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THAIS MARINI SUCCI
OS PROVÉRBIOS RELATIVOS AOS SETE PECADOS CAPITAIS
Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências, Letras e
Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista, Câmpus de São
José do Rio Preto, para obtenção do título de Mestre em Estudos
Lingüísticos (Área de Concentração: Análise Lingüística).
Orientador: Prof.ª Dr.ª Claudia Maria Xatara.
São José do Rio Preto
2006
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2
COMISSÃO JULGADORA
Titulares
Profª. Drª. Claudia Maria Xatara - Orientadora
Profª. Drª. Marilei Amadeu Sabino
Profª. Drª. Waldenice Cano
Suplentes
Profª. Drª. Claudia Zavaglia
Profª. Drª. Eliane Roncolato
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3
AGRADECIMENTO
A Deus
À Maria, mãe de Jesus, luz e proteção.
A minha orientadora, Prof
a
Dr
a
. Claudia Maria Xatara, organização, agilidade e incentivo.
Aos meus pais, Roberto e Maria Ignez, companheiros e grandes torcedores nessa jornada.
A todos os meus familiares, especialmente a minha irmã Maysa pelo auxílio na impressão e a
minha avó Olívia P. Marini, pelas orações.
Aos amigos que torceram por mim.
Às professoras, Claudia Zavaglia e Marilei Amadeu Sabino, olhos de lince, pelas sugestões do
meu Exame de Qualificação.
Ao Professor João Moraes, pela gentileza e concessão do laboratório de lingüística de
Araraquara e sua ex-aluna, Juliana Bertucci Barbosa, pelas instruções de utilização do Folio
Views.
À Ana Lúcia Carvalho Fujikura, pesquisadora de provérbios árabes, pela prestatividade e
cortesia de alguns de seus exemplares.
4
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................................10
I. OS PROVÉRBIOS ...................................................................................................................13
1.1. O campo dos estudos proverbiais na Lingüística ................................................................13
1.2. Identidade fraseológica ........................................................................................................15
1.2.2. Analogia entre provérbio e outros fraseologismos .....................................................17
1.2.3. Controvérsias e tentativas de definição ......................................................................30
1.3. Aspectos caracterizadores do provérbio .............................................................................32
1.3.1. Freqüência ..................................................................................................................32
1.3.2. A lexicalização ..........................................................................................................33
1.3.3. Origem ........................................................................................................................34
1.3.4. Cristalização do passado .............................................................................................35
1.3.5. Tradição ......................................................................................................................36
1.3.6. Universalidade ............................................................................................................36
1.3.7. Função de eufemismo .................................................................................................37
1.3.8. Autoridade ..................................................................................................................38
1.3.9. Polifonia ......................................................................................................................39
1.3.10. Ideologia ...................................................................................................................40
1.3.11. Improvérbio ..............................................................................................................42
1.3.12. Função na mídia ........................................................................................................42
1.3.13. Contexto e intertextualidade .....................................................................................44
1.3.14. Conotação, denotação e cristalização .......................................................................45
5
1.3.15. Sinonímia e antonímia ..............................................................................................45
1.3.16. Humor, criatividade e crenças ..................................................................................48
1.3.17. Moral da história .......................................................................................................48
1.3.18. Aspectos estruturais ..................................................................................................49
1.4. Os provérbios sagrados ........................................................................................................50
1.5. A relação: provérbio-pecado ...............................................................................................55
II. OS SETE PECADOS CAPITAIS .........................................................................................58
2.1. O simbolismo do número sete .............................................................................................60
2.2. definição de pecado .............................................................................................................62
2.2.1. Pecado original ...........................................................................................................63
2.2.2. Pecado universal e pecado individual .........................................................................64
2.2.3. Os pecados capitais .....................................................................................................65
2.2.3.1. Conceito .............................................................................................................66
2.2.3.2. Os sete pecados ..................................................................................................68
2.2.3.3. Os sete pecados na arte ......................................................................................69
2.2.3.4. A avareza ...........................................................................................................72
2.2.3.5. A gula ................................................................................................................73
2.2.3.6. A inveja ..............................................................................................................75
2.2.3.7. A ira ...................................................................................................................76
2.2.3.8. A luxúria ............................................................................................................77
2.2.3.9. A preguiça ..........................................................................................................79
2.2.3.10. A soberba .........................................................................................................81
2.2.4. Condenação e perdão dos pecados ................................................................................84
6
III. INVENTÁRIO E ATESTAÇÃO DE PROVÉRBIOS SOBRE OS SETE PECADOS
CAPITAIS ....................................................................................................................................89
3.1. Coleta de dados ................................................................. ..................................................89
3.2. Os campos semânticos dos pecados capitais .......................................................................90
3.2.1. Abrangência e intersecções conceituais ......................................................................91
3.2.2. As redes semânticas ....................................................................................................95
3.2.3. Atestação dos provérbios ............................................................................................99
3.2.3.1. A pesquisa em corpora ....................................................................................100
3.2.3.2. O corpus do Laboratório de Lexicografia – UNESP/Araraquara ....................101
3.2.3.3. A web como corpus .........................................................................................102
3.2.3.4. Inventário de provérbios ..................................................................................104
IV. RESULTADOS OBTIDOS E ANÁLISE ..........................................................................115
4.1. Resultados da atestação dos provérbios referentes a cada pecado ....................................115
4.1.1. Avareza .....................................................................................................................115
4.1.2. Gula ..........................................................................................................................117
4.1.3. Inveja ........................................................................................................................118
4.1.4. Ira ..............................................................................................................................119
4.1.5. Luxúria ......................................................................................................................120
4.1.6. Preguiça ....................................................................................................................122
4.1.7. Soberba .....................................................................................................................123
4.1.8. Atestação da freqüência em corpora ........................................................................125
4.2. Análise dos resultados ......................................................................................................126
4.2.1. Contextos incitadores ao pecado por meio do provérbio .........................................126
4.2.2. Contextos censores do pecado por meio do provérbio .............................................127
7
4.2.3. Contextos ratificadores do provérbio sobre o pecado ..............................................129
4.2.4. Contextos retificadores do provérbio sobre o pecado ..............................................130
4.2.5. Contextos denotativos ...............................................................................................132
4.3. Considerações sobre os contextos que justificam ou condenam o pecado por meio do
provérbio ......................................................................................................................................134
4.4. Considerações sobre os contextos que corroboram ou renegam a mensagem
proverbial .....................................................................................................................................135
4.5. Considerações sobre os contextos que empregam provérbios em sentido denotativo ......137
4.6. Principais tipos de textos que usam provérbios .................................................................137
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................138
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................141
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ..........................................................................................149
Succi, Thais Marini
Os provérbios relativos aos sete pecados capitais. Thais
Marini Succi. São José do Rio Preto: [s.n.], 2006.
152 f. : il.; 30 cm.
Orientadora: Claudia Maria Xatara.
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista.
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas.
1. Lexicologia. 2. Provérbios. 3. Corpora. 4. Pecados
Capitais I. Xatara, Claudia Maria. II Universidade Estadual
Paulista. Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. III
Título
CDU - 81'373
8
RESUMO
Esse trabalho visou selecionar e analisar os provérbios da língua portuguesa referentes
aos sete pecados capitais, apresentados em seis obras paremiológicas e contextualizados por
meio de pesquisa em bases textuais informatizadas. Se o provérbio é uma unidade fraseológica
que expressa uma sabedoria popular ao retratar as tradições de um povo, e o pecado, fruto de
convenções sociais e religiosas, acreditamos que conhecer esse tipo de criação proverbial
possibilite avaliar os valores que a sociedade brasileira realmente confere aos mais importantes
desvios de conduta social condenados pela Igreja. Nesse intuito de abordar as características dos
provérbios e a temática do pecado, procuramos: 1) inventariar os provérbios em língua
portuguesa do Brasil, referentes ao tema escolhido; 2) atestar os provérbios em corpora para
verificar sua freqüência na língua; e 3) analisar, por meio do uso de contextos com provérbios,
os valores atribuídos aos sete pecados capitais pela sociedade brasileira. Para a atestação de cada
um dos provérbios inventariados, consultamos fontes primárias de pesquisa: duas bases textuais
informatizadas, a web e o corpus do Laboratório Lingüístico da UNESP de Araraquara. Enfim,
além de nos aventurarmos numa proposta de definição de provérbio, concluimos quais
provérbios relativos aos sete pecados são realmente freqüentes, verificamos para que fins os
provérbios de cada pecado o utilizados e chegamos aos valores que a sociedade atribui a cada
um dos sete pecados por meio de contextos em que ocorrem os provérbios.
PALAVRAS-CHAVE: fraseologia; provérbio; corpora; pecado.
9
ABSTRACT
This research was carried out to select and analyze the proverbs in Portuguese related to
the seven capital vices, presented in six books on the subject of proverbs. The proverbs were put
into context by means of computer textual database research. A proverb is a phraseologic unit
that expresses popular wisdom and represents the traditions of a people, while the sin, is a
consequence of social and religious conventions. We believe that knowing this kind of linguistic
construction, enable us to appraise the values that the Brazilian society coveys to the most
important deviations from the Church doctrine. In orde to approach the characteristics of the
proverbs and the theme of the sin, we proceded to: 1) make a list of proverbs in Brazilian
Portuguese, related to the chosen theme; 2) confirm the presence of these proverbs in corpora to
verify their frequency in the language and 3) analyse, by means of textual database research, the
values assigned to the seven capital vices by the Brazilian society. Moreover, we consulted
primary research sources to verify the listed proverbs: two computer textual database, the web
and the corpus from the Laboratório Lingüístico UNESP/Araraquara. Thus, apart from
venturing in a proposition to define proverb, we also enumerated which of them, related to the
seven capital vices, are frequently used. Finally, we verified the usage and the social value of
these proverbs by means of context.
KEYWORDS: phraseology; proverb; corpora; sin.
10
INTRODUÇÃO
O provérbio, sinônimo de sabedoria popular, não tem uma data de origem definida, mas
sabe-se que é utilizado desde as civilizações mais remotas para transmitir e expressar
pensamentos que são frutos das experiências de um povo. Com uma tradição mais oral que
escrita, está presente em vários idiomas, por isso geralmente pode-se estabelecer
correspondentes em outras línguas. Ele representa um discurso de autoridade, exercendo o papel
de ferramenta para uma argumentação, por representar “vozes de peso” ou verdades
consagradas, formuladas em um enunciado eficientemente condensado. Veiculador de
ideologias, o provérbio situa o enunciador no discurso, permitindo que ele demonstre uma idéia
já estabelecida a respeito do que se quer argumentar. Talvez por isso se possa explicar o encanto
que o provérbio exerce em determinadas culturas e sua recorrente utilização pelos meios de
comunicação de massa, às vezes aproveitando-se até de seu sentido literal ou submetendo-o a
trocadilhos.
Esse “poder” dos provérbios fascinou-nos a ponto de propormos esta pesquisa para
focalizar uma de suas implicações: a motivação do usuário ao utilizar esse fenômeno lingüístico.
Mas observamos que não basta constatar quais são os provérbios constantes em obras
paremiológicas, sem uma constatação efetiva de seu uso na atualidade dos discursos. Por isso
queremos comprovar em base de dados textuais quais provérbios são mesmo atestados em
português brasileiro. Privilegiamos, assim, o estudo dos provérbios contextualizados pois
acreditamos que eles não permaneçam tão estáticos tais como são lexicalizados nos dicionários.
Quanto à escolha do tema, provérbios relativos aos sete pecados capitais, esclarecemos
que, além de uma necessidade premente de delimitação do campo a ser pesquisado, trata-se de
11
um tema permanentemente atual e universal, com o que se deparam seja religiosos, seja ateus. E
não se pode subtrair a temática dos sete pecados capitais de seu contexto histórico-religioso nem
tampouco negar o peso que os provérbios expressos por eles exercem nas tradições populares
intrinsicamente ligadas à fé cristã.
Evidenciamos desde que o teor desta pesquisa não é obviamente teológico, uma vez
que não intencionamos contestar ou defender preceitos de qualquer religião, nem traçar valores
morais; mas desenvolveremos um trabalho de cunho lexicológico, em que nos interessa
esclarecer o que pode ser entendido por provérbio e inferir alguns dos valores morais em
provérbios presentes na sociedade brasileira, por meio dos contextos em que os provérbios
estiverem inseridos.
Nossos objetivos centrais são, portanto: 1) inventariar os provérbios em língua
portuguesa do Brasil, referentes ao tema escolhido; 2) atestar os provérbios em corpora para
verificar sua freqüência na língua; e 3) analisar, por meio do uso de contextos com provérbios,
os valores atribuídos aos sete pecados capitais pela sociedade brasileira.
Para fazer o inventário dos provérbios referentes ao tema, utilizaremos uma fonte
secundária de pesquisa lexicográfica: seis obras paremiológicas (v. p. 89).
Para a atestação de cada um dos provérbios inventariados, consultaremos fontes
primárias de pesquisa: duas bases textuais informatizadas, a web e o corpus do Laboratório
Lingüístico da UNESP de Araraquara.
No primeiro capítulo, destinado ao provérbio, teceremos algumas das principais
considerações teóricas acerca dessa unidade fraseológica. Discorreremos sobre suas
características, faremos algumas analogias com outros fraseologismos e proporemos uma
definição que consideramos mais adequada e abrangente.
12
No segundo, destinado aos sete pecados capitais, exporemos considerações leigas e
religiosas, do Ocidente e do Oriente, desde ideologias teológicas sobre esses pecados, até sua
representação na pintura, literatura, meios publicitários e na numerologia.
No capítulo III, compete-nos explicitar detalhadamente a metodologia utilizada para
inventariar os provérbios coletados referentes à avareza, gula, inveja, ira, luxúria, preguiça e
soberba, e apresentar quais são os provérbios dessa natureza que se encontram atestados, seja em
textos da web, seja em base textual. Para o levantamento dos provérbios servimo-nos de vários
endereços on-line dos quais pudemos extrair alguns provérbios e 6 obras lexicográficas
especiais. Já para a seleção dos provérbios, coletamos tanto os que traziam palavras-chave
correlatas tanto aqueles cujo campo léxico se referisse aos pecados capitais, e; quanto à
delimitação do campo léxico, utlizamos como parâmetro as definições de provérbio dadas por
especialistas ou dicionaristas.
No capítulo IV, no que concerne à análise dos resultados obtidos, iremos verificar a
freqüência dos provérbios nas duas bases de dados textuais, descrever as ocorrências dos
principais assuntos relacionados a cada provérbio, confirmar se o uso de cada provérbio
consagrado ratifica-o ou não e analisar propriamente os provérbios atestados em sua relação
com os pecados capitais. Para finalizar, o último capítulo destina-se às considerações finais.
Enfim, com este trabalho, além de nos aventurarmos numa proposta de definição de
provérbio, esperamos poder concluir quais provérbios relativos aos sete pecados são realmente
freqüentes, verificar para que fins os provérbios relativos a cada pecado são utilizados.
Conseqüentemente, iremos resgatar parte da cultura e das tradições populares expressas pelos
provérbios, que tanto podem tanto se perder com a globalização.
13
CAPÍTULO I
OS PROVÉRBIOS
A verdade popular nem sempre ao sábio condiz, mas
verdade serena nas coisas que o povo diz.
Adelmar Tavares. (soutomaior.eti.br/Mario/
pagina/opiniao08. htm, 2005, p.1)
Neste capítulo teceremos algumas das principais considerações teóricas acerca do
provérbio. Discorreremos sobre suas características, faremos algumas analogias com outros
fraseologismos e procuraremos propor uma definição que consideramos mais adequada e
abrangente.
1.1. O campo dos estudos proverbiais na Lingüística
O léxico, complexo conjunto do vocabulário total de uma língua, é um sistema aberto,
sujeito a uma mutabilidade constante e representa, de acordo com Biderman (1981), o domínio
menos lingüístico da linguagem por ser a parte do idioma que se situa entre o lingüístico e não-
lingüístico. Procura, então, representar a realidade lingüística e extra-lingüística, por meio das
palavras de significação plena, além de abarcar os elementos sem referentes no mundo real, por
meio das palavras gramaticais.
O estudo e a descrição do léxico, em linhas gerais, competem à Lexicologia ou à
Terminologia. A primeira trata das unidades lexicais gerais e a segunda, da especializada.
Porém, a fim de precisarmos o campo que o provérbio ocupa, objeto deste trabalho, devemos
14
nos centrar não exatamente na Lexicologia, ampla o bastante, mas em uma de suas subáreas, a
Fraseologia.
Fraseologia é um dos ramos mais novos da Lingüística, cujos princípios norteadores
fizeram escola primeiramente entre os russos:
Precisamente os cientistas russos escreve Kunin - descobriram as combinações
estáveis de palavras, assinalaram sua consolidação na língua graças à repetição e
à estabilidade da composição léxica e da ordem das palavras, estabeleceram a
presença das combinações variáveis e invariáveis de palavras. Estes frutíferos
trabalhos, ainda que tendo caráter de esboço, continham profundas idéias que
abriram o caminho para pesquisadores futuros
1
. (KUNIN apud MORÉ, 1985, p.
13).
Pode-se distinguir ainda a fraseologia da fraseografia de acordo com o fraseologista
Moré (1985, p.9):
A fraseografia ocupa-se da elaboração dos métodos teóricos e práticos e dos
princípios para confeccionar dicionários fraseológicos incluídos nos dicionários
gerais. A descrição lexicográfica deve realizar-se de acordo com regras
rigorosamente definidas, determinadas de antemão pelas particularidades
específicas do mesmo objeto da descrição: o fraseologismo
2
.
1
Tradução nossa, assim como as demais, do seguinte texto original: Precisamente los científicos rusos –
escribe Kunin – descubrieron las combinaciones estables de palabras, señalaram su consolidación en la
lengua gracias a la repetición y a la estabilidad de la composición léxica y del orden de las palabras,
establecieram la presencia de las combinaciones variables e invariables de palabras. Estos fructíferos
trabajos, aunque tuvieron carácter de bosquejo, contenían profundas ideas que señalaram el camino a
investigadores posteriores.
2
La fraseografía se ocupa de la elaboración de los métodos teóricos y práticos y de los principios para
confeccionar diccionarios fraseológico incluido en los diccionarios generales. La descripción
lexicográfica debe realizarse de acuerdo con reglas rigurosamente definidas, determinadas de antemano
por las particularidades específicas del mismo objeto de la descripción: el fraseologismo.
15
Apesar de pioneiros, também segundo Moré (IBIDEM), “os novos princípios teóricos da
lexicografia e da fraseologia, descritos na lingüística soviética, implantaram a necessidade de
considerar a fraseografia como parte independente da lexicografia’’
3
, uma vez que vários
problemas como selecionar, distribuir e definir fraseologismos faltavam ser definitivamente
solucionados. De fato, uma grande dificuldade encontrada na fraseologia é definir com clareza
os limites entre os diversos tipos de unidades fraseológicas.
Além dessas limitações de campo científico, há lugar ainda mais específico para os
estudos proverbiais, no próprio cerne da fraseologia, a paremiologia. Quanto à etimologia, de
acordo com Houaiss (2001), paremiologia, do grego paroimía (provérbio, parábola), e do latim
paroemia, ocorre em vernáculo no século XVII e em cultismos, do culo XIX em diante. É a
área que se preocupa especialmente com a coletânea, classificação dos provérbios, dentre outros
aspectos, embora segundo Amadeu Amaral (1976) paremiologia é o estudo das formas de
expressões coletivas e tradicionais incorporadas à linguagem cotidiana.
1.2. Identidade fraseológica
três critérios lingüísticos para se definir e delimitar uma palavra: o fonológico, o
gramatical e o semântico. No primeiro, deve-se considerar um recorte entre duas pausas para
termos uma palavra. Essa convenção, porém, é constantemente questionada pelos lingüistas,
pois o é suficiente para classificar, por exemplo, palavras compostas. Nesse caso, dever-se-ia
partir para um critério de entonação, pronúncia etc. Pelo critério gramatical, uma palavra é
aquela que exerce determinada função sintática e pertence a uma classe gramatical. Contudo, em
3
Los nuevos principios teóricos de la lexicografia y la fraseologia desarrollados en la lingüística
soviética plaentearon la necessidad de considerar la fraseografia como parte independente de la
lexicografia.
16
algumas línguas essa convenção também é controversa, uma vez que o artigo é unido ao
substantivo mas representam classes gramaticais diferentes. Enfim, atualmente, o critério
semântico impõe-se como o mais usual e funcional, após ter ficado à margem dos estudos
lingüísticos por várias décadas, porque antes se privilegiava a forma em detrimento do
significado do signo (KEMPSON, 1980).
Com base nesse critério semântico, em que uma palavra constitui uma unidade mínima
de significação, entendemos o provérbio como tal unidade mínima, ou seja, o enunciado
proverbial abrange dois vetores: forma plural (constituída por um grupo de palavras) e um
significado (mensagem global a ser transmitida).
Para Moré (1985, p. 14), há dois tipos de combinações de palavras:
1 - as que se decompõem rapidamente depois de terem sido criadas e cujos
elementos formativos têm a liberdade de entrar em novas combinações, e
2 - as que por um motivo ou outro perdem completamente sua independência e
possuem aquele determinado sentido naquela determinada combinação. Estas
últimas formam a categoria de unidades fraseológicas
4
.
Pode-se, então, acrescentar à primeira característica de um provérbio, unidade mínima
de significação’’, a classificação de “expressão fraseológica’’, mas isso não basta, que nem
aos maiores dicionaristas é tarefa fácil estabelecer limites rígidos para delimitarem com precisão
a diversidade de expressões fraseológicas.
Além disso, o provérbio é tomado, pelos leigos, por designações genéricas ou
pretensamente sinônimas.
4
- las que se descomponen rápidamente después de haber sido creadas y cuyos elementos formativos
quedan en libertad de entrar en nuevas combinaciones, y 2 - las que por una causa u otra pierden
completamente su independencia y sólo tienen el sentido dado en la combinación dada. Estas últimas
formam la categoría de unidades fraseológicas.
17
1.2.2. Analogia entre provérbio e outros fraseologismos
Traçaremos, a seguir, de acordo com definições relevantes de lexicógrafos e fraseólogos
renomados, uma analogia entre o provérbio e alguns dos mais conhecidos fraseologismos,
tomados leigamente como sinônimos de provérbio.
Adágio
utilizado como termo equivalente a provérbio
5
, ditado e refrão. (SILVA, 1992)
significa o que induz a agir, é um dito sentencioso, de característica mais popular que o
provérbio. (LACERDA, 1999)
sinônimo de provérbio. Explica que adágio é abagio com uma letra trocada, assim
chamada porque o orador faz divagações e o discurso não possui um tema.
VELLASCO (2000)
sentença moral de origem popular; anexim, ditado, provérbio. (HOUAISS, 2001)
Aforismo
sentença breve e doutrinal, que em poucas palavras explica e compreende a essência das
coisas. (SILVA, 1992)
significa exprimir de maneira concisa, é uma sentença que enuncia uma regra, uma
verdade ou um preceito. (LACERDA, 1999)
5
Grifo nosso, assim como os demais a seguir.
18
pensamentos de autor conhecido que implicam uma certa distinção de conteúdo ou
estilo, tal como nos ‘‘Aforismos de Hipócrates’’, de onde a palavra é derivada.
(VELLASCO, 2000)
máxima ou sentença que, em poucas palavras, explicita regra ou princípio de alcance
moral; apotegma, ditado. (HOUAISS, 2001)
também personagens ilustres e de autoridade podem manifestar, em discurso solene,
notáveis pensamentos, denominados aforismos (XATARA, 1990).
Analecto
coleção de máximas ou aforismos escolhidos de um ou mais autores; antologia, seleta.
(HOUAISS, 2001)
Anexim
sinônimo de adágio. (LACERDA, 1999)
VELLASCO (2000) se utiliza da definição de Frei Domingos Vieira, ‘‘um enunciado em
linguagem vulgar, ordinariamente em verso e geralmente com aliteração, que contém
uma regra prática de moral, com um sentido satírico e alusivo, geralmente em forma
metafórica’’. Encerra pois, o mesmo estilo de rifão, acrescido de ironia ou chiste, como
“Mais vale um cachorro amigo, que um amigo cachorro’’.
sentença popular que expressa um conselho sábio; provérbio, máxima. (HOUAISS,
2001)
19
Apotegma
fórmula coletiva e tradicional pertencente a um personagem ilustre que se constitui de
pequenas histórias extremamente condensadas, aplicadas às mais variadas situações da
vida. (SILVA, 1992)
significa enunciar uma sentença, falar com concisão, é um dito breve e conciso,
semelhante ao aforismo; é também uma frase memorável de uma personagem ilustre.
(LACERDA, 1999)
De acordo com Schimidt-Radefelt, do grego ‘‘apóphthegma’’, são máximas que se
fundaram no conhecimento e na filosofia de prática pessoais, da época da latinidade de
prata de um Tácito ou de um Sêneca. (VELLASCO, 2000)
Axioma
2 p.ext. máxima, provérbio, sentença (HOUAISS, 2001)
máxima era inicialmente sinônimo de axioma: proposições básicas que podiam ser
assumidas como primeiros princípios da razão, especialmente na filosofia ou na ciência.
(VELLASCO, 2000)
Brocardo
qualquer aforismo, provérbio, máxima. (HOUAISS, 2001);
vocábulo originário do latim medieval ‘‘brocardu’’, o brocardo é um axioma jurídico, a
exemplo de ‘‘Tem uma árvore e um livro: falta-lhe um filho’’. (VELLASCO, 2000);
dito ou palavra memorável, lapidar, proferida por personagem célebre; máxima,
aforismo. (HOUAISS, 2001).
20
Chufa
dito malicioso ou mordaz. (HOUAISS, 2001).
Citação
Citações ou pensamentos são sentenças célebres, de autoria conhecida. (XATARA,
1990).
Clichê
estereótipo, fórmula comum, verdade trivial coagulada com a forma lingüística fixa.
(VELLASCO, 2000). A autora ainda observa que duas maneiras de se ver clichê: um
termo técnico que se origina na psicologia social e que se refere a um certo tipo de
preconceito; e outro que é usado pelos lingüistas, refere-se à linguagem do dia-a-dia,
quando significa algo constantemente repetido como: ‘‘Deus é brasileiro’’, ‘‘A criança é
o futuro da nação’’.
frase freqüentemente rebuscada que se banaliza por ser muito repetida, transformando-
se em unidade lingüística estereotipada, de fácil emprego pelo emissor e fácil
compreensão pelo receptor; lugar-comum, chavão. (HOUAISS, 2001)
Dictério
dito satírico; motejo, gracejo. (HOUAISS, 2001)
21
Ditado
construção direta ou denotativa, que diz respeito a setores precisos da atividade e a
grupos específicos e fica na simples observação e constatação dos fatos, sem julgá-los.
(SILVA, 1992)
forma substantivada do particípio passado do verbo dictare, dizer repetindo, ditar;
prescrever, recomendar, aconselhar; é sinônimo de adágio ou refrão. (LACERDA, 1999)
sinônimos perfeitos de provérbio, geralmente acompanhados do vocábulo popular –
ditado popular, dito popular. (VELLASCO, 2000)
o mesmo que provérbio (HOUAISS, 2001)
Dito
O mesmo que ditado. (VELLASCO, 2000)
conceito, máxima, sentença. (MICHAELIS, 1998).
Com o sentido de “máxima”, surgiu na França em 1130 (= ditado). Entre nós não
registro de sua aparição. Alguns estudiosos consideram que seu emprego é feito pelo
vulgo tão-somente. A forma portuguesa se originou do latim dictus. O aspecto negativo
que tem em português não é registrado na sua equivalente francesa. Podemos comprovar
isso pelos títulos de obras, tais como: “Dits et proverbs de sages” (manuscrito do séc.
