoção e outras dependem constantemente da utilização de livros, avisos, anúncios,
recomendações, bulas e, sem os conhecimentos adequados, não haveria possibilidade de
decifrar essas mensagens, o que restringiria o campo das decisões e a apresentação de
melhores soluções. Da mesma forma o indivíduo não poderia ser beneficiado com os recursos
advindos da leitura e escrita, no sentido de um maior conhecimento e compreensão do mundo
que o cerca.
Um histórico sobre a Educação de Jovens e Adultos se faz necessário para
compreendermos os processos e evoluções ocorridas ao longo do século XX até o início do
século XXI.
29
A discussão do analfabetismo no Brasil, segundo Fávero (2004), se faz presente
desde a Colônia e o Império. Somente em 1947, a União lança, em plano nacional, a primeira
campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), que visava a uma ação ampla,
compreendendo a aprendizagem da leitura e da escrita, as operações elementares do cálculo,
as noções básicas de cidadania, higiene e saúde, geografia e história, puericultura e economia
doméstica para as mulheres, porém praticamente se restringiu à alfabetização.
Em 1945 foi criada a UNESCO, agência das Nações Unidas especializada em
educação. Desde sua criação, trabalhou para aprimorar a educação mundial por meio de
acompanhamento técnico, estabelecendo parâmetros e normas, criando projetos inovadores,
desenvolvendo capacidades e redes de comunicação atuando como um catalisador na
proposta e disseminação de soluções inovadoras para os desafios encontrados. O estreito
contato com Ministérios da Educação e outros parceiros em 188 países colocaram isso como
eixo central de ação.
O Brasil faz parte do E-9, grupo dos países mais populosos do mundo, em que a
UNESCO promove ações prioritárias de desenvolvimento no Setor de Educação. A
principal diretriz da UNESCO é a Educação para Todos, onde são desenvolvidas ações
direcionadas ao fortalecimento da capacidade nacional, acompanhamento técnico, apoio à
implementação de políticas nacionais de educação através de diversos projetos,
aprimoramento e democratização da educação em todos os seus níveis e modalidades.
Segundo Di Rocco (1979:116), O Plano do Departamento de Ensino Supletivo do
MEC constante no documento “Estratégia Nacional do Ensino Supletivo”, apresentou as
diferentes nuanças que a Educação de Adultos estava adquirindo no país e que ainda se faz
30
necessário ressaltar. O aspecto a ser destacado refere-se ao tratamento dispensado ao adulto
como ser despreparado para enfrentar o mercado de trabalho, dando a impressão de que
bastaria instruí-lo para que tudo se solucionasse. Essa posição é simplista face à realidade,
outros fatores devem ser considerados, tais como:
I – o adulto é um indivíduo que possuí uma história de vida: analfabeto ou não é um
ser vivente, participante e rico em experiência que, por terem sido vivenciadas, marcam seu
“modo de ser”, suas atitudes, sua concepção do mundo;
II a escolaridade, embora de grande valor particularmente quando voltada para a
integração dinâmica do homem ao meio social -, não garante, por si só, a melhoria das
condições profissionais do indivíduo. Outros fatores deverão ser considerados, dentre os quais
a própria disponibilidade do mercado de trabalho. Como investimento à taxa de retorno, a
educação (ou a escolaridade) “é mais durável do que a maioria das formas de capital não
humano reproduzível”, porém de se levar em conta outros fatores cuja interferência pode
afetar a própria rentabilidade do sistema de ensino;
III- a expressão preparação de mão-de-obra para o mercado de trabalho” parece
refletir uma relação direta e inquestionável entre o papel profissionalizante do ensino (como
causa) e o “inevitável” desenvolvimento (como conseqüência).
O “mercado de trabalho” é responsabilidade do sistema econômico e não
educacional. É o plano do desenvolvimento que se situa a questão da ampliação e
diversificação das oportunidades profissionais. Cabe ao sistema educacional a tarefa de
“orientar” o educando no sentido de suas possibilidades e potencialidades, além de garantir,
31
ao nível de escola, amplas oportunidades de opção. É neste sentido que ambos os sistemas
econômico e educacional devem caminhar juntos, a fim de responder à realidade em seu
duplo aspecto: os dos interesses individuais e o das necessidades e exigências sociais.
Se as mudanças tecnológicas, sociais e políticas podem influir na
educação, esta por sua vez deve apresentar uma força em prol do desenvolvimento.
Assim entendida a educação seria considerada como uma forma de estoque de
capital ou de investimento no capital humano, onde a escolaridade representaria um
item importante, entre outros fatores como: migração, saúde, informações
econômicas e treinamento no trabalho (DI ROCCO,1979:116).
Segundo este mesmo autor, o relatório da Conferência de Elsinor, realizado em
1949, na Dinamarca, delineou o quadro da Educação de Adultos nos seguintes termos:
O indivíduo não vive isolado, nem somente para si mesmo, pertence a
uma família e a determinados grupos econômicos, sociais e nacionais, com os quais
tem certas obrigações. Uma educação democrática em que conseguir um equilíbrio
entre o direito do indivíduo a viver livre e humanamente e os deveres com a
comunidade a qual pertence. Assim, a função da educação de adultos consiste em
proporcionar aos indivíduos os conhecimentos necessários para o desempenho de
suas funções sociais, econômicas e políticas, e, especialmente, em capacita-los
mediante a participação na vida de suas respectivas comunidades, para viver de
modo mais completo e harmonioso. Por conseguinte, o objetivo da educação de
adultos não consiste tanto em instruir como formar, em tratar de criar um ambiente
de curiosidade intelectual, de liberdade social e de tolerância, desenvolvendo em
todas as pessoas o desejo e a capacidade para participar do desenvolvimento da vida
cultural de sua época.
A educação para uma civilização em mudança, não deve ser unilateral, formando o
profissional ou o trabalhador ou o homem de cultura. O mundo em constante mudança
conquistou certos padrões irreversíveis, como a necessidade e o direito à educação para todos.
Essa educação não formará o especialista apenas, mas deveformar o homem, entendido
como o conjunto harmônico de potencialidades a serem desenvolvidas, tanto do ponto de vista
físico quanto intelectual e moral.
32
Segundo Motta (1986), no período imediatamente anterior a 64, surgiu três grandes
movimentos pedagógicos-culturais que representam marcos fundamentais para a história da
educação e da cultura no Brasil, que foram: O Movimento de Cultura Popular (MCP),
Movimento de Educação de Base (MEC) e o Centro Popular de Cultura (CPC).
1960/1961 Oliveiro Guanais. Aldo Arantes. Na Presidência do primeiro, começa-se
a elaborar a criação de um centro popular, que no ano seguinte se efetiva. Cresce o
predomínio da AP (Ação Popular). Movimento pela reforma universitária do país, que
consegue repercutir em todas as áreas, a partir da "Carta do Paraná". Criação do Centro
Popular de Cultura (CPC) Criação da UNE-VOLANTE, que leva por todo o país a discussão
da reforma universitária, o teatro e o cinema populares.
O MCP tinha por objetivo promover a educação das massas e valorizar a suas
expressões culturais, no sentido de levá-las a uma atuação política comprometida com a
transformação da sociedade (MOTTA,1986). Segundo Fávero (2004) outra das experiências-
matriz do inicio dos anos de 1960, o MCP realiza a proposta de atendimento educacional
tanto para crianças quanto para adultos, recuperando a cultura como elemento fundamental de
compreensão e transformação da realidade.
O MEB movimento educativo preocupado especificamente com a educação e cuja
responsabilidade pedagógica ficaria a cargo da Igreja Católica (MOTTA,1986). Segundo
Fávero (2004) o MEB elaborou o conjunto didático Viver é Lutar, para alfabetizando e pós-
alfabetizados do meio rural nordestino.
33
O MEB é um organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB,
constituído como sociedade civil de direito privado, sem fins lucrativos, com sede e foro no
Distrito Federal, tendo sido fundado em 21 de março de 1961. Tem por missão a promoção
integral, humana e cristã de jovens e adultos, desenvolvendo programas de educação de base.
Há 42 anos realiza ações diretas de educação de base em diversas regiões do Norte e Nordeste
do país, nos estados do Amazonas, Maranhão, Pará, Bahia, Alagoas, Sergipe, Rio Grande do
Norte, Ceará e Piauí.
A coordenação pedagógica, o controle administrativo e a avaliação de resultados das
ações em buscar a promoção integral, humana de jovens e adultos, desenvolvendo programas
de educação popular na perspectiva de formação e qualificação das camadas populares e
promoção da cidadania, buscando trilhar os caminhos de superação de perversos mecanismos
de exclusão social.
No congresso Mundial de Ministros de Educação, realizado em 1965, a Unesco
identifica o método funcional de alfabetização, isto é, o treinamento de mão-de-obra mais
produtiva (GADOTTI, 2005:35), como elemento para o desenvolvimento. O objetivo não é o
simples domínio da leitura e escrita, mas a formação de uma nova mentalidade. Visa-se uma
melhor integração do homem com o meio urbano-industrial e às exigências técnicas do
mundo moderno. A alfabetização funcional distingue-se da alfabetização dita tradicional por
que não representa uma ação isolada, distinta, representativa de um fim em si mesmo, mas
considera o analfabeto em situação de grupo, em função de um meio dado e em sua
perspectiva de desenvolvimento (DI ROCCO,1979:98).
Em 1967 com sede no município de Feira de Santana, foi fundado o Movimento
de Organização Comunitária - MOC surgiu a partir do trabalho social da Igreja Católica.
34
Gradativamente, foi se tornando autônomo, mantendo, contudo, boas relações de
parceria não apenas com a Igreja Católica, como com Igrejas Evangélicas.
Desde o começo, o objetivo do MOC sempre foi despertar as pessoas para
os seus direitos, incentivá-las a se organizar para que, deste modo, pudessem exercer
sua cidadania.
A iniciativa se esboça
com o desenvolvimento de atividades de apoio e
fortalecimento de associações comunitárias rurais e urbanas. Neste período, motivados
pelo MOC e pela Diocese de Feira de Santana, se fortalecem entidades como os
Sindicatos de Trabalhadores Rurais de Feira e, aos poucos, o trabalho se estende a
outros sindicatos, associações e organizações da região.
Um dos objetivos do MOC era Programa
de Educação Rural, que visava contribuir
na construção de uma proposta de educação de melhor qualidade, a serviço do
desenvolvimento local e territorial, valorizando a identidade e a cultura, através da construção
de conhecimento que sirvam para fortalecer a agricultura familiar.
Estes Movimentos de Educação Popular formam desarticulados a partir do golpe
militar de 64, por terem sido vistos como uma grave ameaça á ordem, ficando apenas o MEB,
que prossegue com seus trabalhos, porém inteiramente reformulado e sem a mesma força e
penetração que o caracterizava antes da ditadura militar. A sobrevivência do MEB deve-se
além do fato de pertencer a CNBB, ter concordado em efetuar mudanças teórico-
metodológicas e proceder à substituição de alguns membros dos seus quadros progressistas.
(MOTTA,1986).
O Governo Militar, tendo em vista esse desmantelamento dos projetos ligados aos
movimentos sociais, elabora o seu próprio projeto para a alfabetização de adultos. Para isto,
promulga em 1967 pela Lei número 5.379, que cria o Movimento Brasileiro de Alfabetização.
35
Essa organização foi constituída com autonomia em relação ao Ministério da Educação. A
orientação, supervisão pedagógica e a produção de materiais didáticos eram centralizadas no
governo federal, ficando a responsabilidade pela execução das atividades nas comissões
municipais que foram instaladas em todo o país.
O MOBRAL afirmava que a alfabetização de jovens e adultos deveria visar a
“conduzir a pessoa humana a adquirir cnicas de leitura, escrita e lculo como meio de
integrá-la a sua comunidade, permitindo melhores condições de vida”. Apesar da ênfase na
pessoa, ressaltando-a, numa redundância, como humana (como se a pessoa pudesse não ser
humana), vê que o objetivo do MOBRAL relaciona a ascensão escolar a uma condição melhor
de vida, deixando à margem a análise das contradições sociais inerentes ao sistema capitalista.
Ou seja, basta aprender a ler, escrever e contar e estará apto a melhorar de vida.
A criação do MOBRAL é pensada, como um prosseguimento das campanhas de
alfabetização de adultos iniciadas com Lourenço Filho. que com um cunho ideológico
totalmente diferenciado do que vinha sendo feito até então. Apesar dos textos oficiais
negarem, sabemos que a primordial preocupação do MOBRAL era tão somente fazer com que
os seus alunos aprendessem a ler e a escrever, sem uma preocupação maior com a formação
do trabalhador.
O Mobral, que inicialmente tinha a missão de coordenar as atividades de
alfabetização de adultos em curso, a rigor restritas à Cruzada ABC, e as experiências
de alfabetização funcional, tutelada pela Unesco. O Mobral se converteu no maior
movimento de alfabetização de jovens e adultos realizados no país, com inserção
em praticamente todos os municípios brasileiros. Além da alfabetização, que
concretamente representou a certificação de milhares de trabalhadores mobilizados
para as grandes obras públicas e para a construção civil, o Mobral desenvolveu
também o Programa de Educação Integrada, equivalente às quatro primeiras séries
do ensino fundamental. (FÁVERO,2004).
36
Com o fim no final da ditadura militar, o Mobral é substituído pela Fundação
Educar, agora dentro das competências do MEC e com finalidade específica de alfabetização
atuando como via de apoio financeiro e técnico não exercendo diretamente os programas,
ficando a cargo de outros níveis de governo, de organizações não governamentais e de
empresas.
No Brasil a Lei de Diretrizes e Base da Educação de 9394 de 20 de dezembro de
1996 estabelece no Artigo 37 que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) será destinada
àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na
idade própria, devendo:
Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos
adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades
educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus
interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.
O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do
trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.
Em 1997 começou com o apoio da UNESCO, o Projeto Alfabetização Solidária que
é um das ações desenvolvidas pelo Conselho do Programa Comunidade Solidária. O
propósito principal do projeto é a erradicação do analfabetismo entre a população de 15 e 19
anos de idade, dando prioridade aos municípios com taxas mais altas de analfabetismo e aos
centros mais populosos no Brasil, através da parceria entre o setor público e o privado.
