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Quando em fins dos anos quarenta do século XX, Pierre
Schaeffer criou a música concreta
99
, aquela que parte da gravação em
fita magnética de qualquer som encontrado, proveniente de qualquer
fonte sonora, não pensava em descrever a experiência da escuta.
Preocupou-se com questões de composição, mas que, em se tratando de
música concreta, só poderiam ser esmiuçadas através de um
entendimento e aprofundamento da escuta. Assim, em 1966 publica o seu
'Traité des Objets Musicaux', um método para descrição da experiência da
música concreta.
Nesta obra, Schaeffer direciona a atenção aos sons por
meio da “escuta reduzida”. Baseada na fenomenologia de Husserl
100
, a
99
Exemplo faixa 39 do DVD.
100
A postura fenomenológica consiste em estudar o fenômeno tal qual nos
aparece através da consciência. No dicionário Aurélio lemos: “sistema de Emund
Husserl, filósofo alemão (1859-1938), e de seus seguidores, caracterizado
principalmente pela abordagem dos problemas filosóficos segundo um método
que busca a volta “às coisas mesmas”, numa tentativa de reencontrar a verdade
nos dados originários da experiência”.
Em
Cobra, Rubem Q. - Fenomenologia. Filotemas, Site www.cobra.pages.nom.br, Internet,
Brasília, 2001, rev. 2005.
encontramos a definição: A redução fenomenológica: A
fenomenologia é o estudo da consciência e dos objetos da consciência. A redução
fenomenológica (ou "epoche" no jargão fenomenológico), é o processo pelo qual
tudo que é informado pelos sentidos é mudado em uma experiência de
consciência, em um fenômeno que consiste em se estar consciente de algo.
Coisas, imagens, fantasias, atos, relações, pensamentos eventos, memórias,
sentimentos, etc. constituem nossas experiências de consciência. Husserl propôs
então que, no estudo das nossas vivências, dos nossos estados de consciência, dos
objetos ideais, desse fenômeno que é estar consciente de algo, não devemos nos
preocupar se ele corresponde ou não a objetos do mundo externo à nossa mente. O
interesse para a Fenomenologia não é o mundo que existe, mas sim o modo como
o conhecimento do mundo se dá, tem lugar, se realiza para cada pessoa. A
redução fenomenológica requer a suspensão das atitudes, crenças, teorias, e
colocar em suspenso o conhecimento das coisas do mundo exterior a fim de
concentrar-se a pessoa exclusivamente na experiência em foco, porque esta é a
realidade para ela. Na redução fenomenológica, a oesis é o ato de perceber.
Aquilo que é percebido, o objeto da percepção, é o noema. A coisa como
fenômeno de consciência (noema) é a coisa que importa, e refere-se a ela a
conclamação "às coisas em si mesmas" que fizera Husserl. "Redução
fenomenológica" significa, portanto, restringir o conhecimento ao fenômeno da
experiência de consciência, desconsiderar o mundo real, colocá-lo "entre