XIV ou XV). Houve várias obras com tulos semelhantes atribuídas ora a Catão, ora a
Virgílio, ora a Salomão, Platão, Boécio, etc. (OLIVEIRA, 1991).
22
Dizer
palavra ou sentença proferida ou escrita; dito, elocução; o pensamento expresso por
alguém ou por algo. (HOUAISS, 2001)
Epodo
sentença moral; provérbio, máxima. (HOUAISS, 2001)
Expressão idiomática
não são sentenças completas, são locuções no infinitivo que combinadas com
determinados complementos formam unidades léxicas fixas em determinada língua. Não
apresentam uma formação frásica acabada e por isso exigem que o reenunciador a cada
ato do discurso lhes dê um acabamento formal, acrescentando-lhes os elementos
necessários para que se tornem frases completas, nas quais poderão adquirir um sentido
quer assertivo, quer injuntivo. (ROCHA, 1995)
lexia complexa, conotativa e consagrada pela tradição cultural. (XATARA, 1998)
Frase feita
frase de significado convencionado pela sociedade brasileira, de uso constante pelos
falantes nativos da língua portuguesa do Brasil e ditas a título de comentário, em
determinadas situações. Exemplo: ‘‘Calma, que o Brasil é nosso!’’. (VELLASCO,
2000)
o mesmo que fraseologia ('frase ou expressão'). (HOUAISS, 2001)
23
Máxima
(literalmente a maior sentença) é uma sentença que expressa com nobreza e que encerra
uma reflexão moral ou uma regra de conduta; em outras palavras, é um provérbio de
cunho erudito. (LACERDA, 1999)
Vellasco (2000) traz uma série de definições no que diz respeito a máxima. Em síntese,
a máxima era considerada a filosofia secreta dos lacedemônios, originária da
Lacedemônia, ou Esparta. Diz que em ‘‘Arte Retórica e Arte Poética’’ (1959: XXI, I),
Aristóteles recomenda o uso das máximas como uma evidência, definindo-as como uma
expressão decorrente daquilo que o homem procura e evita para suas ações; que as
máximas despertam o prazer, porque vão ao encontro de concepções individuais e o seu
uso ‘‘confere aos discursos um caráter moral, que existe sempre que se manifestam as
preferências do orador’’. A autora também evidencia o caráter erudito das máximas
enaltecidas por filósofos, literatos e médicos. Afirma ainda que, a princípio, a máxima
era considerada axioma, mas que atualmente, expressam regras aceitas ou preceitos de
conduta. Então, conclui como exemplos de máximas ‘‘Na dúvida, abstenha-se’’;
‘‘Cumpra o seu dever, suceda o que suceder’’; ‘‘Não faça aos outros o que não quer que
lhe façam’’.
1 regra de conduta ou pensamento expresso sem qualquer conotação de valor 2 p.ext.
preceito, sentença que exprime uma regra moral, um princípio de conduta (...) 4 fórmula
breve que enuncia uma observação de valor geral; provérbio, anexim. (HOUAISS,
2001)
À compilação de citações de um mesmo escritor dá-se o nome de máximas (XATARA,
1990).
24
Parêmia
é um dito em uma narrativa; sinônimo perfeito de provérbio (Vellasco, 2000).
provérbio ou alegoria breve que veio do grego paroimía, cuja etmologia é ‘‘pará’’ (ao
lado de, junto a) e ‘‘oîmos’’ (estrada, extensão, traço, linha, região, andamento de uma
narrativa e canto). (HOUAISS, 2001)
Pensamento
sentença que, em poucas palavras, explicita regra ou princípio de alcance moral;
máxima, provérbio. (HOUAISS, 2001)
conceito, moralidade (de um apólogo, epigrama ou sátira) (MICHAELIS, 1998).
Citações ou pensamentos são sentenças célebres, de autoria conhecida. (XATARA,
1990).
Preceito
1 aquilo que se recomenda praticar; regra, norma 2 aquilo que se ensina; lição, doutrina 3
determinação, ordem, prescrição 4 palavra ou sentença curta que resume um ideal, um
objetivo; lema, divisa. (HOUAISS, 2001)
1 Ordem ou mandamento; prescrição. 2 O que é recomendado como regra e
ensinamento. 3 Determinação, norma, guia para qualquer procedimento. 4 Disposição,
doutrina, instrução. 5 Cláusula, condição. Sm pl Folc Reg (Nordeste) Conjunto de tabus
religiosamente respeitados pelos cangaceiros. P. cominatório: o mesmo que interdito
proibitório. Preceitos do decágolo: os mandamentos da lei de Deus. A preceito: com
todas as regras, minuciosamente. (MICHAELIS, 1998).
25
preceito ou princípio: uma produção lingüística (cujas origens são grandes vozes da
história), que não parte da experiência do enunciador, mas é uma regra de conduta, um
ensinamento, na forma de imperativo visando o futuro (XATARA, 1990).
Prolóquio
sinônimo de provérbio. (VELLASCO, 2000)
o mesmo que máxima ('regra', 'preceito'). (HOUAISS, 2001)
Provérbio
está preso a diferentes formas de expressão tradicional que se caracterizam por encerrar
um fundo condensado de experiências refletidas, onde estão presentes traços distintivos
como a concisão, a elegância e expressões arcaizantes. (AMARAL, 1948)
é o fruto de um trabalho realizado sobre uma fórmula, uma sentença etc. Segundo esta
visada, ele não é elaborado numa dada época, por um sábio ou pelo povo; ele não surge.
Dito de outra maneira: nem o povo, nem a divindade, nem os filósofos ‘‘criam’’
provérbios. Uma fórmula, sentença, quadra, etc. chegam a provérbio quando a eles é
conferida credibilidade, quando gozam de aceitação popular espontânea, não
institucional, nas situações discursivas cotidianas. (OLIVEIRA, 1991).
construção metafórica ou conotativa que diz respeito a verdades gerais e faz um
julgamento de valor. (SILVA, 1992)
a ausência de âncora em relação à instância da enunciação é um dos fatores
determinantes do provérbio, que por isso repudia por completo as perífrases verbais
como ir/ estar a/ acabar de + infinitivo ou estar/acabar + gerúndio, que ligam o processo
26
ao momento da enunciação. Assim, o fator crucial de diferenciação entre um enunciado
comum e um provérbio está no aspecto atemporal deste; o provérbio não permite vínculo
com o tempo, encaixando-se às verdades eternas de seus reenunciadores. (ROCHA,
1995)
elementos conotados, cuja formulação arcaizante confere-lhes um tipo de autoridade que
depende da ‘‘sabedoria dos antigos’’. Tanto ditados quanto provérbios, estudados pela
paremiologia, enunciam verdades eternas na forma de simples constatações,
apresentadas em uma estrutura, ao mesmo tempo, clara e fechada. (XATARA, 1998)
é simplesmente um dito corrente entre o povo. (TAYLOR, 1999)
sentença completa e independente, em geral de criação anônima, que exprime, muitas
vezes de modo metafórico, um pensamento, um preceito, uma advertência, um conselho.
(LACERDA, 1999)
originário do termo latino ‘‘proverbium’’, derivado da expressão Id quod pro verbo
dicitur que significa ‘‘Aquilo que é dito em lugar da expressão completa”. O autor
considera adágio, ditado, dito, parêmia e prolóquio sinônimos de provérbio e rifão, ou
refrão, e anexim como suas subdivisões. Afirma que, na sociedade brasileira, prevalecem
os termos provérbio, adágio, parêmia e prolóquio, como eruditos, e ditado e dito,
geralmente acrescidos do vocábulo “popular”, como os seus respectivos termos
populares. (VELLASCO, 2000)
1 frase curta, geralmente de origem popular, freqüentemente, com ritmo e rima, rica em
imagens, que sintetiza um conceito a respeito da realidade ou uma regra social ou moral
(p.ex.: Deus ajuda a quem cedo madruga) 2 na Bíblia, pequena frase que visa
aconselhar, educar, edificar; exortação, pensamento, máxima ETIM lat. proverbìum,ìi
'provérbio
, adágio, dito, ditado, rifão, máxima'; SIN/VAR ver sinonímia de xima
27
COL paremiologia PAR proverbio (fl.proverbiar) noção de 'provérbio', usar
antepos. paremi(o)- (HOUAISS, 2001)
unidade fraseológica caracterizada externamente por uma certa concisão e brevidade e,
no plano interno, por apresentar elementos metafóricos que contêm uma mensagem de
valores gerais referenciada através de gerações e que deve ser seguida. (BRAGANÇA
JÚNIOR, 2003)
Refrão
refrão e sua forma dissimilada rifão são vocábulos tomados pelo espanhol refrán,
oriundo do provençal antigo ‘estribilho’; designam sobretudo provérbios de origem
popular, geralmente rimados e de tom por vezes jocoso. (LACERDA, 1999)
origem provençal ‘‘refrane’’ cujo significado é ‘‘canto dos pássaros’’, é vocábulo
praticamente desusado no Brasil, na acepção proverbial, foi absorvido pelo rifão. A
acepção vigente na sociedade brasileira para refrão é ‘‘fórmula vocal ou instrumental que
se repete regularmente em uma composição’’, cujo sinônimo é estribilho. (VELLASCO,
2000)
provérbio popular ou sentença moral; estribilho. (HOUAISS, 2001)
Rifão
provérbio em linguagem vulgar, em termos chulos, como em ‘‘Muito peido é sinal de
pouca bosta’’; ‘‘Urubu quando está de azar o de baixo caga no de cima’’; ‘‘Em merda
quando mais se mexe mais fede’’. (VELLASCO, 2000)
28
1 adágio vulgar, em que geralmente se empregam palavras grosseiras ou chulas 2 dito
breve ou sentença popular de cunho moral, geralmente em verso, e aplicável à
determinada circunstância da vida; provérbio, anexim. (HOUAISS, 2001)
Sentença
1 frase lapidar que encerra um pensamento de ordem geral e de valor moral; provérbio,
máxima. (HOAUISS, 20001)
Slogan
fórmulas que penetram na vida cotidiana pela mídia. Talhados com determinados
objetivos, com o comercial, eles também servem como títulos para livros, filmes,
programas de TV, etc. Tornam-se formas concisas mais vivas das expressões do
conhecimento diário, devido a sua forma maciça de divulgação. Exemplo: ‘‘Brasil, ame-
o ou deixe-o’’, slogan da ditadura brasileira de 1964; ‘‘Perca um minuto em sua vida,
mas não perca a sua vida num minuto’’, campanha brasileira de trânsito rodoviário.
(VELLASCO, 2000)
1 expressão concisa, fácil de lembrar, utilizada em campanhas políticas, de publicidade,
de propaganda, para lançar um produto, marca etc. 1.1 fabordão; bordão. (HOUAISS,
2001)
29
Superstição
(ou crendices populares) são formas lingüísticas concisas fixas, como os provérbios. E
como os provérbios possuem tradicionalidade. Vellasco (2000) acredita que a diferença
entre este e provérbio está no fato de que superstição está relacionada com o extra-
sensorial e forças sobrenaturais e que podem chegar incidentalmente próximas ao estilo
do provérbio, mas não há “vice-versa” porque os provérbios expressam ‘‘verdades’’
ancestrais. O provérbio, diz, é indubitavelmente um item do folclore.
Observando as definições de provérbio e desses outros fraseologismos, podemos
constatar que os vários fraseologismos tidos como “sinônimos” de provérbio ora se distanciam,
ora se aproximam entre si. Uns possuem traços particularmente diferenciados de provérbio,
como a chufa, o rifão e o dictério que têm traços maliciosos, satíricos e vulgares
respectivamente; outros possuem autoria conhecida como o aforismo, o apótegma, o axioma, a
citação, o pensamento e a sentença. Existem fraseologismos, como a máxima e o brocardo, que
têm cunho erudito; outros, cunho publicitário como o slogan; outros, forma estereotipada como
o clichê e a frase feita; sem esquecermos das unidades que se caracterizam primordialmente pela
rima, como o refrão. Entretanto, alguns fraseologismos são apenas sutilmente diferentes de
provérbio como o adágio, o anexim, o dito, o preceito e o ditado; este último, aliás, difere-se
especialmente por não apresentar metáfora. Por fim, consideramos inconfundíveis com o
provérbio: a superstição, por se tratar basicamente de uma crença popular relacionada a lendas; e
a expressão idiomática porque esta, além de não representar nenhuma verdade universal, na
maioria das vezes, é estruturalmente constituída por enunciados incompletos ou unidades
lexicais (ULs) complexas que constituem partes de enunciados, ao invés de orações completas e
30
fechadas (“ter alguém atravessado na garganta”, por exemplo, será um enunciado completo
com a determinação de um sujeito).
Visto a variedade de fraseologismos, a imprecisão e complexidade das definições,
procuraremos conceituar provérbio, um dos fraseologismos mais conhecidos entre o povo e
consagrado pela comunidade lingüística, com base apenas em suas características mais
pertinentes, não considerando provérbio como sinônimo de nenhum outro fraseologismo e
procurando tratar o provérbio como “provérbio propriamente dito”.
1.2.3. Controvérsias e tentativas de definição
Pelas definições propostas pelos especialistas mencionados, pode-se perceber que os
autores chegam a caracterizar o provérbio quase sempre apresentando traços em comum com
outros fraseologismos. Na verdade, acabam por não defini-lo precisamente para não incorrerem
em uma definição incompleta e insatisfatória. Retomemos aqui o argumento de Vellasco (2000,
p. 11):
No meu entender, a inviabilidade de se chegar a uma definição geral de
provérbio decorre do fato de que não se pode trazer todos os vários tipos desta
forma concisa para uma categoria: um provérbio não reúne todas as
características atribuídas aos provérbios como um todo. Os provérbios devem ser
encarados como uma classe geral, em analogia aos substantivos, por exemplo,
com subclasses.
Essa mesma autora, referindo-se a 34 trabalhos de paremiologistas, conclui: ‘‘Cumpre-
me reverenciar-me ao fato de que, por mais que eu tentasse definir o provérbio, por meio de suas
características lingüísticas formais, em um enunciado único, no sentido de ser viabilizada a sua
identificação, foi-me impossível’’.
31
Também Oliveira (1991, p. 19) nos alerta para a mesma problemática:
É difícil delimitar completamente a diferença que existe entre aforismo e cada
uma dos termos: adágio, sentença, máxima, provérbio, refrão, axioma e
apotegma, pois todas elas contêm o sentido de uma proposição ou frase breve,
clara, evidente e de ensino profundo e útil. Nenhum autor antigo, nem moderno
todavia conseguiu expor clara e terminantemente as diferenças entre umas e
outras
6
. (apud Enciclopédia Universal Ilustrada Europeo-Americana. Madrid
Barcelona: 1992. tII, p. 155-6).
De fato, nenhum autor moderno ou antigo, mais ou menos reconhecido, conseguiu
formular uma teoria sobre provérbio, mas preferimos tentar delimitar suas fronteiras,
levantando, a seguir, elementos que podemos considerar seus caracterizadores principais.
Para nós provérbio é uma UL fraseológica relativamente fixa, consagrada por
determinada comunidade lingüística que recolhe experiências vivenciadas em comum e as
formula em enunciados conotativos, sucintos e completos, empregando-os como um
discurso polifônico de autoridade por encerrar um valor moral atemporal ou verdades
ditas universais e por representar uma tradição popular transmitida a milenarmente
entre as gerações.
Entretanto, neste trabalho, além de elencar e analisar alguns provérbios, considerados
por nós como uma unidade fraseológica conotativa e fechada, incluiremos ditados -
formulações denotativas - e preceitos bíblicos ditos proverbiais que constam do Velho e Novo
6
Es difícil deslindar cumplidamente la diferencia que existe entre aforismo y cada uma de las voces:
adágio, sentencia, máxima, provérbio, refrán, axioma y apotegma, pues todas ellas incluyen el sentido
de uma propositición ó frase breve, clara, evidente y de profunda y útil enseñanza. Ningún autor antiguo
ni moderno ha logrado todavía exponer clara y terminantemente las diferencias entre unas y otras.
32
Testamento, estes últimos sobretudo por serem os que mais dizem respeito ao tema desta
dissertação, que é a expressão dos provérbios por meio dos sete pecados capitais.
1.3. Aspectos caracterizadores do provérbio
Agora iremos levantar os principais aspectos e traços inerentes para a caracterização de
provérbio.
1..3.1. Freqüência
Os provérbios ocorrem conforme as necessidades de sua época e uso, portanto podem ser
inovados ou caírem em desuso. provérbios muito freqüentes na língua como: ‘‘Tempo é
dinheiro’’; outros, porém, possuem formas arcaicas que dificultam o entendimento de seu
significado: ‘‘O bom vinho escusa pregão’’, por exemplo, quer dizer, que bom vinho dispensa
elogios. Mas, se por um lado, para um provérbio ser inserido em um dicionário, ele tem que
necessariamente ser freqüente, assim como ocorre com qualquer fraseologismo, por outro, um
provérbio ou fraseologismo de fato usual deveria constar nos principais dicionários de língua.
Nesta pesquisa, entretanto, dos 77 provérbios atestados como freqüentes em corpora, nenhum
foi localizado no Houaiss (2001) e apenas quatro podem ser encontrados no Aurélio (1999): ‘‘A
carne é fraca’’, ‘‘Ollho por olho,dente por dente’’; ‘‘Quem não arrisca não petisca‘‘ e ‘‘Quem
semeia vento, colhe tempestade’’.
33
1.3.2. Lexicalização
Entendemos ser o provérbio uma UL complexa que não permite que o seu significado
seja calculado pelos significados isolados de cada uma das ULs simples contidas em seu
interior. Apresentando uma distribuição única ou muito restrita dos seus elementos lexicais, o
provérbio é uma UL autônoma além de complexa, pois encerra todo um discurso, dispensando
outras ULs para completar seu significado, como “Tal pai, tal filho”. Note-se também que as
ULs “pai’’ e “filho’’, no enunciado proverbial, não são mais unidades independentes e são
dispostas em uma ordem pré-determinada na língua, com uma significação estável, ou seja, uma
construção reconhecidamente lexicalizada. Por todas essas razões, “Tal pai, tal filho’’ constitui
um provérbio. Essa cristalização rejeita também substituições: Tal pai, tal primo’’, por
exemplo, não se configura como provérbio, a não ser que o efeito pretendido seja outro, de
ironia ou crítica. Nesse caso, tem-se uma paródia proverbial.
Se inserirmos uma UL a uma construção fixa, ainda assim não se terá mais um
provérbio: ‘‘a ocasião faz o ladrão’’ + ‘‘profissional’’ = ‘‘a ocasião faz o ladrão profissional’’.
Ou seja, a frase “a ocasião faz o ladrão profissional” não é reconhecida como um provérbio
consagrado.
O mesmo ocorre quando invertemos a posição das ULs. O provérbio ‘‘Beleza não se põe
à mesa’’, por exemplo, causará estranheza para ser identificado como tal com as inversões não
usuais: “À mesa beleza não se põe”.
Portanto, ‘‘Tal pai, tal filho’’, ‘‘A ocasião faz o ladrão” e ‘‘Beleza não se põe à mesa’’
são provérbios porque constituem ULs complexas, invariáveis e consagradas por uma
comunidade lingüística como tal.
34
O provérbio é onipresente, ou seja, está em todo lugar e observa tudo e todos, em
qualquer que seja sua atividade; julga homens, mulheres, crianças, velhos, deficientes físicos,
homossexuais; esteve no passado, está no presente e acompanhará as futuras gerações. Embora
não nos lembremos ao certo como os aprendemos, sem dúvida sabemos em que ocasião
empregá-los.
Diz-se, aliás, que quando um falante nativo de uma língua sabe empregar bem os
provérbios ou outro fraseologismo qualquer, pode ser considerado um falante fluente na língua,
e portanto, se um estrangeiro também souber empregá-los, maior mérito terá. Então, quanto
mais provérbios forem empregados corretamente por um falante, mais domínio sobre essa língua
ele comprovará ter, porque o seu uso requer competência lexical e cultural.
1.3.3. Origem
A origem da palavra provérbio vem do latim proverbium. De acordo com Xatara (2002,
p. 13), ‘‘o provérbio aparece pela primeira vez em textos do século XII, e o mais antigo estudo,
assinado por Henri Estienne, data de 1579 embora a mais antiga coleção de provérbios seja a
do inglês John Heywood, de 1562’’. Entretanto, a existência dos provérbios tem origem muito
mais remota, e não é atestada antes porque não puderam ser arquivados, ou porque
pertenciam a uma tradição oral, ou porque se perderam tais documentações através do tempo.
Sabe-se que faziam parte da filosofia dos gregos, romanos, egípcios, presentes tanto no ocidente,
como no oriente, perpetuando-se na Idade Média e chegando até nós. Segundo Albuquerque
(1989, p. 35):
Os ‘sebayts’ (ensinamentos), equivalentes aos provérbios atuais são citados
desde o terceiro milênio a.C. Entre os hebreus e os aramaicos o provérbio
representava a palavra de um sábio. No culo VI a.C. aparecem as Palavras de
35
Ahiqar e no século IV a.C. os Provérbios de Salomão. Entre os gregos, ‘gnômê’
(pensamento) e ‘paroemia’ (instrução) cobrem as noções de provérbio, sentença,
máxima, adágio, preceito etc., aparecendo em obras de Platão, Aristóteles e
Ésquilo (...)
Provavelmente a origem da palavra provérbio seja até religiosa e não seria de se
estranhar, ao se decompor ‘provérbio’’, como alguns autores acreditam, que ele tenha derivado
de pro (em vez de, no lugar de) + verbo (palavra de Deus), ou seja, no lugar da palavra de Deus,
já que nele sempre se encerra um conselho, uma admoestação.
O anonimato dificulta o reconhecimento exato da origem do provérbio, sendo essa
dificuldade ainda maior em países de imigração como o nosso, alguns provérbios podem ter tido
origem em outros países e, com a miscigenação de raças, ter-se enraizado e naturalizado na
outra língua, tornando o reconhecimento de sua origem quase impossível (STEINBERG, 1985).
Pode-se presumir com essa lógica que os provérbios inicialmente religiosos foram
criados por autores conhecidos, mas que no decorrer dos séculos, foram perdendo autoria e
caindo no domínio público. Como diz o próprio provérbio: ‘‘A voz do povo é a voz de Deus’’,
que parece corroborar a crença de que o pensamento é da coletividade, e não do indivíduo.
1.3.4. Cristalização do passado
O provérbio, um discurso cristalizado do passado, cuja origem de produção foi apagada,
mantém-se surpreendentemente vivo no presente. Além de transmitir e preservar o
conhecimento serve para nos mostrar que o homem em quase nada evoluiu: os sentimentos, os
conflitos e guerras, as uniões, são experiências comuns a todas as culturas, em todas as épocas,
dos gregos aos nossos contemporâneos.
36
Alguns provérbios até conservam palavras arcaicas, justamente porque elas lhes
conferem um caráter de sabedoria ancestral.
1.3.5. Tradição
Os provérbios fazem parte do folclore de um povo, assim como as superstições, lendas e
canções, são frutos das experiências desse povo, representando verdadeiros monumentos orais
transmitidos de geração em geração cuja autoridade está justamente nessa tradição; para seus
destinatários tão anônimos quanto seus autores.
Aprender provérbios significa reforçar a própria identidade nacional. Para Hanania, um
dos mais graves problemas culturais do Ocidente hoje é a ausência do referencial comum, visto
que assiste-se a um enfraquecimento da tradição como garantia de se transmitirem os legados:
Já não há para nós, clássicos: nem Homero, nem a Bíblia, nem provérbios ... (...).
o oriental acha-se respaldado, em segurança, sob a proteção da verdade de um
passado milenar que ele aceita, que lhe é próprio, que o norteia, que o ampara e
não o deixa entregue à perplexidade de quem está num mundo, onde tudo é
vivido por primeira vez, sem raízes; que lhe é impertinente. (IDEM, 1993, p. 26-
27).
1.3.6. Universalidade
Elaborado em poucas palavras, de maneira ritmada, na maioria das vezes com bom
humor, ora expressando sátira ou crítica, ora configurando-se como sábios conselhos ou
princípios de conduta, o provérbio, enunciado falso ou verdadeiro, é em si universal, pode se
adaptar aos países e idiomas, cada um a sua maneira e cultura. Por isso é difícil saber onde ele
37
surgiu primeiro. Isso se principalmente entre as línguas latinas, pois não se sabe se
determinado provérbio originou-se do latim, ou se veio do espanhol ou italiano e foi traduzido
para o português, francês ou romeno.
O provérbio “O costume faz a lei’’, por exemplo, parece revelar um valor universal, visto
se poder encontrar correspondentes em várias línguas: L’usage fait la loi (francês), L’uso fa la
legge (italiano), Costumbre hace ley (espanhol), Custom rules the law (inglês).
Contudo, nem todos possuem equivalentes em outra língua, há certos provérbios que
refletem tipicamente a cor local: “Quem não gosta de samba é ruim da cabeça ou doente do pé”,
por exemplo, não pode experienciar outra cultura senão a brasileira.
1.3.7. Função de eufemismo
O provérbio, por vezes, comporta uma sentença enigmática, apresentando-se como uma
palavra que vale por outra, muitas vezes empregado como uma forma indireta de dizer algo
desagradável. Assim, numa situação em que o indivíduo A se propõe a fazer algo que B é
contra, este pode se utilizar do provérbio “Quem avisa amigo é ”, por exemplo, que na verdade
mascara uma forma direta de dizer simplesmente “Não faça isso, as conseqüências não serão
agradáveis”. As duas orações em questão são reprovações, no entanto, a diferença consiste em
que a primeira é uma frase impessoal que requer uma prévia decifração do interlocutor - ele
necessita tirar suas próprias conclusões; enquanto a segunda é uma frase imperativa, direta, uma
imposição. Por isso, também se diz que o provérbio funciona como um eufemismo, ajudando as
pessoas a administrarem conflitos e evitando reações mal-humoradas.
38
1.3.8. Autoridade
Se alguém cita um provérbio, revela-se em uma condição de igualdade ou superioridade
para com o seu interlocutor, pela posse da sabedoria universal. O provérbio funciona como uma
citação, porque se tomamos por empréstimo uma idéia estabelecida, respaldo àquilo que se
quer argumentar. Mas ao contrário da citação que é a idéia do outro, em que consta um autor, o
autor do provérbio não é o outro, são os outros, a coletividade.
A excessiva utilização de provérbios pode ser explicada pelo fascínio que eles exercem.
A autoridade política e proverbial têm caminhado juntas desde os tempos de Salomão, esperava-
se que os líderes políticos fossem oradores e que soubessem o maior número de provérbios. De
acordo com Burker & Porter, na cultura africana, os advogados utilizam-se dos provérbios como
suporte para seus argumentos.
Um conhecimento sobre provérbios era algo de que uma pessoa podia se
orgulhar, e que podia exibir; em qualquer lugar que fossem usados em
almanaques, livros de aconselhamento, panfletos polêmicos, sermões e obras de
natureza literária -, podiam sê-lo de maneira abusiva, (IDEM, 1997, p. 59).
No entanto, ao utilizar-se de citação ou provérbio, ao mesmo tempo em que o redator ou
falante concorda com o que está sendo dito, ele se distancia daquilo que é dito, por atribuir
aqueles conteúdos explicitamente a outro. Pode-se dizer, então, que o provérbio é um típico
recurso de persuasão de quem não quer se responsabilizar por aquilo que é dito, ou porque não
sabe a razão do que diz ou não ter certeza.
Por isso, Bragança Júnior (2002, p. 6) apresenta o seguinte testemunho:
39
Através de observações feitas a partir da realidade circunjacente ao mundo da
época, o homem procurava, por meio de expressões fraseológicas, ter em mãos
subsídios práticos para sua própria orientação e das próximas gerações no que
diz respeito às condutas a serem seguidas ou refutadas.