O projeto pretende o desenvolvimento e consolidação da consciência de cidadania,
recuperando e integrando a grande parte da população excluída da sociedade instruída;
fomentar parcerias com Universidades e municípios no processo de avaliação de Projeto;
planejar, supervisionar e disseminar as atividades do projeto implementado com as
universidades, municípios e empresas privadas; co-associar e integrar, tanto quanto possível,
37
iniciativas e ações para a inclusão e continuidade dos estudos desses estudantes recém
instruídos, no âmbito da educação básica regular para jovens e adultos, o chamado supletivo.
O Projeto Alfabetização Solidária vem atuando com o objetivo de reduzir o índice
de analfabetismo e ampliar a oferta pública de Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil.
Atua mediante um processo de mobilização social e a articulação de um conjunto de parcerias
mantidas com empresas, organizações, instituições de ensino superior, pessoas físicas,
prefeituras, governos estaduais e federal (MEC) e tem contribuído para a diminuição dos
índices de analfabetismo com a formação de mais de mais de 4 milhões de brasileiros.
O segundo Congresso Internacional sobre o ensino técnico e profissional,
organizado pela UNESCO em cooperação com a República da Coréia, ocorreu em Seul no
período de 26 a 30 de abril de 1999. Teve como objetivo garantir aos Estados membros da
UNESCO uma tribuna visando à renovação da política nacional de ensino técnico e
profissional (ETP) a fim de abordar a questão do trabalho e os outros desafios sócio-
econômicos dos primeiros anos do século XXI.
Essas tendências sociais e econômicas ditam a necessidade de um novo modelo de
desenvolvimento centrado na cultura da paz e no desenvolvimento sustentável do ambiente.
Em conseqüência, os valores, as atitudes, as políticas e as práticas do ETP devem ter como
fundamento esse modelo que englobará a integração e o maior acesso, uma reorientação
dirigida às necessidades do desenvolvimento humano e autonomia para participar eficazmente
do mundo do trabalho. A ênfase deve recair sobre as necessidades e o potencial do indivíduo
na sociedade. O ETP tem um papel decisivo a desempenhar neste novo modelo oferecendo
qualificações a todos, integrando os pobres e os excluídos de forma que a educação
38
permaneça um direito fundamental do ser humano que ele possa exercer. A generalização do
ETP e das competências de aprendizagem que ele confere favoreceria o acesso de todos os
cidadãos do mundo à educação. É necessária uma nova abordagem holística de maneira que a
educação para o século XXI abranja todos os domínios da aprendizagem, incluindo a
formação geral e profissional, permitindo ao formando do século XXI adquirir
constantemente, ao longo de toda a vida, conhecimentos, valores e atitudes, competências e
qualificações. A finalidade desta abordagem seria a criação de uma sociedade educativa.
O Fórum Mundial de Dacar, de abril de 2000, fixou algumas metas da Educação
para Todos, abrangendo assim os compromissos assumidos em São Domingo pelos Ministros
da América Latina e do Caribe, através do seu Plano de Ação. Os Ministros se
comprometeram a fazer com que os Estados trabalhem em conjunto com a sociedade civil nas
políticas, estratégias e ações destinadas a alcançar as metas estabelecidas. Entre as metas a
serem alcançadas está a preocupação com aqueles que abandonaram a educação formal sem
ganhar acesso a uma educação de qualidade. A realidade do atual mercado de trabalho, em um
contexto de poucas oportunidades para o emprego formal, exige o treinamento para o
emprego, superando obstáculos para assegurar uma transição efetiva do sistema escolar para o
emprego.
Reconhecendo a importância da Educação de jovens e adultos o Parecer da Câmara
de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, que estabelece as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos (Parecer CNE/CEB 11/2000),
alerta para a função reparadora da EJA como resgate do direito negado ao acesso à educação
escolar. Sabedores da dissociação da educação profissional e tecnológica e da educação básica
considera-se imperioso, portanto, adotar medidas que resgatem a educação de jovens e
39
adultos, inserindo-a no âmbito dos princípios e práticas da educação profissional e
tecnológica, bem como vinculando-a a educação básica.
Dentre as ações a serem desenvolvidas no âmbito da Educação de Jovens e Adultos
é de adotar mecanismos de articulação da educação de jovens e adultos trabalhadores à
educação profissional e tecnológica com a participação conjunta dos Ministérios da Educação,
do Trabalho e Emprego, Ciência e Tecnologia e outros, bem como das Secretarias de
Educação, de Trabalho, de Ciência e Tecnologia e outras, implementar medidas que
valorizem a educação de jovens e adultos no mesmo patamar da educação profissional e
tecnológica, propondo, inclusive, matrículas conjuntas como mecanismo de inclusão social.
A educação de jovens e adultos (EJA) representa uma dívida social não reparada pra
com os que não tiveram acesso e nem domínio da escrita e leitura como bens sociais, na
escola ou fora dela, e tenham sido a força de trabalho empregada na constituição de riquezas e
na elevação de obras blicas. Esta observação faz lembrar que a ausência da escolarização
não pode e nem deve justificar uma visão preconceituosa do analfabeto ou iletrado como
insulto ou “vocacionado” apenas a tarefas e funções “desqualificadas” nos segmentos de
mercado (SOARES,2002).
Para este mesmo autor o sentido da EJA é uma promessa a ser realizada na conquista
de conhecimento até então obstaculizados por uma sociedade onde o imperativo do sobreviver
comprime os espaços da estética, da igualdade e da liberdade. Esta compreensão, por outro
lado, também gerado, pelo desemprego ou pelo avanço tecnológico nos processos produtivo,
um tempo liberado. Este tempo se configura como um desafio a ser preenchido não por
iniciativas individuais, mas também por programas de políticas públicas. Muitos jovens ainda
40
não empregados, desempregados, empregados em ocupações precárias e vacilantes podem
encontrar nos espaços e tempos da EJA, sejam funções de reparação e de equalização, seja na
função qualificadora, um lugar melhor de capacitação para o mundo do trabalho e para a
atribuição de significação às experiências sócias culturais trazidas por eles.
Os Ministros da Educação da América Latina e do Caribe, reunidos a pedido da
UNESCO, na VII Sessão do Comitê Intergovernamental Regional do Projeto Principal para
Educação (PROMEDLAC VII), realizada em Cochabamba de 5 a 7 de março de 2001,
reconhecem que a execução desse projeto no curso das duas últimas décadas representa o
esforço mais importante por parte dos países para tornar a educação uma prioridade nas
nossas agendas de desenvolvimento.
Como afirma Paiva (2004) “alfabetizar sem a garantia da escolarização é
insuficiente para alterar o quadro da desigualdade e da exclusão do direito a educação”. Como
sujeito de um direito interditado socialmente, jovens e adultos, quando imersos na atividade
do trabalho, são exigidos, contraditoriamente, da competência para aquilo que lhes foi
interditado: saber ler e escrever. Se não são trabalhadores, não saber ler e escrever acaba
sendo a causa eficiente que lhes faz passar de vítimas a culpados.
No Brasil as Políticas Públicas para a Educação de abril de 2004 ressaltam:
Incorporar a educação sica (fundamental e média) como um direito
garantido que deverá ser assegurado pela universalização desta educação, por meio
da oferta pública e gratuita, pela democratização do acesso e garantia de
permanência. É preciso, pois, assumir o acesso à escola pública de qualidade, que
garanta a todos os cidadãos, a satisfação da necessidade de um contínuo aprendizado
é direito iniludível do povo. Nesse sentido, a educação é um direito social básico e
universal, de importância fundamental, para a construção de uma nação autônoma,
soberana e solidária na relação consigo mesma e com outras nações. A educação
básica, além de ser crucial para uma formação integral humanística e científica de
sujeitos autônomos, críticos, criativos e protagonistas da cidadania ativa, é decisiva,
41
também, para romper com a condição histórica de subalternidade e de dependência
científica, tecnológica e cultural do país.
Plano Nacional de Educação sob a coordenação do INEP (Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais) e, por intermédio do convênio NUPES-USP/UNESCO, foi
elaborado o Plano Nacional de Educação para atender aos dispositivos legais em vigor. A Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Darcy Ribeiro) determinou a elaboração
desse Plano, "com diretrizes e metas para os dez anos seguintes, em sintonia com a
Declaração Mundial de Educação para Todos".
Nos fundamentos, o MEC considerou não somente a Declaração de Jomtien, como
os objetivos acordados em Dacar, destacam-se dois relacionados à alfabetização e à educação
de jovens e adultos:
Garantir que as necessidades básicas de aprendizagem dos jovens sejam
satisfeitas de modo eqüitativo, por meio de acesso a programas de aprendizagem
apropriados;
Atingir, até 2015, 50% de melhoria nos níveis de alfabetização de
adultos, em particular para as mulheres, em conjunção com o acesso eqüitativo à
educação básica e continuada de adultos.
Outros compromissos e recomendações internacionais foram considerados, entre
eles a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento na cidade do Cairo e,
1994, a Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social, também foram levadas em conta as
Declarações de Nova Deli e Amann sobre educação para todos (1993 e 1996,
respectivamente), bem como as recomendações das Conferências Gerais da UNESCO. A
UNESCO/Brasil prestou cooperação técnica ao processo de elaboração e finalização do plano.
42
A Declaração de Hamburgo sobre Educação de Adultos (1997) foi outra das
recomendações levadas em consideração, pois um novo conceito de educação de jovens e
adultos apresenta novos desafios às práticas existentes, devido à exigência de um maior
relacionamento entre os sistemas formais e os não-formais e de inovação, além de criatividade
e flexibilidade. Tais desafios devem ser encarados mediante novos enfoques, dentro do
contexto da educação continuada durante a vida. Promover a educação de adultos, usar a
mídia e a publicidade local e oferecer orientação imparcial são responsabilidade de governos e
de toda a sociedade civil. O objetivo principal dever ser a criação de uma sociedade instruída
e comprometida com a justiça social e o bem-estar geral.
Ainda, de acordo com a Declaração de Hamburgo a alfabetização de adulto,
concebida como o conhecimento básico, necessário a todos num mundo em transformação em
sentido amplo, é um direito humano fundamental. Em toda sociedade, a alfabetização é uma
habilidade primordial em si mesma e um dos pilares para o desenvolvimento de outras
habilidades. Existem milhões de pessoas - a maioria mulheres - que não têm a oportunidade
de aprender nem mesmo o acesso a esse direito. O desafio é oferecer-lhes esse direito. Isso
implica criar pré-condições para a efetiva educação, por meio da conscientização e do
fortalecimento do individuo. A alfabetização tem também o papel de promover a participação
em atividades sociais, econômicas, políticas e culturais, além de ser requisito básico para a
educação continuada durante toda a vida. Portanto, nós nos comprometemos a assegurar
oportunidades para que todos possam ser alfabetizados; comprometemo-nos também a criar,
nos Estados-Membros, um ambiente favorável à proteção da cultura oral. Oportunidades de
educação para todos, incluindo os afastados e os excluídos, é a preocupação mais urgente. A
43
Conferência com agrado a iniciativa de se proclamar à década da alfabetização, a partir de
1998, em homenagem a Paulo Freire.
O reconhecimento do "Direito à Educação” e do "Direito a Aprender por Toda a
Vida" é, mais do que nunca, uma necessidade: é o direito de ler e de escrever; de questionar e
de analisar; de ter acesso a recursos e de desenvolver e praticar habilidades e competências
individuais e coletivas.
Segundo Freire:
A Educação Popular pode ser socialmente percebida como facilitadora da
compreensão científica que grupos e movimentos podem e devem ter acerca de suas
experiências. Esta é uma das tarefas fundamentais da educação popular de corte
progressista, a de inserir os grupos populares no movimento de superação do saber
de senso comum pelo conhecimento mais crítico, mais além do “penso que é”, em
torno do mundo e de si no mundo e com ele. Este movimento de superação do senso
comum implica uma diferente compreensão da História. Implica entende-la e vive-
la, sobretudo vive-la, como tempo de possibilidade, o que significa a recusa a
qualquer explicação determinista, fatalista da História, mas o tempo histórico sendo
feito por nós e refazendo-nos enquanto fazedores dele. Daí que a Educação Popular,
praticando-se num tempo-espaço de possibilidades, por sujeitos conscientes ou
virando conscientes disto, não possa prescindir do sonho. (2005:16)
Alfabetizado é o indivíduo integrado à vida, capaz de ser leitor, escritor e
comunicador, garantindo os outros conhecimentos que ampliem sua inserção crítica e
participativa na sociedade, superando o conceito restrito de que alfabetizado é o “indivíduo
capaz de ler escrever um simples bilhete” (GODOTTI,2005:109).
Para Godotti (2005:107) nas condições atuais, uma política nacional de alfabetização
poderá obter algum sucesso se estiver vinculada a um projeto político-ecônomico,
superando as causas sociais que produzem e mantêm o analfabetismo, que mobilize recursos e
energia de toda a sociedade, não faltando legitimidade social e base política de sustentação.
44
Não se pode esquecer que os jovens e adultos analfabetos são fundamentalmente
trabalhadores, e que na construção civil estes trabalhadores são submetidos a circunstancia de
mobilidade nos serviços, periodicidade da obra e cansaço. Neste sentido algumas empresas do
setor da construção civil vêm fomentando a educação básica e do ensino profissionalizante
durante a jornada de trabalho, com vistas a resolver problemas específicos. Essa educação
oferecida aos trabalhadores, que vem ocorrendo no caso específico da construção civil, tem
como objetivo mais próximo à obtenção da certificação de qualidade das obras por elas
construídas. Essas iniciativas podendo trazer conseqüências positivas não só que diz respeito à
qualificação, mas também abre possibilidades de natureza política pedagógica para o
trabalhador.
É a partir deste contexto que as empresas de construção civil e seus trabalhadores,
começam a desenvolver projetos de formação da mão-de-obra. Essas iniciativas de formação
do trabalhador dentro dos canteiros ocorrerão também em Cuiabá.
CAPÍTULO II
45
O ORELHA-SECA E O MEIA-COLHER: Jovens Trabalhadores da
Construção Civil.
A construção civil é conhecida como o setor da economia brasileira que emprega o
maior número de trabalhadores analfabetos ou semi-analfabetos e com pouca ou nenhuma
qualificação profissional.
