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repressão sem o uso explícito da violência, o que se evidenciou a partir do decreto do
Presidente Marechal Castelo Branco, em 1964, oficializando o Estatuto da Terra. O Estatuto
foi uma ação rápida – realizada no primeiro ano do golpe – na tentativa de conter possíveis
insurreições sociais decorrentes da necessidade de distribuição da terra. Em termos de
elaboração técnica, o Estatuto trouxe alguns avanços como as definições precisas de terras
desapropriáveis, não desapropriáveis, a definição de latifúndio, minifúndio e o conceito de
função social da terra. Entretanto, os avanços pararam por aí (Morissawa, 2001; Martins,
1985).
Segundo José de Souza Martins (1994, p.78), “o golpe não teria sido possível sem a
intervenção e a ação, mais ideológica do que política, de uma classe social tão amplamente
disseminada sobre o território como a classe dos proprietários de terra”. Os militares foram
levados ao poder por uma aliança de frações da classe dominante, composta de elites
industriais e financeiras, com ampla participação das velhas oligarquias rurais agro-
Ligas Camponesas: Certamente o movimento mais combativo e combatido. Organizada em 1955, atuava nos
Estados de Pernambuco, Alagoas e Paraíba e em outras regiões do Nordeste. Teve seu início com a “Sociedade
Agrícola e Pecuária dos Plantadores de Pernambuco”, organizada por 140 famílias que moravam e trabalhavam
na fazenda Galiléia, localizada no município de Vitória do Santo Antão. A Sociedade foi criada com o objetivo
de fundar uma escola e comprar caixões para as crianças cujas mortes eram freqüentes. Além disso, previam em
longo prazo a compra de sementes, fertilizantes, etc. Ao saber da Sociedade o fazendeiro tentou expulsar as
famílias da fazenda. As terras eram arrendadas para os camponeses, que pagavam ao fazendeiro o “foro”, uma
espécie de aluguel. Na medida em que as famílias resistiam à expulsão, aumentava o apoio e a adesão de outros
camponeses, o que os fortalecia politicamente. A Sociedade ficou conhecida como Liga Camponesa da Galiléia
e, passados alguns anos de muita luta política e jurídica, os camponeses ganharam a posse da fazenda. Durante
esse período, a Liga ganhou adesão massiva dos camponeses destas regiões, pautados no lema “Reforma Agrária
na lei ou na marra”. As Ligas resistiram até 1964 quando foram colocadas na ilegalidade, perseguidas e seus
líderes presos e condenados. (Julião, 1962; Fernandes; Stédile, 1999).
Master: O Movimento dos Agricultores Sem Terra – MASTER – surgiu no Rio Grande do Sul, em 1958, a
partir da resistência de 300 famílias de posseiros no município de Encruzilhada do Sul. Com ele surgiu também a
metodologia do “acampamento” como instrumento para pressionar o governo estadual a assentar as famílias.
Muito ligado ao antigo Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, que tinha como expoente máximo a figura de
Leonel Brizola (que governou o Estado gaúcho de 1959 a 1963) o MASTER, apesar de disseminado por todo o
Rio Grande do Sul, não conseguiu se constituir como um movimento autônomo, segundo Fernandes (1999), e
acabou entrando em descenso quando Brizola deixou o governo do Estado. Além disso, a partir de 1962, com a
conquista dos sindicatos para trabalhadores rurais (até então, um direito garantido apenas aos trabalhadores
assalariados urbanos) a orientação política do PTB era de voltar-se para a construção dos sindicatos rurais. Fato
que acabou por enfraquecer o MASTER. Com o golpe militar, veio a gota d’água, o movimento foi colocado na
ilegalidade e perseguido, acabando por se desmantelar. (Fernandes; Stédile, 1999).
ULTAB: A União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas – ULTAB, era uma organização classista criada
com a finalidade de fazer uma aliança entre operários, camponeses e assalariados rurais. Com o tempo se
consolidou por todo o país, com exceção do Rio Grande do Sul e Pernambuco, onde os agricultores se
organizavam através do MASTER e das Ligas Camponesas, respectivamente. Organizada pelo Partido
Comunista Brasileiro – PCB, as ULTAB’s tinham a finalidade de formar associações que substituíssem os
sindicatos proibidos na época. Com a legalização dos sindicatos rurais elas se incorporaram nesta estrutura. Com
o golpe militar, Nestor Veras, um de seus principais dirigentes, foi preso e provavelmente assassinado, que é
considerado desaparecido até hoje. (Fernandes; Stédile, 1999).