Por outro lado, quando se faz uso dos provérbios, tem-se a ilusão de que eles pertencem
ao indivíduo, mas na realidade lhe são impostos e o obriga a aceitar uma gica vinda da
sociedade, que se impõe frente à concepções pessoais.
Pode-se dizer, portanto, que o provérbio constitui o discurso do outro. Quem o emprega
tem seu dizer invencível, porque está apoiado em uma idéia tradicional estabelecida pelo senso
comum, não refutada pela coletividade. Contudo, mesmo sendo o discurso do outro ou uma
ideologia imposta pela sociedade, ele não subtrai totalmente a individualidade de quem o
emprega; muitas vezes, será marcado pela subjetividade, e, mantendo o discurso individual, será
tomado como instrumento de auxílio à argumentação. Assim, quando um provérbio é
adequadamente utilizado, a argumentação não deixará espaço para a contra-argumentação, o
discurso passa a ser irrefutável, por constituir uma verdade anônima consagrada.
1.3.9. Polifonia
Segundo Koch (2001, p.58), “o termo polifonia designa o fenômeno pelo qual, num
mesmo texto, se fazem ouvir “vozes” que falam de perspectivas ou pontos de vista diferentes
com as quais o locutor se identifica ou não”, mas a noção de polifonia deriva de Backthin (1986)
que postula que o indivíduo é inconcebível fora das relações que o ligam com o outro. Backthin
considera o discurso constitutivamente polifônico, num permanente diálogo, pressupondo uma
pluralidade de vozes existentes no discurso. Segundo esse dialogismo, o sujeito, ao falar, não
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entende o interlocutor apenas como seu receptor, mas, como alguém com quem ele irá contrapor
o seu discurso e, assim, o sujeito não é apenas um emissor. Dentro dessa concepção, todo
discurso é tecido pelo discurso do outro.
Ducrot (1987) retoma e sistematiza essa teoria e mostra que o sujeito ou o enunciador
pode adquirir várias posições em um mesmo discurso. Assim, ora o sujeito enuncia, ora é
enunciado; ora é sujeito, ora é assujeitado. O provérbio, por usa vez, ora dito, ora ditado.
De acordo com Citelli (1991), a maior parte dos discursos que fazemos nas relações
como os nossos semelhantes o discursos de persuasão, os quais prescrevem o que devemos
desejar, compreender, temer, querer e não querer. Temos necessidade de persuadir e sermos
persuadido.
O provérbio, por sua vez, como enunciado discursivo e persuasivo por excelência, é
constituído por fios de vários discursos e reveste-se na voz da coletividade, podendo falar pelas
instituições, pelos grupos sociais. Desse modo, o indivíduo, por meio do provérbio, também
sente-se representado por uma instituição, tornando-se membro dela, sentindo-se inteirado com
a sociedade.
1.3.10. Ideologia
O provérbio também é ideológico, apresenta uma transparência que de fato não tem,
dissimula as figuras que o tornam persuasivo colocando sua mensagem como verdade. A
ideologia dos provérbios tem um certo caráter maniqueísta, faz a oposição entre o bem e o mal,
o certo e o errado. Assim, no lugar de explicar, a ideologia julga e moraliza (AMARAL, 1998).
Além disso, o provérbio promove-se de acordo com o contexto, assumindo papéis
diferentes nas vozes diferentes que as pronunciam. (Reboul apud AMARAL, 1998). O provérbio
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“Deus o frio conforme o cobertor”, por exemplo, expressa uma ideologia de conformidade
quando utilizada por um pobre, ou de egoísmo quando utilizada por um rico.
Um pensamento pode transformar-se em slogan, se tiver um tom autoritário, edificante
ou moralista, ou transformar-se em sentença, em máxima, em clichê conforme as circunstâncias.
Muitas vezes, porém, estudar a ideologia de um provérbio é também saber ler o que está
“por trás”, no “não-dito” (Ducrot, 1987), porque a intenção não vem expressa literalmente.
A diferença entre os sexos também é marcada pelos provérbios, o machismo, por
exemplo, não é peculiar somente a uma determinada cultura. A mentalidade machista pode ser
constatada abundantemente em provérbios brasileiros: ‘‘Mulher, cachaça e bolacha, em toda
parte se acha’’; ‘‘A mulher e a mula, o pau as cura’’; ‘Lágrimas de mulher, valem muito e
custam-lhe pouco’’; ‘‘A mulher e a cachorra, a que mais cala é a melhor’’; ‘‘A mulher ri quando
pode e chora quando quer”, “Mulher é como alça de caixão, quando um larga vem o outro e põe
a mão”.
Além do preconceito sexual, o preconceito racial é muito evidente. Denota crueldade na
qual o negro passa a ser vítima. ‘‘Negro não é inteligente, é espevitado’’; ‘Negro não nasce,
vem a furo’’; ‘‘Negro só entra no céu por descuido de São Pedro’’, “Negro quando não caga na
entrada, caga na saída”. É interessante notar, contudo, que em revanche a esses, surgem outros
preconceituosos, em sinal de protesto: ‘‘Carne de branco também fede’’; ‘‘Penico também é
branco’’; ‘‘Galinha preta põe ovo branco’’.
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1.3.11. Improvérbio
Chico Buarque de Holanda, por exemplo, na música ‘‘O improvérbio’’, ao contrário de
brincar com provérbios tais como os conhecemos, descontrói sentenças populares desdizendo-
as, fazendo paródia com alguns provérbios:
Ouça um bom conselho, que eu lhe dou de graça: Inútil dormir, que a dor não
passa. Espere sentado ou você se cansa. Está provado, quem espera nunca
alcança. Ouça, meu amigo, deixe esse regaço. Brinque com meu fogo, venha se
queimar. Faça como eu digo, faça como eu faço. Aja duas vezes antes de pensar.
Corro atrás do tempo. Vim de não sei onde. Devagar é que não se vai longe. Eu
semeio o vento na minha cidade, vou pra rua e bebo a tempestade.
Na letra acima, pode-se resgatar, oito provérbios desfeitos, dentre eles: “Se conselho
fosse bom ninguém dava”,‘‘Quem espera sempre alcança’’, “Quem brinca com fogo, se
queima”, ‘‘Faça o que eu digo, não faça o que eu faço’’, ‘‘Pense duas vezes antes de agir’’, O
tempo não volta atrás”, ‘‘Devagar se vai ao longe’’ e “Quem semeia vento, colhe tempestade”.
Além de Chico Buarque, Erasmo Carlos na música “Mesmo que seja eu” também se
aproveitou do provérbio “Antes só do que mal acompanhado” para fazer música e refutar a idéia
expressa por ele: “Filosofia é poesia que dizia a minha vó. Antes mal acompanhada do que só”.
1.3.12. Função na mídia
Quando o emissor quer que o seu receptor crie uma determinada imagem do referente ou
mesmo do próprio emissor, ele recorre com freqüência a algum provérbio, sobretudo nos meios
publicitários. Para a mídia, o ideal de um slogan é ter status de provérbio, pois este possui
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características que satisfazem os objetivos das propagandas: sua forma curta e fácil de ser
memorizada ganha a simpatia do consumidor que se identifica com o tema anunciado,
despertando confiabilidade ao produto.
Lysardo-Dias (2004) faz uma análise discursiva dos provérbios na mídia ‘‘Provérbios
que são notícias’’, tomando como referência notícias publicadas em 1999 pelos jornais Estado
de Minas, Folha de São Paulo e Jornal do Brasil. Segundo ela, os provérbios, na maioria das
vezes, aparecem no título ou no primeiro enunciado da matéria, para captar a atenção do leitor.
No entanto, se aparecem no fim, funcionam como moral e desfecho da história. Ela faz uma
observação, que nos parece pertinente ‘‘Parece contraditório com o discurso jornalístico, que
sobrevive justamente do novo e do moderno, mas o provérbio acaba constituindo-se num
elemento inusitado’’ (IDEM, 2004, p. 1). Os mais utilizados, segundo a autora, são: “Filho de
peixe, peixinho é” e “Roupa suja se lava em casa”. Lysardo-Dias também observou que os
jornalistas fazem paródias de provérbios e utilizam-se de trocadilhos, geralmente por razões
ideológicas, como numa reportagem referente a assaltos a ídolos da televisão e do esporte:
‘‘Ídolo posto, ídolo assaltado’’ em vez de ‘‘Rei morto, rei posto’’. As paródias proverbiais,
potente recurso jornalístico, então, são identificadas, causam novidade e estranhamento,
rompendo com o fio do discurso justamente por se desviar do esperado.
A quebra de um conceito estabelecido é, por sua vez, um recurso moderno e muito
interessante em propagandas, que tomam como base provérbios de sabedoria “indiscutível” e os
contradizem, inserindo um novo conceito a fim de causar efeito de estranhamento, por vezes até
risos, prendendo, assim, a atenção do receptor e atingindo, conseqüentemente, o objetivo
almejado.
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1.3.13. Contexto e intertextualidade
O provérbio nunca é desvinculado do discurso, de um contexto, quer dizer, nunca se
isolado. Sem vida, todos falantes sabem identificar um provérbio referente a um determinado
tema, mas se pedirmos para alguém citar um provérbio sobre um tema, por exemplo, ele
dificilmente o falará de imediato.
A menção a um provérbio normalmente desencadeia-se após uma seqüência de
pensamentos ou de falas, por isso, nas situações em que ele é requerido, surge repentinamente.
Por isso, Vellasco (2000, p. 7) afirma que:
O uso das expressões lingüísticas padrão faz com que nossa comunicação flua
com mais facilidade e eficiência, pois evita que a todo momento tenhamos que
ser criativos – algumas delas vêm, inclusive em nosso socorro nos momentos em
que não sabemos o que dizer.
Os provérbios são textos completos que podem dialogar entre si. Mas as relações de
intertextualidade precedem conhecimento prévio de mundo por parte do leitor. ‘‘Quem avisa,
amigo é’’ e ‘‘Se conselho fosse bom, ninguém dava’’, por exemplo, revelam uma
intertextualidade das diferenças que, segundo Sant’Anna (1985), consiste em representar o que
foi dito para propor uma leitura diferente e/ou contrária.
Koch e Travaglia (1991) afirmam que o fenômeno da intertextualidade é muito comum
entre as matérias jornalísticas de um mesmo dia ou de uma mesma semana e na sica popular,
ativando, com mais facilidade, informações recentes para o leitor/ouvinte. Acrescenta ainda que
essas relações podem ser explícitas ou implícitas.
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1.3.14. Conotação, denotação e cristalização
‘‘Aprovado pelo senso comum, o provérbio é um enunciado que utiliza muitas metáforas
e sua significação se estabiliza no idioma pois passou do uso individual para o coletivo’
(XATARA, 1998, p. 21). Assim, ‘‘Mais vale um pássaro na mão do que dois voando’’, por
exemplo, significa que é melhor se contentar com aquilo que se tem do correr o risco de perdê-lo
ao procurar por mais. um enunciado denotativo, de mesmo significado como ‘‘Garanta o
pouco que tens ao invés de procurar ter mais’’ não se consagrou pela tradição cultural; por isso
não se apresenta cristalizado na língua portuguesa.
Diferentemente deles, os ditados possuem sentido literal, funcionando como paráfrase:
‘‘Não faça aos outros o que não gostaria que lhe fizessem!’’. Assim, pode-se afirmar que o
provérbio tem alto grau de codificabilidade, por sua capacidade de transformar em um
“enunciado-código’’ a análise que faz da realidade, ao passo que o ditado dá preferência ao
enunciado explicativo. Mas apesar de denotativos, também passaram pelo mesmo processo de
cristalização (XATARA, 1993).
Salienta-se, inclusive, a dificuldade que a decodificação dessa linguagem figurada
representa para a criança em se tratando da aquisição da língua materna, ou na aquisição de uma
língua estrangeira, para adultos.
1.3.15. Sinonímia e antonímia
Provérbios sinônimos e variantes são aqueles que têm significado comum e se empregam
em situações análogas. A diferença entre eles é que os provérbios variantes apresentam entre si
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uma formulação sintática quase idêntica, empregando as mesmas metáforas; enquanto os
provérbios sinônimos sofrem alterações sintáticas maiores e empregam diferentes metáforas.
Assim, ‘‘Filho de peixe, peixinho é’’ e ‘‘Tal pai, tal filho’’são exemplos clássicos que
veiculam a mesma idéia, mas possuem formas totalmente diversas e metáforas diferentes. Por
isso são considerados sinônimos.
Já entre os provérbios variantes, é comum encontrarmos:
mudança de verbo, como se no exemplo acima e em: “O castigo vem a
cavalo” versus “O castigo anda a cavalo”;
pequenas alterações na forma: “Não se atira pedra em árvore que não dá fruto”
versus “Só se atira pedra em árvore que fruto”; “Quem tudo quer, nada
tem” versus “Quem muito quer, nada tem”; “Quem cospe para o ar cai na
cara” versus “Quem cospe para o ar cai-lhe na cara”;
variação entre plural e singular das metáforas utilizadas: “Quem semeia
vento(s), colhe tempestade”.
diferença de sujeito: “Quanto mais se tem, mais se quer” versus “Quanto mais
temos, mais queremos”; “Comer pra viver e não viver pra comer” versus
“Come-se para viver e não se vive pra comer”. Ora apresentam sujeito
definido, ora apresentam impessoalidade;
acréscimo na formulação do provérbio: “De graça, até injeção na testa” versus
“De graça, até injeção na testa e ônibus errado”; “A carne é fraca” versus “O
espírito está pronto, mais a carne é fraca”;
47
sujeitos sinônimos em formulações idênticas: “A ira é conselheira” versus
“A raiva é má conselheira”; “A preguiça é a mãe de todos os vícios” versus “A
ociosidade é a mãe de todos os vícios”, etc.
Outra observação refere-se à relação que provérbios apresentam entre si. Muitos são
aparentemente ilógicos por si : ‘‘Barriga cheia, goiaba tem bicho’’, uns antagônicos :
‘‘Devagar que eu tenho pressa’’. Outros são antagônicos se comparados entre si: “Ruim com
ele, pior sem ele” comparado com “Antes do que mal acompanhado”, ou “Rei morto, rei
posto” comparado com “Quem foi rei nunca perde a majestade”.
Também pode-se encontrar contradição nos provérbios. casos, porém, que a
formulação negativa de um basta para gerar antônimos: ‘‘Dinheiro é tudo’’ e ‘‘Dinheiro não é
tudo’’. Ou então, verdades proverbiais podem ser contestadas ou criticadas com o acréscimo de
um enunciado antagônico ao mesmo provérbio. Assim para o provérbio ‘‘Dinheiro não traz
felicidade’’, exemplificando, tem-se as réplicas: ‘‘mas ajuda’’, “(mas) manda buscar”, “então
dê o seu pra mim e seja feliz”.
Essa contraditoriedade pode ser explicada como um artifício de quem tenta persuadir
outrem a favor de seus interesses, uma estratégia para lidar com uma situação, já que a
sociedade é heterogênea, dividida, não previsível, e por isso ajusta os provérbios para cada
situação, de acordo com seus interesses e necessidades. Em cada elocução há uma intenção, não
existindo enunciado desprovido de persuasão. Assim, eles “constituem variáveis históricas e
sociais, uma fonte de divisão e disputas, envolvidos na linguagem da política e na política da
linguagem” (BURKER & PORTER, 1997, p. 73).
48
1.3.16. Humor, criatividade e crenças
É muito comum encontrar criatividade e humor quando se fala em sabedoria popular,
por isso também há provérbios que denotam imagens engraçadas ou inusitadas (‘‘Urubu quando
está de azar, o de baixo suja o de cima’’, ‘‘Se a vida te dá um limão, faça com ele uma
limonada’’), outros que causam estranheza por sua obviedade (‘‘Maior é o ano que o mês’’) ou
que surpreendem pela criatividade expressa no jogo de palavras ou no emprego polissêmico de
palavras (‘‘Relógio que atrasa não adianta’’).
Encontramos ainda provérbios curiosos que envolvem crenças ou superstições como:
‘‘Agosto, mês de desgosto’’, ‘‘Quem ajuda a preparar a noiva, casa cedo’’, ‘‘Casa de esquina,
morte ou ruína’’, ‘‘Sapo n’água coaxando, chuva beirando’’, “Chuva e sol, casamento de
espanhol”, “Sol e chuva, casamento de viúva”.
Por fim, provérbios correntes, muitas vezes, são reinventados para servirem de
instrumento à jocosidade ou mesmo à inovação, o que confirma a maior infiltração deles entre as
camadas populares: “Quem ri por último é retardado”, “Quem espera, tem criança”, “Quem
espera sempre alcança ou cansa de esperar”, “Antes tarde do que mais tarde”, “Antes mal
acompanhado do que só”.
1.3.17. Moral da história
Em contos infantis, e sobretudo em fábulas, os provérbios figuram muitas vezes com o
intuito de educar ou advertir, ele carrega mensagens que procuram orientar as atitudes do leitor.
Exemplificando, a bula da galinha dos ovos de ouro encerra com a moral da história ‘‘Quem
tudo quer nada tem’’; a fábula da coruja e da águia encerra com ‘‘Quem o feio ama bonito lhe
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parece’’; e a fábula das uvas e da raposa com ‘‘Quem desdenha quer comprar’’; da tartaruga e
da lebre com “Devagar se vai ao longe”; do leão e do rato com “Ninguém é tão inútil que não
possa ser útil a alguém”. Na verdade, as fábulas e os provérbios encerram um posicionamento
crítico sobre as condutas humanas, demonstrando assim a moral da história.
1.3.18. Aspectos estruturais
No que diz respeito à sintaxe, Vellasco (2000, p. 9) acredita que a formulação proverbial
é relativamente simples e geralmente costuma corresponder a alguns padrões:
a) Tal X tal Y: ‘‘Tal pai, tal filho’’, (apesar de não detectarmos outra construção
proverbial similar);
b) X-mais, X-mais: ‘‘Quanto mais limpo o papel, pior a mancha’’;
c) antes X [de] que Y: ‘‘Antes tarde do que nunca’’.
Entretanto, é igualmente comum a presença de outros tipos de construções proverbiais
(SN + SV), como em “A necessidade faz a lei”, “O castigo vem a cavalo”, “Tamanho não é
documento”, ou de outras formulações, como: “Olho por olho, dente por dente”, “Nunca digas:
deste pão não comerei, desta água não beberei”, “Se não queres que o mal cresça, corta-lhe a
cabeça”, “Muito riso, pouco siso”, “Pela obra, se conhece o artista”,” “Quando a cabeça não
pensa, o corpo padece”, “Um por todos e todos por um”, etc.
Evidentemente, no que concerne aos tempos verbais, a maior parte dos provérbios,
encontra-se no presente do indicativo ‘‘Roupa suja se lava em casa’’, o que lhes confere um
caráter de atemporalidade; ou no imperativo ‘‘Jogarás, pedirás, furtarás!’’ para anunciar uma
verdade moral. Outros exemplos de provérbios que marcam atemporalidade: “O pior cego é
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aquele que não quer enxergar”, Burro velho não pega marcha”; “A bom entendedor, meia
palavra basta”, “Com quem pode não se brinca”, “Quem procura acha”,
Em mero bem mais reduzido, ainda encontramos provérbios em outros tempos
verbais: o pretérito perfeito, para demonstrar uma experiência ainda válida: ‘‘Roma não se fez
num dia’’, ‘‘De pensar, morreu um burro’’; o futuro do presente para demonstrar o que
comumente acontece após certas situações: ‘‘Depois da tempestade, sempre haverá bonança’’,
ou para indicar que algo acontecerá em decorrência de uma determinada atitude: ‘‘Diga-me
com quem andas e te direi quem és’’. Também, a forma interrogativa pode moldar um provérbio
como: ‘‘O que seria do verde se todos gostassem do amarelo?’’.
Em relação à forma, os provérbios distinguem-se pela elaboração trabalhada, ritmo,
aliteração, assonância, construções binárias, paralelismo, repetição, violação de sintaxe e termos
regionais.
O provérbio “Pelas obras e não pelo vestido é o homem conhecido’’, por exemplo, pode
ter sofrido um processo de transformação e ter resultado na formulação mais abstrata e
atualmente mais usual: “O hábito não faz o monge’’. Já “Se a ser rico queres chegar, vai
devagar’’ pode ter se condensado e evoluído para “Devagar se vai ao longe’’. (XATARA, 1993,
p. 1460).
1.4. Os provérbios sagrados
A maior parte das doutrinas de Jesus Cristo, por sua vez, foram construídas em parábolas
e formas proverbiais, como nos três primeiros evangelistas e, se ao próprio Cristo elas lhe foram
agradáveis, quem não haveria de usá-las? Cristo sempre tinha uma parábola para perguntas cujas
respostas não podiam ser diretas, como a parábola do semeador, do filho pródigo, da mulher
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pobre que deu uma moeda de esmola sendo tudo o que ela possuía. O provérbio, como forma de
sustentação da razão, tem como fundamentação uma fonte de credibilidade que é a cultura
judaico-cristã, ou melhor, a Bíblia. Assim, os provérbios bíblicos tornaram-se provérbios
populares como por exemplo: ‘‘Dê a Cesar o que é de César e a Deus o que é de Deus’’; “A voz
do povo é a voz de Deus”; “Nem de pão vive o homem”; “Se Deus é por nós quem será
contra nós?”; ‘‘É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar
no reino dos céus’’, nesse último, vale observar que “camelo” é uma palavra do vocabulário
náutico, o mesmo que calabre, corda grossa que serve para amarrar, prender.
Sem dúvida, é mesmo a Bíblia o livro mais popular do ocidente e, talvez, muitos dos
provérbios que se conhecem hoje são originários dela, provavelmente porque, assim como as
doutrinas religiosas existem para orientar os cristãos, os provérbios pretendem explicitar uma
orientação.
Acredita-se que o provérbio: ‘‘Não faça para os outros o que não queres que façam a ti’’
veio de Mateus 7, 12
7
(‘‘Regra de caridade Assim, tudo o que vós quereis que os homens vos
façam, fazei-o também vós a eles; esta é a lei e os profetas’’). o provérbio ‘Olho por olho,
dente por dente’’ está no livro do Êxodo 21, 24, remetendo à justiça (‘‘O que ferir um homem,
querendo matá-lo, seja punido de morte’’) e aparece no seguinte trecho: ‘‘Mas, se seguiu a
morte dela, dará vida por vida. Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé.
Queimadura por queimadura, ferida por ferida, pisadura por pisadura’’, Êxodo 21, 23-25. São,
esses provérbios, enunciados-chaves retirados de uma passagem bíblica ou parábola importante,
resumindo-a como se fossem os seus próprios títulos.
7
A Bíblia usada como referência em nossa bibliografia adota os seguintes critérios para localização de passagens:
vírgula separa capítulo de versículo; o ponto separa versículos quando não contínuos; o hífen separa versículos
quando contínuos; raramente e nas introduções aos diversos livros, o hífen separa também capítulos; e o ponto e
vírgula separa grupos de capítulos e versículos.
52
Tais enunciados, essencialmente bíblicos ou sagrados, também são denominados
preceitos e uma boa parte deles são conhecidos por provérbios do Rei Salomão, rei de Israel que
viveu entre 970-931 a.C. Esse filho de David era famoso por ser uma pessoa justa e sensata, cuja
sabedoria se tornou proverbial em um julgamento por uma sentença dada em função do pedido
da guarda de uma criança por duas mulheres. Frente a esse impasse, a crença diz que o rei
Salomão então mandou dividir a criança ao meio para repartir entre as duas, mas uma das
mulheres abriu mão da sua metade e preferiu entregá-la inteira a outra mulher do que vê-la
morrer. Dado esse fato, o rei identificou a verdadeira mãe, aquela que se compadeceu e, por fim,
entregou-lhe a criança.
Entretanto, apesar de esses preceitos serem atribuídos a Salomão, não foram escritos por
ele, mas por mãos e épocas diferentes. Segunda a Bíblia Sagrada (1980), a finalidade da palavra
de Deus é educar para a vida, além de ela ser acessível a qualquer pessoa, ela diz ainda que, Javé
é fonte de sabedoria e se comunica por meio das experiências concretas da vida.
Na introdução do Livro dos Provérbios, encontramos uma definição para provérbio,
formulada por religiosos:
Provérbio é uma frase curta, bem construída, que expressa uma verdade
adquirida através da experiência e que se impõe pela forma breve e pela agudez
das observações. Os provérbios são ensinamentos deduzidos da experiência que
o povo tem da vida, e sua finalidade é instruir, esclarecendo situações de
perplexidade e fornecendo orientações para a vida humana, como as setas de uma
estrada (IBIDEM, 1980, p. 834).
É interessante ainda transcrever aqui outra observação:
53
Também este livro é a Palavra de Deus que transmite vida. Uma palavra que
Deus comunica através das situações e acontecimentos de todo dia, que o povo
capta em sua experiência, observação, reflexão e intuição, e depois expressa em
sentenças simples, em geral bem mais profundas do que longos tratados sobre
diversos problemas da existência (OP. CIT.).
Trata-se de uma sabedoria que não pode ser desprezada porque vem de Deus, mas que
nem sempre é compreendida e observada pelos sábios e doutores (Mateus 11, 25).
O Livro dos Provérbios é dividido em nove tópicos: I - “O significado da sabedoria’’; II -
“O caminho da justiça’’; III “Palavras dos sábios’’; IV - “Outras palavras dos sábios’’; V
“Vida social e governo’’; VI “Mistério e Escândalo’’; VII “Provérbios numéricos’’; VIII
“De mãe para filho’’; IX “Esposa Ideal’’. Cada um desses tópicos são compostos por
capítulos, ora estruturados como conselhos e ensinamentos, ora como provérbios propriamente
ditos.
Não da Bíblia, porém, vieram as paremiologias sagradas, mas de livros de outras
religiões que foram difundidos pelo fundamento de suas verdades, dado que a cultura ocidental
não escapou das influências das tradições orientais.
De acordo com Lauand (1995) um deles é o Talmude, um dos livros da religião judaica
que contém a lei oral, a doutrina, a moral e as tradições dos judeus; foi editado em aramaico e,
reúne textos do séc. III até o séc. V. São exemplos: ‘‘A mentira não tem pernas’’, comumente
conhecido como ‘‘A mentira tem pernas curtas’’; ‘‘Os velhos para o conselho; os jovens para a
guerra’’.
Com as cruzadas, as invasões dos mouros, a vinda dos imigrantes muçulmanos no fim do
séc. XIX e começo do séc. XX, a Península Ibérica sofreu forte influência árabe. Não as
palavras da língua árabe passaram a entrar no vocabulário ibérico, mas também a cultura, e
54
exatamente aí se encontram os provérbios que foram transmitidos a nós, brasileiros, pelos
interceptadores lusitanos.
O Alcorão, fonte rica do patrimônio sapiencial do Oriente, é o livro sagrado dos
muçulmanos, cujo islamismo, religião fundada pelo profeta árabe Maomé, por volta de 570–632
compete com o cristianismo em maior número de fiéis no mundo (HOUAISS, 2001). Nesse
sentido, uma cultura como a brasileira, composta de tantas etnias, não pode negligenciar a
influência dessa tradição nos provérbios. Assim, muitas parêmias utilizadas atualmente têm suas
raízes do outro lado do mundo e encontram-se dicionarizadas na nossa língua materna. A língua
e o pensamento árabe encontram sua adequada tradução precisamente no provérbio, valendo-se
do passado até para expressar o futuro (LAUAND, 1995). Nesse sentido, Haddad afirma que:
A visão-árabe-de-mundo está envolta num multifacético infinito que remete à
noção de tempo: o árabe vê o passado como um bloco homogêneo. E vê o futuro
como homogêneo. (HADDAD, 1993, p. 59).