Segundo Chaves (1994: 38)
Entende-se por qualificação profissional um processo desenhado e posto
a funcionar de modo a preparar os sujeitos para o desempenho de um programa
econômico-social. Assim, este processo implica, necessariamente, em uma relação
entre sujeito e objeto: o sujeito ao qual se deseja capacitar adquire conhecimentos e
desenvolve atitudes e destrezas necessárias para exercer o controle do objeto.
A falta de qualificação de mão de obra é responsável pelo não preenchimento de
inúmeras vagas de trabalho, mesmo na construção civil, por outro lado, muitos trabalhadores
têm dificuldade de encontrar emprego por não terem qualificação específica para a função.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, cerca de 30% dos
trabalhadores registrados da construção civil não sabem ler ou escrever e, em geral,
desempenham funções auxiliares com pouca ou nenhuma especialização (SAYEGH,2002:39).
Ireland (2004) salienta que o trabalho da construção civil tanto no Brasil quanto em
outros países tem sido exercido por pessoas consideradas, por uma boa parte da sociedade em
que estão inseridas, como marginais, indesejáveis, cidadãos de segunda ou terceira categoria,
cujo status, numa escala social, ficaria nos últimos degraus. A indústria da construção civil
abriga um segmento social, composto geralmente por homens que não conseguem emprego
46
em outro setor, por não pertencerem ao grupo de mão-de-obra especializada, ou por serem
analfabetos, “rudes” (sem instrução, ignorante, (FERREIRA,1975:125)), migrantes rurais.
No caso desse setor, considera-se que se deveria exigir, no mínimo, o conhecimento
da leitura, uma vez que se faz necessária à interpretação dos manuais de aplicação e utilização
dos produtos empregados. Para isso o trabalhador deveria pelo menos, ter sido alfabetizado.
O individuo que possuía um conjunto de habilidades que permitia exercer sua
função era considerado qualificado. A competência é hoje exigência no meio da construção
civil, onde a capacidade de resolver problemas, de trabalhar em equipe, responsabilidade e
iniciativa são habilidades exigidas deste trabalhador, que passa a se relacionar de uma nova
forma com seu trabalho de maneira que o “saber fazer” não é mais suficiente é preciso “saber
ser”.
Hoje para o trabalhador além de fazer, deve ser capaz de pensar, tem de
dominar conhecimentos gerais relacionados ou não ao seu trabalho, ser capaz de
interpretar textos, gráficos e tabelas, ter conhecimento na área de computação, ter
capacidade de interpretação de dados e de decisão, ter iniciativa e critica, se ser
capaz de trabalhar em equipe. Em suma, as exigências foram ampliadas, não apenas
no que se refere à educação formal, mas foram acrescidas de toda uma gama de
habilidades relacionadas a novas tecnologias, bem como de atitudes e
comportamentos (KOBER, 2004:26).
A maioria dos trabalhadores, que não são alfabetizados, que não possuem
qualificação ou receberam treinamento têm menos oportunidades de crescimento profissional
na indústria da construção civil. Esses trabalhadores só encontram serviços como braçal
trabalho no qual se exige apenas força e disposição para o trabalho.
47
A indústria da construção civil no Brasil, e particularmente em Cuiabá, apresenta-se
como um grande mercado de trabalho, a esta categoria, possibilitando o ingresso de
trabalhadores sem alfabetização em uma atividade que exige pouca ou nenhuma qualificação
profissional.
Para mudar este quadro, muitos são os setores da economia e empresas que investem
na educação da mão de obra, desde a alfabetização até a sua qualificação. Algumas
experiências obtiveram êxito, como o projeto de alfabetização funcional de operários no setor
da construção civil em São Paulo, com a colaboração do SENAI/SESI, e patrocínio da
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e Prefeitura da cidade, criado em 1967.
A primeira fase do projeto pretendia atingir trabalhadores qualificados como
pedreiros e carpinteiros, analfabetos ou semi-analfabetos, o trabalho de alfabetização sendo
realizado fora do local de trabalho. A segunda fase se dava no próprio setor de trabalho e era
destinados aos trabalhadores aprendizes que eram analfabetos. A terceira fase previa uma
expansão do projeto em todo o território nacional, como também a organização de um
programa de acolhida e integração à classe operária paulista dos trabalhadores migrantes
vindos de outros estados para o ingresso na construção civil (RONCA, 1979).
Instituições como o Sindicato da Indústria da Construção Civil de Mato Grosso
(SINDUSCON/MT), SESI e FIEMT, têm procurado proporcionar qualificação aos
trabalhadores através do programa QUALIFICAR. Em Mato Grosso, este programa visa o
aperfeiçoamento da mão-de-obra no tocante a segurança e medicina do trabalho, em que
recebem orientação sobre como operar máquinas e equipamentos, na intenção de com isto
evitar acidentes e melhorar o desempenho do trabalhador. Está direcionada para a área de
48
segurança e medicina do trabalho, especificamente na Capital e Várzea Grande locais em que
ocorre a maior concentração de empresas do setor da construção civil. A motivação para que
os trabalhadores participem deste programa, foi o acréscimo salarial de R$10,00 (dez reais)
por mês, de acordo com informações do Sindicato, pago pelo empregador a todos os
trabalhadores que participam do programa.
O Plano Nacional de Qualificação (PNQ) define a qualificação social e profissional,
como aquela que permite a inserção e atuação cidadã no mundo do trabalho, com efetivo
impacto para a consecução dos objetivos de contribuir para promover a integração das
políticas e a formação integral (intelectual, técnica, cultural e cidadã) dos/as trabalhadores/as
brasileiros/as, o aumento da probabilidade de obtenção de emprego e trabalho decente e da
participação em processos de geração de oportunidades de trabalho e de renda, reduzindo os
níveis de desemprego e subemprego, com a elevação da escolaridade dos trabalhadores/as,
através da articulação com as políticas públicas de educação, em particular com a Educação
de Jovens e Adultos, entre outros.
O PNQ entre outros objetivos deve promover gradativamente a universalização do
direito dos trabalhadores à qualificação, com vistas a contribuir para, a formação integral
(intelectual, cnica, cultural e cidadã) dos trabalhadores brasileiros, aumento da
probabilidade de obtenção de emprego e trabalho decente e da participação em processos de
geração de oportunidades de trabalho e de renda, reduzindo os níveis de desemprego e
subemprego, elevação da escolaridade dos trabalhadores/as, através da articulação com as
políticas públicas de educação, em particular com a Educação de Jovens e Adultos, inclusão
social, redução da pobreza, combate à discriminação e diminuição da vulnerabilidade das
populações, aumento da probabilidade de permanência no mercado de trabalho, reduzindo os
49
riscos de demissão e as taxas de rotatividade ou aumento da probabilidade de sobrevivência
do empreendimento individual e coletivo, elevação da produtividade, melhoria dos serviços
prestados, aumento da Competitividade e das possibilidades de elevação do salário ou da
renda.
Atualmente o programa PNQ é também utilizado quando a empresa necessita da
obtenção da certificação do PBPQ-H para levar qualificação aos seus trabalhadores.
Para compreender como ocorre o processo de formação da mão-de-obra da
construção civil em Cuiabá e como os empresários do setor compreendem o processo de
qualificação destes trabalhadores é que propusemos a realização da pesquisa.
O presente estudo se com os trabalhadores que desempenham funções que não
necessita de nenhuma qualificação. São os serventes e ajudantes, conhecidos dentro do ramo
da construção civil, como orelha seca desempenha as funções de serviços gerais e ajudam os
pedreiros, carpinteiro, armador, azulejistas bem como em todo o trabalho braçal de transporte
de material, escavação, preparo de massa e limpeza da obra.
O meia-colher, trabalhador da construção civil, que possui no seu registro de
trabalho a função de servente, mas dentro do canteiro passa a exercer algumas atividades
exclusivas dos oficiais (pedreiro, amador, carpinteiro e/ou azulejista), isso ocorrendo quando
este trabalhador por si próprio apresenta interesse em aprender a exercer alguma destas
funções, o mesmo recebe orientação dos próprios colegas, caracterizando um treinamento
informal no canteiro de obra, porém muitas vezes sem a supervisão de encarregado, deixando
de exercer a função de orelha-seca e passa a condição de meia-colher, e passa a receber uma
50
remuneração extra por prestar serviços mais qualificado, sem, contudo constar no seu registro
de trabalho, uma vez que, a função de meia-colher é considerada informal dentro da
construção civil.
Ao analisar um orçamento de obra de edifício residencial de múltiplos pavimentos,
observa-se que o percentual de servente e ajudante é elevado, na ordem de 60% a 70%,
dependendo das etapas da obra início, meio ou fim - e que esse valor, na realidade, pode
significar o emprego na construção civil para um grande número de trabalhadores não
alfabetizados ou semi-alfabetizados (TCPO, 1999). Esses dados são obtidos da composição de
serviços e utilizados na maioria das construtoras como base de cálculo de custo de obra. Com
estes dados se obtém o valor total de material e mão-de-obra necessário para concretizar o
empreendimento, sendo que, o orçamento do custo da obra é obtido considerando o material
empregado e o tempo empregado para a execução calculada em hora-homem, ou seja, todo o
valor do serviço cobrado é calculado pelo tempo que o trabalhador leva para executá-lo em
metros quadrados, metros lineares, metros cúbicos, quilos de ferro.
Para Ciocchi afirma que:
Uma das dificuldades encontradas para a implementação de um
programa de alfabetização de mão de obra, nos canteiros de obras, é a alta
rotatividade, comum na construção civil. Rotatividade causada pela periodicidade
das obras. Uma obra possui um tempo de execução limitado pelo contrato e caso a
empresa executora dos serviços não possua outra obra para ser iniciada, os
trabalhadores são dispensados, fazendo com que a perda da condição de trabalhador
seja uma constante. Outro fator é o baixo grau de treinamento e a falta de
capacitação, que contribuem para o grande número de acidentes no setor da
indústria de construção. (2000: 32).
Já para Gonçalves (1977: 87)
51
O problema da construção civil está relacionado com dois importantes
fatores na atualidade, segundo Gonçalves (1977), seria a sua importância na
absorção de mão-de-obra em período de desemprego industrial crescente e o déficit
habitacional no país. A reversão deste problema se vincula a duas questões de nível
macroeconômico: “a constituição de mecanismos de financiamento ao investimento
habitacional e a equalização da questão da infra-estrutura de saneamento”.
A crise macroeconômica refletiu-se na construção civil a partir de dois
elementos: a estagnação da renda agregada doméstica, que inibiu as atividades de
investimento em geral e a falência dos mecanismos de financiamento ao
investimento habitacional, criados em finais da década de sessenta.
A alfabetização ajuda a manutenção das medidas de segurança implantadas nas
empresas, ao mesmo tempo em que promovem uma maior integração dos trabalhadores com a
sociedade. Segundo Sayegh (2002:39), os trabalhadores participantes de programas de
alfabetização e qualificação sentem-se mais motivados.
A Lei nº 6.514 de 22 de dezembro de 1977, na NR-4 diz que:
As empresas, independente do setor da economia, devem aplicar os
conhecimentos de Engenharia de Segurança do Trabalho ao ambiente de trabalho e a
todos os seus componentes, inclusive máquinas e equipamentos, de modo a reduzir
até eliminar os riscos ali existentes à saúde do trabalhador. Deve ainda, promover a
realização de atividade de conscientização, educação e orientação dos trabalhadores
para a prevenção de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, tanto através de
campanhas, quanto de programas de duração permanente
. (
BRASIL, Segurança e
Medicina do Trabalho, 1977:29).
Para Sayegh (2002: 39) a incidência de acidentes no trabalho na Construção Civil é
o “calcanhar de Aquiles” do processo de melhoria de qualidade das obras, movimento que
ganhou força, no Brasil, no início da década de 90. Mas o panorama dos acidentes de trabalho
esconde, ou revela uma outra face da realidade nacional: a existência de uma massa de
trabalhadores desqualificados, e em grande parte analfabeta, que se movimenta pelos
canteiros do País.
Segundo este mesmo autor, as pesquisas no setor revelaram que a origem dos
acidentes não era condicionada somente pela falta de qualidade e de organização dos
52
canteiros. Muitas vezes os construtores disponibilizavam equipamentos e medidas de
segurança. Os operários, porém, não conseguiam ler ou compreender os avisos. Por esse
motivo, as ações de prevenção contra acidentes começaram a ser fundamentar na linha de
alfabetização básica dos operários. Quando o operário consegue ser alfabetizado, ele consegue
avaliar de uma forma mais rápida, a necessidade da prevenção.
Já Medeiros (2004:38) afirma que:
O saber operário pode se manifestar em relação à segurança e saúde do
trabalho na indústria da construção civil no momento que cria soluções, pois acaba
reconhecendo as falhas do sistema de gestão de segurança. Além disso, questiona a
exclusividade dos serviços especializados de segurança e medicina do trabalho,
uma vez que os mesmos tomam como competência exclusiva à determinação das
medidas de segurança nos sistemas de produção.
Ressalta ainda que a educação não deva, porém, ser disposta de forma assustadora e
compulsória, pois os trabalhadores bem sabem que as rédeas da segurança não evitarão todos
os acidentes. Forçá-los a uma política radical de segurança é, antes de tudo, relembrá-los que
o perigo existe e, ao mesmo tempo, torna-lhes a tarefa mais difícil, e dessa forma, mais
carregadas de ansiedade.
Em Mato Grosso, por exemplo, para estimular os trabalhadores braçais a
freqüentarem as salas de aulas, foi instituído, como já mostramos acima, um abono salarial.
Os trabalhadores do Nordeste apresentam um perfil parecido com o verificado em todo o país.
O que chama a atenção é que são trabalhadores com baixa escolaridade e alto grau de
analfabetismo funcional. O instituo Paulo Montenegro que realiza esses levantamentos
estatísticos considera como analfabetos funcionais pessoas que sabem assinar o nome, mas
não consegue ler e entender um bilhete simples, entendido como a incapacidade para
53
desempenhar a função. Isso se reverte no principal obstáculo à implantação de programa de
qualificação profissional.
