
47
igualmente primeira, assim como é evidente quanto ao nome
‘animal’, que não significa senão os bois, os asnos e os
homens, e assim quanto aos outros animais, e não significa
um primariamente e outro secundariamente, de sorte que
seria preciso significar algo no caso reto e algo distinto no
oblíquo (...). Tais nomes são, por exemplo, ‘homem’, ‘animal’,
‘cabra’, ‘pedra’, ‘árvore’, ‘fogo’, ‘terra’, ‘água’, ‘céu’,
‘brancura’, ‘negrura’, ‘calor’, ‘doçura’, ‘odor’, ‘sabor’, etc. (...)
62
Mas, o que quer dizer que um termo absoluto tem ‘significação primária’?
Quer dizer que esse termo, tomado significativamente, remete de modo direto
àquilo que significa e pode supor por isso numa proposição. A ‘significação
primária’ é a relação que associa um termo categoremático (nesse caso, absoluto)
a todos os objetos aos quais ele é aplicado. Sabemos que ‘ser tomado
significativamente’ é estar em suposição pessoal numa proposição, isto é, poder
ser verdadeiramente predicado daquilo que significa. Em outras palavras, termos
absolutos significam unicamente os indivíduos aos quais eles são ou podem ser
predicados, ou seja, aqueles indivíduos pelos quais eles podem supor. Ockham
atribui essa forma de significação a nomes próprios (‘Pedro’) e a nomes comuns
(‘homem’). O que efetivamente caracteriza a significação primária de um termo
absoluto é sua predicabilidade, isto é, ele significa, somente, aquilo pelo qual pode
supor numa proposição. Conforme observa Panaccio
63
, os termos absolutos
62
Nomina mere absoluta sunt illa quae non significant aliquid principaliter et aliud vel idem
secundario, sed quidquid significatur per illud nomem, aeque primo significatur, sicut patet de hoc
nomine ‘animal’ quod non significat nisi boves, asinos et homines, et sic de aliis animalibus, et non
significat unum primo et aliud secundario, ita quod oporteat aliquid significari in recto et aliud in
obliquo (...). Talia autem nomina sunt huiusmodi ‘homo’, ‘animal’, ‘capra’, ‘lapis’, ‘arbor’, ‘ignis’,
‘terra’, ‘aqua’, ‘caelum’, ‘albredo’, ‘nigredo’, ‘calor’,’dulcedo’, ‘odor’, ‘sapor’ et huiusmodi. Sum. Log.,
I,10, 35, 6-12 – 36, 34-36.
63
PANACCIO, Claude. “Semantics and Mental Linguage”. IN: The Cambridge Companion to
Ockham. Ed. P. V. Spade. Cambridge: Cambridge University, 1999, p. 56. Citado como
PANACCIO, 1999.