E o futuro é, para o árabe, determinado pelo passado e expresso em sentenças
proverbiais: ‘‘Queres ver o porvir, olha o passado’’, ‘‘Pelo fio tirarás o novelo e pelo passado o
que está por ver’’. Lauand (1995) ainda explica que o tempo futuro é expresso no passado para
os árabes, quando nós expressaríamos no presente ou futuro: ‘‘Quem sofreu venceu’’ em
contraposição à ‘‘Quem sofrer vencerá’’.
Os provérbios chineses, com menos influência que os demais, também foram escolhidos
pela civilização ocidental, pela tradição de sua cultura milenar, por serem belos na forma e
sábios nas idéias. Eles são proferidos por meio de diversas vertentes como o confucionismo,
taoísmo e budismo chinês que também chegaram ao Brasil.
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De acordo com Ho Yeh Chia (2004), o chinês cita provérbios para tudo: tanto para
criticar humoradamente a falta de valores, os fatos cotidianos ou os sentimentos, como para
expressar votos para casamentos, negócios, viagens, etc. São divididos em eruditos, formados
por quatros ideogramas, de elaboração mais refinada; e populares, que o possuem um limite
de ideograma e têm formulações mais simples. Provérbios populares e eruditos de semelhante
teor coexistem e a maioria da população por não ser alfabetizada não tem acesso aos provérbios
eruditos. Conhecer os provérbios eruditos, na China, significa conhecer também os
ensinamentos sagrados:
As expressões consagradas, como se pode imaginar, são milenares. Entre os
eruditos, saber citá-las corretamente no momento oportuno é uma forma muito
agradável de manifestar conhecimentos, pois ser erudito, para os chineses, é,
antes de tudo, conhecer a sabedoria dos antigos e poder citar, de cor, as sentenças
consagradas, (HO YEH CHIA, 2004, p. 2).
1.5. A relação: provérbio-pecado.
O pecado é inerente ao ser humano, porém as convenções de pecado não são naturais,
mas sociais. Rousseau (1999) dizia que o fundamento da ordem social não vem do direito
natural, nem da força mas de uma convenção, o pacto social; e para que haja sociedade, é
necessário que se haja regras. Assim também, a proibição do pecado é fruto de uma convenção
social que, foi aprimorada pelas autoridades religiosas, constituindo-se em uma “regra’’ criada
para que o indivíduo pudesse viver em sociedade, para que cada um respeitasse o direito do
outro, para que os homens “não se matassem uns aos outros”. Porém, a fim de realmente sentir o
efeito desejado, a essas regras foi atribuída autoria divina, uma máxima em termos de
autoridade.
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Com o advento da Igreja Católica Apostólica Romana, foram determinados sete pecados
muito graves - os capitais - como forma de conter as propensões do homem aos vícios. E para
sua difusão no seio da sociedade, nasceram provérbios relacionados aos vícios capitais.
Observa-se, ainda, que apesar de serem originariamente católicos, trata-se de provérbios
utilizados no dia-a-dia por pessoas de outros segmentos religiosos, como interjeições do tipo
“Minha Nossa!” que, em um primeiro sentido, faz apelo à Nossa Senhora.
Lauand (1995) faz uma séria crítica à sociedade brasileira contemporânea, ao dizer que
dificilmente o brasileiro abdica de seu individualismo. Para isso, seria necessário e urgente a
intervenção da educação moral sempre ameaçada pela ‘‘lei do oportunismo’’, porque também a
linguagem viva já não dispõe de nomes para as virtudes, nem para os vícios. Ele acredita que
‘‘no Brasil de hoje, o horizonte está se estreitando a tal ponto que as novas ‘‘virtudes’’ giram em
torno do conceito de ‘‘esperto’’ e as novas ‘‘desonras’’, em torno de ‘‘trouxa’’ ’’ (IDEM, p. 12).
A ‘‘invenção’’ do pecado não é outra coisa senão uma maneira de educação moral, assim como
os provérbios, o que confirma esse autor:
Quando se tem em conta que a educação - mais do que no âmbito oficial da
escola exerce-se na interação social informal e que a moral pressupõe, antes e
acima de tudo, conhecimento sobre o ser do homem, torna-se imediatamente
evidente que a tradição viva de provérbios populares é poderosa instância de
educação moral (que, naturalmente, valerá o que valerem os conteúdos
veiculados...) (IDEM, p. 11).
O provérbio, como aliado da contenção aos vícios, não deixa de constituir uma poderosa
arma para controlar condutas. Bragança Júnior (2002, p. 11) consolida essa tese, mas apresenta
uma visão um pouco diferente daquela de Lauand:
57
(O provérbio) atua em nível discursivo escrito corrente na literatura medieval em
língua latina como meio pedagógico, proporcionando aos interessados o discurso
da sabedoria, que, no teocêntrico ambiente do medievo, pode ser alcançada
através da revelação das verdades (humanas e bíblicas) e através do aprendizado
dos discípulos dentro dos padrões éticos e morais condizentes com um cristão e
que configuram implicitamente a aceitação de uma visão do mundo revelada e
transmitida pela Igreja através de sua retórica de dogmatização do sagrado.
Para esse autor, os provérbios medievais foram, portanto, veículos tanto de conhecimento
como de dominação, fundamentados no saber empírico do povo e nos ditames da religião.
Discorremos, porém, especificadamente a respeito de cada um dos sete pecados capitais, no
próximo capítulo.
Percebe-se, em suma, que para alguns tanto o provérbio como a condenação aos vícios
são necessários em uma época de catástrofes humanas e desrespeito com o próprio ser humano,
enquanto outros acreditam que o provérbio sirva como instrumento de monitoramento de
conduta. Ambas teorias não deixam de ter razão, o provérbio é uma “moeda de duas faces’’, ao
mesmo tempo em que é veiculador de informação, experiência e educação, carrega consigo
verdades, nem sempre agradáveis: preconceitos, injustiças e desigualdades sociais. É
simplesmente o fruto de sua sociedade.
58
CAPÍTULO II
OS SETE PECADOS CAPITAIS
O teor desta pesquisa não é evidentemente teológico, nem tem como objetivo contestar
ou defender preceitos de qualquer religião. Porém não se pode subtrair a temática dos sete
pecados capitais de seu contexto histórico-religioso nem tampouco negar o peso que os
provérbios expressos por eles exercem nas tradições populares intrinsicamente ligadas à fé
cristã.
Pintura medieval sobre os sete pecados capitais. Hieronimus Bosch, Museu do Prado, Madri – Espanha.
59
Apesar de esses pecados serem fundamentalmente originários da Igreja Católica
Apostólica Romana e por isso utilizarmos conceitos do catolicismo e depoimentos de
personalidades católicas que são de extrema importância, não nos limitaremos somente à ótica
dessa religião, mas observaremos fontes de outras religiões ou correntes filosóficas como o
protestantismo, o espiritismo e mesmo fontes pagãs.
Pretendemos com isso inventariar e analisar provérbios que tenham relação com esses
pecados, tecendo considerações de aspecto antropológico, cultural, psicológico, ou seja,
aspectos sociais. Por isso, devemos considerar todo e qualquer conceito religioso, que deve levar
em conta toda a diversidade que caracteriza o homem brasileiro.
Por muitos culos, o Brasil importou escravos e trabalhadores da África, Europa e Ásia
e, com eles, sua cultura, educação, hábitos alimentares, danças, lendas, costumes, crenças e
religiões. Especificamente no que diz respeito à diversidade religiosa, é um dos países onde se
registram atualmente menos conflitos desse interesse e não se tem notícia de guerras civis dessa
natureza. Talvez isso se explique não por um caráter liberto de preconceitos, mas pela
passividade característica do brasileiro que procura administrar seus conflitos e lidar de uma
maneira politicamente harmônica e tolerante com a diversidade, ao menos superficialmente.
Na Idade Média, a concepção do tempo, os elementos que integravam os sistemas de
valores, toda a vida e visão de mundo girava em torno da ‘‘cultura do pecado’’ e que associada a
um conjunto de práticas penitenciais e, assim, ao desenvolvimento da idéia e prática da
confissão, tiveram um grande desenvolvimento a partir do século XIII.
60
2.1. O simbolismo do número sete
Para contextualizar o tema dos sete pecados capitais faz-se necessário abordar
primeiramente a simbologia do número sete.
Os números não têm apenas uma representatividade matemática, mas estão envoltos
numa aura de fé e religião; o número sete, por exemplo, representa a perfeição. Tem forte
simbologia bíblica e cristã, podendo representar a soma aritmética de três e quatro, números
concernentes à divindade e ao cosmos, respectivamente.
O três, símbolo provavelmente originário da santíssima trindade, é a soma do Pai, do
Filho e do Espírito Santo, ou seja, é o próprio Deus. Faz ainda menção à ressurreição de Cristo
que se deu no terceiro dia e pode se referir também ao triângulo eqüilátero, forma
geometricamente perfeita. Por isso, o três também representa a vida. A gestação de um ser
humano leva normalmente nove meses, que é a multiplicação de 3 x 3.
O quatro está relacionado com o espaço cósmico: são as quatro estações do ano e as
quatro fases da lua. Sete dias é a duração de cada um dos ciclos lunares, totalizando vinte e oito
dias (equivalentes ao ciclo hormonal feminino) que regem o tempo no mundo, tempo este
dividido em semanas que possuem sete dias.
Também o arco-íris, elemento concreto da natureza tem sete cores, as cores originais da
luz branca ou luz solar: roxo, anil, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho. E na Bíblia, o arco-
íris representa a aliança de Deus com Noé. O número sete é inúmeras vezes citado tanto no
Antigo quanto no Novo Testamento. na história da criação, ensina a pedagogia cristã que
Deus fez o mundo em sete dias e o abençoou justamente no último dia. A título de ilustração,
seguem algumas passagens bíblicas do Antigo Testamento: “A sabedoria construiu a sua casa,
plantando sete colunas” (Provérbios 9,1), “Rute, nora de Noemi, vale mais que sete filhos”
61
(Rute 4,15), “O anjo Rafael, como um dos sete anjos que tem sempre acesso à glória do
Senhor” (Tobias 12,15), Sete dias de festa - Esdras enviado pelo rei e pelos sete conselheiros”
(Esdras 6,22; 7,14 ), “Sete lâmpadas - Sete canais - Sete olhos” (Zacarias 3,9; 4,2.10), “As sete
vezes em que Naa, o sírio, se lavou nas águas do Jordão, para curar-se da lepra” (2
o
livro dos
Reis 5,10.14), (ARAÚJO, 2003). em Gênesis encontramos a referência à morte de Caim que
seria vingada sete vezes.
No Novo Testamento, por sua vez, os sete milagres do evangelho dos quais o mais
conhecido é o milagre da multiplicação dos pães, em que Cristo utiliza-se de cinco pães e dois
peixes para fazê-lo, ou seja, sete elementos ao todo. Os principais fatos e milagres por Ele
realizados fundamentam as suas sete auto proclamações: “Eu sou o pão da vida”, “Eu sou a luz
do mundo”, “Eu sou a porta”, “Eu sou o bom pastor”, “Eu sou a ressurreição e a vida”, “Eu sou
o caminho”, “Eu sou a videira”. Além disso, são sete as bem-aventuranças, os demônios
expulsos de Maria Madalena, e as ocorrências dos símbolos apocalípticos: sete igrejas, sete
espíritos, sete candelabros, sete selos, sete anjos, sete trombetas, sete pragas e sete taças (OP.
CIT).
A Bíblia usa a simbologia do sete para dizer ainda que se deve perdoar sempre, não
apenas sete vezes e sim setenta vezes sete, isto é, infinitas vezes. São sete as virtudes cristãs: três
teologais (fé, esperança e caridade) e quatro morais ou cardeais (prudência, justiça, fortaleza e
temperança); sete os dons do Espírito Santo: (Cf. Isaías 11,1-3) sabedoria, entendimento,
conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus); sete os sacramentos: batismo, eucaristia,
crisma, penitência, unção dos enfermos, ordem e matrimônio; e sete os pecados capitais.
(VÁRIOS, 1987).
Além da Bíblia, percebe-se a importância do número sete no Alcorão, livro sagrado dos
muçulmanos e maometanos; no Mânava-dharma Castra, livro sagrado brâmane das leis indianas;
62
no Talmude, livro sagrado dos judeus; e em segmentos místicos como no tarô e na mandala
astrológica (LUCCHESI, 2004).
Por fim, o sete, da clássica dança dos sete véus, carrega, sem dúvida, uma idéia de magia
e misticismo: e sete são as maravilhas do mundo, as notas musicais, os orifícios do rosto
humano, etc.
2. 2. Definição de pecado
Em uma visão lexicográfica, de acordo com o dicionário Houaiss (2001), o pecado pode
ser entendido como:
Pecado s.m. (sXIII cf. FichIVPM) 1 violação de um preceito religioso 2 p.ext.
desobediência a qualquer norma ou preceito; falta, erro <p. juvenis> <trabalhar
muito não é p.> 3 ação má; crueldade, perversidade <é um p. acordá-lo tão
cedo> 4 o que merece ser lastimado; pena, tristeza <é um p. que você não possa
ficar para o jantar> 5 estado em que se encontra alguém que cometeu um
pecado (acp.1) <aquela mulher vive em p.> p. capital REL cada um dos sete
vícios relacionados pela Igreja católica (avareza, gula, inveja, ira, luxúria,
orgulho, preguiça) p. mortal REL o que faz perder a graça divina; o que mata
o espírito p. original REL aquele cometido por Adão e Eva no paraíso e pelo
qual todo ser humano é culpado desde o nascimento p. venial REL aquele que
reduz a graça ('bênção') divina, sem eliminá-la dos meus p. m.q. dos pecados
dos p. que causa espanto; extraordinário, terrível, dos meus pecados <uma
desorganização dos p.> ser os p. de alguém infrm. diz-se de pessoa, ger.
criança, causadora de muitas preocupações viver em p. B infrm. viver em
concubinato GRAM a) aum.irreg.: pecadaço b) dim.irreg.: pecadilho ETIM
lat. peccátum,i 'falta, culpa, delito, crime', der. de peccáre 'pecar, cometer uma
falta'; ver pec-; f.hist. sXIII pecado, sXIII peccados, sXIV peecados.
Não se sabe ao certo o significado inicial da palavra ‘‘pecado’’, nem a região da qual se
originou. Como se na definição do dicionário, pecar é originário do verbo peccáre, isto é,
63
cometer uma falta. No entanto, uns acreditam que originalmente signifique ‘‘errar o alvo’’, e
outros que a palavra ‘'pecado’’ vem de pecus, referente a ovelha, em latim, mas provavelmente
no sentido de ovelha desgarrada, pela interpretação católica. quem defenda que pecar venha
do judaico chet, para dizer ‘‘atingir o alvo’’, ou pecado tenha se originado de haram, ‘‘dizer
ilícito’’ para os muçulmanos (ISTO É, 2003).
2.2.1. Pecado original
No catolicismo, o primeiro conceito de pecado vem da própria Bíblia. Classifica-se
pecado universal, aquele que se originou no céu antes mesmo do surgimento da Terra, trata-se
da insurreição do anjo Lúcifer contra Deus. O segundo pecado cometido é o terrestre, chamado
pecado original, cometido por Adão e Eva quando comeram o fruto proibido em desrespeito ao
mandamento de Deus. Este é, sem dúvida, um dos pecados mais conhecidos, primeiramente por
meio da parábola cristã que envolve Adão, Eva e serpente, como símbolos e também, por se
acreditar que seja um pecado transmitido de geração em geração, um pecado herdado contra o
qual não temos escolha e do qual só se liberta pelo batismo.
Todo pecado pressupõe, pois, um pecador. Segundo a visão religiosa católica, podemos
ver o pecado como um “Não” a Deus, isto é, uma desobediência consciente e deliberada a uma
lei divina, cometida por pensamentos, palavras, atos e omissões.
Para Tomás de Aquino (apud SUAREZ-NANI, 2004), Adão foi criado justo, reto e
honesto: “Essa justiça original, própria do estado de natureza, consistia na submissão da razão a
Deus, dos sentidos à razão e do corpo à alma”
8
e a finalidade do homem estava destinada à
contemplação de Deus e as relações de submissão obedeciam essa ordem. Assim, a retidão do
8
Questa giustizia originale, propria dello stato di natura, consisteva nella sottomissione della ragione a
Dio, dei sensi alla ragione e del corpo all’anima.
64
estado de natureza, enquanto orientada a um bem sobrenatural, podia ser um dom divino, um
dom gratuito.
O primeiro ser humano, então, criado à imagem e semelhança de Deus, era um ser
privado de dores e sofrimento, possuía somente sentimentos nobres voltados para o bem como a
alegria, a felicidade e a esperança. Porém Adão não permaneceu até o fim de seus dias nesse
estado de graça e deu origem ao pecado que marcou toda a humanidade.
A mais difundida origem do pecado pode ter sido a da matriz agostiniana que
considerava a concupiscência como o elemento constitutivo e formal do pecado original, quando
o homem desejou igualar-se a Deus. Eis porque a soberba é a raiz de todos os pecados,
criando uma desarmonia que desviou o bem supremo, que seguia uma ordem hierárquica, para o
domínio individual. Daí se depreende que o grande pecado de Adão foi esquivar-se do seu fim
último que era a contemplação e a submissão da natureza humana a Deus: “O elemento formal
do pecado original é portanto a privação da retidão e da justiça original, enquanto o elemento
material reside na concupiscência entendida como desejo desordenado”
9
(IBIDEM, p.3).
2.2.2. Pecado universal e pecado individual
Dentre muitas perguntas que pairam sobre o pecado, pode-se encontrar esta: qual a
relação entre o pecado original cometido por Adão, e o individual, cometido por cada um de
nós? E por que aquele deixou um rastro indelével sobre a humanidade? Muitos teólogos
afirmam que isso se porque o mal individual está estreitamente ligado ao mal universal,
porque o pecado de Adão não representa um pecado pessoal, mas, um pecado de natureza, um
pecado natural. Por isso, está presente em cada indivíduo, independentemente de sua vontade,
9
L’elemento formale del peccato originale è dunque la privazione della rettitudine e della giustizia
originale, mentre l’elemento materiale risiede nella concupiscenza intesa come desiderio disordinato.
65
como uma marca que não pode ser apagada, e assim, o mal individual se entrelaça com o mal
universal atingindo toda a humanidade.
Isso quer dizer que a vontade de cada indivíduo é por natureza privada da retidão e da
justiça original. Daí a observação de Suarez-Nani (IDIBEM, p. 5): “A argumentação tomasiana
chega, assim, à conclusão de que se o homem não é, obviamente, obrigado a pecar, ele não
pode, todavia, abster-se disso completamente’’
10
. Essa teoria toma como preceito que mesmo
quando a razão adere ao bem supremo, o homem não é senhor de si nem de suas próprias
condutas.
Em outras palavras, a liberdade humana não existe e o homem propende naturalmente ao
mal porque a sua natureza não é divina. O maior conflito da humanidade é, portanto, paradoxal:
combater a própria natureza humana, fazendo uso somente da justiça e da retidão que não lhe
são inerentes. E só quando vence essa luta, ela se reconcilia com Deus.
2.2.3. Os pecados capitais
O primeiro esboço dos sete pecados capitais foi fruto de um empenho em organizar uma
experiência religiosa que remonta a João Cassiano, religioso que viveu por volta do ano 400
percorrendo cidades para recolher documentos ou experiências vividas pelos primeiros monges, e
depois ao Papa São Gregório, chamado Magno (540?-604), tomando como referência as cartas de
São Paulo.
Ambos procuram, fazer uma tomografia da alma humana que, posteriormente, resulta
em uma forma mais profunda e acabada por São Tomás de Aquino (Roccasecca, 1225?–Roma,
10
L’argomentazione tomasiana giunge così alla conclusione che se l’uomo non è, ovviamente, obbligato
a peccare, egli non può tuttavia astenersene completamente.
66
1274). Ao repensar a experiência acumulada sobre o homem ao longo dos séculos, ele escreve a
Suma Teológica e fixa os postulados que dominariam todo o desenvolvimento da filosofia
medieval, conhecidos como pensamento “tomista”.
Lauand (2005) acredita que a doutrina de Aquino, como tantas outras descobertas
antropológicas dos antigos, apesar de estar hoje esquecida, pode ajudar o homem
contemporâneo em sua orientação moral e antropológica. Informa também que a Igreja ainda
fala em seu novo Catecismo da doutrina dos sete pecados capitais, fruto da “experiência cristã”.
2.2.3.1. Conceito
A Igreja católica denominou sete pecados ‘‘capitais’’ por originarem outros pecados, por
serem de grande gravidade (representam a morte da alma e as principais tendências
desordenadas do ser humano) em oposição aos pecados veniais, considerados menos graves.
Freqüentemente também são chamados vícios capitais e, menos comumente, pecados cardeais.
Nesse contexto religioso, os pecados capitais são sete vícios especiais que comprometem
muitos aspectos de conduta, restringem a autêntica liberdade e condicionam para o mau
comportamento. Segunda a Igreja, visando finalidades particulares, Deus dotou o homem de
tendências naturais (paixões, apetites, concupiscências e instintos) que se tornaram desenfreadas
em conseqüência do pecado original; a desordem é aumentada pelos pecados atuais de cada
pessoa e da sociedade.
Greeley (1987, p.9), padre e escritor, abraça uma idéia mais suave do que se conhece por
pecados cardeais: não o, de forma alguma, pecados e sim, sete propensões desordenadas na
nossa personalidade que nos levam a comportamentos pecaminosos, fundamentais, cardinais.
Ele não julga os pecados resultantes de uma maldade fundamental, mas os de uma bondade da
67
mesma espécie que se descontrola, de um amor humano que se sente confuso e apavorado e não
confia o bastante no amor.
Outras doutrinas também adotaram o tema dos sete pecados capitais, como se pode
observar no espiritismo. Segundo o IDE-JF (Instituto de Difusão Espírita de Juiz de Fora – MG),
Alan Kardec acredita que ‘‘todas as misérias morais da humanidade têm origem em dois vícios
capitais: o orgulho e o egoísmo’’. Ele ressalta que esses defeitos estão na base de todos os vícios
morais da criatura e define o egoísmo como sendo o interesse pessoal exacerbado, ou seja,
condição que leva o indivíduo a pensar em si mesmo, nos seus interesses, no seu próprio bem-
estar, sem dar importância a ninguém.
A palavra “capital” (capitális) deriva de “cabeça” (capit -e) e pode ter vários sentidos
além de uma parte do corpo de um animal: pode significar liderança, como o cabeça do grupo
(“És pequeno a teus próprios olhos mas serás o cabeça das tribos de Israel’’ (1
o
livro de Samuel
15,17), a qualquer princípio, como no versículo das Lamentações (4,1): “Espalharam-se as
pedras do santuário pelas cabeceiras de todos os caminhos”).
Percebe-se, portanto, que os pecados capitais foram adotados por mais de uma doutrina
religiosa e, de acordo com Casagrande, foram acolhidos também pela sociedade para controlar a
si mesma:
Para o historiador inglês John BOSSY os pecados são expressões da ética “social
e comunitária” com a qual o cristianismo procurou conter a violência e sanar o
conflito da sociedade medieval. Utilizados para sancionar comportamentos
sociais agressivos, foram por longo tempo, do século XIII ao XVI, o principal
método de interrogação do penitente, contribuindo, de modo determinante com o
trabalho de pacificação que constituía o objeto primário do sacramento da
penitência na época medieval
11
(CASAGRANDE, 2004, p.1).
11
Secondo lo storico inglese John Bossy i sette vizi capitali sono espressioni dell’etica ‘‘sociale e
comunitaria’’ con la quale il cristianesimo cercò di contenere la violenza e sanare la conflittualità delle
società medievali. Utilizzati per sanzionare comportamenti sociali aggressivi, furono per lungo tempo,
68
Silvana Vecchio (2004) também ratifica essa idéia, acredita que o sistema dos vícios
capitais representa uma das mais sortudas invenções” da cultura medieval, capaz de adaptar-se
às profundas mutações que têm marcado as doutrinas morais no curso dos séculos.
2.2.3.2. Os sete pecados
Com certeza, sabemos que os pecados capitais são sete, mas encontramos diferentes ULs
para classificá-los. Na Bíblia (1980, p. 1392), os pecados capitais são: soberba, avareza, luxúria,
ira, intemperança, inveja, acídia; já o Catecismo Essencial (VÁRIOS, 1987, p. 23) apresenta-nos
outros, alguns coincidentes: soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça. De acordo
com a Suma Teológica de Tomás de Aquino (2001, p. 66), os sete seriam: vaidade, avareza,
inveja, ira, luxúria, gula e acídia. Para outros teóricos do pecado, a soberba é tomada pela
vaidade, a gula pela intemperança e a preguiça pela acídia. Encontramos também, em outras
obras, a concomitância de duas ou mais denominações para o mesmo pecado, como é o caso da
vaidade e da soberba; ou pecados que seriam normalmente derivados, considerados como
capitais.
Resolvemos adotar, para este trabalho, os pecados especificados de acordo com o
Catecismo Essencial (soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça) porque são
popularmente mais conhecidos, além, de podermos levar em consideração as suas variantes e os
pecados derivados, denominados ‘‘filhas’’. Contudo, para analisarmos cada um dos pecados
mais detalhadamente, utilizaremos algumas considerações feitas essencialmente por Tomás de
Aquino (2001), traduzidas pelo Lauand que são artigos extraídos das Questões disputadas sobre
dal XIII al XVI secolo, il principale schema di interrogazione del penitente contribuendo così in modo
determinante a quell’opera di pacificazione che, secondo lo storico inglese, costituiva lo scopo primario
del sacramento della penitenza in epoca medievale.
69
o mal e da Suma Teológica. Trata-se de discussões sobre um determinado tema que eram
avaliadas criticamente com base em textos que confrontavam objeções e contra-objeções para se
apresentar a solução do problema por um mestre. Tomás de Aquino, justamente em uma dessas
disputas, lança considerações acerca dos pecados, depois faz objeções e responde a elas. Em
meio a tais considerações, ele define pecado e cita provérbios relacionados a pecado, que aliás
farão parte do nosso corpus.
2.2.3.3. Os sete pecados na arte
Hieronimus Bosch (Bois-le-Duc, 1460?-1516), tido como o precursor do surrealismo, é
considerado herético por seus quadros maravilhosos e ao mesmo tempo demoníacos (Cf. figura,
p. 58). Neles, havia formas humanas ao lado de monstros, o que representa bem a crise dos
dogmas religiosos da Idade Média e a ascensão do Humanismo: a tentativa do homem de se
libertar da amedrontadora religião, sem no entanto, abandonar por completo as crenças do
passado. Os sete pecados capitais foram também um dos temas de suas obras. Ele representou
cada um dos sete pecados em sua tela como se cada ação do pecado tivesse sendo realizada e
depois congelada no momento da pintura que hoje se encontra no Museu do Prado, em Madri
Espanha.
No centro está Cristo observando os desvios da humanidade e emanando raios de luz; a
primeira representação logo abaixo é a Ira, com dois homens lutando e uma mulher tentando
separá-los; a segunda figura em sentido anti-horário é a soberba, uma mulher olhando-se no
espelho; na terceira, a luxúria, vê-se uma tenda com algumas pessoas de pé, outras bem à
vontade deitadas; a quarta figura é a acídia (ou preguiça) e apresenta uma freira entregando um
terço e uma bíblia para uma mulher que parece rejeitá-los; na quinta representação, a gula,
70
temos uma mesa com alimentos, um homem virando uma jarra na boca e outras pessoas obesas;
a sexta representação é a avareza, em que um juiz é subornado por outro homem; a última
representação, que está do lado da ira, é a inveja, vêem-se duas pessoas prendendo a atenção de
outras três dentro de um estabelecimento, enquanto outra saqueia seus bens. Na Divina Comédia
de Dante Alighieri, os sete pecados capitais estão representados no purgatório composto por sete
círculos.
