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A legitimação e manutenção desse processo, por ter sua origem na infra-estrutura,
dialeticamente elevam essa concretude a uma superestrutura, que a faz parecer natural por
meio da cultura, política e educação.
Capitalismo, luta de classes e violência
Na (i)lógica do sistema capitalista, os homens se tornam coisas, pela alienação e
reificação, e as coisas “tomam formas” e tudo se mercantiliza, as relações familiares, a
cultura, a religião, as verdades e mentiras. Essa realidade é tensionada na “fase imperialista”
desse modo de produção, mesmo que essa violência, por vezes, não se materialize na
objetividade carnal, trazendo outros aspectos, como político-ideológico que coisifica a relação
entre homens com a própria humanidade.
As várias metamorfoses do capital, até sua fase madura, devido o processo de
apropriação e expropriação do trabalho coletivo, têm como uma das refrações da questão
social, a violência. Essa apresenta semelhanças em suas explicitações e motivos diversos se
comparado com outros momentos históricos, outras ordens societárias. No entanto, no sistema
capitalista, traz especificidades e se complexifica, em decorrência das transformações
societárias, fruto de alterações nas relações sociais e no mundo do trabalho.
Para Marx e Engels (2001, p.28) “a burguesia rasgou o véu da emoção e de
sentimentalidade das relações familiares e reduziu-as a mera relação monetária”. Assim, a
moral das relações consangüíneas e suas determinações se dissolvem em um emaranhado de
interesses antagônicos e excludentes.
Ao analisar o processo histórico que possibilitou a produção e reprodução humana, a
violência se corporifica nas ações destinadas a sobrevivência e satisfação das necessidades
determinadas historicamente, contribuindo para o processo de apropriação privada.
Na Revolução Industrial e as profundas mudanças por ela introduzidas na sociedade,
decorrentes do modo de produção e apropriação de riquezas, torna-se evidente que a
violência, mesmo em contextos diferentes, guarda semelhanças em sua “utilização”.
Se para aquisição do alimento, na antiguidade o homem precisava utilizar a violência,
no sistema capitalista, essa realidade permanece de forma parecida.
O trabalhador inserido no sistema produtivo vende sua força de trabalho e recebe em
troca o salário, que viabiliza o mínimo necessário para continuar produzindo e reproduzindo,
no entanto, os que não estão inseridos nesse processo, como poderão se alimentar?
Outro exemplo pode ser levado à questão do vestuário. Observe que são tratados
apenas aspectos efetivamente necessários à sociabilidade humana.
Na condição de “homem natural” para proteção seja do frio, do calor, de insetos, o
sujeito se utilizava da violência na retirada do couro de outros animais confeccionando sua
vestimenta. O sistema capitalista, além de tirar a possibilidade do indivíduo confeccionar suas
próprias roupas, ainda que inserido no processo fabril de vestuário, em geral, é alienado do
produto de seu trabalho, tendo que comprar sua própria produção, uma vez que utilizam
instrumentos, meios de produzir de outrem.
Então, aqueles que fazem parte dessa parcela produtora de riquezas têm a
possibilidade de apropriação, despendendo parte do salário adquirido com a venda da força de
trabalho, na compra de vestimentas de forma que possa se apresentar perante a sociedade. E
os que assim não estão, como adquirir por meios próprios suas vestes, já que não possuem os
meios de produção e o capital para sua compra?
Friedrich Engels (1982, p.79) ao expor os princípios básicos do comunismo, quando
indagado sobre as principais diferenças entre o proletário se comparado ao escravo e ao servo,
de várias considerações expostas, faz-se oportuno destacar as seguintes: