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método baseado na catarse ou na ab-reação, processo nomeado por ele
como “limpeza de chaminé”. Neste sentido, o que é destacado destas
formulações iniciais para a criação da Psicanálise é a idéia da cura pela fala.
Quanto à questão teórica, ou quanto ao problema da etiologia da
histeria, na obra As neuropsicoses de defesas de 1894, Freud faz uma
distinção entre tipos de histeria destacando a histeria de defesa.
61
Este
quadro clínico tem como característica o fato dos pacientes serem saudáveis
até o momento da experiência que gerou as idéias intoleráveis. Assim, Freud
introduz a noção de “defesa”
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do paciente perante as idéias intoleráveis que
se referem à vida sexual
63
. Estas defesas eram, neste momento da teoria
freudiana, intencionais. A tentativa do paciente de eliminar a idéia
incompatível fracassaria, pois esta deixaria um traço mnêmico e o afeto
correspondente na psique, o que na histeria teria um destino específico, qual
seja, a conversão. Para Freud, a conversão seria o processo de
somatização do afeto que separada da representação ou da idéia
incompatível, se manifestava no corpo através dos sintomas. Esta passagem
do afeto ou da excitação para a inervação corporal deixaria, portanto, que a
representação se tornasse “inofensiva” para o paciente. Entretanto, tal
processo não era definitivo à medida que o afeto retornava à consciência
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S. Freud, “Las neuropsicosis de defensa” in Estudios sobre la histeria, pp. 170-171.
62
Segundo Roudinesco: “Sigmund Freud designa por esse termo o conjunto das manifestações de
proteção do eu contra as agressões internas (de ordem pulsional) e externas, suscetíveis de constituir
fontes de excitação e, por conseguinte, de serem fatores de desprazer”. E. Roudinesco & M. Plon,
Dicionário de psicanálise, p. 141.
63
Segundo Mezan “é neste contexto que Freud se refere com desembaraço, pela primeira vez ,ao
papel da sexualidade”. Em carta a Fliess datada de 21 de maio 1894, Freud afirma expressamente que
o conflito refere-se à sexualidade e é em relação a ela que se ergue a defesa: “O conflito coincide com
meu conceito de defesa (...) O que se rechaça é sempre a sexualidade”. R. Mezan, Freud: a trama dos
conceitos, p. 12.