Sintesi del Purgatorio – Dante Alighieri. Disponível em : <http://kidslink.scuole.bo.it/
ic6- bo/scuolainospedale/num6-2/divcom/divcom.htm>. Acesso em: 9 mar. 06.
71
No primeiro encontram-se os soberbos; no segundo, os invejosos; no terceiro, os
iracundos; no quarto, os preguiçosos; no quinto, os avaros e os pródigos; no sexto, os gulosos;
no sétimo, os luxuriosos (DANTE ALIGHIERI, 1981). Na base do purgatório um caminho
que vêm do inferno e no topo, o Paraíso, que é alcançado após o terminado o processo de
purificação dos sete círculos.
O tema dos sete pecados capitais é um tema instigante, portanto bastante explorado não
na Idade Média, mas também na atualidade, sendo encontrado tanto na literatura como no
cinema. Na literatura, as obras mais célebres são os best-sellers: Os pecados cardeais que,
apesar de ser escrito pelo padre norte-americano Andrew M. Greeley, é uma obra de ficção; Os
sete pecados capitais, que contém sete contos, cada qual escrito por uma celebridade da
literatura brasileira. Assim, Guimarães Rosa escreveu ‘‘Soberba Os chapéus transeuntes’’;
Otto Lara Resende, ‘‘Avareza A cilada’’; Carlos Heitor Cony, ‘‘Luxúria Grandeza e
decadência de um caçador de rolinhas’’; Mário Donato, ‘Ira - O canivete’’; Guilherme
Figueiredo, ‘‘Gula De Gula ad aennium silvarium’’; José Condé, ‘‘Inveja Crônica do que
aconteceu ao beato Torquato M. de Jesus, na cidade de Caruaru-Pernambuco, em 1927’’; e
Lygia Fagundes Telles, ‘‘Preguiça – Gaby’’. A coleção Plenos Pecados possui uma obra
nacional para cada pecado, com escritores renomados: O vôo da rainha (soberba), de Tomás
Eloy Martínez; Mal secreto (inveja), de Zuenir Ventura; Xadrez, truco e outras guerras (ira), de
José Roberto Torero; A casa dos budas ditosos (luxúria), de João Ubaldo Ribeiro; Canos e
marolas (preguiça), de João Gilberto Noll; Terapia (avareza), de Ariel Dorfman ; e Clube dos
Anjos (gula), de Luís Fernando Veríssimo.
No cinema, pecado e diversão podem andar juntos. O filme em que o assunto é
explorado de maneira mais explícita é Seven - os sete crimes capitais, interpretado pelos atores
Brad Pitt e Morgan Freeman. Hollywood também usa os sete pecados como fonte de sucessos.
72
O advogado do diabo é um relato sobre a soberba, pecado cometido pelo personagem de Keanu
Reeves, que se torna cada vez mais insensível quanto mais poder conquista, sem perceber as
conseqüências de suas escolhas. Quanto à ira, o filme Guerra nas Estrelas, interpretado por
John Milton (Al Pacino) que é Darth Vader. Esse vilão é levado à ira passando ao lado negro da
Força. Na adaptação para o cinema da peça As bruxas de Salém, a inveja transborda em Winona
Ryder: a vilã traída quer destruir literalmente seu ex-amante, por tê-la trocado por outra. A
avareza é tomada como ponto de partida para o clássico Um conto de natal, do escritor inglês
Charles Dickens, que foi adaptado para o cinema, por Richard Donner. Na comédia Os
fantasmas contra-atacam: o velho Scrooge é vivido por Bill Murray, que decide mudar sua vida
depois da visita de três fantasmas na véspera de Natal. A lascividade sem limites, para o pecado
da luxúria, pode ser apreciada em Ligações perigosas, em que Glenn Close e John Malkovich
atuam como predadores sexuais em plena França do culo XVIII. Ainda, com certo requinte
visual Peter, Greenaway cria uma alegoria sobre a gula em O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e
o amante.
A soberba assume, sem dúvida, a liderança dos sete pecados por ser considerada
unanimemente a mãe de todos os outros. Aquino a considera como um pecado supracapital
porque arrasta ‘‘exércitos’’ atrás de si; ocupa esse lugar porque é a raíz de todos eles (VÁRIOS,
1987). Contudo, adotaremos a enumeração por ordem alfabética para privilegiar a visão
lexicográfica: Tomemos a seguinte ordem na enumeração dos sete pecados capitais: avareza,
gula, inveja, ira, luxúria, preguiça e soberba.
2.2.3.4. A avareza
“Amar as coisas acima de todas as coisas” (Otto Lara Resende, 1964, p. 73).
73
Parece que Carlos Heitor Cony (apud CORTÊS, 2005, p.1) concorda com Otto Lara
Resende ao atestar que ‘‘nos dias atuais, o neoliberalismo é avaro quando prega o lucro acima
de tudo’’, mas acrescenta que talvez a sociedade condene muito mais a pobreza e o fracasso do
que simplesmente a avareza, que são alçados pelos pecados universais.
Etimologicamente, temos do latim avarus que significa ávido por cobre (dinheiro) ou do
grego filargíria (phylargyria) que quer dizer amor à prata. Entende-se, em sentido comum, como
apego excessivo ao dinheiro, aos bens materiais, às riquezas; avarícia; mesquinhez;
mesquinharia; sovinice; falta de magnanimidade, de generosidade.
A avareza consiste em uma economia rígida, uma compulsão pelo ‘‘ter’’ cada vez mais
gastando-se o mínimo possível ou nada, que resulta no acúmulo exagerado de bens. E os
principais sinônimos para o adjetivo avarento são: avaro, sovina, mesquinho, munheca,
muquirana, pão-duro, mão-fechada, mão-de-vaca, mão-de-finado, os-atadas, duro, miserável,
ridico, unha-de-fome, morto-de-fome, passa-fome, parco. “Que melhor qualidade podem ter os
escravos do que serem baratos?” No conto ‘‘Avareza’’ de Guilherme Figueiredo (1964, p. 181),
isso denota bem a avareza que leva à crueldade humana.
A avareza, contudo, não é só o gosto pelo dinheiro, mas também, apego aos bens
passageiros, isto é, tudo o que não podemos levar para a outra vida. De acordo com a Igreja,
portanto, avareza é o desejo desordenado dos bens da terra (“concupiscência dos olhos” 1 Jo
2,16). Ela é vista como um defeito, como o oposto da justiça, pois, além de reter os próprios
bens, o avaro pode reter injustamente os bens alheios.
Assim como a soberba é a rainha dos outros seis pecados, cada um dos sete pecados
capitais têm suas filhas, suas ramificações. Para a avareza há sete filhas (Aquino, 2001): traição,
fraude, mentira, perjúrio, inquietude, violência e a dureza de coração.
74
2.2.3.5. A gula
“Quanto à gula, vistes que, justamente por ela, nada mais tenho do que chamas pecado. A
gula é a mais bela das virtudes romanas. Mais que qualquer outra, fundou o Império”
(Guilherme Figueiredo, 1964, p. 181).
A gula, muitas vezes, não é vista como pecado; ao contrário, é muito estimulada. A
gastronomia desde sempre foi cultuada como uma divindade. Talvez sua mais flagrante
constatação seja a obesidade. O gordo é estigmatizado pelo padrão de beleza atualmente
imposto: alto, magro e sensual.
Ela é definida como a busca desordenada pelo prazer em comer e beber, desejo ardente,
atração irresistível, vício ou consumo exagerado por doces e iguarias finas; gulodice; gulosaria;
glutonaria; embriaguez; sofreguidão e intemperaa.
Para Aquino (2001, p. 104) “a coisa mais difícil de ordenar é o prazer segundo a razão e
principalmente os prazeres naturais que são ‘companheiros de nossa vida’ ”. A gula se refere à
paixão e se opõe à temperança, por isso, às vezes é chamada de intemperança que quer dizer
intempérie, descomedimento ou imoderação. Para Gregório (apud AQUINO, 2001), o vício da
gula nos tenta de cinco modos: antecipa a hora devida de comer, exige alimentos caros, reclama
extravagâncias no preparo da comida, leva a excessos e deseja os manjares com ímpeto
desmedido.
Guilherme Figueiredo (1964, p. 186) compara o prazer da fornicação (luxúria) com o
prazer da gula:
Nunca pude compreender como se pode trocar mesa por cama! A fornicação
é um prazer sujo e para chegar a ele é preciso que o objeto dos nossos desejos
conceda fazer o que desejamos. Oh, o tempo que se perde em seduzir, e o que se
sofre, e os desapontamentos, e as insônias, e as lágrimas, e as mil práticas do
leito, e o mesmo paladar mudado em suor e sono, e as traições... A mesa, não:
75
está à espera, e cada um de seus sabores pronto a entregar-se, sem resistência,
sem longas parolagens, sem juras, sem súplicas!”.
Podemos observar nesse trecho a explícita predileção do personagem à gula, mais fácil e
mais prazerosa em realizar-se do que a luxúria. E para o pecado da gula há cinco filhas (Aquino,
2001): imundície, embotamento da inteligência, alegria néscia, loquacidade desvairada e
expansividade debochada.
2.2.3.6. A inveja
Por que não eu no púlpito? Por quê? (...) Ah, se eu fosse padre, outros galos cantavam”
(José Conde, 1964, p. 195 e 201).
Segundo uma pesquisa feita em 1997 pela revista Ibope (apud TERRA, 2005) que ouviu
duas mil pessoas em todo o Brasil, dos sete pecados, a inveja que ataca igualmente o homem e a
mulher de qualquer classe social, é o mais conhecido pelo brasileiro, mas, o menos cometido.
Zuenir Ventura (TERRA, 2005, p. 2) explica o porquê : ‘‘Quem sente inveja, em geral, é o
outro, não eu, que ela é inconfessável, não gosta de dizer o nome’’. Ele afirma que a inveja
destrói o próprio pecador, é um auto-flagelo e faz um curioso alerta colocando a soberba e a
inveja lado-a-lado, ou seja, muitas vezes a soberba de um provoca a inveja no outro: “Não
sabemos até que ponto alguns invejados despertam, propositalmente, esse sentimento no outro.
Muitas vezes o exibicionista é um invejoso mascarado’’ (IBIDEM, p. 10).
Leigamente podemos entender a inveja como um sentimento de desgosto e raiva
provocado pela prosperidade de outro indivíduo e, também, desejo incomensurável de possuir
aquilo que somente outra pessoa possui em caráter exclusivo; ciúme; invídia; cobiça; zelotipia.
A propósito, zelotipia, na psicologia, quer dizer ciúmes ou inveja doentia, descomedida;
76
obstinação em defender uma causa até o limite da sanidade, idéia fixa. O homem é sempre
impulsionado a fazer coisas que o inclinem ao prazer, ou coisas que tendem à fruição de um
bem. Assim, a inveja é considerada capital por ver a felicidade alheia como um obstáculo à sua.
Para Tomás de Aquino, inveja é “não querer ver o bem do outro” p. 115. “A inveja é
comparada à traça, que rói ocultamente as vestes, pois dilacera o amor e, por isso, desfaz a
unidade’’ (apud AQUINO, 2001, p. 116).
Para o pecado da inveja, encontramos duas variantes populares: olho-gordo (desejo
ardente de possuir ou conseguir alguma coisa alheia; inveja, cobiça, olho grande) e mau-olhado
(olhar que pragueja ou causa azar ou malefícios aos outros). É interessante observar, também
que, para aquele que foi invejado, tem-se: quebranto ou quebrantamento (debilidade ou fraqueza
adquirida por rogo de pragas ou inveja de terceiros, influência exterior maléfica).
Para a inveja há cinco filhas (Aquino, 2001): murmuração, detração, ódio, exultação pela
adversidade e aflição pela prosperidade.
2.2.3.7. A ira
‘‘Se não fosse ela, não teria havido a Revolução Francesa’’ (José Roberto Torero apud
CORTÊS, 2005, p. 2).
Embora a Igreja advirta que um pecado grave não pode absolutamente ser provocado por
nenhum fato externo, na sociedade contemporânea, vincula-se ira ao estresse do dia-a-dia,
estado bastante comum das pessoas frente às calamidades públicas, injustiças, desordem no
trânsito, corrupção generalizada no país, desgaste das relações familiares etc. Irritados, os
indivíduos perdem a gentileza e a paciência com o outro. Não se perdoam pequenas ofensas,
tudo é motivo para brigas, e mesmo as brigas mais fúteis podem funcionar como um trampolim
77
para o homicídio. ainda brigas provocadas simplesmente pelo prazer em brigar, em destruir
algo ou alguém, prejudicar, ou para se mostrar vencedor em uma rixa, se sentir vitorioso.
Pelos leigos, a ira é entendida como sentimento de ódio, de rancor provocada por uma
determinada ofensa, injúria, insulto, cólera ou indignação; aversão; raiva; violência; desejo de
vingança.
Os adeptos da corrente filosófica do estoicismo acreditam que a ira é viciosa, mas, que a
vingança é, em alguns casos, virtuosa. Já os adeptos do peripatetismo ou filosofia de Aristóteles,
acreditam que algumas iras podem ser boas. Apesar de certas divergências, consenso que a
ira não é guiada pela razão. Conseqüentemente, entende-se que, quando se está irado, perde-se o
juízo.
Para a Igreja, a ira é o impulso desordenado contra alguém ou alguma coisa,
manifestado, quase sempre, por falta de controle do indivíduo sobre o próprio eu. Constitui-se
como pecado capital, porque leva a muitas ações fora da ordem moral, quando é utilizada como
vingança. Aquino (2001) todavia, fala de ira no sentido de paixão, sob um aspecto formal ou
material. Formalmente a ira pode ser benéfica se voltada contra o próprio pecado. Materialmente
ela invade o coração.
‘‘É necessário o máximo cuidado para que a ira, que deve ser instrumento da virtude, não
domine a mente, mas que, como serva pronta a obedecer, não deixe de seguir a razão, pois
quanto mais sujeita à razão, tanto mais veemente se ergue contra os vícios’’ (Gregório apud
AQUINO, 2001, p. 97).
De acordo com Aquino (2001), a ira pode se dar no coração, por meio de palavras, por
ações e dela nascem suas seis filhas: rixa, perturbação da mente (tumor mentis), insultos, clamor,
indignação e blasfêmia.
78
2.2.3.8. A luxúria
‘‘Viver é ser feito Ana. Dentro do quarto, o corpo dela traz o cheiro de ruas e olhares e
claridades e sons: o mundo” (Carlos Heitor Cony, 1964, p. 105).
A luxúria tem como poderosa arma de sedução o sistema capitalista. ‘‘A exploração do
corpo ao extremo, como o mercado de modelos, as academias de ginástica, as novelas e as
revistas de nudez, contribuiria para promover a luxúria’’, diz Ribeiro (2003, p. 4). Por meio do
marketing sedutor, lindas mulheres em minúsculos trajes tentam seduzir constantemente os
consumidores. O olhar desperta os sentidos, o visual atrai. Numa época em que tudo é colocado
à mostra, em que vale tudo para chamar a atenção, sedução é a palavra chave. Cores, formas,
tamanhos, volumes, tudo se transforma em uma arma poderosa para o comércio em geral.
A luxúria pode ser entendida também como um comportamento desregrado com relação
aos prazeres sexuais: lascívia; sexo pecaminoso; concupiscência; excesso de ardor, demasia em
fogosidade, devassidade, sensualidade exagerada; fornicação; onanismo; adultério; incesto;
estupro; prostituição; masturbação; pederastia; sodomia.
Em termos religiosos, luxúria é o desejo e gozo desordenados dos prazeres sexuais
(“concupiscência da carne” 1
o
Livro de Jó 2,16). Ieronimus ab Mosis, da ordem de São Bento na
Toscana e mais tarde superior de Monte Casino, deixou no século XII, construtivos exemplos de
vida cristã. De maneira sábia ele define a luxúria em oposição à fornicação:
A Luxúria é o pecado da carne e do espírito da carne. O Demônio da Luxúria é
bem diverso do Demônio da Fornicação, embora muitas vezes ambos se fundem
num só. O Demônio da Fornicação ataca a Criatura de Deus numa fase específica
da vida e colima um fim específico. o Demônio da Luxúria é mais intenso e
extenso. Acompanha o Homem desde a primeira infância, castiga-o na
puberdade, na juventude, na mocidade, na maturidade e na velhice. Não o larga
sequer na senilidade. A Fornicação não degrada a infância nem a senectude. A
79
Luxúria corrompe a criatura humana do berço ao túmulo. Extensa no tempo, a
Luxúria é intensa no modo. Não é, como foi dito acima, apenas o pecado da
carne; a Fornicação também o é; mas a Luxúria é principalmente o pecado do
espírito da carne. O homem para pecar através da Fornicação necessita, na pior
das hipóteses, de um parceiro. Para pecar pela Luxúria, o homem se basta, não
precisa de nada. Ubi est caro, ibi est pecatus. (CONY, 1964, p. 83).
Na Suma Teológica, Aquino (2001, p. 106-107) vê a luxúria sob quatro enfoques:
o luxurioso é aquele que se dissolve nos prazeres e os prazeres que mais dissolvem são
os sexuais;
o ato sexual pode ser isento de pecado se destinado a conservação e multiplicação da
espécie humana;
o sexo é pecado quando se dá fora da razão e transgride a ordem sendo vicioso;
a luxúria é vício capital por ter o prazer sexual como o fim.
Para a luxúria oito filhas (Aquino, 2001): cegueira da mente, irreflexão, inconstância,
precipitação, amor de si, ódio de Deus, apego ao mundo, desespero em relação ao mundo futuro.
2.2.3.9. A preguiça
‘‘No dia em que os homens descobrissem que melhor do que viver era não viver. Melhor do
quer pintar era deixar a tela em branco, ah, perfeição...’’ (Lygia Fagundes Telles, 1964, p. 248).
Um dos pecados atuais mais comuns é a preguiça, ela nunca foi tão estimulada como no
século XXI. O homem moderno já não precisa mais realizar tanto trabalho braçal como outrora e
pode dar mais tempo ao lazer. A preguiça é proporcionada pela comodidade dos aparelhos
eletroeletrônicos e pelo conforto da tecnologia, o que vale dizer que é financiada pelo dinheiro:
só quem tem manda buscar, manda fazer.
80
Apesar de ser a preguiça regida pela lei do mínimo esforço, João Gilberto Noll (apud
CORTÊS, 2005, p. 1), ao contrário de muitos, acredita que seja uma virtude em vez de um
defeito: ‘‘Meus personagens são muito contemplativos, em oposição aos que têm como projeto
de vida o lucro todo o tempo’’, filosofa.
Ela pode ser vista como uma indisposição ou aversão ao trabalho, uma má-vontade em
realizar o que deve ser feito ou um aborrecimento adquirido por um trabalho desprazeroso.
Mário de Andrade em ‘‘Macunaíma - o herói sem nenhum caráter’’, ilustra bem a preguiça por
intermédio do herói brasileiro que repetidas vezes pronuncia ‘‘Ai ! Que preguiça !’’
Os dicionários trazem um grande número de sinônimos: estado de prostração e moleza
que leva a pessoa à inatividade, tibieza, desânimo; esmorecimento; indolência; aversão ao
trabalho; ócio, ociosidade; inação; mandriice; vadiagem; inércia; abatimento; desânimo; falta de
capricho, de esmero; negligência; desleixo; falta de pressa, de empenho; morosidade; lentidão
etc. Segundo a Igreja, porém, preguiça é a falta de gosto pelos valores espirituais, desânimo na
luta contra os defeitos morais, torpor na vida espiritual: “Deus deu-lhes um espírito de torpor;
olhos para que não vejam e ouvidos para que não ouçam, até o dia de hoje”, (Epístola aos
Romanos 11, 8).
Na verdade, o termo ‘‘acídia’’, que significa o tédio ou a tristeza em relação aos bens
interiores e do espírito, engloba mais características e sentidos que o termo ‘preguiça’’, mas
com o passar do tempo, aquele foi preterido. Talvez por essa razão, Aquino intitule também a
acídia de pecado mal conhecido. E a tibieza, um tipo particular de preguiça, não é o mesmo que
acídia, é o tédio pelas coisas espirituais, pela oração e por tudo o que se aproxima de Deus.
Distingue, no caso da preguiça, o mal verdadeiro do mal aparente (que em si mesmo é bom):
segundo ele então, o ódio, o fastidio e a tristeza em relação ao mal aparente são reprováveis e
constituem pecado. Entretanto, em relação ao mal verdadeiro, são louváveis (AQUINO, 2001,
81
p.93). Assim como a busca incessante pelo prazer, a acídia constitui-se um mal capital pela
ausência do prazer, pois para fugir à tristeza, muitas vezes o homem só encontra prazer na
matéria.
Como bem explica Josef Pieper, (apud FUJIKURA, 1995, p. 70), ‘não há,
provavelmente, nenhum conceito ético que se tenha tão notoriamente aburguesado, na
consciência do cristão médio, como o conceito de acedia (parte da culpa é, certamente, sua
tradução por preguiça)’’. O mesmo autor em outra obra volta à questão: precisamente o sentido
nos provérbios de Raimundo Lúlio, um árabe convertido ao catolicismo que pregava o
Evangelho principalmente aos incrédulos, sobretudo árabes:
Acídia, uma tristeza modorrenta do coração que não se julga capaz de realizar
aquilo para que Deus criou o homem. Essa modorra mostra sempre a sua face
fúnubre, onde quer que o homem tente sacudir a ontológica e essencial nobreza
do seu ser como pessoa (e as suas obrigações) e, sobretudo, a nobreza da sua
filiação divina: isto é, quando repudia o seu verdadeiro ser (apud OP. CIT.).
Às vezes também emprega-se a palavra tristeza no lugar de acídia. Aquino (2001) diz
que a acídia é o tédio ou tristeza em relação aos bens interiores e aos bens do espírito e
acrescenta que é evidente que a acídia tem por si caráter de pecado. Para a preguiça, seis
filhas (Aquino, 2001): o desespero, a pusilanimidade, o torpor, o rancor, a malícia e a divagação
da mente.
2.2.3.10. A soberba
‘‘Devorava-lhe ainda o pouco espírito o incurável orgulhoma ? O galo, ele próprio, de nada
sabe de seus mistérios de sua arte; por isso, canta, e vai para ser digerido’’ (Guimarães Rosa,
1964, p. 17).
82
Na antigüidade (VENCER, 2003), os gregos consideravam a soberba como o único e
verdadeiro pecado que era punido pela deusa da justiça, Nêmesis. Hoje, o pecado da soberba é
impulsionado, mais do que nunca, pelo poder capitalista: é provocado abertamente por meio de
anúncios apelativos de propagandas e marketing, oferecendo produtos altamente tentadores,
sustentando a empáfia das grandes companhias multinacionais que querem vender cada vez
mais, apoiando sob falsas muletas o ávido consumidor. Ouro, prata, jóias, diamantes, mansões,
palácios luxuosos, poder, milhões na Suíça, tudo fica retido nessa dimensão da soberba.
Em sentido religioso, a soberba significa a estima desordenada de si mesmo, o desejo
ardente da própria excelência e a necessidade desenfreada da estima dos outros, ou ,como diz
Santo Agostinho (apud AQUINO, 2001, p.80 ): ‘‘a soberba é um distorcido desejo de
grandeza’’. Tomás Eloy Martínez (1998) faz uma colocação a respeito: teologicamente, faz-se
distinção entre a soberba e o orgulho: este é compatível com a humanidade e justifica-se pela
condição do homem de filho de Deus; a soberba é a manifestação ridícula, arrogante, afetada,
de um orgulho ilegítimo.
A UL “soberba” é originária do latim (superbia), significando superar. Ela pode ser
comumente tida como sinônimo de vários tipos de condutas: sentimento de superioridade em
relação a outrem, vaidade, vanglória, bazófia, altivez, austeridade, orgulho, ambição, arrogância,
presunção, insolência, jactância.
Amós, profeta escritor, condena explicitamente a soberba que diz ser além da injustiça, a
crueldade para com o próximo e a opressão dos pobres: ‘‘O Senhor Deus jurou por sua vida, o
Senhor Deus dos exércitos diz: Eu detesto a soberba de Jacó, aborreço as suas casas e entregarei
a cidade com os seus habitantes’’ (Amós 6, 8).
83
De acordo com Martínez (1998), o escritor Alceu Amoroso Lima, em uma rie de
artigos sobre os sete pecados capitais, publicados em 1982 pelo Jornal do Brasil, aponta que na
soberba ocorre a autodivinização do homem. Ela é origem de todos os pecados por negar a
existência deles, já que ao afirmar a superioridade do homem sobre todas as coisas, contesta a
existência de falhas humanas.
A soberba ocupa, então, o primeiro lugar entre os vícios capitais. Sendo considerada
assim, é a raiz dos outros seis, “orgulho da vida” (1
a
Epístola de São João 2,16). Uma das razões
que a torna a maior dos pecados, constitui-se na recusa da superioridade divina.
Outra razão é a busca natural do homem pela semelhança divina, toda vez que ele deseja
o bem, ele tende a assemelhar-se a Deus. Mas Ele é Perfeito, Onipotente e Onipresente,
características distintas das características humanas. Além disso, o primeiro mandamento da Lei
de Deus (Gênesis 1-2) preconiza ‘‘Amar a Deus sobre todas as coisas’’, isso é, considerá-lo
acima de si mesmo, porque Deus é puro Espírito, Eterno, Criador das coisas visíveis (este
mundo) e das coisas invisíveis (os anjos e a alma espiritual e imortal em cada homem). Desse
modo, assim como a caridade comanda todas as outras virtudes, a soberba comanda todos os
outros pecados por buscar a excelência. Quem busca poder, riqueza, conhecimento, grandeza, de
uma certa maneira busca o que considera a perfeição, até justificando o provérbio que diz:
‘‘Tudo que é imperfeito tende à perfeição’’.
Os estudos tomasianos ressaltam características da vanglória, uma das variantes da
soberba: a vanglória é um forte pecado, uma vez que relaciona louvor ao bem. É uma glória vã,
falsa, que carece de consistência. Ocorre quando alguém se gloria em falso, quando se
engrandece de um bem adquirido facilmente e, em terceiro lugar, quando ela não se dirige ao
devido fim (querer que seu bem seja conhecido). Outra variante da soberba é a vaidade.
84
O sentimento de soberba está intrinsicamente ligado ao sentimento de exclusividade, de
monopólio, visto que o soberbo quer ser único em uma determinada situação. Contudo, quando
isso não ocorre consigo, mas com os outros, a soberba pode implicar sentimento de inveja.
A classificação dos pecados se dá pela articulação entre causalidade e conseqüência, por
motivações e finalidades. Segundo Aquino (2001), são sete as filhas da soberba: a
desobediência, a jactância, a hipocrisia, a contenda, a pertinácia, a discórdia e a presunção de
novidades, porque elas manifestam a excelência do homem. Mas também a presunção, a
ambição e a vanglória são encontradas como filhas da soberba na Bíblia.
2.2.4. Condenação e perdão dos pecados
A religião ensina que a não obediência aos mandamentos da Igreja e de Deus nos leva ao
afastamento de Deus, à supressão de Sua graça a aproximação do mal e, conseqüentemente, ao
purgatório ou ao inferno.
Aquino (2001) afirma que os pecados, por serem capitais, são punidos com penas
capitais, tendo em conta que podem gerar outros por diferentes maneiras: primeiramente, pela
supressão da graça, pois é a graça que mantém o homem afastado do pecado; assim qualquer
pecado que suprime a graça pode causar qualquer outro pecado. Em segundo lugar, um pecado
causa outro por inclinação, hábito ou disposição para pecar. Também pode derivar outro ao lhe
fornecer para isso matéria, como a gula propicia a matéria para a luxúria e a avareza para a
discórdia. Por fim, um vício causa outro quando para obter determinado fim, é necessário
cometer outro. “O vício (e o vício capital compromete muitos aspectos da conduta) é uma
restrição à autêntica liberdade e um condicionamento para agir mal” (AQUINO, 2001, p. 67).