Segundo Ciocchi (2003:43 ):
3,93% dos operários entrevistados são analfabetos, enquanto o percentual
de operários que possuem o segundo grau completo é de apenas 1,96%. Se for
adotado o conceito de analfabeto funcional, esse número sobe para 33,34%, o que
significa que 1/3 da mão-de-obra é incapaz de ler um procedimento de execução ou
uma simples placa de segurança. Verifica-se que 89% dos entrevistados não
possuem primeiro grau completo. Segundo o Sinduscon-BA (2003), em dados de
1999, o setor de Edificações é o que apresenta o mais baixo índice de escolaridade
entre os sub-segmentos.
Os resultados da pesquisa de Ciocchi não apresenta grandes modificações em
relação à realidade de Cuiabá neste inicio de século, segundo mostra pesquisa realizada pelo
SENAI em 2002.
- Evidenciando a necessidade da formação educacional desses
trabalhadores, visto que uma parcela significativa (38,24%) não está capacitada para
desempenhar outra função. Questionados sobre a possibilidade de voltar a estudar a
maioria (81,37%) afirmam que gostaria de retornar à escola, enquanto 16,67% não
pretende voltar e 1,96% retornaram e estão estudando.
- O número de trabalhador com algum tipo de formação profissional, na
construção civil, é muito reduzido (3,92%). Esse índice aponta para a possibilidade de
que o aprendizado ocorra através da observação de outros profissionais, o que pode
conduzir a “vícios” e comprometer os padrões de qualidades e boas técnicas da
empresa.
Essa realidade reflete o panorama do Brasil no que se refere à situação educacional
da mão de obra do setor da construção civil. Mudanças sutis podem ser observadas na região
54
Sudeste e Sul, mas não são significativas a ponto de mudar esse panorama, segundo
Rodrigues (2000).
Na década de 1990, deu-se a introdução de novas técnicas de produção na indústria
da construção, aliada à busca da melhoria da qualidade, do controle de desperdício e da
cooperação no local de trabalho. Mudanças de caráter gerencial e organizacional também
provocaram melhorias nas condições de saúde e segurança no ambiente de trabalho, segundo
Ireland (2004), e com a busca da certificação (ISO 9000 e ISO 9002) a mudança de atitude
por parte do empregador se acelerou, fazendo com que reconhecesse o valor da educação
básica para qualquer processo de qualidade.
A "International Standartization Organization" (ISO) é uma organização, sediada
em Genebra (Suíça), reconhecida e aceita internacionalmente no estabelecimento de normas
técnicas desenvolvidas e avaliadas no âmbito de competência de suas delegações nacionais.
As normas ISO 9000 (Sistemas de qualidade) foram elaboradas, inicialmente,
enfocando a necessidade de “manejo de qualidade”. Nessas normas, a qualidade é entendida
como “todas as características de um produto ou serviço que são exigidas pelo consumidor” e
o manejo de qualidade como “o que a organização necessita assegurar que seu produto tem
em conformidade com as exigências do consumidor”.
A norma ISO 9001 estabelece os requisitos para assegurar a qualidade dos processos
de produção, ou seja, estabelece critérios que possibilitem: a) agregar fator de confiabilidade
ao produto; b) atender a demanda de cliente; c) atentar para a conformidade na produção; d)
55
orientar o acompanhamento por processo relevante para a qualidade; e) ser aplicável a
processo ou à parte da organização.
As normas prescritas nas ISO 9000, em vigor desde meados de 1987, tiveram sua
mais recente atualização em Dezembro de 2000, e tornou-se válida no Brasil, como NBR ISO
9001, no dia 29 de Janeiro de 2001.
O Instituto Brasileiro de Normas Técnicas (INMETRO) representa o Comitê
Brasileiro de Certificação - CBC (criado pela resolução CONMETRO n.8 de 24/08/92) na
ISO e, assim possui, além das responsabilidades atribuídas as seus membros, a de divulgar,
avaliar e preservar a aceitação, o uso e integridade da marca ISO. A ABNT é o organismo de
certificação brasileiro, credenciado pelo INMETRO, para atuação em certificação de sistemas
de garantia de qualidade no país e também de produtos.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), atua desde 1950 no
desenvolvimento de programas de certificação apropriados a diversas áreas da sociedade
brasileira, em conformidade com os modelos internacionalmente aceitos e estabelecidos no
âmbito do Comitê de Avaliação da Conformidade (CASCO) da International Standartzation
Organization” (ISO).
Segundo a ABNT, define-se por Normalização,
(...) processo de estabelecer e aplicar regras a fim de abordar
ordenadamente uma atividade específica, para o benefício e com a participação de
todos os interessados e, em particular, de promover a otimização da economia,
levando em consideração as condições funcionais e as exigências de segurança.
56
Surgiram experiências de trabalhadores criando e desenvolvendo projetos
educativos. Um exemplo importante de envolvimento dos trabalhadores nos seus próprios
projetos educativos, segundo Ireland (2004:53), é o Projeto Escola Peão que contribuiu
para a educação dos trabalhadores da construção civil em João Pessoa.
O projeto Escola Peão faz parte de uma luta operária. As dificuldades do
movimento sindical em se ajustar às profundas mudanças que aconteciam no mundo e nas
relações de trabalho, e a existência de acomodação na diretoria do sindicato. Nas avaliações
feitas, o baixo grau de escolarização dos trabalhadores da construção foi apontado como fator
impeditivo à implementação da proposta, no sentido de estabelecer a organização sindical em
bases democráticas.
Segundo Ireland (2004:65 ):
O desafio do sindicato era devido à instabilidade e o alto índice de
rotatividade da mão-de-obra. Essa instabilidade seria conseqüência do processo de
produção e decorria também do fato de que a indústria da construção depende,
fortemente, de investimento do poder público (governos federal, estadual e
municipal) e, além disso, os processos de produção ainda se baseiam na utilização
intensiva de mão-de-obra, na maior parte da qual pouco qualificada. A força de
trabalho empregada na construção ainda é quase exclusivamente masculina e
predominantemente jovem, situando-se a maioria na faixa etária entre 18 e 40 anos.
Em Cuiabá aos índices de analfabetismo e qualificação profissional podem ser
observados na pesquisa realizada pelo Senai-MT, com o objetivo de formar mão-de-obra para
a construção civil. Nesta pesquisa o Senai-MT traçou o perfil dos trabalhadores da Construção
Civil. Para isso foram entrevistados 493 empregados das maiores construtoras atuantes. Do
total de trabalhadores entrevistados, constatou-se que 40% estão na faixa entre 18 a 30 anos
de idade e 24% destes trabalhadores exercem a função de serventes, a pesquisa não
57
mencionou se o trabalhador que exerce a função de meia-colher, sendo esta uma função
informal. Esse profissional na pesquisa é considerado como participante de outras atividades
não qualificadas. Esses trabalhadores (outros, 41%), são os serventes em formação para
pedreiro, e servente com a função de serviços gerais.
Com objetivo de melhoria na qualidade das obras da construção civil no Brasil, foi
criado o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H),
Formalmente inserido como um dos programas do Plano Plurianual 2004-2007 (PPA), do
Governo Federal é também um dos instrumentos do Governo Federal para cumprimento dos
compromissos firmados pelo Brasil quando da assinatura da Carta de Istambul (Conferência
do Habitat II – 1996).
Objetivos do PBQP-Habitat é organizar o setor da construção civil em torno de duas
questões principais: a melhoria da qualidade do habitat e a modernização produtiva.
A busca por estes objetivos envolve um conjunto bastante amplo de ações entre as
quais se destacam a: qualificação de construtoras e de projetistas; melhoria da qualidade de
materiais; formação e re-qualificação de mão de obra; normalização técnica; capacitação de
laboratórios; aprovação técnica de tecnologias inovadoras; comunicação e troca de
informações. Desta forma, espera-se o aumento da competitividade no setor, a melhoria da
qualidade de produtos e serviços, a redução de custos e a otimização do uso dos recursos
públicos. O objetivo de longo prazo é criar um ambiente de isonomia competitiva que
propicie soluções mais baratas e de melhor qualidade para a redução do déficit habitacional
no país e, em especial, o atendimento das famílias consideradas de menor renda.
58
O Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade foi criado em 1991, com a
finalidade de difundir os novos conceitos de qualidade, gestão e organização da produção que
estão revolucionando a economia mundial, indispensável à modernização e competitividade
das empresas brasileiras. Da mesma maneira propõe-se a promover a qualidade e
produtividade do setor da construção habitacional, com vistas a aumentar a competitividade
de bens e serviços por ele produzidos.
De acordo com as diretrizes do Programa:
I atuação integrada do poder público e parceria entre agentes públicos
e privados;
II - descentralização e desburocratização de procedimentos, de modo a
respeitar as diversas realidades regionais;
III - fortalecimento da estrutura produtiva do setor no que diz respeito à
sua capacidade tecnológica e gerencial;
IV - estímulo à implementação de programas evolutivos de
aperfeiçoamento da qualidade e aumento da produtividade por parte dos
participantes do programa;
V - fortalecimento da infra-estrutura laboratorial e de pesquisa para o
desenvolvimento tecnológico e de prestação de serviços;
VI - incentivo à utilização de novas tecnologias para a produção
habitacional;
Constituem-se objetivos específicos do Programa:
I - fomentar o desenvolvimento e a implementação de instrumentos e
mecanismos de garantia de qualidade de projetos, obras, materiais, componentes e
sistemas construtivos;
II - estruturar e animar a criação de programas específicos visando a
formação e a re-qualificação de mão-de-obra em todos os níveis.
Em Cuiabá-MT os estudos relativos à educação na construção civil são ainda
incipientes, concentrado apenas nas questões de qualificação profissional em parceria com o
governo federal, porém este setor da economia brasileira em Cuiabá encontra-se em fase de
franca expansão, bem como em todo o Estado de Mato Grosso com inúmeras cidades em
surgimento e crescimento.
59
Tendo em vista esta situação exposta, questiona-se qual o nível de educação mínimo
necessário para o trabalhador da construção civil, exercerem suas funções, com qualidade,
segurança e de respeito a seus direitos civis. Seria este mesmo trabalhador capaz de entender a
relação trabalho-educacão na construção Civil? Este questionamento se faz pertinente tendo
em vista a própria hierarquia do setor, na qual se estabelece funções e responsabilidades
distintas de acordo com o cargo do trabalhador.
60
CAPÍTULO III
O TRABALHADOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL E OS PROGRAMAS DE
ALFABETIZACAO E TREINAMENTOS OFERECIDOS PELAS EMPRESAS
Em Cuiabá em razão da necessidade de obter o certificado do Programa Brasileiro
de Qualidade e Produtividade no Habitat, vem oferecendo aos seus trabalhadores cursos de
alfabetização e treinamento. Nosso trabalho procurou verificar como os trabalhadores lidam
com esses programas oferecidos pelas empresas.
Selecionamos trabalhadores da empresa Concremax, porque foi à primeira empresa
a obter a certificação do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat
(PBQP-H), em Mato Grosso, cujo programa propõe a organizar o setor da construção civil,
tentando melhorar a qualidade das habitações e a modernizar a construção de residências e
outros tipos de obras.
A Concremax é uma empresa conhecida no meio empresarial da construção civil em
Cuiabá, como fornecedora de concreto pré-misturado para obras de outras construtoras. No
final da década de 80 do século XX a referida empresa entrou no mercado da construção de
casa popular, com financiamento federal, e começou então a preocupar-se com a formação de
mão-de-obra e a qualidade das obras por ela executada.
61
A Concremax se viu obrigada a integrar ao PBQP-H em 2002, quando o governo do
Estado de Mato Grosso, passou a exigir que todas as empresas que quisessem participar de
licitações públicas, na área da construção civil, teria que ter a certificação do PBPQ-H.
Definida a empresa, procuramos saber como ela realizava seu programa de
alfabetização e treinamento. Para tanto entramos em contato com proprietário da empresa que
indicou a pessoa responsável por este trabalho. Foi elaborado o roteiro de entrevista semi-
estruturada para ser aplicada ao responsável pelo programa composto de três blocos
temáticos. O primeiro bloco tratou da identificação do entrevistado. O segundo, trata da
participação da empresa no programa PBQP-H, e o terceiro tratou das atividades de
treinamento e cursos de alfabetização oferecidos pela empresa.
Após integrar o PBPQ-H, apesar de oferecer curso de alfabetização e qualificação
para os seus funcionários, a empresa precisou ampliar suas ofertas de qualificação, para
cumprir as exigências do referido programa.
A Concremax, segundo depoimento da engenheira Renata de Aquino Moreira
Figueiredo, responsável pela implantação do programa,
Encontrou muitas dificuldades em efetivar essas qualificações, sendo
uma delas a de mobilização das pessoas responsáveis pelo treinamento, que não
eram de Cuiabá. Essas pessoas eram contratadas pelo SESI e SENAI, os honorários
e custo de deslocamento eram bancados pela empresa elevando muito os custos de
capacitação, tornando-os inviáveis.
O SESI é uma instituição de direito privado que tem como objetivo a promoção da
educação, a saúde e a qualidade de vida dos trabalhadores e seus dependentes e estimular a
gestão socialmente responsável da empresa industrial e com o programa SESI Educação do
62
Trabalhador tenta elevar a escolaridade de trabalhadores brasileiros com idade superior a 14
anos. O SENAI tem por objetivo promover a educação profissional e tecnológica, a inovação
e a transferência de tecnologias industriais. Estas duas instituições buscam contribuir para a
competitividade da indústria e o desenvolvimento sustentável do Brasil.
A Concremax deixou de utilizar a contribuição do SENAI e SESI, e implantou com
um custo mais baixo uma sala de aula no canteiro, com isso está facilitando o acesso do
trabalhador na sua formação, fazendo com que os trabalhadores o percam tempo no
deslocamento do local de trabalho e a aula. Ali mesmo ele toma banho, lancha e participa das
aulas.
Outra dificuldade encontrada para a manutenção do programa de alfabetização é a
desistência dos alunos durante o processo.
Segundo ela:
Os jovens da construção civil não vão para a sala de aula senão forem
obrigados. Esse problema é uma das dificuldades encontradas pela empresa na
formação de seus funcionários, sendo que, os trabalhadores que mais participam
dos programas são os com idade acima de 28 anos. Observamos que os alunos com
idade mais avançada tinham mais interesse em participar das aulas de alfabetização
e de treinamento. Alguns alunos desistiram da alfabetização e verificamos que estes
alunos que desistiram tentaram fazer com que os outros que ficaram também
deixassem de estudar, ficavam tirando “sarro” dos que estavam estudando, mas
estes não desistiram.
