
Estratégias pedagógicas
BOX2
MARCO UCHOA
As 53 organizações religiosas que
atuam na Amazônia não têm
autorização da Funda Çâo Nacional do
Índio (Funai) há pelo menos dois anos
para desenvolver trabalhos
lingüísticos, prestar assistência médica
ou até mesmo para entrar nas aldeias
indígenas. Desde 1991, quando termi-
nou o convênio de três anos da Funai
com nove entidades religiosas,
nenhuma autorização foi concedida a
missões ca tólicas, protestantes ou
evangélicas. Os trabalhos feitos
atualmente por essas instituições sáo
irregulares. Mas us missionários
continuam decididos a pregar a Bíblia
aos "pecadores", índios que des-
conhecem o Deus dos brancos.
A Minai náo tem controle sobre as
atividades das missões. Os números
provam a supremacia das entidades
religiosas sobre o próprio órgáo res-
ponsável pela preservação da cultu ra
de 260 mil Índios espalhados em 180
tribos no Pais. Dos 4.150 funcionários
da Funai, apenas 30%, ou seja, 1.245
trabalham nas aldeias. 0 nú-mem de
missionáhos ultrapassa 5 mil e eles
estão presentes em 171 tri bos. 1'ara
cada funcionário da Funai nas aldeias
existem quatro religiosos, ou um
missionário para cada 52 índios.
Em alguns casos, os missionários
chegam primeiro que os técnicos da
Funai. Foi o que aconteceu na área dos
índios Poturos, no oeste do Pará.
isolada até o final da década de 80.
Representantes da missão norte-
americana Novas Tribos do Brasil
ocuparam a reserva sem autorização e
omitiram a morte de índios por
doenças pulmonares, típicas do pós-
contato com o branco. A missão, que
entrou no País em 1946. foi obrigada a
abandonai a área. Quem está des
mundo a vida deles são pessoas que
trazem a prostituição, nós levamos.
apenas a ajuda e a palavra divina",
explica Assis Militão da Silva, presi
dente da entidade, com matriz na
Flórida, nos Estados Unidos.
A missão tem 500 missionários,
60% brasileiros, em 35 tribos da
Amazônia Alfabetizam os índios em
português e na língua da tribo, por
meio de levantamento fonético, sem-
pre com o enfoque bíblico. Prestam
assistência médica. "Não temos con
vêníos com a Funai, mas permissão de
funcionários dos postos onde
atuamos", comenta Silva Este tipo de
autorização não tem validade. Se-
gundo Otília Maria Nogueira, chefe da
Coordenado ria Geral de Estudos e
Pesquisa, é necessário uma
autorização o ti ciai, com regras defi-
nidas, para a continuação dos traba-
lhos, o que náo foi concedido. "Ainda
náo sabemos como sáo feitos os
contatos, mas temos consciência de
que algumas instituições estão
voltadas para descaracterizar a cultura
indígena", comenta.
As missões católicas, que seguem
as recomendações do Conselho Indi-
genista Missionário (Ciini), se preocu-
pam mais com a assistência médica e
preservação da cultura do que com a
evangelização. Desenvolvem traba-
lhos com menos impacto na cultura
das tribos, o que é uma maneira de
compensar a fase de evangelização
dos jesuítas. São 400 missionários em
69 tribos, principalmente em Roraima
e Pará "Queremos dar condições para
que eles tenham vida", afirma o
secretário na-cional do Cimi,
Francisco Loebens, ligado à
Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil ICNBB). "A comunidade
indígena é que precisa dizer se nos
querem e não uma entidade que não
os representa", afirma Loebens.
Os protestantes atuam em 17 tribos
entre o Amazonas e Rondônia Mas os
evangélicos, defensores da salvação
pela palavra de Deus, avançam cada
vez mais. Estão em pelo menos 75
aldeias. Sáo mais de 40 sedes de
missões nacionais e estrangei ras nas
principais capitais da região Norte. É
como se a colonização estivesse na
sua segunda fase, agora com mais
recursos, mas com a mesma
finalidade. Os convênios que aca-
baram há dois anos, segundo Otília
Maria Nogueira, foram assinados du-
rante a passagem de Romero Jucá
Filho pela Funai e náo têm nenhuma
análise antropológica "Apenas nove
entidades receberam autorização para
entrar nas aldeias, a maioria continuou
a desenvolver seus projetos de forma
irregular", diz.
Isso possibilitou o avanço das en-
tidades religiosas, principalmente as
missões evangélicas, que puderam
executar seus planos sem controle. A
Funai não conseguiu retirar as mis
soes das aldeias com o término dos
convênios e ficou sem controle sobre
as irregulares. "As missões acabaram
desempenhando um papel que deveria
ser do Estado*, lamenta Otília, in-
teressada em estabelecer critérios para
a atuação das missões.
Missões agem nas aldeias
sem controle da Funai
Convênio com nove entidades religiosas terminou há
dois anos e não foi renovado, hoje 58 organizações
de diversos credos desenvolvem trabalhos
lingüísticos e prestam assistência às tribos
PROPORÇÃO
ÉDEUM
MISSIONÁRIO
PARA 52 ÍNDIOS