85
Na concepção da Igreja, ao contrário do que se pensa, não há meios gerais e infalíveis de
se combater o pecado, mas há um tratamento adequado para cada falta. Como principal forma de
penitência, ela preconiza a direção espiritual e os sacramentos que levam às virtudes dos cristãos
e também recomenda, como antídotos a esses vícios principais às seguintes virtudes: disciplina
para combater a preguiça, generosidade para combater a avareza, castidade para combater a
luxúria, paciência para combater a ira, temperança para combater a gula, caridade para combater
a inveja e humildade para combater a soberba. Dentre todas essas, a caridade e a humildade são
as atitudes mais aconselhadas pelos sacerdotes, espelhados nos exemplos dos santos cujas
atitudes humildes são diversas, ao lado do sacramento da confissão, que deve ser antecedido
pelo arrependimento do pecado, por meio do pedido de perdão ao sacerdote, nomeado
representante oficial de Deus. Então, para o cristão abster-se do pecado após a confissão, é de
praxe a realização de algumas orações como o ato de contrição ou alguma penitência (esta
absolutamente habitual na Idade Média), conforme a gravidade do pecado.
Alguns teóricos divergem ao opinarem sobre o perdão dos pecados. Ênio Silveira (1964)
ironiza o julgamento pelos pecados ditos irremissíveis e imperdoáveis, aqueles que
comprometem a existência eterna da alma. Entretanto, Vecchio (2004, p. 7), acredita que o
sofrimento físico é a única via de redenção para a humanidade corrompida e que a confissão é
de fato ‘‘importante tanto para o penitente quanto para o confessor conseguir etiquetar
exatamente os pecados, até mesmo os mais “espirituais”, isto é, aqueles mais escondidos na
consciência de quem os cometeu’’
12
. Suarez-Nani concorda com Vecchio, o homem “pode
igualmente evitar pecar mortalmente fazendo um uso reto da razão, isto é, orientando a própria
12
... importante, tanto per il penitente, quanto per il confessore, riuscire a etichettare esattamente i
peccati, anche quelli più “spirituali”, cioè quelli più nascosti alla coscienza di chi li ha commessi.
86
mente e o próprio agir rumo à finalidade última”
13
(2004, p. 4). A Bíblia condena ferrenhamente
a prática dos pecados:
Não ameis o mundo nem o que há nele. Se alguém ama o mundo, não está nele o
amor do Pai. Porque o que no mundo a concupiscência da carne,
concupiscência dos olhos e a soberba da vida não vem do Pai, mas do mundo.
Ora, o mundo passa com suas concupiscências; mas o que faz a vontade de Deus
permanece eternamente. (1Evangelho de S. João 2,15 – 17).
Greeley (1987), acredita que os pecados capitais sejam tendências humanas sólidas e
sadias mas que enveredam por caminhos tortuosos. São eles o amor-próprio, a auto-preservação,
a comunhão, a liberdade pessoal, a expressão própria, a celebração, o relaxamento.
Leonardo Boff e Frei Betto (2003, p. 2), vêem cada pecado como portador de uma
tendência egoísta que traz frustração e infelicidade; além disso situa os sete pecados num
interessante contexto da atualidade, dizendo que em vez de serem vistos como vícios, são vistos
como virtudes nesta sociedade neoliberal corroída pelo afã consumista.
O cristianismo e a psicologia têm, por sua vez, vários pontos de convergência quanto aos
sete pecados, eles se relacionam com as doenças mentais, em sua maneira de enxergar o
comportamento humano. Podem ser chamados de vícios, pois geram um certo nível de prazer e
não deixam de viciar; não atingem a felicidade da realização humana. De qualquer forma, vê-se
um quadro de patologia, não física, mas uma compulsão provocada por um desequilíbrio que
deve ser tratado. Por exemplo, uma pessoa que come exageradamente ou que vive em função do
sexo, não é somente pecadora; na sociedade atual, ela é vista como uma pessoa que tem um
distúrbio emocional. Os vícios ou pecados são prazeres menores que atrapalham os verdadeiros
prazeres, vistos serem momentâneos e cometidos, freqüentemente.
13
può altresì evitare di peccare mortalmente facendo un uso retto della ragione, cioè orientando la
propria mente ed il proprio agire verso il fine ultimo.
87
No entanto, várias opiniões de escritores, críticos e literatos a favor da prática do
pecado. Ênio Silveira (1964), autor do prefácio do livro Os sete pecados capitais, vai um pouco
além; faz uma crítica aguçada à condenação dos pecados capitais, intitulando o prefácio como
“Elogio ao pecado”. Defende abertamente que o pecado não deve ser evitado mas sim cometido.
Para ele, o pecado original, por exemplo, foi um passo revolucionário da história do homem e
acredita que o desejo de Adão e Eva pela maçã representa um desejo compreensível e até
mesmo louvável de fugir à monotonia de infindáveis dias, tentando trair seus instintos para
serem hipocritamente bonzinhos. Silveira pensa que o pecado original não se firmou pelo fato
de terem comido o fruto proibido, mas por lhes terem sido atribuídos poderes de livre arbítrio.
Diz ainda ser praticamente impossível viver em um mundo cheio de tantas barbáries e sem se
deixar levar por comportamentos ditos pecaminosos: segundo ele, estes expressam salutares
sentimentos de revolta e representam necessários mecanismos de defesa, ataque ou alienação em
relação às angústias.
Para esse autor, o homem só poderá ser considerado “verdadeiramente pecador no dia em
que, tendo criado uma sociedade sem classes, sem exploradores nem explorados, cometa um
crime contra ela ou contra si próprio’’ (SILVEIRA 1964, p. X). Ele também acredita que
acabamos cometendo pecados na tentativa de encontrar soluções que nos permita viver bem em
sociedade e afirma que é por meio do pecado que nos distinguimos dos outros animais.
O escritor Marc Lewis (apud BUONFIGLIO, 2005) autor inglês do livro Sin to Win
(Pecar para vencer), revela que o segredo do sucesso, especialmente financeiro, é mesmo o de
cometer pecados, uma vez que eles estão paralelamente vinculados a pessoas bem-sucedidas.
Acrescenta ainda que o pecado mais importante é o orgulho, em razão da auto-estima e do amor-
próprio. Afinal, o ser humano é dependente do outro, não pode viver isolado e, se por um lado
88
não pode transgredir o espaço alheio, por outro, deve impor regras para que o seu espaço
também não seja invadido.
Não opinamos aqui sobre a necessidade de pecar, mas acreditamos ser indiscutível a
necessidade de que se consiga viver e sobreviver em grupo. Assim se faz uma sociedade, um
conjunto de convenções sociais estabelecidas em que “o direito de um acaba onde começa o
direito do outro”. Lévi-Strauss (1974) julga o casamento, por exemplo, como pacto social, uma
relação de substituição. Antropologicamente, entrega-se a filha e ganha-se um genro, ou seja, a
sociedade é resultado das regras de parentesco. “As inúmeras regras que proíbem ou excluem
certos tipos de cônjuges, resumidas pela proibição do incesto, tornam-se claras a partir do
momento em que se coloca a necessidade de a sociedade existir’’
14
(IBIDEM, p.607-608).
Não se pode esquecer, entretanto, que os sete pecados capitais são essencialmente
humanos. Para tanto, é de suma importância fazer algumas considerações acerca da natureza do
homem, sua relação com a natureza e a sociedade. Ao mesmo tempo em que o homem precisa
de leis para obedecer, ele nunca conseguirá viver sem infringir nenhuma delas. Por isso, sob o
manto de uma instituição, nomeou-se um representante do poder divino na Terra para
estabelecer a si mesmo regras que controlassem seus impulsos, que prevessem e limitassem
comportamentos não de si, mas sobretudo dos outros. Essas regras assumem, dessa maneira,
um poder de julgamento, que na teoria deveria ser inerente somente a Deus. De acordo com essa
análise, a natureza humana é falha e contraditória, sendo o pecado por muitas vezes intencional
e o julgamento dos pecadores feito por seus semelhantes, também humanos, portanto também
pecadores.
14
Les multiples règles interdisant ou proscrivant certains types de conjoints, et la prohibition de l’inceste
qui les resume toutes, deviennent claires à partir du moment où l’on pose qu’il faut que la société soit.
89
CAPÍTULO III
INVENTÁRIO E ATESTAÇÃO DE PROVÉRBIOS SOBRE
OS SETE PECADOS CAPITAIS
Os únicos objetos observáveis são as ocorrências. A boa
interpretação das ocorrências é, pois, um pré-requisito
obrigatório da descrição.
MARTIN, R. Para entender lingüística. Trad. Marcos
Bagno. São Paulo: Parábola, 2003; p.22.
Neste capítulo compete-nos explicitar a metodologia utilizada para inventariar os
provérbios coletados referentes à avareza, gula, inveja, ira, luxúria, preguiça e soberba, e
apresentar quais são os provérbios dessa natureza que se encontram atestados, seja em textos da
web, seja em base textual.
3.1. Coleta de dados
Para o levantamento dos provérbios servimo-nos dos principais dicionários gerais de
língua portuguesa e de vários endereços on-line dos quais pudemos extrair alguns provérbios,
mas a massa de dados foi extraída fundamentalmente de cinco obras lexicográficas especiais e
uma obra teológica em que constam vários fraseologismos : Dicionário de provérbios francês-
português-inglês (LACERDA et al., 1999), Dicionário de provérbios, idiomatismos e palavrões:
francês-português / português-francês (XATARA & OLIVEIRA, 2002); Dicionário de
provérbios, locuções, curiosidades verbais, frases feitas, etimologias pitorescas, citações
(MAGALHÃES NIOR, s.d.), 1001 provérbios em contraste (STEINBERG, 1985),
90
Provérbios e máximas em 7 idiomas (SOUZA, 2001) e Sobre o ensino (De magistro) e os sete
pecados capitais (AQUINO, 2001).
A recolha dos provérbios foi manual e a seleção consistiu em se observar todos os
provérbios, um a um, e coletar tanto os que traziam palavras-chave cujo campo léxico se
referisse aos pecados capitais (por exemplo: orgulho, orgulhoso, vaidade, vaidoso, avaro,
avarento, avareza etc), como os que, mesmo sem nenhuma palavra-chave aparentemente
pertinente, revelassem qualquer alusão semântica ao tema (por exemplo: “Quem com ferro fere,
com ferro será ferido”, que remete à ira).
A coleta tomou em consideração, portanto, tanto os provérbios cujo tema estimula o
pecado, quanto aquele que o condena, para se verificar, de fato, o julgamento da sociedade por
meio dos contextos obtidos, tentando obter um maior grau de imparcialidade.
O total de provérbios coletados chegou a 686, dentre os sete pecados. A partir desse
levantamento, passamos a verificar na web e em base textual informatizada, quais deles ocorrem
em contextos.
Entretando, antes da análise dos contextos proverbiais, faz-se necessário aqui uma
definição lexicográfica de cada um dos sete pecados capitais e de itens lexicais correlatos que
irão definir os provérbios que se remetem aos sete pecados para formar o corpus.
3.2. Os campos semânticos dos pecados capitais
Dada a subjetividade das definições dos sete pecados pelos religiosos, estabelecemos
campos semânticos, fundamentados pelos dois dicionários de língua portuguesa mais
91
conhecidos, o Aurélio(1999) e o Houaiss(2001), que nortearam a escolha dos provérbios
de fato referentes a esses pecados.
3.2.1. Abrangência e intersecções conceituais
Para o pecado da avareza, os dicionários apresentam em comum as seguintes
características: “excessivo apego ao dinheiro; mesquinhez; falta de generosidade”. Além desses
traços, o Aurélio apresenta “esganação; ciúme, zelo (fig.)”, enquanto o Houaiss traz “apego às
riquezas; falta de magnanimidade; sovinice; cobiça”.
Para a gula, as definições dos dois dicionários coincidem: “vício ou excesso em comer e
beber; apego a boas iguarias; gulodice”. O Aurélio traz “gulosice” como sinônimo e o Houaiss
acrescenta: “gulosaria; desejo ardente; sofreguidão”.
Em relação ao pecado da inveja, os dois dicionários são unânimes em descrever a inveja
como um sentimento de desgosto diante à felicidade alheia e desejo incontrolável de possuir o
que é possuído por outrem. O Houaiss ainda define um sentimento misturado ao ódio e
caracteriza o invejoso como aquele que provoca ódio.
À ira são atribuídos os seguintes sinônimos por ambos os dicionários: cólera, raiva,
indignação e desejo de vingança. Mas o Houaiss acrescenta outras: “intenso sentimento de ódio,
de rancor gerado a uma ou mais pessoas em razão de alguma ofensa, insulto generalizado em
função de alguma situação injuriante; fúria”.
Quanto à luxúria, os dicionários diferem em suas caracterizações, concordando apenas
em atribuir-lhe o aspecto da lascívia. Para o Houaiss é considerada um “comportamento
desregrado com relação aos prazeres do sexo, concupiscência; apetite sexual; superabundância,
excesso, luxo; excesso de ardor, demasiada fogosidade; indecência, lubricidade”. Para o Aurélio,
92
como “incontinência, sensualidade; dissolução, corrução e libertinagem” e, ainda, define o
luxurioso como “libidinoso; licencioso, devasso; dissoluto”.
À preguiça, ambos dicionários trazem como sinonímia: “moleza; lentidão; aversão ao
trabalho; indolência; negligência; morosidade” O Aurélio acrescenta “pachorra” e o Houaiss
“desleixo; vadiagem; desânimo; esmorecimento; ócio; falta de capricho, de esmero, de
empenho”. Para o adjetivo preguiçoso, ambos trazem os sinônimos “madrião e vagaroso”. O
Aurélio acrescenta “calmo, sereno” e o Houaiss, “vadio e malandro”.
A soberba é definida no Aurélio como "elevação ou altura de uma coisa em relação a
outra; orgulho excessivo; altivez, arrogância, presunção, sobrançaria, sobranceria”, o que
coincide com a definição dada pelo Houaiss: “altura de algo que é superior a outro; elevação,
estado sobranceiro; sentimento de altivez, sobranceria; orgulho; arrogância, presunção;
sobrançaria”, mas este acrescenta três definições “imodéstia; insolência; tirania”. Também se
verifica que o adjetivo correlato soberbo, no Houaiss, sugere ainda “ambicioso, cobiçoso”
como traço distintivo.
Antes contudo de traçarmos os campos semânticos dos sete pecados capitais, falaremos
ainda das relações de significação que revelam entre si: a hiperonímia, a hiponímia e a
parassinonímia, pois estão todos ligados diretamente ao pecado considerado mais grave, a
soberba, da qual se originaram os demais, segundo as teorias cristãs, e apresentam áreas de
intersecção, isto é, têm algumas propriedades em comum.
Entende-se por hiperonímia e hiponímia a relação entre contenedor e contido; conjunto e
subconjunto. Segundo Dubois (1973, p. 323-324),
um hiperônimo é um termo cuja significação inclui o sentido (ou os sentidos)
de um ou de diversos outros termos chamados hipônimos. O sentido da parte
93
de um todo é hipônimo do sentido do todo que é seu hiperônimo. Assim,
animal é o hiperônimo de cão, gato, burro, etc. O termo hiponímia designa
uma relação de inclusão aplicada não à referência, mas ao significado das
unidades lexicais em questão. Está ligado à lógica das classes: assim, cão
mantém com animal certa relação de sentido; há inclusão do sentido de cão no
sentido de animal; diz-se que cão é um hipônimo de animal.
A sinonímia é considerada como equivalência de palavras e frases, ou seja, ocorre
quando duas palavras ou frases podem ser substituídas uma pela outra sem mudança de
significação, em um mesmo contexto. Para Picoche (1992, p. 99) duas ou mais palavras são
sinônimas quando pertencem à mesma classe, ou seja, quando compartilham o mesmo semema
(quer dizer, o mesmo gênero próximo e as mesmas diferenças específicas), em uma relação
lógica. Todavia, é a situação de uso que vai determinar a escolha de uma UL em detrimento de
outra, apesar de ser tradicionalmente considerada sinônimo. Assim, cientes da inexistência de
sinônimos perfeitos, optamos por nos referir apenas a relações de parassinonímia entre os itens
relativos aos pecados, os chamados “sinônimos em continuumcomo define Zavaglia (2002, p.
178) “termos sinônimos são entendidos como aqueles que possuem “similaridade significativa”,
i. e., seus significados estão em relação de continuidade e por isso mesmo nos parece oportuno
defini-los como “sinônimos em continuum” ou parassinônimos’’.
Observamos, em tal caso, que um mesmo provérbio pode ter relação com mais de um
pecado. Um provérbio sobre dinheiro, por exemplo, poderá pertencer ao campo da soberba e ao
mesmo tempo ao da avareza, pois o avaro é ganancioso em almejar sempre mais dinheiro,
guardando-o para si. Exemplo: “Quem muito quer, nada tem”. Encontram-se, portanto,
características da avareza que estão contidas na soberba, porém esta engloba outros traços que a
avareza não tem.
94
Da mesma forma, o invejoso tem como objetivo ser ou possuir algo que realmente não é
ou não tem, o que também é uma característica do soberbo, mas apenas o invejoso deseja
destruir algo ou outrem para possuir algo com exclusidade, o que implica ira.
A gula, a luxúria e a preguiça também podem possuir pontos de intersecção com a
soberba. A gula, por estabelecer uma relação de avidez (o guloso é um consumidor sempre
ávido, querendo sempre mais e nunca se sente satisfeito). O luxurioso por só encontrar a
felicidade por meio dos prazeres da carne.
A preguiça, por sua vez, não consiste em uma busca incessante por algo, mas exatamente
o contrário, é a ausência absoluta de qualquer busca, pois o preguiçoso está sempre no ócio, não
tem vontade, força para fazer o que deve ser feito e raramente quando o faz, faz com falta de
esmero. Aliás, lembramos também que os pecados são chamados vícios, primeiramente em
razão de levar ao mal e, em segundo lugar, por levar à dependência e conseqüentemente à
repetição.
Ressalte-se, então, que determinados provérbios irão recobrir mais a área semântica de
um pecado do que de outro. Dessa maneira, parece-nos oportuno esquematizar como esses
pecados podem se comportar, de acordo com as relações de sentido que podem estabelecer.
Cabe esclarecer, todavia, que esse gráfico, por ser fruto de nossa compreensão sobre a
abrangência dos sete pecados capitais, contém interpretações subjetivas e que por isso é
possível, conseqüentemente, que dêem margem a outras formas de compreensão e de
interpretações passíveis de gerar novos esquemas:
95
De acordo com esse gráfico, portanto, ira é hipônimo de inveja que, por sua vez, assim
como a avareza, é hipônimo de soberba. Os outros pecados aparecem na área de cruzamento.
Evidencia-se, com base nessa análise, uma das maiores dificuldades da classificação dos
provérbios. Muitos deles aparecerão nas áreas verde, vermelha ou laranja que são as áreas de
intersecção entre mais de um campo semântico. “Quem não trabalha, não come”, por exemplo,
pode pertencer aos campos da gula e da preguiça, concomitantemente.
3.2.2. As redes semânticas
Cada pecado pode ser representado por provérbios que se dirigem a subtemas diversos,
como o estabelecido abaixo, segundo as definições estudadas. Foi, portanto, sobre esta rede
semântica que a seleção dos provérbios se baseou:
96
AVAREZA = apego excessivo ao dinheiro
cobiça*
desejo*
dinheiro*
fortuna
materialidade
mesquinhez
riqueza
sovinice
GULA = vício de comer e beber
apetite
cobiça*
comida
desejo*
fartura
fome
obesidade
INVEJA = preocupação em possuir o que outros possuem
ciúme desejo*
cobiça* raiva*
IRA = extrema intolerância
ataque
cólera
discórdia
disputa
fúria
guerra
inimizade
intolerância
nervoso
ódio
raiva*
rancor
tirania
vingança
violência
97
LUXÚRIA = comportamento desregrado com relação aos prazeres carnais
cobiça*
desejo*
devassidão
imoralidade
indecência
lascívia
libidinosidade
licenciosidade
prazer
sensualidade
sexo
tentação
PREGUIÇA = aversão ao trabalho
apatia
comodidade
desânimo
desleixo
indolência
lentidão
marasmo
morosidade
negligência
ócio
vadiagem
vagarosidade
SOBERBA = orgulho excessivo
altivez
arrogância
dinheiro*
exibicionismo
gabação
glória
imodéstia
insolência
luxo
orgulho
ostentação
presunção
vaidade
vitória
Como se vê, o asterisco (*) indica que há subtemas que focam mais de um pecado capital,
mas essa especificação de subtemas auxilia a seleção dos provérbios e sua distribuição pelos sete
pecados. Dificilmente se fala de “dinheiro” sem tratar de soberba. Esses termos, estão
intrinsicamente ligados, todavia, muitos provérbios que tratam da questão do “dinheiro” referem-
se sobretudo à avareza.
Mas o “desejo” incontrolável não basta para classificar semanticamente um provérbio,
pois para isso deve-se observar qual é o objeto desse desejo: se for posses, falará de avareza, se
for comida, falará de gula, mas se for sexo, o foco será a luxúria. O mesmo ocorre com a
“cobiça” e o “ciúmes” também por vezes pode se subordinar à inveja se for doentio, mas se for
saudável, não passará de uma espécie de zelo.
Verificamos que alguns provérbios por si mesmos preconizam o mal, a vingança: “Olho
por olho, dente por dente”, “A melhor defesa é o ataque”. Outros repudiam esses vícios
completamente, pregando a tolerância, o trabalho, a honestidade etc: “Primeiro o dever, depois o
prazer”. Outros, porém, ainda, não estão ligados tão fortemente ao pecado; induzem ao ganho
fácil, ao divertimento sem preocupações que aos olhos da Igreja são pecados, mas que no entanto
hoje, podem se configurar dizeres de pessoas que, numa sociedade capitalista, competitiva e
individualista, não fazem outra coisa senão buscarem seu lugar ao sol”. O provérbio “De graça,
até injeção na testa” ilustra bem esse caso. Não é pecado se aproveitar de algo que é gratuito; no
entanto, de acordo com os preceitos cristãos, o provérbio poderia induzir à avareza.
Além do dizer enunciativo, devemos levar em conta o contexto, antes de afirmarmos ser
um provérbio referente a um dos pecados, pois o contexto revela importante interferência
pragmática.
99
de se considerar, ainda, os valores sociais, morais e religiosos vigentes para
definitivamente poder se caracterizar tal provérbio como temática relacionada a um pecado
capital. Note-se, por exemplo, como vem se alterando o que é estabelecido como luxúria, no
decorrer dos tempos.
3.2.3. Atestação dos provérbios
Borba (1990, p. 1364) adverte que “quando se tenta analisar a língua em sua totalidade, o
que primeiro chama a atenção é a diferença entre o sistema, como um conjunto de possibilidades,
e seu uso efetivo em situações de discurso”. Por isso acredita que um levantamento lexical nunca
se esgotará, uma vez que é o jogo de efeitos de sentido jamais definitivo - que determina as
escolhas das ULs. Daí a importância dos corpora.
Cientes disso e como as obras lexicográficas, gerais ou especiais, quase não exploram
pragmaticamente as unidades fraseológicas que constam em sua nomenclatura, nossos propósitos
ao buscar constatar quais dos provérbios selecionados encontravam-se atestados em bases
textuais ou corpora, foram, por um lado, confirmar quais deles podem ser considerados
minimamente freqüentes e, por outro, verificar seu emprego contextual para melhor compreender
o que significam e o tipo de contextos em que ocorrem.
Para isso, utilizamos a web e a base textual do Laboratório de Lexicografia (LL) da
Faculdade de Ciências e Letras (UNESP Araraquara). Mas, primeiramente, acreditamos ser
pertinente traçar algumas definições a respeito de corpus.
100
3.2.3.1. A pesquisa em corpora
Para Berber Sardinha (2004, p. 16), corpus é uma parte da biblioteca eletrônica,
construído a partir de um desenho explícito, com objetivos específicos; e subcorpus é uma parte
de um corpus que pode ser fixa ou mutável (dinânima, isto é, flexível durante a análise)”. Mas o
autor adverte que nem todo conjunto de dados é considerado um corpus, diferenciando-o de
arquivo (depósito de textos sem organização prévia) e de biblioteca eletrônica (coleção que segue
alguns critérios de seleção). Para Sanchez et al. (1995, p.8) corpus é:
um conjunto de dados lingüísticos (pertencentes ao uso oral ou escrito da língua,
ou a ambos), sistematizados segundos critérios, suficientemente extensos em
amplitude e profundidade, de maneira que sejam representativos da totalidade do
uso lingüístico ou de algum de seus âmbitos, dispostos de tal modo que possam
ser processados por computador, com a finalidade de propiciar resultados vários e
úteis para a descrição e análise.
A escolha do corpus a ser utilizado em uma pesquisa científica é muito significativa para
a apresentação dos resultados. Para a validação de uma pesquisa e verificação de hipóteses em
uma amostragem da língua suficiente, o corpus escolhido deve ser vasto para ser representativo; e
apropriado aos objetivos da pesquisa, já que todo corpus é “uma amostra de uma população de
tamanho desconhecido a linguagem em uso” (BERBER SARDINHA, 2004, p, 16).
Um corpus, além de representativo deve ser autêntico, quando este é composto por textos
escritos por falantes nativos; deve ter como finalidade um objeto de estudo lingüístico, porém,
não deve ser produzido com tal finalidade, como produção de textos artificiais para alvos de
101
pesquisa. Naturalidade e autenticidade são condições de escolha de um corpus. Outro cuidado
referente é a sua composição: o corpus coletado deve corresponder aos objetivos da pesquisa. Por
exemplo, para uma pesquisa de usos do português falado do interior de São Paulo, o corpus
selecionado deve representar somente a área escolhida.
E para o gerenciamento dos dados textuais, os programas mais conhecidos são: Wordsmith
Tools, Folio Views e Hyperbase; estes, porém, não são eficazes na identificação de unidades
léxicas complexas, como os provérbios, interesse maior desta pesquisa. Nesse caso, deve-se
acionar um percurso de extração semi-automática ou assistida para selecionar o provérbio e
depois aplicar um programa computacional de recolha (BARROS, 2004).
3.2.3.2. O corpus do Laboratório de Lexicografia – UNESP/Araraquara
O corpus base de Araraquara, muito utilizado e reputado para a elaboração de dicionários,
conta até o ano de 2004 com quase 200 milhões de ocorrências de palavras em textos escritos em
português do Brasil ou cerca de 90 milhões de itens lexicais a partir de 1950, segundo Borba
(2004). Reúne produções de diversos pontos do Brasil, abrangendo literatura romanesca;
literatura dramática; literatura jornalística e correspondência; literatura técnica; e oratória.
Em oratória, encontram-se discursos de posse, acadêmicos, discursos políticos
(pronunciamento de presidentes) e religiosos (cartas pastorais, homilias) estritamente veiculados
com o prestígio da língua escrita, praticamente nulos de erros gramaticais. A literatura romanesca
está próxima do padrão literário tradicional; inclui romances e contos vazados em tom mais ou
menos próximo da norma pedagógica. A literatura dramática trata de uma prosa mais coloquial,
embora haja um certo comedimento próprio do padrão escrito. Da literatura jornalística foram
102
recolhidos textos de revistas e jornais (os editoriais, as crônicas, a correspondência e o noticiário
nacional) de principal destaque no País e nas capitais, além de cartas e crônicas publicadas
separadamente. Por fim, a literatura técnica está ligada à produção acadêmica (manuais de
divulgação, ensaios, dissertações, teses), salvo redações esteriotipadas como encontram-se em
esquemas e fórmulas de química e matemática.