Segundo Freire (2003:119) o educador deve ter o papel fundamental de dialogar
com o analfabeto, sobre situações concretas. O educador deve ser apenas o colaborador não
podendo a alfabetização ser feita de cima para baixo, como uma adoção ou imposição, mas de
dentro para fora, pelo próprio analfabeto. O analfabeto aprenderá criticamente a necessidade
de aprender a ler e a escrever, preparando para ser o agente do aprendizado.
63
Esta experiência de alfabetização realizada no canteiro de obra pode ter contribuído
para que a empresa percebesse que havia a necessidade de formar o trabalhador no tocante a
qualidade de serviço e que apenas alfabetizar não era o suficiente para que isto ocorresse.
Passando então à formação profissional destes trabalhadores com a oferta de diversos cursos
de treinamento nas atividades afins dentro do canteiro de obra, com isso a empresa começa a
melhorar a qualidade final dos seus produtos, no caso as obras.
Nestes treinamentos as cnicas de trabalho desenvolvido pela empresa são passadas
aos trabalhadores no canteiro de obra, sendo que os funcionários mais capacitados ensinam os
menos. Este trabalho sempre acontece com a supervisão de um técnico em engenharia e do
encarregado.
Ainda de acordo com o depoimento da Engenheira Renata,
Após a qualificação dos trabalhadores no canteiro de obra ocorreram
melhorias na qualidade dos serviços prestados por estes funcionários. Observou-se
após a qualificação que os canteiros de obras estão limpos, sem marmitex ou outros
materiais espalhados. Os desperdícios de materiais das obras praticamente
acabaram, que antes eram motivos de reclamação constante pela empresa, a
armazenagem precária, a preparação de massas ocorria de maneira incorreta e
diminuíram sensivelmente o re-trabalho (que consiste em refazer determinado
serviço duas ou mais vezes), devido à falta de qualidade. Com a qualificação dos
trabalhadores a empresa ganhou na qualidade da obra e no comprimento do prazo
de entrega. A capacitação dos trabalhadores se se estendeu desde como manter sua
higiene pessoal, como lavar as mãos, passando pelo uso dos equipamentos de
segurança (obrigatório por lei), até como transportar massas no canteiro
.
A primeira experiência de alfabetização aos funcionários oferecida pela empresa no
canteiro da obra, foi realizada na obra locada no bairro Goiabeiras. E segundo a Enga. Renata,
Ficou registrado deste período, que alguns trabalhadores iniciaram o
processo de alfabetização e não conseguiram conclui-lo, e alguns dos que
desistiram tentaram incentivar os que continuaram também a desistirem.
64
Esta observação comentada pela engenheira Renata mostra que a indústria da
construção civil sempre utiliza e utilizará a mão-de-obra de orelha-seca e meia-colher, mesmo
quando totalmente mecanizada, devido a peculariedade deste tipo de serviço. Conforme os
dados levantados do total de funcionários locado na obra 160 exercem a função de orelha-
seca, ou seja, deste total 71% dos trabalhadores, confirmando as informações do TCPO,
descrito no capítulo II deste trabalho.
À medida que a construção civil for sofisticando seu processo de produção haverá
necessidade de um trabalhador mais qualificado. Segundo Kober (2004:26)
(...) mesmo aquele trabalhador cujo exercício profissional é voltado para
o trabalho mais simples dentro da industria, hoje, para dar conta da flexibilização
dos processos de trabalho nas linhas de produção, deve também ele ser flexível.
Além de “fazer”, deve ser capaz de pensar, tem de dominar conhecimentos gerais
relacionados ou não ao seu trabalho, ser capaz de interpretar textos, gráficos e
tabelas, ter conhecimento na área de computação, ter capacidade de interpretação
de dados e de decisão, ter iniciativa e crítica, e ser capaz de trabalhar em equipe.
Em suma, as exigências foram ampliadas, não apenas no que se refere à educação
formal, mas foram acrescidas de toda uma gama de habilidades relacionadas a
novas tecnologias, bem como de atitudes e comportamentos.
Esta observação comentada pela engenheira Renata mostra que a indústria da
construção civil sempre utiliza e utilizará a mão-de-obra de orelha-seca e meia-colher, mesmo
quando totalmente mecanizada, devido a peculariedade deste tipo de serviço. Conforme os
dados levantados do total de funcionários locado na obra 160 exercem a função de orelha-
seca, ou seja, deste total 71% dos trabalhadores, confirmando as informações do TCPO,
descrito no capítulo II deste trabalho.
65
CAPÍTULO IV
ALFABETIZAÇÃO DOS JOVENS TRABALHADORES DA
CONSTRUÇÃO CIVIL
Os trabalhadores, os quais fazem parte desta pesquisa, no período de coleta dos
dados, prestavam serviços no canteiro de obra situado no Bairro Jardim Imperial, denominado
Residencial Recanto do Salvador, cuja obra é do tipo condomínio horizontal com um prazo de
execução de um ano e 4 meses. Essa obra possuía 224 trabalhadores no seu quadro de
funcionários, sendo 160 trabalhadores exercendo a função de orelha-seca e seis trabalhadores
de meia-colher. A faixa etária deles variava entre 18 e mais de 60 anos. Para esta pesquisa
selecionamos os jovens trabalhadores na faixa etária entre 16 e 26 anos, somando um total de
25 orelha-seca e um meia-colher.
Esses dados evidenciaram que a construção civil corre o risco de não renovar sua
mão de obra, caso não haja um investimento na valorização do trabalhador deste setor, pois o
numero de trabalhadores jovens, no caso orelha-seca, é muito baixo, apenas 16% em relação
ao numero de trabalhadores acima de 26 anos, que corresponde a 84%, como revela o gráfico
abaixo. Como afirmamos anteriormente a construção civil é uma atividade que necessita
utilizar, pela suas características, um expressivo número de trabalhadores braçais. Ë
importante salientar que a indústria da construção civil precisa do vigor físico que tem o
jovem trabalhador.
66
Número de trabalhadores
1
16%
2
84%
1
2
Estes vinte e seis questionários serão analisados de acordo com o que responderam
no período da coleta de dados.
4.1- ORELHA-SECA
Os jovens trabalhadores participantes da pesquisa encontravam-se trabalhando na
obra Recanto do Salvador, no Bairro Jardim Imperial, em Cuiabá/MT no mês de abril de
2006. O desenvolvimento da investigação na qual verifica-se a formação dos orelhas-secas.
Foi elaborado e aplicado um questionário, compostos por seis blocos temáticos com 92
questões. Responderam ao questionário 25 orelhas-secas que corresponde à totalidade dos
jovens trabalhadores na faixa etária delimitada pela pesquisa.
4.1.1 Identificação do entrevistado
A primeira questão perguntou aos entrevistados em que cidades nasceram.
Os trabalhadores objeto da pesquisa (58%) o nascidos outros municípios do
Estado e da Federação, 37% no município de Cuiabá e 5% no município de Várzea
Grande.
1-até 26 anos
2-acima de 26 anos
67
Gráfico 01
Em que cidade você nasceu?
1
37%
2
5%
3
58%
1
2
3
A Maioria destes profissionais são Mato-grossenses (64%) seguidos dos Nordestinos
(31%).
Gráfico 02
Qual o estado?
1
64%
2
11%
3
5%
4
5%
5
5%
6
5%
7
5%
1
2
3
4
5
6
7
Dos entrevistados 89% foram criados na Grande Cuiabá.
1-Cuiabá
2-Várzea grande
3-Outras cidades
1-Mato
Grosso
2-Maranhão
3-Paraíba
4-São Paulo
5-Bahia
6-Pernambuco
7-Para
68
Gráfico 03
Em que cidade você cresceu?
1
47%
2
11%
3
42%
1
2
3
Podemos observar no gráfico 01 que oitenta por cento dos jovens trabalhadores são
solteiros, no início das suas atividades profissionais.
Gráfico 04
Você é?
1
20%
2
80%
3
0%
5
0%
4
0%
1
2
3
4
5
Para definirmos a cor da pele dos nossos entrevistados, utilizamos os mesmos
critérios definidos pelo IBGE no último senso. A maioria dos jovens trabalhadora declara que
sua cor de pele é parda e seguida da cor negra, conforme demonstra o gráfico 03.
1-Cuiabá
2-Várzea Grande
3-Demais cidades
1-casado
2-solteiro
3-separado
4-divorciado
5-outros
69
Gráfico 05
Cor da pele
1
20%
2
33%
3
47%
1
2
3
Alguns estudiosos afirmam que os filhos tendem a seguir a profissão dos Pais,
entretanto a pesquisa confirmou parcialmente sendo a maioria dos pais desses jovens são
trabalhadores rurais.
Podemos perceber que os jovens estão saindo do campo a procura de melhores
condições de trabalho na cidade. Segundo eles o trabalho na construção civil é mais leve do
que o trabalho no campo.
4.1.2 - Família
Dos 22 jovens entrevistados apenas quatro seguiram a profissão dos pais. Dentre
esses pais que trabalham na construção civil temos um pai que trabalha como orelha-seca, um
como mestre de obra, um como pintor e outro como pedreiro.
1-branca
2-negra
3-parda
70
Gráfico 06
Em que seu pai trabalha ou trabalhou?
1
13%
2
30%
3
6%
4
0%
5
19%
6
13%
11
13%
12
0%
8
0%
7
0%
10
0%
9
6%
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Gráfico 07
Se seu pai trabalha na construção Civil, qual o
seu ofício?
1
34%
2
0%
3
0%
4
33%
5
0%
6
0%
8
33%
10
0%
7
0%
9
0%
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
1-Funcionário público
2-Trabalhador rural
3-
Trabalhador do
comércio
4-Operário de Fábrica
5-Construção Civil
6-gari
7-professor
8-mecânico
9-motorista
10-jardineiro
11-não sabe
12-outros – qual
1-orelha-seca
2-meio-oficial
3-pedreiro
4-pintor
5-carpinteiro
6-armador
7-encarregado
8-mestre
9-engenheiro
10-outros – Qual_______
71
Gráfico 08
Está atualmente trabalhando?
1
93%
4
0%
3
0%
2
7%
5
0%
1
2
3
4
5
Noventa três por cento desses pais estão em atividade laboral. Sete por cento estão
desempregados. Um fato importante não tem nenhum aposentado. Como trabalhadora da
construção civil, tenho observado que há um grande percentual de trabalhadores que apesar da
idade continuam em labor, o que confirma os dados acima.
Os trabalhadores afirmaram que seus pais sabem ler (79%), contra 21% que
afirmaram que não sabem (gráfico 05) e as mães 93% contra 7% que não sabem ler (gráfico).
Entretanto esse índice não corresponde aos dados divulgados pelo IBGE no senso 2000, que
demonstrou uma população 10,50% analfabeta na região Centro Oeste, com idade acima de
15 anos de idade, isto pode ter ocorrido, pois o IBGE não apresenta dado apenas dos jovens e
sim de toda a população da região.
1-sim
2-não
3-aposentado
4-desempregado
5-falecido
72
Gráfico 09
Seu pai sabe ler?
1
79%
2
21%
1
2
Gráfico 10
Seu pai sabe escrever?
1
71%
2
29%
1
2
Quanto ao saber escrever 71% afirmou que seus pais sabem escrever, enquanto 29%
disseram que eles não escrevem. Comparando a mesma pergunta feita sobre os pais foram
feitas sobre as mães, e as respostas foram que 93% sabem ler e escrever e 7% não sabem ler
nem escrever.
De acordo com o gráfico percebemos que o nível de analfabetismo da população
mais velha ainda é alto se comparados com a população mais jovem que trabalham na
construção civil. O analfabetismo, também de acordo com a pesquisa, é maior na população
masculina que na feminina. A população masculina possuiu o índice de analfabetismo maior
que o da população feminina, neste setor da economia, o que não é confirmado nos dados do
1-sim
2-não
1-sim
2-não
73
IBGE do ultimo senso, para a região Centro Oeste, onde a população analfabeta masculina é
de 10,50% e a feminina de 11,00%.
Gráfico 11
Sua mãe sabe ler?
1
93%
2
7%
1
2
Gráfico 12
Sua mãe sabe escrever?
1
93%
2
7%
1
2
Sobre a atividade laboral das mães, as respostas foram que 34% são do lar; e 33%
são domésticas; 13% funcionária publica; 13% trabalhadoras rurais e 7% são lavadeiras.
Existe uma predominância de mães que trabalham em residência quer própria ou de outro.
1-sim
2-não
1-sim
2-não
74
Gráfico 13
Qual a profiso da mãe?
2
33%
7
0%
12
0%
11
0%
10
0%
1
34%
9
0%
5
7%
8
0%
4
13%
3
13%
6
0%
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Dentre as mães 62% estão em atividades laboral, das que não trabalham 40% estão
aposentadas; 40% desempregadas e 20% são falecidas. A pesquisa demonstrou que existem
40% das mães que são aposentadas enquanto não há nenhum pai aposentado.
Gráfico 14
Está trabalhando atualmente?
1
62%
2
38%
1
2
1-do lar
2-trabalhadora doméstica
3-funcionária pública
4-trabalhadora rural
5-lavadeira
6-diarista
7-cabeleireira
8-manicura
9-costureira
10-não sabe
11-professora
12-outras.................
1-sim
2-não
75
Gráfico 15
Se não trabalha...
1
40%
2
40%
3
20%
1
2
3
Todos os entrevistados afirmaram que têm irmãos sendo que 60% deles têm mais de
sete irmãos.
Gráfico 16
Tem irmãos?
1
100%
2
0%
1
2
1-aposentada
2-desempregada
3-falecido
1-sim
2-não
76
Gráfico 17
Quantos?
1
0%
2
6%
3
0%
4
11%
5
17%
6
6%
7
60%
1
2
3
4
5
6
7
Dentre os irmãos dos jovens entrevistados 33% não estudam e 67% estão estudando.
Estes dados revelam que a família dos trabalhadores da construção civil é
constituída de uma população ativa, caracterizada por famílias numerosas e com filhos ainda
estudando.
Gráfico 18
Seus irmãos estão na escola?