Para a extração dos provérbios, utilizamos o programa Folio Views que permite a busca
de palavras isoladas ou expressões. No entanto, muitas vezes, o programa traz as palavras que
formam o provérbio, mas, distantes umas das outras no texto. Então foi necessário buscá-los
digitando apenas uma parte dele, no intuito de aumentar as chances de obter mais resultados.
Assim, em relação ao provérbio “quem semeia vento colhe tempestade’’, por exemplo, a busca
apenas por “quem semeia vento’’ possibilitou-nos encontrar contextos em que havia oração
intercalada no meio do provérbio: Quem semeia ventos - sentenciou a dona da casa - colhe
tempestades’’.
3.2.3.3. A web como corpus
Quanto à World Wide Web ou simplesmente Web, com mais de 4 bilhões de palavras em
português do Brasil (segundo GREFFENSTETTE, 2004), ela se constitui numa gigantesca
biblioteca digital que integra tecnologias de comunicação, criando uma verdadeira teia da
propagação do conhecimento, compreendendo todo e qualquer tipo de texto: desde textos de
páginas oficiais, de bancos, comerciais, religiosos até textos de páginas pessoais como blogs,
bate-papos, fóruns de amigos e até mesmo textos de páginas pornográficas.
Representando o banco com o maior número de palavras existentes, apesar de ainda não
ser um conjunto de textos controlados (isto é, um acervo organizado e armazenado segundo
103
regras previamente definidas por uma única instituição) e não apresentar conteúdos totalmente
confiáveis (autores anônimos ou desconhecidos; textos subjetivos, temporários; imprecisões ou
erros ortográficos), sua utilização como base textual vem se acentuando cada vez mais e
adquirindo prestígio entre os pesquisadores:
A Internet, mais especificamente a World Wide Web, tornou-se um vasto depósito
de textos dos mais variados tipos. Já há, inclusive, propostas de encarar a www
como um corpus em si, variado e multilngüe, que pode ser acessado pelo usuário
sem necessidade de ter os arquivos gravados em sua máquina. (BERBER
SARDINHA, 2004, p. 45).
Para Moraes (2001), tanto o tradutor como o terminólogo ou outro lingüista podem se valer da
Web como importante fonte na pesquisa de corpora, pois se pode chegar a conclusões mais
“concretas” da língua, como por exemplo quanto à delicada questão das colocações e a rios
outros aspectos contrastivos entre as línguas.
Com o surgimento da internet, a disponibilização de textos em formato eletrônico
vem ganhando espaço: com isso, passa a ser viável a análise de textos “in natura”,
ou seja, podemos compilar e analisar textos, aspectos lingüísticos, etc na língua
em uso, criando corpora específicos ou gerais, dependendo do escopo de cada
levantamento (MORAES, 2001, p. 58).
Além disso, a web oferece simplicidade na busca de dados de qualquer parte do mundo,
facilidade de acesso diário e constitui um dos raros corpora de linguagem cotidiana e espontânea,
o que é muito relevante na busca por ocorrências de fraseologismos (BERBER SARDINHA,
2004) e pela freqüência medida por milhões de palavras (COLSON, 2003, p. 47). Evidentemente,
104
considerando-se que há uma discrepância entre as línguas que constam na web, a freqüência terá
como parâmetro o número total de palavras do seu idioma materno.
A utilização de corpora auxilia a se determinar o índice freqüencial de uma UL e também
revela-se extremamente pertinente para averigüar o seu uso em uma descrição em termos
pragmáticos. A ocorrência é de fato o primeiro passo para análise dos resultados, o segundo é a
averiguação do contexto na qual os equívocos são desfeitos. É nessa etapa de contextualização
que se pode desambigüizar as hipóteses de significações inicialmente levantadas sobre as ULs,
confirmando-as ou recusando-as. Segundo Matos (2005, p.1) uma das lições da Lingüística é a
de que, a rigor, uma língua é língua quando usada em contexto(s), por usuários diversos,
nativos e não-nativos”.
Para a pesquisa na web como corpus, geralmente utilizam-se motores de busca, mas o
Google sobressai-se por sua incomparável capacidade de pesquisar 56% de toda a rede. De
acordo com dados do próprio Google (<http://www.google.com.br, 2 fev. 05), ele efetua a busca
em 8.058.044.651 páginas sem levar em conta os milhares de catálogos de lojas, relatórios
oficiais, bancos de dados só acessados quando se preenche um formulário e páginas invisíveis.
Por conseguinte, nesta busca pela atestação dos provérbios, recorremos ao Google, com a
busca restrita a resultados em Português do Brasil.
3.2.3.4. Inventário de provérbios
Nos dois corpora buscamos atestar cada um dos 686 provérbios (lembremos que também
ditados e preceitos bíblicos estão sendo considerados para esse levantamento, assim como
propusemos à p. 31), verificando:
105
número de resultados (e descartamos as páginas de sites de fraseologismos, que apenas os
enumeram);
tema a ele relacionado proporcionado pelo contexto, ou pela Tipologia textual
predominante da página ou pela própria descrição do endereço eletrônico;
a porcentagem de contextos que confirmam ou negam a mensagem veiculada pelo
provérbio, com um exemplo escolhido para ilustração, seguido da fonte e da data em que
foi extraído;
a porcentagem de contextos que empregam o provérbio denotativamente e um contexto
para ilustrar (quando houver);
No caso da web, examinamos todos os contextos quando o mero de ocorrência foi inferior
a 50 e quando o número de ocorrência foi superior a 50, procedemos a uma análise por
amostragem e examinamos:
- todos os contextos a cada 20 páginas, de 50 a 100 ocorrências;
- todos os contextos a cada 30 páginas, de 100 a 200 ocorrências;
- todos os contextos a cada 80 páginas, de 200 a 300 ocorrências;
- todos os contextos a cada 100 páginas, de 300 a 500 ocorrências;
- todos os contextos a cada 300 páginas, acima de 500 ocorrências.
no caso do corpus de Araraquara, pudemos ter acesso à todas as ocorrências, pois se
apresentam em um número muito reduzido em relação à web.
106
Depois de concluída a verificação dos contextos na web, procedemos a uma pequena
análise para cada pico do provérbio, diagnosticando um resultado geral com a porcentagem de
cada tema relacionado.
Observamos, então, que dos 686 provérbios, 471 constam na web, mas apenas 77
apresentam contextos em português brasileiro e dentre esses 77, somente 21 foram encontrados
na base textual de Araraquara, como indica o gráfico abaixo:
0
100
200
300
400
500
600
700
800
Total
Número de provérbios em dicionários
Número de provérbios com ocorrências na web
Número de provérbios com contextos na web
Número de provérbios com contextos no corpus do LL
A seguir apresentamos outro gráfico que individualiza as ocorrências encontradas para
cada pecado:
107
E estabelecendo um parâmetro entre os provérbios de cada pecado, concluímos que os
provérbios relacionados com a avareza são os mais freqüentes, se somarmos as atestações da web
e do corpus consultado:
Os sete pecados capitais
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
A
va
rez
a
Gula
Inveja
Ira
S
o
ber
ba
Número de provérbios
em dicionários
Número de
provérbios com
ocorrências na web
Número de provérbios
com contextos na web
Número de
provérbios com
contextos no corpus
do LL
OS SETE PECADOS CAPITAIS
Pecados
Número de
provérbios em
dicionários
Número de
provérbios com
ocorrências na
web
Número de
provérbios com
contextos na
web
Número de
provérbios com
contextos no
corpus do LL
Avareza 158 105 18 5
Gula 85 65 4 0
Inveja 81 47 8 0
Ira 83 56 13 6
Luxúria 38 28 7 3
Preguiça 134 107 19 7
Soberba 107 63 8 0
Total 686 471 77 21
108
Segue, agora, o inventário dos 77 provérbios (incluindo suas variantes) cuja ocorrência
apresentou-se em contextos, organizados em ordem alfabética:
AVAREZA
1) Achado não é roubado.
2) A economia é a base da porcaria.
3) A economia é a base da riqueza.
4) A fortuna é cega:
5) De graça, até injeção na testa:
(Variante: De graça, até injeção na testa e ônibus errado).
6) Dinheiro atrai dinheiro.
7) Dinheiro não traz felicidade.
8) É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no
reino dos céus.
9) O amor pelo dinheiro é a raiz de todo o mal.
10) O dinheiro abre as portas.
11) Pai avarento, filho pródigo.
12) Pai rico, filho nobre, neto pobre.
13) Quanto mais se tem, mais se quer.
(Variante: Quanto mais temos, mais queremos).
14) Quem tudo quer, nada tem.
(Variante: Quem muito quer, nada tem).
15) Quem muito abarca, pouco aperta.
109
16) Quem tudo quer, tudo perde.
17) Quem não tem dinheiro, não tem nada.
18) Vintém poupado, vintém ganhado.
GULA
1) Comer pra viver e não viver pra comer.
(Variante: Come-se para viver, e não se vive para comer).
2) Gordura é formosura.
3) O olho é maior do que a barriga.
4) O que não mata engorda.
INVEJA
1) A galinha do vizinho é mais gorda que a minha.
2) Cajueiro doce é que leva pedrada.
3) É melhor ser invejado, que lamentado.
4) Não se atira pedra em árvore que não dá fruto.
(Variante: Só se atira pedra em árvore que dá fruto).
5) O homem é o lobo do homem.
6) O que a ferrugem faz ao ferro, a inveja faz ao homem.
7) Oleiro inveja oleiro e não carpinteiro.
8) Quem desdenha quer comprar.
110
IRA
1) A ira é má conselheira.
(Variante: A raiva é má conselheira).
2 A melhor defesa é o ataque.
3) A verdade gera o ódio.
4) Amor e ódio andam juntos.
5) O castigo vem a cavalo.
(Variante: O castigo anda a cavalo).
6) O feitiço vira contra o feiticeiro.
7) Olho por olho, dente por dente.
8) Quem com ferro fere, com ferro será ferido.
9) Quem semeia vento, colhe tempestade.
(Variante: Quem planta vento, colhe tempestade).
10) Todos aqueles que usarem da espada, pela espada morrerão.
11) Uma resposta branda aplaca o furor, uma palavra dura excita a cólera.
12) Vingança é um prato que se come frio.
13) Violência gera violência.
LUXÚRIA
1) A carne é fraca.
(Variante: O espírito está pronto, mas a carne é fraca).
2) Homem é homem.
111
3) Ninguém é de ferro.
4) O fruto proibido é o mais apetecido.
5) O que a mulher quer, o diabo quer.
6) Primeiro o dever, depois o prazer.
7) Proibido é mais gostoso.
PREGUIÇA
1) A desculpa do aleijado é a muleta.
2) A mente ociosa é o jardim do diabo.
3) A preguiça é a chave da pobreza.
4) A preguiça é a mãe de todos os vícios.
(Variante: A ociosidade é a mãe de todos os vícios).
5) Cabeça vazia, oficina do Diabo.
6) Cria fama e deita-te na cama.
7) Cobra que não anda, não engole sapo.
8) Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer.
9) Deus ajuda quem cedo madruga.
10) Ganharás o teu pão com o suor do teu rosto.
11) Não há sábado sem sol, domingo sem missa e segunda sem preguiça.
12) Nada cai do céu.
13) Não há prazer sem dor.
14) Não há rosa sem espinho.
15) O mais difícil é começar.
112
16) O olho do dono é que engorda a criação.
17) Quem não arrisca não petisca.
18) Quem não trabalha não come.
19) Quem não trabuca não manduca.
SOBERBA
1) Dois bicudos não se beijam.
2) Narciso acha feio o que não é espelho.
3) O orgulho precede a queda.
4) O que vem de baixo não me atinge.
5) Quem cospe pra cima, cai na cara.
(Variante: Quem cospe para o ar, cai-lhe na cara).
6) Quem pode, pode, quem não pode se sacode.
7) Todo aquele que se exalta será humilhado.
8) Tudo o que sobe desce.
Concluída a etapa da análise dos resultados de cada provérbio em corpora, analisamos em
uma tabela, quais deles refletiam uma incitação ao pecado ou, ao contrário, sua condenação,
como nos mostra os provérbios relacionados à avareza.
113
18 provérbios atestados na web
incitação
à
avareza
condenação
da avareza
maioria de
contextos de
acordo
com a
verdade do
prov.
maioria de
contextos em
desacordo
com a
verdade
do prov.
ocorrên-
cias no
corpus
do LL
Achado não é roubado X X
X
A economia é a base da porcaria X X
A economia é a base da riqueza X X
A fortuna é cega X X
De graça, até injeção na testa X X
X
(Var: De graça, até injeção na testa e
ônibus errado).
X X
X
Dinheiro atrai dinheiro X X
Dinheiro não traz felicidade X X
X
É mais fácil um camelo passar pelo buraco
de uma agulha do que um rico entrar no
reino dos céus.
X X
X
O amor pelo dinheiro é a raiz de todo o mal X X
O dinheiro abre as portas X X
Pai avarento, filho pródigo
X X
Pai rico, filho nobre, neto pobre
X X
Quanto mais se tem, mais se quer
X X
(Var: Quanto mais temos, mais queremos).
X X
Quem tudo, quer nada tem
X X
(Var: Quem muito, quer nada tem).
X X
Quem muito abarca, pouco aperta
X X
Quem tudo, quer tudo perde
X X X
Quem não tem dinheiro, não tem nada
X X
Vintém poupado, vintém ganhado
X X X
114
No próximo capítulo, abordaremos o quadro geral dos resultados obtidos pela pesquisa
concernente aos 77 provérbios e teceremos considerações a respeito.
115
CAPÍTULO IV
RESULTADOS OBTIDOS E ANÁLISE
Nesse capítulo iremos: 1) verificar a freqüência dos provérbios relativos a cada um dos
setes pecados capitais, na web e no corpus de Araraquara; 2) descrever as ocorrências dos
principais assuntos relacionados aos provérbios atestados; e 3) averiguar estatisticamente se os
contextos em que cada provérbio foi encontrado está ou não de acordo com a “verdade”
apregoada por eles ou se os contextos censuram ou estimulam o pecado por meio dos provérbios
4.1. Resultados da atestação dos provérbios referentes a cada pecado
4.1.1. Avareza
158 provérbios encontrados nas 6 obras consultadas.
18 provérbios encontrados e contextualizados na web dentre 12.878 ocorrências.
5 provérbios encontrados e contextualizados no corpus do LL dentre 8 ocorrências
1) Achado não é roubado: 519 ocorrências na web.
2) A economia é a base da porcaria: 14 ocorrências na web.
3) A economia é a base da riqueza: 1 ocorrência na web.
4) A fortuna é cega: 1 ocorrência na web.
5) De graça, até injeção na testa: 470 ocorrências na web e 1 ocorrência (incompleta) no corpus
do LL.
(Variante: De graça, até injeção na testa e ônibus errado: 1 ocorrência).
116
6) Dinheiro atrai dinheiro: 146 ocorrências.
7) Dinheiro não traz felicidade: 3.390 ocorrências na web e 3 no corpus do LL.
8) É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos
céus: 15 ocorrências na web e 2 ocorrências (incompletas) no corpus do LL.
9) O amor pelo dinheiro é a raiz de todo o mal: 1 ocorrência.
10) O dinheiro abre as portas: 1 ocorrência
11) Pai avarento, filho pródigo: 1 ocorrência
12) Pai rico, filho nobre, neto pobre: 154 ocorrências.
13) Quanto mais se tem, mais se quer: 143 ocorrências.
(Variante: Quanto mais temos, mais queremos: 63 ocorrências).
14) Quem tudo quer, nada tem: 142 ocorrências.
(Variante: Quem muito quer, nada tem: 52 ocorrências).
15) Quem muito abarca, pouco aperta: 11 ocorrências.
16) Quem tudo quer, tudo perde: 7.760 ocorrências na web e 1 no corpus do LL.
17) Quem não tem dinheiro, não tem nada: 3 ocorrências
18) Vintém poupado, vintém ganhado: 1 ocorrência na web e 1 no corpus do LL.
Encontramos por volta de 57,14% de contextos sobre: religião que criticam a ambição a
todo custo; injustiças sociais; política, voltado à críticas ao governo; textos de páginas pessoais
contrários à avareza e; amesmo sobre negócios, com a preocupação em administrar bem os
negócios da família.
Mas encontramos em torno de 42,86% de contextos que estão relacionados, na sua maior
parte, a textos de páginas pessoais, que funcionam como diários eletrônicos, em que geralmente
adolescentes descrevem acontecimentos do dia-a-dia concordando, em parte, que não se pode
117
obter tudo com o dinheiro, mas, idealizando no que poderiam fazer se o tivessem, como é o caso
do provérbio “dinheiro não traz felicidade” que possui inúmeras réplicas: mas manda buscar, etc.
O campo dos negócios também utiliza esses fraseologismos. Os textos de informática,
especificadamente, dizem respeito à programas disponíveis na internet que podem ser baixados
sem qualquer custo e; os de economia, à forma de se reduzir gastos, trabalhar e realizar sonhos.
também contextos que tratam do estímulo a negócios e vendas, gerando lucros para empresa,
otimismo e felicidade individual. Outros ainda preconizam a obtenção do dinheiro como
recompensa à alguma injustiça sofrida, desigualdade de direitos e desemprego. 0,10% dos
contextos revelam provérbios em sentido literal que constam, em textos sobre humor e inscrição
de moedas.
4.1.2. Gula
85 provérbios encontrados 6 obras consultadas
4 provérbios encontrados e contextualizados na web dentre 745 ocorrências.
0 provérbios encontrados e contextualizados no corpus do LL
1) Comer pra viver e não viver pra comer: 2 ocorrências
(Variante: Come-se para viver, e não se vive para comer: 1 ocorrência)
2) Gordura é formosura: 14 ocorrências
3) O olho é maior do que a barriga: 1 ocorrência
4) O que não mata engorda: 727 ocorrências
118
Os contextos que trazem provérbios sobre a gula geralmente dizem respeito a
emagrecimento e utilizam esses fraseologismos. Cerca de 60% dos resultados apresentam
contextos relacionados à saúde, enfatizando os problemas causados pelos maus-hábitos
alimentares e excesso de gordura. Mas encontramos em torno de 40% de contextos que
preconizam o bem-estar pessoal independentemente do aspecto sico do indivíduo. também
contextos que tratam da dificuldade em conter o impulso da gula. Os contextos que revelam os
provérbios em sentido literal constam, na sua maior parte, em textos sobre piadas (4,40%).
4.1.3. Inveja
81 provérbios encontrados nas 6 obras consultadas.
8 provérbios encontrados e contextualizados na web dentre 1.512 ocorrências.
0 provérbios encontrados e contextualizados no corpus do LL.
1) A galinha do vizinho é mais gorda que a minha: 1 ocorrência.
2) Cajueiro doce é que leva pedrada: 1 ocorrência.
3) É melhor ser invejado, que lamentado: 1 ocorrência.
4) Não se atira pedra em árvore que não dá fruto: 5 ocorrências.
(Variante: Só se atira pedra em árvore que dá fruto: 1 ocorrência.
5) O homem é o lobo do homem: 889 ocorrências.
6) O que a ferrugem faz ao ferro, a inveja faz ao homem: 1 ocorrência.
7) Oleiro inveja oleiro e não carpinteiro: 3 ocorrências
8) Quem desdenha quer comprar: 610 ocorrências.
119
Cerca de 55,55% dos resultados apresentam contextos em que alguém se diz “vítima” de
inveja sofrida por outro e utiliza um provérbio para se defender disso e/ou condenar a inveja. Os
assuntos correlatos são sobretudo de: política, religião e coluna social. Os outros 44,45% dos
contextos dizem respeito à inerência da inveja ao ser humano e debatem a dificuldade em contê-
la; outros revelam propriamente a vontade em serem invejados. Os contextos que revelam os
provérbios em sentido literal constam, na sua maior parte, em títulos de programas televisivos e
compras (1,43%).
4.1.4. Ira
83 provérbios encontrados nas 6 obras consultadas.
13 provérbios encontrados e contextualizados na web dentre 10.530 ocorrências.
6 provérbios encontrados e contextualizados no corpus do LL dentre 12 ocorrências.
1) A ira é má conselheira: 2 ocorrências.
(Variante: A raiva é má conselheira: 1 ocorrência).
2) A melhor defesa é o ataque: 1.680 ocorrências na web e 1 no corpus do LL.
3) A verdade gera o ódio: 2 ocorrências.
4) Amor e ódio andam juntos: 17 resultados.
5) O castigo vem a cavalo:130 ocorrências na web e 2 no corpus do LL.
(Variante: O castigo anda a cavalo: 8 ocorrências na web e 1 no corpus do LL).
6) O feitiço vira contra o feiticeiro: 315 ocorrências.
7) Olho por olho, dente por dente: 4.130 ocorrências na web e 5 no corpus do LL.
120
8) Quem com ferro fere, com ferro será ferido: 1.060 ocorrências na web e 1 ocorrência
(incompleta) no corpus do LL.
9) Quem semeia vento, colhe tempestade: 241 ocorrências na web e 1 no corpus do LL.
(Variante: Quem planta vento, colhe tempestade: 172 ocorrências).
10) Todos aqueles que usarem da espada, pela espada morrerão: 8 ocorrências
11) Uma resposta branda aplaca o furor, uma palavra dura excita a cólera: 4 ocorrências.
12) Vingança é um prato que se come frio: 1.520 ocorrências na web e 1 no corpus do LL.
13) Violência gera violência: 1.240 ocorrências.
Aproximadamente 56,25% dos contextos condenam a violência e outros advertem para o
fato de que o mal retorna para aquele que o pratica, sobretudo, em contextos sobre política, seja
adversidades entre partidos, Países, ou dentro de um mesmo governo. Os outros contextos estão
inseridos em assuntos de religião, principalmente aqueles referentes aos preceitos bíblicos; e
outros contextos ainda trazem assuntos como justiça, comportamento humano, harmonia no
relacionamento, combate à violência social em geral, contra filhos, animais e armas de fogo. No
entanto, 43,75% dos contextos induzem à vingança, em se levar tudo à ferro e a fogo, remetendo-
se também à política, principalmente. Encontramos outros contextos inseridos em assuntos de
guerras e de esportes, desejando a revanche sobre o time adversário, e; aqueles que acreditam
ser comum as brigas de relacionamento. Os contextos literais representam esportes (falando em
estratégias de jogo), higiene bucal, tempestades e atropelamento, somando 3,10%.
4.1.5. Luxúria
38 provérbios encontrados nas 6 obras consultadas.
121
7 provérbios encontrados e contextualizados na web dentre 15.288 ocorrências.
3 provérbios encontrados e contextualizados no corpus do LL dentre 15 ocorrências.
1) A carne é fraca: 830 ocorrências na web e 2 no corpus do LL.
(Variante: O espírito está pronto, mas a carne é fraca: 385 ocorrências na web e 1 no corpus do
LL.).
2) Homem é homem: 1.070 ocorrências na web e 6 no corpus do LL.
3) Ninguém é de ferro: 12.600 ocorrências na web e 6 no corpus do LL.
4) O fruto proibido é o mais apetecido: 8 ocorrências.
5) O que a mulher quer, o diabo quer: 1 ocorrência.
6) Primeiro o dever, depois o prazer: 8 ocorrências.
7) Proibido é mais gostoso: 386 ocorrências.
Contrariamente aos outros pecados, em torno de 79,84% dos contextos induzem à luxúria,
talvez porque 6 dos 7 provérbios coletados já são favoráveis à ela e não propriamente em razão
do que dizem seus próprios contextos. A maioria desses contextos está inserida em textos
informais de páginas pessoais, textos sobre relacionamentos e sexualidade, utilizando os
provérbios referentes como uma tentativa em se desculpar ou justificar “deslizes”.
Especificadamente, para o provérbio Ninguém é de ferro” encontramos ocorrências referentes à
4 pecados: 36% delas ligadas à preguiça, 34% à gula, somente 18% à luxúria e também 12% à
avareza.
Porém 20,16% se referem, sobretudo, à religião, aconselhando que se resista às tentações da
carne. Os outros contextos se referem à carreiras, privilegiando o trabalho em relação ao prazer; à
122
relacionamentos e sexualidade, combatendo o adultério e o machismo. Os contextos empregados
denotativamente trazem assuntos sobre humor e luta contra o abate de animais.
4.1.6. Preguiça
134 provérbios encontrados nas 6 obras consultadas.
19 provérbios encontrados e contextualizados na web dentre 4.957 ocorrências.
7 provérbios encontrados e contextualizados no corpus do LL dentre 11 ocorrências.
1) A desculpa do aleijado é a muleta: 4 ocorrências na web.
2) A mente ociosa é o jardim do diabo: 7 ocorrências na web e 1 no corpus do LL.
3) A preguiça é a chave da pobreza: 5 ocorrências na web.
4) A preguiça é a mãe de todos os vícios: 81 ocorrências na web e 1 no corpus do LL.
(Variante: A ociosidade é a mãe de todos os vícios: 61 ocorrências na web).
5) Cabeça vazia, oficina do Diabo: 178 ocorrências na web.
6) Cria fama e deita-te na cama: 48 ocorrências na web e 1 no corpus do LL.
7) Cobra que não anda não engole sapo: 113 ocorrências na web e 1 no corpus do LL.
8) Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer: 2 ocorrências na web.
9) Deus ajuda quem cedo madruga: 1.210 ocorrências na web e 4 no corpus do LL.
10) Ganharás o teu pão com o suor do teu rosto: 3 ocorrências na web.
11) Não há sábado sem sol, domingo sem missa e segunda sem preguiça: 1 ocorrência na web.
12) Nada cai do céu: 1.390 ocorrências na web.
13) Não há prazer sem dor: 1 ocorrência na web.
14) Não há rosa sem espinho: 3 ocorrências na web.
123
15) O mais difícil é começar: 25 ocorrências na web.
16) O olho do dono é que engorda a criação: 1 ocorrência na web.
17) Quem não arrisca não petisca: 1.600 ocorrências na web.
18) Quem não trabalha não come: 220 ocorrências na web e 2 no corpus do LL.
19) Quem não trabuca não manduca: 4 ocorrências na web e 1 no corpus do LL.
Os contextos que utilizam provérbios sobre a preguiça geralmente tratam-se de trabalho.
Cerca de 66,66% dos resultados apresentam contextos relacionados à: política, fazendo críticas
ao governo; à religião, condenando o ócio; à exaltação do trabalho, incluindo carreiras e
empregos; ao esforço, para obter aquilo que se deseja ou conquistar sonhos; à preguiça
propriamente dita, criticando-a, e; a textos informais de páginas pessoais. contextos que
também se referem à vendas, defendendo a idéia da persistência. Mas encontramos 33,34% de
contextos que utilizam esses fraseologismos para justificar falhas pessoais, adiar deveres, quando
não se tem ocupações ou tempo livre. Outros ainda, revoltados com injustiças sociais pregam
que mais vale quem deus ajuda do que quem cedo madrugacontrariando o provérbio deus
ajuda quem cedo madruga argumentando que não vale acordar cedo para o trabalho.
Totalizando 4,68%, os contextos denotativos constam em textos cujos assuntos são: alguma U.L.
do próprio provérbio, fazendo reflexões metalingüísticas; preocupações com a saúde; fenômenos
naturais (de página pessoal); poesia, e; informática.
4.1.7. Soberba
107 provérbios encontrados nas 6 obras consultadas.
8 provérbios encontrados e contextualizados na web dentre 16.362 ocorrências.
124
0 provérbios encontrados e contextualizados no corpus do LL
1) Dois bicudos não se beijam: 157 ocorrências na web.
2) Narciso acha feio o que não é espelho: 28 ocorrências na web.