1
67%
2
33%
1
2
Dos 22 jovens entrevistados, 20% são casados e 79% das suas esposas trabalham.
1- 1 irmão
2- 2 irmãos
3- 3 irmão
4--4 irmãos
5- 5 irmãos
6- 6 irmãos
7- acima de 7 irmãos
1-sim
2-não
77
Gráfico 19
Sua esposa trabalha?
1
79%
2
21%
1
2
Oito jovens independente de serem casados ou não, tem filhos, com idade de até 6
anos.
Gráfico 20
você tem filhos?
1
46%
2
54%
1
2
Gráfico 21
Qual a idade deles?
1
43%
2
29%
7
0%
6
14%
3
14%
4
0%
8
0%
5
0%
1
2
3
4
5
6
7
8
1-sim
2-não
1-sim
2-não
1- 0-1
2- 1 a 2
3- 2 a 3
4- 3 a 4
5- 4 a 5
6- 5 a 6
7- 6 a 7
8- acima de sete anos
78
Dos oito filhos destes jovens apenas, um está na escola, um na creche e os demais
são os cuidados da mãe.
Gráfico 22
Seus filhos estão na escola ou creche?
1
17%
2
17%
3
66%
1
2
3
A renda familiar destes trabalhadores gira em torno de dois salários mínimos, o que
caracteriza a classe social menos favorecida economicamente.
Gráfico 23
Qual é a renda familiar?
1
73%
2
27%
3
0%
4
0%
1
2
3
4
4.1.3 Trajetória Escolar – Grau de Instrução
Dentre esses jovens trabalhadores, 87% conseguiram responder o questionário sem
dificuldades e responderam que sabem ler, 13% responderam que não sabem ler.
1-escola
2-creche
3-não está na escola ou creche
1-2 salários mínimos
2-4 salários mínimos
4-5 salários mínimos
Acima de 5 salários mínimos
79
Gráfico 24
Vo sabe ler?
1
87%
2
13%
1
2
Dos 22 jovens entrevistados 92% afirmaram que sabem escrever e 8% disseram que
não.
Gráfico 25
Vo sabe escrever?
1
92%
2
8%
1
2
Destes trabalhadores 82% disseram que entendiam o que estava escrito no rótulo dos
produtos utilizados na construção civil (lata de tinta, selador, impermeabilizante e outros
produtos) e 18% não entendiam.
1-sim
2-não
1-sim
2-não
80
Gráfico 26
Quando você o rótulo de um produto, você
entende as orientações que estão escritas no
rótulo?
1
82%
2
18%
1
2
Quanto às orientações de como aplicar os produtos na obra, escritas no rotulo que
acompanham os produtos, 45% tem dificuldade em compreender, enquanto 55% e
compreende bem.
Gráfico 27
Vo tem dificuldade em seguir as orientações
escritas no rótulo dos produtos?
1
45%
2
55%
1
2
As maiores dificuldades para seguir as instruções dos rótulos são palavras
desconhecidas, seguidas do medo de errar as medidas e bem como saber misturar os
componentes.
1-sim
2-não
1-sim
2-não
81
Gráfico 28
Quais as dificuldades que você tem para seguir as
orientações do rótulo?
1
45%
2
11%
3
22%
4
0%
5
22%
1
2
3
4
5
Estes jovens que sabem ler apresentam dificuldades na compreensão de texto,
caracterizadas quando perguntado sobre se entendia o que estava escrito no rótulo de um
produto a ser aplicado, 82% disse que entendia, porém, apenas 45% destes mesmos
trabalhadores saberiam aplicar o produto conforme a instrução contida no rótulo. Dentre as
dificuldades apresentadas, a que continha palavras desconhecidas (45%) foi apresentada pelos
trabalhadores como sua maior dificuldade, porém os rótulos desses produtos são escritos com
palavras comum utilizadas na construção civil. Esta contradição ocorre, pois mesmo estes
trabalhadores afirmando que sabem ler, sua capacidade de compreender a leitura é limitada,
conforme tenho observado durante a minha experiência profissional.
Quando questionado aos jovens se eles sabiam fazer a lista de materiais da obra,
73% afirmaram que sim contra 27% que não.
1-palavras desconhecidas
2-não sei como medir
as quantidade
que manda misturar
3-tenho medo de errar as medidas
4-As letras são muito pequenas
5-outros
82
Gráfico 29
Voc~e sabe fazer a lista de materiais da obra?
1
73%
2
27%
1
2
Dos jovens 36% tem dificuldade de escrever os nomes dos materiais e 64% disseram
que não.
Gráfico 30
Vo tem dificuldades de escrever os nome
dos materiais?
1
36%
2
64%
1
2
Gráfico 31
Vo consegue ler os avisos de segurança da
obra?
1
86%
2
14%
1
2
1-sim
2-não
1-sim
2-não
1-sim
2-não
83
Gráfico 32
Vo entende melhor os avisos de segurança
na obra:
1
86%
2
14%
1
2
Os jovens que o conseguem realizar suas tarefas sozinhos solicitam ajudam dos
encarregados, conforme gráfico 29.
Gráfico 33
Quando você não sabe escrever o nome de um
material você pede ajuda a alguém?
1
92%
2
8%
1
2
Gráfico 34
Para quem você pede ajuda?
1
7%
4
37%
5
7%
6
21%
7
21%
2
0% 3
7%
1
2
3
4
5
6
7
1-escritos
2-desenhados
1-sim
2-não
1-orelha-seca
2-meia-colher
3-pedreiro
4-encarregado
5-mestre
6-engenheiro
7-outros
84
Outra informação relevante para a pesquisa, é que estes trabalhadores apesar de
afirmarem que sabem escrever (87%) (gráfico 24) apresentam dificuldades em escrever uma
simples lista de materiais de obra, materiais e equipamentos que é de uso diário, corroborando
com a definição do IBGE, estes jovens são considerados analfabetos funcional.
Como vimos nos gráficos de 26 a 31, relacionados diretamente com a obra podemos
verificar que a maioria dos trabalhadores possui dificuldades de escrita e de leitura, esta é uma
dificuldade que precisa ser sanada, uma vez que o conhecimento de materiais, equipamentos e
avisos de segurança nas obras são questões de segurança do trabalhador.
Com o conhecimento dos materiais, o trabalhador aplicará melhor o produto e
também poderá manuseá-lo com segurança, sem correr risco porque poderá identificar através
dos rótulos contidos no produto, não o seu manuseio, mas os riscos a que está sujeito o
trabalhador quanto à forma de aplicação bem como o meio correto de armazenagem do
produto.
Os equipamentos possuem determinados riscos de operação, manutenção e
localização num canteiro de obra, que se não forem observados as normas de segurança dos
mesmos, acidentes poderão ocorrer. Por isso as placas de segurança para os trabalhadores da
construção civil são feitas com gravuras e com “dizeres”.
O domínio da leitura nestes casos é imprescindível para o trabalhador. A
compreensão da leitura poderá salvar uma vida.
85
Dos jovens entrevistados que trabalham na construção civil 43% deles tiveram
dificuldade em seu processo de escolarização. Esses dados nos mostram que possivelmente a
escola não cumpre o seu papel de ensinar a ler a escrever e conseqüentemente muitos alunos
da classe populares não consegue ter ingresso, permanência e sucesso na sue percurso escolar.
Gráfico 35
Na escola, você teve dificuldade em aprender a
ler?
1
43%
2
57%
1
2
Quanto à dificuldade de aprender a escrever os entrevistados se subdividiram em
meio a meio, porque 50% teve de aprender a escrever contra 50% que não.
Gráfico 36
Na escola você teve dificuldades de aprender a
escrever?
1
50%
2
50%
1
2
Os mesmo percentuais de jovens que tiveram dificuldade de escrever, também
matavam aula, 50%.
1-sim
2-não
1-sim
2-não
86
Gráfico 37
Vo matava aulas?
1
50%
2
50%
1
2
Não definiram as causas do por que matavam aulas 34%, mas 22% não as assistiam,
22% matavam aula para acompanhar os amigos, 11% deles não gostavam da professora e
somente 11% não gostavam de estudar.
Gráfico 38
Porque você matava as aulas?
1
22%
2
11%
3
11%
4
22%
5
34%
1
2
3
4
5
Os maiores índices da não freqüência às aulas estão relacionados, ao jogo de futebol.
Os jovens faltavam às aulas para jogar bola, 36%. O segundo maior índice, com 29% é o
namoro. Os jovens iam namorar e deixavam de assistir ás aulas.
1-sim
2-não
1-não assistia às aulas
2-não gostava da professora
3-tinha dificuldade de
aprender
4-matava para
acompanhar os amigos
5-outros
87
Gráfico 39
Quando matava aulas, o que você fazia?
1
36%
2
7%
3
7%
4
29%
5
0%
6
21%
1
2
3
4
5
6
Corresponde a 50% de pessoas que não dominam a leitura e a escrita, nas casas
desses jovens. Mesmo para os padrões brasileiros este índice é muito alto. Conforme os
índices veiculados pelo IBGE que é de 10,80 de analfabetos para região Centro-Oeste.
Gráfico 40
Na sua casa todos sabem ler e escreve?
7
50%
7
50%
7
7
Cinqüenta por cento das famílias não sabem ler, conforme responderam na questão
acima, conseqüentemente não acompanharam as crianças na escola, não tiveram condições de
ajudar-los nas dificuldades escolares e o resultado é a reprovação, 86% dos jovens foram
reprovados. Conclusão esta confirmada pela pesquisa realizada pelo Instituto Paulo
Montenegro e publicada no dia 14/09/2005, onde afirma que além do estudo formal alguns
1-jogava bola
2-passeava com os
amigos
3-
andava pelas ruas,
sem fazer nada
4-namorava
5-ficava no pátio da
escola conversando
6-outros.
1-sim
2-não
88
fatores que influenciam a alfabetização dos alunos é a escolaridade da mãe e a capacidade de
leitura do pai.
Gráfico 41
Vo reprovou de ano?
1
86%
2
14%
1
2
A vida dos trabalhadores da construção civil é instável, hoje está aqui, amanha acolá.
Os pais constantemente mudam de cidade em cidade, ou de bairro, portanto as crianças
também mudam de escola, não formando vínculo escolar e dificultando o processo ensino
aprendizagem.
Gráfico 42
Porque reprovou?
1
20%
2
7%
3
26%
4
20%
5
27%
6
0%
1
2
3
4
5
6
1-sim
2-não
1-tinha dificuldades
de aprender
2-meus pais tiraram
da escola
3-não gostava
de estudar
4-mudou de bairro
5-mudou de cidade
6-outros.
89
A justificativa acima contribuiu para o fracasso escolar destes trabalhadores e
somado as dificuldades de aprendizagem levaram-nos a para de estudar.
Gráfico 43
Vo parou de estudar?
1
64%
2
36%
1
2
Estes jovens acham à escola importante, 91%, pensam em retornar a escola. E se
possível chegar à Universidade.
Gráfico 44
Vo já pensou em voltar a estudar?
1
91%
2
9%
1
2
Destes entrevistados que gostariam de retornar a sala de aula 46% desejariam ser
engenheiros permanecendo na área da construção civil.
1-tinha dificuldades
de aprender
2-para trabalhar
3-não gostava
de estudar
4-mudou de bairro
5-mudou de cidade
6-outros.
1-sim
2-não
90
Gráfico 45
Se voltasse a estudar voc~e faria que curso?
1
8%
2
8%
3
8%
4
46%
5
0%
8
15%
7
0%
6
15%
1
2
3
4
5
6
7
8
Para podermos entender porque estes trabalhadores possuem dificuldades na escrita,
algumas questões foram levantadas quanto a sua participação em sala de aula. Com isto
observou-se que as maiorias dos trabalhadores que reprovaram de ano tinham dificuldades de
assistir as aulas, não gostavam de estudar, matavam as aulas ou para jogar bola ou para
namorar. Estas atitudes evidenciam que os trabalhadores tinham dificuldades de permanecer
na sala de aula, conseqüentemente terminavam com dificuldades para aprender.
Um dos fatores que contribui para a alfabetização precária dos trabalhadores da
construção civil é a idade precoce com que começam suas vidas no mundo do trabalho. Os
jovens, 58% deles, afirmaram que iniciaram suas atividades antes de completar 14 anos de
idade. 21% começaram com 15 anos, 7% com 16 anos e somente 14% destes jovens
começaram a trabalhar após completar 18 anos. Com esses dados pode-se afirmar que os
jovens da construção iniciam na vida profissional com idade precoce.
1-contabilidade
2-direito
3-medicina
4-engenharia
5-agronomia
6-veterinária
7-curso de formação
de professores
8- outros
91
4.1.4 - Trabalho
Gráfico 46
Com que idade você começou a trabalhar?
1
58%
2
21%
3
7%
4
0%
5
0%
6
14%
1
2
3
4
5
6
Noventa e dois por cento afirmaram que sempre trabalharam.
Gráfico 47
Vo sempre trabalhou?
1
92%
2
8%
1
2
Trinta e um por cento segundo eles, já iniciaram a trabalhar antes de 1996.
1-antes dos
14 anos
2-15 anos
3-16 anos
4-17 anos
5-18 anos
6-após os 18 anos
1-sim
2-não
92
Gráfico 48
Quando você começou a trabalhar na construção
civil?
1
31%
2
0%
3
23%
4
8%
5
15%
6
23%
1
2
3
4
5
6
Segundo os jovens 26% começaram a trabalhar na construção civil porque não
tiveram outra opção, 27% para estudar a noite e 20% seguiram a profissão dos pais, 20%
porque não tiveram estudos. As empresas da construção civil não exigem o conhecimento
escolar. Apesar da necessidade da leitura e da escrita para que o trabalhador da construção
civil possa desenvolver melhor suas atividades com eficiência e segurança as empresas ainda
não exigem este conhecimento na hora da contratação.
Gráfico 49
Porque você veio trabalhar na construção civil?
1
26%
2
20%
3
27%
4
20%
5
7%
1
2
3
4
5
Apesar de terem dito que estão na construção civil por falta de opção, 92%
afirmaram que estão satisfeitos com o trabalho que executam. Esta questão me intrigou.
Retornei aos entrevistados e perguntei por que estavam satisfeitos com esta atividade.