3) O orgulho precede a queda: 8 ocorrências na web.
4) O que vem de baixo não me atinge: 337 ocorrências na web.
5) Quem cospe pra cima, cai na cara: 3 ocorrências na web.
(Variante: Quem cospe para o ar, cai-lhe na cara: 1 ocorrência na web).
6) Quem pode, pode, quem não pode se sacode: 272 ocorrências na web.
7) Todo aquele que se exalta será humilhado: 6 ocorrências na web.
8) Tudo o que sobe desce: 7 ocorrências na web.
Cerca de 56,15% dos resultados dissertam sobre humildade, em textos sobre religião;
aceitação das diferenças sociais; conselhos de horóscopos para casais; valorização dos
companheiros de trabalho; críticas ao preconceito em geral e a corrupção, e; acordos políticos.
Mas encontramos em torno de 33,34% de contextos que exaltam a beleza física em contraposição
à personalidade; a superioridade em relação ao outro, geralmente inserida em contextos de brigas
e insultos. Denotativamente (8,72%), os contextos referem-se à química; psicologia; letras de
músicas; textos de páginas pessoais; humor; histórias de advogados; turismo; ficção científica e
conversas de fóruns de amigos.
Antes de passarmos para a análise dos resultados, faz-se necessário estabelecer uma
análise comparativa da quantidade de ocorrência dos provérbios de cada pecado na web e no
corpus do LL.
125
4.1.8. Atestação de freqüência em corpora
Com base nos dados da tabela e do gráfico abaixo, pudemos perceber que a atestação de
fraseologismos em corpora permite realmente sustentar quais são de fato freqüentes no uso
contemporâneo.
Avareza Gula Inveja Ira Luxúria Preguiça Soberba
Número de ocorrências no corpus do LL Número de ocorrências na web
Provérbios
Número de
ocorrências na web
Número de
ocorrências no
corpus do LL
Avareza 12.878 8
Gula 745 0
Inveja 1.512 0
Ira 10.530 12
Luxúria 15.288 15
Preguiça 4.957 11
Soberba 16.362 0
Total 62.272 46
126
Principalmente para o provérbio, enunciado de formulação completa, um corpus deve
conter uma quantidade relativamente alta de palavras para constatar sua presença. Com isso,
concluímos que o corpora mais representativo para atestação desse tipo de fraseologismo é
mesmo a web, incomparavelmente maior que o corpus do LL, embora determinados provérbios,
dicionarizados sem indicação de qualquer marca de desuso ou arcaismo, tenham apresentado
ocorrências proporcionalmente baixas.
4.5.2. Análise dos resultados
Nos textos da web ou do corpus do LL em que pudemos atestar o uso dos 686 provérbios
referentes aos sete pecados capitais, verificamos uma série de características que nos permitiram
tecer algumas considerações. Observamos que:
4.2.1. Contextos incitadores ao pecado por meio do provérbio
Quase metade (45,42%) dos provérbios atestados são utilizados em contextos que
estimulam a prática dos pecados.
Nesse tipo de contextos, encontramos, por exemplo, os seguintes provérbios:
- em relação à avareza:
Eu acho que dinheiro não traz felicidade, mas ajuda muito, fico felicíssima quando tenho
algum trocado, imagine um monte. O amor vem depois, com a fartura. Me casaria sim
sem remorso. A vida ta difícil meu, e mais difícil ainda é arrumar esse ricaço pra casar
comigo, alguém sabe onde encontro? Beijos bem gostosos em todos vcs. (Disponível em:
127
www.difusorafm.com.br/fuzue/default.asp?id=casarporgranaacasarporgranaa. Acesso em:
27 jun. 05). Assunto: relacionamentos.
- em relação à gula:
A comilança: 10 malucos resolvem se encontrar num fim-de-semana para contrariar todos
os regimes hipocalóricos e se entupir de junkie food de qualidade (com direito a farofa de
Doritos no cachorro quente para faze-lo ficar bem crocante”). Salvo umas frutinhas e
uma saladinha besta de cenoura com betehabermans, foram zilhões de calorias
consumidas, ameaças de alguns quilinhos a mais e promessas urgindo de dietas para
segunda-feira. Mas ninguém morreu. Afinal, dizia um obeso sábio que o que não mata
engorda. E como disse o Moraes: a melhor parte é das comidinhas mesmo!
(Disponível em: http://www.tipos.com.br/ana/acampamento_2. Acesso em: 28 jan. 06).
Assunto: comidas (página pessoal).
- em relação à luxúria:
Para muitas mulheres, uma aliança no dedo de um homem já é o suficiente para despertar
interesse. Mas será que o que é proibido ou tem dono é mesmo mais gostoso?
Comentário da audreymaia: "Com certeza: o q. é proibido é mais gostoso. Nós temos a
imaginação de quem está casado(a) tem a vida mais experiente, tem uma sabedoria de
se relacionar melhor........ (Disponível em:
http://www.bolsademulher.com/forum/?forumop=novo&id_forum=207&pai=3002.
Acesso em: 15 set. 05). Assunto: comportamento (fórum)
4.2.2. Contextos censores do pecado por meio do provérbio
Mais da metade (56,15%) dos provérbios atestados manifestam uma sabedoria popular que
condena cada um dos pecados.
128
São exemplos as seguintes ocorrências:
- quanto à inveja:
Competição que, entre humanos, usa truculentos métodos de luta: emboscadas, traições,
falsidades, cooptação com métodos aéticos e amorais, baixaria de todos os tipos. Esse
mundo-cão competitivo acaba solapando as bases morais e espirituais da Humanidade,
tornando realidade aquilo que Hobbes pregava: o homem é o lobo do homem. É triste,
muito triste, constatar que a sobrevivência humana se ampara na idéia de luta feroz entre
semelhantes. (Disponível em: http://www.paranashop.com.br/colunas/colunas.php?id=60.
Acesso em: 18 jul 05). Assunto: coluna social.
- quanto à preguiça:
O quê fazer com o tempo e os bens economizados? Rezar, trabalhar e investir. Ora et
labora (“reze e trabalhe”), era o lema dos monges beneditinos cuja Regra influenciou as
comunidades religiosas e sua prática missionária. O tempo economizado deve-se gastar
com virtude, portanto, com trabalho e oração. A preguiça é a mãe de todos os cios e
trabalhar significa participar da criação do mundo novo. Aplicar os bens economizados
significa investi-los diligentemente, e aumentá-los, como os talentos que cada um recebeu
do seu criador. A economia de tempo e de bens, e a aplicação diligente ao trabalho
produzem riqueza. (Disponível em:
http://www.missiologia.org.br/artigos/3_logicadafesta.php. Acesso em: 15 ago. 05).
Assunto: religião.
- quanto à soberba:
A Palavra do Senhor ajuda a ver as coisas na óptica justa, que é a da eternidade. No
Evangelho deste Domingo, Cristo afirma: "todo aquele que se exalta será humilhado, e o
que se humilha será exaltado". (Lc 14, 11). Ele mesmo, o Filho de Deus feito homem,
percorreu com coerência o caminho da humildade, passando a maior parte da sua
129
existência terrena na vida obscura de Nazaré, com a Virgem Maria e São José, empenhado
no trabalho de carpinteiro. (Disponível em
http://www.religiaocatolica.com.br/conteudo/palavra_ papa.asp. Acesso em: 14 jul 05).
Assunto: religião
4.2.3. Contextos ratificadores do provérbio sobre pecado
A grande maioria das ocorrências (88,96%) apresentam contextos que confirmam a
mensagem veiculada pelos enunciados proverbiais, considerados como verdade universal, e os
utilizam como recurso discursivo para confirmar as crenças defendidas.
Exemplos de contextos que utilizam o provérbio como discurso de autoridade:
- quanto à avareza:
Diz o velho ditado que "quem tudo quer, nada tem". Em muitas circunstâncias ele se
mostra efetivamente verdadeiro. Ao hesitar entre metas conflitantes, muita gente acaba
não atingindo nenhum objetivo. É fundamental abandonar sonhos e ilusões e fazer
escolhas. (Disponível em:
http://www.manager.com.br/reportagem/reportagem.php?id_reportagem=1187. Acesso
em: 29 jun. 05). Assunto: carreiras
- quanto à ira:
Cientistas garantem: violência gera violência: 19 de Agosto de 2005 (Bibliomed). Um
estudo que acaba de ser divulgado por revista científica especializada em crianças e
adolescentes conseguiu provar que violência gera violência. Segundo a mais recente
edição do periódico Archives of Pediatric and Adolescent Medicine, crianças e
adolescentes que exibem comportamento violento geralmente sofreram algum tipo
agressão no passado. Para chegar a esta conclusão, os autores da pesquisa analisaram
famílias residindo em vários bairros da cidade de Chicago, Estados Unidos. Foram
analisadas 637 meninas, com idades entre 9 e 15 anos, de diversas raças, etnias e
130
estruturas familiares. De acordo com os especialistas, o comportamento violento se
associou com grande força estatística a pelo menos um episódio de violência infringida
contra os agressores no passado. (Disponível em:
http://boasaude.uol.com.br/lib/emailorprint.cfm?type=news&id=5935. Fonte: Archives of
Pediatric and Adolescent Medicine. 2005;159:731-739. Acesso em: 13 set. 05). Assunto:
violência doméstica.
- quanto à soberba:
''Quem pode luxa, quem não pode murcha''. ''Quem pode, pode, quem não pode se
sacode''. As formas antigas da sabedoria popular para dividir a importância dos cidadãos
entre os fuleiros que ''conheciam o seu lugar'' e os bacanas com quem se tinha de ter
cuidado, ''sabe com quem está falando?', foram substituidas nesses tempos burocráticos
por ''para os amigos tudo, para os inimigos a lei''. (Disponível em:
http://www.noolhar.com/opovo/jornaldoleitor/485291.html Acesso em: 24 jun 05).
Assunto: crítica social.
4.2.4. Contextos retificadores do provérbio sobre pecado
Poucos contextos (7,22%) empregam o provérbio para desdizê-lo, procurando argumentar
contra o equívoco que ele representa.
Vejamos, a título de ilustração, alguns contextos:
- quanto à gula:
"Gordura é formosura", dizem a hoje as tias do interior, puxando as bochechas de
bebês. Ledo engano. "A obesidade não é sinal de saúde em nenhuma fase da vida", diz a
endocrinologista Zuleika Halpern, especialista pela Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia. Portanto, a obesidade deve ser prevenida tão logo a
criança nasça, pois o ganho de peso acima do esperado aumenta o número de células
131
gordurosas e favorece o aparecimento da obesidade no futuro. (Disponível em:
http://www.correiodabahia.com.br/2002/10/31/noticia.asp?link=not000064038.xml.
Acesso em 13 ago. 05). Assunto: saúde.
- quanto à inveja:
Cansei disso tudo. Cansei de me sentir usado, de me sentir objeto! É péssimo! Sabe aquela
coisa que dizem sobre... Quem desdenha quer comprar? Mentira! Tudo começou aí... uns
olhares daqui, outros dalí, desdenha! Não que eu queria alguma coisa além da
"desdenha" dos outros, mas é péssimo as pessoas te olharem e não terem ação nenhuma
além dos olhares. É péssimo você olhar pra alguém e não receber reação nenhuma!
(Disponível em:
http://megadescontrol.weblogger.terra.com.br/200411_megadescontrol_arquivo.htm.
Acesso em: 18 jul 03). Assunto: relacionamentos.
- quanto à ira:
Quem com ferro fere, com ferro será ferido - Essa frase, empregada para enfatizar a
justiça de Deus, o está registrada na Bíblia Sagrada. É uma deturpação das palavras de
Jesus ditas a Pedro, em Mateus 26:52: “Mete no seu lugar a tua espada; porque todos os
que lançarem mão da espada à espada morrerão”. (Disponível em:
http://64.233.161.104/search?q=cache:3uscML_jzGcJ:www.cpad.com.br/down/medi/lg_p
apagaio.doc+%22Quem+com+ferro+fere,+com+ferro+ser%C3%A1+ferido%22&hl=pt-
BR. Acesso em: 2 set. 05) Assunto: religião
- quanto à preguiça:
DEUS AJUDA QUEM CEDO MADRUGA. Significativo: Quem começa a trabalhar cedo
ganha mais dinheiro (de Deus). Histórico: Esta frase pode ter sido criada pelos padres
para acordarem os alunos internos às cinco da manhã para assistir à missa (em latim).
132
Hoje em dia, quem madruga mesmo são os assalariados, os operários. Cadê ajuda, meu
Deus? (Disponível em:
http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/portugues/generos_textuais/fabulas/moral.htm.
Acesso em: 21 ago. 05). Assunto: preguiça no trabalho.
4.2.5. Contextos denotativos
Apenas alguns contextos inventariados (3,82%) atestaram provérbios empregados em
sentido denotativo.
Para exemplificar, podemos mencionar:
- quanto à avareza:
Sabe, tem gente que fala qualquer coisa e não pensa no que está dizendo, depois sofre.
Você ouviu alguém dizer que "de graça até injeção na testa"?, pois é, tem gente que
fala isso, mas se oferecerem a injeção (benzetacil) grátis na testa, eu quero ver o maluco
aceitar. ( Disponível em: http://www.netmarkt.com.br/mensagemdia2002/ outubro26.html.
Acesso em: 26 jun. 05). Assunto: reflexão.
- quanto à gula:
Após um mês da prisão, ainda sem vislumbrar a autoria do homicídio, um dos dois irmãos
engordou quase quinze quilos, o outro permaneceu com o mesmo peso de quando fora
preso. Analisando pormenorizadamente os fatos e os acontecimentos, o delegado chegou a
conclusão da autoria. Liberou o gêmeo gordo e indiciou o outro (magro) por homicídio.
Pergunta-se: Qual o fundamento técnico e jurídico para a liberação e para o indiciamento?
O QUE NÃO MATA, ENGORDA !!!!!!!!!! (Disponível em:
http://www.livrariaexotica.com.br/piadas.htm. Acesso em: 28 jun. 05). Assunto: piadas.
133
- quanto à soberba:
A primeira dose da viagem recomenda-se bebericar no Porto de Aberdeen. É a cidade
mais importante das Highlands e a terceira do país. perde para Glasgow e Edimburgo.
Aberdeen desmente um velho axioma, aquele que diz "o que vem de baixo não me
atinge". Sua maior riqueza vem de baixo. A começar pelo granito, que, exposto em quase
todas suas construções, lhe garante identidade. De baixo vêm também os peixes, a água
generosa e, em especial, o petróleo, descoberto com fartura em 1972. (Disponível em:
http://www2.uol.com.br/proximaviagem/viagens/escocia_052/index.shtml. Acesso em: 6
jun. 05). Assunto: turismo.
Considerando em porcentagem todos os dados obtidos apenas na web, a fonte de consulta
mais representativa em termos de atestação dos provérbios procurados, propomos um quadro
geral dos resultados na tabela abaixo:
CONTEXTOS
PECADOS
incitadores ao
pecado
censores do
pecados
ratificadores
do provérbio
retificadores
do provérbio
denotativos
Avareza
42,86% 57,14% 85,67% 14,23% 0,10%
Gula
40% 60% 81,37% 14,23% 4,40%
Inveja
44,45% 55,55% 97,66% 0,91% 1,43%
Ira
43,75% 56,25% 89,60% 7,29% 3,10%
Luxúria
79,84% 20,16% 91,73% 3,96% 4,31%
Preguiça
15% 85% 87,94% 7,38% 4,68%
Soberba
33,34% 66,66% 88,74% 2,52% 8,72%
Média 42,75% 57,25% 88,96% 7,22% 3,82%
Assim, se somadas as porcentagens das duas primeiras colunas, obteremos 100%, assim
como das três últimas.
134
4.3. Considerações sobre os contextos que justificam ou condenam o pecado por meio do
provérbio
Com esses dados estatísticos, tentamos fazer uma estimativa para saber se, de fato, a
sociedade brasileira, por meio dos provérbios, encorajam ou desaprovam a prática do pecado.
Lembremos primeiramente que a Igreja estabelece graus de gravidade de pecado. Desse
modo, o provérbio “De graça, até injeção na testa”, por exemplo, enquadrado na avareza, devido
ao acúmulo de bens mesmo que desnecessário, parece não ser sentido, por nossa sociedade; como
uma alusão ao pecado, pelo contrário, incita-se de preferência a se beneficiar de tudo que seja
gratuito.
Levamos em conta, portanto, que alguns provérbios têm mais relação com o pecado que
outros. Uns falam do pecado em si e muitos dependem mesmo do contexto, pois o sujeito do
discurso o utiliza como instrumento de sua argumentação. Assim, por exemplo, “Vingança é um
prato que se come frio” não trata especificadamente da ira, mas está intrinsicamente relacionada
com ela. Além disso, por vezes determinado provérbio pode remeter a vários pecados, como a
nenhum, dependendo do contexto.
Por outro lado, não se pode ignorar o levantamento dos resultados que mostra que, em
relação à web, os preguiçosos foram os mais criticados seguidos pelos soberbos; a luxúria, no
entanto, fugiu à regra e teve 79,84% dos contextos a seu favor. Em média, vimos que foram
57,25% de contextos contrários aos provérbios que incitam ao pecado, contra 42,75% de
contextos que se servem de provérbios dessa mesma natureza para justificar tal prática.
Dentre os contextos incitadores aos pecados, pudemos perceber ainda diferentes ‘‘graus
de estímulos’’: uns estimulam ferrenhamente determinados pecados, outros sugerem com sutileza
135
que pecar não é grave, além de outros que aceitam o pecado em certas circunstâncias, para
reparar injustiças sofridas ou reivindicar direitos, como o contexto a seguir:
Direitos diferentes - Boa a matéria, publicada no carderno de Cidades do Jornal do
Commercio, "Polícia prioriza a elite" que explica, com fatos, o que todo mundo sabia.
Que os direitos humanos (no caso, à segurança) são garantidos ou não à população, de
acordo com critérios claros: quem tem dinheiro, tem direito. Quem não tem dinheiro, não
tem nada. (Disponível em: http://www.ombudspe.blogger.com.br/
2005_08_01_archive.html. Acesso em 29 jun. 05). Assunto: desigualdade de direitos.
Tem-se aqui um contexto que evidencia a importância de se ter dinheiro, mas para
adquirir segurança e direitos que são destinados discriminadamente à elite.
4.4. Considerações sobre os contextos que corroboram ou renegam a mensagem proverbial
Na busca de provérbios, vimos que em média 88,96% dos contextos confirmam o que
dizem os provérbios utilizados, independentemente do que eles dizem, isso então comprova
mesmo que o provérbio é um instrumento de auxílio à argumentação. Ressaltamos, porém, que
muitas vezes o contexto afirma a idéia veiculada pelo provérbio mas é contrário ao pecado, como
nas ocorrências de “A carne é fraca”: a religião adverte que a carne realmente é fraca e, por isso,
recomenda que se esteja atento para evitar a luxúria.
Outra observação a se fazer recai sobre o emprego de provérbios antagônicos, como
“Dinheiro não traz felicidade” x “O dinheiro abre as portas”, ambos sobre a avareza. Nesses
casos, notamos a criatividade e o bom-humor popular encontrado nas réplicas que
136
freqüentemente seguem aos provérbios; assim temos “então o seu pra mim e seja feliz”, ou
“mas ajuda” etc, como réplicas a “Dinheiro não traz felicidade”.
Também as fábulas apresentam com freqüência valores a serem priorizados ou repudiados
e, para isso, recorrem a provérbios, como demonstram estes dois contextos:
De repente, parou e olhou para baixo. Na superfície da água, viu seu próprio reflexo
brilhando. O cão não se deu conta que estava olhando para si mesmo. Julgou estar vendo
outro cão com um pedaço de carne na boca. "Opa! Aquele pedaço de carne é maior que o
meu", pensou ele. "Vou pegá-lo e correr". Dito e feito. Largou seu pedaço de carne para
pegar o que estava na boca do outro cão. Naturalmente, seu pedaço caiu n`água e foi parar
bem no fundo, deixando-o sem nada. MORAL: Quem tudo quer tudo perde. (Disponível
em: http://www.saudeanimal.com.br/fabula4.htm. Acesso em: 29 jun. 05). Assunto:
fábula.
Aliás, algumas fábulas infantis são idiotas por si sós. A fábula da galinha dos ovos de
ouro, por exemplo, cuja moral da história vem do provérbio "Quem tudo quer, nada tem",
ensina nossas crianças a não terem ambição na vida e se contentarem com a mediocridade.
Não é a cara do PT? (Disponível em: http://www.capitolio.org/content/view/33/45/.
Acesso em: 29 jun. 05). Assunto: política.
Outra situação a destacar refere-se à divisão de opiniões bem marcada a respeito da
verdade defendida por certos provérbios. Para Pai rico, filho nobre, neto pobre”, por exemplo,
53,33% das ocorrências confirmam a mensagem proverbial, sobretudo em textos sobre negócios,
e 46,67% das ocorrências negam essa mensagem, a maioria também em textos sobre negócios.
Nesse caso, o provérbio não tem outra função que a de persuadir. Geralmente é essa a finalidade
do uso de provérbios pelo marketing, sem um comprometimento com a verdade, mas com as
metas de vendas.
137
4.5. Considerações sobre os contextos que empregam provérbios em sentido denotativo
Constatamos, ainda, o emprego literal de provérbios. As situações mais encontradas desse
uso foram: textos humorísticos, principalmente em piadas, para suscitar um efeito inesperado e
provocar o riso; títulos de filmes ou programas televisivos e manchetes de jornais, para chamar a
atenção; explicações metalingüísticas ou reflexões poéticas acerca de alguma unidade lexical que
compõe um provérbio; e criação de um novo provérbio por inversão das idéias do provérbio
original, como “O melhor ataque é a defesa”, construído sobre “A melhor defesa é o ataque”, em
estratégias de jogo ou revanche.
4.6. Principais tipos de textos que usam provérbios
Grande parte das ocorrências dos contextos com provérbios sobre os sete pecados capitais
concentra-se em textos informais e coloquiais, sobre assuntos diversos, principalmente em
fóruns, chats (grupos de discussões ou de bate-papos) e blogs (páginas pessoais), gêneros
discursivos que começam a ser focados pelos estudiosos (Freitas, 2005).
Por conseguinte, o aumento crescente do lucro dos buscadores da web, dos anúncios nele
feitos, explica-se pela facilidade com que o público em geral pode acessá-la, mas também ou por
essa produção, a baixo custo ou até gratuita, de páginas pessoais que atraem e seduzem pela
oportunidade de tornar popular um assunto ou uma pessoa comum.
É claro, portanto, que a pesquisa de corpora não pode negligenciar esse fato que toma
proporções cada vez maiores, apesar de não haver meios de se controlar a língua que chega à
internet.
No capítulo a seguir, então, traçaremos as considerações finais a respeito da análise dos
resultados.
138
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A definição ou o conceito de provérbio como enunciado fraseológico comporta em
síntese as seguintes características:
quanto à semântica: representa uma verdade geral resumindo experiências vividas
por mais de um indivíduo, de sentimentos (raiva, decepção, revolta, carinho, saudade etc) ou
opiniões (sobre classe social, idade, raça, sexo, religião etc); tem pretensões de ser válido
universalmente, mas às vezes apresenta um valor peculiar restrito a uma região; uns tendo
correspondentes em outras línguas, outros não.
quanto à pragmática: é atemporal e de maior freqüência na modalidade oral de que na
escrita; é aprovado pela coletividade e transmitida de geração em geração; não tem autoria pois
sua condição de produção foi apagada; tem como objetivo comprovar a idéia do usuário,
argumentar, aconselhar, persuadir ou controlar condutas; pode ser compreendido isoladamente,
mas muitas vezes revela intertextualidade e é empregado em função de um contexto; funciona
como subsídios de orientação do homem em relação a si mesmo e aos outros, e às futuras
gerações; é consagrado por uma determinada comunidade lingüística.
quanto à sintaxe: é uma UL fraseológica relativamente fixa, geralmente concisa; é
conjugado em diferentes tempos verbais, mas sobretudo, no presente ou futuro; é impessoal, na
maioria das vezes; difere-se de expressão idiomática, UL que se apresenta no infinitivo e que
exige sujeito para ser empregada em discurso; e pode combinar com diferentes recursos
estilísticos (rima, aliteração, assonância, elipse de artigo, repetição de palavras, hipérbole,
antítese, dialogismo, paronomásia, trocadilho, etc).
139
Apesar, entretanto, de nosso esforço em delimitar o provérbio o mais precisamente
possível, ressaltamos que para entender o que é provérbio o basta apenas defini-lo, porque um
conceito por mais completo, bem elaborado e embasado que seja, não conseguirá abranger todos
os provérbios e características, nem restringir e delimitar sua conceitualização.
Outro objetivo de nossa pesquisa, após termos nos enveredado na delimitação do
provérbio, foi atestar em corpus os provérbios circunscritos ao tema dos sete pecados capitais. Só
assim pudemos chegar a um inventário de 77 provérbios comprovadamente usuais no português
contemporâneo do Brasil e não apenas elencados em obras lexicográficas.
Para esse levantamento, utilizamos a web e a base textual do Laboratório de Lexicografia
da UNESP de Araraquara, o que nos permitiu disntinguir; 1) quais provérbios são mais ou menos
recorrentes; 2) quais são mais ou menos ratificados, ou retificados, pelos contextos encontrados;
3) quais são mais ou menos utilizados para absolver ou reforçar os pecados; 4) quais são mais ou
menos suscetíveis de serem empregados denotativamente.
Os provérbios mais recorrentes, dentre os dicionarizados, são sem dúvida os mais
populares, os mais divulgados pela mídia e os de formulação menos rebuscada e vocabulário
comum.
Quanto aos sete pecados capitais, vale frisarmos, mais uma vez, que não tivemos a
intenção de traçar valores morais, mas sim inferir alguns dos valores morais em provérbios
utilizados pela sociedade brasileira, arraigados nela.
Em relação à análise dos contextos, conclui-se de um modo geral que os contextos
encontrados para cada provérbio é um fator relevante para sua interpretação, que a maioria dos
contextos serve-se dos provérbios para corroborar a mensagem que estes transmitem e que a
grande maioria dos provérbios brasileiros referentes a cada um dos sete pecados condena
atitudes, sentimentos ou pensamentos que incitem esses pecados.
140
Retomando os dados de nossa análise estatística, os números indicam que uma maioria
dos contextos (57,25%) utiliza provérbio para incitar à proibição ou condenação dos vícios,
instrumentos que ajudam na manutenção de regras e condutas para desencorajar a prática dos
pecados na organização coletiva da sociedade. Portanto, a sabedoria popular embutida nos
provérbios ainda serve de base para a sustentação de uma sociedade brasileira distinta,
preocupada com a moral, segundo as máximas católicas, mas sem dúvida se aproxima da
perigosa fronteira onde o pecado passa a ser relativizado.
Essa sociedade, servindo-se dos provérbios referentes a um dos sete pecados capitais
como uma ferramenta ora para justificar atitudes condenáveis, ora para condenar
implacavelmente as mesmas atitudes, parece-nos mais preocupada com o momento presente,
considerando que “cada caso é um caso”, sem o compromisso de se manter coerente com uma
tomada de posição. Para uns, esse comportamento, que um fenômeno lingüístico nos ajudou a
revelar, pode ser considerado frivolidade, leviandade, como pode ser um sinal de uma sociedade
mais flexível ou menos coercitiva. Assim, se um pecado representa uma afronta a um indivíduo,
pode ser conveniente a um outro. O provérbio, então, vem na verdade servir de roda propulsora,
no veículo do enunciador, a caminho de seu discurso, afirmando-se como palavra de autoridade,
seja reforçando preceitos de conduta legítima ou preconceituosa; seja quebrando tabus e
costumes ultrapassados ao promover uma mentalidade inovadora.
141
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