1-antes
de 1996
2-1997-1998
3-1999-2000
4-2001-2002
5-2003-2004
6-2005-2006
1-porque não encontrei
outro serviço
2-Meu pai é trabalhador
da construção civil
3-
Para poder estudar a
noite
4-
Porque não tinha
estudo
5-outros
93
Alguns daqueles que eram trabalhadores rurais, responderam que estavam satisfeitos
porque o trabalho de servente é mais leve que o rural e têm mais privilégios como salário fixo
e carteira assinada.
E quase todos passaram a ter privilégio como os benefícios com a carteira assinada,
que são os casos dos pacoteiros e outros.
Gráfico 50
Vo está satisfeiro com o tipo de trabalho que
executa?
1
92%
2
8%
1
2
Gráfico 51
Vo chegou a trabalhar em outros serviços?
1
92%
2
8%
1
2
Dos trabalhadores que afirmaram que tentaram trabalhar em outro serviço dentre
estes 47% tiveram diversas atividades antes de ingressarem na construção civil. Das demais
atividades, 27% como pacoteiro, 18% como trabalhador rural e 6% como frentista.
1-sim
2-não
1-sim
2-não
94
Gráfico 52
No que?
1
27%
2
0%
3
18%
7
46%
4
0%
6
9%
5
0%
1
2
3
4
5
6
7
Quando perguntado se gostaria de voltar a estudar a grande maioria disse que sim e
que se possível seriam engenheiro. Porque isto não ocorre? As respostas estão nos gráficos em
que estaremos analisando a trajetória da vida laboral destes trabalhadores.
Pelos dados analisados percebemos que os trabalhadores já iniciaram suas atividades
na construção civil com idade precoce. Com baixo nível de conhecimento escolar. Isso se
deve ao fato da empresas de construção civil não se preocupou com o nível de instrução dos
seus trabalhadores, realidade que as grandes empresas do setor estão tentando mudar.
Outro dado interessante diz respeito o grande contingente de trabalhadores que
procuram a construção civil depois de tentar emprego em outros setores, como não encontram
recorrem a esta atividade como a última alternativa de se inserir no mercado de trabalho
dignamente.
4.1.5 - Experiência Educacional na Empresa
Apesar de a empresa afirmar que oferece curso de alfabetização para os seus
funcionários, 67% deles não tem conhecimento desses cursos. A pesquisa revela que os
conhecimentos da leitura e da escrita são precários.
1-pacoteiro
2-entregador de
mercadoria
3-trabalhador rural
4-flanelinha
5-doméstico
6-frentista
7-outros.
95
Os 33% dos trabalhadores que ouviram falar dos cursos, ou já freqüentaram, não
participam deles devido ao cansaço ocasionado pelo tipo de atividade exercida durante toda a
jornada de trabalho.
Gráfico 53
A empresa que vo trabalha já ofereceu ou
oferece aulas de alfabetização para os
funcionários?
1
33%
2
67%
1
2
Dos jovens entrevistados não oferece ou não ofereceu curso de ensino fundamental
para que saiba ler e escrever, 83% não tem conhecimento destes cursos. A empresa ainda
não se conscientizou da necessidade de um melhor nível de instrução de seus funcionários,
principalmente quando se trata do orelha-seca e meia colher.
Gráfico 54
A empresa já ofereceu ou oferece cursos de
ensino fundamental para quem já sabe ler ou
escrever?
1
17%
2
83%
1
2
1-sim
2-não
1-sim
2-não
96
Somente 8% dos trabalhadores na faixa etária pesquisada freqüentou curso de
alfabetização na empresa, enquanto 92% nunca.
Gráfico 55
Vo já frequentou algum curso de
alfabetização na empresa?
1
8%
2
92%
1
2
Os trabalhadores aqui foram unânimes, nenhum destes trabalhadores participou do
curso de ensino fundamental na empresa.
Gráfico 56
Vo já frequentou algum curso de ensino
fundamental na empresa?
1
0%
2
100%
1
2
Somente 25% destes jovens participaram de treinamento, porém 75% ainda não
participaram.
1-sim
2-não
1-sim
2-não
97
Gráfico 57
Vo já frequentou ou está frequentando
treinamento na empresa?
1
25%
2
75%
1
2
Dentre os cursos oferecidos que os alunos mais freqüentam, destacou-se o item 2,
rejunte de piso com 15% seguidos com 14% em cada, os cursos de preparo de massa, preparo
de concreto e utilização dos equipamentos de segurança, sendo que este último é obrigatório
conforme as Normas Regulamentadoras NR-6, e 22% dos entrevistados participaram de
outros tipos de treinamentos.
Gráfico 58
Em quê?
1
7%
2
15%
3
14%
4
14%
5
14%
6
0%
7
7%
8
0%
9
7%
10
0%
11
22%
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
1-sim
2-não
1-limpeza de esquadrias
e azulejos
2-rejunte de piso
3-
utilização dos
equipamentos de segurança
4-preparo de massa
5-preparo de concreto
6-levantamento de pesos
7-assentamento de tijolos
8-reboco
9-serviços de almoxarife
10-apontador
11-Outros.
98
Os participantes tendem a permanecer na empresa por mais tempo e considera-la
como a que oferece melhores condições de trabalho para os funcionários. Apesar de 60% dos
trabalhadores responderem que não tiveram dificuldade em participar dos treinamentos, o
processo continua no canteiro de obra, porém com constante supervisão dos encarregados,
para correção e acompanhamento do desempenho.
Gráfico 59
Sentiu dificuldade em acompanhar o
treinamento?
1
40%
2
60%
1
2
A maioria dos participantes, 70% alegaram que conseguem executar suas atividades
melhor depois do treinamento. Porém 30%, não alcançaram êxito esperado.
Gráfico 60
Vo aprendeu a fazer o serviço diferente da
maneira que vo fazia antes?
1
70%
2
30%
1
2
1-sim
2-não
1-sim
2-não
99
A 70% afirmou que nunca sofreu acidente de trabalho na obra, entretanto 30%
sofreram acidentes na obra. Segundo o Ministério do Trabalho a Industria da Construção, em
2004, situou-se em terceiro lugar quanto ao número de acidentes típicos do setor. A área de
Edificações registrou o segundo maior número de acidentes entre todas as classes na
Construção. Os números verificados na pesquisa estão próximo da media nacional de
acidentes de trabalho na construção civil
Gráfico 61
Vo já sofreu algum tipo de acidente na obra?
1
31%
2
69%
1
2
Dos entrevistados 54% responderam que já receberam treinamento sobre o uso de
equipamentos de segurança. O restante 46% responderam que não foram treinados no uso dos
equipamentos de segurança.
Gráfico 62
Vo recebe treinamento sobre o uso dos
equipamentos de segurança?
1
54%
2
46%
1
2
1-sim
2-não
1-sim
2-não
100
É interessante observar que quando perguntados sobre qual treinamento estes
funcionários desejariam receber, a grande maioria (42%) responderam: assentamento de
tijolos, atividade exercida pelo pedreiro, seguida do treinamento para apontador, 33%, pessoa
que exerce na construção civil a função de anotar o recebimento de materiais, equipamentos e
fazer o controle de presença no trabalho. Estas atividades dão maior representatividade na
comunidade onde moram, permite melhoria salarial significativa e tiraria deles a condição de
orelha-seca.
Gráfico 63
Quais dos serviços abaixo vo gostaria de
receber treinamento dentro da empresa?
1
42%
5
33%
6
17%
3
0%
2
8%
4
0%
1
2
3
4
5
6
O treinamento, segundo o que afirmou a responsável pelo programa, tem a intenção
de contribuir para uma melhor qualidade final da obra, formando trabalhadores mais
capacitados, com maiores condições de enfrentar o mercado de trabalho, ou seja, teria mais
empregabilidade, com maior remuneração dos que não possuem nenhum tipo de treinamento.
4.1.5- Valores Sócios Culturais
Do total dos entrevistados 79% votaram nas ultimas eleições, apesar do voto no
Brasil ser obrigatório 21% deixaram de exercer o direito do voto.
1-assentamento de
tijolos
2-assentamento de
esquadrias
3-
serviços de
carpinteiro
4-
serviços de
almoxarife
5-apontado
6-outros.
101
Gráfico 64
Vo votou nas ultimas eleições?
1
79%
2
21%
1
2
A escolha do candidato se deu através da proposta dos mesmos, no qual 68%
escolheram esta opção, 18% escolheram seu candidato pelo programa de TV, 6% por gostar
do candidato, 6% porque o candidato prometeu melhorias no bairro onde mora e 6% não
souberam o porquê escolheu determinado candidato e 6% não expressaram sua escolha.
Gráfico 65
Como você escolheu o seu candidato?
4
58%
6
6%
7
6%
3
6%
2
0%
5
6%
1
18%
1
2
3
4
5
6
7
Quanto à filiação á algum partido político, apenas um entrevistado é filiado, o que
representa 5% do total.
1-sim
2-não
1-pela propaganda
da TV
2-por pedido de amigos
3-por gostar do candidato
4-porque achou a proposta
do candidato boa
5-porque o candidato prometeu
melhorar o bairro
6-não sabe
7-outros.
102
Gráfico 66
Vo é filiado a algum partido político?
1
5%
2
95%
1
2
No gráfico a seguir uma contradição na resposta dos entrevistados em relação à
pergunta anterior, constante no gráfico 66. Se apenas um entrevistado é filiado a um partido
político, deveria aparecer apenas uma sigla do partido político ao qual este trabalhador é
filiado. Porém outros seis trabalhadores, quando lhes foram apresentado uma lista com os
nomes dos partidos políticos, responderam à pergunta do gráfico 67 como se fossem filiados á
partido político.
Gráfico 67
Se sim, em qual partido político?
1
9%
2
9%
12
46%
5
0%
6
0%
10
0%
3
27%
7
0%
8
9%
11
0%
9
0%
4
0%
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
1-sim
2-não
1-PMDB
2-PSDB
3-PT
4-PTB
5-PP
6-PPS
7-PRONA
8-PCdoB
9-PSB
10-PDT
11-PV
12 outros.
103
Um pouco mais que a metade dos trabalhadores que responderam ao questionário
afirmou que são sindicalizados, isto correspondendo a 56% do total dos entrevistados. Esses
números indicam certo equilíbrio na participação destes trabalhadores em seu sindicato.
Ainda que não tenha sido checado, se de fato estes trabalhadores são sindicalizados ou não,
esses números apontam para a existência de uma significativa ligação do trabalhador da
construção civil com seu sindicato.
Gráfico 68
Vo é sindicalizado no sindicato dos
Trabalhadores da Construção Civil de Cuiabá?
1
56%
2
44%
1
2
Quanto à participação destes trabalhadores nos movimento de bairro, 68%
responderam que não participam contra 32% que participa.
Gráfico 69
Vo participa de movimentos do Bairro onde
mora?
1
32%
2
68%
1
2
1-sim
2-não
1-sim
2-não
104
A participação das reuniões em centro comunitário é de 29% e de que não
participam é de 71% do total dos entrevistados.
Gráfico 70
Vo participa das reuniões no Centro
comunitário?
1
29%
2
71%
1
2
Dos jovens trabalhadores 79% acertaram no nome do atual prefeito de Cuiabá e 7%
não souberam responder.
Gráfico 71
O nome do prefeito de Cuia é?
1
0%
2
0%
6
79%
7
21%
3
0%
4
0%
5
0%
1
2
3
4
5
6
7
As maiorias dos trabalhadores, 58% não souberam responder em qual partido o
prefeito é filiado. 32% responderam corretamente que o prefeito é filiado ao PSDB. 5%
afirmaram que pertencia ao PSB e outros 5% o PT, o que mostra que 10% deles responderam
equivocadamente a questão.
1-sim
2-não
1-Blairo Maggi
2-Serys Marli
3-Miguel Araes
4-Roberto França
5-Humberto Bosaipo
6-Wilson Santos
7-outro
105
Gráfico 72
Qual é o partido político do Prefeito?
3
5%
2
32%
1
0%
10
0%
5
0%
6
0%
12
58%
4
0%
9
5%
8
0%
11
0%
7
0%
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
O nome do governador é de conhecimento de 74% dos entrevistados, 21% não
sabem e 5% errou.
Gráfico 73
O nome do Governador do Estado é?
1
74%
7
21%
6
5%
5
0%
4
0%
3
0%
2
0%
1
2
3
4
5
6
7
1-PMDB
2-PSDB
3-PT
4-PTB
5-PP
6-PPS
7-PRONA
8-PCdoB
9-PSB
10-PDT
11-PV
12outros
1-Blairo Maggi
2-Serys Marli
3-Miguel Araes
4-Roberto França
5-Humberto
Bosaipo
6-Wilson Santos
7-outro.
106
O nome do partido do governador é desconhecido por 62% dos entrevistados. 11%
responderam erradamente que governador pertencia ao PSDB, 11% ao PT e 5% ao PMDB.
Somente 11% responderam corretamente que o governador pertencia ao PPS.
Gráfico 74
Você sabe qual o partido político do Gevernador?
12
62%
11
0%
10
0%
9
0%
8
0%
6
11%
5
0%
4
0%
3
11%
7
0%
1
5%
2
11%
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Dos entrevistados 90% afirmaram corretamente o nome do presidente da República
e apenas 10% não souberam.
Gráfico 75
Qual o nome do Presidente da República?
3
90%
6
10%
1
0%
4
0%
5
0%
2
0%
1
2
3
4
5
6
1-PMDB
2-PSDB
3-PT
4-PTB
5-PP
6-PPS
7-PRONA
8-PCdoB
9-PSB
10-PDT
11-PV
12-outros
1-Tancredo Neves
2-
Fenando Henrique
Cardoso
3-
Luis Inácio Lula da
Silva
4-Geraldo Alkimim
5-José Sarney
6- outro
107
Dos partidos políticos relacionados 68% responderam que o presidente da República
é do Partido dos Trabalhadores e 32% não sabiam de que partido o presidente representa.
Gráfico 76
Vo sabe qual é o partido político do
Presidente da República?
2
0%
3
0%
4
68%
5
0%
6
0%
7
0%
8
0%
9
0%
10
0%
11
0%
12
0%
13
32%
1
0%
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
Os trabalhadores entrevistados sabem o nome do prefeito e do governador e não os
relacionam com o partido político a que pertencem. É razoável que isso se dê, em razão que
no Brasil pode-se considerar que existe uma cultura política em que as lideranças políticas
não costumam manter-se filiada a um mesmo partido. No presente caso tanto o governador
como os prefeitos ao longo de sua trajetória política transitaram por vários partidos. O
presidente Lula sempre foi filiado ao mesmo partido político, por isso podemos observar que
a percentagem de acerto do nome do presidente e do nome do partido político a que o mesmo
pertence é de mais de 68%, o que não ocorre com o do governador e com o do prefeito. No
caso do presidente o fato de pertencer sempre ao um partido político em sua trajetória, pode
ter criado essa imagem de vinculação entre liderança e partido.
4.1.6 - Valores Culturais
1-PMDB
2-PSDB
3-PT
4-PTB
5-PP
6-PPS
7-PRONA
8-PCdoB
9-PSB
10-PDT
11-PV
12-outros
108
A religião outro fator social importante na vida de todo trabalhador foi também
investigada nesse trabalho. Essa importância se expressando no fato de que todos os
entrevistados afirmarem terem vinculação religiosa.
Os resultados obtidos mostraram que 88% afirmam ser católicos, 6% da Igreja
Batista, 6% da Igreja Assembléia de Deus, as demais religiões, registradas no questionário,
não foram citadas.
Gráfico 77
Qual a sua religião?
1
88%
2
0%
9
0%
8
0%
7
0%
5
0%
6
0%
4
6%
3
6%
1
2
3
4
5
6
7
8
9
É elevado, 74%, o número de jovens trabalhadores que afirmam freqüentar a igreja e
somente 26% afirmou que não freqüentam.
1-Católica
2-Presbiteriana
3-Batista
4-Da Igreja
Assembléia de Deus
5-Igreja Universal
6-Espírita
7-Candomblé
8-Umbanda
9-outras
109
Gráfico 78
Você frequenta alguma Igreja?
Templo?
1
74%
2
26%
1
2
Participam da escola dominical 28%, 29% assistência a idosos, 29% grupo de
oração, 14% estudo da Bíblia, sendo que ninguém participa do coral destas igrejas e nem de
campanha para arrecadação de fundo para obras da igreja.
Gráfico 79
Participa de alguma atividade
social voluntária ma Igreja ou no
Templo?
2
28%
3
29%
4
29%
6
0%
5
14%
1
0%
1
2
3
4
5
6
Dos que participam das atividades pastorais da igreja apenas 31% dizem participar e
69% não participam.
1-sim
2-não
1-Coral
2-Escola dominical
3-Assistência a idosos
4-Grupo de oração
5-Estudo da Bíblia
6-Campanha para arrecadação
de fundos para obras da igreja
110
Gráfico 80
Você participa das pastorais da
igreja?
1
31%
2
69%
1
2
Dos que responderam que participam das pastorais da igreja, a pastoral dos jovens
49% faz parte da maioria, 17% da pastoral da musica, 17% da pastoral da criança e 17% da
pastoral do dízimo.
Gráfico 81
em qual pastoral você participa?
1
17%
2
17%
3
0%
4
49%
5
17%
1
2
3
4
5
Responderam que pagam dízimos 57% e 43% que não pagam. Não foi feita a
verificação da veracidade destas afirmações. Como não é uma tradição da Igreja Católica
recolher o dízimo de maneira sistemática, sendo essa uma tradição mais afeta as igrejas
1-sim
2-não
1-
pastoral da
criança
2-pastoral do
dízimo
3-pastoral
carcerária
4-
pastoral dos
jovens
5-pastoral da
música
6-outras
111
evangélicas, e como a maioria dos trabalhadores pesquisados afirmaram pertencer a Igreja
Católica é possível que a resposta não corresponda de fato ao que ocorre na realidade.
Gráfico 82
Você paga dízimo?
1
57%
2
43%
1
2
4.2 - MEIA-COLHER.
A pesquisa realizada em abril de 2006, entre os trabalhadores que desempenhavam a
função de meia-colher, apenas um estava na faixa etária considerada por este trabalho. É bom
lembrar que a característica do trabalho do meia-colher, diferenciando-o do orelha-seca, é o
fato de estar em uma condição intermediária de qualificação. Ele não é mais o trabalhador
braçal sem nenhuma qualificação mais não é ainda o trabalhador considerado qualificado pela
indústria da construção civil.
Nascido em Chapada dos Guimarães e criado em Cuiabá é solteiro e se identifica
como negro. Seu pai foi trabalhador rural e atualmente também trabalha na construção civil
como orelha-seca. Segundo ele o seu pai sabe ler e escrever. Sua mãe é aposentada e também
saberia pelo que afirmou ler e escrever. Sua família seria numerosa, com oito irmãos. Todos
eles ainda freqüentando a escola. Tem uma companheira e não possuí filhos, disse que mora
ainda com os pais. Respondeu que a renda da família se situa entre dois a quatro salários
mínimos.
1-sim
2-não
112
Este jovem meia-colher afirmou que sabe ler e escrever, porém disse que tem
dificuldades de seguir as orientações escritas no rótulo dos produtos. De acordo com ele essas
dificuldades são oriundas do uso de palavras desconhecidas. Ele alega que não tem nenhuma
dificuldade em fazer uma lista dos materiais utilizada na obra. Quando estas dificuldades
surgem, ele pede ajuda ao encarregado. Disse que começou a estudar aos seis anos de idade,
parou aos vinte anos, quando concluiu o ensino médio. Não encontrou dificuldade no processo
alfabetização em sua trajetória escolar. Segundo ele era um aluno assíduo, não faltava e nem
matava aula. Reprovou de ano, mas alega que esta reprovação foi devido à mudança de cidade,
disse ainda que parou de estudar para poder trabalhar, e se possível voltaria a estudar para ser
engenheiro.
Esse jovem trabalhador começou sua atividade na construção civil após os dezoito
anos. Alega que entrou nesta atividade porque não tinha estudo. Ainda que ele afirme ter
concluído o segundo grau, esse nível de escolarização no seu caso, não foi suficiente para
colocá-lo em um trabalho mais qualificado. É provável que a sua afirmação que não tem
estudo indique que de fato que ele não teria era qualificação para o trabalho. Afirmou que está
satisfeito coma a atividade que desenvolve e que gostaria de fazer um curso profissionalizante
na função de eletricista. Quando afirmou que tinha começado na construção civil, é provável
que ele tenha considerado talvez o fato de um trabalho com registro em carteira, pois em
pergunta posterior ele respondeu que tinha sido pacoteiro em supermercado.
Quanto aos cursos de alfabetização talvez devido ao fato de ter declarado que
tinha concluído o ensino médio, afirmou que nunca freqüentou a sala de alfabetização do
canteiro de obra.
113
Mesmo tendo afirmado que gostaria de ser eletricista, nunca solicitou um treinamento
na empresa, bem como não participou de nenhum outro treinamento promovido pela empresa.
Declarou não ter sofrido nenhum acidente de obra e que não recebeu treinamento para o uso de
equipamento de segurança. Sua afirmação contraria o que vem sendo uma prática comum em
empresas com as características da Concremax, que normalmente executam treinamento para o
uso de equipamentos de segurança quando da admissão dos seus trabalhadores.
Votou nas ultimas eleições e segundo ele, escolheu seu candidato pela proposta
apresentada. Não é filiado a nenhum partido político e nem é sindicalizado. Não participa dos
movimentos de bairro onde mora, nem de reuniões no centro comunitário.
Ele sabe o nome do prefeito de Cuiabá e do governador do Estado, porém nos dois
casos não soube a qual partido político eles pertencem. Sabe o nome do presidente da
República como também o nome do partido político a que pertence o presidente.
Ele afirma pertencer à religião católica, porém deixou de responder se freqüenta a
igreja ou não. Entretanto declarou que participa da Pastoral dos Jovens na Igreja e que paga o
dízimo.
Podemos afirmar que o conjunto de respostas desse jovem trabalhador não se
distanciou das de seus jovens colegas menos qualificados. Nesse sentido é importante ressaltar
que todos almejam uma melhor qualificação profissional e tem na religião sua principal
referencia de participação social. Ele também demonstrou que tem informação sobre quem
são os dirigentes do Estado ainda que não tenha maiores informações sobre seus vínculos
114
partidários. A exceção, como todos os seus colegas, é a vinculação que fazem entre o
presidente e o seu partido. Finalmente podemos constatar a presença da afirmação, muito
comum, feita por jovens trabalhadores de que abandonaram os estudos porque precisavam
trabalhar.
115
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse trabalho procuramos entender a educação dos jovens trabalhadores da
construção civil adquirida na empresa e sua relação com a atividade profissional por ele
exercida nos canteiros de obras.
Os programas de alfabetização e aperfeiçoamento profissional dos trabalhadores da
construção civil promovido pela empresa Concremax, segundo a engenheira Renata de
Aquino Moreira Figueiredo, ainda não tiveram seus resultados mensuráveis por parte da
empresa. Do ponto de vista da empresa mesmo que os resultados não tenham passado por
uma avaliação quantitativa pode-se dizer que pelo menos um dos seus objetivos tem sido
atingido, que é a certificação PBPQ-H e as ISSO’s 9000.
A relação entre a qualidade das obras e o analfabetismo é percebido pelos
profissionais envolvidos, onde cada etapa exige um grau de conhecimento diferenciado de
materiais e seus meios de aplicação gerando dificuldade quando o trabalhador não tem
domínio da leitura e/ou compreensão dos manuais de aplicação dos produtos.
Pelas informações obtidas podemos observar que a preocupação dos empregadores
quanto à alfabetização e qualificação de seus funcionários visa a obtenção do certificado de
qualificação da empresa pelo PBPQ-H. A obtenção do certificado está intimamente ligado ás
condições de trabalho dos funcionários e a possibilidade de melhoria da qualidade da mão-de-
obra e da certificação das ISO’s 9000.
116
Para os trabalhadores, a questão de se profissionalizar não está apenas ligada a
melhoria salarial, mas também ampliação das oportunidades de trabalho. A maioria dos
trabalhadores que se alfabetizaram, quer seja no canteiro de obra ou na escola, tem maior
participação nos programas promovidos pela empresa. Podemos observar com isso que tanto
a empresa como os trabalhadores estão certos que a melhoria da qualidade do serviço passa
pelo conhecimento da escrita e da leitura e depois pela qualificação profissional. O jovem
trabalhador passa a ter melhores condições de empregabilidade e quase sempre alcança
melhorias salariais.
A empregabilidade proporciona ao trabalhador condições de manter-se no mercado
de trabalho haja vista a sazonalidade da ocupação da mão-de-obra pela construção civil. Em
decorrência do seu preparo profissional que lhe permite adaptar-se a novas condições de
trabalho bem como as novas funções. Este trabalhador que possui capacidade de exercer mais
de uma função dentro do mesmo canteiro de obra passa, na maioria dos casos, a receber um
aditivo salarial proporcional à nova capacidade laborativa. Assim como ocorre com orelha-
seca, mesmo que em sua carteira de trabalho ainda conste a função anterior e/ou não
caracterize uma nova função.
Dos jovens trabalhadores da empresa Concremax que responderam a pesquisa 87%
se declaram alfabetizados. Conforme citou Kessels (1997:205) um sistema escolar geral
eficiente, de alta qualidade, é um pré-requisito para a empregabilidade. Do total dos
entrevistados 5% disse que sabe escrever, porém não sabe ler. Este fato me causou estranheza,
uma vez que, sempre acreditei que o saber escrever passa inicialmente pelo processo do saber
117
ler, porém para Ferreiro a escrita está precedida das “garatuchas” que a criança faz antes de
efetivamente usar os símbolos alfabéticos e que isso levaria a copiar o que está escrito.
Esse resultado contradiz a afirmação de Sayegh, o qual afirma que a Organização
Internacional do Trabalho, cerca de 33% dos trabalhadores registrados da construção civil não
sabem ler ou escrever e, em geral, desempenham funções auxiliares com pouca ou nenhuma
especialização. Acreditamos que este resultado da OIT pode ter sido por não ter utilizado na
sua pesquisa a separação entre jovens e adultos, considerando toda a população com idade
acima de 14 anos e não apenas aos jovens.
Nesta pesquisa observamos que as empresas poderão concentrar seus esforços
educacionais nos locais de trabalho com programas de qualificação periódicos devido ao fato
de que as constantes inovações tecnológicas e o lançamento de novos produtos no mercado se
fazem necessário à atualização das novas formas de aplicação. Esta necessidade ocorreu
primeiramente devido à necessidade de obtenção das certificações, porém observou que a
educação e a qualificação dos trabalhadores da construção civil tende a ser permanente dentro
da empresa em decorrência do aumento da qualidade e produtividade na execução dos
serviços.
A relação Trabalho/ Educação passa a ter importância no mundo do trabalho, pois a
obrigação de prover qualificação caberá aos empresários que poderão estimular e facilitar a
formação dos trabalhadores e, como detentores do poder econômico, de apoiar e exigir do
Estado, qualidade na educação.
118
Esse resultado contradiz a afirmação de Sayegh, o qual afirma que a Organização
Internacional do Trabalho, cerca de 33% dos trabalhadores registrados da construção civil não
sabem ler ou escrever e, em geral, desempenham funções auxiliares com pouca ou nenhuma
especialização. Acreditamos que este resultado da OIT pode ter sido por não ter utilizado na
sua pesquisa a separação entre jovens e adultos, considerando todo a população com idade
acima de 14 anos e não apenas aos jovens.
Nesta pesquisa observamos que as empresas poderão concentrar seus esforços
educacionais nos locais de trabalho com programas de qualificação periódicos devido ao fato
de que as constantes inovações tecnológicas e o lançamento de novos produtos no mercado se
fazem necessário à atualização das novas formas de aplicação. Esta necessidade ocorreu
primeiramente devido à necessidade de obtenção das certificações, porém observou que a
educação e a qualificação dos trabalhadores da construção civil tende a ser permanente dentro
da empresa em decorrência do aumento da qualidade e produtividade na execução dos
serviços.
A relação Trabalho/ Educação passa a ter importância no mundo do trabalho, pois a
obrigação de prover qualificação caberá aos empresários que poderão estimular e facilitar a
formação dos trabalhadores e, como detentores do poder econômico, de apoiar e exigir do
Estado, qualidade na educação.
119
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